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DOS DELITOS E DAS PENAS in2ebe § Cesare Beccaria 4 Balicao SVNAd SVC 4 SOLITAG SOd ide FUNDAGAO CALOUSTE GULBENKIAN, iO DOS DELITOS E DAS PENAS Cesare Beccaria 4.*Bdligdo Basere Besson ogo FUNDACAO CALOUSTE GULBENKIAN ‘Reervalo todor o di LER BECCARIA HOJE 1. O Ieitor poder erguntar-se jastamente, que sentido tem e que relevincia pode asumnir hoje ~ a mais de dois séculos de distincia da publicaco— a tradugio do livro de Cesire Beccaria "Dei delitie delle pene Reaai, para quem escreve, por iso, quise que 2 obrigacio de explictar as rzdes do empenhamento em f, quando, i partida, se sabia que se estava perante tum texto difll, porque, nio poucas vezes, propositada- © obscurO; tantas,assumidamente involuto e auto -referencial; sempre conclusive em formulagSes de nsparéncia ¢ limpidee ties, mas de nio fi cil transposigio linguistic Em primeito lugar o objectivo principal ~ digamo- Ho abertamente~ foi o de colmatar wana lacuna: no havia em lingua portuguesa ~ para i de algumas tradupSes suri no Brasil ~ uma taduco daquela imporeanssima obra do Tluminismo, Relevance e marcante niio s6 para 2 lusracio imediatamente co jonada com os proble- ‘mas do dieito penal mas ~ poder-se-4 mesmo airmar se medo de cometer a impertingncia d ousadia balofa - se igual jeto, nuclear para toda uma forma de compreen- Sio integral do pensamento mais profiando das Luzes, E claro que a inexisténca, & bom lembrar, de uma teadugio nio impediu ~ desde sempre e com que reper cscente-s¢ ~ a influéncia de Beccaria no espago rlarment, desde 0 sé. caltural portugués e muito pa XVI mento de Pascoal José de Mello Freee, as polémicas sus- Citadas e mesmo as cities ~ “censuras", como na altura 9 oso pensamento e pritica penais. O pens se dizia ~ recebidas de Antonio Ribeiro, slo ilustrasSes indesmentiveis da influéncia do Huminismo © muito Becearia ma cultura juridico-penal particularmente portuguesa. O que se pode dizer é que esse benéfico € indesmentivelreflexo se fee sempre pela linha assumida ‘de uma determinada intelgenteia: a0 menos aquela que 0 italiano. Dai que a divul- podia, sem grande esfrco, le fi¢lo ~ jubilosamente assumida, desde a primeira hora, pelo Presidente da Fundagio Calouste Gulbenkian, S também ele am thor Profeswor Doutor Ferrer Cor cultor das coisas do dizeto penal nos alvores do seu bri- Thantisimo © mareante magistério de professor na Fa- culdade de Direito da Universidade de Coimbra ~ das ideias deste pequeno ivro ~ deste “livrinho”, a nos-famos assim a qualifci-o ~ seja uma tarefasedora altamente gratifcante. E sé-lo~i, por sobre tudo, se tivermos como horizonte os mais jovens estudiosos das coisas do direito penal, tanto mais porque eremos que é neles, sein demagogicase intoleriveis sedugOes intelec tmais, que se encontm sempre aquele sopro de alma que faz com que os ideais de justia, ibendade ¢ igualdade se sssumam por inteiro. Na verdade, 2 obra esti toda ela animada daqueles ideais. E no raro vemos as reflexes resvalarem pars temas como os da igualdade entre os hhomens, mas nio uma igualdade meramente formal, antes substancal, a Gnica que & capaz de garantir aver Se dos cidadios, ini ~ porque também. dada ibs a zinha de uma ideia material de justica. 2 da bm de Been pecs angular da dae Je ums nsio especulativa, os problem: cortecto enqua- 2 intencionalidade na definigio dos propésitos,sejam eles das penas, da provas em pro- esto pe a assungio de uma certa forma de compreender o diteito penal so pontos ou mateas de agua mais do que sufi- rs institutos,¢, lt but no the leas, como, do mesmo pass, sio afloramentos teéricos de indesmentivel actualiade qu, se mais nfo houvera—e tanto hi, aun jf nos permitiria concluir pela bondade do valor de intengio de fazer 2 trdugio ~ a qual se di agora 4 ampa = baseados na edigio critica, tida como uma dis mais bem tratadhs e euradss, quer histérica quer filolo~ gicamente, de Franco Venturi, Repassemos, no entant, s olhos sobre alguns dos mais importantes pontos da presente obr Ni temos a menor divida em considerar que ‘Dos delitos e das pens” & cerzido por uma fina tessitura jo fio condutor pode ser visto na ideia forte do garan tismo, No entanto, ofascinio deste programa de politica criminal ~ em verdadero rigor temos para nés que o contetdo do lio se traduz em urn “actual” pro ‘gama de politica criminal e dai a sua perenidade ~ reside na simultinea mistura de duas coisas aparentemente antagénicas: por um lado, a afirmagio inequfvoca de um preciso ¢ extraondinarismente bem definido horizonte itencional que se crcunsereve na preservagio afirma 0 dos princpios de igualdade e de g O caricter asistemitico ¢ de unidades © apresentado, Na verdade, aque o texto é formalmen levado a pensar que se esti pela primeita vez, & perante uma obra quase que de divulgagio, onde as epi frafes dos titulos querem faciltar a introdugio ao senti emblemiitico do texto. Mais. Pode-se, em um titulo para outro sem que, com is fincas, salar haja um aparente prejuizo ou perda das significagSes ou das ideias que se querem transmitc. Nesta pica, su mo uma modemissima obra de referéncia, nos quae Mas mal andaria quem se fcase por um tal nivel de Teitura, Para li dessa aparente impressio de faciidade ilidade. Aquela que ‘deBinimos ates como expressio clara ¢ indesmentivel de a unidade textual esconde uma outra tum quadro intencional onde a igualdade, a liberdade e as garantias de defesa nos aparecem como expresses li pidst de tum direito penal de ténica fortemente liber 3. Na verdade, esta pequena of pensamento ocidental cheio de pequenas grandes obras? pode ser vista como 0 Manifesto do garantismo, ou seja: como manifesto das garantis, em direto e processo is, do cidadio nas suas relagdes com 0 Estado deten- {que tl peculiaridade expli tor do ins puniend. De sort {que muito da sua intansponivel acmuaidade e se apresente Como razio bastante € suficiente para novas edicdes, onde renovadasleturas encontrar eco € respostas para 0s problemas que, em todas as épocas, aquela tensdo vai io das exprimindo. De facto, a qu 1865 entre o in ‘81 "7 dividuo (pessoa) ea autridade (Estado) é, em toda e qual- ‘quer pas, uma questio perenemente aberts, com am in~ certo ¢ precieio equilibria, E & por eciows a8 reflexses de o que resultam se possa considera Beccaria. Nio & por acaso que com iso diz-se tanto ~ a seguinte asiergio: «no existe bberdade todas as vezcs que as leis permitem que em al- guns exoe o homer (XX. Viole nial, quer signiicar © segui as). que, em termos de politica e: faze leis que tra ‘© homem como pestoa ¢ nio como instrument de prot secugio de certos e determinados objectives. Mesmo aque a Gnalidade poderiamos acrescentar agora i luz das dos nossos actusis problemas ~ seja a afirmagio do valor “contrafitico” da norma. E esta imposgio ~ abyolutamente extiondiniria pats aquela época -, conaturlmente iber, que Bec tmansforma em pane de fndo das relagSes entre o Es © 0 Individuo. Um E ado que deve servir a pessoa com 0 tino fto de asegurar «« maxima flidade repartida pelo msior nimter (Inttodugio). E esta extraordiniria forma centre Autoridade ¢ Liberdade, nfo podia nio relletir-se de ver e valorar as relagies entre o Estado € o Indiv no modo de affontar a dilemitica questio dos fins das penas que, daquele tipo de relagdes, € a mais imediata ¢ real imagem especulae. A varabilidade e cial relatvid simidad: senio o sinal tangivel ou percepri «a questo criminal ~s0 tudo da legi- ¢ da legtimasio das penas — nfo sio outa coisa a constante expan so e retracci0 do po coercitivo do (Estado) perante © individuo, Dai que perante extainsuperada e insupers vel questiosejagratiieante ter 0 apoio de uma vor ~s0- bretudo quando ela se tem importa “classcamente” jf alo dezoito ~ que elege como tema central a desde o problemitica criminal o “mbito penalmente ‘que, dentto daquele preciso quadto da relevancia penal defends, intransigentemente, 0 mais amplo ¢ alargado spaco de liberdade imune 3 coergio penal Beccaria nio 36 rejeita, sem rebuco ow hestaco, 2 invasio incondicionada da lei penal, no Ambito da Ii berdade individua nas, para alem disso ~ ¢ aqui resid considera ainda uma expecifcidade de enorme eel pressuposto vilido para admitir a com que 0 nico Sio da liberdade 56 encontraarrimo quando a lei pen: ncias di sociedade. Se para prosiegue legitimas exig 2 medida dos crimes ~ empregindo-se aqui medida nio sé em sentido restito mas sobretud: Criagdo dos proprios comportamentos proibidos — 0 er do tério fundamental da criminaliagio & 0 adano ca bs na medida da pens) nio podem, lei i nagio» (VI. Er timamente, aparecer como crimes conduts dduzam urn tl resultado, Assaca-se, deste modo, um uso residual a0 diteito penal, rcs, impée-se, em toda ‘qualquer cicunstincia, que o direito