Você está na página 1de 57
CIP-Brasil. Gatalogaclo-na-fonie. Sindicato Nacional dos Edltores de Livros, RU Campos, José Jorge Pompeu, 1940- C2130 Guia do Candombié da Bahia / J.J.P.Campos (Joqui- nha). — Sted, — Flo de Janaito: Pallas, 1989 1, Gandomblé. 1. Titulo cOD — 299.67 96-0913 COU — 299.6 J. J. P. CAMPOS (Joquinha) Guia do Candomblé da Bahia 3? Edigado Rio de Janeiro Copyright PALLAS — Editora e Distribuidora Ltda. Capa e l|lustragdes ‘Carla Fidalgo Editoragao Hernani de Andrade Direitos autorais reservados a PALLAS — Editora e Distribuidora Ltda. Rua Frederico de Albuquerque, 44. Tel. 270-0186 NG Higienépolis — CEP 21.050 — Rio de Janeiro, RJ oO Nota de Apresentagao da 1* Edi¢ao Ao lancar esta primeira edicdo, desejo explicar ao caro irmdo e leitor que este nao é um livro comum. Esta edigdéo vai aclarar coisas pelas quais muitos vém lutando dia a dia sem encontrar o porqué, o que vem a ser 0 comeco espiritual, 0 que vem a ser o tdo falado “Candomblé”. Proponho-me a fazer o possivel para esclarecer as pessoas que tém duvidas ou mesmo falta de conheci- menio de como conduzir uma casa ow terreiro, e pre- ceitos do Candomblé. O aliazé ou fundamentos. Tratando-se de um livro fundamental, procuro res- saltar os pontos-chave das reais falanges de orixds, in- quices, caboclos, exus e eguns. Acrescento ainda que esta edigdo ndo é para corri- gir sdbios nem para ensinar professores; esta edicdo foi feita levando em. conta as pesquisas que venho fazendo, ha longos anos, esperando assim dar a muitos uma parte dos conhecimentos que alcancei durante 35 anos de vida dentro das legitimas casas de Candomblé na Bahia de Séo Salvador. O Autor Sumario Nota de Apresentagio da 1.* Edicio / 3 CAPITULO I Introdugio / 7 CAPITULO II Quem é Egun?... quem ¢ Exu? / 11 CAPITULO IIL Eguns do Candomblé / 13 CAPITULO IV Outras espécies de espiritos / 17 CAPITULO V Abagd / 23 CAPITULO VI Regras e distribuigfao do Axé da Casa / 29 CAPITULO vi—T Tempo e os Caboclos / 31 CAPITULO VIII Congo de Oure Caboclos / 35 CAPITULO Ix Orixas / 43 CAPITULO X Regras e ética do Candomblé / 47 CAPITULO XI Regras ¢ comemoragdes / 51 CAPITULO XII Regulamentos para a Iaé / 59 CAPITULO XIII Regulamentos dos Orixas — Orixa Ogum / 63 CAPITULO XIV Orixé Oxosse / 69 CAPITULO KV Orixé Obaluaé / 79 CAPITULO XVI Orixd Ossie / 87 CAPITULO XVII Oxalé Kango / 93 CAPITULO XVIII Oxala Baba / 103 Capitulo I INTRODUCAO Onde comega a vida espiritual? A vida espiritual comeca quando nés morremos. Que vem a ser morte? A morte ndo existe, o que ha na realidade ¢ um desligamento do espi- rito do corpo. Quando o nosso espirito desliga-se do aparelho humano, ingressamos na outra vida: Quando chee © momento de desencarnar, passamos da vida material para a espiritual. O espirito tem vida? Sim, 0 espirito é vivo todo o tempo, tanto materializado como desen- carnado, Como poderemos ter uma prova disso? Esta prova é muito facil de se aleangar. Existem em Salvador da Bahia centros de mesa, ou se¢ao espirita, nos quais se pode conversar com espi- ritos desencarnados. Aqui no Rio de Janeiro e em outros Estados do Brasil, também encontramos casas desta mesma naturera. You narrar um fato ocorrido em Salvador, caso fatal Duas jovens, amigas, eram unidas desde a infancia. Ao chegar o tempo de colégio, as duas foram estudar na mesma escola, aos 16 anos, fizeram amizade com um dos colegas de turma. Uma das jovens era muito simples e meiga, a outra era mais atirada e muito rigida. Um belo dia, as duas entraram em disputa, para ver qual das duas con- seguia conguistar o jovem colega. A jovem meiga e humilde conseguiu ganhar a disputa. Passado tempo, a jovem meiga levou ao conhecimento dos pais este re- cente € primeiro namorado. Imediatamente os pais aceitaram e deram consentimento de conversa- rem em casa. Tempos depois, o jovem se formou ¢ resolveu pedir a mao da jovem em casamento. Na ocasiao a amiga estava presente a cerimonia. Ao terminar a festinha, chamou a amiga meiga ao lado de fora e disse- The: — mais uma vez yocé me venceu, isso nao vai ficar assim, sua hruxa! Imediatamente sain irritada. E antes de se retirar garantiu que ela noiyou, mas ndo se casaria com o jovem. ‘A jovem meiga respondeu: — afinal de contas somos amigas ¢ nfo ha mais motivos para disputas, eu estou noiva oficializada. Se eu namorei-o foi vocé mesma quem arranjou ¢ me fer mudar de idéia. Toda minha atencdo estava virada para og meus estudos, ndo para arranjar casamento ra. i Comm aes trloveend asin aia lian Ga'paetic ier nario va com dentncias falsas contra a noiva. O rapaz, porém, nao dava ouvi- dos. Cada ver mais ela se irritaya com os dois, que se amavam de verdade. A jovem ma resolveu criar um falso na jovem meiga. Imediatamente ela fez amizade com a familia do rapaz. Depois que conseguiu a confian- ga dos pais do jovem, logo chamou o casal ¢ disse: — Estou muito triste com a infelicidade do seu filho! — Por que esta tao aflita com a felicidade de nosso filho? — perguntou © pai do moco. A jovem ma, pedindo mil segredos, dissethe: — Estou me referindo ao noivado dele com aquela sujeita que o vem enganando, direndo que é moca virgem, mas de virgem ndo existe nem pensamento, quanto mais a honra. Os pais do jovem se espantaram, chegando até a chorar de tristeza pela infelicidade do filho. Quando o jovem chegou, os pais logo chamaram o rapar ¢ revelaram os ditos da joverm ma. Mas ndo relataram o nome da pessoa que comuni- cou a cahinia. O jovem, como era muito obediente aos pais, aceitou o conselho ¢ ter- minou 0 noivado. E assim a jovem ma conseguiu uma vitéria diante da outra, que ficou sem explicagao sobre a separa ao. Passados alguns meses, a jovem ma levou uma queda que lhe trouxe muitos problemas. Mais tarde veio a falecer em conseqiiéncia da queda. O tempo passou. A jovem meiga sentiu muito a morte da antiga cole- ga e passou a sonhar constantemente com ela. Entristecida, a moca foi enfraquecendo, ficando na pele ¢ no osso. Seus pais e vizinhos cada ver ms preocupados com o estado da jovem, pois jé tinham recorrido a tudo. Uma das virinhas, conhecedora do assunto, timidamente convidou a mie da jovem para ir a uma sessio espirita. Mas a familia no acreditava em tal coisa. Como se tratava da satide de sua tinica filha, entao resolveu aceitar o convite. Olhou para a jovem e disse: — Minha filha, seja o que Deus quiser, para tentar sua vida, vamos recorrer a tudo. Assim que anoiteceu elas foram ao centro de mesa. Quando cruzaram Os pés na porta da sessao espirita, a médium que estava sentada a mesa re- cebeu o espirito da jovem ma, que logo foi chamando pelo nome dela. 8 — Fulana, fulana, sou eu que estou aqui 4 sua espera, venha aqui que eu estou no escuro e ndo terei salvacio enquanto vocé ndo me perdoar pela caliinia que levantei com os pais do seu noivo. a A jovem tremia de medo, mas criou coragem € iu até a mesa € 0 espirito da outra confessou toda a yerdade, ¢ em voz alta gritou: — Perdoe-me, perdoe-me para que um dia seja perdoada, assim que me perdoar sera livre de todos os males que sente. A jovem meiga disselhe: — Pela yontade do meu Senhor Deus, por mim esta perdoada. oO ene da outra respondeu: — Mas para eu ter o verdadeiro perdao e a salvagao, é preciso que voré mande rezat uma missa para a minha alma e encomendar uma solene es- pirita para meu espirito. Assim a jovem fez. No dia seguinte ela foi a igreja mais proxima e en- comendou a missa para a alma da outra. Logo a seguir, voltou a sesso es- pirita e contratou a solene pedida. Neate dia houve muitas velas, muitas flores, preces ¢ louvor ao Senhor Deus, Todo Poderoso. O espirito veio receber a sua solene. Chorando por ter alcangado a salvacao, disse-lhe: — Obrigado, minha amiga! La em cima eu yelarei por vocé até que encontre a sua felicidade. Desta data em diante, a jovem voltou a comer, beber, dormir ¢ gozar satide normal. Entao passou a acreditar que a carne humana é que fica destruida pela terra, mas 0 espirito vem sobre a carne, vivo, e volta vivo; portanto ele encarna e desencarna. Sai de um, depois de purificado volta a encarnar em _outra matéria humana. Portanto, cada qual que procure plantar boas obras nesta vida mate- rial, para ter salvacao na vida eterna. | Capitulo IT QUEM E EGUM? QUEM E EXU? Muitas pessoas ja compreenderam muito hem quem ¢ Exu e quem é Egum, mas a maioria néo tem conhecimento suficiente para distinguir 03 dois. Se no sabia, ent&o passe a saber. Sao mais conhecidos trés tipos de eguns. Essas entidades variam de acordo com o motivo de desprendimento da vida material ¢ passam para aespiritual. Portanto, ja dé para se entender que a entidade Egum é espiri- to desencarnado, o mesmo que alma. Por falar em alma, ndéo podemos deixar de explicar que existem as almas santas ¢ benditas, as aflitas, as do purgatorio ¢ as perdidas. As 3 al- timas categorias de almas s4o as que deixam duvidas pelo seu desenvolvi- mento, ao encarnar nos médiuns nao desenvolvidos, ditos inconscientes. Primeiro vamos dar uma noc&o do que vem a ser preto-velho ou preta- velha, Tais entidades nao s4o outra coisa que as proprias almas. Sdo, sim, almas consideradas meio santas. Nao posso deixar de destacar as almas que so accitas como manifestantes no ser vivo; so as dos “Nags Afri- canos”, que pelas suas obras alcancaram a indulgéncia do senhor DEUS. Por isso, nao podemos comparar os espiritos dos cativeiros com esses €8- iritos malignos que descem em certos terreiros, apenas para denegrir a fiends Nos, candomblecistas de hoje, néo podemos condenar, nem censurar a manifestacdo de pretos-velhos, porque desde a antiguidade eles descem na Terra. Mas 0 certo ¢ descerem por um ato de grande necessidade e com hora marcada, porque sempre que eles descem, vao logo dizendo que nfo podem demorar. As pretas-velhas sdo chamadas de Tia da Costa, e os pretos-velhos, Tio da Costa. Esses espiritos diferem, e muito, dos chamados espiritos desocupados e que vivem nas esquinas ¢ em portas de tendinhas e hotequins esperando um momento em que rufe um atabaque para eles fazerem das suas. W Portanto, para uma pessoa abrir um terreiro ou centro, é preciso ter conhecimentos fundamentais. _ Nao devemos esquecer este importante lembrete: respeitemos os espi- titos, para que possamos por eles ser respeitados. Também deve-se ter em mente de que o ser ¢ muito diferente do que- rer ser. Este capitulo é dirigido as pessoas que nao nasceram com o dom de chefiar terreiros ou centros c teimam fazédo, nfo levando em conta as qualidades necessirias para tanto, So devem abrir centro ou terreiro os que tem capacidade e funda- mentos aprovados e reafirmados por seus chefes Babalorixis ou Ialorixés responsiveis. Capitulo HI EGUNS DO CANDOMBLE Na seita do Candomblé, og eguns so tratados com grande cuidado e carinho. Eles sao os primeiros que recebem as primeiras oferendas dentro e fora da casa de Candomblé, e sido eles que se responsabilizam pelos pro- blemas de assegurar e vigiar as porteiras da casa. Isto é suficiente para se saber que estas entidades tém que estar sem- pre bem cuidadas e alimentadas. Em hipétese alguma, deve-se usar o Egum da casa para fazer mal a alguém, porque quem assim procede estd complicando a si mesmo. Para se abrir uma casa de Candomblé, deve-se, em primeiro lugar, as- sentar o Egum do santo da casa. Para fazer esse assentamento, é necessdrio que a pessoa responsavel por essa missdéo seja disposta, tenha coragem e saiba como fazé-lo bem feito. Ja foi explicado que o ser é muito diferente do querer ser, eperiaito devemos respeitar os espiritos para que sejamos por eles respeitados. E por este motivo que muitas casas sio abertas e com pouco tempo se fede, Quando esta tudo certinho, corre tudo bem. m ndo se mistura com orixds. Exu mora totalmente independen- te. Fora da sua casa, Egum 86 se mistura com Exu, mas ndo com qual- quer Exu. Ja comentamos a respeito de Egum, porque ele rent muito cuida- do. Seu assentamento € totalmente subterraneo. Sendo assim, logo se nota que Egum é o alicerce da casa, toda seguranca contra os males esta a cargo do Fgum do santo da casa. Na antiguidade, os pertences de Egum nao podiam entrar na casa de santo e nem do ser vivo. Todas as suas comidas, bebidas e pertences eram feitos ao ar livre. Como se vé na Figura 1. Esse assentamento é feito totalmente a descampado. Geralmente, e por lei dos africanos, o assentamento de Egum também se chama de Balé. 13 Esse assentamento é feito em um pé de laranja-da-terra. Sobre o tron- co da drvore, dé-se um laco de morim-virgem; as suas cores variam de acordo com o Orixa chefe da casa de Candomblé. Mas o melhor ¢ colocar os lacos de cor branca, assim estaremos sempre respeitando 0 nosso pai Oxala, que tanto € pai do ser vivo, como dos espiritos. Para sacrificar os animais para Egum ou babd-balé, ¢ preciso que se conhega as suas cantigas de matanga, suas cantigas de shirer (em portu- gués esta palayra enllice dancas). Esclarego ainda que Egum pega folhas escolhidas de acordo com a qualidade do seu Orixd chefe. Suas comidas séo variadas e come constantemente. Sua comida ha- bitual que tem ele.assentado é 0 ecd — para que o leitor entenda me- thor, © ecé é um mingau de milho branco, conhecido por canjica, ou en- tao o de milho yermelho, conhecido como milho para galinha.. Egum também bebe cachaga, vinho tinto, cerveja preta, cerveja bran- ca, vinho doce, arud e outros tipos de bebidas. Ja foi explicado que esse tipo de espirito é muito variado; por isso suas obrigagées ressaltam de maneira inacreditavel. Todos os seus atos vém de acordo com os costumes praticados quando na vida material. Suas comidas so de origens africanas, as vezes ¢ necessdrio uma pe- quena modificagao, mas nao ¢ sempre. ‘As comidas que referimos como de origem africana sdo as dos pro- prios orixds. Fazemos uma pausa por aqui. Se formos nos alongar no assunto, espirito ou Egum, o espaco nao daria. A alma, desde a antiguidade, sem- pre foi o maior problema para os mestres fildsofos do mundo. Capitulo IV OUTRAS ESPECIES DE ESPIRITOS Definiremos agora a classificagéo dos espiritos que se transformam em exus, assim como a transformacéo dos eguns, o mesmo vem se dar com 08 exus. Exu é um espirito que de forma alguma pratica o bem, a menos que ocorra algo de muito lucrativo para ele. O unico caso em que ele faz o bem sem exigir troca inconveniente, é quando se o tem assentado em casa, como escravo do Orixa chefe da casa do Candomblé, pose ele em seu peji jd recebe tudo aquilo que é necessdrio para que trabalhe satisfeito. O leitor deve ter entendido os casos dos eguns’ foram dados todos os detalhes, portanto acredito que nao hajam mais duvidas quanto as quali- dades de espiritos. Aqui vamos dar um método simples e bastante objetivo, para melhor andlise. Vamos supor um mau elemento, destruidor, badernista, pertur- bador, assaltante e assassino a sangue frio. Tal elemento vem a falecer assassinado por um desafeto. Sera possivel que este espitito va gozar dos mesmos direitos que o8 espiritos bondosos? Sabemos que isto ndo é possivel. Entao, ligeiramente esses espiritos so alcangados pelos obsessores, isto quer dizer, espfritos que foram maus na vida matocial, na espiritual so alcangam o caminho do mal. Portanto, 0 espirito s6 colhe na yida do além o que planta na vida material. Também néo podemos deixar de falar sobre as pessoas que praticam 0 suicidio. Esses tipos de espirito também sao os que dao mais trabalho para os chefes de terreiro, porque recebem o mesmo grau, do caso anterior cita- do. Sao, na yerdade, obsessores. Que vém a ser obsessores? Obsessores sio espirito que de maneira alguma alcancam a salvaciio. Sao almas pedides emion certeza que, se plantarmos arroz, a terra nfo 7 vai nos devolver Spans: Portanto, vamos plantar o bem nesta vida para que possamos alcancar o bem na vida da eternidade. Quanto as pessoas que ie desprendem desta vida para a outra, em caso de desastres na terra, no mar, no ar, de acordo com o seu procedi- mento, alcangam indulgéncia, isto é, dependendo do seu procedimento fa éntarnagdo. Nesse caso, de