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mera garantia processual restrita aos poucos “homens livres’ —, 4 procura de um antecedente’. O artigo 92 da Declaragao de Direitos da Virginia (12.jun.1776) afirmava que as leis com efeito retroativo, fei- tas para punir delitos anteriores a sua existéncia, so opressi- ‘yas e ndo devem ser promulgadas. A secao 9° do artigo I da Constituigdo americana (17.set.1787) profbe a promulgagio de decreto de proscripdo (Bill of Attainder) ow de lei retroativa (ex post facto Law). O artigo VIII da Declaragao dos Direitos do Homem e do Cidadao (26.ago. 1789) prescrevia que nin- ‘guém fosse punido sendo em virtude de uma lei estabelecidz ¢ promulgada anteriormente ao crime (loi étabiie et promulguge anterieurement au délit). Parece que o primeiro corpo de leis pencis a incluir 0 principio foi a codificagac de D. José I da Austria, de 1787 (Jesephina). A formula latina foi cunhada e introduzida na linguagem juridica pelo professor alemao Paulo Jodo Anselmo Feuerbach (1775-1833), especialmente em seu Tratada que veio a lume em 1801+, Ao contrario do que se difunde freqitentemente, das obres de Feuerbach nfp consta a formula ampla ‘‘nullum crimen nulla poena sine lege”; nelas se encontra, sim, uma articulagao das férmulas “‘nulla poena sine lege’, “‘nullum crimen sine poena legali’” e ‘‘nulla poena (tegalis) sine crimine*”. Um dos pilares sobre os quais se assentava a cons- trugiio feuerbachiana estava em sua concepgio preventivo-ge- ral da pena, entendida como ‘‘coagio ps:colégica”’. Se a intimidagdo era a mais relevante fungiv du peua, ¢ sua infligio 3 Obprinipio ds legalidade era desconhesido do dire romano, ensina Mester op ced. p-BI). Osantecedenes anteriores ust, comoa Magna Charade 1215 (Constinuto criminal cerlingia de 1336, nfo poswem » setido movemo deste ‘principio, ensina Mir Puig (ope, 142) A eferéuciad lida era ("el per lege {erae") 0 final 60 artgo 3) da Mayra Chara, segunéo opnibes respetives, irvocaos costes (LaisC. Cabal, Ubicacn hsica del principio nultumcrinen full poena sine lege, B. izes, 1958, p. 5). 44 Paulo Jao Anselmo Foterbeh foi pi do famoso fiésofe Ludwig Feuerbach 5 Cattaneo, Mari, Anselr Feusrback — floaof e grist liberal, Mili, 197, p. 451 66 deveria reforgar esse efeito intimidatério, s6 poderia ser infli- gida a pena com a qual a propria lei ameacara’. Outro pilar estava em seu arraigado liberalismo, que através do cédigo penal néo s6 pretendia a defesa do estado diante do criminoso mas também do criminoso diante do estado’. E inegivel, por fim, 0 influxo da concepgio contratualistica e da questo — predominante no debate politico da época — da divisio de poderes, téo presentes no classicismo penal, como se pode constatar, por exemplo, em Beccaria', principio da legalidade, base estrutural do préprio es- tedo de direito, é também a pedra angular de todo direito penal que aspire & seguranga jurfdica, compreendida nfo apenas na acepeio da “'previsibilidade da intervencao do poder punitivo do estado”, que the confere Roxin, mas :ambém na perspec- tiva subjetiva do ‘“‘sentimento de seguranga jurfdica’’ que postula Zaffaroni*, Além de assegurar a possibilidad: do pré- vio conhecimento dos crimes e das penas. o principio garante que 0 cidadao nao sera submetido a coergao penal distinta daquela predisposta na lei. Esté o principio da legalidade inscrito na Declaragio Universal dos Direitos do Homem"ena Converigio Americana sobre Direitos Humanos" 6 Cananeo, op. BT. Enst Bloch, Derecho natal ydiguidad mana, wad. Vireou, Masi, 1980, p 265. 15 Apenas a Ils poem Finur am pens curt rel as denn prea; © eae utoridade ndo yode reside senda na pessea do lepshior, que representa tods 8 Scledade agrupada por ur contrato social. Nenu sagitrad (que tumbsm fer pre da sociedae) pode, com justiga,ialigr penas conta outro memibo da mesiea feciedade™ (Dos deltos e das pena, trad. A. Carlos Campana, 8. Pati, 1978, p. 108), 9 Roxin,Incinién al dereeto penal de hay. kad. M. Cande e Lunda Pel, Sevilna, 1981, p. 98; Zalfaroni, Manual, cp 48. 10 At. Xi, 2: “"Ninguém posers ser eulpado por quslquer apo ou emisio gue, no ‘momento; censttufem dito peranteo dito racioral eu ntereacional Tamm ‘io ser impost pena aks forte do que aquela que, no momento da p aplcivel 20 ato delituoso” 1 An. 9: "Ninguim pode ser condenado por ees ou onissbes ave, no nomenio‘em 1.452; Fragoso, Ligdes, ci, p. 93; Muox Conde, ltroducci, 67 | Entre nds, 0 principio figura na Constituigao, entre os direitos ¢ garantias fundamentais"* e no artigo 1? do Cédigo Penal, com a seguinie redagao: ‘*Nao hd crime sem Jei anterior (que o defina. Nao ha pena sem prévia cominacio legal”. A abrangéncia do principio inclui a pena cominada pelo legisla- dor, apenaaplicada pelo juize a pena executada pela adminis- tragdo, vedando-se que critérios de aplicacio ou regimes de execucdo mais severos passam retroagir. No que tange A exe- cugio da pena, até mesmo a matéria disciplinar esté agora comprometida com o Frinefpio da legalidaie, como se vé do art'go 45 da Lei de Execugio Penal”, ‘Sem divida, a prineipal fungao do prineipio da legalidade €a fungdo constituriva, através da qual se estabelece a posi vicade jurfdico-penal, com a criagao do crime (pela associa~ ‘gio de uma pena qualqer a um ilicito qualquer). Nem sempre fe percebe que o princ pio da legalidade nao apenas exclu as peas ilegais (Fangio de garantia), porém ao mesmo tempo constitui a pena legal (fungio constitutiva), Pode o principio da legalidade, visto pelo prisma de garan- tia individual, ser decomposto em quatro fungées, que exami- raremos a seguir. Primeira: proibir « retroatividade da lei penal (nul/um crimen nulla poena sine lege praevia). ‘que Forem cometidss, no sejam deituosss, de acord> com o rete aplisive “Feimpouco se pode impor pes mais grave que aplicével no momento da perperagao a deli. tz Aru St oe. XXXIN: ni hi rime sem lel aneior que o defina, ner pen em fecvin cominagio legal” Todas as Consiuigies Wrasilires proclamaram o FrincpiosC. 1824, at 149.12 11;C. 1891, an. 7, § 15:C. 1934, at 13, 26;C. 1937, unt, 122, nf 13:C. 1946, ar. 14), § 27;C. 196ME. 69, ar, 153, § 16 (ult redo, nas palavias de Fontes de Mirands, canstituia “documento hisiico da Jsuperadn medieridad gcvernanie de 1961-1961" (Canentirios & Conse de 1967, 8, Paulo, 1971, t Wy p. 242). 15 Leint7.210.de 11 ja 84— Lei de Exccugto Pen! (LER), ar. 45: "Ni aver falta ‘nem sagio disciplines sem expressae anterior proviso legal ou regalametar 8 ‘Temos aqui a fungio “‘histérica”” do princfpio da legali- dade, que surgiu exalamente para reagir contra leis ex post facto. Tudo que se refira ao crime (por exemplo, supressio de ‘um elemento integrante de uma justificativa, qual a vox “iminente’” na legitima defesa) e tudo que se refira & pena (por exemplo, retificagdo gravosa na disciplina da prescrigao) no pode retroagir em detrimento do acusado, E hoje opiniao doutrindria dominant que a irretroatividade deva aplicar-se tembém as medidas de seguranca''. Note-se que a lei penal retroagird sempre que beneficiar o acusado, seja pels revoga- ao da norma incriminadora (abolitio crirminis), seja por qual- quer outro modo (art. 2° CP), excetuande-se as chamadas | excepcionais {promulgadas em face de situagies especial- mente calamitosas ou conflitivas) € leis tempordrias (promulgadas com termo de vigencia) — (art. 3: CP). © aprofundamento dessas questées, bem camo a carac‘erizagiio do que seja, na hipdtese de concurso, a lei mais favordvel, pertencem a teoria da lei penal. Sustentou-se que o chamado Tribunal de Nuremberg vio- Jou o principio da legalidade, sob o aspec'o da irretrcatividade da lei penal. No Brasil, 0 caso mais escardaloso foi s imposi- ‘gio, por decreto, da pena de banimento a presos cuja liberdade era reclamada como resgate de diplomatas seqiestrados por organizagoes politiczs clandestinas, durante a ditadura mili- tar. Sem reserva legal e sem processo, os presos —que nada aviam feito — eram atingidos por auténtico bill of atiainder, impondo-se-Ihes uma pera nav eontemplada previamente em tei 11 Ni ent nds;sxeriormente, através do argument poiivists de que ws medidss de segurangadevion ser sass como um emo; agora, porowstto dudes aint ‘Ho ou tratamene de lnimoutiveis ou semi-imputives, CF, Fragoso, L goes itp. 94 15 Por forge doine.XL dort. 5*CR,arevoatvidade dale mas benéies tm curfterde erat i ida, impoedo-se uo legslador peal oo Segunda: proibir a criagdo de ctimes e penas pelo costume (nullum crimen nulla poena sine lege scripta) S86 a lei escrita, isto é, promulgeda de acordo com as previs6es constitucionais, pode criar crimes € penas: nfo 0 costume. “Destacar a exclusio do costume como fonte de crimes e penas”, frisa Mir Puig, € exigéncia do principio da legalidade". Isso ndo significa, por certo, que 05 costumes aio participem da experiéncia juridico-penal: Assis Toledo assi- nala tratar-se de *equivoco a suposigae de cue o direito costu- meiro esteja totalmente abolido do ambito penal". De fato, € indiscutivel que os costumes desempenham uma funcao inte- grativa, que provém principalmente desua influéncia no direi- to privado". Tal furgdc integrativa se apresznta na elucidacio de clementos de alguns tipos penais (por exemplo, “mulher honesta’* no tipo do rapto — art. 219 CP —, ou “‘ato, objeto ou recitacio obscenos” , nos tipos de ultraje pablico ao pudor — arts. 233 e 234 CP)®. Apresenta-se ela igualmente no conceito central (dever objetivo de cuidado) dos tipos culpo- sos, sempre que a atividade dentro da qual ocorreu 0 fato no 16 tiroduccin, et, p15. 