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nas, em varios ¢ distantes pontos, em todo o ento materialista planeta Terra, nesse fim de dezembro de 3.559. $6 meio século ‘mais tarde, e de acordo com pesquisas mais minuciosas de fixagio do Espago Anterior, vieram os homens a saber o que a Estrela queria dizer, pois puderam, enfim, localizar 0 instante terreno que elailuminou, 50. FELIZ NATAL, VINTE BILHOES! HV. Flory Este conto € dedicado a todas as fami duas crias por prole. | 21:00:00 Os olhos embagados c a postura rigidamente erecta denotavam que ele nio estava na realidade presente. Os libios trincados ¢ os masculos faciais repuxados em um sorriso cinico revelavam que Alé deleitava-se com o que via. TV neuroconectada. o Apresentador fala da onda de crimes. (sons de tiros e gritos; cheiro de sangue e pélvora) “Nao hd nada mais preocupante nos dias de hoje do que a terrivel série de as- sassinatos gratuitos que assolam o Pafs”, gorgolejava o icone t dimensional em tom emocionado. “Principalmente se levarmos ‘em conta que hoje é véspera de Natal. Mas temos a certeza que, com a ajuda de Deus,...” Alé desligou-se por uns instantes e olhou em torno. A pada- ria estava sufoeante, repleta de gente suja ¢ fedidalAquela épo- cade dezembro erasempre assian nos bairros pobr cisava ficar ali mais algum tempo (o Alibi, sempre o ali do sua cerveja e assistindo TY. Nao sabia ainda se teria trabalho A noite, Sentia somente a inquictagio.e pletora sanguinolenta bor- bulhar-lhe nas veias ao ver 0 jornal, as cenas de violéncia ¢ a mul- {ido comprimida na porta da padaria, querendo entrar. Religou- se. TV neuroconectada. o Apresentador apresenta as Noticias In- temacionais, mostrando uma Estagao Orbital (mitsica eléssica; cheiro de ar esterilizado). “A Estacio Orbital “Hohm”, com tres il habitantes, apresenta problemas de subsisténcia devido ao ccolapso de um dos seus coletores solares ¢ deve pedir ajuda a ‘Terra, provavelmente ao governo americano ow ao japonés. Isto ~ certamente eausard um aumento dos juros da divida brasileira, mesmo...” ‘Alé mudou de canal, Aquela conversa cra chata demais, TV neuroconectada. Debate sobre a explosio demogrifica. (programa destituldo de miisica ou cheiro de fundo) im mundo com yinte bilhdes de seres h nei hicteestta urgentemente de um controle de natalidade efetivo. Isto ndo atenta contra a Fé ou ao Senhor. Muito menos contra a monogamia ou os preceitos re- ligiosos. Mas @ atual situagdo sdclu-ecuuOuics, evia sim, € um atentado 4 divindade da Vida”, dizia um careca de aspecto sério, nitidamente um poltico, 52 , _ Alé excitou-se, Aquilo prometia. Ele esperava que alguém | tots ‘a cutandsia e o aborto discriminados e usados como método de controle populacional. Mas como uma discussio da- ‘quelas logo na véspera de Natal? Logo entenderia. TV neuroconectada. O Arcebispo em pessoa apareceu i sua frente, quase sélido. (sentiu-se intimidado e nervoso, mesmo saben- do ser um Debate desprovido de sensagées de fundo). “Gostaria de comegar lembrando aos figis de como a Igreja salvou a humani- dade do flagelo da ALDS reafirmando os valores fundamentals € imutaveis da sacralidade do Casamento e da Familia. A Doenga grassava pelo mundo e 0 teria dizimado se no fosse a reintro- ducio da monogamia absoluta e da Palavra do Senhor.” ‘Alé scntiu-se mal, verdadeiramente enojado. Os religiosos Ihe inspiravam repulsa, 6dio quase incontido. Mas continuow as- / sistindo. ("TV neuroconectuda. (continuou o Arcebispo.) “Ora, todos sa- bem 0 que o Senhor disse. A Vida ¢ Sagrada, esta e deve conti- war nas miius Dele. Hujeé Natal, ¢ nds comemoramos justamen- te 0 nascimento do Cristo. Todo nascimento € sagrado © 0 Senhor..” (=> Alé desligou-se revoltado. “Como este erctino pode defen- der um nascimento? Como este eretino pode defender o nasci mento Dele, 0 Cretino Maior que disse “Crescei ¢ Multipli ‘vos? — murmurou com sarcasmo amargo. “Como todos estes cretinos podem comemorar o nascimento do Grande Cretino, ou qualquer nascimento, entupindo.o mundo ¢ se espremendo pelos cantos?” — $6 entio notou nf padaria, era o tinico que portava 0 iroconector ¢ conseqiténtemente despertava olhiares de inve- 8) Os outros viam-no contorcendo-se em esgares e suando, vol- tando a realidade de quando em quando, ¢ ficavam imaginando como scria bom receber as imagens, sons ¢ cheiros dirctamente no cérebro, Controlousua agitagio, langou a mao calmamente pa~ ras costas ¢ retirou 0 plugue da base da nuca, tampando a co- nexio em seguida. Mas nio era facil voltar rapidamente. A tortura caracterfsti- ca da desconexdo veio bastante forte, junto adedor da padariae da fealdade do ambienté] O gargom se aproximou sortindo, cnxu- gando um copo engordarado, — Quer a conta? — Nao, s6 desliguei para assistir TV na tela mesmo. Posso? 