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LUNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS ~ UNISINOS Pri-reitaria Conuaitri de Estensio Reior Pe, Aloysio Bobnen, 5) Vitenitor Pe. Marcelo Fernandes de Aquino, S} Pri-reitor Comunirio ede Extension Vicente de Paulo Oliveira Sant Anna Pe. Ms ME EDITORA UNISINOS Diretor Carlos Alberto Giant Conseto Batorial Antonio Carlos Nedel Carls Alberto Gianot Fernando Jacques Althoff farcelo Fernandes de Aquino, J ‘Werner Altmann JEAN GRONDIN INTRODUCAO A HERMENEUTICA FILOSOFICA ‘Tradugo apresentacio de Benno Dischinger Eprrora Unisivos ‘Couecio Focus 2 1 1991) Wasnt Bucgerlahat, Dama “lo nga inne pnt Hemet {ops cn ann cep ol pe En Takeo & een len Jn Grn: ee de Beano Disting.~ Sie Leo ELUNISINOS, 199.296 "(Cl Fo) Er sce Re Cape 2 Reina: Ponto-eViqgula Astesora Hatori Benno Dirchnger AGExCom da UNISINOS (Geifiea da UNISINOS, mar de 2003, Foi fio dest leg iors d Universidade do Vale do Rio ds Sino ‘Av nisin, 980 -93022-000- Sto Lspodo, RS, Brasil ‘Tel: 51 5908239 Fox 5L-908238 Erma eiora@lona.nisios br A Poutanen Emmanuel SUMARIO Apresentagio. A guisa de preficio .. Introdugio Sobre a pré-histéria do hermenéutico a Pré-compreensio linguistica a Sobre 0 campo verbal em torno de ermhneuein 52 Motivos da interpretagio alegérica dos mitos 56 Filon: a universlidade do alegérico Cy Origenes: a universalidade do tipologico. 64 AAgostinho: a universalidade do “l6gos' interior... 70 utero: sola seripeura? Flacius: a universalidade do. geamatical Hermentutica entre gramatica ¢ critica. Dannhauer: verdade hermenéutica e objetwva, CChladenius: a universaidade do pedagsico Meier: a universalidade do que ¢ sinal Pietismo: a universilidade do afetivo ‘A hermentutica romantica e Schlelermacher |A passagem pos-kantiana do Esclarecimento ‘para o Romantismo: Aste Schlegel a7 Schleiermacher: a universalizagio do mal-entendido 23 Delimitagao psicotogicsta da hermenéutica? 130 (© campo dialético da hermenéutica Ingresso nos problemas do historicismo. Boeckh e a aurora da consciéncia histérica 135, A historia universal de Droysen: compreensio como investigacao do mundo moral 139 © caminho de Dilthey até a hermenéutica 146 Heidegger: hermenéutica como auto-esclarecimento 4a interpretagio existencial. ailigente anteciparse da compreensio. 159 Sua transparéneia na interpretago 164 A idéia de uma hermeneutica flosofica da facticidade Status derivado do enunciado? ‘A hermenéutica da virada A hermenéutica universal de Gadamer. De volta as citncias do espinito Auto-superagio hermentutica do historicismo ..... 185 Histéria efeitual como principio. 190 Compreensio aplicadora porque questionadors.... 192 Linguagem a partir da conversagao 196 A universalidade do universo hermenéutico 200 ‘A hermenéutica na conversagio (0 retorno epistemologico de Bett 30 espitito interior 209 Acritca de Habermas ao entendimento fem nome do entendimento 25, Desconsiruivismo pos-moderno. 223 Conclusio naka Notas. Bibliografia Anexo: Bibliografia complementar em portugues Apresentacio Muito se tem publicado, nas ttimas décadas, nos cam- pos literieo,juridico e floséfico, sobre temas relacionados ‘com hermenéutica. Na intencao de dimensionar os temas relacionados com @ hermenéutica filosofica num especto ‘mais universal e globalizador, brindou-nos Jean Grondin, em 1991, com a Introducdo a hermenéutica floséfiea, que aqui apresentamos em sua versto em lingua portuguesa A hermenéutica, como arte, de mbito universal & universalizante, de interpretar 0 sentido das palavras, das leis, dos textos e de outras formas de interagio humana, {em sempre obtido & contiua adquirindo expressto e signi fheado, sobretudo nos circulos literirio, juridieos,flosof- cos € teoldgicos. Constatarse uma tendéncia crescente, so Dretudo no universo das Ciéncas Humanas, de valorizar os procedimentos de naturezhermenéutica eas metodologias de interpretagao, aplicadas 3s multiplas modalidades de ex- pressio do discurso humano, Segundo Grondin, o termo hermendutica, no aval uso linguisico, encerra muita amplitude e consequente impreci- sto. Pode significar explanacio, explicagao, traducio, cexegese ou interpretacio nas mais variadas areas de conhe- cimento, recomendando-se, por isso, uma delimitacio terminologica, no sentido de restringirse o termo A idéia de LO neretugao a hermentuten flip uma teoria da interpretagio. Mas, comenta © autor, num certo sentido € modo a propria linguagem ja € sempre inter: pretaglo, enquanto procura expressar © que se passa na alma de quem formula palavras. Grondin lembea que inter pretar € também uma forma de “taduzit, ou tornar com- preensivel um sentido estranho ou ambiguo, caso em que ‘uma nova formulagao linguistca se sobrepoe a uma lingua gem jé formulada. Grondin procura mostrar que, histories mente, diversas teorias hermenéuticas se t€m ocupado com este processo, formulando diretrizes e parimetros interpretativos Pedro Demo, na sua Metodologia cientifica em Ciénci- 4s Sociais, fundamenta a hermenéutica na *constatagio de {que a realidade social, ¢ nela sobretudo 0 fendmeno da ‘comunicagio humana, possui dimensdes tao variadas, nuanadas e mesmo misteriosas, que € mister atentar nto 6 para 6 que se diz, mas jgualmente para o que mio se diz" Por esta r2zao, “a hermeneutica se especializa em perscrutar © sentido oculto dos textos, na certeza de que no context hi por vezes mais do que no texto.” (1989, p.247s,) Grondin ‘mostra que, historicamente, a hermenéutica tem sido consi= derada sobremodo relevante na investigacao eeselarecimento| de textos antigos, cujo contexto séciovhistérico e cultural nem sempre € possivel reconstuit. Fo fundamental, na Ida de Média, com base no itério da autoridade, garantir a correta compreensao dos classicos, dos livros sagrados dos Santos Padres, Importincia especial adquiriu a herme- néutica apés a Reforma, quando o critétio exclusivo da Sa- grada Escritura para a Tundamentagio da f€ cris exigiv luma rigorosa investigaga0 do significado de seus textos, Empenho semelhante tem sido postulado peta interpreta- (to coerente e adequada das leis. Ea hermenéutia flosofica, para onde converge? A di- mensio filosofica da hermengutica radica na Filosofia como oan Grondin 11 perquiridora da verdade, como gestadoma e intéxprete de conceitos, como perscrutadora de sentidos € significados. Na concepeia de Ernildo Stein, “tanto na palavra. sentido como na palavea significado est implicia a idéia de lingua gem como um toda, Se precisamos do sentido e do signifi ‘ado para conhecer, ito significa que precisamos da lingua- gem para podermos conhecer.” (Aproximacdes sobre Hermenéutiea, p25). Se, com a linguagem, valorizamos 0 sentido o significado, valorizamos os elementos que cons- tinuem as condicdes de possibilidade do discurso humano. Conhecimento, expressio ¢ enunciagio do pensamento, Ancerpretagao do sentido ou do significado das variaissimas formas de comunicagao humana, eis 0 campo em que se cestabelecem as milliplas dimensoes da hermenéutica filo ‘6fica, bem como 0s fundamentos de sua universalidade, [Nesta btica, adverte-nos Richard Palmer (Hermenéutica, 1989, 19s), que "a hermengutica chega & sua dimensio mais auténtica, quando deixa de ser um conjunto de anificios © de técnicas de explicagio de texto © quando tenta ver 0 problema hermenéutico dentro do horizonte de uma avalia ‘elo geral da propria interpretagao", a qual abrange “a ques- tio mais englobante do que € compreender e interpretar.” essa forma, a hermenéutica procura integrar duas areas teGricas da compreensio humana:a tematizacio daquilo que esti inerente ao fato de compreender um discurso ou um texto e a tematizagio do que € a propria compreensiio, em seu sentido mais fundante ¢ "existencil”. Pode-se, pois, mar, que a hermenéutica filosofica se configura como lin ‘guagem capaz de articular 0 sentido e a compreensio da verdade numa perspectiva fundamentalmente filosofica, Viabilizando a critica © a autocritca no processo de compre” censto da verdade, ara Grondin, o horizonte da interpretagao no se limi- ta, portanto, as ciéncias diretamenteinterpretativas — como, D2 inireducao.a hermendutica flsifica a exegese, a filologia ou 0 diteito —, mas se extende “2 todas as cigncias e perspectivas de orientaclo da vida. Neste contexto insere-se a filosoia de Martin Heidegger bem como a obra fundamental de Gadamer, “Verdade € Método", assumida como ponto de partida e horizonte das investigagdes de Jean Grondin, expressas em seu estudo, ‘que ele considera introdutéro, sobre a hermenéuticaflos6- fica. Nesta obra aparece, como preocupacio de Grondin, a fundamentagio e comprovagio da pretensio de universal dade da hermenéutica. Como foco orientador de uma res- posta a essa questlo, assumiu Grondin o resultado de u consulta que ele fizera a Gadamer sobre o possivel funda ‘mento dessa universalidade, fundamento que, segundo 0 mesmo Gadamer, deve ser buscado na *palavra interior", Juma concepeio que jf se encontra em Santo Agostinho, Segundo Agostinho, a universilidade da hermenéutica estr- na situada na “palavra interior’, no ‘falar’ da alma consigo ‘mesma, na gestagio das idéias que se di no intimo da men- te humana, pois a fala que se exteriorza fica sempre aquém Verdade e Métodos, com 0 questionamento. herme néutico do jovem Heidegger.” Desta forma, de acordo com 4 formula clissien, ele pensava com Heidegger contra Heidegger, isto &, contra o aparente abundono do pense ‘mento hermenéutico, mas para a conseqilente concretizacio do programa, ainda por executar, de uma hermenéutica da facticidade histrica, Gadamer, a pant da concepeao da his- toria do ser, teve 0 éxito de haurir conseqii@ncias para a tevidéncia da conseigncia, historicamente situada, e para as ‘Geisteswissenschaften’ que a expressam. Na presente into» ducio tatarse-4 do desenvolvimento e das perspectvas desta hhermengutic, entendida a pani de Heidegger eda tradicto rats antiga E sempre difiell orientar-se no campo inabrangivel do filosofar contemporineo. Mas, precisimente por iso, € pre cso tenti-lo, Hi mais de vinte anos Kar-Otto Apel partiu da