17 Princpios bisicos de cirlta penal, 8. Paul, 1985, p. 2 18 Costae Silva, Comentirios aa eddigo penal brasil, S, Paulo, 1967, p. 17: Anil Bruno, op. cit p- 189 ques mo sna pbliew eu pada, ale yeu se reporaatin comane fo &, 3 moraldage coletva em toro dos Tacs da vida social, ficando Subordinada, para 0 Sot entendimoata © aplicagio, & vaibilidade, no tempo no ‘expoga, deste costume” (Comentarios a eédige pena, Ro, 1958, 1st 1 9). ‘Advinse pars of risens deaecitar-s, acritieamente, a concito de “moraidde ‘eletva numa socodatedeclsses.Ensina Adolfo Sander Vasquez serevidentea ‘utoreza paicular da morsl nas sociodades class, em face da preienso de uma ‘moral universimente vilda”” (Erica, td. J. Dell'Apma, Rio, 1970, p. 199). “Difilmente ae classes dominanes conseguem impor 8 moral por eas eiabonda ‘ald da sociedade” (Cesare Luporii. As raz da vida moral, in Delis Vope et 1, Mera «sociedad, dN. Rissone, Rio, 1969, p. 65); emretano, stra de :oneeitas como "moral dadecoleiva’', eto px warsfurmaracooryiopenal no ‘mus tesve instramento de: sua imposigéo, 10 esteja positivamente regulamentada de modo exaustivo™, como também em justificativas (pense-se no exercicio regular do direito — art, 23, inc. III CP — enquanto aplicagao de castigos fisicos na corregao educacional de menores). Nega- se, geralmente, uma fungio derrogatéria aos costumes (desuetudo penal); Oscar Stevenson a reconheceu em hipéte~ ses que tratarfamos hoje como “‘adequagio social da agao”” (perfuragao de orellas para uso de brincos, circunc:sio), dele dissentindo Hungric™. A verdade € que 2 adequagio social da agio, seja enquanto justificativa de carter consuetudinario {assim a concebeu Welzel durante longo perfodol, seja en- quanto prinefpio de interpretacdo que reinsere os tipos pena:s numa sociedade historicamente determ:nada (coma a conce- beu o iiltimo Welzel), estd indissoluvelmente ligada aos costumes". Podemos, assim, concluir que o principio da le- galidade profbe a intervencdo dos costumes apenas — porém incondicional e totalizantemente — no que concerne & criagto (definigdo ou agravamento) de crimes penas. Inscreve-se aqui a questao das fontes. Fonte de produgio (ou material) do direito penal é ¢ Congresso Nacional, ao qual, com exclusividade, a Constituizo da Repiblica defere o po- der de legislar em matéria penal (art. 22, inc. 1e 48). Segundo ‘Anibal Bruno, em passagem de matiz historicista, muito aco- Ihida, por tris dos drgdos estatais que -litam o dirtito estaria 20 Mulioz Conde va intervengo integrativa ds costames no coneeio de "iiggn- cin devida” ru condugio de automéveis Untroducién cit p. 89. Ene a6s. a fxiséncia de wm Cédigo Nacional de Trsit (ei n° 5.108, de 21st. 1966) fextensamente regulamentado (decreto n° 62.127, de 16.jen.198, ¢ indmens outros — ef. Legislagas de irdnsto, Brasilia, 1982, ed. Ministre és Justia, p. ‘50 ss), toma esritamente suplementar a intervengzo des costes & hipoese. Suarez Tavares reconhere no desaendinentoaocuiJado objetivo exigvel wo auor 4o crime culpaso uma. “earacteristica normativa aberta (Teoris do deli, S. Poulo, 1980, p. 68). Assinala Heitor Coste Jc. a impossibilidad de descrigho exaustiva da conduta funivel nos crimes eulposos (Teoria dos ermeseulpases, Rio, 1988, p. 55). 21 Hungtia, op ci, p. 95. 22 Welae, op. ct, p. 8355 a “‘aecnsciéncia do povo em dado momento do-seu desenvolvi- menty histérigo, consciéncia onde se fazem sentir as necessi- dades sociais e as aspiragoes da cultura, da qual uma des expressdes € 0 fendmeno jurfdico’’>. Essa linha de especula- gio, que substitui a modesta verificagdo da produgio objetiva do direito peta mistica inconsistente de um “‘espirito nacio- nal”, ou cumpre, se desenvolvida, uma fungio ideolégica de farer passar por yontade do conjunto do corpo social a vontede de uma classe, ou estimula, se contraditada, uma simpiificago mecanicista que — com muite maiores razdes — pode situar no modo de produgao as verdadeiras fontes do direito™, Fonte diretade conhecimento (ou formal) de normas que cefinem crimes ¢ cominam ou agravam penas é apenas © tdo-somente a /ei; mu‘to adequadamente frisa Mestieri ser a lei penal ‘‘a fonte ou forma de expresso tnica de direito criminal quando se trata de definir infragdes penais e cominar penas’™*. Além desse campo — porém muitas vezes, indireta ou suple- mentarmente, neste mesmo campo, coo vimos acima — temos os costumes ¢ os principios gerais do direito penal, um des quais estamos exatamente estudanda neste momento. Es- pecial importincia tém os princfpios constantes de documen- tos internacionais de direitos humanos, como a Declaragio Universal dos Direitos Hemanos, resolugio da Organizago das NacGes Unidas, de 10 de dezembro de 1948, ¢ a Declaragio Americana dos Direitos e Deveres do Homem, recomendacio da IX Conferéncia Interamericana, de 2 de maio de 1948, Em novembro de 1969 foi firmada, em San José, Costa Rica, a Convengao Americana sobre Direitos Humanos, conhecida como *"Pacto de San José da Costa Rica", que 0 documento 23 Op. cit. p. 187; endossan the as palavras Dumisio op. cit, p. 29), entre outs. 24 Ciina dos Santos, Direto pena, et, p. 24. CC. ainda Konstantin Stoyanovitch, La ‘pensée morsita ee drat, Vendiine, 1974, p. 4S, para quem a oatade da clase ominante font farmal do dito 25 Op cit.p. BI. Air Bustosqe ali és nica fonte “para poder punitva esata mraduecion, Gp. 35 +P 8) € Mirbew (ep. n fundamental da protecdo internacional dos direitos humanos, no Ambito americanc; 0 Brasil a subscreveu em 1986, ja Ihe havendo concedido 0 Congreso Nacional a azrovacdo constituciona’”. Fala-se em “reserva absoluta’’e “*reserva relativa" de lei para aprofundar 0 entendimento de dispositivos constitucio- mais concernentes a reserva legal. A concepgdo de “reserva absoluta’” postuta qa a lei penal resulie sempre do debate democratico parlamentar, cujos procedimentos legislativos, € 6 eles, teriam idoneidade para ponderar e garantir es interes- ses da liberdade individual e da seguranca publica, camprindo & lei proceder a uma “integral formul: forma, s6 a lei em sentido formal poderia criar crimes & cominar penss, com “‘a obrigacio de disciplinar de modo direto a matétia reservada’™. A concep¢ io de reserva relativa nega 0 monopdlio do poder legislativo em assuntos penais™ e admite que a matéria de proibicdo possa ser parcialmente definida por cutras fontes de produgio narmativa, cabivel que © legislador estabeleca estruturas gerais ¢ diretrizes, a serem complementadas, as primeiras com observancia das segundas, pelo regulamento". A constitucionalidade das normas penais em branco de complementacao heterdloga seria discutivel & 26 Cl. ragoso, Direito penal edirctos humanos, cit, p. 9425; Lyra Filho, op. cits, ps Te 109. 27 Decroto Lepsiativo n? 589, D.C.N, de 2.jun.69. Bilcola, France, Lar. 25, cowl 2+ © 22 della Conttushone ovis ll fi degli ana “70, in La grestione criminal, x: 23, Bolonha, 198C, p. 210; de mesmo autor, La diseresionllid nel dire penal, Milbo, 1968, p. 733 B Sinisealeo, Maco, Ireiratved delle leg in materia pene, MiB, 1969, 3. Para umaconeepgdo abscluta da reserva ep, no pao Presidenteda Repibica editar medida provisia (art. 59, ine. V CR) sobre maria peal [Nilo Batista, Bises consthucionns do prinspio da reserva legal, in ADP n° 35, p. 37. £22 Chamam-se nomas penas em branco aqueis nas quais a condutaincriminade nie ca integralmente deserita, necesitande de uma cemplemeniaio que se epre- seataem outrodispositivo de lei (complemeniagdo haméloga), seja 3a propria Ie penal (complementasao homOloga xomovitelina), seja de lei diversa Lp. 119 s Zafar, Manual, B | | | | luz da reserva absoluta da lei. Em todo caso, como ensina Petrocell, o complement administrativo que passa a integrar uma aorma penal esté sujeito a todas as exigéncias que deri- vam do principio da legalidade: o contrario significa violagdo do préprio prinefpio” Terceira: proibir 0 emprego de analogia para criar crimes, fundamentar ou agravar penas (nullum crimen nulla poena sine lege stricta). Chama-se analogia © procedimento légico pelo qual 0 espirito passa de uma enunciagao singular a cutra enunciagao singular (tendo, pois, cardter de uma inducZo imperfeita cu parcial), inferindo a segunda em virtude de sua semelhanca com a primeira’; no direito, terfamos analogia quando o jurista atribufsse a um caso que nio dispoe de expressa regula- mentagéo legal a(s) regra(s) prevista(s) para um caso seme- Ihant2. A férmula bisica da analogia, extrafda de Atienza Rodriguez, vai a seguir grafada; nela, para nossos fins, ““M"" (complementacko boméloga heterovitelin), ou em fntesleisativas de hier ule consttucional inferior, como o ato administativo, ou a ti estadgal cu (complementagio heterSloga), Foi o pemlistaalemto Kar Binding sue, dentro de seu projet tedrcode ompete lei pal am conjunte denorss Aistatas do prépro ordemumento jurfico-pensl, empreends a primeira t {Ho importunte a respeito de ais normas,cunhanda- hes a designagie que, leve- fouc alterads, ainda penlara (Blankeitaraygeres), aied formulance a = respeito uma famosa expresto: dizi ele que, sem = proibigio do completivaéa norma, a lei penal pareceia wry corpo errante que bisea six ska (en irender Korver seine Sele such). Cf. Binding, Die Nornen und ihre Ubertreran, recht, 1965, v.1,p. 162 Thompson, Augusto, Lei zenal em brane retroatvi- dade bends, in Rv. Dir. Procuradoria Geral E. Guenabors, Rio, 1968, v. 19,9 123: Nilo Bats, Observes sobre a norma penal ¢ sia interpreta, RDP 2? 17/18, p87. estudo das 1ormas penis in brancopeene> & teria da lei penal. 