penal actue sempre a¢i0 indissoluvelmente de maneira consignada. Co igada a0 dano causado & nagio ou, se quise piblca”, como diria 0 nosso Anténio Ribeiro. Dano deve set compreen- ‘gue, por seu tueno, ndo pode nes ido como pura expressio materalsa. © dano bem pode incidir sobre bens imaterais. O que parece in ~ pasando para uma actual linguagem dogms fica ~ & por conseguinte, a afirmacio do chamado principio di ofensividade 4. No entanto, a compreensio das coiss anterior mente gizada assenta, como se sabe, a ideia de contrato social. Independentemente de se analisar nos seus mais profundos prestupostor © consequéncias 0 modelo de .de social que © comtrato social - ¢ de tudo pressupde ~ arasta e de, fundadamente, 0 cri- vicar, patece-nos iil © pertinente sablinhar alguns dos seus a5pectos positives e relevantes, 4.1, Em primeito lugar, est-se perante um modele de fundamentacio que, pela primeira vez, encontra as raizes na estrita dimensio humana, sem necesidade do recurso a uma qualquer transcendéncia, Neste sentido € uma compreensio antropolégica cujo centro é o ho ‘mem, se hem que tum homem que ainda nio encontrow a dimensio material da hiseria. De qualquer maneia, ap sta pelo crivo da propria historia, Seria absolutament pei histérica deste modelo deve também ela ‘etulto nio querer ver 0 enorme progreso, inovagio ¢ aprofundamento que o “contrato soci” representou nte do século dezoito, Bem sabemos que a exaltagio a outnne da razio, sobretudo de uma razio que se asume emp ular, levou carnadamente como mt suportiveis, nomeadamente quan lo se quis construir © mundo ~ isto & eeger © mundo , a partir da ideia finicae soberana de que a rizio ~ e nfo o homem como a medida ser intermédio entre ot deuses e as bestas ~ de todas a coisas. Tudo isso foi feito ea histéria mostrou a inanidade de um tal projecto. A construgio de um mo- delo de sociedade wnicmente norteado por uma idcia de racionalidade fancional ou mesmo de racionalidade de tum absolute a-histérico no que toca aes principios con. dduziu sempre a humanidade a becos sem sida ou, pior 2 profuundas manifestagdes de violagio dos mais elemen- tares direitos da pestoa humana, Exe tipo de racionalidade, como nido podia deixa ém se teflectiu no campo do direito penal de set, tan Foi o tempo de um direito penal ~ esperemos que para sempre ultrapasada ~ absolutamente subserviente a ra= 2o de “clase” ou i hiper-titinica e arbitra “razio” do “Fihter” Todavia, leitura unilateral que no poucas vezes se «quer fazer do racionalismo iluminisea devemos contrapor uma visio plurlateral da racionalidade, nfo apenas ligada geneticamente iquele pensamento, como também 20 TDuminismo em si mesmo. Na verdade, no s6 se deve aGrmar conwictamente que houve virios jluminismos io pode esconder que a rcionalidade sada do Tluminismo nio tem necestariamente que coincidir com aquela que, de forma esteriotipada, nos querem impor como a tinica posivel, como a Gnica racionalmente admissivel. Com efeito, muitos dos segmentos essenciais do luminismo ffancés ~ que em tantas coisas se crsta- Hizou, por circunstincias histérias, em cadeia de “ihi- 1m poder absoluro de império e se expandiy até ds estepesrussas com Catarina II para benefico, jus tamente, do proprio poder absoluto personificado, sobretudo, em ppouco tém a ver com © Taminismo ing tum John Lock, Da mesma forma que o Huminisme ita- Tiano ou 0 portugués que tanta influéncia daquele rece- m confundir, nem e Tonge nem de Christian Wald, bbeu no se pod pperto, com © Tuminiemo alemio 02) de Lessing ou até com o de Kant, por tantos considerado um dos dltimos, mas ambém wm dos maiores pensadores do Iluminismo, Logo, a multpliidade genético-cultural gue © lluminismo nos oferece prova mais do que evi- lente da impossibilidade de uma letura monocular ox de uma visio empedernidamente unilateral. Por iso, urge repensar — sem simplficagSes, mas também sem abdicar da clareza que 0 aprofundimento io tem de afastar -, por exemplo, certo tipo de airmagies corren tes no mundo da nossa disciplina, nome udamente aquela que sustenta que o pensamento iluminista & intrinseca mente, quase ue sem resto, uma corrente doutrinal que ve os fins das penas sempre lgados a uma ida de 40 (gera), esquecendo-se, asim, a ligio de Kant ~ am bém ele tum indesmentvel iduminista ~ que, neste par- ticular, € aiada para 0 mare magnum do idealismo alemio, (Queremos com isto sublinhar que a ideia mate de re ‘ribuigZo esti ela também, materiakmente,ligada a0 Ut minismo. Umbilicalmente ligads em um duplo sentido 4.1.1. Em primeiro lugar, a airmagdo ¢ a defesa dos pressupostos da retribuigio io uma das expresses mais Tidimas da iberdade, da autonomiae da autodeterminagio da pessoa humana. Nio fi 0 Tluminismo caraterizado ~ para se dizer de maneira simplifcada e seguindo Kant ~ ‘como aguele momento da histéria em que se di'a maio ridade da razio? O homem, a0 ter atingido esse patamar, assume, por inti, a autonomia da sua maioridade racio nal. Responde p autodeterminario. E 0 homem que los seus actos na medida da sua propria © centro intocivel dos seus actos e por isso responsive, sem resto, da conse- quéncia daquees. Hi agui, portanto, uma absoluta con 03) cia entre aguilo que de mais revolucionsrio e profundo nos trouxe o Tuministo ia de retribuicio vista partir desta Spica to, através das sombras de um desvalor a propria id io visa, por reoldgico’ gue asiente no mal ot pecado. praticadon A autonomia que se reivindicae que o Tluminismo pela cer, aquela qu ntes que se postlava agarrada materilmente & histérit os. Foi precisamente autonomiaem | como no poucas vezes se quer fizet ais, se baseia em um qualquer i «408 homens conce toda a sua plenitude soa que decide por sie em si clhar © direto penal como liberd. Ou seja: aquele modo de perceber e fundar 0 direito penal como uma ‘0 pressuposto de que ha uma pes ordem da liberdade e no como pura manifestagio de gitimidade historicamente fandamentada, Percebe-te a razio ou a rides que levaram Becearia a afar a tonica da rtribuigdo, Esta eseava enfeudads, no ancien rigine, A wanscendéncia teologica. A autonomia do homem ers inexistente ou, quando muito, disalV aperfeigoamento a um modelo moral predefinido pela propria relgiio e no fruto de autintc manifesagio da individuilidade. Do homem individual, snpenhadk subjectivamen par de aquela trdigio estilan e se pensa para se imporem, tém de romper ou de raggar a eias por sie ems. Ora emio\sb pode peso que as novas formas pensament pasado — que atrou uma parte do pensamentoiluminista ~ e Beccaria paricularmente 4} er ~ também ela conseque ‘0 pensamentoiluminist 08 Bins ea legitimidade da pu nigio. O que tudo nos far perceber que a encruzilha onde Beccaria se moveu é ela propria 0 lugar geométrico fecundo para se nio para de fiz novas leturs, Leituras a Beceara, eit 1.2. Analisemos, se be que sempre p de set em um trabalho riamente, como nio pode deixa deste género, a outra forma de conexio entre o pensi~ erribuicio. © elo de ligagio ou a chave para a abertura d Fe Tegito en: contramo-los, em nossa opinido, na nogio estruturant réprio contrato originirio que cobre, como se sabe, das Luzes rio Kant fi partcularmente sensivel. Na verdade, quando uma boa parte do pensament 3 qual o pro se cede aquele pedago minimo necessirio da liberdade para se beneficiar da seguranga que nos permita viv individval e colectvamente esti-se, segundo este mo- delo, a aceitar duas coisas: uma que se confina com 2 contraprestagio atris referida ¢ que € aquela que nor ‘mulmente & saientada; outra, bem mais particular mas do menos precisa, que assenta na logica de que a exis téncia de crimes ~ ¢ consequentes penas = pressupoem também a relagio conteatual originsria isto é: para viver em seguranga © paz acetam-se os crimes como um mal faz parte desse ‘tato originirio ~, comutatvamente, que, se 5¢ tverem portamentos proibidos por lei, € itrinsecamente cor aceitr-se o mal da pena ~ “retrbuigio" ~ previo ar hide de contrato or nirio que a wm compor- inalmente censurivel se siga a correspond ‘quae que de modo sinalagmstico ~ pena. Aguele que vio Joa o pacto originirio ~ através da pitica de um crime Jeve “pagar” com ima pena, tanto mais que na I interna da doutrina do contat jacio do contrato ¢ todos conhe- ram de acondo na sem excepelo, as condigSes e as consequéncias do Nada mais limpido rio cumprimento do “contrato’ parente a luz de uma dit ideias matrizes de todo (9 Huminisms 5. No entanto, a densidade e a complexidade, en tantos momentos atrs desenhadas, nio podem, de modo algum, bulir com o sentido reflexvo, reiut,auto-tefle xivo, com que @razio, a partir de entio, comegou a ser compreendida, Na verdade, mesmo aqueles que se rmostrido mais disantes de wma forma de pensar © de valorar cenerads na racionalidade duminisa