acidentes ¢ semelhantes, os espiritos que plantaram 0 bem ficam aos cuidados dos orixas ¢ das almas santas e benditas, aguar- dando designacdo para uma sentenca aliviada ao lado dos seus superio. res, até chegar o dia da sua partida para a purificagao final. Notem que hi muita diferenca de um tipo de espirito para o outro, conforme foi dito com muita clareza. TRATAMENTO DE EXU NO CANDOMBLE Exu, dentro do Candomblé, ¢ tratado com todo mimo e com todo o carinho; mas é tratado na condicao de escravo dos orixas, e néo como um grixa ou como guia chefe da cabeca da pessoa; conforme pesquisas, em alguns terreiros, ouvi diversas Pessoas citarem: “meu guia é sr. Exu Tranca-Rua”. Outros: “meu guia, é Dona Maria Padilha” on “Dona Pomba-Gira”. Desculpem-me a retificacdo que fago, Pomba-Gira é erro absurdo; esta entidade ¢ de origem angolana e chama-se Bombogira, nao Pomba-Gira. E- também néo sdo orixas as duas entidades — Maria Padilha ¢ Bombogira, na verdade, so entidades obsessoras; quem assim ndo compreender, cai no erro grosseiro, injustificével num auténtico candomblecista. Ja foi dito que Exu tem ld suas astiicias, eles e elas fazem de um tudo ara conquistar as pessoas, quando em obrigacdes de terreiros; eles ¢ elas fee s6 de parte para yer se acham uma oportunidade para arrebentar as obrigagoes. g encontram oportunidade, era uma vez purificacio dos orixas, Por esse motivo, advertimos: bastante cuidado com a preparacao dos axés e dos incensos dos orixas. O caso de Exu é idéntico ao de Egum. Conforme foi dito no capitulo. anterior. A casa de Exu também é¢ feita no tempo, isto 6, em casinhola. Ele mo- ta independente e é dominado pelo orixa (Ogum), pois que este orix ¢ 0 linico que se liga a Exu. Adiante falaremos a tespeito do caso de Ogum se ligar aos exus, Voltemos ao caso dos exus, Como ja dissemos, esta entidade mora in- dependente. Suas armas sio perigosds. Em seu poder, ele carrega um gar- fo tridente, facas de pontas agudas, espetos, garrafas quebradas, corren- tes, barras de ferro todos os tipos de armas, das mais perigosas. Seu as- seniamento requer muito cuidado, atencao e, principalmente conheci- mento fundamental dos apetrechos; suas folhas, suas exigéncias em comi- 18 « cantigas principais. Esta entidade, por if ici é deve nos levar a fazer de um 5 erigosa, maliciosa e trégica, é que le de um aio estar ov ects demos ¢ vontades, mas sem que sacrifique = inja a nossa vida ou nossa alma. 0850 COrpo, atinja a nossa vida o Ce ' rao a vvgues de randompbles, os tipos de casa usada para Exu é o que indi ei forme ilustra a Figura 2. ; On oben dos axes da porteira da casa do Candomblé ene levar a conta com muita seriedade, porque a porteira oe een firme. E para esse tipo de firmagdo de porteira, ¢ convenient ees cuidado ¢ conhecimento fundamental; em sale te bcencian fais imei a rua: eguns e exus. / : iro lugar, deve-se despachar os povos da ‘ , Pde lei dar de comer e beber, ao mato ¢ as estradas. Depois, eds ve se dar de comer e beber aos eguns dos santos da casa. A seguir, da-se : comer ao Exu da porteira da casa e acs exus internos da casa, para qui eles nao perturbem as obrigages e cerimonias dos orixas. ‘ * Como se vé, é muito faeil saber-se qual o valor de um Exu ou cipal Quando as duas figuras indicam chifres em sua cabeca, sua cara i jerente ¢ rabo atras, ndo € necessirio explicar mais nada. Espero que 0 oe: eonfunda uma coisa com outra; este meu livrinho, escrevi-o com ‘ in, i dade de transmitir eonhecimentos as pessoas que estéo dentro ou fora do ovimento espiritual. } i Quando: cito Candomble, ¢ porque no encontro nenhuma sures lhor raiz. no ramo espiritual para explicar as verdades. ee o ne, néio servird somente para os candomblecistas, considero- abalizado m nual para todos os ramos espittas ‘ Exu tem o seu valor, mas ele la e eu aqui. 7 Daremos todos os direitos deles para que nos deixem em par ¢ ndo 1eiram fazer parte da nossa alma ou do nosso sangue. de Darei a ce algumas cantigas de Exu na nacdo Keto ou Alaketu, das principais, suas bebidas ¢ su: B...ybarabo. .. B mighé, Exwakisan, ¢ mogbd, é mada.go ygo éco, Ubarabo € mogba elébard Exu-onan. tiga a dizer que Exu jd comeu, ja bebeu, entao me dé licenga is mi ; ingau é feito de acagd de 5 is mingau, quer dizer, este mingau € fet bums ganic &, canjiea ¢ 0 milho branco, o E que d whe fee ede ee es oo ho vermelho € conhecido coma milho de galinha. q ge ecé © bota-se sempre nos pés de Exu e de Egum, que ee mento é indispensavel para esses tipos de espirito. Nao Bonen oe de esclarecer que as farofas de dende, de mel ¢ de agua oa ae pensaveis para eles. Agora daremos mais algumas cantigas de Exu: 19 aN Ha tt ht fh Fig. 2 20 Exu. . . jua.. .jua... Manman ké a4 oda-ra. .. lard-4, jua. . . jua manman, kéa-6 dard, Iébard rebd. Esta cantiga quer dizer que Exu afugenta todo o mal-entendido que esteja em volta da casa, para que tudo corra bem durante a cerimonia. X6-x6-€bé, x0-x6-€bé ébé adara coré ji ejo aroé x6-x6 ébé xo-x0 ébé. in go-run go ee agun go-run go laroé Esta dltima cantiga quer dizer que Exu deve logo botar tudo para fora, sicctmca eatat a wort ees vite podem haver brigas, facas, forra, fuxicos, iscussdes e disse-me-disse. Em pesquisas, j4 ouvi falar em alguns lugares, de que a seita do Can- domblé ¢ atrasada, porque se despachava Exu. Nos, candomblecistas, em hipotese alguma fazemos isso. Desde quan- do nés gastamos esforgos para assentar o homem, no é possivel que o botemos para fora. Na cerimonia de Candomblé que tomo parte, no inicio apenas pe- dimos a Exu da casa para botar os maus espiritos pra fora. Mas o Exu casa permanece no seu deyido lugar. O Exu é assentado na porteira da ca- e do Candomblé para segurar o ambiente, como podemos botalo para fora? Caso fosse assim, quem tomaria conta da porteira da casa do Candom- ble? 21 Capitulo ¥ ABAGA O abaca significa barracio, terreiro, ou templo dos orixas, sendo este o lugar desma para os seus festejos. ‘Na antiguidade, os estilos mais usados eram do tipo conforme se vé na Figura 3. Este tipo de ferreiro ¢ construido a sopapo ou taipa; para mais clareza, é conhecido aqui no Rio de Janeiro, por casa de estuque. Este estilo de casa é feito com troncos grosseiros, escolhidos de arvores apropriadas que resistem ao sol, sereno ¢ tempestades. As madeiras robustas sao fincadas como mestras, as médias fincadas como guia de armac4o. Fas finas inter- caladas sobre os caibros, ‘Assim formava-se 0 engradado para receber o barro, do tipo massapé, isto é, o barro vermelho, que era eee preferéncia, porque esse barro da melhor liga ¢ melhor fixagio. A cobertura do caramanchao é feita com palmas de coqueiro, palmas de dendezeiro, palmas de nicori, capim sapé € outros. Para os orixds as casas sio dos mesmos ¢stilos. S6 a modificagao no ato de construir o Pepelé. Cada orixa tem por obrigagio sua morada independente. Na Figura 4 mostramos como devem ser centralizadas as casas. © leitor ja deve ter observado nas figuras das casas dos orixas, aboré ou orixa baba. Ha um problema das moradias das iabds. Alerto os leitores que a pala- vra aboro significa santo homem. £ a palavra iaba significa santa mulher. ‘As santas mulheres, quando o terreno da casa do Candomble é peque- no, as iabés moram de lavor com o abord, isto é, se forem do mesmo ra- mo ou da mesma ligagao. Damos abaixo a divisio e separagdo dos orixas fémeas. As iabas, podemos citar: lansi, Oxum, lemanja, Nana, Eu-d, Oba e Ja- naina. Tambem podemos citar os orixas que se transformam em iabas. Eo primeiro lugar citamos: Oxum-maré, Ossie, Lougum-nedé e Vane- oO. 23 24 Estes santos so conhecidos como orixas metameta, quer dizer, so santos metade homem, metade mulher Aqui mostraremos como se devem abrigar as iabas, ou santas mulhe- res, nas casas dos aborés, ou santos homens. (Por leis do santé.) Obaluaé abriga a sua mae, que é Nana. Também abriga o seu irmao que é Oxum-maré, : Para explicar melhor, estes trés santos nao podem se separar um so momento, portanto eles moram juntos ¢ vivem juntos todo o tempo. Jansa, Eu-d e Oba podem morar com Xango. Oxum e lemanja podem morar com Oxala. Na morada de lemanja e Oxum #6 € permitido morar com Oxalé, se ndo se comer sal ou dendé. Para a centralizacio dos axés do assentamento do barracdo do Can- domblé, requer-se muito cuidado e conhecimento. Nao esquecer que os axés da casa do santo ndo sfo para qualquer pes- soa atrever-se a pegar para fazer, porque é necessirio muito conhecimen- to e ter firmeza para executar esta obrigacao. Em pesquisas, afirmei de que milhares de pessoas yém-se transforman- do, a si proprias, em mde-de-santo ou em pai-de-santo, isto quer dizer, pessoas que por qualquer circunsténcia necessitaram fazer o santo, e por ter o santo feito, julgam tornarem-se mde ou pai-de-santo. Queremos dizer que o ser ¢ diferente do querer ser. Resumo: nem todas as pessoas vieram para ser pai ou mde-de-santo. Este problema vem cada vez mais criando mistificagdes na seita do Sanden be especialmente na nacao do Alaketu.. © Candomblé de keto ou alaketu ultimamente vem criando a maior indecisio a toda a comunidade, principalmente no Rio de Janeiro, nestes ltimos anos, as coisas vém andando tao mal, mas tao mal, que ja no sa- bemos onde vamos parar com esse tipo de religido com o nome de keto ow alaketu. Mas quem vem criando este problema dentro do keto, néo sfo pessoas de fora, io o8 proprios baianos. O grande problema é que cada um, ao chegar no Rio de Janeiro, apre- senta-se como filho ou filha de uma casa que tem nome de tradicfo, conta uma tal historia, de que tem que ser mde ou pai-de-santo. Logo o fiel crente, ndo estando por dentro do verdadeiro assunto daquela pessoa, se er de one e alma, porque sé a casa do fulano ou da fulana é re- conhecida como de tradi¢do, logo o povo se despreocupa e se comprome- te a tratar de suas obrigagdes com a S508. Na antiguidade, uma casa de Candomblé, por menor que fosse, os pais ou mdes-de-santo nao permitiam que uma Fha-de-santo da casa pudesse assistir sequer uma obrigaco do axé da casa. Quando muito, as filhas e filhos escutavam as cantigas e aprendiam a responder algumas, e, as vezes, nem chegavam a aprender, porque a mde ou pai-de-santo virayam todos os filhos no santo. Geralmente, quando os chefes da casa tinham familiares, para que o axé ficasse somente dentro da familia, eles botavam os parentes para o la- 25 do de dentro do quarto de santo, para que aprendessem os fundamentos da nagao, 86 para que os fundamentos nao saissem de dentro da familia. Agora, pergunto eu: s¢ as casas de pequeno nome agiam assim, que me dizem das casas grandes? Sabe-se que para se escrever um livro desta naturesa, é preciso conhe- cer bastante os fundamentos dos axés da vida do santé. O mesmo para se fazer pesquisas sobre o mesmo assunto. Creio que os leitores mais ou menos jd entenderam, Para um conhece- dor desta natureza, € necessario que haja um grande motivo para que che- gue ao ponto de escrever com tanta firmeza e clareza, sem invengao, Mais de duas décadas venho fazendo pesquisas, ¢ tenho notado as pes- soas que tém crenca no Candomble ficarem em duvida com as modifica- Ges que existem de uma casa de Candomblé de keto para de outro ritual. nto, ao saber que 0 pesquisador € conhecedor da materia, faz-se logo uma perguntinha: aqui também no é keto, e por que o Candomble ¢ di- ferente da casa de dona fulana, ou seu fulano? Nem a todas as pessoas podemos dar a explicacao no exato momento. Porque seriamos imprudentes ou passarfamos por falador. Isto quer di- zer, que o pesquisador, para responder a pergunta, teria que dizer a verda- de. Portanto, as verdades foram feitas para serem ditas e néo para serem engolidas. Aqui esté © momento em que os curiosos da matéria encontrardo as respostas do que desejam saber ha muito tempo. "Entao ja deu para entender os motiyos da diferenga do Candomblé de antigamente para o de hoje. 0 maior motivo ¢ na Bahia, onde quase nin- guém quer ser mde-de-santo ou pai-de-santo, Isto é, os que jd vieram com a missdo para esta finalidade. Quanto mais quem no veio ao mundo com este dom. Esta palavra dom quer dizer: pessoa que veio com a misao do ser. En- t&o, aos ie nao vieram com o dom do ser, ¢ querem ser, chamamos de mistificadores do ser. Este problema ¢ idéntico ao das pessoas que nao vieram para dar san- to; para melhor explicar: os que ndo vieram para receber santo, e querem que o santo desca na sua cabega, a qualquer preco. Por outro lado, tem sido muito observado no Rio de Janeiro o proble- ma da cascata com os orixas; este tem sido um caso muito sério ultima- mente. Caseata do orixd quer dizer: so pessoas que andam dando santo de mentira para enganar outros ou fazer encrenca de um para outro. Sabe- mos que quem vem procedendo assim nio sfo pessoas de um nem cinco anos de santo. Estes maus exemplos yém surgindo de pessoas de idade su- perior. Enquanto os santes yao deixando passar, esta tudo bem, mas quando eles comegam a cobrar, ai é que esté 0 caso. As pessoas do ndo ser séo os tipos mais perigosos, porque elas sfo ca- pazes de falsificar até a sua propria entidade ou seu orixa. Portanto, é preciso o maximo de cuidado para que nao se entre na tri- lha das mistificagdes, porque essas ovelhas mas vem contribuindo para a desvalorizagao e destruigdo do Candombleé, 26 Fig. 4 27 28 Esses tipos de i pessoas podemos considerar i be onsiderar come 0 é BR ee one teeta da audacia de langar ee see meee lar 08 preceitos, dizendo que o conhecedor da Acontece que as ¢ ‘pessoas aventureiras da seit ahecimento de materia, fazem de tudo para th lesfazer o hem-feito, para esmi 4 r i ‘smiugar, para ver se conseguer fleuma coi, para no Tutu, laser lade, Quando dé certo etd, ce pews ee me ld certo? Entdo, aquela pessoa que foi servida ae minsPast & suportar o incerto, como o positive, Mas estes problemas re i as pe reiros que vivem quebrando ¢ emendando até oils eng serene zer aventuras na cabeca alheia. endando até o dia em que cansam de fa- quando nao tém o co- Capitulo VI REGRAS E DISTRIBUIGAO DO AXE DA CASA O axé da casa, como ja sabemos, ¢ a seguranga definitiva, nfo podendo haver modificacgo do mesmo. Caso apareca um segundo ou terceiro para desfazer do que estiver implantado na casa, permitam um tudo; mas ndo deixem bolir no que esta feito, porque os encantos da casa ficam sem a sua forga real. Portanto, este assunto de axé implantado requer conheci- mentos aprovados. Um dos principais axés da casa é 0 da cumeeira do barracdo ou abaga. Este axé é conjugado com o da porteira da casa de Egun e com os das ca- sas dos orixas. Vamos ao. assunto da cumeeira. A cumecira da casa do santo ¢ 0 as- sunto mais importante do Candomble; para fazer este assentamento é preciso que a pessoa responsivel por este assunto conhega bastante o ifa, quer dizer, 0 jogo de bizios. ‘A pessoa sendo olhador de verdade vai conversar diretamente com 0 Orixé Olodumaré. Este orixé é o designador do destino da pessoa, em combinagéo com o Orixd Baba-Rokd, 0 qual é bastante conhecido por Trokd. Ent, este orixd recebeu direitos de Olorum, 0 poder de governar a Terra, em comunicagéo com Olodumaré. Com esses direitos, ele gover- na toda justica divina e é o pai da providéncin divina. A seguir falaremos deste assunto ¢ voltando ao tema dos axés. Depois que o Olowd — quer dizer pai ou mde-de-santo — jogar os bi zios para esses orixas, entdo saberemos qual orixa sera o dono da cumeei- ra da casa. Em hipétese alguma, pode-se imitar 0 axé de outra casa, por- que corre perigo, tanto para o dono da casa, como para os filhos, porque ualquer modificagZo que houver na vida do pai ou mde-de-santo, os fi- 08 sofreréo conseqiiéncias da maior gravidade. Para explicar melhor, vamos dar ura sintese, chave do assunto. Vamos supor que uma pessoa tenha por necessidade fazer 0 santo; en- tdo © orixa a oe ou pai-de-santo € tho de Ogum, o orixd chefe da cumeeira é Oxosse, 0 chao, jd sabemos que ndo ha segundos para substi- 29 tuir Iroké, Entdo, essa criatura faz o santo ne: at See we ae Re Om Depois de um certo tempo, essa pessoa resolve abrir uma casa de santo, seja nen dom do ser, seja pelo dom do ndo ser. Entdo parte para ‘9s pontos-chave; evidentemente, o orixa chefe da cumeeira da casa nfo podera ser o mesmo da casa da mde ou do pai-de-santo da pessoa, porque assim seria uma coincidéncia muito impoderante. Podervamos dizer: esta filha-de-santo quer imitar a casa dos seus mais velhos, com o sentido de querer passar os pés acima da cabega, Ou entao, seria uma copiadora da tunica coisa que teve a oportunidade de ver os demais fazerem. Por varios motivos é que os antigos diziam: kuéto no kuéto, cada qual no seu. Ao pronunciarem esta palavra, eles cantavam uma toada assim! Sou rei dos astros, émenino, delicado no andar,, quem nao pode com mandinga, nao carrega patud, Quem nao sabe nao ensina, deixa quem sabe ensinar. Quem néo pode niio intima, deixa quem pode intimar. Com este cantico, ele mandava todo recado. 