33 Norma penalee rgolamerto, in Sage! dl dirito penal, 2 ie, Pan, 1965, p. et 544 Mastin, Légica menor, trad. 1. Neves, Rio, 1972 p. 30; Puigimas fle de Indugho reconsiruiva (Ligiea ara jurisias, Barcelaas, 1969, p. 127). 35 Sobse la anologta en el derechc, Med, 1986, p. 48, — 74 e “'S"” representardic condutas humanas e “P"* representaré nao apenas proibido, mas proibido sob cominacao de pena. ay MéP @) S é semelhante a M @)SeP Salta aos clhos a total inaplicabilidade da analogia, perante © principio da legalidade, a todae qualquer norma que defing crimes e comine ou agrave penas, cuja expansio Iégica, por qualquer processo, é terminantemente vedada, havendo neste ponto unanimidade na doutrina brasileira. Como vimos, o direito penal nazista utilizava-se larga- mente da analogia. O artigo 1: do cédiga penal dinamarqués de 1930 estipula qu ‘‘ninguém pode ser punido com pena sendo por atos cujo cardter criminoso esteja consignado em kei, ow que sejam inteiramente assimilaveis a tais atos"”, mas parece que a cldusula analégica é reconstruida pels doutrina sem lesio ao principio da legalidade*. Na Unido Soviética, desde 0 cédigo de 1560, que se seguiu As “*bases” de 1958, a analogia é uma “‘instituicdo abolida’”. Na Chins, mesmo ap6s 0 cédigo de 1979, a predominancia de um conceito material de crime, definido como um ato que ofendaa sobera- nia do estado, a integridade do territério, o regime da ditadura do proletariado, a revolucdo ¢ a edificagae socialistas, a ordem 36 Zaffaroni, Manual, cit, p. 136. 37 Zéravomislav +t al, Derecho penal sovidtice, a8. N. More © J. Guerrero, Bogoté, 1970, p. 52. Em 25 de dezembro de 1988, » Soviete Supreme da Unifo romulgou prncipis furdamentais que deveriam constr ab bass dos novos cédigos des replicas fedoradas ("Bases"), Em 27 de outubro de (960, a Repiblica Socialists Fecerativa Sovitia da Russie, certamente a rais imp ‘ante influent das 15 replicas Federaas, promal 01 Seu novo ego pen também um novo eédigade processo peal uma le de organlaagan judieiri). ‘Quer em seu anigo 3" fuadamentos da responsabilidad penal), quer sa seu artigo 7 (conceito de crime), © componente macrial da “ogo socialmerte perigosa™ std condicionado & “previsio legal”, podendo, a6 contro, a defecgdo da primeira supriniraeficécla da sogunds fart 72, segunda pare) Seat piblica, os bens piblicos, os bens coletivos das massas trabe- Ihadaras € os bens pessoais dos cidadaos, os direitos indivi- duais ¢ democraticos dos cidadios ¢ ainda todo ato social- mente nocivo, deixa as portas abertas a0 indiscriminado em- prege da analogia”. No Brasil, muitas vezes admitiu-se ¢ praticou-se a analo- gia vedada. Rememora Fragoso um decreto-lei do Estado Nove (n! 4,166, de 11.mar.42) que “‘expressamente autori- zava 0 recurso A analogia’™®. A punigéo do apoderamento ilfcito de aeronaves (entZo fato atfpico entre nés) a titulo de segiestro, pelos tribunais, durante a ditedura militar, impli- cou analogia. Em seu importante trabalho, Rosa Cardoso de- monstra como a admissao de pessoas juridicas na posigao de sujeito passive do crime de difamagio previsto no Cédigo Penal (art. 139, entre os “crimes contra a pessoa”, e usandoa vor *‘alguém’’, caracterizadora de pessoa humana) represén- tou emprego de analogia®. Vedado 0 acesso da analogia naquilo que Anibal Bruno chamava de “'direito penal estrito”, ou seja, o direito penal criadar de crimes ¢ cominador de penas, tem ela as portas abertas para cumprit suas fungoes integrativas em todo 0 restante ordenamento jur‘dico-penal; ¢ como este se estrutura ume dualidade tensiva (opondo is normas que definem cri- mes © cominam ou agravam penas outras que, sob as mais, diversas circunsténcias, excluem ou reduzem a punibilidade, na mais ampla acepgéo deste termo), segue-se que é possivel formlar um critério pratico ¢ constatdvel para essa analogia 38 Tsien Tehe-Hae, Le dro chinots, Vendome, 1982, p. 112; ef. também Dell‘Aquila, 1 dirizo chese. Pidva, 1981, p. 193. Na Inglster, com seu peculiar sistema jurdico,o poder judicial de deelarw au ampliarsnalogieamente ‘umerime parece ngo hares desaparecido ineamnene™ (Curzon, Criminal aw, Lortses, 1973, p. 9}, embors nos thtimos tempos fesse enercido rar inital mente, ¢, & claro, “wit the greatest reluctance" (op. sit, p. 7). Zaftarori, cent-etanto, mencions um sto de 1972 que teria postotermo iquele poder (Manuel, cit. p. 135), tomando indispensivel a base estat, 39 Lighes, cit, p. 95. {80 0 ceardterretérco do prinipts da legatidade, P. Alogre, 1979, p. 104. 16 admitida: € equela que favorece o acusado, é a analogia ia bonam partem. Ha cuase unanimidade nos autores brasileiros quanto ao acolhimento da analogia in bonam partont", corm exceed, que resulta de imperativo Iégico, d2 normas excepcionais. Ninguém estabeleceui a regra da analogia i bonam partem de maneita mais formosa ¢ exata do que Carrara: **Per analogia non si pud estendere la pene da caso a caso: per analogia si deve estendere da caso a caso lascusa'™®. O artigo 4: da Lei de Introdugio ao Cdigo Civil recomenda que, na omissio da lei, 0 juiz decida “de aconlo com a analogia, os costumnes € 08 principios gerais de direito” . ‘Temos, no direito penal, limites a tal recomendacéo, derive- dos do principio da reserva legal, limites esses que incidem sobre as normas qu2 definem crimes e zominam 01 ggravam penas. Além desses limites, 0 desenvolvimento do dircito pe- nal, pela colmatagem de suas lacunas, s6 encontra a fronteira politico-criminal da intervengéo mfnima, também expressa em seu carder fragmentrio — que sera mais tarde examinado Observe-se, por fim, que alguns autores questicnam areal vigéncia légica e lingiistica da proibigao da analogia, mesmo dentro dos limites assinalados. Kaufmann chegou a dizer que ‘no ha um s6 fato sriminoso cujos contornos estejam fixados em lei: por todos 06 lados os lindes es:o abertos "* Quarta: proibir incriminagdes vagas ¢ indeterminadas (mullum crimen nulla poena sine lege certa). 41 CF. Toledo, op. ct. p. 25; A. Bruno, op. cit, p- 209; Fragoeo, Lies, itp, 3; Mirabste, op. ct p20; Dams, opel, p. 48. Dissentia do entendimeats, isoladamente, Nelo Hungea (op. cl, p. 91) 42. A norma excepcionalinsaura um regime distntce especial pam determinate Fipéteve: regula excepio, subi o cao so qui se desi da disiplina geal. ‘Sbvio que admitir, aqui, a analogia, & destrir o préprio conevto de ora ‘excepcional. Conwém repstar que 9s causa goras de exclusio da antijuridie dade eda cuiabildadeno slo norms excepciona s, como supuata Hungria té por serem gers: admkem, portant, eexerciio snalépico. 43 Op, cit, p. 268 (6 890, nota I. in fine) 44 Op. cit, p. ‘A fungdo de garantia individual exercida pelo princfpio da legalidade estaria seriamente comprometida se as normas que defiaem os crimes nao dispusessem de clareza denotativa na significagao de seus elementos, inteligivel por todos os cida- dios. Formular tipos penais ‘*genérices ou vazios"’, valen- do-se de *‘cldusulas gerais"’ ou ‘‘conceitos indeterminados”” oa “‘ambfguos’*, equivale teoricamente a neda formular, mas é pritica e politicamente muito mais nefastc e perigoso. No por acaso, em épocas e pafses diversos, legislagdes penais, votadas repressao e controle de dissidentes politicos escolhe- ram precisamente esse caminho para a perseguigao judicial de opositores do govemo. Soler registrou que se recorre com freqlléncia a esse exped:ente em caso dz delitos criados deli- beradamente com in:engao politica, No Brasil, as famigera- das leis de seguranga nacional compunham auténtico florilé- gio de tipos penais violadores, pela construgao de crimes vagos, do principio da legalidade, e coube especialmente a Fragoso, em indimeros trabalhios, profligar-Ihes tal vicio”. A. vigente lei de seguranga nacional (lei n?7.170, de 14.dez.83), 4 Teledo, op cit, p. 28; Mir Puig, op. elt. p. 146; Mufioe Conde, Iniraducctin, 1. 96; Roque de Bito Alves, op. ei, p. 226. Em sua origem histérice, ado texto legal estva associada ao principio liberal Ja wotodeterminagéod ‘conduta «partir do conhscimento da ei (intimidagto); Mart precorizava "geil 8°7aitriond'obseur, decors, dl arbitaire"” em ema de evimese penas,porser nczesséri "que chacua ena parfaitoment Ios lax, sachs quo il expose fenles volant” (Pan de legitation evince, Paty 1274, p. G8) 46 La formulacisn actual del pin:ipionallum crimes, 'n Fe en el derecho, B. Aims, 1986, p. 284, En diversos artigos, elalcies da OAB e defesas de presos politicos, Heleno Fragoso se deteve na denincin da viola do princpi da legalidade pela ri de tipos penais vagos indotsrminades cf. Lei de segu-ana nacional — wma ‘experiéncia antidemgeratica, P. Alegre, 1980; Ter-orime e criminalidade pelt dea, Rio, 1981; Direite penal e direitos humance, Rio, 197T; Advocacia da likerdade, Rio, 984. Sobre a Telslagio de seguanga nacional, no Brasil. sinc Evarisio de Moris Filho, A., Lei de seguranca nacional — um atentads wberdade, Rio, 1982; Roberta Murtns, Sepurancaracional, Paulo, 1986; Nilo Batista, Lei de seyurang nacfona:o dieto da tonura eda mort, in Temas de diceto penal, Rio, 1984, p. 1 ss > B considerada por muitas como palative! forma evolutiva das anteriores, incrimina, em seu artigo 15, ‘‘praticar sabotagem contra instalagdes militares, meios de comunicagao, meios ¢ vias de transporte, estaleiros, portos, aeroportos, fabricas, usinas, barragens, depdsitos e outras instalagdes congéne- res"", estabelecenda seu §.2: a punigao dos ““atos preparatérios de sabotagem'’, Se “‘praticar sabotagem”’ configura, jd porsi, um nticleo bastante indeterminado para o tipo, seus atos pre- Paratérios séo infinitamente multiformes; por outro lado, quem, em estado de sanidade mental, sera capaz de definir “‘instalagGes congéxeres"’, a um s6 tempo, de