53 — Aha, pode, mas eu pensei.. — Nao precisa pensar nada, Quando precisar eu te chamo. — Té bom, t4 bom. Vocé ainda tem meia hora mesmo... Alé sabia que, caso nfo consumisse algo mais, logo teria que coder a cadeira a tm outro cliente (eles esperavam Ii fora, com- primidos contra a porta de vidro), ¢ sabia também que se saisse ‘mais cedo a diferenga seria do garcom. Mas Alé ainda precisava gastar tempo para construir seu All ‘Olhou a dircita e viu trés homens tomando cerveja e pinga; um outro drogando-se com qualquer coisa estupefaciente, A esquerda, quatro homens ¢ uma mulher assistindo TV e bebendo qualquer coisa alaranjada, Nada de mais interessante, (Os pensamentos natalinos voltaram com a misica “Single Bells”, Sentiu araiva cega subir-Ihe novamente pela garganta, Re~ cusou-se a olhar a TV, forcando os olhos para baixo. Chamou 0 gargom com um grito. — Sim? = Uma carrcira. — Di seu cartdo. Alé entregou seu cartdo inteligente (outra raridade entre os clientes da padaria) ¢ esperou. O garcom enfiou-o na ranhura cor- respondente no balcdo, apertou uns botdes ¢ em seguida comer tou: — Uhn...dinheiro vooé tem, e faz doze horas que nao se dro- ga... pode cheirar meia grama, segundo 0 cartao. — Traz metade. — Quer anfetas, também? — Nio, pura. E répido! fi © gargom foi até a maquina, ajustou-a para a quantia pe fae reliray o delgado tubo descartvel contendo cocaina gover- {namental {Ale teria preferido a americana, mas certamente nfo ppossuiriam algo de tal qualidade naquela padariaRecebeu o tu- bo, abriu a primeira metade ¢ aspirou-a com a narina dircita, Abriu a outra e aspirou-a com a esquerda. Ergucu inadvertidamente os olhos ¢ deparou-se com a tela, De siibito 0 “Jingle Bells” reexplodiu em seu aparetho auditivo a imagem do Arcebispo voltou & sua mente. “La vem cle cacare- jando suas besteiras”, pensou irritado, ‘Mas nao era o Arcebispo e sim um dos maiores “Show-man”” 4a época que figuravana tela. Tanto pior, pois Alé detestava aque- 54 kes tipos. Sentiu a euforia da droga ampliando-Ihe os impulsos maniacos e cerrou os dentes num esgar angustiado. TV Tela. o Apresentador soridente abraca a magérrima Mu- ther do Povo, que chora emocionada. Seis pirrathas de diferentes idades amontoam-se entre eles, esqueléticos. (nuisica “Tingle Bells” | misurada a arrotos, exclamagdes, gritos, tc; cheiro de padaria e " suorhumano). “Ba Dona Guilhermina fota grande vencedora do “Natal Miliondrio” desteano! Dona Guilhermina, o que a senho- ra teria a dizer para os telespectadores?” “Eu... eu ni sel nem/ © que dizer, sabe, Seu Flavio, s6 que eu sempre confiel em Deus paguei a “Arca de Natal” em dia... E..” “Pois 6, esta éa Dona Guilhermina, a Grande vencedora, seus seis filhinhos e | seu marido vio ter um Natal como 0 dos miliondrios Lf dos bair- ros ricos, com Papai Noel e tudd.)0 quea senhora acha disso, Do- xa Guithermina?” [*Sabe, Seu Fivio, meu marido ainda ta de- | sempregado ¢ eu sempre confiei em Deus, nunca tirei meu flho dabarriga, sera quendo di para arrumar um emprego...°RE esta €a Dona Guilhermina que ganhou o “Natal Milionsrio® da Ar- a, Aqui chegou o Papai Noel, e vamos comegar-a festa!” AIé sen- tiu-se demoniacamente enjerizado pelas respostas dav mulher. Estava a ponto de jogar um copo na tela quando se conteve. Tre- mia, indignado ¢ impotente, “Grande Idiota, isto sim, Nao tirou nenhum filho da barriga, sua vaca parideira? Deixa que cu te fue 100 Gtero!” — pensou remocndo-se. Entao surgiu 0 Papai Nocl na tela. AIé sentiu-se imediata- mente abafado e suando Como pode aquele Ridiculo vestir-se daquele jeito? Se pelo menos tirasse a barbal!” pensou, retoman- do a quente consciéneia do calor daqucla padaria lotada no vero tropical, “Onde cle foi inventar uma roupa daquela?