30 Capitulo VII TEMPO E OS CABOCLOS Esta entidade Tempo é uma espécie de encanto, que o seu nome modi- fica, de acordo com a nacéo a que o referir. Mas ele é chamado pelo nome de Tempo na nagao Angola. Em todas as nacies de origem africana ele é indispensivel na casa do santo. O assentamento de Tempo é feito em um pé de dendé ou nicori, po- dendo também ser assentado num pé de Ioko. Sua ferramenta é um an- cinho, também conhecido no Rio de Janeiro pelo mesmo nome. Sua se- gunda ferramenta ¢ uma grelha, sendo de ferro estas ferramentas. Seu al- guidar é de acordo com o tamanho da grelha e do ancinho. A quartinha do Spcutetione € colocada dentro do alguidar, junto com 0 ancinho é€ sua grelha. ssa qualidade de santo, antigamente era respeitada de tal maneira que os africanos chegavam a curvar-se com a cabeca no chio, pedindo miseri- cérdia ao mesmo. Hoje, muitos fingem estar manifestados com esta enti- dade, que vemos na Figura 5. Comidas principais do Tempo: este Inkise come bode, pate, pombo, galinha d’angola e cacas. E farofa de dendé torrada. Come bé, pipocas, Snhame amassado, hatata-doce amassada, etc. ‘As comidas dos bichos da sua matanga so providenciadas na hora. Sao depenadas as aves e os de pélos aio tirados e limpos na hora. Enquanto as filhas-de-santo aprontam a comida, os atabaques eatao tocando ¢ o povo cantando. Assim que elas terminam de aprontar, a comida é servida ao santo e a todo pove presente a cerimOnia, Todas as, comidas do santo so assadas com o tempero de azeite de dendé, cama- rao seco, cebola e pouco sal. 31 Eis aqui algumas cantigas do Deus Tempo: E Tempo, ¢,€, de engana zambe. Tempo, é, é, 6. de engana zambe. Oya ké sinbe, pé pé pé oya maionga oy ké-Tempo-oyo. E Tempo, é, é, € Tempo a, ré ré ra Tempo de engana zambe Tempo de gangazumba. O vira o Tempo, 6 vira o Tempo, 6 vira o Tempo oyao Tempo amaionga 6 vira o Tempo, évira o Tempo, oya o Tempo viror. Oya o Tempo zara, oya o Tempo zoré Tempo. Tempo de gangazumba, oyao Tempo zara, oe o Tempo zoré Tempo. Nem Tempo pra comer, oya o Tempo zara. Nem ricethi pea trabalhar. oe o Tempo zora. Nem Tempo para brincar. oya o Tempo zara. Na minha aldeia gira o sol. também gira a lua, 6 que Tempo é esse, meu Deus 33 Tempo macurid de lé, oya murax6. Tempo macutia de la, oya muraxd, ai, ai, ai, oya muraxd, x6, x3, x6 macurid. A ingua é Tempo, a lombada mol fata, a o convés. A-é, Tempo. oya faca e 0 convés, Tempo é @ é, eat cand. Tempo, a ra ra, cadé Tempo. Tempo de engana zambi, cadé Tempo Tempo é ré ra cadé Tempo. A saudacao aos mais velhos: Bons gira ~ Com bone gi manieto (Mac). Bona gira, tatéto (Pai) Bona gira, muzenza (Yaés). Resposta: gira ¢ zambe mucuin. Capitulo VIII CONGO DE OURO — CABOCLOS O Congo de Ouro é conhecido em Salvador da Bahia por Candomblé de Caboclo. Esta nacdo é totalmente brasileira; desde quente 08 portugueses des- cobriram a nossa terra, ja encontraram o culto do fetiche; eram todos caboclos, brasileiros natos. Seus eanticos, suas dangas e ritmos de toque musical eram idénticos aos que chegaram mais tarde de la. Esta nacdo de caboclo, apesar de ser de origem brasileira, muito pou- cas pessoas sabem lidar com ela, especialmente 0 povo de keto ou alaketo. Antigamente existia uma grande politica do povo de keto para com 08 caboclos do Brasil. Por esse motive o pove da nacio alaketo € o que me- nos entende da nossa originalidade, que € o Gongo de Ouro do Brasil. Feta polttvg foi criada pelos escrayos que yieram exportados para o Brasil. A politica que havia entre as nagGes africanas para com os caboclos brasileiros era pela seguinte razdo: os Indios brasileiros falavam a lingua ra ou tupi. Os escravos exportados para o Brasil falavam a lingua 6, entéo nunca podia haver um entendimento entre as duas nagées. O certo é que os centidos e og sacrificios fundiram-se numa sé fé. A Angola ¢ o Congo cagange eram os ‘Gnicos que conseguiam trocar linguas com 0s guaranis, porque os seus costumes eram idénticos. esta maneira, o keto era uma nacdo totalmente isolada, sobretudo por falta de conhecimento dos idiomas destas racas. Com segundo sentido, o povo da nova cae passou a carregar uma espécie de preconceito com os caboclos do Brasil; assim, vinha criando sé- rios problemas para a comunidade. jesmo com todo apelo da nova geracdo, os caboclos nao deixaram de preservar seu legitimo valor. Quase todas as cantigas dos caboclos eram e sdo sotaque. 35 Eis algumas: Ninguém mim tira, oque Deus mim deu, Naicir no Brasil, brasileiro sou eu. Sou brasileiro, eu brasileiro, sou brasileiro, -eu sou brasileiro brasileiro © que € que eu sou? Eu sou brasileiro, brasileiro imperador. Eu sou brasileiro, Brasileiro do Brasil Eu sou brasileiro. brasileiro produtor. Assim, estava dado o recado ao pai ou mao-de-santo que nfo queriam aceitar a incorporacdo do caboclo nas fithas-de-santo da nacao de keto. Com essa atitude, os pais e maes-de-santo 86 contribuiam para a infeli- cidade das filhas-de-santo, porque os caboclos tinham necessidade de des- cer em Terra para o bem-estar da humanidade, e na maioria das vezes, os proprios filhos adoeciam e tinha que haver um socorro espiritual, mais existia ¢ ainda existe ignorancia de que, se uma filha-de-santo sair para fa- zer uma consulta fora, o pai ou mae-de-santo da pessoa criavam o maior problema. Agora eu acho que nio havia ¢ nem ha motivos para eles criarem pro- blemas com os filhos; a nao ser que eles ndo tenham confianca no que vém fazendo. Quem ndo deve nao teme, diz o ditado popular. OUTROS SOTAQUES DOS CABOCLOS ._ Quando em fortes demandas, os caboclos cantavam ¢ ainda cantam as- sim: Quem pensa que o céu € perto Que nas nuyens vai pegar. Os anjos jd estao sorrinde. . 36 da queda que vai levar. Tava no mato cortando meu cipo. Tudo que eu yejo calado é melhor. Aiaiaiai Guarda edchegues da Amanda. Ai, ai, ai, ai. , Geena eu cheguei ja Aruanda. Trouxe raiz e remédio, dentro da minha capanga. Trouxe raiz e remédio dentro da minha capanga. Dentro da casa de Candomblé, quando se get anagao de caboclo, o de Ivimento ¢ superior a de outra qualquer. _ . Oanadnaeets pela casa, faz-se uma palhoca do tipo que ilustra a es- tampa da Figura 6. , ; sua armagao é feita de bambu verde, que é o melhor material para se fazer a ciipula. . . Sc cobertura € feita de sapé, talas de dendezeiro, nicori e outras talas semelhantes. APETRECHOS E INSTRUMENTOS O ibd, ou assentamento, dos caboclos é idéntico aos dos orixds, O assentamento requer: alguidd, quartinha, lanca de pedra ou madeira, otd (pedra), quando o caboclo pega pedra. Seus apetrechos de assenta- mento so nda de barre. COMIDAS Suas comidas so aves ¢ cacas: galinha d’angola, galinha comum, pom- bo, galo, cabrito, tatu, pred, passaros, lagarto do mato, etc. 37 Pig. 6 CANTIGA DOS CABOCLOS EM FESTA E com licenga é, é com licenga. Com licenga de Zambe Apongo, com licenga maméto. Banda mu xaéra ago 6. Banda mu xaéra ago lelé. Banda mu xaéra ago tateto. o Bee Eéa, vamos xaéra mameto, como xaéra berekuéto vamos xaéra tateto. E boa noite, 6 meus senhores, na sua terra de ouro. E bom dia, a quem é te bon dia. E boa noite, pra quem é de boa noite. A benga meu tatd a benga, sou rei dos astros, sou um rei, li na Hungria. Eu venho de longe sem conhecer ninguém, eu venho de longe sem conhecer ninguém. Venho colher as rosas jue nas roseiras tém. enho colher as rosas que nas roseiras tém. 39 Quando eu vim do Cariri, lemba-é. . . lemba. Eneontrei seu Salava. Lemba-, lemba. Eu cheguei, agora-a, nao me perdi na hora. Eu cheguei agora nao me perdi na hora. O caboclo ¢ bom; ele néo mente, ele estava preso na corrente (bis). Caca na aruanda, 6 coroa, Caca na aruanda, 6 coroa, aga na aruanda, 6 coroa, Oxosse é cagador, 6 coroa. Ecé,6 064, aonde ele mora; mora nas matas de Nossa Senhora. Tava na mata. Tava trabalhando; ‘Tava na mata, tava trabalhando. Caboelo Gentil, tava me chamando. Caboelo guerreiro, tava me chamando. As comidas dos caboclos sfo todas servidas como churrasco. A primei- ta matanca é feita logo cedo. Na hora de comegar a festa, tem outra ma- tanga, que essa é para fazer a Jurema da mesa. Essa mesa ¢ composta de lelé, canjicdo, manguza, alfélis, axox6 de Oxosse, cha de Oxala, abobora, ed vinho branco, cerveja branca, mel para a Jurema e salada de saifio. Convém ndo esquecer que o churrasco deve ser servido ao povo com a farofa, que pode ser feita com azeite de dendé ou azeite doce, isto é, de acordo com o fundamento da casa. Esse assunto de azeite de dendé e azeite doce ¢ muito importante na vida da pessoa. Portanto, kueto no kueto, cada qual no seu. Isso quer di- zer, quem é do dendé nao pode usar o azeite doce, e quem é do azeite do- ce ndo pode usar o dendé. 40 DESPEDIDAS DE CABOCLOS Meu paizinho td me chamando, para qué? para qué? para que meu pai me chama, para qué? Eu jd vou embora, ara minha aldeia. Buaevou onsen camaradas, para a Juremera. Adeus, adeus. Boa viagem, eu jd me vou. Boa, boa viagem. Fiquem com Deus. Boa viagem. E Nosso Senhor. Boa viagem. Adeus, surpresa. Todos eaboclos jé vo embora, adeus surpresa fiquem com Deus. e Nossa Senhora é hora é hora. E como vai yoando: como um passarinho, é como um passarinho (quando sai dosninhos Adeus rolinha. Rolinha fogo pags. Adeus, selnhe, bite asas € yoou. 41 Capitulo 1X ORIXAS Para iniciar 0 tema orixds, vamos falar de um assunto complicado e que vem criando os maiores problemas desde antigamente. Trata-se dos abicus, isto é, os orixds-Babd, que sdo og santos vivos; eases santos nao se raspam, ndo se pintam. Bsses santos s0 se catulam. Pois niio se pode dar a aan desencarnados, Esta conclusao. pode ser tirada por Sao Lazaro; todos ja sabem muito bem que este santo, depois que reseuscitou, levou 0 nome de morto-vivo. Assim como Sao Lazaro, houve outros santos que desapareceram. E dai surgem os orixas, denominados abicus. A sintese deste problema de orixds da terra de abicus é 0 seguinte; Os abicus € que sdo os verdadeiros zeladores dos orixas. Isso quer dizer: abi- cus sdo pessoas que vieram com o dom do ser. Portanto, nao precisam ser raspados, porque correm perigo, tanto 0 pai ou mde-de-santo, como o fi lho ou a filha que se submeterem aos sacrificios de raspar cabeca. O grande problema € que se uma pessoa for desta terra de abieu, e pat ou mde-de-santo se deixar raspar, atrevem-se a raspar o santo da pessoa; se 0 pai ou a m@e-de-santo ndo morre, o filho(a) de santo morre. Caso o filho(a) nfo morra, é evidente que sofrerd qualquer inconveniéncia em seu estado de vida e de satide. Esse assunto é um tanto duro de se explicar, pela razdo seguinte: mui- ta gente sabe que os abicus sdo a forca total, ha, porém, quem nao sabe sequer o que vem a ser abicu, porque a pessoa que conhece este assunto, procura se apartar pelo seguinte motivo: ndo sabe cuidar do fundamento destes santos. A néo ser que faca como muitos tém feito. Se uma pessoa é da terra de abicu e sendo filha de Iansd, e seu ajunté é Oxosse, ela entao pega © ajunto e passa para a frente do orixa chefe e pega o orixa chefe e passa para tras, ra, pergunta o leitor: — ¢ pode-se fazer isso? Nao! Nio pode, pela seguinte razflo: Se Deus deu o dom a uma tf ser rei, ent@o essa pessoa ndo-pode ser escrayo. Pai é pai, ¢ filho é fi- 10. 43 Caso esse processo seja usado pelo pai ou mae-de-santo, para a lei de Deus esse elemento est cometendo o pior crime espiritual, porque esta violando a lei de Deus, Agora, pergunta o leitor: — quando ocorre um ato dessa natureza, co- mo deverd ficar a pessoa? Nesse caso, quando a pessoa nao fica maluca, os seus problemas se agravam, seu padrdo de vida se altera, tudo corre ao contrario, ¢ fica-se naquela vida de quebra-quebra; quebrando ¢ emendando. oltamos ao caso do ser, e do nao ser. Esta conclusdo podemos tirar pelo mamoeiro, aquele que néo dé mamao, que ¢ macho. O mamoeiro fémea é que di maméo. Se Deus deu esse dom do ser pro- dutor, entéo néo somos nada para contrariar a natureza de Deus. Caso contrariarmos a natureza de Deus, estaremos desabonando a nossa exis- téncia, tanto a material como a espiritual. Melhor dizendo: tanto em vida como desencarnado. Ea Lei. . . O poyo de antigamente, ou melhor, os africanos, em caso de recolher um orixa abieu, no dia da ceriménia, diante do pablico dizia: — este san- to é vivo, este santo ndo se raspa, nao se pinta, ndo se yende € nem se compra, Este santo é vivo, acudirei orixa, eu preciso comer muita farinha, pelo amor de Deus! Agora imaginem o respeito gue 08 afticanos tinham pelos abicus, tao diferente do que se vé hoje em dia. Ultimamente tem aparecido algumas pessoas que dizem ser mae ou pai-de-santo, inclusive baianos. Essas pessoas estiio usando uma bossa es- tranha, dizendo que 36 tem valor dentro do Candomblé quem é raspado. Mas se Deus deu o dom do poder a pessoa, como é que podemos contra- tiara vontade do Pai Supremo? Quem somos nés para contrariar o Pai? Quem é um babalorixa ou ialorixa? Um babalorixd ou ialorixa é, na reali- dade, e simplesmente, um mensageiro da forca divina. Seu trabalho é re- ceber as mensagens do Senhor e transmitir ao irmao consulente; quando ha obrigagdes a fazer, o mensageiro, tem de cumprir o que Deus manda e ndo o que queira fazer. Portanto, é servo de Deus aquele que cumpre os mu mandamentos. E nao aqueles que procuram criar uma lei diante de jeus. Devo salientar que esses problemas sempre ocorrem com as pessoas do dom do no ser. BUZIO OU IFA Antigamente na Bahia de Sao Salvador eram raras as pessoas que olha- vam nos buzios. Atualmente milhares de pessoas se dizem olhadores de buizios, ¢ isso tem causado o maior problema para a comunidade. ra, pergunto eu; — por que o povo de antigamente, conhecendo o Candomble de fundo, nfo se atrevia a pegar um ifa para jogar pra nenhu- ma pessoa? E por que hoje em dia qualquer um quer pegar o8 biizios di- zendo que é vidente? 44 O povo de antigamente dizia que nao era nenhum doido para pegar um ifa para criar mentiras ¢ imaginacao na vida alheia, contribuindo para a destrui¢do em familia. E que ¢ olhador(a)?, sfo pessoas que ja vieram com o dom para ser vidente. Os que eram videntes, olhavam, mas os que no tinham 0 dom, nfo se metiam a olhador. denen Agora, pergunto cu: — por que de uns tempinhos para ca, surgiram mi- Ihares de jogadores de biizios? i Outro probleminha que ainda nao deu para entender, é 0 assunto de pessoas que se dizem manifestadas com qualquer guia, e 0 guia jogar os biizios para consultar o proximo. Ora, se a pessoa se diz manifestada com um espirito, entéo nao é mais preciso os biizios. Se é um espirito de verdade e tem um poder divino, entio ele devera ter o poder de saber 0 que ja ocorreu, o que estd ocorrendo ¢ o que estd para acontecer coma pessoa. E claro, se ele é um espirito de luz, por que perguntar! por que jogar bizios?, ja sentiram que ndo da para entender? ‘Onde esta a verdade? Onde esta a mentira? Antigamente o povo tinha sempre mais fé e seguranca consultando a um caboclo. Ultimamente 0 povo, aos poucos, esta perdendo a fé e a con- fianga na maioria dos eapiritos, tude isso. por causa dos falsos profetas ou mistifieadores, Isto quer dizer, sf0 pessoas que andam dando santo de mentira, para viver. ; Ulimamente @ nova geracdo anda criando um composto para com a nacao de caboclo. Este composto significa criar ogans para confirmar, mas esta tese nfio existe ¢ nunca existiu na nagao de caboclos. 