Jdéia de que havia trés orientagies Inisieas da filosofia: 0 imarxisino, a filosofia andlitica, bem como 0 pensamente enomenoldgico-existencialists-hermentutico ® Dessas tres escalas', 9 marxismo filosofico perdeu, certamente, algo ‘em atualidade, A heranga de uma teoria erica da socieds de, vineulada a Marx ¢ Lukies, quase nio & mais seguida ‘como marsismo ou como marxisme histérico.. Nos anos 60, ‘quando Apel propés 2 sua triparicto, como ponte de co- rnexio ainda incontornivel para as tadicoes alemas e fran- esis, que do 0 tom para a filosofia continental, por razdes histrico-temporas com que no nos ocupareMes aqui, © Aapelo a Marx tomourse suspeito, Um autor como Habermas, {ue nos nas 70 ainda pensava numa reconstrugio do ma: terialismo historico, prefere hoje, por exemplo, claborar sus to nan 3S tworla, que pretende ser critica, se se abu de seus aspec- tos sodo}6pcos, com argumentos da hermenéuica © da pragimatica anattca da linguagem, Também Kar-Oto Ape! presenta hoje sua tearia normativa sob o tule de uma hermenéutica transcendental ow prageniticstenscendental Na ealidade, anda permanecem apenas trad0 a ikica, bem coma i fenomengico-ensiencialisa-herme néutica, A caratriica tnpata desta titi deve ser en- tendida no sentito de um desenvolvimento histrico pos {ctor Se, nicialmente filosfia continental se reconheeia como fenomenologia em sentido amp (Huser), cele, Lipps, Hedegeere, segundo o objeto, nin N. Haran) tn época imedtamente posterior 8 guerra elt fi antes se fuida sob o titulo do exitencialimo Jaspers, Heidegger, Merleau-Ponty, Sante). o qusl, por std Yet, se apresentou como concretizagao do ponto’ de vist fenomenoldgica Entrementes, tendo cao na fama deter sido mods, se fez valero exstenciismo da fool hermeneutic (novamente Heidegger, Gaclamere, ern sentido amplo: a hermenéutica anscendental de Habermas e Apel, bem como @ pes-mo dernismo). Sob o nome de hermen€utict 80, a8, reun- dos diversas prinipios, como a propria flosofia gadameriana a reablitacio da Flosolia pritica, que acorteu sob su influ fncia (H.Arend, Ritter, M.Riedel, RBuber outros)! que Iuitas vezes fer falar de si como “neo-aristotelismo 3 linha historicamente relauvizante da teoria da eiéneia (Kuhn, Feyerabend) e da filosofia da linguagem (Rosty, Davidson), sas também © pos-modemismo, proximo Nietasche, da vanguard neo-estruturalista® Tudo isso vale, hoje em dia, ‘como linha de pensamento “bermendatico”. No_ presente trabalho teremos ocasiao de determinar e delimitar mais cestritamente « filosotia heemenautica ‘Ao lado das filosofias hermenéuticts continentais, vi ‘zona ilosofia anaitica, seguidla sobresudo nos paises ang verter Es experiment ailments wantormagies Bis Gan que aungem oot propa nutorcompeeensto, No ee tment do Whtgente to sob os auspice de oma reatvao Je st mas amiga trad pags (Pee, Jen Dewey) por Quine Coola, Rony Dasdson, ela sealatoslenamenc de seu prea anor de a ta lien Je Inguagom, par ruse Bs quest a tes como, por exenpi sabe a pose de ut ria vncunte¢ de un ape stber responce em ince dt relvtdae pepe da eur que dec © strane sto famues ao floor continent, HO oso aaltca- ago novo em su hirano pare ce perflarse por nerhum progana carmen delinv Gersimente staves do poseguimeno icon e trop acne caf anges pel conslenct hia, Shea coles ane exes Joan do pensameno et thendicoaracendental content, Ambos movinentn «Cao programa Ge una esta pragma da itd ir precisa wala suas chances e eos, Dest forma fesse alr de ura at-dusolugo do campo anaico Emoto cas, de un coneygenc da asta anaiia€ ermentuscas verde que com ets sna de convergénci ainda rao se pode lena nema prolemdiea floss tapeeticn Juste por iso deve tart de cor froma foma panics da lost heen, qe {iecetar em cones de eo a cise prctensio de Univeraidae da Hoh segundo as congo suns 9 Sabor sob 0 goo Je unit comselinc uc exper trens toners. Semen san se pode falar deo Comubuso da hermencutn. para 1 Ht Contempo Mas, 0 que se deve esperar da universe? Ebr estar beh de oon te ode argue once dean cirondin 37 cde uma “pretensio de universalidade” (da hermenuticn ox a filosofia)seja claro como a dia. Nem a pretense gad :meriana por universalidade — porque nele ela parece valer tanto para a linguagem, para a historicidade, como também pana a propria flosofia — nem a reivindicagao habermasiana ‘ou deridiana da mesma, eriaram aqui sua clare2a definitiva [stava-se proximo de supor que, com a universlidsde, se visava uma pretensao pela valdade universal das proprias afirmacdes. Neste caso, sera fil envolver a hermenéutica numa contradigto légica ou pragmatica. Tentou-se, pois reconstruir de tal forma a pretensto de universalidade da hermenéutica, que ela devia culminar na tese — que queria ter validade universal — de que tudo seria histoicamente condicionado. Se esta tese devesse valet universalmente, centdo, pela logica, ela deveria valer para a propria preten- ‘slo que, em consequencia, deveria apresentar-se como his toricamente Iimitads € niio como universalmente vida, & pretensio de universalidade da hermenéutica deveria, pois, estrangular-se numa autocontradigao. Esta estatégia argumentatva deve despertar a impres: silo de que se poderia escapar da conscigncia historia pela constatico de que sua universakzagio contera uma insu tentivel contrdiglo. Assim se reconstroi um mundo ldgico aparentemente sadio: nem fudo € histérica, porque um Uuniversalismo hist6rico seria contraditerio em si mesmo ‘Como Heidegger observava desde cedo, tas argumentagaes logico-formais atuam como “tentavas de suborno”,* que ‘querem iludia propria historicidade com aux da logica Continuando 0 pensamento de Heidegger, Gadamer diag nosticava aqui uma “iusto formal’, que passa & margem da verdade objetiva: "Que a tese do ceticismo ou do reativismo ‘quer ela mesma ser verthideira e com isso se dissolve a si Propria, € um argumento ircefutivel, Mas, obtém-se alguma coisa com isso? O argumento relexiva, que desta forma se BB nse a rma pice eRquimta toma suspelto 0 valor de vewade (reflex Nhe ealdude do ction ou do relativism que deste thun verdade que € ating com iso, porém a pretersio {de verdad da propia anumentao formal ‘Como poder ser mesrado pea filonoia hermeneutic, o apsla a convaclioredade logic da storia univer- Sal mance na las o hisforcinmo,Pode-se defender {jue histrcsmo tem sido o problema central por eno ‘fas parla ca hlosola exe Hegel. Se problema € pergunta pela possibidade de una verdad vinculatee, Fats forma, de uma filosofia concksvs, no horizon de tim mundo que se sibe stro, Sera que todas a8 ver eye minimus de acio dependem de sv context hstr- Co? Se fone sim, estar epret o Fanaa do relativism Gu do nilsmo. Sem duvide, a questo basice do nism Natco deve ser levada sé, Se © horionte cura deve dar a determinagio ditima, de que forma, por exem- plo, uma perversa constelagie de vida (e para a fitosolia flema do pas-guerra o exemplo extremo do violento dom fio nacional-socialista tornou-se normative) pode ser di- ferenciada ce uma outta, ou ser enticada? O questionamento metafisco do historiismo dia entender, no entanto, que fr solugao deste problema deve ser buscada numa proclt rmutoria transcendéncia da historicdade. Isso ocorre, por ‘exemplo, pelo apelo a uma autoridade supratemporal, de tipo seculdr ou sacral, que deve garanti a valia de normas que devem ser avhistoricis, ov pelo recurso a indeclina- bilidade do elemento ldgico, eventualmente pela garantia «da propria fundamentacio ultima, O que estas tentativas de Solute compartlham com o historcismo, & terem em co- ‘mum o balisimento metafisico frontal (die Gemeinsamkeit der metaphysischen Frontaufrichtung), a saber, a dit de {que tudo € fatalmente teltivo, se mo Se possui nenbuma pe ELEC b-b- He e-em ni ‘erdade absolut, No final, todavia, as solugoes sio encon- tradas pelo proprio historicismor mas, também sobre elas pode-se mostrar em seguida, que elas permsanecem histori- camente condicionadas, pois sio consuntemente supert- dase persuadidas de sua respectva perspectividade ‘Afung3o flosofica da hermenéutieaestaria, quem sabe, menos numa solugo do seu problema, do que um afasa mento do historicismo, Em Heidegger e Gadamer 0 histo ricismo é empregado, por assim dizer, em relagio asi mes ‘0 e, desta forma, manifestaclo em sua propria historcidade a saber, em sua secreta dependéncta da metafsica. Aconte ce que a tese dogmatica de que tudo € relativo s6 pode ter sentido ante o horizonte de uma verdade rio relativa, abso- Juta, supratemporal, metafisica. Somente pelo parimesto de uma verdade absolut tida como possivel, pode uma opi- rio valer como meramente relativa. Mas, como se apresen- 1a positvamente esta verdade absolute? Uma respost que satisfaca a todos, poranto reconhecida por todos, nunca Fo ‘dada, Mas, de onde provém a pretensio portal verdade? A hermenéutieafloséfiea supde que pretensio por um verdade supratemporal emerge precisimente de uma reei- co da propria temporalcade. A verdade, pensada de modo absolut, é manifestamente encarada de forma apenas ne- sativa: como 0 inefinit, totemporal, etc. Aqui se ex Dressi # autonegigto da temporalidade humana. A cacada or norma, paradigmas ou entéros absolutos da testemu= ‘tho da situagio metaisica de saida do historicismo, que dobedece & lpia de um pensamento que suprime 0 tempo. ‘A hermenéutica filoséfica deixa iniclalmente em paz a obsessio metafisca do supratemporal, cuja silencioss historiidade apontamos, para dedicar-se, em sentido em: nentemente fundamental, 29 problema da temporalidade, sob ottulo operacional de uma hermendurica da faticidade, Faz-se mister mostrar de que forma este rettceso se artic MO rire a bermenturia sien ia filosoficamente, Mas, ise delinela aqui que ell maneira de pensirafinitude € tudo, menos um pensimento acritico. E uma atbitrariedade pensar que um ser mergulhado no tempo nao disponha de nenhum meio de cttica. O curt: tiecuito esta na espectativa histGrico-metafisica, le que uma critica confiivel s6 poderia originarse de uma instincia ov norma supratemporal £ 0 contririo que ocorre. Os homens So crticos por natureza, porque