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« Sey30 DCI Bras Fortaleza-CE, 01 de dezembro de 2014. Exmo. Sr. Dr. Ministro Enrique Ricardo Lewandowski it i conse o NACIONAL DE JUSTICA Presidente do Conselho Nacional de Justica (CNJ) ea nea ee i A Brasilia, DF - 70760-542 Assunto: Dentinncia sobre graves violagées de direitos no Sistema Socioeducativo de Fortaleza com a solicitagao de providéncias urgentes. REPRESENTACAO ASSOCIAGAO NACIONAL DOS CENTROS DE DEFESA DA CRIANGA E DO ADOLESCENTE (ANCED), organizacao da sociedade civil sem fins lucrativos presente em 17 estados brasileiros e no Distrito Federal, que tem como objetivo articular e fortalecer a atuacao local dos Centros de Defesa da Crianga e Adolescentes (CEDECA') filiados e aumentar 0 impacto das ages destes Centros de Defesa em nivel nacional, buscando assegurar a efetivagao do principio constitucional de prioridade absoluta para os direitos infantojuvenis, FORUM PERMANENTE DE ORGANIZACOES NAO GOVERNAMENTAIS DE DEFESA DOS DIREITOS DE CRIANGA E ADOLESCENTE DO CEARA (FORUM DCA), articulagdo da sociedade civil organizada, composta por organizagao nao governamentais sem fins lucrativos, profissionais da area da infancia e adolescéncia, e académicos da Universidade, e CENTRO DE DEFESA DA CRIANCA E DO ADOLESCENTE DO CEARA (CEDECA Ceara), associagao civil sem fins lucrativos, inscrita no CNPU/MF sob n° 00.816.416.0001-82, com sede na Rua Deputado Jodo Lopes, 83, bairro Centro, Municipio de Fortaleza, Estado do Ceara, CEP 60060-130, Centro de Defesa da Crianga © do Adolescente do Cearé * Rua Dep. Jodo Lopes, 83. Centro. Fortaleza - CE {60.060-130 ~ Fone/Fax: (85)3252.4202 CNP): 00.816.416/0001-82 E-mal: financeiro@cedecaceara.org.br ‘www.cedecaceara.org.br organizacao fundada em 1994, vem, por meio desta, apresentar dentncias gravissimas de violagdes de direitos de adolescentes internados das Unidades de Atendimento Socioeducativo de Internacao no Estado do Ceara, e solicitar a tomada de providéncias ‘com urgéncia. | | 1, Contexto atual do Sistema Socioeducativo no Estado do Ceara © ano de 2014, em espacial nos meses de abril a novembro, contabiliza mais de quinze rebeli6es, trés fugas em massa (com a fuga de mais de 100 adolescentes'), e rnumerosos outros contfitos ¢ motins envolvendo violéncia com adolescentes internado. No Geard, 0 Sistema de Atendimento Socioeducativo de meio fechado, em especial a Internagdo, funciona com ocupagie média superior a 200% de sua capacidade, fazendo do estado 0 terceiro do Brasil com maior indice de superlotagao. Esta realidade espanta porque nunca houve tantes confltos no Sistema Socioeducativo cearense em semelhante periodo de tempo. Importa destacar que grande parte das deniincias e das violagées que integram este documento foi oblida a partir da realizagéo do 3° Monitoramento do Sistema Sociveducative no Estado do Ceara elaborado pelo Forum Permanente de ONGs de Detesa de Direitos de Criangas e Adolescentes (Férum DCA), do qual o CEDECA Ceara faz parte. © ciclo 2013-2014 do Monitoramento ampliou os horizontes de analise, incorporando 0 monitoramento sobre as medidas em melo aberto (Liberdade Assistida) e Sistema de Justiga em Fortaleza Os dados relativos a0 monitoramento das medidas em meio fechado® indicam que pou fol feito em relagdo as recomendagées oriundas dos dois Relatérios anteriores = em 2008 € 2011. De acordo com 0 Relatério, todas as unidades do internacao de adolescentes operavam com numero bem superior a sua capacidade, desde unidades que operavam com mais de 160% da sua capacidade, chegando a casos de 257%. Em relagao &s situacbes de violéncia no interior das Unidades de Internagao (violéncia institucional, tortura, agressées fisicas, psicolégicas, e até violéncia sexual), os dados séo alarmantes, revelando que tals situagdes ndo so excegSes, mas integram 0 cotidiano das Unidades: 86% dos gestores das Unidades reconhecem haver agressao fisica ou verbal por parte dos profissionais dos centros e 14% ndo responderam. Ou seja, "Mais de 100 adolescentes fugiram, este ano, das unidades de internagao do Estado. Noticia disponivel em: < hitpz/idiariodonordeste.verdesmares.com.brimobile/cademos/policiaiuiz-intordita- enlro-educacional-por-30-dias-1.1152654 > Acesso em 17 nov. 2011. Relatério do Moritoramento do Sistema Socioeducativo do Ceara de 2018-2014, encontra-se site: htpJipt.calameo,comeadi00382806236alta473665 ® * nenhum gestor afirmou nao haver violéncia, tendo sido unanime o reconhecimento de sua existéncia. Avvioléncia tem sido a principal forma de lidar com cantflitos ou atos indisciplina; 100% das Unidades nao utilizam préticas restaurativas ou alterativas de resolugo de contlitos sem violéncia. A principal medida adotada nesses casos consiste na intervengao do aparato repressivo policial, por meio do Gomando Titico Motorizado (COTAM) da Policia Militar’, Nessas investidas da Policia, frequentemente sao relatados abusos de autoridade, casos de tortura e violéncia policial. No que tange 2o atendimento individual, os dados séo de que 100% das Unidades esto em desconformidade com 0 SINASE, que preceitua que cada equipe deve atender um grupo de no maximo 40 adolescentes. Quanto ao direito & educagao, a pesquisa revelou que em 100% das Unidades nao era ofertado 0 Ensino Médio e/ou Fundamental regular’, apenas a modalidade de educagao de jovens e adultos (EJA). Destaca-se, também, que na metade dos Centros do Ceara nao existem agdes de promogao 4 convivéncia familiar e comunitéria e, ainda, 71% das unidades reconhecem no existir espacos de privacidade para as visitas e em nenhuma das Unidades de Internago ocore visita intima para ofa adolescente casado ou que viva comprovadamente em unio estavel. A concentragio de confltos dentro de Unidades origina-se de um contexto caético que envolve praticas de tortura sistemdticas, de desrespeito a legislagao que regula a execugdo de medidas sociceducativas, de banalizacao da violéncia e disciplina repressiva por meio da tortura e do isolamento solitério (‘trancas’), de omissio e ineficiéncia do Sistema de Justica, além de muitas outras graves violagdes de direitos. Ademais, os adolescentes tém permanecido incomunicéveis com seus familiares como forma de punigao. Fora isso, as condigdes de trabalho dos profissionais das unidades séo precarias, os saldrios baixos @ as equipes interdisciplinares insuticientes e deficitérias. A educagao @ iluséria, havendo aulas apenas duas vezes por semana sem qualquer observancia do curriculo escolar regular. Igualmente precdrias sao as atividades de Na mais recente rebelido e fuga ocorrida no Centro Educacional Patativa do Assaré (ver Anexo 1), 0 CEDECA recebeu a informagao de que a Policia Millar foi acionada pelos sociceducadores, & nao pela diretoria do Centro. Além disso, a Policia impediu a entrada dos membros da Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social - STDS. ‘De acordo com o Relatério: “Em 2011, constatamos que os socioeducando além de nao terem aulas diariamente, de s6 ser oferecide 4 modalidade EJA, nao havia certificagao do periodo estudado. Ou soja, ao passar 3 anos internado nas unidades (como é 0 caso do muitos, adolescentes), a0 sair ndo era possivel comprovar os ostudos realizados durante a medida socioeducativa. Diante deste cenério de verdadeiro descaso realizamos 22 recomendagSes. Nas Visitas de monitoramento destas, percebemos que a maioria das violagdes denunciadas em anos, anteriores continua a ocorrer nas Uls." (FDCA, 2014, p. 36) & 3 protissionalizacao, as quais comumente envolvem atividades manuais desvinculadas dos interesses dos adolescentes e de real viés produtivo. De modo geral, os cursos que existem no correspondem as aptiddes, interesses ou @ efetiva profissionalizagao dos adolescentes. A assisténcia a satide ocorre de forma irregular e precéria, havendo diversos casos de internos que sofrem de transtornos mentais ou psiquiatricos sem qualquer acompanhamento médico e sem acesso aos medicamentos necessdrios aos seus tratamentos. Alguns socioeducadores com histérico de tortura tém até sido promovidos a cargos de direcdo. Sado violacées e abusos de toda ordem; estupros tém sido a ultima pratica evidenciada dentro das Unidades. A Socioaducacao deve se perfazer por meio da individualizago da medida socioeducativa aplicada. Todo adolescente deve ter um Plano Individual de Atendimento (PIA), 0 qual prevé, registra e gerencia