1 K d O que ja existiu e ainda existe é¢ um padrinho. Este padrinho ¢ 0 res- ponsavel por todos os assuntos do seu eaboclo, que o tirou como seu pa- drinho. Eu creio que ja é tempo de as pessoas abrirem os olhos para com 08 falsificadores. ‘As contas de cores siio: verde e amarela, verde e marron, vermelha € verde, cor-de-rosa ¢ branea. Ha ainda uma falange dos tupis que usava a cor preta e verde. Portan- to, as cores das firmas dos caboclos variam de acordo com a sua falange ou tribo. 45 Capitulo X REGRAS E ETICA DO CANDOMBLE As regras candomblecistas sio muito rigorosas, principalmente para as pessoas que nao gostam de prestar obediéncias aos demais. Essas Tere no podem deixar de ser cumpridas. Sabe-se que uma instituicao ou hie- rarquia nao podem ser abreyiadas por quem quer que seja. desobediéncia da ma pessoa na casa do santo é a responsdvel pela mistificacdo. Ultimamente a maioria do poyo yer aceitando os sacrificios da protec&o do orixa, ou fazer o santo, mas ndo quer submeter-se aos regu- lamentos que sio exigidos pelos orixas. Muitas pessoas que entram para a vida do santo julgando que foram os pais e mies-de-santo que criaram a hierarquia. Por isso dizem que subme- ter-se a essa hierarquia é uma humilhacao. Nos, zeladores de santo, somos mensageiros e nio criadores de leis pa- ra 03 orixds. Simplesmente recebemos e tranamitimos ordens que slo en- viadas pelo Pai superior. Em pesquisas e lenges conyersas jd presenciei pessoas dizerem: — eu néo gosto do Candomblé porque as pessoas tem que se humilhar a todo tipo de gente. Vi tais conversas entre chefes de outra nacao ¢ um candomblecista. Por esse motivo é que surgem os mistificadores do legitimo Candom- blé. Nao se trata de humilhagao, ¢ sim de humildade. Quem nado ¢ humil- de nfo pode alcangar a realidade. Se vocé quer ser um legitimo babalourixa, ou ialorixa, proceda com humildade, que este é um regime que foi deixado pelos nosss aves. Nao abandonem sua casade-santo ¢ obedecam as ordens exigidas, elas sdo obrigatorias. Antes de dar a sua cabeca em confianca a uma casa, pesquise bastante, para ver se é possivel ou nao, porque depois que tiver feito, di- ficilmente havera conserto.. 47 POSTOS NA CASA DE. CANDOMBLE, Mae-de-santo — é a responsavel por toda a casa-do-santo. Pai-de-santo — tem os mesmos direitos ¢ autoridades na casa-do-santo. Axogum — € 0 responsavel pelas matancas dos bichos de quatro patas. Ato-axogum — € 0 responsavel pelos bichos de penas, ¢ auxifiar do Axogum. Pete-hy — é 0 responsivel pela matanga do Exu, ¢ seus movimentos de despachos e carregos de ruas. Este elemento ¢ a verdadeira chave da casa de Candomblé; portanto, um chefe de casa-de-santo deve saber escolher e estudar 08 modos, costumes e consciéncia do elemento, para entio lhe dar o cargo. Nao esqueca, Exu ndo gosta de mulher. A mulher é a maior diferenga para Exu; enquanto respeitam as criancas, odeiam as mulheres. A intriga de Exu com a mulher foi motivada pela traicdo que a mulher Ihe fez. Kntao Exu perdeu toda confianga que tinha na mulher. A casa que quiser estar bem com Exu, néo deve deixar mulher entrar, a ndo ser que a mesma seja a sua superiora. Esses trés postos s6 podem ser confir- mados a homem de santo Mae-pequena — é auxiliar da mae-de-santo ou do pai-de-santo. O pai, ou me-maior, fazem suas obrigagdes, depois determinam a continuagao para a mae-pequena fazer. A mae-pequena deve ter sempre uma auxiliar, porque a ela é designada uma série de tarefas ¢ seu tempo € muito pouco para tanto servico. ‘i Ti-balé-laxé — 6 a mulher responsivel pelas obrigagées dos eguns ou al- mas. Ogam — faz a matanca para as almas ou ene chama-se ojé. $6 é per- mitido assumir esta funcéo mulher que for filha de lans&. De preferénci: se for de lansa-balé. Em determinadas ocasides, este posto pode ser servi. do por uma mulher desde que pertencente a Obaluaé ou Ogum. Assim co- mo acompanhante, s6 pode ser quando houver yinculo com um desses trés orixds. De outro santo nao é permitido ser confirmado para este pos- to, pois este cargo € dos mais perigosos da seita. Ta-hasé — é a responsavel pelas comidas dos orixas. Depois das matan- gas dos bichos, o pai ou a m&e-de-santo lhe entrega os animais para que sejam preparados para servir aos orixas ¢ ao povo na hora da festa. ‘ibonam — este ogam é o responsivel pelo barracdo; tem por obriga- ¢do arrumar o salao juntamente com os outros ogans. Na hora da festa, tem que estar atento a todo movimento. Deve ser calmo, educado, muito desconfiado ¢ usar muita malicia, Se na hora da cerimOnia alguém atra- vessar os costumes da seita, ele reunira adjuntos, chama a pessoa errada e The explica as exigéncias da casa. Se a pessoa aceitar, a casa estara sempre as ordens, caso nao aceite, com bons modos, o ogam deve pedir que se retire, sem mais explicagdes, Ogam-nilu — € o responsivel pelos atabaques. Este homem € 0 tipo do maestro da orquestragao. Seu instrumento principal ¢ o gam (agogo). 48 Ali-bé — é ogam confirmado para tocar atabaque. Entre estes postos, o Alé-bé é 0 menos graduado, em termo de ogam. Mas nifo esquegam, sem tocador nao haverd festa. Entre os ogans nao ha superioridades em postos. Apenas ha uma sepa- ra¢do de obrigagdes, em termos de mais confianea. Para que houvesse distingao, seria preciso que os que se julgam supe- riores passassem por um outro fundamento superior. Mas este fundamen- to nao existe. Todos 03 ogans merecem o mesmo respeito € conceito que o pai ou mée-de-santo recebem. O que ndo se pode é confundir o ogam com mae ou paidesanto. Pai é pai. Mae é mae, ¢ ogam ¢ ogam. A todo momento mie ou pai-de-santo, tem por obrigagao trocar bén- ¢&o com os ogans e as ekedes, A ekede é tambem considerada uma mde, © 0 ogam, um pai. O'servico da ekede é ajudar em tudo que for possivel. Mas a sua res- ponsabilidade é maior nos dias de festas, porque ela tem que se ligar aos ogans para organizar a programacdo. Ela ¢ responsdvel pelo vestir as rou- pas das pessoas que viram no santo. Também tem a obnigacdo de ajudar a cantar e enxugar os santos durante a ceriménia. As criaturas que sao tiradas para se confirmar devem estar sempre pre- paradas e dispostas para servir a casa-do-santo, a qualquer hora. Em hipétese alguma, mae-de-santo ou pai-de-santo devem desrespei- tar as ekedes ¢ os ogans. Esse regulamento é concedido para ambos os graus. Portanto, assim como os filhos devem respeitar os pais, também os pais devem respeitar os filhos. Uma casa-de-santo ¢ 0 lar de retiro da pes- a. As filhas e filhos-de-santo da casa nfo so escrayos nem tampouco em- pregados da casa de Candomblé. Mas todos deyem sempre estar dispostos a cumprir com 08 seus deveres ¢ obrigagdes que lhes forem determinados pelos superiores: mae ou pai-de-santo, ou mesmo a ekede e ogam, quando indicados a enviar alguns mandos dos chefes superiores da casa-de-santo Todos estes membros também tém por obrigacdo contribuir para a ca- sa-de-santo, para que os direitos Ihes pertencam. Assim, as filhas e filhos, poderdo ser ouvidos a qualquer dia e momento em que necessitem. Quando cito direitos integrais, espero que todos entendam: a casa-de- santo tem uma despesa cinco vezes mais alta que uma casa de familia nor- mal. Portanto, s6 pode uma sociedade ter sucesso e progresso, se houver contribuic¢io dos membros associados. Afirmo isso em razdo das pesqui- sas que tenho feito. im certas ocasides ja presenciei pessoas dizerem:'— meu pai-de-santo nao liga para mim! Como sé 0 pai-de-santo tivesse por obrigacdo respon- der pelas despesas daquele filho. Pode-se Iutar por alguém que nao tem disposicao? Quem nao trabalha pode progredir? Portanto, quem faz gragas, merece gracas. 49 Capitulo XI REGRAS E COMEMORACOES Para iniciar esta parte, néo podemos deixar de falar nos primeiros pro- cedimentos do Candomblé. ‘Antigamente quando um babalorixa cruzava com uma ialorixa, os dois trocavam béngao, nfo havia cumprimento de dentes cerrados, e sim um cumprimento sadio ¢ respeitoso, com amor ao orixd do outro. Ultimamente esta havendo um novo estilo, coisa de mistificadores. 0 certo é a obrigagio de as aids trocarem bénco uma com outra, 08 ogans ¢ as ekedes trocarem também béngio. Assim também sido obrigados os babalorixas ¢ ialorixds trocarem béngdo com os ogans e ekedes. Nao pode haver recusa de quem quer que seja. pessoas que recusam trocar héncdo com um ogam ou ekede séo consideradas mal-educadas ¢ sem principio espiritual, Muitas pessoas alegam que nao tomam bencao ao ogam novo de con- firmagao porque se assim o fizerem esto se rebaixando. Agora pergunto: — 0 ogam ndo passa pelo mesmo axé que passa um vodtno que raspa, ou mesmo um abiku? Quando um ogam e uma ekede so confirmados pelo orixd, é porque eles foram tirados, perante o piiblico, como se fora pai e mac. Quando o ogam ou a ekede so sentados na cadeira, jd esta dito tudo. ‘A cadeira que o ogam ou ckede se sentam é um trono real. Sabe-se que uma cadeira especial 96 ¢ cedida a uma autoridade; entio n&o é mais preciso dizer que resguardar essa cadeira ¢ indispensavel. Caso ém tenha algo contra o fundamento do santo, entdo dirija-se ao pu- blico e aos orixas, proteste, para ser tirado o assunto de confirmacoes de ekede e ogam. Do contrdrio, como iria caminhar o Candomblé, se tudo por tudo depende do ogam? Quem vai mater para Exu? Quem vai matar para Ogum? Quem vai despachar os carregos dos axexés? Quem vai tomar conta da casa-do-santo nos dias de Candomblé? Quem vai cantar o Candomblé? 51 Quem vai tocar os atabaques para fazer a festa do santo? Pergunto mais uma vez: —o ogam merece respeito ou nao marece? Ele é a maior chave da casa. Porque, quem da santo néo pode tomar conta nem de seu proprio, quanto mais do proximo. Respeitem o ogam como um pai, ¢ a ekede co- mo uma mie, pois a sua vida esta dependendo destes membros. Este problema que a nova geracdo vem criando com os ogans € as eke- des, ha muito tempo também criaram com o povo da terra de abiku. Ree Girt le Veg ntsc es trent dca la tera Pe uals ko pad ser conceituado, porque néo é raspado; também como as ekedes ¢ 08 ogans nao so repatos, Isto €, 86 no alaketu é que o ogam e a ekede niio so raspados. Mas na Angola verdadeira e no gegé, os ogans e ekedes, por obrigacdo da nacio, so raspados, para que sejam confirmados. Mais uma vez eu pergunto: quem inventou o Candomblé, raspou san- to Pintou santo? Levou codidé? Levou oxu? Deu nome na praga? Ai esta uma 86 resposta: os orixds, que inventaram a manifestacao do espirito, no corpo humano, sao eles os pais das pessoas que sdo abiktis, ‘ogans e ekedes. Mais adiante ainda voltaremos a falar desse assunto. A Figura 7, a seguir, mostra uma iad raspada, pintada, com 0 codidé e oxu. Portanto, ja da para entender de que nao seria possivel nascer um ser viyo nessa condicao. Se me alongo e aprofundo esse assunto, poderia chegar a um ponto quase que de deacrenca, portanto, paremos por aqui. Nunca procure desfazer do abiku, da ekede e do ogam, Seja de casa pe- quena ou de casa grande, porque as vezes a casa grande é um circo e a ca- sa pequena ¢ um yerdadeiro esteio, FEITURA DO SANTO Que vem a ser, fazer santo? O santo, a matéria néo pode fazer. Porque nada somos para chegar a tanto. O que ¢ feito, na realidade, ¢ assentar 0 orixa. Quando-uma pessoa vem ao mundo com essa missdo, ndo ha outra sat- da; uns yém para ser raspado, e outros de somente ser assentado o santo, sem precisar raspar, que ¢ 0 caso do abiku, da ekede ¢ do ogam. Quando uma pessoa vem ao mundo com a missiio de passar pelos sacri- ficios do santo, nao € preciso que role no cho, para que sejam feitos 03 sacrificios. Nem todos orixas sfo obrigados a bolar com a pessoa. Quem pensa as- sim esta equivocado, 52 Fig. 7 53 Esses modos de cumprimentos ja dao para se saber que 0 ogam 6 cum- primentado na frente do pai ou mae-de-santo. Depois que termina esta primeira parte, entéo canta-se a segunda ean- Muitas pessoas da atual geragdo vém criando nova moda, dizendo que na nagiio de keto nao € permitido que, quando o pai ou mae-de-santo fa- zem passagem, o filhos nfo tenham necessidade de tirar a mio de egum da cabega. Existe sim; mas, para isso ¢ necessirio que antes da iad ser recolhida, faga-se o carrego para a casa grande. Mas esse carrego ndo é coisa a-toa pa- ra ser feita sem 0 conhecimento total do assunto; esse caso tambem € pa- Ta quatro paredes. E ocodix munda-pé yao, off egé uando uma iad passar por esta série de chos, antes de fazer o santo, Ocodidé entdéo pode ficar ciente de que esta tudo bem. Isto é, caso o pai ou mae- mundu-pé yaé de-santo sejam conhecedores da materia, de verdade. ofé ege. Cito isto porque atualmente vém surgindo pessoas se dizendo babalori- xds e ialorixas, mas ndosabemos como € que dos. anos 60 para ca, quase tri- A seguir, canta-s¢: plicou 0 niimero de chefes de terreiro. Especialmente no Candomble, mesmo na Bahia de Sao Salvador, que ¢ a terra catedral das crencas de Aja in mim origens africanas, mesmo em Salvador, repito, nunca tivemos tantos Can- aja in mim. domblés, como esta havendo nos outros Estados, particularmente no Rio Glorem pd mim de Janeiro. coja bereré. Aja in mim aja in mim NOCAO DE SAIDA lorum pa DEIAO ALAKETO coja bereré. A iaé, na nagdo de keto, baseando-me pela antiguidade, posso afirmar, a primeira saida € a seguinte: Para entrar de volta ao runks, canta-se: ae yao no bs Ajé emim ké ad long. Ké as ke ajo Yad no bé ke ad. lona. Eko cko murajo Yad no bé ajé emim ké ao; lona, ké.a-d ké ajo ké ad ké ajo Na segunda saida, a iad jd vem com uma roupa de melhor realce que 0 aum belé, (bis) morim. a As cantigas sfo as mesmas, cantadas na primeira saida. Sempre ¢ aconselhavel cantar trés cantigas para cada um santo que es- Nesta primeira satda, ¢ de obrigacdo a iad vir pintada, com o oxu eo tiver novigo na camarinha, para que seja testado: o ser, ou 0 nao ser. eodidé, A roupa da primeira safda, ¢, obrigatoriamente, de morim bran- Na hora do nome, a primeira cantiga, se ndo se cantar 0 aja in mim, en- co. tao deve-se cantar o seguinte: ‘Ao inicio da primeira cantiga, a mAe-pequena, ou seja uma iabd, vem com uma esteira de cigano, estende-a sobre a entrada do barracdo e o iad E...Aum bé, deita-se estirada e presta o ado-balé. A seguir se levanta,e a mae-pequena ké aj suspende a esteira ¢ estende no centro do barraeao, onde esta assentado o Adolo dé a lona. axé da casa. A iad repete o mesmo ato: ado-balé e pa. Depois, os mes- BE... Aum bé mos cumprimentos sio cedidos aos ogans ala-bé. O tiltimo cumprimento keajo. € cedido a mae ou pai-de-santo. Adole. .. Dé alo né-an. .. 