uma estrada, uma fabrica, uma usina e um depésito™* Alguns autores deslocam a énfase pata a subjetivizagao ca imprecistio do preceito, isto é, para aspecto de queo preceito deve ser ‘*determinado e especificado de modo tal a fazer ver claramente 20 cidadio a conduta a seguir, ¢ os limites do prOprio livre compartamento"™*. Tal aspecto, importante sem diivida, erd predominante nas teorias preventivo-gerais, ma:s ‘ou menc." remontaveis a Feuerbach, que se construam a partir da idéia de‘intimidacdo penal; sua critica deverd considerar os problemas da ineficdcia motivadora da norma penal (que per- tence & criminologia) ¢ da ficgao da p:esungao do conheci- 48 sas eoutrasobservagées constum de un anige publicade quandoo anteproet _governamental foi remetido 20 Congresso Nacional, Esrevie-e, ali “0 ileito deve estar perisitamentedamarcada, st pars nvertSncia do cidaly, me palmente parasvitar sua manipulagt insidiogs qurada da apliagte de. “punem-se os sos preparstrios da sabotigem’ é rao dizer nas, perque cieati- care do prego de componentes de um explosivo & um sto preparatéro, tant ‘quanto comprar ums fitadesivs, Quande alos prepartros dedeterninade delta apreseatam sucient nocividade, © legislador do estado ¢e dete democritica constiui novos delitos (geralmente, de perian), perfeita « claramente ddemarcados™ ‘Nito Batista, Para qu serve essu boca to grande? — observagces sobre 0 antepmjeto governamental da lei de seguranga do estado, ia Temas de dire penal, cit, p. 34 38). 49 Petrocell, Appunt sul grincpio di legalitd nel dito penale, in Sigg 2 sti, cit, p. 193. Auma “fuegio pedagégica de mativaro comporamesta” se refer? Toledo (op. ck, p. 28). 9 mento da lei (que é estudado na teoria do crime, ao tratar-se do erro). De qualquer modo, é correto extrair-se, do texto consti: ucional brasileiro (“lei anterior que o defina’’), um direito sukjetivo pilblico de conhecer o crime, ccrrelacionando-o a umdever do Congresso Nacional de legislar em matéria crimi- anal sem contornos semanticos difusos. Com toda a procedén- cia se observa, diante das graves medidas restritivas que se abetem sobre o acusado num processo criminal, que a criagéo de incriminagées vagas e indeterminadas transcende a viola- gio do principio da legalidade para ofender diversos direitos humanos fundamentai Nao é permitido, igaalmente, tratando-se de penas gracua- veis, que o legislador nao estabeleca uma escala de merz mento penal, com pélos minimo ¢ maximo, ou a estabelega com extensdo tio ampla que instaure na pratica a inseguranca juridica, diante de soluzdes radicalmente diferentes para fatos pelo menos tipicamente assimilaveis, favorecendo um peri- goso arbitrio judicial. A individualizagao legal da pena, atra- vés da criteriosa cominagao — o que supé2 uma distribuigso ponderada de penas (rrantendo correspondéncia com a maior ou menor gravidade dos crimes), limites (minimo e m4ximo) claramente fixados para cada crime, ¢ um nitido sistema de alenuagdo/agravagio —, abre perspectivas para a fértil mo- bilidade da individualizagao judicial, com a consideracao da- quela conduta humana na aplicago da pena, e garante em tese os limites e o sentido da individualizagio administrativa, quando deveria ocorrer, na cxecugdo da pena, a mais proxima. e frutuosa consideragao daquele homem. A individualizagao da pena tem, no Brasil. o status de garantia individual expres- samente contempleda (art. 5%, inc. XLVI CR). A clareza na cominagio da pena, desse modo, expande cs efeitos do princi- pio da legalidade, impedindo sua violagao no nivel da aplica- 50 Zafferoni, Sistemas penale: y derechos humanos en América Latina — informe Anal, B. Aires, 1986, p. 15. 80 io ¢ da execugao, sem negar — antes, reafirmando, pela positividade juridica — a idéia de individualizagao. E posstvel distinguir, como fez Zaffaroni*, algumas mo- dalidades mais freqiientes de violagdo co principic da legali- dade pela eriagdo deincriminagées vagas ¢ indeterminadas, tal como se segue. @) Ocultagao do micleo do tipo. O verbo que exprime a agio, nos crimes comissivos dotosos, pode ser chamado de nicleo do tipo penal correspondente. Esse verbo pode estar ‘eculto por completo, como no art. 110 do decreto-lei n? 73, ce 21 nov.66*, ou pode ocultar-se atrés de outro verbo que de- note tdo-somente um agir vago indeterminado, como no artigo 240 CP®, Quase sempre, tais vicios so cevidos a0 equivoco observado por Soler: ter sido o tipo “‘construido sobre a conseqiléncia"™ € nao sobre a acdo. Veja-se, por exemplo, o artigo 149 CP, inteiramente construfio sobre 0 resultado lesivo da ‘iberdade individual que pretende tutelar. b) Emprego de elementos do tipo sem precisdo seméntica que seré exatamente 0 estado de “‘perigo moral”’ do artigo 245 CP, ota ‘casa mal-afamada’” A qual ndo se deve permit'r © acesso do menor de 18 anos, que nela poderd conviver com “*pessoa viciosa ou de mé vida’’, e talvez assistir a um “‘espeticulo capaz de perverté-lo" (art. 247, inc. le It CPY? SH Sitemaz...— informe final, 2 pit i evens anono poplar, punt de sor cm el tespectva, ea ou mia, pesos colt, fe que decors nu das reseras ede sa coker, vnc arta ds craps ds socide- ‘zx sepradons." Ess non viola o principio dagen qn Pe Hae sein Jeconia ppl (2 150 de ber Dp ‘east penis frente pars diferentes crimes, fo so podeno reise al -delas quis referir-se 0 redator do texto acim trans cue 7 a tea rvarde, lar também picid supa 53 "Cometr aio 54 Op. eit p28. Ensina Boslos qe “as ormas si adem prio aden cu permit) 2506 e ao resladoe (Base aicas de um mievo deco penal Bogot, 1982p. 79) 55 *Redui alm a contigo andtoa a de escrvo to (que consegue, em autéa ld) 81 Tais elementos normativos ndo dispoem de um sistema de refer8ncia que permita um nivel aceitavel de *‘certeza tipica", (0 que ja nao dcorrerd com elementos normativos juridicos que remetam a conceitos anteriormente delineades™. Costuma ser freqiente a imprecisio, mesmo em elementor descritivos, nas legislagoes de carter politico: pense-se nos “‘servicos publi cos reputados essenciais para a defesa, a seguranca ou a eco- nomia do pafs””, ou na incitagdo ‘a subversio da ordem politica ou social’’ dos artigos 15,§ 1", al. be 23, inc. Ida lei nt 7.170, de 14.dez.83. €) Tipificacdes abertas ¢ exemplificativas. Adverte com propriedade Everardo da Cunha Luna que ‘‘o maior perigo atual para o principio da legalidade, em virtude da forma com que s¢ apresenta, so 05 chamados tipos penais abertos ov amplos"’, que, se alcangaram nos crimes culposos um nivel de ceracterizagio organica bastante seguro, tém, como lembra Zaffaroni, “limites muito perigosos nos crimes dolosos de perigo”””. Riscos existem também nos crimes comissivos por omissdo, a despeito da previsao legal das fontes do dever juridico de agir (art. 13, § 22, al. a, b ec CP). Formulagées ‘ipicas ou majorantes de pena que se valem da enunciagio descritiva de alguns elementos, seguida de uma cléusula de cardter analégico, sao igual mente perigosas: para o primeiro caso, veja-se 0 artigo 147 CP; para 0 segundo, o artigo 226, inc, II CP*, 56 Zalaroni, Sistemas ‘elementos normati ‘i violem o principio da legalidate (Lids, clt., 9. 971 ‘57 Cunha Lune, Captutos, ct, p.33;Zaffaroni, Sistemas... informe fina, ci..p. 18. [58 Art. 147; “Atmcagaralguém, por palnvr, escrito ou geito, ou qualguer ou'ro rncio simbslico de causurthe al injasto e grave." Ar. 226: “A pena & uumen fads de quarts pate: (..j I — se @ agente & ascendele psi adtivo, padre, immo, tuor ou curador, precepior ov empregsdord itm: ou por qualquer oure tat em autocad soba ola." Dams reunis locos os easos que se apresentm iro (op. cit. p- 39). Partindo de elementos da lingtiistice, particularmente de Saussure, Rosa Cardoso questiona na linguagem juridica a pretensdo de estabelecer sentidos originérios e univocos para as expresses legais. com o quea proibigo de incriminagoes vagas ¢ indeterminadas tornar-se-ia invidvel, **pelacependén- cia que a significagao juridica possui de termos que integram ‘campos associativos ausentes em seu d-scurso”*. O exame dessa atraente contribuigao deve situar-se no campc da inter. pretagio da lei, que integra a teoria da ei penal. ‘59 Op. et, pp. 105,85, 97 ss. CF. Kewfiman, op. it, p. 40 83 §10 O principio da intervengao minima principio da intervengao minima foi também produzido por ocasido do grande movimento social d ascensio da bur- guesia, reagindo contr3 o sistema penal do absolutismo, que ‘mantivera 0 espirito minuciosamente abrangente das legisla- goes medievais. Montesquieu tomava um episédio da histéria do direito romano paca assentar que “quando um povo & virtuoso, bastam poucas penas"*; Beccaria advertia que “‘proibir uma enorme quantidade de ages indiferentes nio & prevenir os crimes que delas possam resultar, mas criar outros novos'"; e a Declaragao dos Direitos do Homem e do Cidadao prescrevia que a lei nfo estabelecesse senio penas ‘‘estrita ¢ evidentemente necessirias’’ (art. VIID. Tobias Barreto percebera que ‘‘a pena € um meio extremo, como tal é também a guerra’”’. E, de fato, por constituir ela, como diz Roxin, a“irtervengao mais radical na liberdade do \dividuo que © ordenamento juridico permite ao estado”, centende-se que o estado nao deva “*recorrer ao direito penal ¢ sua gravissima sangao se existir a possibilidade de garanti uma protegdo suficiente com outros instrumentos jurfdicos 1 Montesquiew, Do espvito dar leis, ad. F.H. Cardoso e L.M. Rodrigua. 8 Paulo, 1962, p. 109; Beccaria, op. eit, p. 307 2 Op. cit, p56 3 Inielatén, cit, p. 2. Be ndo-penais’’, como leciona Quintero Olivares’. 