so unénimes fem reconhecer um dado indesmentvel: o himites 3 220 So determinados pela propria razio, Com eftito, eta cstrutura auto-relexivaimpos-se como a instincia dima © prim também ~ sobretudo para o que nos toca ~ da validade da aferigio, ndo x6 da pura abstraccio, mas das regras © dos princfpios que nortelam a nossa vida individual e colectiva, (Ora, se tudo o que se acaba de ponderar nos parece tenes o Tum ser indiscutivel, no & menos verda nismo legado, pelo menos o iuminismo mais sage e todo © postiluminismo ~ para lida imprescindivelinstincia, simultaneamente de critica e de legitimagio que a azo assume ~, nos ter legado, dizamos, o sentido da histria, As insttuigbes ¢ os homens devem ser compreendidos luz da histéria, Daf que tenha sido neste momento que se colacou pela primeira vee a conflitulidade entre a Tigio € o progres. A nitida percepgio desta reaidade fer com que 0 fensmeno social da aplicagio das penas = para s6 pegarmos no mas simbélico ~ pudesse ser pert pectivado dentro de um horizonte de valoragio axiol6 fica, mas no dentro de umn horizonte absolut e estitic, antes no seo de um enguadramento em que a perspec~ tiva histérica dava sentido material e dinimico a critica aque se faa 3s penas crudis, infamantes e transmisives Na verdade, o pensimento medieval era caramente si crénico; 0 aparecimento da diacronia rompeu ~ com 2s sem retorno, a placides dis extruturas socins que se que riam ou julgavam eternas. O dircito penal e processo penal, ao serem sacudides pela forga intrinseca da dia- ronia, pasaram a ser vistos como realidades histdricas c dai para a frente tudo passou a ser di das coisas da “cidncia” do direito penal. Esta consciéncia ritca gimhou pela primeira ver foros de cidadania com Tluminismo e muito particularmente com a palavra do margués de Beccaria, Para além diso ~ € ja estamos embrenhados sm uma segunda teia explicati ritica daquilo que o ontrato social representa como explicacio ou modelo ~ 2 ideia de rensincia, por parte de todos, a um pedaco da rl ot abso liberdade ~ s6 aquele bocado indispens tamente necestiio, & evidente — para que, desse modo, Je asegure o bem de todos, afigura-se-nos uma repre- sentagio teorética de proporsd0, de harmonia, de justa medida que no pode deixar de levar a uma ideia de justia, © desenvolvimento tranguilo e harmonioso do noso modo-de-ser individual e colectivo pastaria pela ideia de “toca” ~ de uma traca em que 0 “eu” existe porque “toca” com o “outro” — entre aquilo que se di eaguilo que se recebe. E deste modo chegamos a um dos pilates da teilogia avangada por Lévi-Strauss: a roca bens. Existimos p que comunicamos 20 trocar palvras ignifcados); porque comunicamos ao trocar bens; por {gue comunicames 20 trocar parceitos sexuais. O que nos permite perceber que as “aparentes” diferentes formas mesmo que separadis por um arco de tempo de sétlos— 4 explicar ow findamentar a nossa vivéneia individual c colectiva podem encont Por outro lado, a ideia de contrato — que era, como se sabe, fleur de esprit de épo clemento fundante do viver © agir em comunidade, re- presentou, em termos de solidifcacio de uma paciica conscigncia colectiva, uma verdadeita tows, firma ‘que a nose vida colectiva ~ para j6 ndo far da indivi- dual ~ se baseia em tm contrato, é apelar para am in trumento simples, imediato e perceptivel por todos, sem excepeio. Quando se contrata resultam beneficios para todas as partes contratantes, ninguém 0 desconhece. O1 dos os inte yenientes€, 3 pattida, um caminko que leva i estrada do éxito. Nio é racional nio aceitar uma form tiram beneficios. O pouco que indi aidualmente se di ~renGincia a uma franja da lberdade & compensido pe complexo que 2 segurangs que &, em contraprestagdo, conce- ersticial com que este modo de olhar, fndamentar ¢ valorar a construgio da sociedade te tem apresentado desde o seu aparecimento. E esta ma- neiealimpida pidérmica anilise enomenol6gica ~ nio pode deixar de ‘compreensivel ~ pelo menos em ur: ser considerada como um valor acrescido, 6, Mas, & indiscutivel, as reflex bbem que explicativas dos mecanismos gers e globais da legitimasdo da sociedade, nio tocam directamente com a questio criminal. Urge, por iso, que nos detenhamos, agora, sobre toda a problemitica do direito penal vista 3 Iuz de um contato social mediatizado por Becearia, © dreito penal é, assim, visto por Beccaria como tum instrumento de limitagi0 da liberdade dos indivi ‘duos. Todavia, un instrumento I tais Himitagdes se contemple © quan sem comum. Ora, 0 préprio facto timo, desde modo a assegurar 0 dle se ter como pressuposto, 4 partda, a criagdo de um tal inculo aswociatvo, faz com que a prossecugd0 dessa finaidade, que comporta, objectivamente, a accitagio de limites & propria lierdade, se tente ating através do cinone da mixima liberdade tepartida pelo maior nnimero, Quer isto significa que as limitagBes & afrma- welts que, na sua cio da propria lberdade devem ser suséncia, impediriam a realizagio do escopo pelo qual os homens se tiiram em sociedade, Os homens, ma logica Jnterna das contrapatidas insita na ideia de contrato, 30 cederam gratuitamente a sua liberdade. Fizeram-no tendo fem vista um preciso fim: a defesa das condigdes essenciis dd vida individual e colectiva. O que implica, bom é de ver, que todas as outa imitagdes do legslador penal que no estejam ligada efectivagio daquele objectivo sede (9) vam considera, pura ¢ simplesmente, iegiimas, E assim propugnado um uso parco, cauto e racionalmente funds mentado do direto penal. Aquela utilzagio que se, erdade, a expresso clara ¢ inequivoca de stima et ex: 6.1. Ora, com este pano de findo, 0 Estado nio pode arrogar-se a finaidade de reprimir comportamen: tos imorais. Na verdade, no existindo uma concepcio moral nica ~ as sociedades actuais sio transversalmente plurais e hipercomplexas ~ mas diversos modos de sees ‘ar moralmente no “mundo”, ficil € de ver que esta fag rmentaridade torne impostivel que 0 legislador dé. pre! cia, tutelando com a arma da pena, a uma particular concep desta fragmentaridade quanto is condutas moralmente que nio 6 patriménia de todos. A percepcio ver — com 3 ideia free de fag relevantes jg ~ bom ‘mentaridade— sobretido uma frgmentaridade de 1.°grau = que se aria, hoje, um direito penal moderno, Na verdade, entre of citéios de decisio para a esco ha dos bens juriicos que e hio-de aleandorar i dignidad de bens juricico-penais nio pode deixar, justamente entrar © presuposto de legtima pluralidade de diferentes formas de acwacio moral, quer individual, quer coleci ‘mente, Hi, por conseguinte, uma certasimetria na unidade que © direto penal representa. A descontinuidade que a ffagmentardade espelhs, quando dela nos apercebemos global da proliferagio dos bens jui- nal ttea, #6 ganha sentido —ou, pelo ‘menos, s6 adquire um sentido materia ~ no momento icos que o dite «que nos apercebemos de que o fundo onde asentan ga ham densidade aqueles bens juridicos, também ele é des continuo, agmentirio, Ora, a aberturs para se chegat a est compreensio dis coisas foram-nos dadas pelo pens mento iluminista ¢ muito patticularmente pela vor ~ aqui absolutamente ineguivocs, clara ¢transparente — do mar- quis de Be 6.1.1, Repare-se que falimos sempre de imoral dad rio de condutaseticamente censuriveis. O que ‘implica, pelo menos para nés, que a problematica ganhe ama outa relevincia no momento em gue se convoca Forma de vere de p 0 direito penal que nio & contraditéria, asim o temos mostrado e defendido, com uma sua fandamentagdo qu wrangue do “dano 3 nagio”. Tudo ests perceber ¢ delimitar de um modo historicamente densficado os bens juridicos penalmente tuteliveis, E todos perceberio lensificacio nfo pode deixar de passa pelo daguilo que levante e daquilo que a histéria foi dizendo aos homens ‘onstitucionalmente re porgue estes foram entregando Squela as palavras para a © poder afirmar ~ ser o seu patriménio espritual Mas continuemos um pouco mis © nosso estudo sobre alguns pasos relevants do texto de Becearia. Faramo Jo, sobretado, endo em consderacio que 0 noso hori- zonte de andlise se tem sempre como prospectivo. O que queremos € “lee” Beccaria& luz dos nosos dias. E este & todos os sbem,o verdadeiro elemento de cliscismo, Um texto ou um autor 56 se tornam verdadeiramente clisicos quando “todas” as gergSes futures sio capazes de ler na que cada uma dis tnidade de sentido do texto a diversi épocashistricas &capaz de Ihe empresas, 7A. Existem, cobra “Dei dete a favor de uma ¢ Indubitvelmente, outros pasos da gue filam, sem apelo recta delimitagdo do ambito & ente relevante. Den {que se deve considerar como penal ‘to desta idea salientemoso parigrafo XLI onde se affonta © problema do modo de prevenir os delitos. Signfiativo 6 por conseguinte, o exSrdio: mals vale preven