54 Depois de dar no minimo trés yoltas no barracdo, ae pessoas que esti- verem ajudando a puxar as ias juntam as novicas em um canto determi- nado. A seguir, a mae, ou pai-de-santo, tira a mais velha, que é a adofona do barco. A essa altura, o chefe da casa, por lei e sem politica, tira mae, ou pai- de-santo que esteja em visita a casa, ¢ se Ihe apresenta a iad, para que seja eselarecido o nome orunké do orixa. Caso nao tenha um pai ou mae-de-santo, entao a iad é entregue a pes- soa mais velha que estiver presente a cerimonia, Isto ¢ a real obrigag. _ Babalorixa e lalorixa de capacidade e conhecimento agem dese modo ¢ jamais negarao 0 que afirmo. No momento em que a iaé é entregue, o designado a tomar 0 seu no- me faz a primeira investigacao, perguntando-lhe o seu nome. Na terceira vez, o yoduno que estiver tomando o nome da iad, fala em vor alta: “santo, em nome de Deus vai dar o seu nome, bem alto para que todos os presentes, escutem.” Repete: Orixa, orunko. Neste momento 9 santo dio nome. © ogam-niu, que ¢ 0 mais velho dos ogans presentes, canta: A ing ing ind pa oji, of€ olorun} A ina ina oni pa dji, ofé oloruns. ‘Tantas iads tenham, depois que cada uma der seu nome, 0 ogam é obri- egado a cantar esta cantiga. Quando a tltima iad der seu nome, entdo o ogam mais velho canta: O luo ou um-ié olé id. Ou um-iéié. O Iué ou um olé id 6 um-i Oni tord-to ogun, Obé-lado, nin-sord, ya-morelé — aja, iim Iele, i um ié 56 A seguir, canta-s¢, no mesmo ritmo, a cantiga Coja cobé i-o. Erun bobé erun i-éié Oni toro-t6 ogun. Erun bobo erun i-+i-€. Oni toro-to ogun. Eran bobo erun i¢ Emenda a seguinte cantiga: A gogo ni fa unaod, ole nia. A gogo ni fa odard Ebo axe. Pela gloria e luzes que a iaé recebe, cumprimentam-se e entoam outra cantiga, que é a principal, para saudar a nagao do keto: A rolé, ala-keturé. Ala atin odara, @ald tin odara arolé ala tin odara. A seguir, mais este cantico de saudagao aos ogans da na¢do do proprio keto: Ald bé otun, Alé atin odara. E ala tin odara arolé, ala atin odara. Ao correr das duas tltimas cantigas, todos que pertencem 4 nacao do keto vao se cumprimentando uns aos outros, e trocam. béngdos. Os mais fracos, viram no santo. E os mais fortes, ficam acordados. As- sim, continuam a cantar e animar o Candomble. TERMINO DA FEITURA DA IAO Depois de terminada a erim@nia do nome da id, Taue a seguir & ara mado 'o carrego para ser despachado em determinado lugar. O local ¢ de acordo com a qualidade do or 57 Depois do carrego, a primeira cerimonia é providenciar a romaria (este termo romaria era usado ree povo de antigamente, e quer dizer: a iat vai a missa na igreja do Bomfim, a seguir, vai correr as casas de Candom- Hie pee tomar béngdo aos mais velhas). iad tem por obrigago levar o seu caneco, seu prato e sua colher; porque, as vezes passa horas na rua ¢ é preciso tomar algum alimento; en- tao 08 seus problemas ficam resolvidos onde estiver, Durante trés meses, a iad no pode usar vasilha de nenhuma pessoa. Porque ela estando com o kelé, ndo podem haver misturas com coisas de outra pessoa, para que seus preceitos ndo sejam quebrados., ‘Chegando na casa determinada para a bénc&o, os donos da casa rece- bem a ai com todo respeito, como se fosse uma crianca recém-nascida, a retribuigdo da béngao sao as hoas palavras que os mais velhos Ihe enca- minham. F de obrigacdo dar uma cota para a iad, mas a iad no pode pe- gar no dinheiro que Ihe for dado. A mie-pequena, ou ekede, que acompa- nhar a iad, é quem recebe o dinheiro da béncio. Depois do nome ¢ do carrego, a iad entra em um processo chamado Pandn. Nesta cerimonia sio usados os materiais mais perigosos contra a itila, palavra que significa alergia. Adianto aqui alguns dos materiais: ‘aca, garfo, prato comum, ferro de pasear roupa, panela de cozinhar, pas- aador de café, etc. Essa obrigacdo ¢ indispensavel 4 iad; caso nao seja feita com eficiéncia, mais tarde poderd causar grande problema para ela. Durante o tempo em que a iad estiver recolhida, ndo podera pegar ou- tra coisa, somente 08 seus materiais, os ja citados anteriormente, A comida da ia6 é feita separada das comidas e panelas carregadas. A iad: ndo pode comer alho, tomate e outros temperos; a sua comida é sim- plese leve; também nao pode tomar café, porque é muito arriscado a in- vasio de eguns no runké. Quanto mais cates pouco. Pois uma vida é coisa muito preciosa. Quando dia de romaria, o povo da antigitidade cantava estes versos:, Mamite vai ao Bomfim. Vai fazer romaria ra mim. mile vai a0 Bomfim. Vai fazer romaria pra mim. E assim cantavam alegremente! Depois de terminada a série de obriga ges, a iad passa a aguardar os trés meses do seu kelé, que este significa a alianca e a gravata do orixa. 58 Capitulo XIL REGULAMENTOS PARA AIAO Antigamente, aos trés meses, & jad, retirava o kelé e continuava guar- dando os preceitos de usar o branco até passar a obrigayao de um ano. ‘O orixa so podia falar depois dessa obdgare de ano; um novigo nao tem ordem para falar sem que os seus pais facam a obrigaco para abrir a sua fala. i ‘A obrigacao de um ano é feita sempre com comidas secas, no sendo ermitido bicho de quatro patas. , pera obrigagio de Pe ace tote tont hicho de quatro patas. Essa obri- gacdo de trés anos ¢ dirigida ao ajunto do orixa chefe da pessoa. Muitas casas ndo aceitavam a obrigacéo do ajuntd, assim como néo aceitavam a dos caboclos, ihc wes 74 Mas ultimamente estdo sendo obrigadas a aceitar 0 ajunt6 e os cabo- clos, Nestes ultimos anos, as pestoas ja sentiram o drama de que, sem 08 caboelos, nenhum brasileiro pode viver, enquanto alguns dizem que sem Exu ninguém vive, eu digo: sem os caboclos, também ninguem vive. A partir da obrigacao de trés anos, a iad, continua dando as obrigagdes deano so a base de comidas secas, até chegar a obrigacdo de sete anos. ‘A obrigagéo de sete anos é feita unicamente com bicho de quatro patas. Caso contrario o adversario pode -onsiderar-se alheio a realidade, 20 regulamento e A ética do Candomblé baiano. . th © orixd, em juizo, é igual a uma pena. Para melhor explicar: um orixa incorporado é igual a uma crianga; por este motivo € que devemos ter bastante conhecimento, respeito e consciéncia daquilo que fazemos. Por diversas vezes ja ouvi de alguns quererem condenar 0 onixé da pes- soa, por ter o babalorixa permitido fazer obrigacdo errada nos seus-filhos, O orix nao tem nada a ver com o erro, falta de conhecimento e falta de capacidade de quem quer que seja. No caso de falta de competéncia do pai ou mie-de-santo, a pessoa que estiver sendo injusticada deve procurar um meio de afastar o falso mensa- geiro de exercer a fungio de chefe de terreiro. E nao, ficar a condenar os 59 orixds pela falta do imitador ¢ desmoralizador da scita que remonta a an- tigilidade — o Candomblé, Portanto, ja sabemos que o Candomblé tem muito fundamento de tra- digdo, é uma religido que merece respeito, tanto quanto quaisquer outras que venham da antigiiidade, Esta seita ndo ficou eserita em livros, ¢ 0s negros africanos diziam: esta erenga nao pode ser destruida; e ficara reinando até quando existir a hu- manidade. Portanto, vamos respeitar bastante tudo isso que conhecemos, e deixe- mos de lado o que nao conhecemos. Qutra coisa que venho obseryando. Varias yezes tenho me defrontado com pessoas a se queixar da sorte, apds ter feito o santo. Q-que mais impressiona ¢ que na maioria das vezes a casa de Candom- blé é procurada para um socorro espiritual, ¢ o chefe da casa procura ser- vir ao consulente da melhor mancira possivel; seja um ebd, seja um bori Evidentemente, sendo tudo feito com perfeicio ¢ dentro da ética, sentira efeito imediato, o que acontece mesmo aos que ja passaram pela feitura de santo. ‘te Eu creio que nenhum zelador de santo ya se responsabilizar em fazer 0 santo da pessoa dizendo-lhe que ira ficar rico da noite para o dia. O que aprendi a0 correr do tempo, é que uma pessoa faz 0 santo para nao morrer, ¢ nao para ficar rico. O orixa n@o tem nada a ver com a disposi¢do ou a indisposic¢go da pes- a; cada um que procure criar coragem ¢ enfrentar o trabalho, ¢ nfo es perar que o dinheiro caia do céu. Se dentro da vida do santo houvesse um método para fazer a pessoa fi- car rica, o8 zeladores de santo ja estariam milionarios, Se riqueza fosse toda divina, Sao Pedro no teria distribuido a sua pa- ra seguir os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Este ¢ um dos temas para se entender que o Gandomblé é uma religido de grande fundamento e merece muito respeito. Mais uma ver explico: a criatura humana faz o santo para néo morrer € nao para ficar rico. A riqueza se alcanga com luta e trabalho, Quant ao problema de ser babalorixa, lembro que se pai ou mae car- nal nao designam © destino do filho, muito menos pai ou mae-de-santo, O destino é marcado e tragado por Olodumaré. 56 Deus pode tragar os destinos humanos. Nesta parte também encontramos o grande problema do ser ou ndo ser. Agora vamos abordar um ponto que muito tem preocupado o povo que luta para aleangar a verdade. Algumas pessoas dizem que uma filha ou filho-de-santo, depois de sete anos de feito, podem abrir sua easa-fle-santo. Mas nem todas as pessoas tém o dom, vocagio ¢ conhecimento para tanto. Sabemos que, acima de tudo esti o dom; depois, o conhecimento, Nao é a idade de santo da pessoa que faz o fundamento da seita, sim 0 conhe- cimento, o saber é que faz aleancar as altas montanhas. 60 Uma pessoa para abrir uma casa-de-santo precisa conhecer todas as fo- Ihas dog orixas. . . Cada orixd tem, em média, vinte ¢ uma folhas sagradas, Nao se pode dar um amaci a uma cabeca sem que se conhegam as folhas principals do orixd chefe da pessoa. A Sera que todos os pais ou maesde-santo que exercem a funcfo de ba- balorixa de Candomblé conhecem mesmo as vinte e uma folhas de cada orixa? 7 Serd que eles ou elas conhecem mesmo os apetrechos de Exu, de cada oe orind a , Sera que nao existe mais o verdadeiro codidé para usarem nas iads? 61 Capitulo XT REGULAMENTOS DOS ORIXAS O Orixa Ogum é considerado pelo povo de antigamente como o deus das guerras, das demandas, das brigas, das estradas, dos bronzes ¢ dos fer- ros. Ogum ¢ 0 responsavel por todos os despachos que chegam nas encruzi- Thadas; para qualquer Exu que se leve uma oferenda ou despacho, Ogum recebe primeiro, para depois ser entregue ao Exu designado. Ai es- ta um grande fator de que Exu é Hondnade por um orixa superior. Desta forma, Exu so faz 0 que Ogum permite e nao o que ele quer. Ogum recebe o despacho e confere, se ele achar de acordo o que foi edide a Exu, entéo abre a mao para que Exu receba e resolva o que lhe i pedido. Nao da mais para entender que Exu faz o que quer, ¢ sim o que lhe é determinado, Caso ndo houvesse um santo de forca superior para combater os espi- ritos malignos, a humanidade seria destruida da noite para o dia. O povo do Candomblé, desde o passado distante, designava Ogum com os nomes dos santos da igreja catolica; Sao Judas Tadeu, Santo Antonio e Sao Cristovao. Em cerimonia do Candomblé, Ogum ¢ 0 primeiro orixd a ser cumpri- mentado; mas logo apés ter despachado Exu, Ogum posta-se na porteira para guarnecer a entrada, para que a festa corra tranqilila. No Candomble, festa da-se 0 nome de shiré. Ultimamente vem acontecendo grandes dividas em relagdo a certo ‘Ogum, que ¢ mais conhecido como Ogum Xoroké. Pesquisas que fiz, ja ouvi dizer: — eu carrego trés qualidades de Ogum: © primeiro, € Ogum Xoroké. 0 segundo, ¢ Ogum Mario £0 terceiro, é Ogum jé. O importante ¢ a realidade de tudo, ha apenas um 36 Uzum, sendo que no gegé, este Ogum se chama Ogum Xoroké, No ef, chama- se pelo nome de Ogum Mario. No gexa, cle se chama Ogum-ja. No alaketu diz-se Ugum-megegé. 63 E outta qualidade que inventaram, e que ainda nao descobri o signifi- cado e origem do mesmo, por isso ndo posso esclarecer. Nao existe uma 86 qualidade de Ogum. Na Figura 8, a seguir, vemos Ogum em trajes da saghotdo Candanjild’spustlande a ona do third: Kis aqui uma das normas mais usadas para a abertura do Candomblé na nagfo do alaketu. Observem as trés primeiras cantigas e fagam a dedugdo da explicagao que foi dada a respeito de Ogum, I Ogum ajo, € marié. Acoré ajo, é marid. Ogum palepa lonan Ogum ajé € maria. aba kun i-€-ié. 1 Oba shiré Ogum-o; erun jojo. Obé shiré Ogum-6 erun jojé erun gegé. TT Fa Ogum megé-iré, fa Ogum megé. Fa Ogum megé-iré, fa Ogum megé. m pa colé pa lelé pa, ojaré. Ogum pa colé pa lele pas ojare. IV Xa, xd, xd, rd, Ogum4. Ogum xoké balé, XA xa xd Ogum 6, xoké balé. 64 Fig. 8 65 ¥ A im-man, nilé. A im-man, Ogum lana coia. A im-man, nilé A im-man. Ogum land dia. VI Ja péle ja péle ja. Ogum 6 nilé Ja péle ja Geum é vile. Para vitar todos e quaisquer orixds, pode-se cantar esta cantiga na gira de Ogum VIL ‘Oni coso 6 ‘oni coso nilé janbi ajé adaba, ‘Ogum baja apd obé. Outras cantigas na chamada de Ogum, 66 Vill Ogum ja 6. O oman-an amadé, ta-umbele c6 ajo. Oia dakiloda oman. Areré Ogum jd 6. IX Ché ibobo 6, cha Ogum 6. , Maru-o mim sabegé. Osi a laba-rodé, Ogum acoré marié bober. x Marié, godé Ogum 0. Maria, godé, Ogum 6. Emariota mario-l4 emario. XI Ogum cola-x6, emario-la xa Ogum 67 Capitulo XIV ORIXA OXOSSE 0 Orixd Oxogse, como todos jd perceberam, é um orixd considerado 0 deus das cagas. Nao é deus das matas, como dizem. Os antigos contavam que Oxosse era médico, mogo que yivia na cida- de. Depois que perdeu os pais, desesperou-se e resolveu ir viver nas matas; é que ja tinha como seu esporte favorito, a cacada. Depois da passagem dos seus mais velhos, decidiu de uma vez por to- das no mais yoltar para a cidade. Ao chegar nas matas, logo encontrou seus companheiros de sempre. Esses companheiros eram: Ossie, Odemata eOgunlodé. . embro que o deus das matas é 0 Orixd Ossie ¢ nfo Oxosse como muites julgam. Sobre Oxosse, os antigos também contavam que sua vida nas florestas, em companhia de amigos, era feliz. Mas um belo dia ele travou conversa- cdo muito prolongada com Ogunlodé, por volta das seis horas da tarde, Ogunlodé falou para Oxosse: grande amigo, ja estd escurecendo ¢ eu you para casa! Oxosse respondeu: boa-noite e até amanha. Ogunlodé excla- mou: amigo, por que voce ndo aproveita a minha compaahia e vamos jun- Oxosse lhe disse: eu vivo aqui mesmo nas matas! Eu perdi meu pai e saiilig abet ca elsceie atid Lined ¢ en bse plans ne sues fa sozinho no palacete dos meus pais. Ogunlodé, ao ouvir as verdades de Oxosse, curvou @ cabega, saiu cho- rando e triste com o passado de Oxosse. Ogunlodé, ao chegar em casa, Temanjé perguntou: Por que choras tanto, homem, o que esta acontecen- do, fala. Ogunlodé se consolou e passou a contar a sua mde o drama que seu amigo sofria. lemanja, ao ouvir a historia de Oxosse, preocupou-se em conhecer este tal médico que se entregou a soliddo da floresta, e pediu ao filho que no dia seguinte trouxesse seu amigo para conhecé-lo. 69 Assim fez Ogunlodé. Convidou e Oxosse aceitou, Satisfeito, Ogunlodé seguiu com Oxosse para casa. [emanjd recebeu Oxosse com todo carinho e ofereceu-lhe a casa. Oxosse agradeceu a fineza e respondeu: minha se- nhora, eu vivia em um rico palacete, depois que meus pais morreram, ju- tei ao Deus Onipotente que iria viver nas matas, para sempre. Portanto, nas matas eu viverei. Neste meio tempo, Oxum ja tinha se interessado pelo lindo olhar da- quele caboclo. Mas acontece que Oxosse também ja estava atraido pela bela princesa. A partir desse dia, Oxosse passou a visitar constantemente a casa de Temanja. Assim, a princesa Oxum passou a namorar o cabloco Oxosse, mas a8 escondidas de lemanja. $6 mesmo o seu amigo Ogunlodé sabia do namoro dos dois. Passado o tempo, Oxosse resolveu ir a lemanja, para pedir a mao de sua filha em casamento. E assim ele fez. Mas lemanja nio queria aceitar 0 casamento dos dois. Muito exaltada, Ihe disse: minha filha é uma prin- cesa, tem tum tesouro muito poderoso em ouro, brilhantes ¢ outras pedras preciosas. O que tem o senhor para igualar a fortuna da minha filha’ Oxosse respondeu-lhe: em troca, nada tenho! Mas como heranca dos meus pais, eu sou o fazendeiro mais poderoso, tenho todas as aves, ove- Ihas, cabras ¢ todo gado e plantacoes da Terra. Com essa declaracao de Oxosse, lemanja se engrandeceu e com os olhos cheios de agua entregou a mao de Oxum em casamento. A partir dai os dois passaram a se arrumar para as bodas esponsais. Realizado o casamento, um ano depois, Oxum deu a luz a uma crian- ga. Essa crianga, conforme dizem os mais velhos, é o Orixa Logunedé.. Afirmam os antigos que Oxum € original da terra de Efa. Esta nagao de Effi, sabe-se, 0 seu povo nfo vem mais se desenvolvendo, por falta de conhecimento do fundamento da nacao. Depois que Oxosse casou com Oxum, voltou a viver na sua terra, na cidade de Keto. Juntando os seus conhecimentos com o da sua esposa, criaram uma nacao de Candomblé. Nacdo que ficou com o nome de Keto. Este ¢ 0 motivo por que Oxosse € 0 rei do Keto, mais nao é por isso que Oxosse deixa de ser caboclo, conforme vemos na Figura 9. Menciono esse caso para as pessoas que andam em divida quanto a identidade de Sao Jorge como Ogum. Ja foi mencionado que o poyo de antigamente dizia que Oxosse foi um meédico, que deixou a sua profissao para dedicar-se 4 vida da selva, Portanto, ele ndo tem nada a yer com fer- ro, estrada, motores ¢ metais. A arma de fogo que ostenta € apenas por motivos de lhe ser util nas cacadas. Creio