Introducao a Geografia (Geografia e
Ideologia), por Nelson Werneck So-
dré. — Editora Vozes, Rio 1976, 136 p.
O livro de Sodré, forte e erudito, encerra
um fato insdlito: no Brasil, n&o sao Os -
gedgrafos que se interessam por escrever
sobre a histéria do seu saber. Provavel-
mente, receiam descobrir na sua propria
pele o que Oswald de Andrade dizia sobre
oO intelectual brasileiro.
Mesmo desatualizado quanto a Geografia dos
anos pds 50, o livro de Sodré 6 o que de
melhor se pode ler entre nos sobre a his-
tdria do pensamento geogrdéfico tradicional,
expondo & acidez de sua pena as mazelas
que abrigou, como o determinismo fisiogra-
fico de Ratzel e a geopolfitica. Longe de
coisas do passado, estéo ambos no cerne do
pensamento geografico oficial, nos artigos de
cunho académico, na linguagem das salas
de aula, nos textos dos diddticos escolares
e na imagem popular de Geografia. Longe
de erradicados e sepultados com todas as
salvas de criticas pesadas que mereciam,
estSo vivos e presentes, travestidos sob ou-
tros rotulos ou exposados no mesmo clima
de primitivo barbarismo dos anos idos.
Devem calar fundo as palavras finais do
autor, particularmente aos professores, que
veiculam o saber absorvido nos bancos uni-
versitarios, reproduzindo-o em suas aulas e
opinides com a mesma auséncia de dose
critica com que o absorveram; aos gedgra-
fos, que servem ao capital sob a mesma
mal dissimulada afirmagio de neutralidade
da ciéncia; e aos estudantes, que respondem
em grande parte pelo corte que se pode
dar neste jad longo processo de por-se a
Geografia contra a roda da historia.
Regina Mattos
Professora de Geografia
4
de I9Z0-u*
lo. de Cutting vezé
COLO
i
Vof, xxi Vv -ML
Ee oieogs
rae tarYs UL eo NUS LAV VEADUIAUG CAG 144010 UN
tanto na descricfo de relagdes diretamente
sexuais: por baixo da liberac&o encontra-se
uma outra repressao, nfo vencida. EF o que
nos revelam autores como Marcio Souza e
Fernando Batinga, membros dessa Geragao
da Guerrilha, ou melhor, literariamente mem-
bros da Geracéo da Abertura.
Poranduba (em tupi: noticia, informag&o),
escrito por um baiano que, exilado, viveu
no Chile e na Alemanha Federal, guarda os
tragos pincelados pela peregrinagéo de seu
Autor. Nao é propriamente um livro de me-
morias, nem de contos, nem de ensaios: nao
sendo nada disso, mas tendo algo de cada
um, 6 classificado entao de “romance”, sem
oO ser propriamente. Essa indefinicéo de gé-
nero 6 a sua definicao.
O Romantismo encarou o romance n&éo como
um género entre outros, mas como o género
que sintetizaria todos os outros, superando-os.
A poética das vanguardas trouxe 0 habito de
xingar as limitagdes impostas pelas normas
inerentes aos géneros literdrios. Tais normas
nado sfo apenas limitacdes, mas séo também
recomendacées de como melhor viabilizar o
discurso, A conjugacio de diversos géneros
em um s6 nem sempre consegue fazer com
que cada um deles dé a sua melhor contri-
puiciéo. A amplitude do género “romance”
nio é sé a sua forca, mas também a sua
fraqueza. Esse perigo ronda o “romance”
Poranduba.
Toda obra de arte constitui um sistema, todo
sistema tem uma dominante, um fio con-
dutor. Mesmo os romances de vanguarda,
sem serem originais nisso, tentaram romper
a linearidade, mas n&o puderam deixar de
ter um fio condutor, pois senéio cairiam aos
pedacos. O romance construido em forma de
fragmentos (Jodéo Miramar, por ex.) tem na
fragmentacio o seu principio unificador.
Poranduba se esforca para nao ter uma uni-
dade formal. Seu narrador pode ser um eu
masculino ou um eu feminino, um padre ou
mm cayvnmanfsann wm tarrnricta O11 11m for.