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CENTRO DE ESTUDOS JUDICIARIOS 31° CURSO DE FORMACAO PARA OS TRIBUNAIS JUDICIAIS PROVA ESCRITA DE DIREITO CIVIL E COMERCIAL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL Via Académica AVISO DE ABERTURA: AVISO N° 2140/2014, PUBLICADO EM D.R. Il SERIE, N° 30, DE 12 DE FEVEREIRO DE 2014 DATA: 12 DE ABRIL DE 2014 4° CHAMADA HORA: 14H15M (DE ACORDO COM O DISPOSTO NO ART? 12° DO REGULAMENTO INTERNO DO CENTRO DE ESTUDOS JUDICIARIOS, O TEMPO DE DURAGAO DA PROVA INICIA-SE DECORRIDOS 15 MINUTOS APOS A HORA DESIGNADA) DURAGAO DA PROVA: 3 HORAS Direito Civil e Comereial e Processual Civil 1° Chamada A presente prova é composta por 3 grupos de questoes de resposta obrigatéria CASO! Anténio Padeiro fomecia pao a sociedade “Industria Metalargica, Lda.", destocando-se diariamente s suas instalag6es fabris para entregar 0 pao na cantina. Em janeiro de 2013, no interior das instalagoes fabris, ao pretender entrar num elevador, Anténio Padeiro nao se apercebeu de que a cabine do elevador no se encontrava estacionada naquele patamar, porque estava escuro. Julgando entrar na cabine, precipitou-se no vazio do pogo do elevador, vindo a embater violentamente nas molas para-choques do elevador, situadas dois pisos abaixo. Anténio Padeiro sofreu escoriagées, fraturas e traumatismo craniano, tendo sido submetido a duas operagdes. Ficou com uma incapacidade permanente para o seu trabalho de 60%. A “Industria Metalirgica, Lda.” havia acordado com a sociedade “Ascensores, Lda.” a manutengo dos elevadores das suas instalagoes fabris. Anténio Padeiro intentou uma ago judicial em setembro de 2013 contra a “Industria Metalirgica, Lda.” e a “Ascensores, Lda.”, pedindo uma indemnizacao no valor de 50 000,00€ pelos danos sofridos com a queda no pogo do elevador. No decurso do julgamento, nao foi possivel esclarecer por que razAo, naquele dia, as portas do elevador estavam abertas sem que a cabine estivesse no patamar. Falou-se numa possivel falha do sistema mecanico do elevador, por m4 manutengao da “Ascensores, Lda.”. Falou-se numa possivel falha do encarregado de seguranga da “Industria Metalirgica, Lda.”, que Poderd ter aberto manualmente as portas, com recurso a uma chave de seguranga, contrariando os procedimentos de seguranga. Mas nada ficou provado. Face aos dados conhecidos, responda justificadamente as seguintes questdes: 1.2 — Aprecie a viabilidade da pretensao de Anténio Padeiro contra a “Industria Metaltirgica, Lda.” e contra a “Ascensores, Lda.”. (4,5 valores) 2.2 — Suponha que a “Ascensores, Lda.” pretende estar acompanhada em juizo da Seguradora para a qual transmitiu a responsabilidade civil decorrente de danos patrimoniais causados a terceiros, pela qualidade da assisténcia técnica referente aos elevadores das instalagées da “Industria Metaluirgica, Lda.”. Aprecie a admissibilidade processual desta pretensdo. (2 valores) CASON Em janeiro de 2008, Anténio Alves e mulher contrataram Rosa Silva para a prestagdo de servicos domésticos. Apés 0 falecimento da esposa, em fevereiro de 2013, Anténio Alves ficou ainda mais dependente dos servigos da sua empregada doméstica, a cuja presenga diaria se habituara. Pediu-lhe, entdo, que ficasse a trabalhar como empregada interna, ao que esta acedeu, prometendo ir viver para casa dele a fim de melhor Ihe prestar cuidados. Como isso implicava que Rosa Silva deixasse a casa arrendada onde vivia hd largos anos, acordou com Anténio Alves que este Ihe venderia o prédio de sua habitagao, sito na rua das Flores, por um prego acessivel. Para tanto, outorgaram, em 21 de maio de 2013, num Cartério Notarial de Lisboa, uma escritura de compra e venda que teve o aludido prédio por objeto, sendo 0 prego acordado para tal venda de 35 000,00 € (inferior ao valor real do prédio, cujo valor patrimonial fiscal 6 de 61 670,00 €). Com a justificagzio de que se esquecera do livro de cheques em casa, 0 que foi transmitido a Anténio Alves ja no interior da sala de atos do Cartério Notarial, em Lisboa, Rosa Silva garantiu que Ihe entregaria o cheque para pagamento logo que chegassem a casa Baseado na confianga que ha anos depositava em Rosa Silva, Anténio Alves anuiu em assinar a escritura de compra e venda mesmo sem ter na sua mo 0 prego da venda. : Declarou, assim, Anténio Alves, perante o Notério, ter recebido o prego, © que fez no convencimento de que o itia receber ato continuo, logo que chegasse a casa. Improvisando justificagdes atras de justificagdes, Rosa Silva foi protelando