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CENTRO DE EsTuDOs JUDICIARIOS 31° CURSO DE FORMAQAO PARA 0S TRIBUNAIS JUDICIAIS PROVA ESCRITA DE DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL Via Académica AVISO DE ABERTURA: AVISO N° 2140/2014, PUBLICADO EM D.R. I SERIE, N° 30, DE 12 DE FEVEREIRO DE 2014 DATA: 26 DE ABRIL DE 2014 1°? CHAMADA HORA: 14H15M (DE ACORDO COM O DISPOSTO NO ART? 12° DO REGULAMENTO INTERNO DO CENTRO DE ESTUDOS JUDICIARIOS, O TEMPO DE DURAGAO DA PROVA INICIA-SE DECORRIDOS 15 MINUTOS APOS A HORA DESIGNADA) DURAGAO DA PROVA: 3 HORAS PROVA ESCRITA DE DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL ‘VIA ACADEMICA 18 Chamada O candidato deverd responder obrigatoriamente a todas as questdes colocadas A cotacio maxima exige um tratamento completo das varias questdes suscitadas, que deverd ser coerente e corretamente fundamentado, com referéncia e apreciacao critica das varias teses eventualmente em confronto, sendo tidos em consideracdo a pertinéncia do contetido, a qualidade da informaco transmitida em rela¢do ao tema proposto, a organizacao da exposic3o, a capacidade de argumentaco e de sintese e 0 dominio da lingua portuguesa Cotact Grupo I-A: 11 valores Grupo I-8:2 valores Grupo ll-A: 4 vatores Grupo II-B: 1,5 valores Grupo It-C: 1,5 valores GRUPO!-A Alfredo e Benjamim, habituados a gastarem mais do que ganhavam, decidiram assaltar uma relojoaria, que s6 em relégios thes renderia mais de € 25.000,00. Comunicaram tal decisao a Carlota, dizendo-Ihe ainda que precisavam de uma pessoa que os transportasse ao local e thes assegurasse depois uma fuga rapida. . Carlota foi falar com Daniel, ex-companheiro, de quem se havia separado hé 5 meses para ir viver com Alfredo, mas com quem mantinha um bom relacionamento, para o que contribula o facto de terem um filho de 7 anos, fruto da anterior relacdo. Daniel recusou, dizendo que ndo se queria “meter em sarilhos". }. Alfredo e Benjamim decidiram ent&o avangar sozinhos. No dia sequinte, domingo, 30 de margo de 2014, cerca das 8h15m, Carlota aceitou dar boleia a Alfredo e Benjamim, até muito perto da relojoaria, deixando-os numa rua paralela que ficava no trajeto que aquela habitualmente usava na deslocagéo para o seu local de trabalho, dizendo-Ihes que nao os deixava mais perto por ter receio de que o seu carro viesse a ser identificado por alguém e também porque no queria ter nada a ver com o assalto. . Alfredo e Benjamim abandonaram o veiculo, seguindo o resto do trajeto a pé, enquanto Carlota seguiu viagem em diregéo ao seu trabalho. . Chegados ao local, Benjamim agarrou num serrote que trazia na mochila e com ele abriu um buraco na sebe de ciprestes que separava a via publica do recinto das traseiras da loja. Jd no recinto, Alfredo Benjamim pegaram, cada um, num pé-de-cabra, com os quais arrombariam a porta de duas folhas, em madeira, de forma eficaz silenciosa. . Para tal, introduziriam primeiro a ponta em cunha de um dos pés-de- de-cabra na ligagdo das folhas da porta junto ao solo, usando-o como alavanca para provocar alguma abertura entre ambas e permitir a introdugéo mais acima do outro pé-de-cabra, e assim, sucessiva altemadamente, até chegarem perto da fechadura, a qual, pela forga exercida, se estroncaria com pouco ruido. . Foi no exato momento em que Alfredo forcgava a introdugéo do primeiro pé-de-cabra entre as folhas da porta que surgiu a circular, muito lentamente, ¢ até se imobilizar junto a sebe, um carro patrulha da policia. . Alfredo e Benjamim meteram imediatamente os pés-de-cabra nas mochilas e saltaram de seguida por cima de um pequeno muro que separava a loja do prédio vizinho, rastejando no patio deste ultimo prédio até a porta de entrada do rés do chao da habitagao. 9. Ai permaneceram escondidos, atras de um cedro, até o carro patrulha abandonar 0 local. O que aconteceu cerca de meia hora depois. 10.Desistindo de prosseguir o plano inicialmente tragado (sobretudo por terem estranhado a presenca do veiculo policial & hora em que iniciavam o trabalho planeado, ainda por cima numa rua fechada ao transito automével), abandonaram o local, dirigindo-se para a casa de Alfredo. 