o delios {qe punts, Esta proposigio encerta na sua aparente sim plicidade um vetdadeiro programa politico-criminal, me recendo-nos, por iso, que nela nos detenhamos, reflexi- vamente, por 7.2, Din-se-4 em uma primeira aproximacio extica Aaguilo que se escteveu em momento imediatamente an- ual sentido prospectivo terior que, nio obsante 0 eve ~ politico-criminal, obviamente ~ que se possa nela en contrat, iso nada tem a ver com o imbio das condutss evantes. Ora, em nosso modo de ver, al penalmente rl 2 falha redondamente 0 alvo, Para mostrar a bon- dade deste raciocinio suiciente€ pensar—e com iso nos boatamos de forma pertinente ~ que, se se esti perante ‘um programa politico-criminal, dividas nao ha em dizer que, entio, se esti, de igual jeito, em face de um critério aque afere ot comportamentas penalmente relevantes Mas estaremos, verdadeiramente, perante tm real © consequente programa poltica-criminal quando nos cingimos 4 mera assungio daguele exérdio? Cremos, fundadamente, que sim, Mostremo-l, 2.1. A projecgio da prevengio como atitude so- cial que deve estar na primeira linha da fente no sem divida algoma, modernidade. Nao & que a sabedoria po- pular nio tivesse cunhado ~ na lenta sedimentagio dos séclos ~0 brocardo: mais vale prevenir do que remediar. A ea asumira a agen, porto, nom ub sole, S8 que, nest particular, hi qualquer coisa mais. Hii um quid de diferenciagio que no pademos esquecer A tradiclo aqui nio & suficiente para explicar 28 novas ides. Houve rompimento, Houve chogue entre 4 tra- digio e a modernidade A lideia difsa © todavia densa de que a prevencio 0 melhor caminho para se conseguir um bom resultado 1a concretizagio de qualquer project (individual ou co- seu furno, como persaiento fortes de aque se dever evitar, a todo © cust, of resllados desva liosos. Todos esto ¢ estvam de acordo em que o crime Ee er.um res fo desvalioso. Seria bom que se nto ve- nfcase. Todavia, enquanto para o pensimento medieval 0 afastamento de um tl mal deveria ser conseguid através tlo-6 de uma pura ascete do modo-de ‘humano indi vidual ~ 6 homem na sua solitude deveria ter sempre a at tude interior de procurar a perfeigdo, 1 nti a pre= vengio estaria na procura da perfeigio que afisaria 0 peeado eo crime particularmente ara o pensamento iuminies © muito a Beccaria imperioso que a pre venglo se fizeste através dis caus ¢ futons do crime. A pr enio da solidio endégena con- teapunha-se a prevengio da mukidio de causas exogenas, E esta mudanga de regis, ex our letura do brocardo (mais le prevenr do que media) que faz com que 0 sen ‘ido do exdrdio que se analia ganhe o estauto de mo- dernidade. De uma modernidade que tompe tat raiga lei © pr -onceitos e subjeciva ape peo e valo- pay ragio da realidad. Em sintese: de uma modetnidade que pe o homem (sete) no centro do (multiversum que & © mundo, 7.2.2. Mas, quanto a nés, nfo se ficam por aqui as consequéncias que se retiram desta ruptura en © © progresso. Hi ainds uma afirmacio inequivoca de que a iea de intervengio e de modulagio dos compor ‘no € to forte como & primeira vista tamentos desvia pode parecer. O direito penal, como instancia formal de controlo, sem divida que condiciona e molds o com Portamento social penalmente relevante, No entanto 2 intensidade com que o faz tem que se considera como fiaca. Daf que o afstamento das condicSes exogenas da criminalidade — rectus, das condigBes crimindgenas ~ se postule como uma atitude bem mais consequente, por- quanto a errdicacio de ais condides€ seguramente um factor de diminuigio da criminalidade. O que torna fil perceber que, dentro desta ldgica, o direito penal nos surge como um instramento secundério de lita contra © crime, Por outras palavss; sem pode lutar contra o crime ~ onto-antropologicamente dieito penal nio se cle afiema-se irremediavelmente ligado 3 natureza hu ‘mana ~ mas, pardoxalmente, nio & ele a arma mais ef- car. Da mesma forma que sem remédios niio podemos I ‘macos. A panéplia da eficcia esti fora dele, Esti na contra a doenga, & evidente que a luta mais eicaz obvio, a utilizagio de fir diminuigio da pobreza e da exclusio social, Esté na afir- ‘macio da material igualdade social, Es na procura de ina medida do postive, ain Solugdes socinis que ais Justia do nosso quotidiano. Por iso, o dieeito penal nio pa) 6 ultima et extrema ratio quando cotejado com os out ‘ros ramos do direito: ele & outrossim razio vieariante na Aefinigdo ¢ encaminhamento dos comportamentos esta- ddualmente legtimos. Ao lado dele e com ele jogam ou tras instincias formais de contvolo, De certa mancira & porgue no fincionaram aqueloutras insincias que intervem o direto penal. Intervengio que, se a virmos deste lado ou desta 6ptica, nfo pode deixar de se consi- derar como de vicariato. Forma de perceber a coisas que & uma verdadeira exaltago do sentido mais puro do di reito penal e nfo qualquer redugio valorativs 04 apouca mento. Esar-se ciente do que se deve pedir 20 ditcto penal e sobretado ter, de igual jeita, consiéneia daquilo que ele pode dar & qualquer coisa que nfo & fic! ins- crever nos dados adquiridos da cigncia da legislagio Jjridico-penal. Ainda hoje se est longe de acetar, no ‘campo da efectiva e concreta politica legislativa jutidico -penal, uma tal propose, Por isso, uma desmentivel aetalidade de Beccari, 8. Vale a pena ler Beccaria hoje? Comeraremos por responder a esta pergunta ~ que constitu, ais, o mote de todo 0 presente estudo ~ dizendo que vale do 56 2 imperioso que se lea e relia Beccaia Na verdade, a forza incerrogante, a limpider na colo casio dos problemas ¢ a mestria das solugées proposas torma-o ~ como de forma paricularmente aguda, conhe- cedora ¢ chrvidente fiz 0 Prof. Giorgio Marinucei no seu belisimo ensaio que a seguir se publica, elaborado, alii, expresamente para a presente edigio, 0 que se agradece de maneira penhorada ~ “um noso contem: porinea’ Ps As obras clissicas — jutamente porque 0 sio ~ no $6 se impdem nas geragies futuras mas também — © de maneira impressva ~ exercem um fiscinio sobre os mens que, 20 longo dos electual de uma obra (© jogo complexo do facinio in aqui € agora temos tTo-s6 em conta as obras de espe~ culagdo sequéncia da sua imporicio como referéncia obrigatoria © talver uma das coisas mais difceis de explcar e de compreender. De cerca maneira a obra ata-tos nos espicara 0 espirco com o aguilhio da inteligéncia parte da ‘obra, que nos atra para a aventura sem fim do espirito, utilance. No entanto, ese impulso ~ qu necesita de um retorno, De um retorno de aderéncia 30 real, a0 real verdadeiro, De um retorno que, ques- tionando e critcando a realidade histérica, & capa d Jangar a semente da mudanga,F, pois, neste ir vir sub- til, quanas vezes imperceptivel, entre a pura especulagio 0 chio sujo da realidade, que arames ¢ fos de seda que constroem arquitectonicame io obstante a obra clisica, Tudo iso, quanto a n a divergéncia, stimulada, ais, pela propria obra relat o: "De. vamente 3 findamen 140 de alguns poncos lita” nfo $6 tém, como s4o até, em certo sentido, ume sua chr exaltagi. Elfectivamente, como nio deixar de nos espantar quando, rompendo com tudo, se advoga a dogura das penas? Com: : se questiona © préprio direito de propriedade? Como no sentir um clario de luz géida quan no nos deliciarmos perante a harmonia da proporcio naldade entre a gravidade da infaceio e a gravidade da ‘moldura penal abstacta? Como no sermos tocados pelo inteligentissimo aproveitamento da idea difsae popular dde que mais vale prevenir do que remediat? Eis, em ter- rma fulguracio descritiva, alguns timidos cexemplos da riqueza interrogante do texto de Beccaria, Por tudo ist, mas sobretude por tudo aquilo que o Ieitor auténoma, inteligente e criticamente vai des. cobrir, deve lere ¢relerse Beceatia CESARE BECCARIA, UM NOSSO CONTEMPORANEO 1 hi, do pasado, que tém, hoje, tanto me foia influéncia no moment do seu aparecimento, quanto mais el contribuiram para a difusio da cultura do seu pais: obras is quais € justo reconhecer valor istérico, “numa troca de id volos © competentes est sos" (como disse um dia Goethe falando deste género de Mais raro ~ ea 0 mais preciosa — & um outro gé nero de livros que remontam 20 passado, igualinente longinguo: obras seminais~a partic das nfo mais deixaram de comegar ta do seu autor um perene contemporineo. Dai de Beccaria que aqui se apesenta ~ pertence de modo vela ese segundo género de los. E se se fir ref te delle pene ~ 0 livrinho do marqués Cesare se © i falminante fortuna deste “livrinho” seri tio- 8 para mostrar as razbes de uma traduio ~ a prim fem lingua portuguesa ~ a cargo do Prof. Joxé de Faris Costa, sobre um texto reconstinuida com rigor flolgica, 2. Quando apareceram, em 1764, 0s Dei iveram ressoninci2 em toda a Europa e alémemar, na nascente