as atividades que adolescente ird desenvolver. As praticas pedagdgicas, a educagao formal, as atividades de profissionalizacao, a atencao a drogadicao, a elaboragao do plano de vida, a construcao de perspectivas de futuro e de novos caminhos, todos estes elementos devem estar no centro das atengSes do Sistema Socioeducativo. Mas no caso do Ceara nao estdo. No hd como se discutir educagdo quando 0 acesso 4 agua é restrito. Nao se pode falar em profissionalizagao quando a principal forma de se aplicar disciplina & por meio da violéncia fisica e isolamento compulsério, por meio das “trancas’. Nao se pensa em oportunidades de futuro quando 0 presente dos adolescentes se caracteriza pelo encarceramento prolongado, estresse constante @ ameagas de violéncia, © CEDECA Ceard tem recebido casos de violagao de direitos dos adolescentes inseridos no sistema socioeducativo, bem como o Forum DCAVCE, a partir de sua atuacao de monitoramento da politica sociveducativa no Estado. Estas deniincias tém se muttiplicado grandemente em 2013 e particularmente em 2014. No decorrer deste ano a situago alcangou um grau calamitoso insustentavel, tendo em vista a ocorréncia de, pelo menos, 10 rebelides’, do més de agosto ao inicio do més de novembro. A realizacao de motins e rebelides, diante desse contexto, reflete a violéncia cotidiana e a inexisténcia de uma politica pedagégica adequada ao que prevé o Sistema Nacional de Atendimento ‘Sécio Educative - SINASE (Lei n? 12,594/2012). Diante desse contexto, elencaram-se, apresentam-se as principais deniincias recebidas ¢ encaminhadas pelo CEDECA Ceard, bem como as situacSes que apontam sérios indicios de corrupeao negligéncia dentro das instituic6es socioeducativo e no * Anexo 1 - Relacdo de noticias de rebelides nas Unidades de Internacae do Geard, acorridas do més de agosto 20 inicio de novernbro de 2014. ®& 4 Governo do Estado do Ceara. Em seguida, apresentam-se algumas medidas judiciais ja encampadas por esta instituigéo em periodos anteriores, mais especificamente no ano de 2009, no intuito de solicitar intervengdes e melhorias no Sistema Socioeducative do Estado, ainda naquele ano. Por fim, so solicitadas providéncias a fim de alterar a realidade cadtica existente no Ceara. *0 2. Dentincias de violagées e-crimes ocorridos no interior de Unidades de Internagao do Estado: tortura e isolamento compulsério ~ “tranca” Para contribuir com uma analise mais ampla possivel da situagao limite em que se encontram as Unidades de internacao do Ceara, apresentam-se os seguintes casos embleméticos, acompanhados no decorrer do ano de 2014 pelo CEDECA Cearé, relerentes as Unidades de Internagao do Estado, as quais so geridas pela Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS) do Ceara. Nos tetmos da Lei 9.455, de 7 de abril de 1997, a prética de tortura é crime inafiangavel, insuscetivel de graga ou anistia e sua condenagdo acarreta a perda do cargo, fungo ou emprego piiblico Art. 1° Constitui crime de tortura: 1 = ‘constranger alguém com emprego de violéncia ou grave ameaca, causando-Ihe sofrimento fisico ou mental: ) com o fim de obter informagao, deciaracao ou contissao da vitima ou de terceira pessoa; ») para provocar ago ou omissao de natureza criminosa; 6) em razo de discriminagao racial ou religiosa; I~ submoter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com ‘emprego de violéncia ou grave ameaga, a intenso softimento fisico ou mental, como forma de aplicar castigo ‘pessoal ou medida de carder preveniivo. Pena - reclusio, de dois a oito anos. § 1” Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de seguranca a sofrimento fisico ou mental, por medida legal. | § 4° Aumenta-se a pena de um sexto até um terco: 1. s0 0 crime 6 cometido por agente publico; Il - se 0 crime & cometido contra crianea, gestante, portador de deficiéncia, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; (Redacdo dada pela Lei n? 10.741, de 2003) ‘A Convengo da ONU contra a Tortura e outros Tratamentos Crudis Desumanos ou Degradantes (1984), ratificada pelo Decreto n° 40, de 15 de fevereiro de 1991, define a tortura em seu artigo 1°. Antigo 1" 4. Para os fins da presente Convengao, o termo “tortura” designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, fisicos ou mentais, so intli lencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pessoa, informagdes ou confissdes; de castigé-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou Sela suspeita de ter cometido: de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qzalquer motivo baseado em discriminagdo de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos sao infligidos Por um funcionério publico ou outra pessoa no exercicio de funcoes publicas, ou por sua instigacao, ou com 0 seu consentimento ou aquiescéncia. Nao se considerara como tortura as dores ou sofrimentos {que sejam consequéncia unicamente de sangées legitimas, ou que sejam inerentes a tais sangées ou delas decorram. Como se destacou no t6pico anterior, diversos crimes vem ocorrendo no interior das unidades de intemnagao do Estado. No enlanto, 6 de se destacar que a tortura apresenta-se, literalmente, como uma pratica institucionalizada de contengao disciplinar e de construgéo da posigéo de autoridade dos sociceducadores. As dentincias ora apresentadas adéquam de forma clara as definicSes da pratica de tortura extraidas de normativas internas internacionais, por isso requerem imediata apuragdo e responsabilizacao dos agentes e demais responsaveis pela manutengao dessas graves violagdes de direitos humanos. | Enfatiza-se, ainda, conforme o artigo 2° da citada Convencdo, o dever conferido aos Estados Partes em tomar medidas eficazes, de qualquer natureza, no sentido de impedir a prética desses atos, bem como de aplicar penas adequadas & aravidade do crime de tortura, ndo somente para o agente envolvido diretamente, mas para qualquer pessoa que tenha manifestado cumplicidade ou participacdo no ato, Sendo assim, ressalta-se 0 imprescindivel papel que este 6rg30 possui na apurago de tais crimes, uma vez que a lei igualmente sanciona seriamente aqueles que no cumprem com o dever de prevengao ou apuracao de tortura, conforme a Lei 9.455197. § 2 Aquole que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evita-las ou apuré-las, incorre na pena de detencao de um 2 quatro anos. Além da prdtica de agressées fisicas de forma direta por parte dos agentes poblicos, sejam instrutores socioeducadores, sejam policiais, outro problema aravissimo _sdo_os_espacos destinados_ao_isolamento_compulsérios_de adolescentes, conhecidos como “tranca”. Todas as Unidades de Internagéio do Ceara possuem o referido espaco e o utilizam diariamente x A manutenco desses espagos conhecidos por “tranca”, por si, viola frontalmente os principios de execugao de medidas sociceducativas dispostos na Lei 12.594/2012° (SINASE), em especial o da legalidade, da excepcionalidade da intervengao judicial e da minima intervengao. Ainda de acordo com a legislagdo, todas as er itidades de atendimento deve prever um regime disciplinar, no qual seja estabelecido o devido procedimento em relagéo & apuracdo e responsabilizacéo de comportaméntos inadequados ou indisciplinados dos internos: Art. 71, Todas as entidades de atendimento socioeducativo deverao, em seus respectivos regimentos, realizar a previsdo de regime disciplinar ‘que obedeca aos seguintes principios: | - tipiticagéo explicita das infragdes como leves, médias e graves e delerminagao das correspondentes sangdes; I~ exigéncia da instauragao formal de processo disciplinar para a aplicacao de qualquer sancéo, garantidos a ampla defesa e 0 contracitério Iil- obrigatoriedade de audiéncia do socioeducando nos casos em que soja necesséria a instauracdo de proceso disciplinar, IV= sancao de duracdo determinada; \V- enumeragdo das causas ou circunstancias que eximam, atenuem ou agravem a sangéo a ser imposia ao socioeducando, bem como os requisitos para a extingto dessa; VI-enumeracao explicta das garantias de defesa; Vil- garantia de solicitacao e rito de apreciacao dos recursos cabiveis; & VIL = apuragao da falta disciplinar por comissao composta por, no rminimo, 3 (trés) integrantes, sendo 1 (um), obrigaloriamente, oriundo da ‘equipe técnica, ‘An. 72. O regime disciptinar 6 independente da responsabilidade civil ou penal que advenha do ato cometido. [..] Ant. 74. Nao sera aplicada sangdo disciplinar