9 conheci- mento de que a pena é, nas palavras deste ultimo autor, ura “‘solugdo imperfeita’” —conhecimenta que, de Howard? até a mais recente pesquisa empirica, a instituigao penitencidria s6 logrou fortalecer — firmou a concepgio da pena como ultiraa ratio: 0 “‘direito penal s6 deve intervir nos casos de ataques muito graves aos bens juridicos mais importantes, ¢ as pertur- bagdes mais leves da ordem juridica séo objetc de outros ramos do direito”"*. O principio da intervengdo minima nio estd expressamente” inscrito no texto constitucional (de onde permitiria 0 controle judicial das iniciativas legislativas penais) nem no cédigo penal, integrando a politica criminal; do obstante, impée-se ele ao legislador e ao intérprete da lei, como um daqueles principios imanentes a que se referia Cunha Luna’, por sua compatibilidade e conexdes légicxscom outros princfpios juridico-penais, docados de positividede, ¢ ccm pressupostos politicos do estado de direito cemoeratico’. Ao prinefpio da intervengio minima se relacionam dus: caracteristicas do direito penal: a fragmentariedade e a subs diariedade -Esta t:ima, por seu turno, introduz 0 debate sokre a autonomic do direito penal, sobre sua natureza constitutiva ou sancionadora. 4 Introduecién al derecho penal. Barcelona, 1981. p. 49. 5 John Howard (1726-1790), seasibiiead pela stuaso das prises inglsas, em preendes uma viagem por iximeras pats (Holuda, Beluica, Parca, Alemank India, Portugal, Espana e Rusia), poblicando, em 1776, win ivre— The stare of prisons — que provocou, aa Inglaterra, # sprevagio de leis winani2ado'se {ehamades Howard's aes), e inspirando em Intmetos cates paises meticas semelhantes;siguns autres 0 consideramo pai do “sentencasmo" 6 Mutoz Conds, Inrodicetin, ct. 39. 7 Uma repibliee que ena como fendunento “a dignidade da pessoa humans" ICR) ecomo objetvas a constr de “uma Sociedade Hive, ita 2. promogio do “bem d= todos" (an, 22, ines. 12 IV CR) deve pelo menos, a inflagio peal ct p 2 prinepio ds intervengSo minima se converte, ass, nom principio polti- , cit, p. 6:"°é pois odinsio penal um conjertosuplementare sancionadar de ‘ormas jurfieas™ 23 Aficme Camargo Hernarden que “a sangio punitive orginalidade 20 dizito penal” Gniroduceidn alessio del deracho pena, Bareclona, 1964, p. 21; 88 exéticas, como a erueldade contra animais, ou, recorrentemente, ‘a0 crime de omissiio de socorro (art. 135 CP). As primeiras so associdveis a um legislador que ignorou o prinefpio da interven- Go minima no deferir apenas e arineipalmente a0 direito penal a tutela pretendida: & razével contar com que, progredindo-se na transferéncin para ¢ diteito administrativodos ilfcitos de paticia e — pensando agora também na omissiio de socorro — dentro de tum quadro legislative que estabeleca deveres geraisde solidaie- cade social e protej eficientemente os bens puiblicos, o argurren~ to simplesmente desaparega. Se a essas corsideragdes se acrescenta o caniter unitérie do ilfeito perante todo 9 ordenamento juridico, que & hoe concep ;i0 predominante™, a zonclusio no sentido de ser 0 direito penal «ancionalor se impde™, Consigna Luis Carlos Pérez que na Cens- Lituigi estio as rafzes do ordenamento j aridico como um todo e, portanto, também do ilfcito como unidade; int: cordenamento, coma seu brago armado, 0 direito penal que como resultado do exame objetivo dis relagdes entre o direito penal ea totalidade do ordename2to jurfdico, ocaritet sancionador deve constittir uma recomendagio polit co-criminal a qual esteja ermanenterrente atento o legislador. Espeial cuicaco deve ter 0 le- xgislador da intervengtio econdmica do estado, evitando a tentagao de socorrer-se permmanentemente do diteito pera; essa tendéncia penclis- Para o diretobnsileire. no cabe oexempla da crueldade contra nim, revista ‘no artigo 64 de Lei de Contravengies Poms (LCP). porque o de=reo rE 24.545, de 10, jul. 34, estaboleceu modidas de protegio aos anima. Foi esse 0 (2xto invocado por Sobral Pinto, num dos mais glorinsos momenice da advocacia, brasileira. em favor do fder comunists Harry Bexger, prose ¢ terturado durante ado Nove, Existem norms ponaisna legis ine que protege fauna (ein? (67) cseiplinaa pesca (dcersto-lei ni 221, de 2&.ev.67) eregu- ments a viviseeyto de unimais (lel nf 6.638. de 8, ma. 79). * Maurach, op. eit pM ss; ZafTaroni, Manual, ct, p. $7, ssaqui, eompletamente, opinizo aaerior (Obser-eqdes sobre a norma penal esua inespretagdo, ei.) Derecho pera, Boget, 1987, 1, p. 53. 89 ica “inflaciondria”, como a denominou Bric nar 0 prinefpio da intervengdo minima’, As relagdes que o direito penal mantém com outros ramos do direito sao na verdede relagdes das normas jeridico-penaiscom ‘outras normas, da pe:spectiva de sua validade (por exemplo, 0 ine. XLV do artigo 51CR em confronto com tigificagdes que pro- per uma responsabilidade penal coletiva, corro por exemplo 0 § 2) do artigo 73 da lei 4.728, de 14. jul. 65)” ow da perspectiva de sua interpretago (por exemplo, 0 conceito privatistico de posse. indireta — art, 486 CC —e o tipo da aprosriagao indébita — art. 168 CP — ou do peculato — art, 312 CP). Dever por isso, em nossa opinido, ser estidadas na teoria da lei penal. Conviria ape- nas remarcar que, além de suas fungdes de fundamento e conto le, 0 texto constitucional seleciona situagses a serem necessaria- meme tratadas pelo legislador penal, naqueles casos de bens es- senciais & vida, & sade e ao bem-estar do pove: chama-se a isso “‘imposi¢do constitucional de rutela penal”. Butre nds, a Const teigio de 1946 empregara em vo 0 termo "-epressiio” para 0 abuso do poder econémics: jamais o legislador ordindrio atencew {i “imposigao constitucional da tutela penal’”®., O cardter classista da legislagao penal se manifesta também na omissio ou pachorra da elaboracio legislativa de crimes que pedem ser praticados pe- Jes membros da classe dominante. ala, pode questio- Teeaiele dinivela penale ci. p. 3; ef Barta, Inegracién — prevenci6n: una ‘nueva fandamentacidn deta pena dentro de tateori sistémics,in Docirin penal, B. Rives, 1985, 129, pu Au, inc, XLV CR: “Nenbt ma pena passars da pesson do condenada”. Att 75, § lei 4.798, de 14, jul. 65: "A violagio de qualquer dos dispositivos ccastituirs crime de ag3o piblia, punide com pena de 1 23 anos de detengi ecaind a vesponsabitidade, quando se tratar de pessoa juridica, em todos os “ Nilo Batista, Repressio a0 abuso do poder econdmico?. in Temas de direito ‘penal ci..p. 243.5, Para os “ob>lighi costiuzional ditutelapenale” ef. Brieola, Teeniehe di tmela penale, st, p.9. 90 §ul princfpio da lesividade Este principio transporta para o terreno penal a questo geral da exterioridade ¢ alteridade (ou bilateralidade) do direito: ao contrario da moral —e sem embargo ca relevancia juridica que possam ter atitudes interiores, associadas, ecmo motivo ou fim de agir, a um sucesso externo —, 0 direito “‘coloca face-a-face, pelo menos, dois sujeitos’”. No direito penal, & conduta do sujeito autor do crime deve relacionar-se, como signo do outro sujeito, o bem jurfdico (que era objeto da protegio penal e foi ofendido pelo crime — por isso chamado de objeto jurfdico do crime). Como ensina Roxin, **s6 pode ser castigado aquele comportamento que lesione direitos de outras pessoas € que ndo € simplesmente um comportamento pecaminoso ow imoral; (...) 0 direito penal s6 pode assegurar a ordem pacifica externa da sociedade, e além desse limite nem estd legitimado nem é adequado para a educacéo moral dos cidadios"™. A conduta puramente interna, ou puramente indi- vidual — seja pecaminosa, imoral, escandalosa ou diferente — falta a lesividade que pode legitimar a intervengao penal. No campo dos crimes politicos, qualquer lei inspirada na doutrina ce seguranga nacional contém dispositivos viola dores do prinefpic da lesividade, porque perante aquela doutri- 1 Del Vecchio, op. eit, p. 3 Machado Netto, op- cit, p. 91 2 Iniciacdn, et, p. 25 ¢ 28. tadbnch, Fuosefiado direte, ct, v1, 9. MS; n naa dissidéncia politica toma as cores de ‘‘inimigo interno” ¢ provoca ‘‘um proceso de criminalizagio"? Podemos ddmitit quatro principais fung6es do principio da lesividade. Primeira: proibir a incriminagao de uma atitude interna. As idéias e conviegdes, os desejos, aspiragdes e sentimentos dos homens néo podem constituir-o fundamento de um tipo penal. nem mesmo quando se orientem para a pritica de um crime: 0 projeto mental do cometimento de um crime (cogitagio) nao é puntvel (cogitationis poonam nemo patitur). Isso nao significa absolutamente que o direito penal se desin- teresse da atitude interna do homem, come jé se verd a0 traarmos do princfpio da ulpabilidade. Antes da perspectiva da culpabilidade, encontraremos esse interesse no doto (isto é, na consciéncia e vontade do autor acerca da conduta objetiva proibida), bern como em intengdes, motivos ¢ certos estados especiais de inimo. Em qualquer hipstese, todavia, é impres- cindivel que a atitude interna esteja nitidamente associada a uma conduta externa. ‘Segunda: proibir « incriminacao de wna conduta que néo exced: o dmbito do préprio autor. Os atos precaratérios parao cometimento de um crime cuja execucao, entretanto, no é iniciada (art. 14, ine. II CP) no so punicos. Da mesma forma, o simples coniuio- entre duas ou mais pessoas para a prética de um crime nio s2ré punido, se sua execugio nao for iniciada (art. 31 CP). Temos af apticagGes tezislativas dessa fungao do principio da lesividade, que tambéur comparece como fundamento parcial da impunibilidade co chamado eri- me impossivel (art. 17 CP). O mesmo fundamento veda a punibilidade da autolesao, ou seja, a condula externa que, embora valnerando formalmente um bem jurfdico, nao ultra- passa 0 £mbito do proprio autor; como porexemplo o suicidio, 2 automutilagao € 0 uso de drogas. No Brasil, c artigo 16 da lei 3 Garcia Mende, E., Autortarizno y control social, B. Aives, 1987, p. 106, 92 1? 