41.Quando Carlota regressou a casa, depois de informada do que se havia passado, decidiu logo ir ter com Daniel, sabendo que o mesmo estaria a pescar numa zona do Porto de Lisboa, movida pela convicgao de que teria sido ele a informar a policia, como os outros dois também ja antes suspeitavam. 12.Daniel encontrava-se sentado na beira do cais com uma cana de Pesca na mao, sem que se vislumbrasse mais alguém por perto. Alfredo, Carlota e Benjamim, tendo deixado o carro afastado do local, aproximaram-se sub-repticiamente, e depois de tirarem a cana 20 Daniel, cercaram-no, de tal modo que este ndo teve espago para se movimentar, 13,Tal facto causou receio a Daniel, que foi interpretado pelos restantes como um sinal claro de que tinha sido ele a alertar a policia. Em tom provocador, Alfredo dirigiu-se a Carlota dizendo: "com que entao este 6 que € 0 tipo fixe e de confianga para alinhar conosco? O bufo!” 14.Ao ouvir isto, Benjamim afastou-se do local, acabando por ficar de costas voltadas, encostado a um caixote do lixo, em plastico, que ali havia sido colocado pelos Servigos da Camara Municipal, acima do chao, num poste metalico de eletricidade, situado a cerca de 10 metros do local onde se encontrava Daniel. 15. Enquanto isso, Alfredo aproveitava a hesitag4o de Daniel para the desferir um pontapé na axila direita. Daniel nem teve tempo de responder, uma vez que Alfredo the desferiu de seguida um soco. 16.Por sangrar da mao, apés desferir 0 soco na boca de Daniel, Alfredo limpou o sangue a um lengo de papel, o qual foi de seguida langar no referido caixote do lixo. 17.Entretanto, porque Daniel se aproveitava de tal facto para oferecer resisténcia a Carlota, tentando levantar-se, na luta com esta acabou por cair 4 agua, quase arrastando Carlota consigo. 18, Esbracejando, Daniel gritou por socorro, dizendo que no sabia nadar. Apercebendo-se daquilo, Benjamim correu em diregao a uma corda grossa, que se encontrava presa ao cais, e que servia de amarra a alguns barcos que as vezes por ali passavam, e langou-a na diregao de Daniel, que conseguiu agarrar-se a ela com a mao direita, mas sem a firmeza necessaria para impedir que a mesma Ihe fosse arrancada da 4 mao por Alfredo, que de imediato a puxou para cima. 19,Benjamim ainda tentou langd-la de novo, mas fol prontamente impedido por Alfredo, que, segurando-o pelo pescogo, 0 atirou ao cho, perguntando-Ihe se queria ter a mesma sorte que Daniel. Sendo que Alfredo era o dobro dele em tudo, e sobretudo em corpo e forca. Benjamim afastou-se a correr dali, gritando para Alfredo: "vais ver que assim ainda vamos ser todos apanhados.” Sé parando ao virar da esquina dum armazém, onde no podia ser visto pelos outros. 20.Entretanto Carlota gritava desesperadamente em direc a Alfredo para irem embora dali, antes que alguém os visse. Alfredo apanhou do chao 0 isqueiro Zippo de Benjamim, que havia caido do bolso do casaco deste, e langou-o em chama para dentro do caixote do lixo, com 0 intuito de impedir que alguém, através dos vestigios de sangue deixados no lengo, chegasse a descobrir que os trés tinham estado ali. 24.0 caixote acabou por se incendiar completamente, s6 nao atingindo 08 fios de eletricidade porque estes passavam cinco metros acima do mesmo caixote. 22.Convencidos de que Benjamim se tinha posto em fuga, Alfredo e Carlota abandonaram o local a correr, enquanto Benjamim aproveitou tal facto para regressar, langando novamente a corda para Daniel se agarrar, apercebendo-se de que o mesmo ainda se debatia na Agua para se manter a superficie. 23.Daniel agarrou-se & corda com todas as forgas que tinha e assim permaneceu alguns segundos, numa derradeira tentativa de recuperar o folego. Foi nesse momento que se aproximou do local Ernesto, um agente policial que trajava a paisana, e que até ali se havia mantido escondido no interior de um veiculo automével abandonado, a cerca de 25 metros de distancia, no Ambito de uma ago de vigilancia relacionada com tréfico de estupefacientes, e sem que até esse momento se tivesse inteirado do que verdadeiramente ‘se estava a passar. 