deragdo estado-unidemse, alcangando grande pres- tigio para Itilia, sobretudo Milo (a Ecole de Milan), eleita capital do pensimento penalisico ilaminista, Poucos anos vadisimo volvides, quatro novas edigies autorizadas ‘© mimero das flsificadas)¢ sempre novas tadusdes, em ‘todas as linguas; e quando o seu autor st do anonimmato das primeiras edges italianss, tornou-se famosisimo e requerido por toda a parte. Convidado para Pars, Becea- Tia recebe © entusiistico aplauso dos melhores “philoso phes”; um convite urgente chega-Ihe também da parte de Catarina TI: queria-o na Ruisia para reformat 0 si 0 aceita 0 oneroso mas pres tema penal, e Beccatia giante convite, por se encontrar retido em Mildo pelo plenipotenciirio austrlaco Firmian: queria-o para refor- ‘mador do sistema penal éa Lombardia auetriaca; a “Pa- triotsche Gesellschaft” de Berna oferecea uma medalha '30 autor anénimo” dos Delt, obrigando Bec mostrar-sefinalmente 3 luz do sol, pata poder receb r, que confirmou o apreso dos pari~ sienses. Foram ainda precisamente os parisienses a forar 6s instrumentos do conhecimento universal da sua obra Voltaire, © patriarca por todos reverenciado, convidou virias vezes Beccatia, mas sem sucesso; flava com ad rmiragio aos mumerosos visitantes no ermo de Femney estabeleceu entusisticas wocas de opiniio na correspon déncia com os maiores autocrat iluminados do (Catarina Ilda Rsia Frederico II da Prissia)e ese ‘yeu um "Comentirio” aos Deli, que aparece no apén dice de muitas edigdes que se seguiram; também Dide- rt fer anotagdes 3 obra; e outro editor da Encyclopédie, @'Alembert, impulsionou uma tradugio em lingua fan esa, da autoria de Morellet, que apareceu em 176: «que deu asus 3 forcuna do livo: foi sobre o texto francés 2 koiné da Europa culta de 700 ~ que se baseou grande parte dis rimeiras traduges em outras linguas, per~ titindo que Beccaria “recolhesse o tributo incbriante dos aplausos da Europa’ Esta lkima medalha, of ida Becearia pela pé ‘ria das Luzes, apresentava um reverso desagradive © tradutor Morelet tinha remexido todo o texto dos elit, “deslocando e remendando parigratose capitlos inteios, omitindo trechos, imerindo outros de seu pu. atho, impondo a matéria ‘uma ordem arbitriria total. Uma ordem nova que no se limitou 4 Franga e as tadugdes feitas a partir do texto francés, fol adoptada mesmo em Itiia numa edigio de 1774, que representou a base de grande parte das sucesivas tray 8c do italiano ~ como as cinco edigSes em portugués. -brasileiro sungidas entre 1937 ¢ 1954 Finalmente, em 1958, a “vulgsta” dos Debiticons- truila sobre 0 modelo francés € suplantada pelo res ‘abelecimento da edito prineps, a “quinta” de 1766. a ‘ltima preparada pessoalmente por Beccaria, Um autén tico evento cultural saudado mesmo fora de Ida, que ‘stimulow novas tradugdes, ¢ culminow com o inicio da Publicasio da edigdo nacional das obras de Cesare Bec ‘aria, “Numa troca de ideiss entre benévoles ¢ com. Petentes estudiosox", armados de acribologia floldgica, Pode assim reconstruir-se a génese dos Deliti (desde 4 primeira & quinta redac¢io) afugentando, de uina vez or todas, of rumores sobre a verdadeita paternidade a obra: 2 Cesare Beccaria foi defnitivamente restituido by “a que € de César conteadas ~ excita p {quado da extrsordiniriaadmiragio que Ihe foi manifes- publicagio de todas as cates en ‘ou para Beccaria ~ completou ‘ada pels des intlectusis de todas as partes da Europa 3. Foi sobre a edito preps de 1766 que também © Prof. José de Faria Costa conduziu, com grande mes- ria, a primeira tridugio dos Deliti em lingoa po guess, A sua mestria nfo Ihe permitiria evita os escolhos aqu ddator — em que o texto les pasos ~ uma auténtica cruz para qualquer tra- ‘obscuro e, na maioria dot casos, intencionalmente obscura, devido a0 confessado temor de Beccaria de softer perseguigdes por parte dat autoridades civis ou ecesstica: “ao escrever as minhas cobras” ~ confesava abertamente 2 Morellet ~ “tive diane dos meus olhios Galileu, Maquiavel e Gianone as cadeias da superstigio e os urls do fana- midos da verdade, Isto determi ow-me © forrou-me a ser obscuro e 4 eavelver em sacudizem-s sograda neblina a luz da verdade”, Em todo o resto, ¢& quate ido, a tradugio de Faria (Costa faz resaltar em pleno os conhecidos ¢ tio louva- ddos méritos formas dos Delt “obra genial, elegante na forma, sugestiva na linguagem, desenvolta e agradivel na sionante na sua efcicia" exposigio, convincente e impr: (© que, acima de tudo, a expléndida tradugio de sl Faria Costa fark esaltar ~ nfo menos 20 homem turs quanto 20 penalisa de profsio ~ seria inexaurivel fecundidade dos Deliti; aquele seu assinalado caticter de ‘obra seminal, que sempre deu origem, desde hi mais de dois séculos, 2 novos comegos de debate sobre o dificil « terrivel “direito de punie”. Um destino que Beccaria a) — a bem ver ~ sinha como que presagiado, 20 excolher -omo divisa da sua obra um passo de Bacon em que diz. 1 A leitura pessoal do texto permitcé que se colha toda 4 sua riqueza, t ratando-se aqui de uma apresen: tapio, poderio apenas assnalar-se alguns contributos = mais ou menos conhecidos ~ que confe presenga a Beccaria © 4 sua obra; ponto de constante, para seguidares ¢ adversitios. Se se fla de torts € pone de mor imedlato o nome do marqués de Mio, Foi que a cvocase de ura veio 2 ser oficialmente abolida em finas de 700; a sua cruel revivescéncia ne clo, em t 1 hug '5, prsperou inconfesads oficialmente inexistente, Do ‘mesmo modo “a luta pela aboligio da pena de morte” ~ como sublinhou um jurist alemio em 1952, anaiando dois culos de debates no mundo int ‘mente ligada 20 nome do juris italiano Cesare Beccaria ‘uma lutapor ele cravada quase solado entre os prpios iti minis (ndo deivon de o notr,esarninho, o legisador sta); que o v8 sempre inspiracor ideal dos abo cionsts vtoriosos ~ no séc. XVIIL em poucos lugares «© por pouco tempo; no séc. XIX em poucos outros pl neste século em outros paises (na Inglatern 56 em 65, na 3} Franga verdadeiramente em 1981: quio verdade & que as coins difceis gradualmente amadurecem). Uma lita que, em todo o cata, Beccaria continuow 2 conduzir ‘mesmo no final da sua vida, langando outs sementes: tno decorrer dos trabalhos para a reforma do cédigo penal din austraca, enriqueceu com umm posterior ena de morte: 4s da Lom argumento a lut contro recurso 3 abilidade” perante a “inevitivel imperteigio das ‘rep provas humanss” 0 agpenentoracional mais utizado pelos abolicionisas de hoje 2, Srularizasio © tor liberal do dircito penal mo- deve esta dupla viragem da demo: & a Beccaria que Epoca. Ele exreveu umas poucas ses fulminantes, que ddeixaram marca ‘Cae as tedlogseabelecer ox Ets do jst bondide insect do ato exabelecer lage oto © do do que pa 20 pues” (A quer)". 2 dna evet= fideta medida do diler € 0 dino camo & ago, e por ino earn aguls que aed dhs lito ede dnd (I, Com um golpe cereio, Beccaia corava asim “o nd {que de i milénios se haviaformado, unindo com mil fos pecado e ‘ocupase também dos fo dever de waar 0 dano que ain sado 20 individuo ¢ & sociedade": “o diteto penal fcava elito, crime e culpa. Que a Igreja, se quisesse, se eeados. Apenas ao Estado competia esarulizado”, Tomnou-se deste modo compreensivel ‘a inclusio dos Delia no “Index dos lvtos proibidos” dec clda pela Sagrada Congregacio do Index jé a 3 de Fe io de 1766, mantida em vigor durante dois séculos ¢ terminada... com a supres (Conelio Vaticano IL ‘ranserindo 0 acento daquilo que pode merecer 0 io do “Index” por parte do rom de delito, de “intengi0" para “dan da catia apresentava final a“ ide", Bec ida" primordial — "a Ginia € verdadeira medida” ~ de um dizeto penal liberal: nio mais tum instrumento 2 utlizar para tevistar e penetrar fora no “foro intima”, mas, anes de tudo, unt inst mento de tutela a paz “exterior”, da integridade dos bers individuals e colectivos. Dalito pode ser apenas uma age cextema sovialmote danse: “dolo”, ‘culpa grave” © “culpa ligeira” determinariam, unicamente, 0 grit da pena a as- sociar 8 acgio social Repet no “preficio” a uma tradugio dos Delt ‘Une es is ie: Jem der it den fig ie Hs ie sr kines adh [gmasor Wen, gay serene © ensinamento de Beccaria (0 seu nome resioaré ruitas vezes nos trabalhos da Asembleia Constituinte francesa) viré depois tasvasado no celebérrimo principio enunciado no art. 5.