o pagamento do prego. As relagdes entre Anténio Alves e Rosa Silva foram-se esfriando devido a tal incidente, acabando por se deteriorar de vez quando esta instalou na referida casa a sua filha e o seu genro e estes passaram a utilizar os bens de Anténio Alves, deixando Rosa Silva de ir id a casa. Sem ninguém que dele cuidasse, Anténio Alves viu-se obrigado a sair da teferida casa e a ir viver coma filha. Instada varias vezes, inclusivamente por intermédio de advogado, para proceder ao pagamento do prego, Rosa Silva recusa-se a pagar essa importancia alegando que, na verdade, Anténio Alves Ihe quis doar o prédio, para ela ai ficar a cuidar dele, s6 ndo tendo sido isso que declararam no Cartério Notarial para que a filha dele ndo reagisse contra esse negécio. Se soubesse que ndo iria receber 0 prego, Anténio Alves nunca teria outorgado a escritura. Responda, justificadamente, as seguintes questdes: .2 — Em Janeiro de 2014, Anténio Alves intentou uma a¢ao contra Rosa Silva, na qual formulou o pedido de anulagao do contrato celebrado entre ambos, com fundamento em erro. Aprecie a viabilidade da sua pretensao. (1,5 valores) 2.2 - Suponha que Anténio Alves, ao invés da anulacdo do negécio, tem interesse no recebimento da quantia de 35 000,00 € e respetivos juros de mora vencidos desde 21 de maio de 2013. Aprecie a viabilidade desta outra pretensdo. (2,5 valores) 3.8 — Pronuncie-se sobre a admissibilidade da deducao em simulténeo das duas pretensdes de Antonio Alves acima enunciadas. (1 valor) 4.2 - Suponha que, em sede de contestagio, Rosa Silva defende que Anténlo Alves Ihe quis doar o prédio, para ela ai ficar a cuidar dele, e arroga-se legitima dona do prédio, recusando, por isso, pagar qualquer quantia a Antonio Alves. a) Caso Anténio Alves pretenda responder a argumentagdo de Rosa Silva, analise se o poderd fazer e qual o momento processual adequado para tal; (1 valor) b) Aprecie a viabilidade da argumentacao de Rosa Silva. (2 valores) CASO III Anténio Magathaes abriu uma conta de depésito & ordem numa agéncia do “Banco C’, tendo sido acordada a utilizagaio de cheques. Anténio Magalhaes residia num lar e guardava num armério do seu quarto particular os cheques e outros documentos, fechando & chave o armario cada vez que se ausentava. Boavida Faria, que trabalhava como vigilante do lar, retirou do interior do quarto de Anténio Magalhaes um desses cheques, imitou a assinatura deste, preencheu-o com a quantia de 52 000,00 € depositou-o na conta de que & titular no “Banco D" O cheque foi apresentado a compensagao pelo “Banco D’. Dois funcionarios do “Banco C” visionaram o referido cheque em formato digitalizado, conferiram a sua assinatura através da ficha de assinaturas constante dos seus registos e acharam-na conforme, por semelhanga, com a de Anténio Magalhdes. Nesta sequéncia, o "Banco C” providenciou pelo pagamento do cheque. O "Banco C” dispée de escassas horas para proceder a andlise de um cheque para o considerar ou néo bom para pagamento. cheque apresentava tipos de escrita diferentes no seu preenchimento e na sua assinatura. Os movimentos a débito anteriores da conta de depésitos 4 ordem de Anténio Magalhdes nunca excederam os 1 000,00 €. Resultou do exame pericial realizado pelo Laboratorio de Policia Cientifica que "Examinando comparativamente a escrita suspeita da assinatura aposta no cheque (..,) constata-se que se assemelham, quanto as caracteristicas de aspecto geral, no grau de ligagdo. Diferem na proporcionalidade, na regularidade da linha de base da eserita, ligeiramente na legibilidade e por a assinatura suspeita apresentar tragado inseguro, lento, desenhado e com paragens, o que indicia uma eventual tentativa de imitagao (...)". Face aos dados conhecidos, responda as seguintes questdes: 1.4 - Qualifique o{s) contrato(s) celebrado(s) entre Anténio Magalhaes e o “Banco C”. (1,5 valores) 2. > Antéi Magalhaes pede ao Tribunal que o “Banco C” Ihe devolva o valor do cheque com juros. © “Banco C” defende que nao se verificou uma situagao de falta de zelo ou de diligéncia no cumprimento do dever de analisar a assinatura. Aprecie a pretensio de Anténio Magalhdes, fundamentando juridicamente a sua resposta. (4 valores) Observagdes: 1 - Cotagaes: = Grupo I: 6,5 valores ~ Grupo Il: 8 valores Grupo II: 5.5 valores 2. Tempo miiximo para a realizagdo da prova : 18s horas. 3. Na avaliago das respostas, serdo tidos em conta, além do mais, o rigor conceitual ¢ a clareza da exposigio.

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