6.368, de 21.out.76, inctimina 0 uso de drogas, em franca oposigao ao principio da lesividade ¢ és mais atuzis recom=n- dagdes politico-criminais Terceira: proibir a incriminagao de simples estados ou condicdes existenciais. Como diz Zaftaroni, “um direito que reconhega 2 ao mesmo tempo respeite a autonomia moral da pessoa jamais poce apenar o ser, senZo o fazer dessa pessoa, Jj que 0 proprio direito é uma ordem reguladora de conduta’™*. direito penal s6 pode ser umdireito penal da agio, e nioum direito penal do autor, como eventualmente se pretendeu, “*O homem responde 2elo que faze no pelo que é””, frisa Cunha Luna! Com exatidao lembra Mayrink da Costa que '*o direito penal do antor é incompativel com as exigéncias de cert seguranga juridicas préprias do estado de direito’”. Isso 140 significa que 0 suieito determinado nao interesse de nenhema forma. Aocontrario, o homeme sua existéncia social concreta devem estar no centro da experiencia juridico-penal. parti- cularmente nas érzas da culpabilidade e da aplicagio ¢ execu- do da pena, O que é vedado pelo principio da lesividade € a imposigdo de pena (isto é, a constituigao de um crime) a um simples estado ou condicao dese homem, refutando-se, pois, as propostas de um direito penal de autor e suas derivagies mais ou menos dissimuladas (tipos penais de autor, culpabili- dade pela conduta ao longo da vida, etc). Levaca as Gltimas conseqiiéncias, essa fungio do principio da lesividade implica excluir do campo do direito penal as medidas de seguranca, 4 Sobre ete tltimo aspect ainda polimico ents és, cf. Hobting, Peter, Siraf= ‘wrdigheitder Setbs verletung: Der Drogenkormamn in deschen und brasilian. chen Rech, Frankfurt arm Main, 1952; Nilo Batista, O prezer ea lei penal, in Temas, cit, 3045s. CI. ainda Gareta-Pablos, Anténio, Base: para una palitca ‘criminal dela droga, in La problema de lz droga en Espata, Matt, 1956, p. 3778 5 Mana, ef. p. 73. 6 Op. cit. 3, 7 Op. eit f 138. 93 uma vez que, como acentua Zaffaroni, um direito penal funda- mentado na perigosidade ¢ um direito penal de autor. Quarta: proibir aincziminagao de condutas desviadas que ndo afetem qualquer bera juridico. A expresso desviada foi aqui empregada na acepedo de Clinard, como conduta orien- tada em diregao.fortemente desaprovada pela coletividade. Estamos aqui falando do “direito a diferenca”", de priticas e hébitos de grupos minoritdrios que no podem ser criminaliza- dos. Como diz Zaffaroni, “nao se pode castigar ninguém porgae use barba ou deixe de usd-la, porque corte ou nfo o cabelo, pois com issonio se ofende qualquer bem juridico, eo direito nao pode pretender legitimamente formar cidadios com ou sem barba, cabe"udos ou tonsurados, mais ou menos vestidos, mas tio-s6 cidaddos que nao ofendam bens juridicos alheios’””. Estamos felando também de condutas que s6 podem ser objeto de apreciagao moral (como priticas sexuais, quais- quer que sejam, entre adultos consencientes, ou como a sim- ples mentira), Certamente percebeu-se, das linhas anteriores, a impor- taacia do conceito de bem juridico. O espaco teérico para o cenceito de bem jurfdicc surgiu quando, na primeira metade do século XIX, contestou-se a concepeao classica corrente co crime como ofensa de um direito subjetivo, em favor de uma concepgao do crime como ofensa a bens (Birnbaum). A partir daf, intimeras teorias foram elaboradas para a compreensio éo bem jurfdico ofendido pelo crime": ora se retornava aos direi- tos subjetivos, ora se propunha um direito piiblico subjetivo éo estado, aqui 0 préprio dircito objetivo, ali uma obrigagio 8 Lys Filho, op. cit, p. 9 Maswal, ct, p. 53. Sobree taxamentojurdico a misorias * grupos excludos ot 1120s dominates") no Brasil, ef. Nilo Batista, Minoriae © demacratiagao, Recife, (986. 10 Larga exposigto dessasterias im Roceo, L'oggeto de recto, Roms, 1932, p.27 220, Entre nbs, Pragose, Objete do crime, is Dirvto penal edeits hunanor, cit, pp. 3338 94 jurfdica, logo os interesses, adiante os valores. 2ara uns. 0 ‘bem juridico é criado pelo direito, através de selegio exercida pelo legislador (Binding); para outros, o bem jurfdico é um ““interesse da vida’’, que o legislador toma de uma realidade social que tho impe (von Liszt). Houve quem deslocasse 0 bem juridico estritamente para a tarefa de critério de interp-e- tagao teleolégica da norma, no movimento que ficou conhe- cido como “diregzo metodolégica’’ (Honig). O direito penal nazista procurow fundamentar o crime na violagaodo dever de ‘obediéncia 20 estado (0 chamado “‘direito penal da vontade’”) , para isso, desfez-se, em sua fase inicial, do conceito de bem juridico (Schaffstein). Posteriormente, retoma-se a perspec- tiva lisztiana do “‘interesse da vida'", seja atrevés de um conceito idzalista de ‘‘situagio social desejével” (Welzel), seja vendo no bem juridico uma ‘formula normativa sistemaé- tica concreta de uma relacdo social dinémica determinada" (Bustos). Recentemente, intenta-se “‘positivizar’® os bens juridicos, deduzindo-os do texto constitucional (Angioni). As dificuldades das quais o itinerdrio acima esbocado presta testemunho estdo ligadas & diversidade categorial cos bens juridicos, que podem ser uma pessoa, uma cenduta, uma coisa, um atributo juridico ou social da pessoa, daconduta ou dacoisa, umarelacéo vital, uma relagio juridica, um estado de fato, um valor, um sentimento, etc''. Isso enseja diversas classificagées dos 2ens juridicos (Fisicos e morais, individuais € coletivos, etc). © bem jurfdico pée-se como sinal da lesividade (exterioridade e alteridade) do crime que o nega, ‘‘revelando"” e demarcando a ofensa. Essa materializacao da ofensa, de am lado, contribui para a limitagdo legal da intervencao penal, € de outro a legitima. Por isso mesmo, como parece ter peree- bido von Liszt, 0 bem juridico se situa na frontsira entre a politica criminal e o direito penal. Nao hé um catélogo de bens 11 Wetzel, op. it, p. Fragoso, op. cit, p. 39: Rosco, op. cit, p. 261 95 juridicos imutdveis & espera do legistador, mas hé retagies sociais complexas que o legislador se interessa em preservar € reproduzir. S40 miltiplos ¢ irredutiveis as aspectos dessas relagdes sociais, aos quais pode o legislador outorgar protecio peral, convertendo-os em bens juridicos. © bem juridico, portanto, resulta da criagdo politica do crime (mediante a imposigao de pena a determinada conduta), e sua substancia guerda 2 mais estrita dependéncia daquilo que o tipo ou tipos perais criados possam :nformar sobre os otjetivos do legista- dor. Em qualquer caso, o bem jurfdico nao pode formalmente opor-se 2 disciplina que o texto constitucional, explicita ou implicitamente, defere ao aspecto da relacdo social questio- aaca, funcionando a Constituigo parcicularmente como um controle negativo (um aspecto valorado negativamente pela Constituicéo nao pode ser crigido bem juridico pelo Jegislador). Numa sociedade de classes, os bens juridicos héo de expressar, de modo mais ou menos explicito, porém inevi- tavelmente, os interesses da classe dominante, e o sentido geral de sua selegio se-é 0 de garantir a reprodugio das rela- ges de dominagao vigentes, muito especial:nente das relagdes eccnémicas estruturais. O bem juridico cumpre, no direito penal, cinco fungées: 1 axioldgica (indicadora das valoracdes que presidiram a sele- gic do legislador); 2+ sistemdtico-classificardria (como im- portante princfpio fundamentador da construgao de um sis- tema para a ciénciado direito penal e como o mais prestigiado eritério para o agrupamento de crimes, adotado por nosso idigo penal); 3: exegética (ainda que ndo circunscrito acla, & inegadvel que 0 bem jurfdico, como disse Anibal Bruno, 60 clemento central do preceito’’, constituindo-se em importante instrumento metodolégico nia interpretacdo das normas juridi- co-penais); 4 dogmdtica (em intimeros momentos, 0 bem jur‘dico se oferece como uma cunha epis:emolégica para a teoria do crime: pense-se nos conceitos de resultado, tenta- tiva, dano/perigo, etc); 5? critica (a incicagio dos bens juridi- cos permite, para além das generalizagdes -egais, veriticar as 96 concretas opcdes > finalidades do legislador, criando, palavras de Bustos, oportunidade para ‘‘a participacao critica dos cidadics em sua fixagio € revisée”)". 12 Anfbal Brine, op. cit, ¥. 