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ELA simples anilise fenomenolégica do homem, verifica-se q nao é um ser encerrado totalmente, como os demais seres fi cos. A sua natureza espiritual dithe a possibilidade, e nfo sé possibilidade mas, em certo sentido, a necessidade, de a cada it tante estar formulando problemas ¢ interrogagSes que os outros set exteriores nele despertam: isto ou aquilo existe, porqué? que é ser? que é, simplesmente, ser?—-O homem, diz-se pois, vulg: mente, é um ser aberto a transcendéncia, um ser frente a outr seres e ao Ser (*). Em toda a obra de Fernando Pessoa ha um problema. N diremos que seja permanentemente explicito nem, muito meni tratado em légica de sistema; mas ha verdadeiramente uma inter gacio fundamental, a qual, em ultima analise, se vem redu ao grande problema do espirito: que é ser? Niko & sempre formulado deste modo directo ¢ explicito, diz mos. Na grande maioria dos casos a pergunta adivinha-se somer e reveste formulagées diversas, mesmo aparentemente distant £ um olhar para o mistério, um «ir pondo» indefinido de prob mas indefiniveis, e como consequéncia, vem 0 comentario niilis ao absurdo da existéncia. A vida, o eu, os seres, o ser dos seres, oculto, o além... eis a problematica latente em toda a obra: «E toda a poesia de Pessoa,—escreve Mar Talegre—, palpita v * © presente artigo constitui o cap. II dum trabalho a publicar bre mente na «Coleccio Filosofiax com o titulo: O niilismo metafisico de F ‘aando Pessoa. C) Cfr, Octavio Nicolas Derisi, La ‘Persona, su esencia, su vida y ‘mundo, La Plata, 1950, p. 25. anseio essencial, doloroso, imenso, de desvendar o mistério Isso the da uma unidade profunda; aqui nfo ha reparticé heterénimos, nada muda, nem divide a substancia desta pre 40 essencial, porque ela esta na natureza profunda do seu se vasta interrogag3o que sala a cada instante, dos seus passc mundo, do seu encontro com as coisas, com os acontecimento: os quais escondem, para além da sua aparéncia causal, um s de mistérios (...) que a sua poesia procura exprimir com un quéncia e uma coragem que insiste em querer dizer o inex vels (7). Do mesmo modo Casais Monteiro, apelidando Fer Pessoa de poeta «metafisico, «para quem o imediato nunca come valor de expressio poétican (*), diz expressamente: « obra de Fernando Pessoa é uma busca da realidade para la d mas passageiras da aparéncias (+). «& uma poesia que bro quentemente da «vidas que no poeta tem determinados «| mass da realidade, tio intima que se tornou vida» (*). E aFernando Pessoa era um poeta que procurava incansavel a expressio para certo numero de factos interiores, (...) esforgo de todos os dias (...), para a revelar por uma forma satisfizessen ("), que procurava «éstabelecer o contacto do b com o universo» (*). A convicc3o de que a obra do Poeta é uma tentativa d nirse e de definir o indefinivel da vida ¢ das coisas —a res do mistério fundamental —é comum a todos os que tém est este autor. E assim, Massaud Moisés, escreve: «Fernando ‘busca sem cessar saber e conhecer tudo o que o cerca, come dades exteriores, ¢ tudo o que the vai na alma como realidad: tioress (*), busca como singular resolver o drama do t moderno: desvendar e «comhecer a vida ¢ seus misté: que por um «processo de sondagem césmica» (*). E m: «Fernando Pessoa passeia pelo mupdo como a redescobri-lo ©) Mar Talegre, Trés Poeta: Europeus, cit. por A. Casals M Estudos sobre a Poesia de Fernando Pessoa, Agir, Rio de Janeiro, 1958, ©) A. Casais Monteirs, 0. ©, p. 67. C) A. Casais Monteiro, o. e., p 73: @) A. Cassis Monteiro, 0. c, p74. ©) A, Casals Monteiro, @. ¢., p. 246. ©) A. Casais Monteiro, o. e., p. 73. C) Massaud Moisés, Fernando Pessoa, aspectos da sua probl Universidade de Si0 Paulo, pp. 12-13. ©) Massaud Moisés, 0. c., p. 11. copy wee wee une cenearneny geneenmnne egemernenny te ne ee Por sua vez escreve Gaspar Simoes: «E assim nos encor no 4mago do drama do Ferrando Pessoa lirico: a extensao + sentimentos é constantemente diminuida pela vastidio do s samentos ("), como quem quer dizer: a sua hiper-lucidez tual inquirindo sem cessar as ratées de tudo, tornam-lhe impossivel de ser vivida, ja que esse tudo no pode ser nut vendados. E Jacinto do Prado Coelho: «A sua emogio mais inti ardem ontoldégica. Perturba-o, nJo concretamente isto ou mas o facto insomd4vel de tudo existirs ("*). Mario Sacramento, fala igualmente a este propésito d dor metafisico», «poesia também metafisica», etc., referir matureza da problemitica-base, de tal poesia ("). E ain Serrfio escreve: «Toda a poesia de Fernando Pessoa é um Para apreender a realidade que esta para além das aparé que la fican ("); esforgo esse que o engrandece «duma rara (...) porque tragicamente atento 4 importancia miste: existirs (*). Finalmente, vejamos o que o préprio Pessoa, como cr si mesmo, escreve a Cortes-Rodrigues: «Chamo insinceras, / feitas para fazer pasmar, e 4s coisas, também —repare ni é€ importante — que nao contém uma fundamental ideia me isto é, por onde nao passa, ainda que como um vento, um da gravidade e do mistério da Vida. Por isso é sério mud escrevi sob os nomes de Caciro, Reis, Alvaro de Campos. E quer destes pus um profundo conceito da vida, divino em to mas em todos gravemente atento 4 importincia mister éxiatire (**). (*) Massaud Moisés, 0. c., p. 19. (*) J. Gaspar Simées, Vida ¢ Obra de Fernando Pessoa, Liv. Lisboa, #/d., I wol., p. 52. () J. do Prade Coelho, Diversidade « Unidade em Fernand ed. da Revista ¢Ocidentes, Lisboa, 1949, p. LO4. (7) Mario Sacramento, Fernando Pessoa, Pocta da hora absurd ponto, Lisboa, p. 26 (1). (") Joel Serrio, Cartas de Fernando Pessoa a Armando Cortes: ‘Conflufncia, Lisboa, p. 11- () Joel Serio, o. c., p. 15, citande palavras do préprio F. Pest (> FE. Pesos, Pdginas de Dowtrina Estética, Inquérita 1946, pe 27.

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