24,Benjamim, ao ver aproximar-se aquele individuo, gritowthe de imediato que chamasse a policia e 0 112, pois sentia que Daniel jd no tinha forgas para se manter agarrado a corda. Acrescentando, para melhor 0 convencer, que se o fizesse the ofereceria a cana de pesca. ‘Ao que Ernesto respondeu: “Aquela? Pode ser!" 25.Momentos antes de os bombeiros e a ambulancia do INEM chegarem, Daniel ficou inconsciente, tendo sido retirado da agua em estado de quase-afogamento, acabando por chegar ao hospital em coma. 26, Embora tenha sobrevivido, a hipoxia cerebral sofrida provocou-Ihe um défice neurocognitive que 0 deixou permanentemente incapacitado para realizar a maior parte das tarefas didrias. A cana de pesca foi 5 levada do local pela Policia Judiciéria, vindo a mesma a ser mais tarde entregue aos familiares de Daniel. Indique cada um dos crimes praticados e identifique os respetivos responsdvels. Justifique. (11 valores) GRUPO!-B . Manuel nasceu a 10/01/64 e Maria a 13/11/73. . Em margo de 2005, Manuel e Maria passaram a viver um com 0 outro em unio de facto. . Apesar do bom relacionamento inicial, a diferenga de idades, o feitio de Manuel e o facto de Maria ter exigido que aquele passasse a ajudéla nas tarefas domésticas, fez com que as discusses entre ambos se tornassem mais frequentes, sobretudo a partir de julho de 2011. Durante algumas das discussdes travadas, em datas concretamente ndo apuradas, Manuel atingiu 0 corpo de Maria com bofetadas, murros ou pontapés e, mais tarde, também com os objetos que tinha a mo, nomeadamente vassouras, copos ou sapatos. . No dia 18/12/2011, durante uma discuss&o por causa de nao ter camisas passadas ‘a ferro, Manuel desferiu uma bofetada na face esquerda de Maria, que se refugiou de seguida no quarto a chorar. . No dia 19/05/2013, a noite, Maria e Manuel iniciaram uma discussao porque aquela se queixou de nesse dia ter realizado as tarefas de casa sozinha, Durante a discussao, Manuel atirou um copo de vidro a Maria, atingindo-a no ombro direito. . No dia 10/03/2074, pelas 22h00m, Maria decidiu nao dormir com Manuel e foi-se deitar num dos quartos da casa. Descontente com isso, Manuel dirigiu-se ao quarto onde Maria se deitara e, arrancando-a da cama a forga, arrastou-a pelo chao até a cozinha. . Al chegados, Manuel pegou numa faca de cozinha, com cerca de 14 om de lamina e apontou-a ao peito de Maria, dizendo-ihe: "Se tentares sair daqui mato-e." Maria reagiu, afastando 0 brago de Manuel, procurando passar entre ele e a porta que se encontrava aberta. Foi nesse momento que Manuel desferiu uma facada na regio mamdria esquerda de Maria, que lhe atingiu 0 coragao, causando-Ihe imediatamente a morte. . De seguida, Manuel abandonou a residéncia e dirigiu-se ao posto policial mais préximo, onde se entregou e relatou o que tinha acontecido momentos antes. valores) 9. Manuel foi apresentado ao julz competente para primeiro interrogatério judicial, perante o qual relatou os factos supra referidos, confessando a pratica dos mesmos. 10.Maria trabalhava num supermercado e Manuel é eletricista. 11, Manuel ndo tem antecedentes criminais. 412.Vive no apartamento que os pais Ihe deixaram. 13. Aufere € 1.250,00 por més. Findo 0 interrogatério judicial, 0 Ministério Pablico requereu a sujeicéio de Manuel a prisiio preventiva. Colocando-se na posigio do juiz, que deciso tomaria? Fundamente. (2 GRUPO Il-A Na noite de 23 de dezembro de 2013, Carlos, nascido a 29/02/1994, o seu primo Ricardo, nascido a 23/12/1998, Francisco, nascido a 30/01/1990 e Joaquim, nascido a 27/06/1989, encontravam-se no bar XauXau, sito na Rua da Estrela, n.° 50, no Pinhal Novo, a beber vodkas e rum, em comemoragao do aniversario de Ricardo. Pelas 23h30m, Carlos e Ricardo decidiram continuar a festa numa discoteca em Almada. ‘Ao saitem do bar XauXau, avistaram a poucos metros Maria, que estava a estacionar 0 veiculo de marca Mitsubishi, modelo Colt, de cor preta, com a matricula 00-XX-ZZ. 4. Por nao disporem de automével, logo decidiram que a melhor forma de se deslocarem para Almada seria retirar 0 veiculo automével a Maria. Assim pensaram, assim fizeram. Apés esperarem que Maria saisse do veiculo, no momento em que esta se preparava para fechar as portas, Ricardo e Carlos aproximaram-se e disseram-lhe, em tom ameagador: "passa para cd as chaves do carro, sendo levas uma facada!" Ao que Maria respondeu "Oh, pa! Nao chateiem, que eu chamo