O texto discute como o hábito e a rotina podem cegar as pessoas e impedí-las de realmente "ver" e apreciar as coisas ao seu redor. O autor usa o exemplo de um homem que passou 32 anos passando por um porteiro todos os dias, mas nunca o viu de verdade. Crianças e poetas são capazes de ver o mundo com olhos mais frescos e curiosos.
Descrição original:
Belo texto de Otto Lara Resende, publicado originalmente em O Estado de São Paulo
O texto discute como o hábito e a rotina podem cegar as pessoas e impedí-las de realmente "ver" e apreciar as coisas ao seu redor. O autor usa o exemplo de um homem que passou 32 anos passando por um porteiro todos os dias, mas nunca o viu de verdade. Crianças e poetas são capazes de ver o mundo com olhos mais frescos e curiosos.
O texto discute como o hábito e a rotina podem cegar as pessoas e impedí-las de realmente "ver" e apreciar as coisas ao seu redor. O autor usa o exemplo de um homem que passou 32 anos passando por um porteiro todos os dias, mas nunca o viu de verdade. Crianças e poetas são capazes de ver o mundo com olhos mais frescos e curiosos.
(...) Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta s isto: um certo modo de ver. O diabo que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. V novendo. Experimente ver pela primeira vez o que voc v todo dia, sem ver. Parece fcil, mas no . O que nos cerca, o que nos familiar, j no desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina como um vazio. Voc sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se algum lhe perguntar o que que voc v no seu caminho, voc no sabe. De tanto ver, voc no v. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prdio do seu escritrio. L estava sempre, pontualssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e s vezes lhe passava um recado ou uma correspondncia. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer. Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? No fazia a mnima idia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser tambm que ningum desse por sua ausncia. O hbito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas h sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? No, no vemos. Uma criana v o que o adulto no v. Tem olhos atentos e limpos para o espetculo do mundo. O poeta capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ningum v. H pai que nunca viu o prprio filho. Marido que nunca viu a prpria mulher, isso existe s pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. por a que se instala no corao o monstro da indiferena.
Texto publicado no jornal Folha de S. Paulo, edio de 23 de fevereiro de 1992.
Em nossa formao como Psiclogos somos convidados a desenvolver olhos que Vem, que percebem o outro, em sua individualidade, em sua singularidade. Como ajudar ou outro sem conhec-lo? A Antropologia faz parte de nossa formao, pois precisamos conhecer o ser humano tambm em seu aspecto social e
cultural, saber os caminhos que nos trouxeram at aqui, ao longo da
histria, e as relaes que nos unem no presente. O Psiclogo precisa ter interesse pelo ser humano, gostar de gente, ter uma mente aberta e um profundo respeito pela histria de cada ser. SAS