1,4 IP. 16 Bustos nraducein ci. p. 31; Angin, Francesco, Content e fancion! del concen di bene giuridico, Milo, 1983, pp. 6,11, 14, 195; Gregor, Giorgio, Sagalo sul! aggeta gluridico del rear, PScua, 1978, p.41;Navarete, M,Poluino, Elbien judd enelderecic pena, Sevi ba, 74, pp. 270, 286. a §12 O principio da humanidade Quem vé, em Mommsen, as execugies da pena de morte no direito romano, to iripregnadas de ritos ¢ contetidos sim- bélicos ¢ religiosos, tio cruelmente indiferen‘es 20 sofrimento © ao desespero humano, ¢ vé a descrigéo da execugio de Damiens, em 1757, com a qual Foucault abre seu importante livro sobre o nascimento da prisdo', talvez se espante com a semelhanga de “‘estils penal”” 20 longo de tartos séculos. E se procararcertificar-se, nodireito penal germanico ou em outras legislagdes medievais, tera a confirmacio dessa similitude espaatosa. Entre nds, um breve exame no livro V das Ordena- goes Filipinas, que regezam no Brasil a'é 1830, quando pro- mulgado 0 cédigo imperial, revelard a indiscriminada comina- gio da pena de morte, a cbjetificagao do concenado e a discri- minagdo juridica da pena cabivel segundo a classe social do autor ou da vitima, Para os trabalhadores escravos, esses princfpios permaneceram com plena eficécia mesmo apés 1836, através das penas de morte e acoites, largamente empre- gadas, ou dos cruéis castigos do “‘diteito penal privado” vigente nos engenhos, na cafeicultura cu nas charqueadas © principio da tumanidade, que postula da pena uma racionalidade © uma proporcionalidade que anteriormente néo se viam, esté vinculado ao mesmo proceso hist6rico de 1 Mommsen, op. cit, (35, p. 252 ss; Foues Glia, It, Surveher et punir, 1975, ed 98 que se originaram os principios da legalidade, da intervengio minima ¢ até mesmo — sob o prisma da ‘‘danosidcde social" —o princfpio da lesividade. Montesquieu se referia a “‘justa proporgiio das penas com os crimes". e Beccaria dizia que atribuir a pena de torte para quem mate um faiséo ou falsifica um documento cenduz a uma destruigéo de sentimentos morais, Marat observava que s'il est de I’ équité que les peines soient toujours proportionnées aux délits, il est de’ humanité qu'elles ne soient jamais atroces’’*. Quando, en 1793, a Declaragio dos Dircitos do Homem e de Cidadao, de 1789, foi retomadae proclamada pela Convengao Nacional, o artigo XV mencionavaque ‘‘as penias devem ser proporcionais 20 delito e liteis a sociedade"". A Emenda VIII 4 Canstituigdo Americana, ratificada, como tcdas as dez primeiras, em 1791, proibia a infligdo de penas cruéis e incomuns. E 2ste hoje um principio largamente aceito, que consta da Dec'aragio Unversal dos Direitos do Homem’ e da Convene Americana sabre Direi- tos Humanos’ ‘A pena nem ‘visa fazer softer 0 condenado” , como obser- vou Fragoso, nem pode desconhecer c réu enquanto pessoa humana, como assinala Zaffaroni’, e ese é 0 fundamento do principio da humanidade, Nao por acaso, os documentos inter- nacionais consideram desumanss as pens como aquela execu- tada em Damiens. O prinefpio pertence a politica criminal porém é proclamado por varios ordenamentos juridicos positi- vos, Entre nés, esti o principio da hummanidade reconhecico 2 Op. cit, p. 115. 3 op. 6 4 Op. cit, pi. 5 Aigo V: "Ninguém seri submetidoa tortura, ner atamento a eastign crt, desumano ou degrade”. 6 Antigo 5, inciso 2: “Minguém deve ser submctio a tortura, nem a penas a tratamentos cus, desumanos ou depradantes, Toda pessoa privada ca lierdecle deve ser tratada com respelto devido & dignidade increne 20 ser humano,” 7 Ligées eit, 9. 29¥; Manual, cit, p. 138. 8 Jescheck, op. cit, p. 35. so explicitamente pela Constituigao, nos incisos III (proibigao de tortuza e de tratamento cruel ou degradante), XLVI (individualizagéo — ou seja, ‘‘proporcionaizagio””’ — da pena) © XLVII (proibigio de penas de morte, cruéis ou perpétias) do artigo 5°CR. Como lembra Muftaz. Conde, a idéia de “*proporcionalidade in:egra a idéia de justiza, imanente a0 direito”’; a hipertrofia do direito penal caracteriza 0 ‘estado totalitério que procure afiangar-se através de brutais ameagas penais'”*, Disso tivemos no Brasil expressivos exemplos durante a ditadura militar. © principio da humanidade intervém na cominaco, na aplicagdo e na execucio da pena, ¢ neste tltimo terreno tem hoje, face & posigao dominante da pena privativa da liberdade, um campo de interveagéo especialmente importante". ‘A racionalidade da pena implica tenha ela um sentido compativel com o humano © suas cambiantes aspiragdes. A pena no pode, pois, exaurir-se num rito de expiagao e opré- brio, ndo pode ser uma ccergéo puramente negativa''. Isso no significa, de modo algum, questionar 0 carter retributivo, timbre real e inegavel da pena. Contudo, a pena que se detém na simples retributividade, e portanto converte seu modo em seu fim, em nada se distingue da vinganga. A pena de morte, estritamente retributiva e negativa (além de in2ficaz, do ponto de vista da prevengao geral), violenta essa racionalidade. Sa0 também inaceitaveis, porque desconsideram z auto-regulacao ‘como atributo da pessoa humana, penas que pretendam inter- ferir fisicamente numa “‘metamorfose"* do réu: castragio ou esterilizagio, lobotomia, etc. Umi sistema igualitério na distri- buicdo da pena (0 que significa que, sob os mesmos pressupos- 9 inuraduccibn, cit. p. 77 © 7. 10 Jescheck, op. cit, p. 35. 11 Em seu timo trabalno, Zaffaranl caracteria a pena como-sfriento Geo ce racionalidade” e busca couceitu-la, de form residual preesameate pels faliace dequapdoracional aos demais modelos de solugio de conflitos (ef. En Busty ‘lt. p. 210). 100 tos, duas pessoas deveriam receber penas semelhantes, cor rendo as diferengas tao-s6 & conta da individualizagio), ne- gado pelo direito ha duzentos anos, ¢ negado — apesar do direito— pelo sistema penal ainda hoje, ¢ outro imperativo da racionalidade. Seriz perfeitamente posstvel derivar a propor- cionalidade da racionalidade, mas convém destacé-la por sua importncia no surgimento histérico do principio da humani- dade ¢ por sua importancia prética. Zaffaroni lembra que as penas desproporcionais produzem mais alarma social (afetando 0 que ele considera 0 aspecto subjetivo daseguranca juridica) do que o proprio crime formula a hipstese do que se passaria nesse terre0 se uma lej impusesse a pena de mutila- cdo aos punguistas *. Da proporcionalidade pode extrair-se, igualmente, a proitigdo de penas perpétuas. Como registrcu. comexatidao Cattaneo, a prisioperpétua, com “seu cardter de definitividade, ou szja, de eliminacao da esperanga, contraria o senso da humanidade"”®, Nossa Const:tuicdo, como jé visto, profbe a imposicao de penas de cardter perpétuo (art. 5:, ine XLVIL, al. CR). 12 Manual, cit. p- 50. 13 Fondamentiflosftl della sancione psate, no volume Problem della sansione = societa eri tn Marx, Roms, 1978, 1, p. 9. 101 $13 O principio da culpabilidade Numa antiga legislagdo da Babilnia, editada pelo rei Hammurabi (1728-1686 a.C.), encontramos que, se um pe- dieiro construisse uma casa sem fortificé-la ¢ a mesma, des: ‘bando, matasse © morador, o pedreiro seria morto; mas se também morresse o filho do morador, também o filho do ‘pedreiro seria morto. Imaginemos um julgamento “modemizado’” desse pedreiro: de nada Ihe adiantaria ter observatlo as regras usuais nas construgdes de umz casa, ou pretender associar 0 desabamento a um fendmeno sismico natural (uma acomodagéo do terreno, por exemplo) fortuito ¢ imprevisivel. A casa desabou € matou 0 morador: segue-se sua responsabilidade penal. Nao deixemos de imaginar, igualmente, o julgamento do filo do pedreito, A casa construida por seu pai desabou e matou o morador e seu filho: segue-se sua responsibilidade penal. A responsabilidade penal, pois, estava associada tio-s6 a um fato objetivo e nao se concentrava ‘soquer em quem houvesse determinado tal fato objetivo. Era, pois, uma responsabilidade objetiva e difiwsa. ‘Quando lemas hoje, na Convengao Americana sobre Direi- tos Humanos (artigo 5, 1, 3) ou em nossa Constituigao (artigo 5s, inciso XLV), proibiges de que a pena ultrapasse a pessoa do delingiiente, ou quando encontramos no Cédigo Penal Tegras que nio s6, relacionando-se aquelas proibigoes, cir- cunszrevem a imputagao objetiva de resultadcs (como oart, 13 CP), mas também exigem a intervencdo seja de uma vontade 102 consciente, seja de uma relevante negligéncia (como os ar-i- g05 18 € 19 CP), devemos compreender que um longo proces- So, certamente inconcluso, transformou radicalmente as bases da responsabilidade penal. © ponté mais importante desse proceso € a producao historica do principio da culpabilidad2. O princisio da sulpabilidade deve ser entendido, em pri- meiro lugar, como repidio a qualquer espécie de responsabi:i- dade pelo resultado, ou responsabilidade objetiva. Mas deve igualmente ser entendido como exigéncia de que a pena nio seja infligida sendo quando a conduta do sujeito, mesmo asso- ciada causalmente a um resultado, Ihe seja reprovdvel. Vel- tando ao exemplo do pedreiro, isso representaria que 0 desaba- mento s6 furcionaria como um limite exterior preliminar e que seria indispensavet verificar se 0 pedreiro reprovavelmente quis a mortedo morador e seu fitho, predispondo nesse sentido sua construgio, ou quis o desabamento — também predis- pondo nesse sentido a sua construgio — ainda que nao quises- se diretamente a morte provével do morador ¢ se1 filho, ou construiu a casa com impericia inescusdvel. Para além de simples lagos subjetivos entre 0 autor € o resultado objetivo de sua conduta, assinala-se a reprovabilidade da conduta como micleo da idéia de culpabilidade, que passa a funcionar como fundamento® limite da pena. As relagdes entre culpabilidadee pena constiwem matéria polémica, que integra 2 teoria co crime, onde a estru‘ura e as fungdes dogmaticas da culpabili- dade, seja na economia do crime, seja na fundamentagdo da pena, so minuciosamente examinadas'. 1 Umaquestio,entretanto, merece ser referida desde go, porvineslarse3 poltiea enal. ‘Torsando, ecmo diz Novoa, "segura calculével a aplicagao da lei", estabele- cendo limites e definindo conceitos, a dogmética subtrai da- quela aplicagao ‘‘a irracionalidade, a_arbitrariedade e a improvisagio"”*. Trata-se, portanto, de conhecer o direito aplicdvel, cujas rormas ndo so submetidas a qualquer con- 1 Coatho, Luiz Femanelo, Teoria da ciéncia do direito,S. Paul, 1974, p. £2. 12 Ceiiea'ydesmitfcavin del derecho, B. Aires. 1985, p. 226. 