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CENTRO DE EsTuDOS JUDICIARIOS 31° CURSO DE FORMACAO PARA OS TRIBUNAIS JUDICIAIS PROVA ESCRITA DE DIREITO CIVIL E COMERCIAL E DIREITO PROCESSUAL CIVIL Via Académica AVISO DE ABERTURA: AVISO N° 2140/2014, PUBLICADO EM D.R. Il SERIE, N° 30, DE 12 DE FEVEREIRO DE 2014 DATA: 17 DE ABRIL DE 2014 2." CHAMADA HORA: 14H15M (DE ACORDO COM O DISPOSTO NO ART® 12° DO REGULAMENTO INTERNO DO CENTRO DE ESTUDOS JUDICIARIOS, O TEMPO DE DURAGAO DA PROVA INICIA-SE DECORRIDOS 15 MINUTOS APOS A HORA DESIGNADA) DURAGAO DA PROVA: 3 HORAS Direito Civil e Comercial e Processual Civil 2." CHAMADA A presente prova é composta por 3 grupos de questdes de resposta obrigatéria CASOI No dia 30 de margo de 1996, em Almada, no Cais de Embarque dos barcos da “Transportes Tejo, S.A.”, Afonso Guerra estava acompanhado pela sua avé Bernardina Guerra, aguardando de mao dada a sua vez de entrar no bareo com destino a Lisboa. Devido & forte ondulagdo que entio se registava, 0 barco, apesar de amarrado ao cais, ora se encostava ao ponttio do cais, ora dele se desencostava. No preciso momento em que Afonso Guerra ia a entrar no barco através da passadeira movediga destinada ao acesso de veiculos automéveis, esta oscilou devido ao facto de, imediatamente antes, ter entrado um veiculo automével no barco. Em consequéncia dessa oscilagio, o pé esquerdo de Afonso Guerra ficou entalado ‘entre a referida passadeira e a caixa do pontdo. ‘A passadeira. movediga destinada ao acesso de veiculos automéveis é, com a complacéncia da “Transportes Tejo, S.A.", utilizada pela generalidade dos pedes para acederem ao interior do barco, sobretudo nas ocasides de grande afluxo de passageiros, em que a passadeira reservada A entrada de pedes se mostra insuficiente, pela exiguidade das suas dimensdes, para possibilitar a entrada no barco, em tempo util, a todos os passageiros. Apesar de Bernardina Guerra ainda ter tentado afastar Afonso Guerra, fazendo-0 recuar bruscamente, no conseguiu evitar 0 entaldo do pé esquerdo do neto, O acidente teve como consequéncias diretas e necessérias o esfacelo do pé esquerdo de Afonso Guerra, a amputagtio do 4,° e do 5.° dedos desse pé ¢ a fratura miltipla do tarso e metatarso do mesmo pé. Por contrato de seguro celebrado com a “Companhia de Seguros Seguranga, S.A.”, a “Transportes Tejo, S.A.” transferiu a sua responsabilidade pelo pagamento das indemnizagdes imputaveis 4 segurada por danos corporais e/fou materiais causados aos passageiros transportados em embarcagSes daquela, até a0 limite de 30 000,00 € por vitima, ‘Apés ter tido alta do Hospital de Sio Francisco, Afonso Guerra comegou a ser assistido nos servigos clinicos da “Companhia de Seguros Seguranga, S.A.”, a qual, desde a data do sinistro, providenciou pelo seu tratamento ¢ custeou as despesas hospitalares, tudo no valor global de 25 000,00 €. ‘Também nos servigos clinicos da “Companhia de Seguros Seguranga, S.A.”, Afonso Guerra foi submetido a vérias intervengies cirirgicas até 28 de fevereiro de 2008, data em que foi considerado curado com desvalorizagao, fieando portador de uma Incapacidade Geral Permanente Parcial de (IGPP) de 34%. ‘Atualmente, Afonso Guerra tem dificuldades em movimentar-se ¢ permanccer de pé € indo pode acompanhar os amigos nas idas ao futebol ou a discoteca e outras atividades fora de casa, o que Ihe causa grande sofrimento, Afonso Guerra desistiu de se candidatar ao ensino superior, tendo-se ficado pelo 12.° ano de escolaridade, e nunca exerceu qualquer atividade profissional. Afonso Guerra intentou uma ago contra a “Transportes Tejo, S.A.” ¢ a “Companhia de Seguros Seguranga, S.A.”, formulando o pedido de condenacdo das Rés no pagamento de uma indemnizagio no valor de 350 000,00 €, acrescida de juros de mora, com fundamento em responsabilidade aquiliana decorrente do acidente de que foi vitima no dia 30 de margo de 1996, ‘A peticdo inicial deu entrada no dia 20 de janeiro de 2010, quando o Autor tinha 20 anos de idade. A “Transportes Tejo, S.A.” invocou a prescrigio e argumentou que o acidente ocorreu devido ao descuido da pessoa adulta que ecompanhava o Autor. A “Companhia de Seguros Seguranga, S.A.” também invocou a prescrigdo ¢ defendeu que a culpa foi do Autor, sendo por mera solidariedade que Ihe pagou alguns tratamentos. ‘ace aos dados conhecidos, responda, jus te, As seguintes quest 1— Ap a responsabilidade da “Transportes Tejo, S.A.” ¢ da “Companhia de Seguros Seguranga, S.A.", analisando também a prescrigio deduzida pelas Rés. (4,5 valores) 2.