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A histria de um cheque

No caso que vamos contar aparecem, apenas, trs judeus. Apesar dos
nossos esforos no foi possvel reduzir esse nmero.
Mas narremos, afinal, a histria.
Samuel Blum, opulento joalheiro, vendeu a um fregus (que lhe parecera
homem srio e respeitvel) um belo colar por 6.000 reais e aceitou (que
imprudncia!), em pagamento, um cheque na importncia total de 6.000
reais. Nessa transao o Samuel, sempre muito razovel em seus negcios,
obteve um lucro de 4.000 reais.
No mesmo dia, Samuel dando esse cheque, por ele endossado, em
pagamento, comprou de seu amigo Adolfo Cohn um valioso anel. Nessa
venda Adolfo, homem inteligente e precavido, ganhou, tambm, 4.000
reais.
Adolfo, utilizando o mesmo cheque, adquiriu de Ren Levy, conceituado
joalheiro, uma finssima pulseira de ouro e platina, pela importncia de
6.000 reais. Para atender ao colega contentou-se Ren Levy com o
modestssimo lucro de 500 reais.
De posse do cheque o nosso bom Ren Levy foi ao banco a fim de resgat-lo
e soube, com surpresa, que o cheque era falso. No havia outra soluo
para o caso. Procurou os dois endossantes (Samuel e Adolfo) e exigiu que
eles, como responsveis, o indenizassem da importncia total.
O caso era srio.
Samuel e Adolfo, que no queriam saber de complicaes com a polcia,
concordaram, logo, com a exigncia do Ren Levy.
Samuel (que havia ganhado 4.000 reais) abriu mo de uma parte de seu
lucro e pagou a metade do cheque (3.000) e Adolfo entrou com outra
metade (3.000) e o simptico Ren Levy recebeu, assim, a quantia (6.000)
que lhe era devida. E o cheque falso, uma vez tornado intil, foi queimado.
H, porm, envolvendo esse episdio, profundo e estranho mistrio.
Vejamos:
Com um cheque falso emitido pelo falsrio, e queimado depois pelo Ren
Levy, resultou o seguinte:
O ladro obteve uma joia no valor de 2.000 reais.
Samuel ganhou 1.000 reais.
Adolfo

ganhou

1.000

reais.

Ren Levy ganhou 500 reais.

Houve, portanto, nesse negcio (sem ter entrado em ao DINHEIRO


ALGUM) um lucro total de 2.500 reais e o ladro levou, ainda, um colar no

valor (preo de venda) de 6.000 reais! Como pode um larpio, depois de


roubar uma joia, proporcionar um lucro de 2.500 reais a trs joalheiros?
Como explicar, com os prodigiosos recursos da Matemtica, esse mistrio
que assombra os contabilistas e desafia a imaginao dos charadistas?

Quando o dinheiro fala, tudo cala.


(Baro de Itarar Almanaque de 1949)

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