estio sujitos ao tempo 56 podem air contra o mal em nome de seus inieresses € aspiracdes, que s6 podem ser pensados como temporas. Nio se necessta de parimetros supratemporais para denn cia a ditadura de Hitler ou outeos absurdos menos calam= toss, pois erties ocorre sempre e primariamente em nome dda dor que foi provocada por tal absurdo. Esta ertics nto necesita do apoio de principios aemporais. A dor inflingida fu temida, em grande ov pequena extensio, oferece, antes como depois, os melhores angumentos para a critica. Para teste fim pode a hermengutict agucara consciéncia, Talvez Se possa contestar que, com isso, a desgeaga mo pode ser fevitada para sempre, Corteto, mas poderiam ser encontr- los principios que, por si ss, estariam em condigoes de fasta a injustiga, € enklo nem seria necessirio existir ne- inhuma discussio sobre o bem e sobre as condigoes de uma cconvivncia justa e satsfatria® Um apelo para a vigilincia fe senso crftico dos homens, acoplado com um adventen- ia perante utopias metaiscas, € a no desprezivel cont buicio da hermenéutica para esta imprescindivel discussio. Mas, com isto a pretensio de universalidade da hhermenéurica permanece inexplicada. Que sentido tem, pars la, manter uma tal pretensao? Queremos ocupar-nos com teste problema na presente investigacio. Na historia da hhetmenéutica, que precisamente nesta questio mio apre: festa pretensio se expressou de maneiras ss, Por isso vale 4 pena investigar esta histo H Tia sobre as pretenses de universalidade que a constituem, ‘Com isto conquistamos a questio central de nos introu- ‘Gio: que espécie de universalidade pretendia cada forma de hhermengutica investigada © que espécie de universalidade deve ou pode pretender a hermenéuticaatual? Esta questo deve ser ditigida a0 todo da *histéria” do pensamento hhermengutico, agora constitulda, Esta pretensio jt deve, de fato, ter sido imensa part uma ciéneia come a da antiga Idade Média, que hausia todo 0 seu saber da interpretacao cde uma tia (sagrada) Bseriura; da mesma forma, para a ‘era do Exclarecimenta, que, no espirito de Leibnitz, encarou todo © saber como explicagio de sins, como. 0 demons: tram as hermenéuticas universilmente dispostas dle Chis denis © Meier, Nesas pretensdes foram cestamente anteci pads formas mais modernas da heemenéutica (por exer: plo, a semidtica). Como primeira indicacio recomend manter ante 0s ‘los a universilidade da hermenéutica como um problema tuniversal. O que a hermenéutica é capi de incentivar part f status de uma ‘prima philosophia’ de nossa era, € certa mente a virtual presenga global do Fenémena da interpreta ‘Glo, Exe est, mais tardar, na ordem do dia do pensamen- torflosotico, desc a mirada de Nietesche no perspectivismo universal Cpropriamente nao existem)fatos, porém apenas imerpretagdes"). Nietzsche €, talvez, © prime autor mo demo que tornou consciente o cariter Funcamentalmente imerpretatwo de nossi experiencia do mundo. Longe de limitar-se as ciénclas merimente interpretativas, como a cexegese, a filologia eo direto, o horizonte da interpretagao eextende'se @ todas as ciéncias e perspectivas de orientaeio da vida, O revide epistemologico da evidéncia empiristico- indutivista da cigneia favorecet-o e assim tou conelusoes a distingdo de Kant entre fendmenos e coisas em sk: 0 saber nio & um reflexo das coisis, como elas © sto inde: 42 ineradugia i bermencutica flosfica pendentemente de nés, porém sempre uma esquematizagao © mativada elaboragao dos fenémenos. Para Kant isso N20 ‘onstituiu nenbuma ameaga 3 objetvidade, porque, em prin- pio, todos os homens sio dotadas das mesmas Categorias racionais. Ele se torna, porém, um problema flloséfico e, assim, universal, logo que percebemos, com Nietzsche, que fessas categorias,i¢, 2 1220 € suas corporificacdes lingust- ‘cas podem estar sueitas a um perspectivismo hist6rico, cul tural ¢ mesmo individual, Mas, © perspectivismo nao é ne- hum dado tltimo para um Nietzsche. Em ima andlise ‘esti fundado numa vontade de poder. O pan-fermeneutismo de Nietzsche desemboca num certo pragmatismo, que pre- rnuncia a renovagio do pensamento pragmitico, tanto na filosofa analitea, como na hermenéutico-continental. © que fala em favor do respectivo direto a uma perspectiva €, em tkima andlise, o seu valor para a vida, 2 sua contribuicio para a promogao ou estabilizago da respectiva vontade de poder, Isso condue ao derrotismo ou a desorientacio mils porque as perspectivas nio sto equivalents, pois algumas se mostram mais frutieras do que outras. O curto-ireuito 6 consistria, segundo Nietzsche, em equiparar uma pers- pectiva mais frtifera com qualquer ser-em-si ca coisa** ‘Um perspectivismo to universalmente disposto pode parecer extremo, Nio obstante, Nietzsche toca com isto nu Caracteristica essencial de nossa cosmovisio moderna. A compreensio modema do mundo se distingue, como re- ‘centemente fol frsado por Habermas,® por sua reflexividade, ‘ou sea, pelo fato de que ela pode tornar-se reflexivamente ‘consciente como interpretagio do mundo. Nosso saber sabe de si como saber e, portanto, como interpretagio do mun- do, Ele no se identifica com 0 proprio mundo ou com seu simples reflexo. A compreensio mitica do mundo, porém rio & consciente de si como interpretacio do mundo. Els de ceria forma, se iguala com o em-si do mundo. Esta ca- um rout 4B ‘Bnet de lledo, Habermas a expres pa ful ee {ie uma teifeag dt iagem do mundo" Somente ha mmovderna cesencaad tem domino. av explion, {oe d eidadeapareern comoinerpreagbes, que, come tas, se espoem para a discumao e fe expocm 2 cifer, Habermas e Ntsc concoam,prtant, sobre ov ev ta aie, pragntico de nosa vito do mundo, Imbos depoem em favor da unveraidade do problema fermen, sem ar, ¢ clay, as mestas conse Em face do conente penpectivame, Habermas comic ot Venlene dit sobre rossi concepebes do mundo, £0 nhecdas como perspective consider como (pasa Camenteleginadas as conceproes qu podem er Consens. Mas, que oconstnte pode se bt ail meme por explo, pel fore Habermas rece com. Sera o consemso real como o verdadero Fle recs com tense com tafmacio de que a tet da verdad ext Sinculada 2 amecpaqao conatica de um conenso lvl ft ideatagio comatities functor no emtant Ro me Thor dow casos, como aguhaoesteo" de modo que, em ita anise, permanece conto come probleico © {que no mundo Ye, deve vaer como verdadero ole mao vas das perspecivas em principio hetropeneds, pore Giecionadas ao poder Mas, como se poe esr seo que ido € to perspectiisico? © perspectvsmo no an hem apenas uma persptva eae puta? & is & preiso responder deco, que a stoped perspective pode fealnente ser unwed, A suspeta de que uta vido do mundo sea apenas uma perspec contcionada por tmeresss e poder ene oon ode sr conta tame com qualquer concep. Petence a ca post i niroduci a bermenduta ffi ‘lo que ests sob suspeita de perspectivismo, mostar, se ela © pode, que ela nao € nenbuuma perspectiva unilateral, A perspectiva do perspectivismo no conduz, portanto, ne- a resignago do “anything goes’, ela 6a (pers- pectiva) de uma filosofia critica © hermenéutia, cujatarefa 4 de afastar pretensdes indemonstriveis de conhecimen- [No espectroatual, Nietzsche ¢ tido, portanto, como re presentante de uma *hermengutica da suspeita". © termo foi cunhado por Paul Ricocur.* para earacterizar uma estra- Agia de interpretacio, que se defronta, com desconfianc, ‘com sentido imeciato, para reconduz-lo a uma inconsci= tente vontade de poder. Ao lado de Nietzsche, Ricoeur tam- bem menciona Freud, que eduz 0 sentido a impulsos in- cconsclentes, © Mark, que o acopla retroativamente a interes ses de cusses, como representante de uma hermenéutica da suspeita, A esta ele contrapoe uma hermeneutica da conti nga, a qual aborda 0 que tem sentido, assim como este se irde modo Fenomenolégico, para esgotar as suas dimen- oes. Enquanto a hermeneutica da suspeita olha para ts, para recondusit pretensoes de sentido, reducionisticamente, 4 uma energética ou econamia que funciona por det de- fas, a hermengutica da confianca se dire para diane, para ‘9 mundo, que nos abre o sentido a ser interpretado. Esta hermenéutica no se entrega, no entanto, de Forma ingé- nua, a seducao do sentido imediato. Inicialmente, ela se deixa ensinar pela hermenéutica da suspeit e assume, en- {quanto a mesma é constativel, a sua destruigdo das ilusdes da falsa consciéncia, Mas esta destruigao deixa totalmente fem aberto a questao do significado. consciéncia, libertad de suas iusdes, ansei, antes como depois, por orientacio. Na confianga erica, ek se volta, portanto, para as possbils dades desveladoras de sentido das pretensoes de verdade, fe conseqientemente, a0 verbum inteivs, por detris de H rn Grondin 4 ‘cada sentido exteriorzado, Esta conflanga num sentido, ‘sei qual a linguagem permancceria sem sigificacto, deve exigit, de sua pare, uma pretensio de universaidade. A hhermengutica da suspeita Ihe € suboedinada, enquanto sua destrugao deve sempre ocorrer em vista de uma conscién- a “verdadeira’, mesmo que ela 36 funcione como idea reguladora. Uma desconstrugio, sem a perspectiva de uma consciéncia no minimo menos falsa, seria um disparate, Assim, ao nivel do horizonte da problemitica, jd se manifesta a dimensto universal da consciéncia hermeneutic AA reflexao sobre a interpretacdo permite 2 filosoia contem- porinea visualizar, de maneira renovada, um universal. En= ‘quanto ela tematia 0 cariter basicamente hermeneutico de nossa relagio com o mundo, a hermenéutica, de modo al- ‘gum, despede o universalism flosofico — ela 0 realiza PRE-HISTORIA DO HERMENEUTICO Précompreensao linguistica (© desenvolvimento de uma reflexio hermentutica ex plicka traz a assinatura da modernilade. Conforme fot ex- posto na fatrodugto, com ajuda de Nieusche e Habermas, ‘moderna imagem do mundo se destaca por sua auto~ cconscigneia perspectivista, S6 pode sumgir hermenéutica ‘quando € certo que as cosmovisGes no expressam simples duplicagoes da realidade como ela € em si, porém interpre- tacdes pragmaticas, isto é, interpretagOes inclusas em nosst relacao lingtistica com o