° da “Declargio dos Ditcitos do Homem e do Cidadio” de 1779; a Tok ws le drat de dene que der (35) a desta viragem duplamente ‘genial dietance” ~ A consagragio cient decisiva té-la-d, depois, Beccaria do fundador da ciéncia penalistica moderna, nio apenas alemi - Anselm Feuerbach. Intitulou-o iniciador da oltica criminal”, digno de “um lugar de honta por ter Aespertado o interesse pelo dieito penal gerl” e,sobte tudo, por ter apontado 0 “verdadeiro principio da legis- lacio penal das wae rip nf dev eigen ihe Mas die Se dy durch da Vereen begs a. Der dare de degen Got th de Acrescentava Feuerbach, respondendo a alguns er Becearia esreve, no para ‘A escola encontrou, de no seu magistral Marital — ticos pedantes e desatentos la, mas para. o Mundo’ resto, no préprio Feuerbach © disor e © codificador do ensinamento de Beccaria sobre a “verdadeira medida” dos delitos: relive neces Foram is legides, em toda a Europa, os guardifes do ‘eor liberal do direto penal, elineado por Becearia& luz da razdo, Mas ver o tempo da “destruigio da razio ‘mesmo no pais de Feuerbach: e rebentou a luta contra Tradusiv-se eta, entre outs coi fo direito penal liberal s2s, ma palavna de ordem:“dircito penal da vontade”, ou aa Seja, tal como tinha visto e abominado cara: “punir primeir... punir a vontade dos homens ¢ no as ac¢des" Ox, 4 uma vontade deituosa crsalizada em uma acgl0 cx. tera, danost:viso inata do Estado liberal, que seribuia 20 direio penal o papel de “magna carta liberais" gran Para punir, no devia, de ficto,atender se sno ‘ia das liberdades de todos e cada um dos homens perante as arbitrrias invasGesalheias~ as do Estado eas dos outros homens. O “novo Estado", projectado cialismo, devia pelo contitio clevat 0 proprio Estado a valor supremo, © defendé-lo com as armas do ditcto penal © para reforgar a sua defesa, devia fazer recur 2 0 nacional-so- imha defersiva, © mais posive, atingindo jé a "vontade anci-estatal de qualquer modo provida ~ sem dever extat 4 espera de coisa alguma: “um direto penal ideal da pro- tec¢io deveria pér completamente de parte os resuleados fe adoptar como medida apenas as encrpias ant-sociais a vontade” Batida a Alemanka nazi restabelecidas as iberdades na nova Alemanhsa, permaneceram vivos e vitais muitos cxporos do pasado recente. Sob outras bandeira ~ com 2 pretensio de dar forma a um novo eéigo penal ~ nos anos 50 procurou impor-se uma vido eticizante do di. reito penal, que relegava para segundo plano “o dano A sociedade” ~ a ofensa aos bens juridicos =, dando 0 pri- miro lugar 3 “intengio" ¢ a0 “comportamento social ‘mente ant-ético”. A’ vaga iiberal é momentaneamente bloqueads nos finas dos anos 60. Travou-se, e vencea- ~*e em parte, uma batalha por um ditito penal “liber, ‘nio moralizante" irmado na tutela da paz exterior ~ dos ‘bens juridicos”: tal como tinka delineado Beccaria, citdo através de Hommel, o editor da “Imortal obra do Marqués Cesare Beccaria Dos debts e das penas”. © jogo, hoje, de novo se abr, e o éxito dependers do que prevale- ‘cet 1 Jura de sempre entre defersores de uma “Alemanha ‘europeia” e nostilgicos de uma “Europa alema: entre he ditos © adversrios do commopoltsmo iuminista, inca nado simolcamente, na esera penal, em Care Beceara ue toda a pons ou de muites contra um cidedio particular, deve ser esenil- mente pia, prmta, necssra, a mais pequena pose na innstncia dada, propordonal aos dls, fixada pels lei (XLVID)." Nesa fase conclusiva dos Detiti Beccaria com: pendiow o seu “grandioso programa de politica criminal’ 2 verdadcira visio dos limites do “ireto de punie”, desen rolvida nos seus detalhes a0 longo de todo 0 texto, € que aqui — para colher as sementes de que nasceram grandes fruros — pode ser esborada em jeito de ripido esqusso. 3.1. Nevsidade da pena, Escreve Beccaria: Tote pens gut no die de shots nea o grande Moneagiew~# tii.” Cmbors as ens prod um ben, cla nem tense wne int dl nto pode sr tlerada plo legdador que quer fecha tod 6 poras 3 slant.” OO De forma sintética,repetiri 0 artigo 8.° da “Decks ragio dos Direitos da Homem ¢ do Cidadio”: bs) (© grande criminalita moderno, Franz ¥, Liset, de~ Jarado admirador do pensamento penaistico iluminista, repetiré depois (© mesmo se di, hoje, por toda a pat mula: “a pena deve ser a exirema mito”. Por outro lado, quando hoje se censura, onde quer que sj, a vga atmfa do dito penal contempor dade” dis penas corolitio do principio-guia di “nec © pri um sem nimero de aces indie cet, mat € um tat nove dele.” EXLD Todos enfim conhecem e repetem o principio que Beccaria hava retirado de Montesquicw: “Mais wle re os” (XL: um trabalho efcar de venir oe deltas que pun A pena. Beccaria torma-se conhecido 20 desenvolver a saboros fase de Montesquieu (0 que foge 3 fomma men tis, gui como em qualquer outra lado, do filiogo ou do invesigador dos actos p jas de uma efcaz pr tes), mostrando as muitas gio, Desde a simples questio da cranguilidade publiea ("a note iluminada& custa das des- pesas piblicas, a poicia distribuida pelos diversos quar- teirdes” (XD; nio patece estar a ouvir-s 0 prog: um candidato a presidente da Cimars, de 19982), a grande e excaldante questio do direito penal das empre sas, que vé quase todos reclamarem gestdestnanspare para impedir a comisio de ilcitos, ¢ poder assim resti- (9 tui a intervengio do direito penal o seu natural papel de médio extremo, Po piradas na miima tansparénci, tardam a chegar, e asim cou, uma vez mais, 0 ensinamento de Beccaria, desen leis eficazes de reforma do governo soca, i= volto © grande economist, cujo pensamento econémica se manifistou primeiro que o poliica-criminal si imped ie fe ea Ube oF cont de todoro® cide 32. Ds i promtidioe propo das penas as owe sensi” que devem "vir & mente” pa ontrabalangar” as “paintes” dos potenciz quais brlha 2 aclamada genialidade de Beccaria politico-criminal: 0 seu deter- minante contributo para a racionalizagio dos sistemas panitivos para a fundamentagio cientifca da sua Fungo de prevengio gers Enunciados com impressividade aforistica, eis al- pom gee ma oe de conte ol aioe, ve a na formulagio moderna da fungdo geral pre- tor familiarizado com o direto penal, ao le nto deve Feuerbach confirmado 4 a Be ventiva das penis: as penas como “motivo ispensiveis “para disuadit” os potenciais “infactores das eis” — “que perter sends e log mente para contubelange" as suas “paixdes”. Ese leitor veri ainda como o critério ds “proporgio” entre pena € delto a expressio, nfo de um equilirio retributivo entre “alum passonie" e “malum actions”, mas antes a estreita ligagfo com a fangdo geral preventiva da pena tomo fio 20 terrorismo sancionatério: “para pena obtenha o seu efeto bata que o mal exeda o bem 9 nase do deo, Tad 0 mi € supa etnies". Qualquer outro Ieitor nota, enim, o maior sucesso aleangado por Beccaria na luta contra a brutalidade das pens, tecend © clogio da “dogura das penas", mais eficazes do. que penas severas se aplicadas “de forma infalivel Artfces esse sceso ideal foram sobretudo iustres ingleses seus admiradores, Em 1765, Blackston escreveu: Em 800, Romilly e J. Mill repetirio taney, very ight penaly would be sufi revert amest every pecs of rime” Rona If all purishnene were cnn and immediate fore prevention”. Mil fo das pena bras” © “ua grande verdad cis impressionante inflncia, eas grandes sementes de erdade cientifica, oriundas daguelasgeniais reflexdes de Becearia. Sio méritos, histricos e poltico-criminas, ue lhe sio reconhecidos por Andenaes, o grande est dioso noruegués que, pela vez primeira, na segunda me tade deste seul, calocou finalmente com os pés assentes na terra o debate sobre a faneio geral preventiva ds pens, transferindo-o do cfu dis “teorias da pena” para terreno cientitico do controlo factual, empirico, da ef- cicia dissuasiva,separado separivel dos sistemas puni- tivos. Escrevew Andenaes ‘Dede o tempo de Bec onmbut, sem dvi, de modo agpicive rs ete ds pnts ea el cere tent comida wm pnd ds de ved Em qualg parte do hodiemo mundo civilizado (0 pensamento vos até 20 ides de Beccaria parcce ho fieivel impulso conirio 0 endlurecimento represiv, Esti USA) a forga propulsiva das se, talvez, & confirmat o que o proprio Beccaria tinh sublinhado com lieido realismo: Endurec deveria ser 0 “povo recém-snido do estado selvagem”, enguanto nde eresce a sensibilidade”, © onde a almas nento represivo part almas endurecidas inte privlégio, segundo Beccara, “sociedades se aplacam, “deve reduri-te a forga da pena”. O que agora esta acontecer, por todo o lado, & 0 regresio a um “estado selvagem” em roupagem moderna e tecnologicx: aria com encantador exagero me conde ~ como diz Bes taforico otro da preciso 0 raio” (XLVID! 