™4 invocagao com as vestes do Papai Noel somou-se & raiva do Arcebispo, do Aprescntador ¢ da Mulher. Alé sentiu-se sufocado. Jogou 0 cartio para o gargom e gritou: — Segura minha conta um pouco que eu vou dar uma respi- rada ¢ ja volto! Pode alugar minha cadeirat garcom sorriu em asscntimento ¢ Alé correu para fora da padaria, as portas de um ataque nervoso. 21:30:00 A caminhada logo Ihe fez bem, devolvendo-Ihe a ex- citagio da coca, Andou por quase dez minutos, procurando sem- pre as ruas mais escuras ¢ desertas; sabia ser algo perigoso,Jmas 55 no se importavallN abrir toda a camisa (para no reve- lar o magnum portatil)nas abriu os trés primeiros botdes e a bri- sa refrescou-o, Jd se preparava para voltar quando eruzou o be- ©o. O britho fugaz dos olhos assustou-o ¢ ele pulou para o lado ‘por puro instinto, sabendo porénigserinitiltentar resist as gan- ues de marginais que infestavam a cidad&JPreparou-se. ao me- nos para dar alguns tiros, Mas ninguém Velo, € aps 0 coragio _acalmar-se, voltou para examinar 0 que tinha brilhado. ‘Uma cachorrinha acuada amamentava cinco flhotes. Quan- do Al6 aproximou-se cla arzeganhou os dentes rosnando amea- ggadoramente, pronta para defender suas erias. — Ora, Ora, Ora — murmurou ele docemente, curvando-se para observar a cachorra, — Uma amiguinha que também esté cuidando do “Crescei ¢ Multiplicai-vos”, hein? Continuow falando mansamente, afastando-se devagar. A cachorra pareceu adquitir confianga ¢ parou de rosnar (conquan- toAlé ficassc longe de scus filhos).Alé recuou mais um asso, até finalmente achar 0 que queria. Tomou de um golpe o cano encostado a parede, segurou-o ‘com ambas as maos, levantou-o e, com todo 0 seu peso e impul- 0, enterrou na barriga da cachorra. O sangue jorrou e as per- rninhas se mexeram, acompanhadas de um ganido cortante. Alé sentiu-seinebriado, tremendo de satisfagio, Perfurou ainda mais trés vezes 0 corpo da cachorra, Agora s6 restavam os cinco filhotes. Estes, parece, jé haviam entendido oqueaconteciae ganiam em desespero. Alésorriu-thes icamente, 0 rosto contorcendo-se de felicidade, ¢ passou para o “Gran Finale”, Rearrumando-se com indisfargado deleite, gol- peou com a barra de ferro até que entre a cachorra ¢ filhotes 6 ‘se distinguisse uma massa disforme de carne vermelha, silenciosa. © trabalho estava foto scm que AIS tivesse se sujado Com scquer | uma gota de sangue. L ‘Abandonou o beco ¢ voltou contente, quase saltitante, & | padaria. 22:00:00 O cantraponto entre a brisa frésca.e a solido do be~ co, ¢ 0 abafamento ¢ multidio do interior da padaria foi doloro- samente gritante. Alé perdeu toda alegria ao reentrar no estabe- 56 Jecimento que lhe serviria de Alibi. Mas ja no precisava ficar mui- to tempo; apenas o suficiente para subornar o garcom. — Mé vé uma pinga — tentou dizer, entre o ruido. — Ha? — Pega o meu cartdo ¢ traz um copo de pinga! — gritou Ale ‘com toda a forea. O siléncio do beco o havia feito pronunciar seu pedido em um tom d¢-voz, muito baixo. ‘A mesma rotina] O gargom enfiow o cartéio na ranhura, veri- ficou que havia dinheiro e que Alé tinha permissao para beber 0 copo de alcool, ¢ trouxe-o] Alé engoliu rapidamente a metade © chamou 0 gargom para junto de si, — Mais alguma coisa? — perguntou cle em vor alta, — Sim — respondeu Alé com um sorriso maroto. — Eu vou ficar aqui até as trés meia de amanha, quero que vocé jé des- conte do meu cartio, Até I vou ter tomado mais cinco cervejas, ‘quatro pingas, duas microdoses de herofna € cheirado 0 resto da minha cocafna. Ah, cu comprei também barras alimenticias para vinte ¢ quatro horas. Pode descontar. — Ha2? — exclamou 0 garcom espantado, Mas entendew assim que fixou Alé nos ollios. Gaguejou: — Ah, sim, me lembro, ‘oct ficou aqui até as quatro horas Al cortou-o bruscamente, — Eu figuel aqui até as trés © meia, saf tropegando mas sem dar vexame, Ebom que voet se lembre, amigo, Eu fui despedido hoje, e estava completamente desesperado. Nao foi assim? — C... claro, Agora eu me lembro perfeitamente — mur- ‘murou o gargom por fim, apoiando-se no baledo para manter 0 equilibrio. — Entio desconte meu consumo do cartéo, amigo. Sua méiquina nao tem “timer”, tem? — Nido — respondeu 0 gargom, apertando os botées correspondentes. — Ah, e pode alugar minha cadeira enquanto cu cstiver respirando um pouco! — gritou AIS meio cambaleante saindo da padaria, enquanto piscava malicioso para o garcom. 