mundo, Isto $6 acontece ma modemidade., Neste sentido, wo é casualidade, se a palar va hermenéutica’s6 aparece no século 17. Concepgoes da ‘modernidade podem, no entanto, ser seguidas retoativar mente na antiguidade, cujo cosmo era muito menos wnifor- me do que o pretende o cliche convencional, © qual, nio tem ima instincia, foi construido por apreciadores dos ‘antigos”. Ao lado dos racionalisas eleatas e platénicos, cexistia uma série de sofistas relativisas, os quais, no mini- ‘mo, tinham conhecimento da perspectividade das avalia- ‘ees humanas, condicionadas pelo poder. E, pois, ques tionavel, até onde a historia da hermengutica deva recuar no passido, A resposta depende, naturalmente, do que se $8 rts rrr in pretende entender por hermenéutica. Para a delimtagio do asso {ems so, portanto, necessirios alguns indicadores do itinertio ‘\ palavea hermenutic, no uso linguistico atual, vem ‘carcegida de uma enorme imprecisio, qual — o que vale para quase codos os filosofemas — deve ter contbuido para sua hiperconjunturs. Conceitos como hermenéutica, cexplanacio, explicagao, exegese intexpretagio, so frequen= emente empregados como sindnimos. Uma interpretagio de Hegel, pice, pode atualmente apresentarse sem trans- fornos como uma hermenéutica de Hegel “Consideracoes hermenguticas prévias”signficam © mesmo que dar escla- recimentos présios ao respectivo gancho interpretativo. Re ccomenda-se, pois, em funcio da delimitagao terminologica, usar 0 conceito de hermenéutica num sentido mais resto ‘entender com ele, em primeiro lugar, uma feoria da inte pretagio, Neste caso, pode permanecer nceterminado 0 si nificado de teoria, pois cada hermenéutica tinka também tuma concepeio diversa daquilo que deve ser esperado de uma teoria hermeneutic. Para alguns, esta teoria deveria ser uma doutsina sintética (Schleiermacher), isto é, uma rmet6dica indicagio de regras para lidar com textos, cuja tarefa era predominantemente de natureza téenico-normativ Ela queria ensinar © modo como se deve interpreta, part climinar a arbitrariedace no universo da interpretacao, Para ‘outros, a hermenéutica deve renunciara esta tarefa técnica, ppara assumir a forma mais abrangente de uma andl filo- s6fica ou fenomenoiégica do fendmeno origindrio da inter pretacio e, respectivamente da compreensio, Em sew modo Fenomenolégico de funcionar 3 hermeneutica, aparentemen te, nao mais ensina como se deve interpreter, porém, come € fato se intespreta. Basicamente, nao se pode lidar nem com uma hermenéutiea metédico-normativa, nem com uma hermenéutica fenomenolegica as tan Gromain 49 ‘Galeance do conceito de interpretacao também & var vel. Caso se afirme que a linguagem, como tal, ji € sempre interpretago, uma teoria da interpretagio seria uma teorit universal da linguagem ou do ster. Mesmo que a lingua- ‘gem inclua inevitavelmente a interpretacio, isso eificilmen- te forneceria um objeto para uma introducao histrica no ‘campo da hermengutica (neste contexto tataremos, NO en tanto, da contribuigao hermenéutica para a teora da lingua- gem). Aqui também parece convenience usar heursicamente jum conceito mais restito de interpretagao. Desta forma, a imterpretigao 96 aparece quando um sentido estranho, ou percebidlo como estranta, deve ser tomado compreensivel Desta forma, o interpretar & um modo de tornar compreen- sivel, ou um modo de traduzir um sentido estranho em algo compreensivel (nao Forgosamente em algo familiar, porque colsis mo familiares podem, como tals, ser desvendadas pela razio), E com este processo de intespretacao que se ‘ccupa a teoria hermenéutica, Ele parece ser algo secund- rio, se 0 considersimas apenas como um fecorte minimo dt fexperigncia humana, mas adquie relevancia universal, logo ‘que agente se der conta de que todas as ativdades huma+ ras tém, como base, um deteminade processo de com preensibilidade, mesmo que seja apenas como ‘telos’(fina- lidade) distante. A pretensio de universalidade dt herme eutica dar, finalmente, tstemunho disso. Somente no sé- clo 20 a consciéncia flosofica descortinou essa universali- ade. Antigamente, 0 processo de intespretiga0, com raras cexcegées, era trtado como problema especial, do qual de- via assenhorearse uma disciplina normativa auxiliar no AAmbito das eiéncias snrerpretatvas, ‘Uma histria consequente da hermenéutica, em funga0, de seu autoconvencimento, deve retroceder zgens “provincianas". Ineressante para o desvelamento de sua arqueologia, € a circunstincia de que exis wm deter. SO mirecuzao a bormentutica flasifica ‘minadas eras axiais da hermeneutic, por assim dizer, €po- cas de iluminagao (Schaltepochen), nas quais 0 problema da interpretagao se tornava um tanto mais candente. Meso ‘quando elas, o que ocorria com mais fequéncia,eram cons- tatadas a parti do depois, ou seja, a partir do horizonte da bistoriografia atual, foram sobrenido experiéncias de que- bra da tradigao que faziam germinar 0 problema da inter- pretagia e de sua teoria hermenéutica para um renovado destaque. Assim, por exemplo, foi desenvolvida, a filoso fia pos-aristotélica, uma toria da interpretacio alegorica dos mitos, para submeter os micas desconhecidas e chocantes 4 ‘uma valorizacao racionalizante, que tansformava um senti- do estranho numa nova atualidade © nivelamento da que- bra da tradigto ocorsia, entio, com muita freqiéncia, pelo prego da violéncia expositva. Da mesma forma, o andncio de Jesus, que parecia pospor a tradigao judaica, devia des- pertar uma particular teflexa0 sobre 0s principios da inter- pretagio. Para a Idade Média em geral, a interpretagio de- via assumir um lugar privilegiado, ji que todo 0 seu saber repousava sobre a exegese da Sagrada Pscrtura € dos esci- tores da Antighidade, A transformacio da hermenéutica ‘medieval pela norma da ‘sola seriptura” por acasito da Re- forma, tornou-se um novo incentivo para a reflexio hhermenéutica. Assim, com frequencia, como, por exemplo, ‘em Dilthey, la celebrada como o inicio da hermenéutica Mas, nao deixa de chamar a atengio que 08 tratados her- ‘meneuticos, produzides pela Reforma em sua controvérsia ‘com o catolicsmo, borbulhavam de fegras que eram tradas dos Padres da Igrea, de modo que essa era axial, ou hora ‘do nascimento da hermeneutica, € muito menos revolucio- nia do que costuma ser aceito na historiograia clissica, vinculada a teologia protestane. [No século 17, camecando com J, C. Dannhauer, brot- ram muitas hermeneuticas ou doutrinas universais da int ¥ See oan Cronin 51 Dretaglo, hoje quase esquecidas, cu objetivo era o de pre~ tender mediar, no espirito do racionalismo, determinadas regras para a exposigio do verdadero sentido de trechos de textos. Estimulada pela revolucio copernicana de Kant, o qual arranjou para a subjetvidade uma nova e consttutiva fungao no processo do conhecimento, ocorreu, no Romian= tismo, uma nova ruptura, a qual, no entanto, se limitou, primeiro, ao esabelecimento de cinones da teoria da intr pretagio subjetivamente matizados, mas, também aqui, atra- \¥és de uma ampla transformaco de material mais antigo. O {mpulso subjtivista da critica kantiana evocou, em fins do s€culo 19, 0 desafio do historcismo, que colocou radical mente a teoria hermengutica diante do problema da objeti- vidade, relativamente novo, porque incentivado pela expan so das e€nctas natura, Emi autores como Boeckh, Dilthey © Droysen, adquiriu expressio 0 desideratum kantiano de uma critica da razao hist6rica. © futuro da hermenéutica parecia, agora, estar preservado na metodologia das cinci- as do espirto, Foi precisimente 0 processo de alienayao, que a obsessto com metodologia e a teoria do conheci- ‘mento provocot na filosoia, que conduziu, em Heidegger, A universalzagio e radicalizagao da hermenéutica, O “tor har compreensivel’, que desde o inicio tirava 0 flego do cesforgo hermengutico, ji nao era mais um epifendmeno, ‘stad @ margem das eiéncias vinculadas 2 textos, porém o existencial hisico para um ente subocdinado ao tempo, 20 qual, neste seu ser, interessa este proprio ser, At€ Gadamer €¢ Habermas, manteve-se este horizonte da hermenéutica que se tomnara irevogavelmente ilos6fica, [ACE a, a histria da hermen@utica foi, tlver, apenas ‘uma “pré-histéra", Ocupar-nas-emos, agora, com suas est ‘cbes mais importantes e iniciaremos com uma reflexio tetimologica retroativa $2 inroads a bormentusen fesifica Sobre o campo verbal de epunvevetv A idéia de que a hermenéutica tem, como objeto, a compreensibilidade de sentido, enconta uma primeira base na etimologia, Desde G. Ebeling,” costuma-se distinguir ts orientacies do significado de ermenetiein: expressar (dizer, falas), expor Gnterpreta, explicar)¢ traduzir (ser interpre: te). Nao € dificil entender que as Gimas duas fungdes po- ‘dem ser reproduzidas pelo mesmo verbo, porque o taduzi, 2 transposicao de sons de ressonancia estranhia num discur- so familiar, num certo sentido & igual a interpretar. O tradue tor deve realmente esclatecer ou tornar compreensivel aqui- Jo que um sentido estranho quer dizer. Desta forma, restam dois signiicados bisicos de epunvevetv: expressir © inter pretarTambém aqui pode-se constatar um denominador ‘comum, porque, basicamente, em ambos os casos se trata de um movimento mental semelhante, dreclonado para a ‘compreensio, $6 que esta, como o formulou J. Pépin, esti vientada uma vez para fora € outra para dentto, AO “ex: press’, o espirito traz, de cert forma, 05 seus conteddos fntemnos para fora, para serem conhecidos, enquanto 0 “interpreta” procura desvendar a expressio externada em seu contedido intemo, Em ambas as orientagoes trata-se, Portanto, de uma compreensbilidade ou de uma mediago de sentido, O interpretar procura o sentido interno por tras do que foi expresso, enquanto o expressar anuncia, de sua parte, algo interior. Desse modo, fics claro, porque os gregos pensavam o expressar como Um “interpreta, como epunvevety.O dis- curso expresso € realmente a transposigto de pensimentos em palavras, Por isso, a obra logico-semntica de Aristoteles eri herméneins’ que tata da sentenga que pode ser verda dein ou falst (0 hoyoo