que o leitor ndo deixou de observar o que disse anteriormente neste capitulo: que Oxosse é rei de Keto, mas ¢ caboclo puro. ‘Ag esta a prova de que o pessoal da nagao do alaketu nao pode menos- ezar a nacdo de caboclo. Se o rei de uma nacao é caboclo, os eseravos nao podem desprezar a nagao e a origem do seu rei. Neste livro ndo pode- 70 71 mos dar toda definiggo a respeito do santo, porque sé mesmo nas canti- gas de peel € que podemos dar esta prova. Como Oxosse é 0 orixa deus das cacas, nas obrigagSes ndo pode deixar de ter sas cagas preferidas, A came de maior preferéncia de Oxosse ¢ a de yeado eampinetro. COMIDAS SECAS DE OXOSSE Podemos destacar em preferéncia o axoxd. Esta comida ¢ feita de mi-” Iho, o mesmo usado na criacao de galinhas. Depois do milho cozido, cor- la-se um coco em fatias bem fina, Depois enfeita-se o milho com as fatias do coco, colocando-as por cima. Oxosse néo come mel, Temos também uma comida que se oferece a Oxosse que se chama mi- lho de Oxosse; esta comida ¢ feita com feijéo fradinho. Basta botar o fei- jao fradinho de molho, depois de algum tempo, torra-se o feijdo; quando esfriar, oferece-se nos pés do orixd. Também ha um tipo de comida muito cobigada por este orixd; esta co- mida chama-se badofe, Para fazer o badofe de Oxosse, recomendo providenciar todos os miti- dos de boi. Corta-se a moda de ensopadinho, Heals rala-se cebola, méi- se camaro seco ¢ leva-se a panela com azeite de dendé, para refogar 0 tempero. Depois de bem refogado, joga-se os miudos dentro do refogado, deixando ruchiar na base do tempero. Em seguida pinga-se um pouco de agua para cozinhar. Depois de pronto, oferece-se ao orixa. Estas comidas, de preferéncia so oferécidas nas matas ¢ acompanhadas da bebida princi. pal do orixa, que é 0 alud, feito com gengibre relado, acticar ¢ agua con- centrada do milho yermelho. Suas obrigagGes merecem bastante carinho e dedicacdc, principalmen- te na nagao de Keto, Os bichos que o Orixa Oxosse come siio og seguintes: cabrito, galinha- dangola, coelho da india, pombos, lagarto e outras cagas semelhantes. Sempre que se der obrigacao a Oxosse, deve-se dar também ao Orixd Ossie, porque sem este orixa, Oxosse pode se considerar no obrigado as suas cacadas, Ao relatar a historia de Oxoase néo posso deixar de mencionar o Orixa Odé. Este orixa € uma qualidade de Dsome, © 0 poyo da nova geracio vem fazendo a maior confuséo com estes dois orixas. DISTINCOES DOS DOIS ORIXAS Oxosse come cabrito, mas ndo come porco. 0 Orixd Ode come cabrito € come porco. Como se vé, isso € 0 suficiente para se saber que Oxosse é Oxosse & Odé ¢ Ode. Nao se deve confundir um orixd com 0 outro. 72 xosse € caboclo puro, ¢ Ode ¢ orixd eji. Eji quer dizer, orixd duplo. xe fundo, este old é considerado ut Obalusé. Esta confirmagao é declarada pelo povo de antigamente. Quando cito antigamente, falo dos africanos ou filhos ia dos africanos. ‘ i enue A ferramenta de Oxosse, para o assentamento, € um ar r langa, presa na perpendicular ¢ solta do arco, conforme a figura a sey F-1. A ferramenta de Odé é um arco e flecha com as duas cee aniae conforme mostra a figura F-2. Nao posso deixar de ressaltar as definicdes a respeito dos dados sobre Ogunlodé, que também é uma qualidade de orixa jovem, e que tais dados so de pouco conhecimento do povo da nova geracao. Este orixd, estd inclufdo entre todos os orixas noyos e velhos. Sua fer- ramenta € um arco ¢ flecha unidos, acompanhado de sete ferramentas que indicam as suas especialidades. Pelo que dizem os antigos, ¢ filho de Iemanja; o Orixd Odé também é filho da rainha lemanjé. Ogunlodé vive em agua e terra, também ¢ agricultor, como prova a sua ferramenta, figu- ra F-3. Suas comidas sfo as mesmas do Orixd Oxosse. A cor que firma 0 Orixa Oxosse é o azul-claro. As suas contas sdo de louga macica, confor- me a de Ogunlodé. Ja a conta que firma o Orixa Odé é azul-claro, mas do. tipo cristal. As dancas, canticos, toques, ritmos séo iguais; vestimentas, azul e branco. F Podemos denominar os toques usados para o Orixa Oxosse, com as se- jintes normas: Ageré, Gika, Sila ¢« H-Bii_ . . a Agora ee uma série de cantigas dos orixas Oxosse, Ode ¢ Ogunlode. , \ Nao é possivel fazer distingSes nas cantigas de um nua pees © outro. Mesmo que faca o possivel, seria dificil para o leitor entender de uma 6 vez og trés idiomas, Aqui faco o possivel para apresentar as cantigas da melhor forma; possam elas, assim, seem entendidas por todos. Sé0 can- tigas que podem ser cantadas para quaisquer um dos trés orixas: Oxosse, Odé e Ogunlode: 1 Oké, x6 koké Odé. Oké. Xokoké Odé. Oké. Xokoké Ode. Oke. Odé-arolé. 73 74 do-biaué da-bi-aué daba. Tl Olelé colé amorodé. Olelé colé amorodé. Olelé colé amorodé., elé um malé. Agogo miro lé sé miroré, elé um malé. Yroko aré areré agoga. Olu-d ni-waché. VI Ka wera, ka weré Odé. Odé bi, odé, ka were Ka weré, odé bi ka weré Ode. 75 76 VIL Gira de landa gigiri de landa. gigiri Ode Omarid. ‘Tira da landa, giri de landa, Girigiri Odé, Omarié. VI Ara é odé areré oké, awa nin solerd lodo mafa eran. IX Bara é, odé areré oké awa nin s6 dé loko comafa eran. E ard é ode areré, é amorodé chepé yroko é ard-wezd. x E agogo miré, lese miroré elé um male. XI Amorodé lailai, amorodé keajé baté-loko agé issoo amorodé keaja xi Amorodé, lonin. Amorodé, ejaré. XU Amorodé kosilé, aré-olé ko-ifa Amorodé kosilé, aréolé ko-ifa. koia koia koia kéia kosilé ara Olé Gni-ybaco. XIV E oluode lénin. Amorodé ojaré (bis). XV Hobé che, yehé loké moboya ya boid. XVI E mobo ya loko. Dan kinin bo-aché mobo-ya, mobo-ya loké. Dan kinin bé.aché mabo-ya, mobo-ya loké. XVII Ainda-roléeé, aindé-rolé um malé. Ainda-relé pe miror, aindé-rolé um malé. XVII Aderii-geri. Yrin-6, yri-old. Adera-geri. _ ‘Y¥nino-yrin old odé. 7 Capitulo XV ORIXA OBALUAE O Orixa Obaluaé é uma entidade considerada pelos africanos como forca das mais potentes da Terra. Sendo que, a forga total pertence ao seu irmio Omolu, que € 0 mais velho. Por ser tao velho, passou a viver e reinar no fundo do mar, em companhia de lemanjd e sua mae Nand. Desta forma, 0 mando sobre a terra ficou sob o poder do seu irmao Obaluaé. Sao Lazaro é considerado pelos antigos como Omolu. Dentro do legi- timo Candomble, este santo nao pode ser raspado. Nao existe outro mo- do de tratar este santo; queira nao queira o filho desta qualidade de san- to. Este santo é a chave dos abikus, nao se raspa e nem se engambela, co- mo 0¢ mistificadores dizem. Uns afirmam que s6 tem yalor quem € raspa- do. Mas, esta acao nao ¢ honesta, ¢, sim, faltosa, um desrespeito as forcas superiores. Q certo é que, onde um filho de abiku poe as unhas, outros no poem o nariz. Nao ¢ somente Omolu que ¢ abiku. A cabega da pes- soa, o dom, 36 mesmo Deus pode marcar a sina ¢ 0 destino. ‘Ao leitor peco paciéncia por ter de voltar a falar sobre abiku. Trata-se de uma falange de grande forca e vibragao da Terra. Se esta parte da vida do santo nao fosse tao importante, eu no insistiria na adverténcia as pes- soas que vivem sem saber 0 qué ¢ 0 porqué, Insisto porque conheco a ma- teria. A prova disto, é que eu também sou abiku. Assim como eu, ja existi- tam na Bahia de Sado Salvador muitos pais ¢ maes-de-santo que eram abi- kus, ainda existem. Sendo que nada revelam de sua vida particular. E fa- zem muito bem, Quanto a mim, falo abertamente, porque o publico deve ter confianga naqueles que escrevem expondo o que pensam, como também ¢ impor- tante que 0 povo tenha base no que esta lendo, que fundamento tem o excritor para ser tdo claro e franco. 0 povo de antigamente contava uma lenda a respeito do santo Oba- juaé. Ei-la: 79 Obaluaé ¢ filho de Nand, ¢ cle néo parava um 6 momento dentro de casa. As coisas iam acontecendo com a familia e ele nao tomava conheci- mento. Um belo dia, aproximou-se de sua casa e viu um grande reboli¢o, mas ndo ligou para a novidade. Tudo que no. momento ocorria era o fale- cimento de sua mée. Ele jé havia notado, mas no deu a entender ao povo © que sentia dentro de si, Enquanto nenhuma pessoa a ele se dirigiu, esta- va tudo muito bem, mas, de repente, surgiu um dos seus vizinhos e Ihe disse: Obaluaé, sua mie morreu! E ele, com os olhos cheios de lagrimas, respondeu: Bé 16 leré mé ld, ya-fibd. Bé |6 ler ma 16, ya-fibs. Esta cantiga é beep para despachar os carregos mais fortes e mais Perigosos do Candomble; por isso, «6 deve cantar Candomblé quem sabe. E quem nao sabe nao deve se meter a cantar. Assim como esta cantiga, existem outras, que arriscam a vida alheia. Esta cantiga quer dizer o seguinte: Se ela morreu, que va para o espaco; quem morreu que se dane”. Assim despachou o espirito de sua mie para o espaco. . Em seguida, Obaluaé saiu triste ¢ se vestin de vermelho, preto ¢ bran- co. Este foi o luto que ele usou para a sua mie. Este € o motivo por que as cores que firmam o Orixa Obaluaé (as con- tas) so o vermelho, o preto eo branco. Suas roupas nfo podem ser de seda ¢ nem brilhosas. A sua forca esta no algodao e, de preferéncia, a cor branca, Diziam 08 oes que Obaluaé, como todos os santos de loké, deve vestir-se todo de branco, mas 0 povo da nova geracdo est cortando as forcas divinas com uma imaginagdo que nao da para entender. Se o adversirio ndo sabe 0 certo, entaéo procure aprender. E nao pro- cure destruir um ritual que tem fundamentos regulamentados desde anti- gamente. Por isso ¢ que tanto cu como o poyo que somos candomblecis- tas verdadciros, fiéis ¢ reais, protestamos diante das falsificagSes que vém surgindo dia a dia. COMIDAS DE OBALUAE E OMOLU Em primeiro lugar citarei o buburi ou pipocas, que é a sua comida constante, No é aconselhével fazer as flores do velho, com azeite de den- dé. Para isso ¢ necessario que se conheca a qualidade do santo para ver se ele pega o azeite de dendé ou nao. Caso um Obaluaé de um filho nao pe- gue o azeite de dendé ¢ os seus zeladores lhe serve com o dendé, esse fi- 80 lho nao podera ter éxito total nas suas obrigaces. Este também é um dos problemas principais do orixa em relagao a vida humana. A seguir, vem o agidi. Esta comida, é feita com milho vermelho, assim: deixase o milho de molho ate que fique bastante mole. Depois, rala-se 0 milho até que fique bem fininho. Rala-se rapadura, junta-se ao milho e leva-se ao fogo. Depois de cozida a canja do milho, logo em seguida, enro- lam-se 08 henner em folha de bananeira seca e amarram-se com a embira do tronco da mesma bananeira. Sendo que existe um fundamento no en- rolar o8 agidis; é aconselhavel a pessoa que for fazer esta comida pela pri- meira yez, ter alguém ao lado, mas que conhega de verdade como enrolar os agidis. Caso seja enrolado fora da regra, o orixa nao recebe, ¢ sim 03 seus escravos € eguns, que séo os felizardos. Sendo assim, o filho ou filha- de-santo ndo terao éxitos nas oferendas que derem para © seu orixa. Existem varios tipos de comidas que pertencem a Obaluaé e Omolu. BICHOS QUE PODEM SER SERVIDOS A OBALUAE E OMOLU Estes dois orixas sdo irmaos, por este motivo as suas caracteristicas sao idénticas. Modos, costumes, tratos, etc, Na nagdo de keto, tanto Obaluaé como Omolu comem cabrito, jaboti, porco, frangos novos, pombo, galinha d’angola, galinha caipira e patos. Em suas obrigagdes, quando tem matanca, nao se pode deixar de ofe- recer o obi eo orobo. Estes santos. 36 comem quando o sol esta alto. Isto quer dizer, Oba- Iuaé e Omolu: so aceitam as suas matancas depois das nove horas; caso se dé comida a eles fora do horirio das nove, ate as trés horas da tarde, eles nao poderiio receber com toda a sua vibragao-chave. Sé no caso de um re- colhimento de iad, é que eles recebem a qualquer hora. Isto quer dizer: para a iad, ndo tem hora, porque durante todo o tempo os orixds esto dentro do runké. Isto é, quando existe axé de verdade. Entraremos na parte de cantigas e ética regulamentar, do rum de Oba- luaé e Omolu. Ultimamente, observa-se muita aberragdo de varios ogans que vém cantando de modo errado o Candomblé. Este cantar errado ¢ sobre colo- cages das cantigas em sua legitima ética. Por exemplo: Obaluaé, tem uma aoe que sd pode ser cantada na hora exata. Eo desprevinido canta fora de hora; entdo a essa altura o rum do orixd ja passa a estar quebrado. Assim sendo, o orixa fica de castigo na casa do santo. Sabemos que ser é totalmente diferente do querer ser. Can- tar as cantigas do Candomblé, qualquer pessoa pode. Mas o cantar é total- mente diferente do saber cantar. Nesta cantiga temos um exemplo: ‘Araé, babs, ajd coba bena 6. Aja coba bena 6 ajd coba ben. ‘i-é baba, aja coba bena 6. Ultimamente 0 povo que canta o Candombleé de sala, esta cantando es- ta cantiga como se fosse uma cantiga comum, para ser cantada de qual- quer maneira, mas os que assim fazem estao-muito enganados. 0 povo de antigamente dizia que esta cantiga ¢ usada sobre uma influ- éncia entre o Orixa Xangé ¢ o Orixa Obaluaé. Disseram-me os meus antigos que o Orixa Xang® era um rei de grande poder na Terra. Um belo dia Xango precisou fazer uma viagem. © seu tro- no de rei ficou em fé. Mas Obaluaé ao saber que Xango tinha viajado, par- tiu para o palicio de Xango e assentou-se no trono que tanto cobicava. Quando Xango voltou da viagem, jé encontrou o seu trono ocupado. A partir desse momento, os dois travaram fortes discussdes, Xangé revol- tou-se eas coisas ficaram pretas. Entao Obaluaé ficou devendo uma mul- ta ao rei, multa essa que nao havia fiancas. Oxum ao saber das ocorrén- cias, partiu ao encontro de Obaluaé, em nome de Nana, que Xango tanto amava: Oxum, nos maiores apertos, criava logo uma defesa para a pessoa. Ent&o ficou acertado Obaluaé dar uma comida para Xango, a titulo a multa. Esta cerimonia é exigida por Xango a todos os filhos de Oba- uae. COMO SE FAZ A CERIMONIA ‘A ceriménia é feita em ptblico. Para esta obrigacdo, corta-se no minimo 12 quilos de quiabo, exato como a contagem-chave do Orixd Xangd. Este amali ¢ feito com rabo de boi. O rabo de boi, no amala de Xango, corresponde a pedido de clemén- cia. Na hora do Candombleé, o pai ou mao-de-santo da casa, depois de can- tar no minimo trés cantigas para cada santo, vira a filha mais yelha da ca- sa, mas ae seja de ate, Logo a seguir, vira a filha mais velha que seja filha de Xango. Quando todos, Xango e Obaluaé esto em terra, a mie ou pai-de-santo recolhe todos para dentro e veste as roupas de gala tradicio- nal. Toca-se uma avaninha para Xangé sair; ao chegar no barracio, senta- se no trono ¢ aguarda a chegada de Obaluaé, para pagar a sua multa. Nes- te momento ¢ que se canta a cantiga “ajé coba bena 0.” 82 Nesse momento, Obaluaé vem com a gamela do amala ¢ em pleno pti- blico entrega a gamela a Kango. Dai entdo é que se toca o alujé para Xan- A primeira cantiga nao ¢ um toque de aluja. Est errado quem canta como aluja. 