4, Nullum crimen, nulla poena sine lege striae et, Neste atinério moderno, que ornamenta a frmula mais cura do latindrio setecentista, forjada por Feuer- bach (‘nullum crimen, nulla poena sine lege"), compen: ddis-se 0 ensinamento claro de Beccaria, escrito sobre ‘© portal da casa que abriga o direito penal liberal ~s leis dlarase press podem prever delitos © penas ents 08 deltor © ee pode #6 20 pode peneacer, cle que mproents to 4 date. 1 oda lio); “Faz com que af seam day, sin CXL; “Quad wag de lf anes dou dado sa dpi o adios gl pangs de sm © pupel do ui &apena o de “ear se un 35 les, farndo “um slogsmo pero: pre mis aor deve setae eel 4 menor 32670 onforne ou a0 leis cola» Hbenade oo a pena OV ‘Quand 0 jr € cron fo css As leis devem sone lena "io esa ‘ais perio do gue ale ima comm gue bigs 3 ala pin da. ama rch a Tome de opine emote «ee de am 1 fia dal.” IV) Da leitura destes pasos mio se teria podido argu- mentar, como por wezes pret ga para Beccaria como para Montesquieu, proeminente seria © papel do juiz-intérprete: verdadeira fonte de ciladas 3 seguranga dos cidadios. Para neu tmlizar impe-se que se comportem ~ dizia Montesquieu ~ como “um se inanimado", munido apenas de uma do pensamento de Beccaria, qu noca” “para pronunciar a palivras da le i da quilo que, na esera penal, representa o ponto de partida de toda & reflexio de Bes inde original moderniade Baa lie ndo a sua interpretagio, que Beccaria ace Toda a sabedoria desta vugata esti na i aria e, 2 um tempo, a sa tua, J quando faz resiir “apenas na lei" a fonte “dos Gelitos © das penas”, visto que a lei promana do “legie- lador, que representa toda a sociedad”; nullum crimen, ilador que ppensa Beccaria quando se preocupa com a eguranca dos cidadios: “fazei con ‘ obscuridade da nulla poena sine lee, E sempre na lei e no ‘que as Tes sejam claas”, porque ria “incertezs” — “o mais cruel der de eso: sujeitando assim 08 cidadios “is tiranias de muitos”: nulla crimen, nalla poen = “um cédigo fixo de les" — transpor “a letra”: os posses sigifcads tems da lei como dow 26 ‘como a8 penas pecuniiias tomam 0 mimero dos re superior ao niimero dos det tram o po aos inocentes pata o podercm tirar aos celerados, a pena mais oportuna seri aguela espécieGnica de jst, ito 6, a eseravidio temporiria do trabalho e da per vido que se pode die soa 4 sociedad, para a indemnizar com a prépria ¢ total dependéncia, do injusto despotimo com que violow pacto social, Mas quando 20 furto for asioiada a vilén cia, a pena deverh ser de igual modo corporal e servi. Alguns escrtores que me precederam demonstra desordem evidente que nasce de se nio distinguiern as ppenas dos furtos acompanhadios de violéncia das dos fir- tos dolosos, estabelecendo uma absurda equagio entre ‘uma grande quanti de dinheito e a vida de um homem: ‘mus nio é nunca supéruo repetir 0 que quate nunca foi posto em pritica. As miquinas politicss conservam, mais do que todas as outras, 0 impalto com que foram concebi- das, esio 2s mais lenta a alcangar um outro, So delitos de diferente natureza, e & acertadisimo, mesmo na politica, aquele axioma da matematica, segundo o qual entre quan tidades hoterogéness hi o ininito a separ. XXIII, INFAMIA As injrias pestais © contrrias 3 honra, ow sea, iquela just parcela de sufrigio que um cidadio tem o di- reito de exigi a outro, devem ser punidas com a infimia, Infimia esa que é um sinal da pablica dessprovagio que priva © réu dos votos piiblicos, da confianga da pitria fe daguela espécie de Gaternidade que a sociedade inspira. Ela no esti 20 arbitrio dali. Urge, pois, que a infimia que inflige a lei seja a mesma que resulta das relagdes entre as coiss, 2 mesma que a moral univer, og a moral pat cular, dependente dos sistemas particulates, legisladores das ‘opiniées pablicase da nagio que inspram. Se uma dfer dda outra, ou a lei perde a piblica veneragdo ou desipa- recemas ideias da morale da probidade, para vezgonha dos ddscursos que ndo resistem nunca aos exemplos. Aqucle es die minui a infimia das acgies que 0 sio verdadeiramente As penas de infimia ndo devem nem ser demasiado fe que declarainfimes ac;Ses por si mesmasindife {108} quentes nem punir de uma s6 vee um clevado miimero de pessoas: no primiro caso, porque os efeitos reais e dema~ Sado fiequentes das questbes de opiniio enfaquecem 2 forga da propria opinifo; no segundo, porque a infimia dde muitos resolve-se na infimia de nenbun ‘As penas corporis ¢ dolorosis nio devem dar-se Jqucles delitos que, baseados no orgulho, tram da propria dor gloria alimento; a eses convém 0 ridiculo e ain mia, penss que reffeiam o orgulho dos faniticos com o desdém dos espectadores, de cuj tenacidade apenas com lentos e obstimidos esforgos 2 propria verdade se liber ‘Assim, opondo a forca 4 forga, ¢ a opiniio 3 opinii, 0 sibio legislador destrua a admiragio ea surpresa do powo causada por um falso principio, cujas consequéncias bem Adeduzidas habitualmente velam ao vulgo © otiginirio absurdo, Bis a mancira de no confundie as relapBes ¢ 4 natu das coisas, que, no sendo limitda pelo tempo e agindo incessantemente, confunde e disolve to- dela se afistam. Nao dos of regulamentos limitados qt so s6 as artes do gosto e do prazer que tém por principio universal 2 imitago fel da natureza, mas propria politica, pelo menos a verdadein ¢ 2 duradour, esti sujeita a esta ‘maxima geral, pois que ela no € outra cosa senio 2 arte de melhor dirgir e tornar concordant os sentimentos imutiveis dos homens XXIV, OCIOSOS Aquele que perturba a tranquilidade publica, aquele _que no obedece i leis, sta &, ie condigdes com 36 quae [109) os homens mutuamente se siportam e se defendem, esse deve ser excluido da sociedade, a saber, deve ser band. Esta € a rao pela qual os governos sibios milo suportam no seio do trabalho e da indistria, aquela espécie de 6cio politico confundido pelos austere declamadores com samuladas pela indistra, Scio neces (0 écio das riqueaas sirio e Gul A medida que a sociedade se dita ¢ a admi- nistragio se restringe. Chamo cio poliice aquele que no contribu para a sociedade nem com o trabalho nem com 8 riqueza, que adquire em jamais perder; que, venerado pelo vulgo com estipida admiragio, olhado pelo sibio ‘cam desdenhoss compaixio pelos sere que so sus vi ‘mas, que, privado daguele esimulo da vida activa que é a necesidade de conservar ou de aumentar o bem-esta, deina is paints de opiniio, que nio so 38 menos fortes, toda a sua ener 0 frutos dos vicios ou das virus das seus antepasados, io é ocioso polticamente quem gozt fe vende a roco de actusisprazeres 0 pio © a existéncia 1 laboriosa pobreza, que exerce em paz a ticita guerra da indéstria com a opuléncia em ver ds incerta e sangeenta serra com a forva.E, virtude de alguns censores, mas a leis, que devem define or iso, no & a austerae Timitada qual o écio merecedor de puniglo. Pa e que a expulsio deveria ser aplicada igucles de um delit atroz, tém grande probabil dade, mas nio a certeza, de serem os verdadeiros culpados mas para iso € necessrio um etaruto 0 menos abitirio «© 0 mais precio possivel, que condene i expulo aquele natva ou de temé-lo que colocou a nagio na terrvel alt nde, deixando-Ihe, no entanto, o sagrado di ou de 0 0 Maiores deveriam ser os to de provar asta inocénca, ‘motivos contra um nacional do que conta um estangeto, contra um acusado pela primeira vez do que contra quem XXV. EXPULSAO E CONFISCO Mas quem & banido e excludo para sempre da socie~ cade de que fazia parte, dever ser privado dos seus bens? Uma tal questio & susceptivel de diferentes andes A perda dos bens é uma pena maior do que a de expulsio: hhavers alguns casos em que, proporcionalmente 20s deli~ tos, aconteca a perda de todos ou parte dos bens, e alguns casos em que isso no acontega. A perda de todos os bens seri quando a expulsio imposta pela lei for tal que anule todas as relagSes entre 2 sociedade e um cidadio delin- quente; entio morse o cidadio e fica o homem:e, respeito 20 corpo politico, eh deve produzir © mesmo feito que a morte natural. Pareceria, poi, que os bens extorquidos ao réu deveriam caber aos legiimos sucesores mais do que a0 principe, pois que a morte e uma tal expulo valem © mesmo em relagio ao corpo politica Mas ndo & por esta subtileza que ouso desaprovar a confis- 0 dos bens. Se alguns sustentaram que a confiseagdes tém sido um fieio as vingangas © & prepoténcias part cculares, nfo pensam que, embora a penas produzam un nem sempre siojustss, porque, par aso, dever ser necesirias, © uma injustiga Gul ndo pode ser tolerada bem, pelo legilador que quer fechar todas as ports & vigilante tirania que Hsonjeia com o bem pastageiro © com a feli- cidade de alguns lustres, desprezando o exterminio futuro at ligrimas de tantor que @ nio sio, As confiscapées em a preso a cabera dos fracos, fazer soffer aos ino- nny centes a pena do réu,e pem os préprios inocentes na de- sesperads necessidade de cometer os delitos. Que espec- ‘culo mais erie do que uma familia arrstada a infimia ¢ na miséria pelos deltos de um chefe, i qual a submissio imposta pela leis impedirin de cexisissem os meios para o fizer! reveni-os, mesmo que XXVI, DO ESPIRITO DE FAMILIA foram aprovadss até pelos homens mais ihuminados epraticadas pela replicas rma lives, por teem considerado a sociedade mais como suas funestas e lca injustig tama tniio de familias do que