axopavrKoo"), foi simplesmente ‘eproduzida em latim por ‘De interpreatione’. A declaracio Joan Grain 53 Gherménéia) € sempre a wansposigio de pensamentos da alma (do interior, portanto,) para Uma fala exterior. A sen- tenga é, assim, a mediadora entre os pensamentos e 0s des- tinatirios. Eta concep grega do discutso (da alt) culimina fem distingo estoica entre © Aoyoo FpOgOpIKOD E 0 RoyOS evbiadero9 (0 logos expresso ¢ o interior) O primeira $6 se relaciona com a expressio Cherméngia), enquanto 0 timo visa seu interior, 0 pensado (dinoia)® A *heemeneia’ ada mais € do que légos expresso em palavras, sua imadiagio ad extra. Quem, por sua vez, quiser explicar a palava fala da deverd tentar 0 caminho inverso, para dentzo, em dire- ‘20 a0 logos endiitetos. O epunvevely apresenta-se, pois, realmente, como uma acio de mediagao de sentide, que retomna do exterior para o interior do sigaificado, ‘O conceito de hermenéutica € geralmente considerado ‘uma ctiagio da modemidade. Isto, sem dvida, ¢ corer, fenquanto s6 se tem em mia a hermengutica latina. Este termo nao é, entretanto, senio a traducao latiniaada da pa lavra (herméneutiké), que j4 se encontea entre os greg. Fla aparece, por primeira vez, no corpus platénico (Politkos 260 d 11, Epinomis 975 c 6, Defintiones 414 d 4). A fungio {da ‘hermeneutike' no Politkos & de natureza sacral ou rel toss. A Epinomis coloca a hermeneutiké 20 lado da mantiké ou arte de vaticinar, como duas espécies de suber que nao podem conduzir ‘sofia’, porque o hermeneuta s6 conse ue entender © que fot dito (U6 legomenon), sem saber, Todavia, se isso & tambem verdadeio (ahnBea). Ele eapea tum sentido, um dito, sem poder descobrir sua verdade — ‘uma empreitada que cabe, acima de tudo, a o0gte. E possivel estabelecer uma distingao entre a “mantike (quiromancia) e a hermeneutike’ (a titulo de tentatva: adie vinhacao®). Nem a Epinomis — nem a passagem do Politkos (porque também este aduz a “herméneutike’simplesmente numa lista de cigncias) — fornecem sobte isto sufiiente H inrotusa a prmentutea foes Hi area. Cea € a razio, pela qual a mantke sozinha, no pou condusr a nenhuma "soit ot veriade. Pols the € Irerente oma insinia (de Havia). Assim observa Plato n0 Timaios Ga-72b), que, 40 stingido pela snsinia, faa Sireanspecca0 pa julara verdad do que asim fol vs, mesmo que seja de origem divin. © insano esto fora de Si que f no consepue interpreta racionalmente a prOpria experigncia® Mas, a quem cabe esta competéneia racional? Segundo 0 Timaios, ela compete 40 profeta (po@nmo) Somente ele est em condigdes de averguar a verade na Uh ser humano imerso em loucura A “hermeneake mmo é mencionada neste contexto, Deve sia atidade ser Suada do lado da insinia, que oases A mantike, 00 60 Tado do proetico? Esta questio no pode ser convincente mente tespondiéa com base apenas nos textos patios Na resume teratura greg o significado de ‘profes’ t= bm ficou um tanto ambiguo; or ert anunciado, com ele, pregecito do divino, dictamenteinspirado pela divindade, tra fneyprete das plavras de uma pessoa inspiada pela divindade’ De um modo oa de outo. cree atibuia Um fungio mediadora,em relagio A qual deve terse em conta jue cla podia ocorer em dos niveis. Num e280, tava ‘da mediagio enue os deuses eos homens pela pessoa imersa ta loucura (ou profeta), no outro caso, da mediaclo entre Os homens ¢ © propo mediador aus fungoes mediadoras vale da mesma forma para co erméndus. Numa pasagem frequentemente cada, Patio tesa os poctas como os epi 10 GEO" Con, 534). No mesmo dilogo, todavia, o8 rapsodos, que apresenta fam as obras dos potas, so conserados Como 0s ime- pretes dos interpetesC@punvevoY epunyne, Ton, $35 2). Da ‘resma forma como o ‘prophétes 0 ermeneus’ parece ser, {amt © mediador emir douse 08 homens, como tabs © tmediador entre 0s homens e o (insino) medaador.O her- i EEEEEEsEESESESESESRSREREEEEEEEEEEEY (ec =T- ‘mencula& por consepuinte, o mediador de um mediador, 0 tmediador de uma ‘hermenéia’ — uma fungao que pode er ampliada ao infinito, porque ha sempre mais a dizer € intermedi, do que aquilo que realmente se deta expres- sar por pays. ‘atividade mediadora do processo hermenéutico con- lun, ji na anighidade, a que a fafa verbal em torno do Therménéus’e da herménedtiké fosse relacionada etimolo- sicamente com 0 deus mediador Hermes. A conexio é, sem livia, demasiado patente para ser verdad Por ss, na flologa mais recente, em quase toda 4 pant, foi encarada com rizoivel ceticismo" No entanto, nenhuma explicao ttimoldgica conseguu, até agora, imporse univerilmente, de modo que a questo sobre a origem do campo verbal de “hermenéuein’ deve, qu, continuarinconclusa, ‘Ao nivel do significado verbal, deteve-nos sobretudo, 286 agora, 0 horizonte sacral da herméneutke. Uma faba de sentido bem mats profana, porém aparentada, ia pode: ‘mos encontrar nas Defintiones pseudo-platénicas (414 d 1D, onde o advo ‘herméneutke quer diver “sgnficando algo” Esa leiura semarnica encontra-se normalmente na palava emda’. Ela significa nto apenas expresso, como também linguagem em geral? uadueio, explanagio, mas também estilo ou diego (elocutio)” © men epynvesc (ia tm; De elocutione), de Deméao, &, por exemplo, um tatae do sobre exis." ‘Aqui também deve altar aos os a fungto unitra da ‘herménia’ Tatas sempre, com el, ca reproduglo, tor nada compreensivel, de algo ji pensado, Poi, o que € “es lo, Sento a extosa reprodug2o de sentido? Exe contexto continvow sendo decisvo na antiga Iteratura latina © na patrstica, quando ‘hermenevein' era reproduzido por Interpreat € herméntia’, também quando s6 era pensada como declaragio, era reproduzida simplesmente por SO rraduc a permentutce flocs ierpretati, £ muito bela a definigio de Boécio (480-525) intexpretatio es vox aticulata per se ipsam significans. Filon de Alexandria (por 13-54) também vai entender, com hermenéia’, © Togos’ expresso em palavras.* O Padre da Fgreja Clemente de Alexandria (150-215), pensa do mesmo mado 7 tha Stavour epymnveue como manifestacao do penstmento pela linguagem."* ara uma hermendutica floséfia€ importante, aqui, & amplitude da relagio — a qual nto implica indeterminagao (porque & akamente consistente) — que 2 antigtidade ve centre a linguaigem como reproducio ou ‘interpretatio’ dos pensimentos, © o ‘hermenguein’. Porque a explanacio, ou traduglo, que também € amplamente chamada de ‘hetme- na’, no expressa send a conversio deste processo do tor nar compreensivel, que distingue a linguagem em sua essen cia. A pretensio de universiidade da hermenéutica con- temporinea deve simplesmente recuperar esta conceps2o. Motivos da interpretagio alégorica dos mitos ‘Com esta evidencia linghisia, que considera basica- mente & linguagem como ‘interpretato', to dados, no en tanto, apenas os primeiras passos para tuma teoria explicita da inlerpretagio, Ela ainda nao consttui nenhuma fierme- nutica em qualquer sentido sistematico. O problem da compreensibiidade $6 se tornari agudo para si proprio, {quando a mesma jf ndo der certo, A necessidade de uma Feflexio explicita sobre a interpretagio, sobre 0 acontect mento originério da linguagem como ‘interpretatio', como reprodugio dos pensamentos, deve-se — © mada € mais hhumano — a experiéncia da incompreensibilidade. sta reflexio s6 emergiv quando a aio de compreen- der se viu colocada ante o desafio de passagens da tradicio sum cot 57 Felgosa, ques womaram chores, Sobreudo no perodo Ieenisa, quando.a divino fol propressvamente equipa- tudo a0 loge acional ~~ al este pontootnha cons Go-a flosohia—, 1 mo parecia. convenieme a Deus, 3 tudo lar de contin demaado humanas, como loge 0 chime no Olmpo dos deuse, como eo aso n0 pe tx pic poe). A inguager mite ko pod ae er Conceia 20 pe lea gu em seu sent ear, Ea cig oma inerpretgio “alegre, Os seus iniiow slo feralmente dtecados na floeoia ex6ice, que claborara ta Imexpretaglo ssenace,sadonalzantee, por conse. fume, sega do mites, quanto cla seria fnaliade de adapta um antigo potrimémioespital 4 mentaldade de epocas posterior, f pred alegoia cern, hai aia, wa vr que Pato e artes ji haviam prod interpreta st nai de mis, Ae mesmo of rapsods, emo fosse ape tas no elo decanaterioChermentin),sttzetam 0 Ros {o do publco de sua epoca. Tambem na nerprtao pre tabinicn dn Sogada Extra cconeram denvee do seni ier,” oq, cvenalment,provocavaescindal. Ft praxe eth por asin der, pa base da ssc da endl, Eom medio de sonido, A pat do conto pleno de “herménuc, ea claro que, ands do que € expres Me flenteseeaconta algo divers, algo sleion que neces Ska muito made um esorgo hementico uma ez que 0 Senido ediato, Mer €incompreenste Baa prin ofl sbtematada eeevada 8 constinci ment Son, Noentan, ¢ problema em via So Carter acoso da wadio (Que mao eonservou 3 pester Ge ner tata completo dos econ) diel de et telecercom certs, se Sou tmbom no vango st uma teoia da algeria. A propria expresso CAM inex fre os eats Es pet, ual em de sigs SB rode armoire fice if enrespondent,uAovota, que Xenofone © Pio ft empre {vam em sentido alegrio.1-vnovot uma forma de co- mmunicagio inde, que di algo, pam dara entender algo diverso — um procedmento que 0 verbo cdmOpEYcon- dust ao coneeto que litetalmente signifi afimar Cayopevew) algo diveso (200), « isso publicamente (O termo copa pode ser eseutado aqui. As do sentido da ‘agon! erste um out, mals profundo, que primeira via pace eotunho & ‘ago inerpretaio pablica ‘A prins de uma interpretaao sleorzare dos mos consists, pis, no seguint!em encontrar, ars do chocante Sendo teal, um significado mais profundo. © aspecto tscandsloso ov absurdo do sentido imediato€ preciamen- fe um aceno de que se pensva num sentido alegérco, que © ouinte ou keto avsado devia descobrir, Mas, em que Consist ee significado de natura vena? Agente no se precipita na abitaredade, quando abandona o sentido I tera Embora este isco nto fosse contornivel € na ant suidade ivese peado deseréito para a legorese, os intr- Dees alegorcos acentuavam que sempre se devia par do Sentdo literal, para ordendlo Cometamente. © recto pre- ferdo para est fim er a eimologa, Pos os estocos eam de opnito que os