7 frontc valorativo que transcenda sua descrigio, explicacao e organizagao. Em outras palavras, 0 afazer dogmatico nio interpela a norma: aceta-a (dogma) como objzto do conheci- mento. Uma lei basica da dogmitica esta no principio da proibi¢do da negagdo; ac jurista é vedado, como diz. Tércio Sampaio Ferraz Jr., neger os ‘‘pontos de partida das séries argumentativas"”. Podemos pretender que 0 auto-abortamen- toseje indiferente perante alei, ou que seja punido com branda multa: o direito penal brasileiro comina-Ihe detengio de um a trés anos (art. 124 CP), © isso, no que concerne pena, € unicamente o que deve ser considerado nas hipdteses em que concorra um caso de auto-abortamento. ‘A dogmitica nao é, por certo, uma leitura pontithada da lei; sua (enica procura rezonstruir os variados elementos que integram a lei, organizando-os como sistema. Essa é uma palavra chave no surgimento histérico da dogmatica, bem como na angtistia de seu futuro. A idéia de sistema, como assinala Luhmann, chegau a ciéneia do direito no inicio do século XVII, vinda da astronomia ¢ da teoria musical’. De fato, as legislagdes anteriores a esse perfodo consistiam na justaposicao seqiiencial ée textos, “‘compilacdes" cujo co- nhecimento era haurido pelo exame indivicual-circular de cada texto (glosa). De modo andlogo, ‘‘aié meados do século XVII" — como lembra Foucault — “'o histoziador tinha por tarefa estabelecer a grande compilacdo dos documentos e dos signos'”; a partir de entda, sob a regéncie da “‘classificagao” como instrumento metodot6gico central, estavam franqueadas as rotas gnosiol6gicas que conduziriam a “‘histéria natural’” ¢ sue aparente aptidao para apreendér num s6 ‘‘cuadro"’ as mais, distin-as e contraditérias “‘classes"’. Nao por acaso, Ihering, reputado fundador do método dogmético, caracterizava construgao juridica como ‘*a aplicacio do método da histéria 3 Op. cit, p. 49, 4 Sistema gluridico e dogmaicagiuriica, rad. A. Fbirajo, Boloaha, 1978, p. 35, 5 As palavras e as coisas, tad. 3.1. Mucha, S. Palo, 15B1, p. 144. us natural & matéria juridica’’*, Para Ihering, a sistematizagdo configura 0 nivel superior da jurisprudéncia, enquanto a his t6ria ¢ a interpretazio configuram seu aivel inferior. O tributo a0 positivismo se exprime em suas reiteradas comparagdes do direito com a quimica, ou no esforgo de categorizagdo de “‘corpos jurfdicos'"”. A influéncia dessas idéias € ainda hoje absolutamente visivel:.dir-se-é que “frente a um conjunto de disposigdes legais, o jurista se comporta como um fisico’” Entre nés, Nélson Hungria proclamard que ‘to perfeita forma do conhecimento cientifico"™. As etapas do -nétodo dogmitico séo: 17 demarcagao do universo jurédico ‘catalogagao completa dos textos legais vi- gentes na érea objeto de interesse); 2! andlise e ordenacdo (as leis validas sto de inicio apreciadas incividualmente, elogo, a partir de semelhangas e disparidades, submetidas a exercicios de agrupamento que permitirio estabelecer uma ainda que provisoria ordem l6gica); 3* simplificacao e categorizacdc (0 material resultante das etapas anteriores é simplificado, quan- titativa ¢ qualitativamente, dando origem aos principios clas- sificatérios, que funcionario como eixos categoriais); 4! re- construcdo dogmatica (a dogmatica, pela classificagao e reor- ganizacdo da “*matéria’” legal, assim reconstruida, produz um sistema que revelara e demarcaré contetido e inter-relaciona- mento I6gico dos textos legais, “‘devolvidos"’ sob a condigao de serem conhecidos através da mediagio desse sistema) Tais etepas devem ser vencidas com a obediéacia de duas Icis ou prinefpios: a) lei de proibicdo da negacdo (jd tefetida, exprime o carter de dogma que 0 textolegal deve ter, para que o trabalho de desenvolvimento I6gico nao induza x erros sore © contetida do direito); b) le! de praibigao da contradicao 6 La dogrética juridice(rechos solesionades do Bsptite do Deis Romano), tad. ED, Saorrs, B. Aires, 1946, p. 142, 7 Op. cit, pf. 109, 125, 135 ss, B Zaffaroni, Manual, it, p. 127 ‘9 Introdugio ciéncia>enal, in Novas quectéerjuridico pals, Rio, 1946, p. 5. 119 é jamada por Ihering de “unidede sistemitica’ ok Cael eeeoamiuldede de principios ou broperigoes txadit6rias; por exemplo, ou 0 abortamento neces: om 128, inc. | CP — tem cardter justificativo ou tem caréter Sula, nb psy conver amar conch no ‘mesmo sistema, sendo ie a ee se api tivas fundament 7 da perspectiva metodolégica, quer da perspectiva pot a Metodologicamente, sua dependéncia da caw eee entronizacdo do sistema foram duramente fust gad a qualquer estudante sabe’? — disparam aa ences C vardade, em I6gica formal, se adquire ao preco de fe poate conhecimento do munda’’; a proposta da dogmati ocr : zir, através do estudo da legislagio vigente, um sl gue realze fungGes juridicas Seah das Sranierad een nL slag’ ia “Suma ilusio infecuncé vn natério € seletivo: as diferencas e Ce aie = incidam sobre os principios classificatérios porele ee Is a reputadas indiferentes (Foucault); nessa linha, © Sees. tende a transformar-se numa geometria (Novoa) “x i sie ‘A superacio aparente de uma dogmatica Postivist Ps ze dogmatica neokantista ? sé agravou esses problemas. cena pr hing 1 pcm catia, ina wl ei cc eyo pen em ms pide la abr pa 9 Uher nt dizia que umas leis agradavam, por ‘*s2 7 Seer emate Sophie nanan rence en toprol pro nat som ues ects Ee Clie Tae inno ran ec eden np sc nin etre hin del ki: i el aes julien Taso, posers converse ee ten, 087, pp 8 8 Nowo Anal Brun ane sc prveinencon pier vores ea Gp to “ofa deve rte when p 2) eee tz Soe oseoantsmo ms dopa rio penal ef Mo Pug op wp. 2 Shor Cones none, cp. M1 120 Sc | paragio icredutivel entre as ciéncias da natureza e as ciéncias culturais abriu o 2ampo nio sé a0 dualismo metodolégico, mas uma auténtica ““esquizofrenia’* (Mufioz Conde) gnosiolégi- ca; como disse Zaffaroni, os “‘mastins metodolégicos"” se encarregavam de manter a realidade fora do sistema. Tuda isso sem que jamais a “*disparidade absolata entre ser e dever-ser"” tenha side provada, como objurga Larenz a Kelsen'". De cutro lado, a dogmatica indiretamente pode reafirmar certos mitos, que desempenharn relevantes fungGes ideolégicas: 0 mito da sabedoriada lei (supor um legislador racional e arguto, de cuja coeréncia, precisio, economia e previdéncia jamais proviriam Palavras imiteis ou dibias, contradigbes, etc)" que esconde a reificacdo da lei; 0 mito da neutralidade de ciéncia (suporque gramética, a historiografia jurfdica e a Iogica formal abelem aconsciéncia de classe), fundamental na legitimazdo da ordem Juridica”. Por certo, sua fungio ideolégica mais importante é afiangar a possibilidade de uma construgio harmonizante das relagdes sociais (representadas no juridico), na qual ‘todos os antagonismos sao concilidveis pela ordem juridica”” (José Eduardo Faria). Daf, Lota Aniyar de Castro dizer que a dog- mética tradicional constitui uma “filcsofia da dominagao "™, Efetivamente, o dogma da “‘completude’” do dircito reforga 0 ‘monopélio juridico do estado moderne e impede a considera- io de direitos cancorrentes”. A dogmética pode libertar-se dessas acusagées se lograr, como preconizava Fragoso, superar @ esquema apresentado elo tecnicismo juridico, que “tende 2 compreensio ¢ justifi- agao do direito penal vigente”"*. **A construgio dos concei- 13 Op. it, p87, 14 CE. Resa Cardoso, op. cit, p. 118; Novoa, Crile, cit, p. 228, Ost e Kerchove afiemamm que a rcionalidade do legsiader & uma crenja de onlem metic, alons pour une thearic critique da dott, Broselas. 1987, p. 7), 15 Ct. especialmente Farin, José Eduardo, Paradigin juridico, et ,3p. 43,46 417, 16 Criminologia de la liberacidn, cit, p. 27 17 Bobbio, Teoria do ordenomenta juridco, Brasilia, 1989 p. 120 18 Lies, cit... 13. E tos dogmaticos deve incorporar os dados da realidade”” (Za‘faroni) ¢ a constatagdo de seus efeitos sociais concretos. Nao se quer uma critica posterior, fora da dogmética, como Rocco". ‘“A incorporacdo A dogmatica penal das finalidades pol:tico-criminais transforma-a de um sisterna fechado em um sistema aberto'’, ensina Bustos, e assim em “permanente renovagio e criagio””™. Faraco de Azevede adverte que a dogmética penal, “a menos que se converta em instrumento ideolégico destinado a dissimular ou falscar a realidade, precisa manter-se rente & vida, recebendo seu influxo e sobre ela atuando, atenta & configuragio da situagao humana global « que se destina””, sem “perder de vista sua dimensao histérca e critica’™. No momento atual, no podemos ebrir mio da dogmética jurfdico-penal, porque, como assinala Gimbernat Ordeig em seu festejado trabelho, “‘temos que conviver com 0 direito penal”™®, Transformé-la numa dogmética aberta é o desafio ‘que o penalista brasileiro tem, hoje, diante de si. to El problema y ef méodo de ta clenca del derecho penal, ta. RIN. Valeo, ogots, 1978, p. 31 120 Politica criminaly dogmatic 124. 128 Dogimétca penal eesado, in Fasefculos de efnsia penal, P, Alegre, 1989.80 2, v. 2,284, p60 1 Tien un fatto Ia degmitca jurdicopeaal?, in Ezuios de derecho pena, Masi, 98, p. 82 in Homenagea ide Keufmann, B. ites 1985,>. 122 Bibliografia nel Mare, Pour ane étude systematique des problemes de ue criminelle, in Archives de politique criminelie 1, Paris, 1975, ed. A. Pedone. _ eid Angione, Francesco, Contenuto e fi one, F . funsione del concetto di erases Mildo, 1983, ed. Giufire, ee iyar de Castro, Lola, Criminologia da reagao social, Kosonsti, Rio, 1983, <0. Forse, , Criminclogia de la liberacién, Ma Tae 1, Maracaibo, 1987, ed. Antolisei, Francesco, Manuale de diritto pen i 1969, ed. Giuffré. Pendle, PG Mito, Aradjo Jr., Joao Marcello, Os grandes movimenios da potitica criminal de rossos tempos, Rio, 1986, ed. Inst. Bennett. Araijo Lyra, D. (orp), Desordem @ processo — estudos em homenagem a Roberto Lyra Fillo, P. 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