22:15:00 Agora s6 faltava tomar 0 super-Bnibus elétrico do transporte popular gratuito ate a “Agéncia”, para ver se haveria trabalho, Era a parte que mais enraivecia Al, 7 Oveiculo poderia transportar condignamente cerca de cen- to e cingiienta pessoas, mas normalmente vigjavam em média uinhentas, Naquele dia havia bem mais. Alé escondcu a magnum Portétil no tornozelo, pois seria imposstvel deixé-la na cintura, esperou mais de meia hora. finalmente entrounacondugso. Quer dizer, dopendurou-se na porta e foi-se espremendo até alcangar ointerior do carro. O énibus lotado e espremido, a profusio de pessoas compri || midas e o fedor exalado irritavam-no profundamente. Alé sabia que aqucle carro ficaria completamente cheio até a parada final, | que cra justamente onde ele teria que descer. Quase quinze mi- | nutos se passaram no énibus. Ele sentia raiva contra o ser hum: ‘no, contra a reprodugaio desenfreada, contra os religiosos e polit cos “conservadores”,etinha vontadede mataralguém quando.cn- | frentava semethantes situagSes de contato humano, Contato asfi- | siante. ‘Algumas pessoas ja haviam morrido naquclas condigbes em jue 0s Gnibus dos bairros pobre’ circulavam, A maioria eaindo jo carro, mas algumas literalmente asfixiadas ¢ outras pisoteadas. “Depois de alguns minutos scndo comprimidas, empurradas e ma- chucadas, mesmo as pessoas mais calmas jé queriam se morder mas as outras{Recomendava-se aos velhos ¢ criancas pequenas ‘nfo viajarcm &m Gnibus muito lotados, mas nio Ihes davam quaisquer outras alternativas.\ Alé notou com alivio Gue j4 estavam chegando, Toda a catarse que obtivera com a eachiorrinha ja se havia esvaido no Onibus. Estava novamente tremendo, quase descontrolado. Nao agtientava aquilo, Finalmente chegaram ¢ comegaram a descer. O movimento da turba nao podia ser contrariado, Alé conhecia as regras. F entiio que veio 0 grito. ‘Umgrito de mulher, logo frente de onde cle estava. Alé viu- a pulando ¢ erguendo os bragos desesperada, enquanto a mul- tidio empurrava-a irresistivelmente para frente; em um dtimo supés 0 que havia acontecido. Teve sua confirmagao logo em seguida. A garotinha estava caida ¢ encolhida, imével mas provavelmente ainda viva, Era im- possivel abaixar-se para pegi-la, pois o movimento da massa des tubaria quem tentasse.{Qlé aproximiou-se com inocéncia ¢, “di traidamente”, pisou bem no pescogo da crianca, calcando todo 0 |seu peso] Seutiu as maozinhas da crianca na barra da sua calga, 58 séfregas, conteu o sorriso divertido num triscar de labios ¢ con- tinuow andando. A menina, por ter se contorcido de dor, passou a una posigio muito mais exposta ¢ voltou a scr pisoteada por outros que nao olhavam para baixo. 'Alé saiu do Snibus ¢ viu a mulher desesperada, tentando pa- Jisar a multidio para buscar sua filha, e fez uma cara de curio- sidade, sincera, como se no soubesse 0 que estava acontecendo, “Amanbi vai ser manchete: “Mais Uma Vitima da Superlo- taco dos Transportes Publicos”, pensou ele, cerrando os dentes. / “Quem sabe eles se conscientizam de que esta situagio nao pode continuar?” = Mas Alé estava com pressa, ¢ niio parou para conferir 0 que tinha acontecido. Dirigiu-se rapidamente até a “Agéncia”, uma simples biblioteca de software de aparéncia bastante inocenic. Lé recebeu uma folha de papel entre dois discos épticos com uma ‘enciclopédia qualquer, foi até um canto vazio e leu-a avidamen- te, Surprendew-se. — Oh, Gh, de todos os trabalhos que poderiam me dar. reclamou de si para si, entre excitado ¢ irritado, — Trabalhar de Papai Nocl, essa ni Mesmo assim, recebeuscu equipamento, dir boscada que a “Agencia” havia armado para ajudé-to, intercep- tou o artista que animaria a festa de um rico qualquer (a vitima principal de Alé, cognominado “o Careca”), matou-o € se apos- sou da fantasia, $6 faltava entrar nos bairros ricos, o que jé estava sendo facilitado pela “Agencia”. 