humanos mas amigos ainda earegavarm fem so Logs ndo falsifcao, podendo, por sso, penctrar ta exsenca das colsas” Esa pins ¢ expectalmentevsvel to segundo lvro ‘De natura deonum de Cicero, onde € fet 0 relato de um dscuro atibuido a9 estoko Balbus Balbus queria provas que os gregs tnham tansformado {ualdades moms, ou foras natura benefias, em deuses Assim, com o nome Situno deve-se entender 0 tempo, i foe Satine sigica “saturado de anos" (quod satoretit finns)" Desta forma, aetimologi pola forecerexlarect- tmentos sobre a diego do significado oculto que ultapassa fo sentido Itera yy fn ae Socele que & expresso @rope prove, prop mente a Retics ft cunhad por wit rama, © PrcdHertltosée D.C) fe deta x sega como ton opos rete, que possi er aig e a0 mesmo tempo aud lg vena" hslegora nie primes data oat imelecual da terete, pos ee fed dma na lnguayern le anem ¢icreme uoeto delaras ingenge, aim caput de cvoc Por fig arma, lg dierent ndtivel ques dstngzo ata ene un Seg prefork eum logs enters Sot camino part esa foragio conceal etic © discus expesado mao basa 3 propo, le nde algo divero, de que esa Na mespreigi en compreeno mune, eidenement, Sete Lagos ten rao pal via ms A Inguagent conde port ecohecer © Logos Meso em sus lage ea lupus as, Anes ue cla stoma uma tecfa da inept. leona of amples uma forma de cura qoc arbem Eee eeeeeeee eee ey tele tan aver cama mdi sou. De aon tomowse usu, ma pesqubaesabelcer ua dino crue align corto gun dkeurivs og, re. toda 20 superar es algo que alien 6 proses ‘Septet de nerpreaci,tecorducio da aes vont ara senid que neue comnncaca igor comer da alegoa ‘motos de lterpcagto alga dos mios, ou sefa da slegorese, 20 ups." © prime € de mura tora ela ces sats ciinaosrpec canal da Terai men: De acon com ele palais do acute. Herdllo, a soporse uncon comoa.gupaxov 10 beef, como pandcem conta 2 mprcace O Bund meso semtiane ao pene, er Je onder rca, A Sion quer demonstrar que 2 itepreasia racional do 60 mirstucso a bormensureafilsica ‘mundo se coadunava com © mito, de cert maneira como testemunho para a sua convicglo de que 0 L6gos universal 6.0 mesmo em toda a parte: Finalmente, associava-se a festas uma motivagao talvez utiliaista. Nenbum autor da paca queria dspensar a avtoridade dos antigos poetas. Para 4 Stoa foi sempre imporante manter a autoridade do mit. ‘Anteriormente, a suspeita de impiedade podia evar 2 sim- ples rejeigdo da poesia mitica, como foi o caso em Xensa- ries e, no raro, em Phtto.® A Stoa ji nao podia conceder- se este direito, Ela necessitava do apoio da tradiglo para :manter sua cosmovisto, apesar da relacio fragilizada com o ‘mundo grego mais antigo, Quanto mais probiematica e dis- tante se tornara a tradigto, tanto mais premente era salvi-la, tembora acificialmente — com ajuda da alegorese "Nenhum destes ts motivos esté basicamente ultrapas- sado, Também hoje € eventualmente mobslzada uma inter- pretaglo alegérica, para reinterpretar moralmente 0 sentido de passagens condeniveis, para pOr a razo em consoniin- cia com a poesia, ou para manterintocivel a autoridade dos clissicas. Enquanto brotou desta motivagio, a concrecio festoica da doutrina do Logos interior ¢ exterior na explica- ‘elo alegérica dos mitos deu um impulso substancial para 0 desenvolvimento da hermenéutica Filon: a universalidade do alegérico Prudentemente, porém, nds deixamos de fala, na Stoa, de uma teoria hermenéutica, ou seja, de uma hermenéutica fenquainto tal, Esbogos par isto encontram-se, em seus primérdios, num autor da tradicio judaica fortemente influ- enciado pela Stoa, em Filon de Alexandria (entre 13-59, Geralmente ele € tide coma 0 pai da alegoria® No entanto, tem parte alguma ele define o seu método alegsrico.” Ele oan Grondin 61 também ¢ sobretudo um pritico da alegorese, agora aplicar da as Escriuras do Antigo Testamento, que raramente refle- te sobre os tragos fundamentais de seu procedimento. Em Filon, a alegorese permanece apologeticamente motivada. Ela seri adotada, quando uma interpretagao lite- ral trouxer em sio risco do mal-entendido mitico. Mas, como ‘se pode saber, Se um texto deve ser interpretado literal ou alegoricamente? Segundo Filon, o autor ¢, conforme 0 cas0, Deus, cuida para que seu texto seja entendide alegorica- ‘mente, enquanto espalha em scu escrito sinais objetivos ou apoios da alegoria." O primeiro livro de Moisés, por exem- plo, fala de arvores no paraiso, arvores da vida e da ciéncia (Gen 2, 9), que so tio diferentes das nossas, que uma in- terpretacio literal parece implausivel. Assim, existem na pré- pria Eseritura trampolins da alegorese, como a aporia, absurdo, o estranho ou 0 enganador da letra, que no autor dda Sagrada Escritura $6 pode ter sido intencional, porque a Revelagio divina nio pode conter nenhuma inverdade.” Ela ‘quer, antes de tudo, revelar mistérios incorp6reos e divinos,, para os quais sentido "corporal", em principio, € inade- ‘quado. A panir do contetido impoe-se, portanto, a via ale gorica Filon compara 4 relagdo entre o sentido literal e 0 ale- g6rico com a que existe entre 0 corpo ¢ a alma — uma, metifort que, por sua enorme cficicia historica, justifica ‘uma citagao mais longa da passagem decisiva: “A interpreta- ‘Gio (@Enynoeto) da Sagracia Escritura acontece de tal manei- fa, que € esclarecido o significado oculto através de alegori- as. Porque 0 conjunto dos livos das leis equipara-se, na perspectiva destes homens, a um ser vivo que, como corpo, € possuidor dos ordenamentos literais, mas, como alma, possui o significado invisivel oculto nas palavras. Aqui, $o- bretudo, a alma dotada de razio comeca a enxergar © que Ihe € familiar. Ela enxerga através das palavras, como ara C2 mreaugaa rermentwre foi ‘és de um espelho, a incomensurivel beleza dos pens rmenios que nelas se mostram" ela desdobra os simbolos alegoricos € os afasta, desnudando, na 1vZ, 0 significado das palavras para aquces que estio em condigdes de en- erga, por intermédio de pequenosindicios,o invisive atra- ves do vive.” © fato dea slegoria queer ating algo inisvele mais levado,traz consigo que este sentido io pode ser imecl- atamente acessivel aos letores. Somente 0 iniiado, 0 intér- prete vocacionado € experiente pode penetra até exe sen tido mais elevado que Deus queria preservar do letor co- mum, o qual fica preso no contetido literal. Como explica Filon, somente aqucles que, com base em pequenos indici- 0s, consegiuem entender o invisivel através do visivel (tos {danimenois ek miers upomnéseos a afané di ton faneron torn), estio em condigdes de captar o sentido mais pro- fundo das Eserituras. Desta forma, Flon seriu-se abundan- temente da linguagem Grico-mistagdgica, para descrever a tlevagio a0 sentido alegorico. Ela nao existe para multos {e900 Tove ROtHOVD),€ sim para aqucles poucos (RPE ontyoUG) que se interessam pela alma e mao pela letra.” A chave da Escrtura s6 se descerra para 0 circulo esotérico aqueles que sio dignos do invisvel. Mas, € propriamente tevidente, que 0 discutso religioso sugere uma compreension Alegorica de si mesmo, i que ele quer tratar do supraterteno por intermeédio de uma linguagem totalmente terrena, Que © Légos falado, 0 Aoyoo xpopopIKOS, jt quer sempre ser Sinal de um outro Lagos invsivel, sé podia favorece tal concep¢ao. ‘lis, naquela epoca, ou sea, da Stoa até a Patristics, ‘era realmente convieso muito difundida, que @ toda real- dade religiosa devia ser proprio algo simbolico, indireto, mmisterioso:" © assum religioso trata do espitito, ou sei, ealg esotérica que somente a alegoria 0 sentido esprti- an Gronsin 63 al ou pneumtico, descobre, Lentamente impdsse a convie- Glo de que a realidade religiosa consistia exclusieamente de mistérios, coisa que, a partir do objeto (0 divino) e do destinatirio humano (preso a0 corpora), parecia totalmen- Mesmo quando ele mesmo sublinbava a inevitabilidade do sentido literal © admoestava sobre 0 perigo de alego- rizagoes radicais, © proprio Filon nao escapou deste sco, Encontram-se nele afimagdes, segundo as quais tudo na Sagrada Escritura consist de mistérios. Cada passagem seria misteriosa e necessitaria da alegorese. A primeira teo- ria palpavel sobre aalegoria, que a antighidade tem a ofere- cer, culmina, pois, na intuigio do cariter universal do ale- férico. O que aqui se manifesta primariamente em terreno {edrico (porque isso jt estava presente na compreensio lite- ral da Epynveta), & um remoto preambulo da pretensio de universalidade da hermenéutica, A idéia que ela sugere, & 2 cde que tudo 0 que ¢ literal deve, para ser plenamente en tendo, apontar para algo pré-literal,. As Eserituras nio se Dastam a si mesmas," elas necesstam da ajuda ou da luz de algo diferente — uma caréacia que 0 alegorico trata de St- tisfazer. Sua universalizaglo € um aceno para a necessidade ‘de uum retomo, a partir do 20700 RpogOpLKOG, 0 espirito que 0 vivilica. $6 este espiritointeressa a0 inézprete A universaidade do alegérico — que, desi, nao deve- fia ser contestado, porque nenhuma palivra escrita pode bastar-se a si ppria — pode, todavia, conduzira0 negligen- ciamento do Logos literal, da vontade de expressarse, reve- Jada nele © somente nele, o que pode abrir as poras © os portoes para a arbitrariedade interpretatcra, Por 80, j na antiguidade, 0 prazer fildnico pela alegoria foi mal visto lon afastou-se, com isto, demasiado fortemente do prima- do da interpretagio literal da lei, que caracterizava os intér- pretes da Tora, menos contagiatos pelo helenismo 6rfico A tiradusio a ormensurcafsicn ‘Genamente por esta rao fo) escassa a Sua influéncia sobre a exegese palestina, a ponto de ele ser slenciosamente ex- cluido, pelo judaismo rabinico, dos cinones da tradicio ju daiea* Origenes: a universalidade do tipolégico ‘Tanto mais profunda foi, no entanto, a eficicia da alegorese ildnica na primitiva crstandade. Pois esta, desde © inicio, esteve exposta uo particular desufio inerente ao lantineio de Jesus e sua implicit relatvi2acao da lei judai- ‘ca. A partrde sua doutrina, a lei mosaica e sobretudo sua profética esperanga messiinica j4 90 podiam ser entendi- das Hteralmente. Mas, j4 