0 toque usado por lei para essa cantiga é em ritmo lento. Creio que essa explicagdo é suficiente para se saber que cantar Candom- blé ndo ¢ para quem quer, mas para quem sabe. : Aos irmdos que carregam a mesma cruz pesada, conforme também eu carrego, nfo deixem quebrar 0 axé de sua casa e nem deixem dar rum quebrado aos santos de suas casas, porque os santos ficam de pé na casa e vai complicando a vida do zelador e também a dos seus filhos ¢ adeptos. Muito cuidado com a guerra entre Obaluaé e Xang6. Quando derem comida a Obaluaé nfo deixem de dar comida a Xangé, assim sua casa ¢ seu axé estardo resguardados, Ja era para ser combatida essa mistificag&o com o nome de Candombleé. Bis as cantigas de Obaluaé ¢ Omolu: I 646 le le, ea ké axaord. Ago.le le lé, dagé-lana ké axaord, I E lobé-6, exod. Omolu ofé in sudan. E lobé-4, ezod, Omolu ofé in sudan. Tl Jo pé pé, é dolu-a etori fee Jo pe pe, é dolu-d baba tori bomim, IV A yaninha, moluja. A yaninha, bérir 6. v A vaninha ber Omotlu salejua. A vaninha beruja, Only idetun VI ho Bara loka. Bara loké pajué. Bara loké pajué. Bara loko pajué, tun tun, é pajué lok. (his) vol Ago ingena. Akal6 ingena. Eéé ingena, ingena eu-d ago ingena, akalo, ee ara-é be-ingena akald, sapata ara é he-ingena 4 akalé @ €6 ingena. Vill O ingena ban anban osi € kob: S O ingena ban anban osi-é koboalé 6. IX Olorigena awa pa-adé E lori pa. Olorigena apa adé é loripa<. Neste ponto estaremos na parte do rum de ambos 0s orixas. x ,j6 madobé. jo madobe, vodun jé madobé. XI E vodun md ioké, xaxd-ra-zin mado ié, é yodun mai Naxa-ré-2an m ié. Nesta cantiga 0 santo é obrigado a ir dangando até chegar 0 corpo to- do no chao, se cocando, se cocando deita-se, aguardando que os canta- dores embalem a cantiga propria de Obaluaé que, se levanta do rum. Em nenhuma hipdtese pode-se cantar outra cantiga, a ndo ser esta: XI Agae apara apara, Aéaeé apara para. Neste momento, o santo vai se suspendendo do chao, aos poucos. No mesmo sentido sai pulando, para que complete o seu rum, Dai por dian- te o couro dos atabaques passa a repicar intensamente, isso no ritual gegé. Mas, no momento, tratamos do keto. Apesar de Obaluaé e Omolu, serem gegés. Facamos uma pausa, 85 Capitulo XVI ORIXA OSSAE 0 Orixa Ossie é entidade superior, considerado o deus das matas. Este orixa € 0 verdadeiro companheiro do Orixa Oxosse. Ja falei an- teriormente a respeito da vida de Oxosse, assim jé deu para o leitor en- tender que ele era um eacador. Mas para ele ter todo o tempo livre para cagar, the foi dado isso pelo deus das matas, Ossde, ra, tudo porque se o Orixa Ossde no aceitasse a amizade da pessoa, fazia com jue © adversdrio se perdesse de uma tal maneira, que ficava em tempo le enlouquecer. S 5 = tuando os pais de Oxosse fizeram a m, ele ja era ami do ic xd Ose, Nas primeiras vezes que bs i a een ficou perdido dia e noite, Ao yoltar a sua ri fondo que era o Caipora que fazia com que as pessoas se perdessem. Cada vex que Ossie apitasse perto do nite da pessoa, ele estava longe. E quando Ossie apitasse longe dos ouvidos, ele estaria hem perto. E para que Os- sie ficasse amigo das pessoas, era necessario, que quando as pessoas fos- sem as eausier qualquer finalidade,deveriam levar fumo, mel, cacha- ¢a ou vinho. Ao entrar no mato, a pessoa chamava Ossée e pedia para que lhe fizesse companhia. [ Assim fez o Orixa Oxosse, entdo Osse passou a fazer companhia permanente a Oxosse. Este também é um exemplo para as pessoas que tém casa de Candomble aberta. Portanto, no se deve ir ao mato para apanhar folhas sem que se leve fumo, mel, cachaca ou vinho para o Ori- xa Ossie, Assim procedendo, cle mostrara as folhas que forem necessé- rias. Mas i que as folhas cheguem ao poder da pessoa, é necessario que se conhega as folhas; ndo ¢ 0 orixa que vai mostré-las. Esta qualidade de orixa ¢ uma coisa muito rara. Pela parte do funda- mento da crenga, uma casa de Candomble nao pode raspar mais de um ‘Ossie. Pode se ter mais. de um na casa, mas 36 um pode ser raspado. Caso uma casa ja tenha um O3sde raspado e depois apareca outra pes- ‘oa da mesma qualidade, nao se deve raspar. Agora, caso 05 donos da 87 casa se atrevam a raspar, esta criando um sério problema para sic para as duas pessoas que so do mesmo santo. No caso de uma casa ja ter um Ossae raspado e chegar outro, que deve fazer o zelador para cuidar do santo da pessoa recém-chegada? Neste caso, 0 pai ou mae-de-santo devem recolher a pessoa ou runkd e tratar do Ossde, obrigatério nas aguas de abiku. Quer dizer, fazem-se todas as obrigagSes, mas sem raspar, Para fazer esta obrigacdo nas aguas de abiku, requer muito cuidado ¢ bastante conhecimentos. Pergunta 0 leitor; no caso de uma casa ja ter um Ossae raspado e ras- par outro a seguir, o que acontecera? . 0 hy corre, neste caso, ¢ o seguinte: 86 existe um trono para um rei, sabe-se que um rei 6 substitui outro quando o atual morre. Entao jé deu para entender que para o segundo Ossie ser raspado, o primeiro tem que morrer. Tambem o pai ou mae-de-santo que fizer tal coisa, esta mais certo para morrer do que a {ilho que estiver sendo injusticado, De vez em quando, ocorrem fatos como estes, Eu estou advertindo bem claro, para que os pais e mieede-santo atuais tenham bastante cuidado com estes casos de abikus, porque o perigo nao serd para os filhos, pois é mais perigoso para os pais. O Orixa Ossie é conhecido como Caipora ou Sacy-Pereré. Mas 0 san- to que corresponde a esta qualidade de orixa nado é nada mais nada menos que Santo Onofre, este ¢ um dos motivos por que muitas pes- soas usam botar este santo dentro da cachaca para que ele dé dinheiro a essoa. Este 6 0 ato mais triste para um sobrevivente fazer. Eu aconse- the as pessoas que assim ji procederam, nao repetir tal facanha, Tudo e por tudo prejudicial 4 sua propria vida. Este santo é o mais poderoso de toda a medicina; ele é quem nos da as folhas, as raizes € mais coisas que ndio podemos imaginar. COMIDAS DO ORIXA OSSAE 0 Orixd Osede come cabrito, galinha-caipira, pombo, galos, galinha d'angola, passaros e¢ todas as cacas possiveis. Em seus assentamentos nun- ca se deve deixar de ter em cima o fumo e o mel. Também nao pode deixar de ter o vinho a seus pés. Ossie também come axox6, peté de hatata doce, pipocas com dendé e mel. Come a caga, olobé, etc. Eis aqui algumas cantigas do Orixa Ossie: Ahé maré ahé maré: Adaba ki sudan, aha maré Ahé maré adaba kisudan é. by Kiti po olerica adabé ki sudan, kiti po oleried adaba ki sudin 6. I Ahé ahé, toro+6 toro-ré, cha-in. Ahé ahé toro-ro toro-ré cha-in. Iv Bom bom gé-min ahé mird, Aé,aé Bom bom gé-mim ahé miré a é ahé. v Fara mim zain zn no belo. Fara mim zin zan no belo. vi Ka mim 2an zan ahé mir Ka mim zan 2in ahé miro a € ahé. VIE Pelegun ala-6 tun tun 6 6, pelegun ala-o tun tun adama dama awa mé-6 bebé, é. Pelegun ala-o'tun tun vir Eé abé, bé abebé niboa ahebé nibo. FE éabebé, abebé abebé nibo. IX Ata c6 oju eu-eu. E ata c6 oju ya bokun. Ata c6 oju eu-eu E até c6 oju ya ata c6 oju eu-en, A-weré kutu _ Ossie, aweré kutu loni-6. A-weré kutu Ossae. aweré kutu loni-é. XIL Eu eu, eu eu, Abé ycosun adaba. Eu eu, eu eu. Aba ycosun adaba. XI Ahé méin palaxtt aha méin palaxa ahé méin palaxa, XIV A ij, ijo yroko. Aijo jo yroko a ifo baba yroka. Contava 0 povo de antigamente que este orixa, pelas suas credenciais, é filho de Nana. Pelo laco de familia, ele é nada mais nada menos um Obaluaé. © leitor deve ter observado os itens referentes a este orixa. Indepen- dente do Orixa Oxosse, ele tem como companheiro de hipnotismo 0 Orixa Oxum-maré; este Orixa apresenta-se ao lado de Oss4e, transmuda- do em serpente. Esta companhia é permanente, e ¢ mais uma prova de que tanto Obaluaé, Omolu e Oxum-maré sfo irmfos de Ossie. 91 Capitulo XVI ORIXA XANGO © Orixa Xango é uma entidade que tem superioridade extraordina- tia. Este orixa é considerado pelos africanos como 0 rei das trés coroaa. Sendo ele dono de todos os vinténs, quer dizer, todo dinheiro, sua ri- que era to alta que dava para comprar todo o mundo. Também era o rei que reservava a maior quantidade de ouro. Considerado o patrono da justica divina, preside o tribunal composto de varios orixas que jul- im os criminosos; ndo posso deixar de mencionar que os espirito tam- ém cometem crimes ¢ sto julgados por um Tribunal Superior. Estes so os motives por que todas as pessoas esto sempre devendo ao Orixd Xango. Muitas pessoas poderdo estranhar, ao consultar um olhador, e duran- te a sua consulta sair dividas ao Orixé Xangé. Mas isto é possivel de acontecer varias vezes; este santo come todos os dias, Assim como Xan- g6, 0S exus € OguNs Comem sempre. Eis os motivos por que estes tipos de entidades esttio sempre comen- do: Exu é.a entidade do mal, sempre é necessdrio que se de algumas ofe- rendas a ele, para que nao. iareliie as nossas agdes, Ogum é o orixé que mais domina Exu, Para ele dominar todos os ma- les causados pelo espirito do mal, é necessario que se dé algo para que ele possa combater as faganhas de Exu. Ao mesmo tempo dou fé de que Ogum é 0 orixa que da a maior cohertura aos aos pois sabemos ue quem combate os errados so os policiais. Ai esta a prova de que im é 0 orixd-chave da lei, e Xangé é a justica. Sendo que Oxalaéo juiz de pat. leitor ha de estranhar porque fago comentarios a respeito de Exu e Ogum dentro da legenda de Xango. Mas este ¢ o problema mais funda- mental do Candomble. ‘Os trés so os que fazem crescer mais um pouco as legendas dos orixas. Xango, por ser rei e pai dos orixas mais chegados a Terra. Ogum que € servo do rei, Este é responsavel por todas as vigias das guardas dos palacios. ~ LENDA ENTRE XANGO, OGUME OBA Contavam-me os meus mais velhos uma lenda assim: Oba era esposa de Ogum, mas Oba adorava Xangé e tiravam sempre umas linhas (flerta- yam). Ogum era muito cismado e ciumento, quando ele saia, deixava 0 seu Exu tomando conta da esposa Oba. Um belo dia, Ogum saiu a cavalo, entdo deixou o seu Exu tomando conta de Obi, como sempre. Neste exato momento, Xang6 passava na porta de Ogum, mas Obé ao se aproximar logo chamou angé, e ele se aproximou e perguntou: — Ogum esta em casa’ ‘Oba respondeu: — Ele saiu faz tempo, mas nao volta agora. Xangé entrou e sentou-se na sala de espera. Neste momento, Oba muito feiticeira, astuciou logo uma magica pa- rase livrar da vigia de Exu que Ogum deixara a proposito. Ela ps um vintém, jogou dentro de uma garrafa e mandou Exu apanhar. Oras Exu curvou-se sobre a boca da garrafa para apanhar o vintém, Oba acabou de empurrar Exu para dentro do vidro e logo tam- pou-o, deixando Exu preso, para ela ficar um pouco mais 4 vontade com Xangé. Dentro de poucos minutos, Oba escutou os tropéis do cavalo de Ogum. Assustada, imaginou outro golpe de magica, transformou Xango numa pedra negra para se livrar do flagrante. Ogum chegou logo e foi intando por Exu. ba respondeu-lhe: — Exu foi fazer um mandado meu. Neste momento, entraram em forte discussdo. Com isso, Ogum apro- ximou-se da garrafa, pegou-a e atirou sobre a dita pedra. indo a garrafa se espatifou contra a pedra, apareceu Exu e Xango. Quer diver, todo 0 feitigo de Oba foi por agua abaixo. Entdo Ogum sa. cou de seu facto e langou-o na direcdo de Oba, cortandolhe uma das orelhas. E disse-Ihe: — Vocé me traiu uma vez, outra nfo me traira. Neste momento, Obé saiu porta afora. 0 povo gritou: — Oba! Volte, volte, os seus filhos precisam de vocé. Ela ndo parou de correr, e respondeu: — Este homem esta louco, quer me matar, os filhos outros os criaréo mas a minha vida ninguém ae Eu tenho amor aos meus filhos, mas tenho mais a minha vida, Diziam os meus antigos que a cantiga correspondente a esta lenda é cantada assim: Obé Oba beruja Oba Oba beruja Obi Oba heruja Ogum. Oba Obé beruja Oba Oba beruja Xango. Esta cantiga se danga mostrando a palma e as costas da mio direita, simbolicamente representando uma acdo de falsidade. Com a outra mio, tapa-se a orelha esquerda, esse gesto indica que esta foi-a cortada por Ogum. Tal qualidade de Iansé ¢ chamada de oba-kutu. Quer dizer, Tans no tem uma das orelhas. Contavam os antigos que a resposta da primeira cantiga era estaci- Oba sa-rewa oré mum gegé, kutu kutu é um herecé, Oba sarewa, O toque no ¢ o aluja, este toque ¢ meio lento, porque é um toque de sentimento, e ndo deve expressar alegria. Portanto, quando se canta esta cantiga, Xang6 estando na Terra, chora, porque recorda do golpe passado. Depois que Oba abandonou seus filhos, que eram os ibéjes, entio Ogum entregou as criangas para Oxum acabar de criar, IBEJES Os ibéjes sao filhos de Xangé com Tans&, de Xangé com Temanjé, os quais foram criados por Oxum, Dentro do Candomblé, no dia da festa de ihéje nao se pode cantar ara despachar Exu, porque na contagem dos trés, Cosme, Damiao e joum, tem um que ficou pagio, Este pagdo é considerado o Exu dos ibéjes e ndo se pode desprezar a crianca. Seus dois irmios ndo o largam um 86 momento. Gant no dia do caruru dos ibéjes, na hora de come- car o Candomblé, cantam-se trés ou sete cantigas para Xango, que é pai dos ibéjes; cantam-se trés ou sete cantigas para lansd, que é mae dos ibé- jes; cantam-se trés ou sete cantigas para lemanja, que é mae dos ihéjes; aunts trés ou sete cantigas para Oxum, que é a mie de criaglo dos ibéjes. Est4 errado quem canta para despachar Exu no dia do caruru dos erés. Neste dia, pode-se fazer matanga para os exus da casa do Candom- blé, mas nao se despacha e nem se canta para Exu, 95 No caso de 0 dono da casa do Candomblé de ibejada despachar Exu estaré cometendo crime imperdoavel diante dos santos. Também noss« pai Oxald nao perdoara o responsivel por tal ato. Penso que ja deu para entender que Exu é inferior as criangas. Este € um'dos motivos por que 0 povo diz que o deménio ndo gosta de criangas, claro, e tem um grande motivo para isso. Depois de cumprida esta ética, pode-se continuar o Candomblé nor- malmente, que nao havera nenhum problema. Reafirmo aos irmaos leitores, que no dia do caruru de ihéje, antes de comecar o Candomblé, deve-se arrumar um prato completo das co- midas e mandar levar a um matinho, para as criancas pagas. COMIDAS E COSTUMES DO ORIXA XANGO Ultimamente 0 povo da nova geracio vem fazendo a maior confusio com Xang6. Sabe-se que nfo existe somente uma qualidade de Xango. Vejamos: Xangé de ouro come cameiro. Este Xang, dito pelo povo de antigamente, é tido como Sado Jodo Menino; mas somente na nacido de alaketo é que se sacrifica carneiro para este Xango. Quando uma casa de Candomblé tiver de fazer matanga de carneiro, nado deve deixar pessoas de outra Fralliade de Xangé no recinto. Nao deixo de esclarecer que dentro do Candomblé so este santo e certa qua- lidade de Temanjé podem comer carneiro; Oxum-maré também come carne desse animal. Para os demais orixas, o sacrificio do carneiro é considerado o fim da vida das pessoas. Portanto, nfio matem carneiro, a nfo ser para os santos mencionados. Adianto que nao se deve, sob qualquer pretexto, matar carneiro na nagHo de Angola e na de Gegé; nestas ¢ proibido até se falar no nome do animal. Falar em carneiro € como se fora falar em yeneno nestas duas nacoes, Nao matem carneiro, mesmo para os orixés citados, porque para este animal, a obrigaeao requer muito conhecimento e cuidado por causa de outros orixas, com especialidade Iansa e Oxala. Se A comida constante de todos os Xangés é o amald. Existem trés mo- dos de se fazer o amala para Xangé. O amala de rabada de boi é usado quate a pessoa precisa pedir misericordia a Xangé. O amala de carne le peite do boi é usado para falta de dinheiro ou para ato de justiga. F. tem 0 que é feito com bagre. Este amala, que é feito com o peixe co- nhecido como mulato-velho (bagre) s6 se oferece nos pes do santo, As pessoas feitas ndo podem comer esta comida, por causa do bagre, Xango também come acarajé, oloho, bolas de arroz,e ecuru. ANIMAIS E FIRMAS Xango come cabrito, jaboti, pombos, galinha-d/angolae frangos. As cores que firmam o Orixa Xango sfo o marron e branco ou ver- melho ¢ branco. Para vestir Xangé, o povo de antigamente aconselhava usar roupas brancas; diziam que santo de loké 36 se deve vestir de branco, Diziam também para nJo usar-se muito azeite de dendé em cima do santo, para o benrestar da pessoa. DEFINICOES DE ALGUNS XANGOS Lenda antiga diz que Xango Aganju é uma qualidade de Xango selva- gem. Para que as pessoas possam ampliar seus conhecimentos, afirmo jue Sao Jodo Batista ¢ o santo correspondente a este orixd, sendo que o Woo Menino, representa o Xango de Ouro, e Sdo Jodo Velho diz-se Xango Agen. ste orixa, Xangé Aganju, diziam os antigos, ¢ totalmente selvagem, e sua terra de origem € Angola. Sabe-se que a Angola branca, como o cagange, é de caboclo. Desde que o orixa € caboclo, evidentemente ele é nada mais que um selyagem. Xang6 Aird, tem sua representacdo em Sao Pedro; este Xangé tam- hém nao veste roupa diferente do branco, e sabe-se que ele foi e conti- nua sendo companhia predileta de Oxala. Este € mais um dos motivos por que este Xangé nfo come carneiro, as pessoas que sio de Xangé nao peed ficar perto do carneiro, O moti- vo é que este animal é a maior quizila para o nosso pai Oxala. Também a quizila é o motivo por que Xangé Aira nado come azeite de dendé. Es- td totalmente errada a pessoa que vestir este Xango com roupas de cores e usar azeite de dendé para o santo, Esta errada a pessoa que fizer ma- tangas de bichos de cores para este Xango. Xango Baru, este é um caso dos mais sérios entre todos os Xangés. Falavam os antigos que este santo ¢ um tipo de Orixa-Tempo. Também diziam que ele nao pede conyiver dentro de casa; e ndo havendo outro recurso para manté-lo fora, entao a casa de Candomblé nao aceitava a ia6, porque este santo ¢ o verdadeiro fogo-vivo. Néo come dendé nem bi- chos de cores, ¢ 86 veste roupa branca. A lenda conta que quando este Xangé chegava 4 Terra, ao soar dos atabaques, e se ele estivesse aborrecido, deixava 0 filho arriado no chao ¢ se desligava do corpo do medium. Assim acontecendo, de repente sur- gia uma bola de fogo rodeando todo o barracio ¢ todos ficavam tremen- do de medo, porque, se por acaso ele tocasse em qualquer coisa, na mes- ma hora incendiava o local, e se caso a bala de fogo tocasse em qualquer pessoa, seria fulminada. 