sem expressa e anterior previsdo legal ou regulamentar e 0 devido proceso administratvo. Os casos apresentados abaixo relatam violagdes envolvendo violaces de direitos envolvendo a vida, a integridade pessoal e a liberdade sexual de adolescentes em cumprimento de medida sociceducativa de intemagéo, apuradas em diversas unidades de internacao tanto em Fortaleza, como em municipios do interior do Ceara. Ad. 38. Aexecugio das medidas cociooducatvas rogor-s0-4 polos soguintos principios: | lagalidade, nao podendo 0 adolesconte roceber tratamento mais gravoso do que canterido a0 adult, IN excopeionalidade da intervengéo judeial © da imposicao de medidas, lavorecenda-se meios de ulocomposicao de confltos; Ill = priordade a praticas, ou madidas que sejam restaurativas ©, sempre que possivel, alendam as necessidades das vitimas IV - proporcionalidade em relacdo & ofensa cometida; \¥- brevidade da medida em resposta a0 ato cometido, em especial o respelto ao que dispde o art. 122 da Lei no 8,069, de 19 de julho de 1990 (Estatuto da Crianga e do Adolescente); Vi individualizagao, considerando-se a idade, capacidades @ crcunstancias pessoais do adolescanto: VIl- minima intervened, restila ae necessario para a reaizagao dos objetivas da medida; Vill - nao discriminagao do adolescanto, notadamonla am razio de etnia, género, nacionalidade, classe social, ofentagao relgiosa, politica ou sexual, ou associagao ou pertencimento a qualquer minoria ou status; cca x ade arnt rio prices econ 7 2.1. Triplo homicidio de adolescentes internados no Centro Educacional José Bezerra de Meneses, em Juazeiro do Norte. A regido sul do Estado do Cearé, segunda drea mais populosa do estado, conta com apenas uma Unidade de Internagao, a qual esta exclusivamente voltada para intemagao proviséria. Trata-se da Unidade de Internacéo denominada Centro Educacional José Bezerra de Meneses, situada no municipio de Juazeiro do Norte. No dia 15 de julho de 2014, ocorreu um triplo homieidio dentro das dependéncias do referido Centro, Trés pessoas encapuzadas invadiram o local por volta das 19h30min, imobilzaram os funcionérios da Unidade, e, em seguida, executaram trés adolescentes que no momento em que tomavam banho’. Por fim, 0 grupo fugiu sem ser identificado. Este homicidio recai absolutamente sob a responsablidade do Estado do Ceara, que detinha a custédia destes adolescontes no momento do crime e a obrigagéo de garantir- thes o direito a vida, A Associagao Nacional dos Centros de Defesa da Crianga e do Adolescente (ANCED) e 0 Férum DCA do Ceara solicitaram por meio de offcio’, em julho de 2014, as soguintes providéncias: () junto a Secretaria de Trabalho ¢ Desenvolvimento Social — STDS, a reestruturacao da seguranga no Gentro e 0 orgamento destinado & Unidade, a gual permanece sem resposta; (i) junto & Defensoria Publica Estadual, a propositura de ago de reparacdo de danos por parte dos familiares dos adolescentes, a qual nao ingressara com agao; (ii) & Delegacia de Policia responsével pela investigagao do crime, informagao sobre o andamento do inquérito policial, o qual permanece sem indicagao de autoria. Verifica-se que a morosidade nas investigagdes consiste em uma grave violagao de direitos humanos, em especial dos familiares dos adolescentes executados. A falta de eficiéncia na apuragéo e responsabilizaco dos envolvidos enfraquece o ja mal estruturado sistema de execugtio das medidas socieducativas no Estado, contribui para fortalecer 0 sentimento de impunidade em relagdo a esse tipo de crime e respalda a impossiblidade/incapacidade de responsabilizago do Estado em casos de graves violagdes de direitos envolvendo adolescentes em cumprimento de medidas | socioeducativas. EEE EEE | 7 Anoxo 2 - Noticias roferentes ao triplo homicidio om Centro Educacional de Juazeiro do Norte. ® Anexo 3 - Oficio n? 17/2014, do Férum DCA, para a Defensoria Publica do Estado, solicitando informagao sobre 0 triplo homicidio em contro de internacéo; oficio n? 16/2014, do Férum DCA, para a Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social; oficio n° 18/14, para a Delegacia Regional de Juazeiro do Norte (20° Regio). 8

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