que Jesus apelava expliciaamente para a sua autoridade, a tradigto judaica também nao pods ‘et simplesmente posposta. Recomendava-se, pois, interpreti- la alegoricamente e reelacionélaintegralmente com a pes- soa de Jesus, Jesus era 0 espinito, a parti do qual a letra do Antigo Testamento devia ser interpreta. As propias pala- ‘ras de Jesus j4 conduziam a isto, pelo menos segundo © testemunho do sitimo Evangelho: "Pesquisai as Eserturas (2, sho elas que dio testemunho de mim’ (Jo 5, 39). "Se voots acredtassem em Moise, também acrelitariam em mim, porque foi sobre mim que ele escreveu (Jo 5, 46) ‘Que tena sido este 0 caso, mo era nada evident, jt {que 6 messianismo judaico levava antes a esperar por um poderoso soberano, que haveria de restaurar © reino dos judeus em sua antiga magnificncia, e no um messias que se estabelecesse acima da lei ¢ morresse crucificado como blasfemador. Aqui nlo era possivelsofismar sobre o sentido literal das Eserituras, Por isso, precsava ser proposta uma ‘nterpretaglo alegérica, com ajuda da chave hermenéutica, ‘a qual era fommecida pela pessoa de Jesus. Esta interpresacao alegorizante do Antigo Testamento, relacionada com Jesus, adquin, mais tarde — e somente no século 19 — 0 rome de “tipologit", Seu objetivo visava {go Tesamento “Typor’, isto &, prefiguragdes da figura de Cristo, as quais, antes do aparecimento de Cristo, deviam permanecer, como tis, desconhecidas, Fa leituratipologica a Biblia, que Jesus mesmo recomendara, chamavase mt poca, por falta de algo melhor, mas em consonfincia como espitito do tempo, de “alegérico" Por longo tempo tentou-se, na apologetics eclesist- {uceida Jo wexto. Em perspectva meramente erpenéutic, Sontudo, nto se traava de algo desconhecido. Part Paistiea, por exempl, vais 0 pimado da Sagrada Esc fa Em Aggotio pudemos consatar que sempre cr pret {0 parc das Esrtars, Assim, odes as passages obscras deviam ser esclaecias com pussagens pall das Eser- turas No inicio de sua ‘Doct christ le recomend ‘a ler ler primeio toca a Fscura © confers, para Un, ur exclnetedora do espito, Opostamente& tend {i alegorsante dos alexandrinos, ele pana, 20 depos, da orignal compreenibliade da Sagrada Escrmura, Que ee faa tempo de Luter, pendera de vst esta videnca,€ Inteamente correto, mas numa perspecivahermentutcs€ {desmenor importinca, i que na Reforma, se trata ape mas de recuperar una evidéncia perdha, sola script, Dem come claezafondamentl da Estitura era pl revhermenéuicos da Patrstica, que Ltero no minimis Sin recs da alegorese e Jo quadruplo sentico da Esta Sigeavam, sob este aspecto, uma renovacio provocsdors Gs menaldade patisica, Postivamente, a teegao ds dlegorese, que o jovem utero ainda pratcaa, saliva tina decdida oriental para 0 sensu trals™ A inten bsca de Lutero eva aqui, que o sentido Ieral bem enten- did coninha, por sun significado espinal, Da cone ta compreensio do veralizido emerge o espito das Er turas © espinto nto € um além da palara, esprit mente diselvio, ele vem 0 nowo enconfo na cone {iacdo da palavra pla fA palavra permanece send letra mmota, se ea no for experimentaa erm sta concretzago, hum olbar para a ransformagio espitual que els prenun cit — uma concepcio que deve alerar para doutrina de AAgostinho sobre o Verbo. © conhecido dito de Lutero, se jgondo 0 qual a Escritura seri sit ipstes nterpres, ou su propria chave, significa precisumente que a palavea, como aauto-ofert de Deus. espera por uma concretizici0 que, no ‘rene, deve resutar em campreensio da Escritura, Expres- sando-o de outra formas uma palavra da Eseritura ests em pre onientada para um interpretagio, que somente pro ria apropriagio do Verbo pode realizar, enquanto elt dei tibnarsimulaneamente o todo Hbertador do significado que cla quer express pela graga. A palavra, percebida correta mente, ito é, de acordo com sta tendénci interior, ji & espinto, A orientacto para a palavra preenche tudo 0 que Escritura tem para revelar. E esa, para o protestantismo, 2 forma do universalismo hermenéutico (© principio da sola seiptura, que soja Seu proprio n= tézprete, a doutrina do Verbo, que the subjz, bem como a antecipacio da compreensio fundamental da Scriptura, no Sto descoberts de Lutero. A questio &, no entunto, se elas podem ser suficientes para a-constituigao de uma austera Teoria da interpretacaa, Porque mio ¢ este 0 caso, quando se trata do delicado dilema das passagens obscuras (ambiguay da Fscritara. Somente por ciusa dels, tha Agos- lino desenvolvido as suas onentagoes hermenéuticas na sua ‘Doctrna christian’. Em principio, a Sagrada Esentura & clara e compreensivel, mas nem sempre. Por esta F220, 2 Tgreja oficial se apoiara sobre a autoridade da tradigio e do imagistério eclesiistico. De que forma 0 protestantismo se frranjou com este problema? O apelo protestante para a inspiracao do Espirito Santo, ou uma Escritura que em tod 8 parte e univocamente fosse Sui ipsius interpre’, repercu tia de mancia insatisfatéria e em parte ingénua, jt que els parecia nio poder conter eficazmente a arbitrriedade de Bh rurtago a rm se imerpreagbes opostas oi fel, 20 Contlo conten tui de Trem (1540), relorar 4 cena hee nc das Escursseanecesode de um recurso 9a {ied Como aumento peempi, fo acado ser an sil propor ume conralto ene a Pseudo, thane amb ota do mesmo spt an. © caches: Ro podia ale doo tra proveo da corded fe renee de opto no sata do prpsoproteantsmo, part Contra abana 9 psntpo de uma Ec, cao Sipilco dever eta pate sr roe unlvoo, Pars pagers obscures comin, pos, sendo nape telo testemunho da Tradig ¢ dos Santos Pade clon Centetmetes do gree e hbo devi, em iv ther ido mo melfores do quc os de um Lune © movimento conarfornuéno chamtou, dea fr- we, x corto pos © pom falda hermentutcs J po teal pene, eu mas exter: pra fal al de ul hementunch O desenolsimento eu here: éwicaexplciatrmowse, asim, cm dos nals genes arsine do proetanismo, A damien suse det hhermengutica em Lutero conduziu, sem demora, 20 desen: volvimento de uma hermeneutica cientifca da Sagrada Es critura, Da mesma forma como nos Padres da grej, trav se do problema das passagens abscurss, para as quais 0 protestantismo (ainda) nao podia apresentar nenhuma ta Pro como rence da compreensiopass da al tre, conseuetemente, do capo. A eit de um cere Comm do esfrgo emenéuco, ase sempre recon do tem, potato, algo em fon eve cham steno, ques unveraidae da erie neta até entao existent ev ad 4 domino do incur relioso. Pits Made Média Boo fo sige, de fate, nena liao, enquant a rr contin tudo o que sc eva sae Neste seo, a nerpetagao scr eraaatadauniversamente © cielo do que na valor de lea com #30 de nrptagao, amps $e com mexlemice. Fats nova ea tortious. nae © reslad de uma Renasceng gue aorzon o ext dos Shisicosgregose tics © estido © 3 digi de amgon tscrtores ocore,naquela Spc, no quae de un ds plina, up nome mas orete no a6 r,s vk 2a cote" Tambem outs profes tam, eno, 2 ver coma inerprtio,sbrenio os ata, que pres ‘an imerpretra Tee o medica, cp Tanga tin era (etna 6) erpectico de soma ‘aguelastuaio, de ut modemidade que buscavaa DH mintugi& dormer 1 propria, desperiou a necessidide por uma nova doutrina metodologica das céncias que brosavam por toda pare im novo ‘Onganon’ do saber, que substituisse ou comple tase aristatlico, era procurado etornou-se um dos mas importantes desiderata da filosofia. Sabidamente, ele encon- {rou os seus mais eloquentes tetemunhios em 0 “Novum Organ de Bacon (1620), que se recomendava como nova propedéutica das ciéneias, bem como no “Discours de la méthode’, de Descartes (1637). Justamente entre Bacon Descartes, 0 neologismo ‘hermeneutic’ conterplou a luz ddo mundo, c isto a partir do esforgo de, com ele, Fornecer a ‘opomtuna contribuigao para complementacio do Organ tradicional. Esta nova criag2o e este programa foram a fags na do tedlogo de Estrsburgo, Johann Conrad! Danahawer (1603-1666) Dannhauer: verdade hermenéutica ¢ objetiva on anor de eau verte faborsmun ‘Roranos spend eo da semen so, prem de ua verdad) Dannhaver foi por muito tempo deixado de lado na hhisoriografia da hermenéutica, com a qual ele parecia nao se coadunae muito bem. Diktey nto Ihe tinha atibuido pra ticamente nenhuma imporsincia e Gadamer, em ‘Verdade & Método’, silenciou a seu respeito.* Anigos de enciclopédi, no melhor dos casos, apresentavamno como aquele que or primeira ver, empreyara a palavrahermenéuticano tit To de um livro, a saber, em sua ‘Hermencutica sacra sive ‘methodus exponendarum sacrum literaum, de 1654, Esta averiguagio seria, em si, insignificante, se Com isto Dan Ihauer tiesse apensis empregado uma palavra para desi har uma tarefa, que. quem sabe, Flacius quisesse concret eH oar suman 95 ‘ar com sua ‘Clavis. O aparecimento de uma pakwwra nie implica, de nenhum modo, que a coisa, para a qual ela pont, jf nao tenha existido antes, Os capitulos preceden- tes da presente reconstrugito teriam sido em vao, se antes de Dannhauer nao tivesse havido nenhuma tora da inter: pretacao. Mas, a relevdincia de Dannhauer vai muito além da ci ccunstincia casual de cle ter sido 0 primeico a empregar © termo hermeneutica como titulo de um livro. Num ensaio de muita serbia, H-E. Hasso Jaeger mo s6 foi capaz de demonstrar que Dannhauer, ji em 1629, tinha cunhado a nneocriagio hermeneutic, mas também que, em seu escrito de 1630, até agora pouco considerado, ‘Die Idee des guten| Interpreten’ (A idéia do bom intésprete), ji considerara 0 ‘esbogo de tuma hermeneutica itversal, sob o titulo explic 10 de uma hermeneutica generalis ss0 56 pose interessar a nossas investigacdes a-teleoldgicas sobre a pretensio de tuniversalidade da hermenéutica ‘A ideia de tal hermenéutica foi desenvolvida no curso de uma busca por uma nova metodologia das ci€ncias, desvinculads da escolistica, Dannhauer encarrega-se de ‘mostrar que, no vestibulo de todas as ciéncias, na prope: déutica, portanto, (para a qual a filosofia estava disponivel), deverta existic uma ciéncia universal do interpretar. Aina dita idéia de tal ciéncia universal & introduzida através de um silogismo: Tudo 0 que pode ser sabido possui qualquer iéncia