23:30:00 O Papai Noe! Alt entrou nos bairros ricos mostran- do uma identificacio ilibada na guarita de seguranga que a “Agencia” Ihe havia determinado para passar, mas mesmo assim no escapou de uma revista completa ¢ impessoal. Improficua, diga-se de passagem, pois os guardas conscguiram no encontrar nada do que Alé levava debaixo dos ‘enchimentos} les ja haviam se vendido antes). Alé sempi se maravilhava com os bairtos ricos. As ruas lima- pas, vazias, 0 cheiro de civilizacdo, os sons suaves ¢ agradaveis, | tudo isso exercia nele uma atragio irresistivel. Por isso trabalhava | tanto, profissionalizara-se de maneira to perfeccionista: queria | algun dia morar nos bairos icos \ 5 9 Léasruas eram cortadas por duas faixas cintilantes, de apro- _ ximadamente um palmo de largura ¢ profundidade, feitas de ma- | terial acrilico ¢ fibras 6pticas que auxiliavam os carros autodirigi- dos nos seus percursos. Gracas a elas 0 motorista eletrénico po- | dia se situar e receber informacdes do computador central do Centro de Tratfego, viabilizando assim 0 carro autGnomo. E claro que nao existiam as faixas nos bairros pobres, mas que rico dese~ | jaria ir para ta? ‘= Alé caminhou durante quinze minutos até chegar ao scu destino, maravithado. Até esqueceu o calor intenso que sentia, co- berto por aquela barba enorme, aquelas malhas vermelhas ‘grossfssimas ¢ todo o enchimento para simular gordura, Esque~ ceu-se de tudo isso, até entrar na casa da vitima. Reconheceu-o quase instantaneamente, ao entrar na sala € fazer o primeiro reconhecimento do terreno. Era o politico que debatia com 0 Arcebispo poucas horas atrés. Alé engoliu em se~ o, pois simpatizara com o diseurso do careca, Mas armou-se de uma risada sincera, ¢ entrou festejando. — Oh, ob, oh, aqui chegou o seu Papai Noe}, pimpolhos, no pela chaminé mas em carne e osso. Vocés foram bons meninos e meninas? Havia trés criangas na casa: uma menina de uns seis anos, ou- ta de quatro e um bebé de uns dois. Elas gritaram e comecaram a pular em torno de Ale, enquanto o bebé se limitava a acenar os bragos © sorrir. Responderam em um paroxismo de alegria: — ‘Sim, n6s fomos boazinhas por todo 0 ano, Papai Noel. NOs vamos receber nossos presentes? — Mas €J6gico, querida, ja que vocts foram boazinhas vio reccber hojé tudo'p que merecem, sem tirar nem pOr — afirmou ‘Alé da mancira carinhosa que s6 cle sabia fazer, sorrindo por den- tro, imaginando 0 que poderia dar-Ihes. Antegozava o festim préximo. A partir deste momento Alé destigou-se e deixou sua parte inconsciente cantando os “Jingle Bells” e divertindo as criangas, enquanto sua consciéncia analisava com a frieza dos mestres as dependéncias da casa ¢ tudo o que era dito & sua frente, prep: rando minuciosamente seu plano de ataque. Primero, a sala cra ampla ¢ espagosa, com uma parede de letrdnicos a sua direita e varios transmissores de ncuroconexio (Cs ricos, Alé sabia, nfo precisavam de plugues para a ncuroco- nexio) espalhados estrategicamente. Alguns botdes de alarme ‘manual completavam os perigos possiv€is do trabalho a ser reali- 0 ( t zado; havia verdadeira paran6ia, principalmente entre os pol cos a respeito dos ataques manfacos homicidas da atualidade, ¢ se algum sinal chegasse A central de defesa da casa Alé cstaria perdidadFora isso, dois confortavcis sofis, uma arvore de natal toda enfeitada logo atras dele, uma porta para a cozinha (semi automitica, pois os politicos nao podiam parecer ostensivamente ricos para no perderem os votos dos pobres) ¢ outra para os quartos, em nfimero indeterminado. / Havia sete seres humanos, fora Ale, na casa. As trés criangas, dois homens ¢ duas mulheres. Uma loira, seios desenvolvidos, pe~ Ic impecdvel; outra, morena de olhos verdes, bronzeada e apeti tosa, A loira usava calga jeans ¢ camiscta; a morena, apenas mi- nissaia ¢ uma fita nos scios\Um dos homens era cabeludo, barba bem aparada tipica dos bem sucedidos, forte e mésculdJAparen- tava uns vinte ¢ cinco anos, como as mulheres; em contrapartida outro, o politica, a vitima, era careca ¢ um tanto barrigudo, rosto sério ¢ enrugado, de aparcntes cinglenta anos{“E: claro”, pensou ‘Alé, “pois um politico nao pode parecer aos pobres que gasta for- tunas seguindo modismos e os ditames da es seus defeitos fisicos”,) Non (00:15:00 A festa continuava ¢ Alé jé suava em bicas. As me~ ninas gritavam, puxavam-lhe a barba postiga, montavam em suas costas ¢ brincavam de cavalinho{E os adultos conversavam bebe- ricando champanhe, aristocraticaimente sentados} So (S\ CARECA: “0 fato é que nem os polticos tradicionais nem a Igreja querem dar melhores condicoes de vida d grande massa; les recisam, politicamente, que elas crescam e se estupidifiquem cada vez mais.” O OUTRO: “Voce acha mesmo que seria vidvel executar um controle de natalidade sem antes educar minimamente a opulagdo, Mello? Ou vocé pensa em imp6-10? Isto seria resuingir ‘a liberdade individual, o que.” LOIRA (aborrecidamente) “Vocé volta sempre ao ctreulo vicioso, Ed. £ imposstvel educar tanta gente, e antiético controlé- los @ forca até atingirem um numero manusedvel. Assiin a situagdo atuai se perpetua indefinidamente.” CARECA (erguendo un: dedo enérgico): “Nao indefinida- mente. E isto que os politicas e religiosos nao estdo entendendo. 61 Mesmo 0 Arcebispo, voces devem ter notado, se viram o debate de hoje, estd cego quanto & inexorabilidadte do culposo, se mantido 0 crescimento populacional. Eles todos s6 pensam em ter mais emais ‘massa votante, para apraximar a média das previsoes estatisticas — ou fractais, se preferirem — eassin wrabatharem com mais precisao. ‘Nédo aceitam que, mesmo sem falta de comida, hé uma populacdo limite. E a sociedade esté provando que hdl” MORENA: “O que vocé quer dizer com populacao limite, ‘Mello? Com os processadores alimentares e os coletores energéticos orbitais, por que haveria limite além dos fisicos ede falta de matéria? A Igreja estima em cingitenta bithoes.. (Alé quase teve um colapso.ao ouvir acifra cinqiientailhécs. TTeve ganas de Ihe retalhar 0 Gtero, enquanto uma das meninas esporeava-lhe as costelas e puxava-lhe as orelhas como arrcios, indo desbragadamente.) CARECA (interrompendo-a): “Mesmo que objetiviéssemos ‘aiingir uma poputacdo estdvel de cingiienta bithdes de habitantes, deveriamos iniciar um controle demografico ja. Mas nem tsso @ greja se preocupa em fazer, pela simples razdo, de que ndo querem ‘parar o crescimento. F, pior, nem os patses ricos desejam que os pobres controlem seu crescimento; é uma seguranca e estabilidade a mais para eles. (Ale definitivamente simpatizava com o careca. Pela pri- meira vez sentia algo como diividas na sua obstinagiio homicida.). © OUTRO: “Acho que voce estd sendo por demais para- néico, Mello. Nao é mais simples supor que 0 ceme do problema estd no subdesenvolvimento, ¢ que a economia.” CARECA (interrompendo novamente, irritado): “E légico que 0 ceme do problema esté no subdesenvolvimento e na Cultura do Povo. Mas ndo resolveremos nada sem medidas rigidas e ime- diatas. Precisamos quebrar urgentemente o circulo vicioso!” A LOIRA assentiu, sorrindo de leve e encorajando 0 CARECA a completar seu raciocinio, Este entiio acrescentou: CARECA: “A humanidade atingiu hoje um ponto que beira © colapso populacional puro e simples. E 0 fendmeno da reversao do cariter gregirio da espécie, com o aparecimento de “elementos de controle social”, psicopatas homicidas, desesperados com afalta de espaca minima que um ser humana necessita para ser Psicologicamente saudével. Isso acontece nas experiéncias com ratos.” 62 E ante & incompressio do OUTRO, explicou: CARECA: “Em cerias experiéncias com populagoes de ratos, simula-se uma explosto demogrifica em ambiente fechado: um prédio ou viveiro, por exemplo, de tal forma que os ratos tenham sempre comida suficiente para todos, ras estejam impossibilitados de sair. Apés um determinado limite populacional aparecem certos ratos, os “elementos de controle”, que se totam assassinos, infan- licidas ¢ até mesino canibais — sem necessariamente precisar dis- 40, lembre-se de que eles passuem comida suficiente — apenas por- que o espaco minimo requerido pela individualidade da espécie fot violado. Estas reagées comecam cont os individuos instaveis e de- ‘pois vao se alastrando por toda a populacao.” é (Al estava boquiaberto, pasmado. O que ocareca 1, Zilhdes de idéias ¢ pensamentos corriam-Ihe vei mente pela mente. Mas, qualquer que fosse a conclusio, jé sa ue nao queria matar aquele homem. Restava osentimento de sorém.) ‘CARECA: “O mesmo esid acontecendo agora com a hnuna- nidade. A Terra € um ambiente fechado; ou methor, podemos até \| nos restringir aos bairos pobres, pois os bairros ricos ndo permitem | a entrada de pobres ¢ os patses ricos vetam qualquer imigragao. Os | individuos estdo presos, condenados @ multiplicagdo irracional, | com o espaco individual cada vez menor; pois bem, atingimos o lic ‘ite: a onda de erimes hedigndos, gratuitos, ndo é fruto da Astro- logia ou de una matdicdo. E dindmica social pura’” © OUTRO (de othos arregalados): “Mas...” Neste momento a menina mais nova gritou: — Papai, posso dar banho de banheira no nené? tenho medo que voce deixe ele se afogar — , sorrindo, , — Ab, por favor, Tio Melld, eu judo cla — completouamais velha, desmontando Alé. — Esti tao quente aqui! E nds ganha- ‘mos patinhos-rob do Papai Nocl!! A loira sorriu em concordancia. — Fui eu, Mello, Esté bem, criangas, podem ir, Mas Alice, vvooé tem que prometer que nao desgruda dele, = Juro por Deus, tia! — gritoua mais velha, aguda e alegre mente, jé desaparecendo pelo corredor. All ficou sozinho perto da 4rvore de Natal, como um brin- quedo abandonada. Temen ser despachado naquele momento, mas 0 careca olhou-o ¢ disse: — Hei, amigo, se em dez minutos clas no mudarem de idéia e safrem da 4gua, pode ir embora, Imagino como deve ser quen- te esta fantasia, mas criangas, voc’ sabe como sio... — Pode deixar, Sr., eu ja fui pago até uma hora da manha — respondeu Alé um tanto secamente, como seria de se esperar de ‘um homem pobre em meio a tanta riqueza, sentando-se, por fim, — Tudo bem, entio — comentou 0 careca, sem graca. ‘© Papai Noel teve ainda que ficar sentado por cinco minutos, até que a oportunidade chegou. (00:45:00 A loira sugeriu uma rodada de “paraiso vermelho”, droga sensual de custo extremamente elovado ¢ inexistente nos bairros pobres. Apés certa relutincia, 0 carcea accitou (“Ele jé vai embora, Mello”, disse a morena, referindo-se ao Papai Noel), As mulheres foram ento & cozinha preparar as porgées. {Ale s6 perdeu alguns segundos, Podia fer simpatizado com co politico, masse nao fizesse seu trabalho a““Agéncia” cagaria sua cabega, Ainda sentado, retirou inocentemente do bolso a “cane ta” (na verdade um dispositivo emissor de ruidos eletromagnéti- cos munido de bateria de descarga répida), acionou-a e deixou: cair embaixo da drvore. A partir deste momento teria cinco minu- tos em que nenhum neuroconector poderia se comunicar com a central da casa, dando o alarme ou mesmo chamando um rob6- seguranga, 00:46:00 Levantou-se, ¢ agora com ambas as miios nos bol- 0s, procurou as pistolas de pressio que trazia escondidas sob os enchimentos. Apalpou-as ¢ se sentiu mais seguro; destravou-as ¢ as trouxe para logo atrs da manta vermelha. ‘Aquelas pistolas atiravam pequenas setas metélicas com um milimetro de didmetro, geralmente envenenadas, que devido & altissima pressio perfuravam até um centimetro de ago-titinio 35N. Mas Alé sabia que nao precisaria de tudo aquilo ¢ tinha ro- gulado a pistola para mais setas e menos poténcia por unidade. E atirava setas “benzidas” com um poderoso paralisante, a fim de que pudesse exercitar seu sadisma antes de terminar a trabalho. — O que voc’ deseja, rapaz? — perguntou 0 careca a0 ver 0 Papai Noel aproximando-se. 64 — Nada, senhor — respondew Alé com um sorriso, estacan- do a sua frente e apontando a pistola escondida. — S6 esticar um pouco as pernas, — Pois entio... Flup. O careca aquictou-se instantaneamente e caiu por ter- a, 0 outro virou-se, intrigado. Flap, Ambos fora de agio. 00:46:30 Depois, com dois pulos alcancoua portada cozinha, bem em tempo pois a morena de minissaiajé estava saindo com a bandeja de drogas. Erguendo ripida e vidlentamente a perna, sem ao menos flexioné-la, Alé atingiu-a bem entre as coxas, no meio do sexo. Ela voou alguns centimetros e largou a bandeja, 0 rosto contorcido de dor, enquanto Ale se rejubilava com a idéia deter levado scus ovérios até a garganta (¢ pensou: “fala cingiien- ta bithdcs agora, cachorra!”), Em seguida procurou a loira. Flup. Ela caiu instantes antes de apertar o botio de alarme. — Mamie? Vocé derrubou alguma coisa? — veioa vozinha dda garota mais nova, allita, 00:46:45 Alé passou rapidamente os olhos pela cozinha achou 0 que queria, “Estes politicos”, pensou, sorrindo maquia- velicamente, “sempre tendo que fazer a imagem de ricos no ostensivos."