+— Caso Afonso Guerra pretenda responder A defesa da “Transportes Tejo, S.A.” e da “Companhia de Seguros Seguranga, S.A.”, analise se 0 poderd fazer e qual 0 momento processual adequado. (1,5 valores) 3+ - As Rés defendem que Afonso Guerra nfo tem direito a uma indemnizagio pela perda de capacidade de ganho por nfo ter qualquer emprego. Aprecie esta argumentaco. (2 valores) CASO. Em 14 de setembro de 2006, Arlindo Alves e Bernardo Bonificio celebraram um acordo que denominaram “contrato promessa de compra ¢ venda”, nos termos do qual este filtimo declarou que “é dono e legitimo proprietério do lote de terreno para construgdo, designado por lote 4, sito no Lugar da Vinha, descrito na Conservatéria do Registo Predial de Albufeira sob on? MILO? Bernardo Bonifficio declarou que prometia vender © Ai indo Alves declarou que pretendia comprar, pelo prego de 77 500,00 €, livre de quaisquer énus ou encargos, o referido lote de terreno destinado a construgao, sendo o pagamento do prego efetuado da seguinte forma: na data da assinatura do contrato, a titulo de antecipacdio do prego, a quantia de 10 000,00 €, de que Bernardo Bonificio deu quitaglo; a restante quantia no ato da escritura, Na clausula quarta do contrato ficou estipulado que “a escritura de compra e venda seré celebrada pelos outorgantes no més de Janeiro do ano de 2007, ficando a cargo do primeira outorgante, Bernardo Bonifiicio, a sua marcagdo, devendo comunicar a data, hora e cartério. notarial onde a mesma se ird realizar ao segundo outorgante, com a antecedéncia minima de 8 dias", Acordaram ainda na cléusula sexta “‘condicionar a celebracdo do contrat definitivo desta promessa & obtengdo por parte da primeira outorgante, junto das entidades competentes da remogao das contentores de residuos que se encontram arrumados na via piiblica, frente ao ote agui prometido vender”. Nessa data, o lote de terreno foi entregue a Arlindo Alves. A data de celebragiio do contrato-promessa, Arlindo Alves desconhecia que Bernardo Bo ficio ainda nfo tinha adquirido o lote de terreno prometido, por este the ter omitido tal facto no momento da assinatura do contrato. Ari do Alves & pedreiro, dedicando-se 4 construgo e A venda das moradias que constréi. Convencido que o terreno pertencia a Bernardo Bonifacio, solicitou a elaboragao de um projeto de construcdo de uma moradia unifamiliar. Entre meados de dezembro de 2006 ¢ os primeiros dias de janeiro de 2007, quando ja estavam finalizados e prontos para darem entrada na Camara Municipal de Albufeira, a fim de serem apreciados, os projetos de arquitetura e os das especialidades, Arlindo Alves dirigiu-se a Bernardo Bonifiicio para que este assinasse 0 documento a apresentar na Camara Municipal de Albufeira para obtengiio da autorizagio de construcdo. Bernardo Bonificio disse-Ihe que ainda ndo podia assinar tal documento porque nao era entio o dono do terreno. Tal situagio poderia atrasar em alguns dias o inicio da construgao da moradia no referido lote. Na Camara Municipal de Albufeira, apés a apresentagiio do projeto de construgdo de obra particular e dos projetos da especialidade, o tempo médio para a abtengao do licenciamento ¢ de 8 meses e meio a 12 meses. Foi efetuada a remogiio dos contentores de residuos que se encontravam em frente ao lote de terreno, Em 17 de janeiro de 2007, Bernardo Bonifacio enviou a Arlindo Alves, ¢ este recebeu, uma earta registada com aviso de recegiio, comunicando-Ihe que a escritura de compra e venda se encontrava agendada para o dia 30 de janeiro de 2007, pelas 11.00 horas, no Cartério Notarial de Faro. ‘Nesse