ali os segurangas do bar e levam mas é uma tareia que ndo saem daqui vivos. Vo mas é embora daqui!" Perante a reagao de Maria, Ricardo aproximou-se por tras e, agarrando-a com o brago esquerdo pela cintura, tapou-the a boca com a mao direita, enquanto Carlos aproveitou a situagéo para Ihe encostar_ um objeto pontiagudo ao abdémen, objeto cujas caracteristicas ndo foi possivel apurar, dizendo-he: “esté mas & 7 caladinha, sendo quem ndo sai daqui viva és tu!" 7. De seguida, Carlos arrancou das maos de Maria as chaves do veiculo e Ricardo empurrou Maria para o chao. Depois de entrarem no veiculo, Carlos colocou-o em marcha tomando a diregéo de Palmela, pois pretendiam ir a um bar ali existente, a fim de beberem mais uns vodkas, e s6 depois retomariam a viagem em diregdo a Almada. 8. Chegados a Palmela, e antes de se deslocarem ao bar, resolveram visitar 0 amigo José, que trabalhava numa oficina de automdveis, 0 qual utilizava a garagem da sua casa como espago de convivio para 08 amigos. 9. Na dita garagem, para além de José, estavam Mariana, Catia e Zeca, todos eles sentados num sofa, a furnar e a passarem entre si um cigarro feito de folhas de cannabis. Carlos e Ricardo sentaram-se @ Mariana passou o cigarro de cannabis a Carlos, que o fumnou, passando-o de seguida a Ricardo, que também o fumou. 10,Entretanto Ricardo e Carlos contaram aos restantes que "tinham feito um carro" e que iram com ele ao bar Sapola, em Palmela, & mais tarde a discoteca Galinhola, em Almada. Como bom amigo que era, José avisou-os logo para terem cuidado, pois a policia ja devia saber do caso e 0 mais seguro para eles seria mudarem as placas da matricula do veiculo. Para isso poderiam contar com a sua ajuda, pois tina algumas que tirava na oficina e que as venderia por um prego muito jeitoso, €10,00. Carlos e Ricardo aceitaram logo 0 negécio. Depois de pagarem os € 10,00, com a ajuda de José, tiraram as chapas de matricula que estavam no carro e puseram as outras, que José Ihes entregara, com as inscrigdes 11-YY-WW. A isto tudo assistiram os restantes amigos de José. 41.Colocadas as matriculas, Carlos e Ricardo seguiram no veiculo automével para o bar Sapola, em Palmela, e mais tarde para Almada, como haviam combinado. 12.0 veiculo, avaliado em € 6.250,00, foi encontrado no dia 12 de margo de 2014, estacionado na zona do Infantado, Loures, com os vidros partidos e sem os seguintes objetos, que se encontravam no seu interior e eram pertenca de Maria: um carregador para telemdvel de marca Nokia, com duas adaptacdes, no valor de € 20,00; um par de éculos, no valor de € 145,00; um conjunto de chaves da residéncia de Maria. Indique cada um dos crimes praticados e identifique os respetivos responsdvels. Justifique. (4 valores) GRUPO II-B Foram recolhidos vestigios de impresses digitais no interior do veiculo de Maria. Ricardo e Garlos recusam-se a colaborar na recolha das suas impresses digitais, sendo que as mesmas se afiguram necessérias para a comparagao com 08 vestigios recolhidos no veiculo. Caso fosse 0 magistrado do Ministério Piblico titular do inquérito, e tratando-se de diligéncia indispensdvel & prova dos factos e a descoberta da verdade, 0 que faria? (1,5 valores) GRUPO II-C Suponha que o Ministério Publico, no Ambito da investigagao de um crime de ofensa a integridade fisica grave, previsto no art.° 144°, al. d), do Cédigo Penal, determinou o arquivamento do inquérito, nos termos do art. 277°, n° 1, do CPP. Bernardino, vitima da ofensa a integridade fisica grave, velo requerer, tempestivamente, a sua constituig&io como assistente, bem como a abertura de instrugo, alegando no respetivo requerimento apenas o seguinte: “a prova recolhida no inquérito permite com tal clareza demonstrar a responsabilidade penal do arguido Carlos, pelo que nao é necesséria a realizagdo de qualquer outra diligéncia probatéria, bastando para a prolacéo da decisdo de pronincia a mera realizagdo do debate instrutério, nos termos legals, o que se requer.” Considerando cumpridas todas as formalidades legais, admitia a constituigdo de assistente requerida por Bemardino? E realizava a instrugéo, nos termos requeridos? (1,5 valores)

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