como uma uniio de ho- mens. Haja cem mil homens, ou seja, vinte mil familias, .da uma das quais se compe de cinco pesoas,incluindo o chefe de familia que por falas, serio vinte mil homens eoitenta mil exeravos; Se a associagio & de homens, serio cem mil cidadios ¢ rnenhum escrava, No primeito caso haveri uma repablica, « vinte mil pequenas monarquias que a compen; no se- gundo cxto, 0 espirito republicano nio x6 soprari. nas pragas plicas e nas astembleis da nagio, mas também not lates, onde reside grande part da felicidad ou da mi séria dos homens. No primeira caso, como a les © 08 tames so 0 efito dos sentimentos habitais dos membrot da repblia, ou sea, dos chefes de fami, 0 expitito mo- rirquico introduzie-se-4 a pouco e poco na propria replblica; ¢ 05 seus efeitos serio reeados apenas pelos itereses opostos de cada um, mas nfo jf por um sent ‘mento que respira liberdade ¢ igualdade, O expiito de familia € um espirito de detalhe e que se limita a peque- rey nas coins. © espirto que regula as replicas, padrio dos Principios gerais, vé os fictos e condensi-os nas clases principais € mais importantes para o bem da maioria, Na repablica de familias os filhos mantém-se em poder do chef 2 esperar da sua morte uma existéncia dependente apenas das leis. Habituados a curvar-se e a temer na idade mais familia, enquanto ele vive, ¢ Go constrangidos verde © vigoros, quando os sentimentor nio sio ainda alterados por aquele temor que di a experiéncia, a que se chama moderagio, como resist eles 20s obsticalos que © vicio sempre opde a virtude, na frouxa e cadente idade fem que até 0 desespero de nio ver os seus frutos se ope ie radicais mudangas? Quando a repiblica 6 de homens, na familia nio existe uma subordinagio por constrangimento, mas por acordo, € 0s fis, quando a idade os liberta da depen- déncia natural, que & 2 idade da fraqueza e da necesidade de educagio ¢ de def, tornam-se livres membros da ci dade esubmetem-se a0 chefe de fans, para parlharem as suas vantagens, como os homens lives na grande so- ciedide. No primero exso 0 flhos, isto &, a maior pi a mas itil da nagio, io entregues discrigio dos pais; ro segundo nio subiste outro lago imposto senio aq lago sagradoe inviolivel que & a obrigacio de se prestarem reciprocamente auxdio, ¢ 0 da gratidio pelos beneficios recebidos, 0 qual nfo & to facikmente destruide pela mal cade do coragio humano quanto por sma ml-entendida sujeigio importa pela le Estas contraigdes entre as eis da fini € as leis fan laments da repibica so uma fecunda nascente de ou- tas contadigSes entre a moral fails © a piblca, ¢ dif due dem origem 2 um perpétvo confito no espirito de 13) cada um, A primeita inspira sucigio ¢ temor; a segunda, coragem ¢ liberdade; aquela ensina a restringir a benef céncia a um pequeno nimero de pessoas, sem escolha livre; esta ensina a torni-a extersiva a todas as classes de homens; aquela comanda um contin 1 chara bons de familia, que proprio a um idolo vio, qu mutas vezes nfo é o bem de quem a compde; esta ensina a servi os seus proprios interesses sem ofender as leis, ou incita a imola-se & pitria com 0 prémio do entusasmo {que precede a acco. Tis contadgBes fazem com que os homens desdenhem seguir a viruade que eles acham com plicada e confisa, ¢ naguela distincia que nasce ds obs ‘cidade dos abjectos, tanto fisicos como moras. Quantas vezes um homem, voleando-se para 0s seus actos pasados, fica atnito a0 descobrir a saa desonestidade! A medida ‘gue a sociedade se maliplic, cada membro se torna uma ‘mais pequena parte do toda, e o sentimento republicano climinsi proporcionalmente, se nio for preocupagio das leis 0 reforci-lo. As sociedades tim, como 0 corpo hu= mano, os seus limites determinados; se crescerem para cessariamente pertur- buada, Parece que a massa de um Estado deve estar na aio aversa da sensiildace dos que o compéem; de outra forma, crescendo uma ea outr, 2s boxs leis encontrariam ra prevengio dos deitos um obsticulo no préprio bem (que produsiram, Uma repablica demasiado vasta nio se salva do despotismo a nia ser subdividindo-se e unindo-se repiiblicasfedemis, Mas como conseguit isto? Sragas a um ditador despético que tenha a coragem de Sila tanto génio para construie quanto ele teve para der- tmuit. Se este homem for ambicioso, espero a gloria de todos os séculor se for filésofo, as béngios dos seus conc un adios consoli-o-io da perda da autoridade, se aexo ele no se tornon indifeente 3 sua grat, A medida que os senimentos que nos unem i nagio enffaquecem, refor- pelos abjectos que nor rodeiam, assim, s0b o despotismo mas forte, as amizades so mais dardo a8 virtudes da familia, sempre mediocres, sio as mais comuns ou mesmo as Gnicas, Daf que cada um poss ver quanto foram Kimitadas a vista da maior parte os legisladores, XXVIL. SUAVIDADE DAS PENAS Mus © curso dos meus pensimentos transportou-me para além do meu assunto, a cujo esclrecimento devo apresar-me. Um dos maiores ficios dos delitos nio & crucldade das penss, mas a sua infalbilidade, © po gierados, © a severidade de um juizinexorivel que, para ser uma virtude iti, deve set companhada de uma suave legislagdo, A certeza de um castigo, se bem qu impresio do que © temor de um outro mais terrvel, moderado, causari sempre uma maior unido com a esperanca da impunidade; porque os males, smo 08 minimos, quando so pre os espiritos humanos, ea esperanga,ddiva celeste, que fequentemente é rudo para nés, afisa sempre aideia de nales maiores, acima de tudo quando a impunidade, que a avareza e a faqueza no rato pBem de acordo, aumenta a sua forca, A propia atocidade da pena far com que se anseie tanto mais por eviti-a, quanto maior & 0 mal 20 encontro do qual x vai; faz Com que se cometam mais delts, para se fgie da pena de um s6. Os paises e ot tem- m5 pos dos mais atrozes suplicios foram sempre os das mais sangrentas ¢ desumanas aceSes, pois que 0 epirito de fe- rocidade que guiava 2 mio do legislador era 0 mesmo que regia a mio do parricida ea do scitio, Do ato do trono, le ditava leis de ferxo a espiritos atrozes de escravos, que obedeciam. Na obscuridade, estimulava a imolar os anos para eriar outros A medida que os suplicios se tornam mais crag as alas humanas ~ que, tal como os lguides, se colocam. sempre 20 nivel dos objectos que os rodeiam ~ endare ‘cem, ¢ a forga sempre viva das paixdes faz com q sados cem anos de cruéis supicios, aroda apavore tanto ‘quanto antes a prsio. Para que uma pena tenha efeto, busta que o mal, ascido da pena, exceda o bem que nace do delto, ¢ € nese excedente de mal que deve ser eal- culada a inflibilidade da pena ¢ a perda do bem que 0 delito produziria. Tudo © que é demas é, portant, supér- luo, e por iso tirinico. Os homens regulam-se pela 2c¢H0 repetda dos males que conhecem, e nio por aqueles que ignoram. Imaginem-se duas mages, numa dis quais, na ‘scala das penas correspondente 3 escila dos dlitos, a pena maior seja a escravidio perpétua, ¢ na outa, a rod. Eu digo que a primeira temeri tanto sua pena maior quanto 4 segunda; © se houvese uma razio de cranserir para a primeira as penas maiores da segunda, a mesma 230 serviria para acrescer as penas desta dlkima, passando in- sensivelmente da roda para ot tormentos mais lentos € mais estudados, até 20s timos requintes da ciéncia por demas conhecids dos tranos, Duss outras consequéncasfanesta derivam da crue dade das penis, conteiias 20 sew proprio fim de prevenir 6s delitos. A primeira & que nio é tio fil conservar a lig) proporcio essencial entre o delito © a pena, porgue, em bora uma engenhosa crucldade tenba feito variar mut simo a8 expécies, a8 penas no entanto nio podem ir além esta iia forga pela qual est imitada a organizagio © a sensiblidade humana. Uma ver chegados a este ponto ex ‘remo, nio se encontraria para os delitos mais perigosos © nas atrozes pena mais pesada correspondent, como seria que a propria impunidade nasce da atrocidade dos suplicios, Or necessiro para os prevenit. A outra consequéncia homens sio fechados dentro de certos limites, tanto no bbem como no mal, um especticulo demasiado aro para a humanidade nio pode ser senio um passageiro furor, mas nunca um sistema constante, como dever ser asleis; é que se verdadeiramente So crus, ose alteram, ou a imps nidade nascefatalmente das proprias leis, (Quem, ao ler a histia, nio se arrepia horrorizado com 0s birbaros e initeis tormentos que homens, que se dlziam sibios,fiamente inventaram e puseram em priica? ‘Quem pode nio sentir-se estremecer no mais fando da sua sensibilidade, a0 ver milhares de inféizes, que a miséria, desejada ow tolerada pels leis, que sempre favoreceram poucos¢ ultrajaram muitos, arastou para um desesperado jorno 20 estado de natureza primitivo, ou que, acusados

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