dia e hora, Arlindo Alves nao compareceu no referido Cartério Notarial. Em 23 de janeiro de 2007, foi registada na Conservatéria do Registo Predial de Albufeira, mediante inscri¢ao definitiva, a aquisigfo a favor de Bernardo Bonifacio, por compra, do referido prédio urbano. Arlindo Alves enviou a Bernardo Bonificio, e este recebeu, uma carta datada de 24 de janeiro de 2007, declarando que 0 contrato-promessa de compra e venda é nulo porque este no € 0 dono e legitimo proprietirio do lote de terreno e que se esté perante uma situago de incumprimento definitivo da promessa, 0 que permite a resolugdo do contrato e obriga & restit igo do sinal em dobro, pelo que fica a aguardar o envio da quantia de 20 000,00 €. No dia 12 de margo de 2007, Bernardo Boniffcio enviou a Arlindo Alves, ¢ este recebeu, uma carta registada com aviso de receedo, fixando como data limite para a realizagio da escritura piblica o dia 7 de maio de 2007, sob pena de se considerar incumprido e resolvido ‘© contrato-promessa, com perda do sinal pago. Arlindo Alves alega que 0 contrato em causa é nulo, por Bernardo Bonifacio nao ser dono do prédio, ou que é pelo menos, anulivel devido a erro. Qualificando juridicamente 0 contrato, aprecie a pretensio de Arlindo Alves. (2,5 valores) 2.* - Na hip6tese de o contrato vir a ser considerado vilido e efieaz, aprecie se foi jcumprido por alguma das partes ¢ quais os direitos que 4 outra parte assistem. (4 valores) caso mt A sociedade “Energia Limpa, Lda.” pretendia dedicar-se & produgio de biodiesel, mas carecia de tecnologia e de conhecimentos para levar a cabo sozinha esse projeto, pelo que decidiu procurar um parceiro, tendo para o efeito contactado a sociedade “Forte Saber, Lia.”. Apés negociagdes, em maio de 2013, a “Energia Limpa, Lda.” ¢ a “Forte Saber, Lda.” assinaram um “Protocolo de intengdes”, no qual consignaram 0 seguinte: «4s entidades signatdrias declaram a sua inengdo de deter participagio, em percentagem a acordar entre as ‘mesmas, muma sociedade a constinir, destinada & producdo de éter metilico para milizagio como combustivel industrial, a partir de dleos vegetais. Mais declaram os signatdrios que a concretizagiio da sociedade acima referida fica dependente da validagéo por ambas as partes de todas as informagdes mutuamente fornecidas, bem como da concluséo com resultados positivos dos estudos detathados a serem prosseguidos, tendentes G demonstragdo da viabilidade técnica e econémica do projeto.». ‘Numa reunidio de trabalho ocorrida em julho de 2013, foi acordado que a “Forte Saber, Lda.” elaboraria dois estudos, um com vista & instalagiio de uma unidade de produgio de 50.000 toneladas/ano de biodiesel e outro com vista a instalagiio de uma unidade de produgdo de 4 000 toneladas/ano de glicerina. ‘Numa reuniao ocorrida em setembro de 2013, a “Forte Saber, Lda.” apresentou os dois estudos. Todavia, a “Energia Limpa, Lda.”, sem examinar os estudos, comunicou que considerava o projeto invidvel, pelo que considerava 0 “Protocolo de Intengdes” sem efeito. A “Forte Saber, Lda.” pretende obter uma indemnizagao que englobe as despesas de elaboragao dos estudos, no valor de 100 000,00 € e os lucros que contaria auferir nos primeiros dois anos de implementacdo do projeto, no valor de 2.000 000,00 €. Face aos dados conhecidos, respond: uestées: icadament 1 - Aprecie se a “Forte Saber, Lda.” tem direito a esta indemnizagio, fundamentando juridicamente a sua resposta. (3,5 valores) Suponha que, no decurso da audiéncia final, 0 mandatirio da “Forte Saber, Lda.” requer a prestago de declaracées de parte do representante legal da “Energi Limpa, Lala.”, Analise do ponto de vista processual a admissibilidade desta pretensio. (2 valores) Observagies: 1. As cotagdes das perguntas sto: - Grupo I: 8 valores = Grupo Il: 6,5 valores ~ Grupo Ill: 5,5 valores 2. O tempo maximo para a realizagao da prova é de trés horas. 3. Na avaliagiio das respostas, serdo tidos em conta, além do mais, o rigor conceitual ea clareza da exposigao.

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