97 Agora vejam a diferenca das for¢as antigas para as de hoje. Entao, pergunta 9 leitor: — Se este santo é 0 fogo-vivo, como nao queima o médium dele? A resposta ¢ esta: apesar de estarem querendo forjar uma religido imitando grosseiramente o Candomblé, nada adianta; os africanos sa- biam o gue e como fazer. S6 com a brincadeira, para este Xangé cor- riam 21 folhas e mais algumas torturas. BABA-Y ROKO OU PO I Aira da keke hi chorou. Olua-mim maim4n selé Orixa emim cé-heya aird ird, aird 4-€ a E aira monilé. Este orixa-baba-yroko esta incluido na historia dos Xangés por moti- ind ira vo de ser uma forca maior, isto ¢, um grau a menos que Oxald. € monilé, aira monilé Ultimamente 0 povo esta enganado com este orixd. Kate exibe uma aird ird. série de macetes, que niio é para quem tem pouco conhecimento. E monilé aira monilé. Considera-se este orixd como um Xangé, como um Omolu ou como um Oxala. Ele é 0 verdadeiro Tempo. S6 come tudo branco e 86 veste a It cor branca. Sua firmagio requer muito conhecimento e forea espiritual. Nao ha Aird’6,,6 lela: outra forma para se cuidar deste santo, a nfo elena sem que seja aira G, 6 lelé, raspado. Yroko é o pai da Terra, portanto, nao ha nenhuma superioridade pa- ra ser pai dele. aira 6, 6 lelé, aira 6, 6 lelé. Para melhor entendimento das pessoas que so raspadas, e aos ndo WV raspados, darei um exemplo para que facam as suas deducdes. t Todos viemos da terra e um dia a terra regressaremos. Aird 6 regedé pa. ‘Comemos ¢ bebemos, mas tudo isso vem da terra. Nota-se que quan- EF winbure do uma pessoa do santo est em aflicao, imediatamente deita-se no chao Aira 6 regedé pa. e bate a cabeea. Esta agdo de bater a cabeca no chao tem o sentido de Samburajo. pedir misericérdia ao santo, que é o verdadeiro possuidor da vida. Este Aird & regedé pa santo nfo pede nada a ninguém. Ele é 0 verdadeiro pai, representava a Aja osy. providéncia divina. Porque de tudo que precisamos para viver, a terra NESS raged pe nos dé. Assim sendo, acho que os antigos estavam certos ao devotarem todo o respeito a essa entidate. Vv Creio que ja é tempo de acabar de vez com essa onda de mistifica- bes; é bom respeitar os orixds’e ndo violar a ética da antigiiidade. Aish ik Este orixa é santo, dono da zero hora, das seis horas e do meio-dia. ‘Aira loko. Quando o povo da antigilidade falava no nome deste orixa, imediata- pee aiassencs mente batia com a cabeca no chao; por que o povo de hoje em dia fala eh tea: - no nome deste santo em tom de gracola? Aira lek, Eis algumas cantigas de Yroko e Xango: Raniah cates? Aird ira. ‘0 povo antigo, quando apresentava o amald para Xango, cantava esta cantiga? i vi Mala mala mala do bi Mala do bi-i. Mala mala, mala do. Mala d6 bi-i. Creio que quando os antigos cantavam esta cantiga, na lingua portu- guesa, sabiam o qué é por qué cantavam assim para Xango. Portanto, nao hd outra cantiga para substituir esta, Ja expliquei na lenda de Ohaluaé que a cantiga aja-coba-bena-6 é um fundamento de Obaluaé para Xango. Portanto, nao se deve cantar para servir o amald a Xango. Esta totalmente errado quem assim o fizer. OUTRAS CANTIG AS DE XANGO vu ‘Oba nisé lero ke-odd-6 oberioman, oba ni-s6 lero ke-odé oba-tote ard. Vil A.nin indn, a-inan a-indn bé-kosun. A-indn, a-indn a-inan in a-indn inn ba-kosun, a-indn inan indn, Olokosun ara. . . a-inan indn obé-kosun ard-é. A-indn indn obé-kosun ard. IX Olokosun acoroba, elo-se ba-yamim oyd fanjalo sibé loké hayamim. 100, air lo sibayemin. E osy é da-baira gale abe Apés esta cantiga pode-se passar para a primeira cantiga de ATRA, as- sim sendo, ficara um cordao hicido e completo. XI E morimonié, baba. Ta-bard kiloxé ka-0.. E mori-mori-é baba té-baba kiloxd Xango. Esta cantiga, o toque ¢ H-by. XI Ard-é-pa hiola ra é é, Aré-é-pa biola ra é é. Esta cantiga, o toque é aluja. XI Tokula manjaré ar-é. Tokuld manjaré ard-é. XIV Bara-in, kibara-in kiba, Yba ezou. Bara-in, kibara-in kibara-in kiba Yba ezou. — Esta cantiga, o toque é meio aluja. 101 XV No inicio do capitulo falei a respeito de Obé, seria injusto deixar de lado algumas cantigas desta santa, Obi elecd, aja-osy. Obé elecd, ajd-osy. corogun-oba, jatoba Oba elecd, ajé-osy. XVI ‘Tri were ofa-eré tri were ofa-erewé. Tri weré, ofa were, ‘Tri weré, ofa werd. XVI Elu ojé parama-é, elu oja pa odé. E elu oja la-xé. Beluoja lk-axe. XVII Erun ops, erun op6 bena-d. Erun op, erun opo benae. Erun ope, XTX A Ogum dodé ta bi eho. Ogum ta hi ebo. A Ogum dodé ta bi ch. Ogam ta bi ebd. Creio que, com estas cantigas, deu para entender que existe grande in- fluéncia entre Xang6, Ogum e Oba. Vejam o que escrevi no inteio deste capitulo. 102 Capitulo XVIII OXALA BABA Oxala, como todos sabem, ¢ 0 Deus todo poderoso. Pai da Terra e do Além. Oxala atribuiu a ins de seus filhos, a condicao de ministro po- deroso com atribuicao definida. Exu ficou com o poder do mal ¢ da destruigao; cada um dos orixas, tirou um Exu para que Ihe servisse de escravo. Ogum the foram entregues os ferros, as estradas, as demandas ¢ as guerras, Tbéje ou Eré foi santificado como desembaragador das coisas mais di- ficeis; sendo 0 mensageiro principal das ordens de Oxala, para todos os orixas, A Oxosse coube reinar sobre todas as cacas, por mais ferozes que fossem. A Ossie deu o poder de ser o deus das matas, Sendo assim, este ori- x, nayverdade, é quem domina uma grande parte dos destinos humans. Caso mostre ao paciente as folhas da satde, este sobrevive, caso ndo queira mostrar, a pessoa morre por falta da folha medicinal. E 0 pior ¢ que quando Ossie esta aborrecido, faz com que a pessoa se perca nas matas e nao encontre o caminho. Por isso é que quando se vai as matas para apanhar folhas, deve-se usar o método que Oxosse usou para atrair a simpatia de Ossde: levam-se furmo, mel, vinho ou mesmo cachaca. Oxala entregou ao Orixa Obaluaé o reino das trevas vivas e mortas. Sendo Obaluaé um santo guerreiro, ele é, além do mais, um santo louco. Este santo no pede favor a ninguém. Obaluaé manda, ndo pede. Assim determinou nosso pai Oxala. Omolu é o irm4o mais velho de Obaluaé, por isso, ele tem mais auto- ridade. Convive mais dentro da calunga maior, deixando a menor para o seu irmdo governar. A Qdeé deu o poder de ser guerreiro, ao lado de Ogum. Odé que tam- bém tem o poder da caga, da pesca e do amor. Assim Deus determinou. Aos caboclos Deus den o direito de ser independentes, com todo o poder de dominar todas as tristezas ¢ grandezas: assim, os caboclos 6 que sdo os yerdadeiros guerreiros. 103 A Xangé6 foram entregues as leis, a justiga, o ouro e o vintém. A Iroko Deus lhe deu toda a terra, os ventos de tempestades, yentos de redemoinho, a fartura ¢ todo direito de dar ow tirar a vida humana. na hora e momento que queira; enfim, este santo, por ser o tempo supe- rior, ¢ o yerdadeiro possuidor da vida de todos; assim determinou nosso pai todo poderoso, Oxald. Agora, notem bem como um pai dividiu seus maiores poderes com alguns de seus filhos, ficando a observa-los; julgando ¢ condenando seus ministros executores ndo se descuida no servico. Estes sio os motives por que os antigos diziam: — a justiga divina tarda, mas nfo falta. Para Oxumaré Deus entregou o poder de transformar-se em arco-iris. Assim, este orixd 6 0 ceapenene por transportar as aguas dos rios ¢ das cachoeiras para o além, disparando toda a agua no momento necessério para a terra. Este santo também ¢ 0 dono de todas as cobras, sendo 0 companheiro e irmao inseparavel do Orixa Ossie. Para o Orixa Nana, Deusentregou o poder de curar todas as enfermi- dades, as doengas do ser vivo. Esta santa é a mae mais yelha das aguas. _Para a santa Oxum, Iemanja lhe deu toda a agua doce, ficando para si a igus rada. emanya ¢ médica e Oxum, enfermeira. Jansa Balé é a deusa dominadora dos eguns ou almas santas perdidas e benditas. Também é dominadora dos exus, que ndo deixam de ser al- mas impossiveis. Obacutu ¢ a deusa dos montes, pertence também as aguas doces. Sea éa dona das bexigas, das varfolas ¢ de todas as doengas da pele. Para Lougunedé coube o direito de justica, juntamente com Xango e os seus acompanhantes da mesma poténcia. Também pertence as aguas do rio, onde convive. Os ferros, as méquinas e campo de batalha a cle pertencem. Oxald é 0 Pai de todos, este santo no Candomble é 0 orixa de maxi- mo respeito, Nos dias de suas obrigagdes no se pode tocar em sal, azei- te de dendé ¢ outros objetos contrarios as suas regras. Este orixa nfo mora acompanhado com outro orixd, por causa do azeite de dendé, Caso um outro orixé ndo pegue o dendé, entao poderd morar com Oxala. Sabe-se que Iemanja vive na companhia de Oxala. 0 fato de Iemanja nao comer sal, tem um ké. Dizem os antigos que lemanja ¢ a legitima esposa de Oxala, e para um orixa morar na companhia de Oxala obriga- se a ndo comer sal nem azeite de dendé. COMIDAS, VESTES E COSTUMES DE OXALA As comidas de nosso pai Oxala sfo simples, mas de grandes sustancia e objetividade, 104 O boi de Oxala é 0 ibi, conhecido por caracol. Niio hé outro animal para substituir 0 caramujo ou caracol. Animal de quatro patas que Oxalé aceita, é a cabra branca, sem chi- fre, e deve ser virgem. Caso use outro animal, Oxala no aceitard as obri- gacdes. Os acompanhamentos da cabra branca de Oxala sio 08 seguintes ani- mee ea braneo, e galinha d’angola branca. Quando ndo se encon- tra a de cor branca, recorre-s¢ a outra d’angola aaa contanto que nifo se ponham as penas de cores em cima das obrigagdes, para que se- jam aceitas pelo santo pai. Todos esses animais sao sacrificados, mas nao diretamente, com faca; existe um macete no momento da matanca, mas é assunto para as qua- tro paredes. Desde © pombo a cabra, todos sao sacrificados, mas no se deve sacrifiear animais para Oxala sem conhecer bem seus regulamentos éticos. Para sacrificar um ibi ou caracol, é necessario conhecer o modo de se fazer tal sacrificio. Sabe-se que o caracol tem casco, ¢ seu corpo fica totalmente eseondi- do dentro do préprio casco. Creio que o leitor ja percebeu o quanto de conhecimento € necessa- rio para s¢ fazer a matanga deste animal. COMIDAS SECAS ‘As comidas secas de Oxali so as seguintes: Eb6 é a comida constante de Oxala. Esta comida ja é bastante conhe- cida de todos: é 0 milho branco, eozinho com mel. Ecuru é a comida mais exigida por Oxala. Qlobo deve ser dado a Oxala, sempre que for possivel. Entre todas estas comidas, a que nao pode faltar a Oxala, é0 ajabé. tal a energia e influéncia desse alimento. Ori ¢ 0 objeto principal das comidas de nosso pai Oxala. De inverno a vero, Oxala se traja de branco, da cabeca aos pés- As contas que firmam a sua vibracao ¢ o missangao branco-leitoso. Em contra-firma, usam-se a8 firmas ou contas de tamanho grande, em cristal branco, A cobertura da cabeca de Oxala é uma coroa com quatro: quinas unidas. No centro da coroa, usam-se um globo com uma cruz ou uma pombd em cima do globo, de acordo com a qualidade do Oxald. 105 ALGUMAS CANTIGAS DE OXALA I E,eboo baba ebé um ala, Orixa ina tala orid ebo. Ala oni ebo. Tala ori-4 ebo. Diziam os mais velhos que esta cantiga ¢ cantada na hora de oferecer o ebd a nosso pai Oxala, este canto tem o significado que estamos pe- dindo satide, sossego, paz e tranqiiilidade. 106 a A-ind komoda agé maré, ainico. Aind ¢6 moda age maré a-ind c6. i E furi-umlun yes ailala. abd ken-ien-ien legibo. kile, yd mogiba baba, aimo-yna ibara-6! i, € mad pa baba eché. IV Awa ja lé yy € torord. senole abs sié mad. Vv Ofila la é é olerua, baba lie é oleruah VI Ald ala ala orun ald, odum apa ada. Ald ald ala orun ala, odum apa ada. vol Baba olodé sbyku para obyku pas da. Bu olodé abyky para tytn pera dl VII Baba epé opé jé ope ji lodé. Baba epé keiepeja epé ja lodé. Ix Orixd eré werd, awa dabé ny ewé we bs awa daba kilewa-6 awa daba ny ewe we. fa xX Kokorocé baba mim awa comorelé. Kokorocd baba mim awa comorelo. Ao transcrever estas cantigas do nosso pai Oxald, me vem ao pensa- mento chamar a aten¢ao de todas as casas de keto ou nagé-yodun, para, ao terminar a ceriménia da festa ou shiré, cantar a seguinte: ‘Oni sd-wré é, yia waxé, yfa wré oberioman. ‘Oni si-wré é, yfa w-laxé, yfa wré oberiomdn, Para a seita do Candomblé, os africanos consideravam esta cantiga como um hine aos orixas. Por este mativo, nao devemos esquccer este belo cantico. CONVERSAGOES SIMPLES DE NAGO Ao iniciar este capitulo, ndo posso deixar de questionar o fato deem- hee erroneamente certas palavras e expressdes que ferem a ética do andombleé. E errado a pessoa dizer: — eu levei ado-cho. Diga assim: — eu sou adoxo, porque levei ou recebi um oxu, Quando um homem ¢ feito no santo, deve dizer: — eu sou voduno. Quando a mulher for feita no santo, diz: — eu sou uma vodunse, No dia de festa, nao diga: — eu vou para o Candomblé de fulano, pores a palavra Candomble significa uma religiao de fetichismo. Quan- lo tem festa na casa de alguém de santo, deve dizer-se: — tem shiré na casa de fulano Portanto, Candomblé significa religido. Quando tem festa nesta reli- gio, a palavra é shiré. 108 PARA FACILITAR O MODO DE CONVERSAR Constantemente tenho escutado varias pessoas falarem: — eu nao vou para o Candomblé no sibado, porque ndo tenho ou-d, E errada esta pronincia. Neste caso de nao ter dinheiro para ir ao Candomblé, a pessoa deve dizer: okosy ateté matin-matin. Isto quer dizer: “meu dinheiro esta mui- to pouco.” ‘A palavra ou-6, significa: mio. Se a pessoa disser: — eu estou sem ou-6; ela esta dizendo que esta sem maos.r* ». Porque o dinheiro, na linguagem nago, é chamado oké-sy. E mio, ou-d. Quando a pessoa esta com um bom dinheiro no bolso, deve dizer; — ateté odara oko-sy mim. Quando o dinheiro é muito, deve dizer: — oko- sy mim, ateté bé be bé. Isto quer dizer: “muito muito ¢ muito dinhei- ro. ‘A nova geragao que vem freqiientando o Candomblé, por nao saber se expressar, vem contribuindo para a deformacao do dialeto candom- blecista. Por isso, procuro transmitir um pouco do que aprendi da velha erenga africana visando unicamente dar um basta. a todo esse tipo de mistificagdo. E o que ocorre atualmente em Salvador da Bahia, onde se usa e abusa da expressdo casa grande de Candomblé, como se isso fosse o bastante para garantir a pessoa que freqiienta uma casa grande o direi- to de dizer que ja alcangou os fundamentos dos bastidores da casa. Mas € engano: As vezes uma pessoa pertence a casa de santo, mas simplesmente porque fez o santo e, se por qualquer razio, se afasta da casa, acha-se com o direito de ser pai, ou mie-de-santo. Logo abrem uma asa, mas o que importa saber e se tais pessoas tém ou nao conheci- mento para tal. Quando uma pessoa tem mais de sete anos de santo feito, deve dizer: — eu sou eb6-mim. Quando a pessoa, tem menos de sete anos, diz-se: id. O ogam ja € considerado um pai, desde 0 momento que é suspenso pelo orixa. Quer queiram ou no, ele é um pai, quando alguém nao .qui- ser curvar-sé para o Ogam, ndo venha com desculpas sem sentido. O me- thor ¢ dirigir-se ao orixa, falar o que sente, mas jamais assumir atitude de menosprezo em rélagao ao 6gam. 109 _ TRANSPORTE-SE AOS FENOMENOS DO MAGICO EDO ETERNO Em todas as boas casas do ramo ou por pedidos diretos a sua editora:

Você também pode gostar