filossfica correspondente; ora, o procedimento do interpretar€ tal coisa que pode ser sabida; logo, tal procedi- ‘mento deve possuir uma ciéncia que the correspond" Esta “hermeneutica filosotica” & concebida universalmente, no sentido de que ela deve poder encontrar aplicagio em to- das as citncias, 86 pode existir wma hermenéutica, cujos ‘bjetos sd0 sempre particulares.” Dannhauer imagina, por- {anto, uma hermenéutica univers, a ser elaborada a partir Worst ernie psn it do sco lofi, a qual devera pani outa acl nua sendo algo ousada especulae sobre o desenvolvimento dda hermenéutica schleiermachiana. A panic do objeto, 00 “entanto, a pesquisa sobre Schleiermacher no est totalmente etn razao, ao perceber em seus ttabalhos posteriores uma predominiincia da intespresgio psicol6gica, que, entre ou tras coisas, se manifestava na clrcunstincia de ser a inter pretacdo técnica renomeada para uma psicolégica. Mais e mais deve ter fcado claro, para Schleiermache, que o sesul- tudo de uma interpretacio meramente gramatical devia aca bar sendo muito modesto, Para este romintico, 0 objetivo Giltimo da interpretagio era o de penetra, por detris do dliscurso, até o pensamento interior. Faticamente acontece, fem geral, que a estrutura meramente linguistica ou gramat cal de uma passagem nao seja problematica. O que mito se centende e sempre se pode entender mal, € precisamente © {que o eseritor queria dizer. & por isso que se quer e se deve: nterpretar” 0 sea discurso, isto €, rornd-lo compreensivel, pela teconducao a uma vontade de expressurse, A palestea 131 ‘acacémica de 1829 express niidamente, em toda & pate, ue 0 discurso “exterioe" deve ser concuride 2 compre Sho, por sia rekigio retroativa 30 pensamente icimo do autor Toda a historia anterior da hermeneutics no hava, realmente, tide oustra prioridade ‘A hermenéutica mais recente havi porém, detectado, na maneita de expressirse de Schleiermacher, que elt re presentava um abandono da relagio com 0 sentido e, £es- pectivamente, com 0 objeto da hermenéutica mais antiga Ao inwvés de mediar um sentido, ov uma verdade, unica mente inceressaia a Schleiermacher entender um 3utor. ou lum ato eriador. Pans Sehleiermacher, segunda a conhecida dobjecto de Gadamer, o intérprete deverin consklerie “os textos, independentemente da pretensao de verdude, como meros fendmenos de expressio”" Muitos especialistas em Schleiermacher, sobretuddo M. Frank, prowestaram contr iss, mas fizeram-no de tal modo, que atribuiam a Dithey a psicologizago” da hermenéutica, ida em geral por rejetivel. [Apenas ele tera falado em favor de umm transpor-se do inte prete para denteo dt alma do autor. Verdade, neste ponto, & {que Dilthey acolheu Schleiermacher de forma bastante psicologiciss, Ele considerava ser “pensimento norteador ide Schleiermacher, que a interpretacio seria uma reconstru- cio da obra, como Um ato vivo do autor, do que resultaria Ser tarefa da hermenéutica fundmentar clentificamente ess reconstrucao, 2 partir da natureza do ato prodacente, Poréim, nio se deveria proceder, como se © proprio Schletermacher nao tivesse escrito, que “a tareta ia herme: sm reconfigurar, dt maneita mais peel, todo 0 trnscusso interior da atividade compositora do es critor’.A nica coisa t negocite seria apenas, se € adequas {do a0 objeto encarar o discurso exterior como combnicagao cde um pensament interior, Seria totalmente errado, se sim plesmente se quisesse reconstruir 0 processo inconsciente & BZ nmaiidbermenture fife compositor de gestarto dos pensamentos. Esa alma no fmeessa a ninguem, Mas, seth que realmente leva a um tenjino, investigarclementoslinghisicos sobre seu proprio. Conteido expresivo de funda? Porque iso implica tudo, menos um desviarse do conteido de verdade do discus. ‘Bem 20 corlririo: uma resrigao da pretensao de verdad do dincurso esta antes sida no desinteresse por esse pensamento interior, inerente a qualquer discus. S6 nos tornaremos partcipes da verdade, se esivermos herme rneuticament intencionids, io, se estvermes dispostos {romper o frag dogmatism da esfera merament gramat- ‘al, para penetar na alma da palaven © campo dialético da hermenéutica S6 se pode atribuir a Schleiermacher uma psicolo seizagio distante da realidade, se no se considera o hori- zonte dialetico — ou, mais precisimente: dialogico — de sua hermen@utica, Com o termo dialética,tida como a ci- fncia filosdfica suprema, & qual se subordina a herme: réutica, entende Schleiermacher uma teoria do fzerse entender. Sua necessidace emerge da inexequibilidade de lum “saber perfeto", ou de um ponto arquimédico para nds humanos. Em vista da nossa finitude, devemos antes admits, acredita Schleiermacher, que, em toda a parte, na fesfera do pensit — como a historia das ciéncias ensina ‘com suficiente clarcea — estaria disponivel assunto infin- divel para contenda, Por isso estamos condicionados promover conversigda uns com 0s outros — € conosco, rmesmos, acentua Schleiermacher — para cheggrmosa ver dades comuns e originariamente lives de cgptenda. Este principio dialético, que resulta da derrocada as tentativas Ietatisicas de fundamentagao ultima, anda de mos dadas Joan romain 133 com 4 univenalizaao do equivaco, que empresta % sua hermenéutica a sua candéncia especitica: 0 individuo que, em principio, se encontra na iusto, sé pode conquistar 0 seu saber pela via do coliquio (do ‘Gesprich) ou ia tro- ct de pensamentos com outs pessoas, A hermeneutica, como “a arte de entender corretamen- fe 0 discurso alheio, sobretudo 0 eserto™. participa desst busca dialogica do saber. Para entender um texto, deve-se tentabolar um col6quio com ele e, desst forma, cher ao fundo daquilo que suas palaveas expzessam de mado ime sliaco: "Quem poderia conviver com pessoas de esprito su- perior, em que se esforcasse, 20 mesmo tempo, em escutar fete as palavras, da mesma forma como lemos entre as Jinhas em eseritos engenhosos & concisos: quem no gosta fia de valorizar um coléquio significativo, que também po: devia fucimente fornar-se acio significaiva em mulplas direcoes, como aind uma medhtaco mais atenta, destacan do nelas os pontos vivos, procurinde captar sua conexio interna © peseguindo todas as suas slusdes silenciosas?"" hhermengutica repousa sobre um solo dali interpretar lum texto significa entregar-se a um cokiquio com ele, dir girIne perguntas deixarse questionar por ele.* Semps dle novo deve 2 interpretacio, se 1 ‘quiser tornarse re undante ultrapassar o meramenteeserto east, "ler entre as linhas”, como Schleiermacher dizia acemtadamente, Esta arte se assemelha muito 2 do coldquio ou da conversacio ‘Cada paluvra escrta 6, em si, um proposta de dillogo. que lum texto quer promaver com um outro espirito. Assim, Schleiermacher aconselha com insisténcia, ao intérprete de obras escnias,“exerctar-se na intespretagio do colbquio mais significaivo™ Realmente no se evidencta, o que esst arte ds conversagio deve ter em comum com uma psicologizacio de ma qualidade Nessa moldurs dislogica, aninha se a reeepeiio, por 1 sung mee sien Schlckrmacher, do eelo hemmenduico,Takance va tm Fai Ate manifestacto exterior do espinto deve ser entendida com base em seu contexto global, ou Sela, partir de seu todo. Para Ast, esse todo era, enfim, a Oni-abrangente unidade do espirto, na forma como ele se {doou nas eras basicas da humanidade. Para Schlelermacher, fesse todo idealista € demasiado monstruoso. Segundo cle, fesse fouo pode ser determinado, de maneira mais modest fem duas direcoes, que correspondem a bipanicio do seu teonceito hermenéutico, Segundo o lado gramatical, aqui thamado de objetivo, o todo, partir do qual pode ser hae rminado © particular, @ o género lterdrio do qual ele brota Segundo o lado psicolégico ou subjetivo, no entanto, 0 par ticular a passagem, a obra) deve ser visto como “ago de seu autora ser interpretada a partir do “todo de sua vid. Dessa forma, Schleiermacher concebe 0 individuo como 0 Gihimo ‘para onde’, ao qual deve aproximar-se a interpreta- Go, Assim, afasti-se ele, notavelmente, do empreendimen: fo de seu mestre Ast, de "mais uma vex potenciar™ o clreu- Joe coneeber 1 realizagao individual como elemento de um todo ainda mais elevado, idealist ou historico, A delimita- ho, por Schleiemaches, da circularidade hermenéutica 2 totale de uma vida individual, caracteriza o seu esforgo de entender 0 lingoistico como emanacio de um pens mento interior, isto é, como tentativa de comunicagio de tama alma, Mas, quando Ast potenciou historicamente 0 cir clo, ele — bem contra a sua vontade idealists © historico- universalista — pensou antecipadamente o relativismo epocal do historicismo emergente, para o qual tudo deve ser intr pretidlo como expressio de sua época. Voltemo-nos, gor, para a pretensto de universalidade, sazonada para a hhermengutia, por es ta nova maneira de vet. g INGRESSO NOS PROBLEMAS DO HISTORICISMO A hs 0 Yuh anuro¥ ds Humane! Boeckh ¢ a aurora da consciéncia hist6rica Schileiermacher pretendera restringir a doutrina do cit- culo hermenutico 20 todo de um género de iteratura, bem ‘como & individualiiade do eseritor, para antepor um Fetro- Iho a potenciagao arbiteeia, porque mo mais contrive, do circulo, como ela fora, por exemplo, sugerida por As. Embora a representacio do citculo desperte a idéia de uma falicia’ a ser evitada, ela repousa, basicamente, sobre um Fundamento logico: € norma de coeréncia, conceber © pat- ticular unicamente por sua conexdo com o todo, no qual e se enquadra. Para 0 século 19, esse todo coerente encon- trou sua conereglo no contexto histério da respectiva épo- ca, A doutrina basica do que, desde entio, € chamado de historcismo e, com latamente, de relatvismo, € a de que qualquer manifestagio individual deve ser concebida a par- tir do contexto de sua epoca Nao se tratava de aplicarerité- rios de nosst era a periods estranhos, pois os fatos hist ‘cos deviam antes se interpretados de modo imanente, como ‘expoentes de seu tempo. Este historic, praticado desde ‘entio por qualquer cients, obedece de fato a um elemen-

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