(A cozinha era semiautomitica mesmo, ¢ possufa até ‘mesmo tomadas) Conseqientemente, também aparclhos elétri- cos. — Mamie? — veio o grito ainda mais aflito cortante. Alé arrancou a torradcira do seu plugue e correu para o ba- nheiro. 00:47:00 A menininha estava na porta do banhciro, nua c tro- mendo, com a mio no botao de alarme mas sem coragem para ligé-lo. Ao ver 0 Papai Noel com quem tinha brincado por quase uma hora correr para acudi-la acalmou-se, como Ale previrafEle aproveitou o impulso para lhe atingir em chcio o rosto, com a. ta preta de Papai Noel Ela caiu dentro do banheiro, desmaiada. Alé entrou calma- mente, encontrando a mais velha ¢ o menino alnda na agua. ~ 0...0 que vocé quer? — gaguejou a menina aterrorizada, agarrando-se descsperadamente ao bebé. — Calma, querida, s6 vou dar a voots o presente que merecem — respondcu Alé sem nenhuma emogio na voz, jproximando-s¢ eligandoo plugue da torradciraa tomada do bar- beador clétrico (outro anacronismo obrigatérip aos politicos). 47:15 Deu um pulinho para tras ¢ jogouatorradeiraligada na égua, observando o resultado. Em fragdes de scgundo a casa pereebeu 0 curto-circuito © destigou a tomada correspondente. Alé nfo se perturbou, Trocou 6 pente de setas paralisantes por um letal ¢ Flup.Flup.Flup. na ccabega de cada crianca, para se certificar, ‘Voltou a cozinha, agora caminhando despreocupado, ¢ en- controu um rastro de sanguc levando até a morena, que tentava alcangar o botio de alarme. Alé chutou-a novamente, agora na barriga, virando-a de mada que o encarasse. O terror estampava- se em sua face. Felicidades, amiga. A brincadeira acabou — murmurou cle simplesmente. 00:48:00 Flup. A morena parou de sofrer ¢ tentar besteiras. Flup. A loira acompanhou-a, ira que o crime parccesse obra de um assaltante manfaco homicida e nao um atentado politico, como a “Agéncia” queria que fosse, Alé passou a revirar a casa. Retigou as jéias das mu- theres, ‘iraveasbuasalacrovsiou os quarioge todoocuidado para nao acionar os alarmes anti-roubo, ¢ lgicn)J coletando tudo ‘oquetivesse algum valor e jogando-os no saco do Papai Noel. No quarto do careca, encontrou uma série de discos épticos e dois separados, intitulados “A Explosio Demogrifica: Mais Causas Politicas do que Culturais”, que também jogou no saco, Agora vinha a parte mais dificil, Voltou a sala. Tinha ainda quase um minuto. 00:50:00 Os homens estavam imobilizados, os olhos brilhan- do de firia. Alé tentou acalmé-los, 66 — Podem ficar tranqitilos, senhores, que cu no vou abusar de nenhuma das mulheres ou criancas desta casa, Vim aqui fazer um trabalho limpo e profissional. Ja esto todos mortos. Vendo que s6 havia piorado a situagio, Alé mudou de tati- ca. — Amigo, me desculpe, mas preciso conversar em particn- Jar com 0 Dr. Mello. Flup. O outro foi-se (para sempre). Alé tomou a cabeca do politico em suas mos, virou-o de costas comecouacutucar-Ihe oneuroconector, destruindo-o-en- quanto comentava: = Desculpe, Mello, mas et: no posso me dar ao luxo de ser pego enquanto estou fugindo. E a caneta emissora de rufdos vai pifar logo. 00:50:30 Concluido o trabalho, Alé fitow o politico com gran- de embarago, sem saber por onde comecar, até que decidiu-se: ‘Naiosou um homem de muitas palaveas, mas acho que pos- so te dizer o seguinte: cu ia maté-lo, a“Agéncia” me incumbiu © ceutopei, mas depois de te ouvir eu nao posso fazer isso. Sabe[ag0- ra que a sua familia foi morta eu acho que suas opiniGes vao ter ‘um peso politico muito maior. E a partir de hoje vocé vai passar a sentir na carne o problema, ter 0 meu fogo dentro de si. ‘Alé engasgou um pouco, ¢ continuou: — Eu precisava fazer isso, para que amanha saia no jornal que vocé foi morto. O que vai acontecer, para sua seguranca, sendo eles mandam outro melhor em meu Iugar. Bom, boa vida para voce. (00:52:00 Dirigiu-se rapidamente a porta e salu. Agora s6 fal- tava buscar seu pagamento de Natal. Mas, diferentemente das outras vezes, desta Alé nio sentia nenhum prazer pelo que fizera.

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