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EDITORA VOZES LT°* PETROPOLIS - ou IMITACAO DO SAGRADO CORACAO DE JESUS EM QUATRO PARTES PELO P, PEDRO ARNOUDT S. J. it “ ar Jes. 1941 °c EDITORA VOZES Lrpa. nuit pETROPOLIS — EST. DO RIO count avec, Po a, oypage \ e ! DUAS PALAVRAS DE APRESENTAGAQ_ |A presente obra é fruto duma promessa. © autor, nascido aos 17 de maio de 1811, em Moere, na Bélgiea, acabando o curso ginasial, as- sociou-se & Companhia de Jesus, com o int de seguir para as misses da Ordem na Améric Enviado as missies de Missouri, na Amériea do Norte, ali termino com brilho os estudos e rece- ‘eu a ordem sacerdotal, distinguindo-se por sélida piedade © mormente por uma terna devocio a0 sagrado Coracdo de Jesus, Adoecendo gravemente pouco depois, fez a promessa de “divulgar com mais fervor a devogdo do sagrado Coragio de Je- sus”, caso Deus foste servido conceder-he a sau de. Reeuperou a saude e no decurso de poucos anos terminou, em latim fluente, este belissimo tratado “De Imitatione Saeri Cordis Jesu libri quatuor” aqui, em coléquios intimos, 0 sagrado Coracio de Jesus ensina a trilhar seguramente-e sem tropeco, ‘0 caminho da perfeiedio ou vida interior. E’ ge- nuinamente um curso completo de santidade. Praza a Deus que as almas piedosas e militan- tes na Agdo Catdlica obtenham aqui, junto 20 sa grado Coracio de Jesus, o verdadeiro sentido da ‘vida — unio com Deus — em eontraposigio as ‘méximas mundanas de crescente apego a0 pro- igresso material. 340 Editora VOZES Ltda. Petrépolis, 4-10-1940 PROLOGO © alto especial dos erlstios para com 0 sugrado Co- ragho de Jesus € de todas aa devosSes a mais antiga. ‘Rmtes que houvesse 08 rantot Saeramentos e outros ob- Jetoe de devocio, Jé a bemaventareda Virgem Maria Nemerava 0” ulelssimo Coragio de Jens, slo. Joos 0 estreltava nos bragos; os pastores e os Mages, Simeio 2 ‘ana os apéstolos © diteipulos, a ele c por ele stra Gog, prestavamlhe homenagens de amor. A devogio 20 {ivino Coracio, parm, tomou extraordindrio ineremen- fo, depois que fesus, chamendo todos os homens a spren- fer dele, que & "manso e bunilde de coraeio”, extratu Go tesouro do seu Coracio o dom excelente da sagrada ‘Bucaratia ¢ quis, finalmente, que ease Coragio, aberto ra Cruz, a todos Scasse patente como aslo. Esta devo- {6 espeedal, 1 or apéatolos a espalharam no unverso, fe Padres da Igreja com teraura a cultivaram ¢ zelo- ‘Samente Ihe tegeram enotmios. Enfim, o8 santos de to- oe os séeilos foram ditelpulos fervorosos do Coracéo ade Jesus ‘Quando chogot, porém, plenitude dos tempos em qos 0 Salvador determinera prodiglizar todas as rigue- {Bs do seu Coragle, “aparecen a sua benignidade” ¢ cle ‘proprio Fevslon ser vontade sua estabelecer o culio et Desial pare com o seu sagrado Corasio, atestando © Prometendo derramar abundantissimas gragas sobre Quantos se consagrassem de mode porticular a tal cao. ‘0 objeto desta devosio 6 0 préprio Corasio de Jesus. (Como iim Jesus Cristo duas natureras, a divina © 8 ‘humans, porém uma #6 pesson divina, o Coragio de Je- 7 ‘gat Cristo é 0 Coragfo da pessoa diving, 0 Coratio do Verbo inearnade. H, como a pessoe divina tem dels '@ ser hoarada com supremo cult, tambem ao sagrado Co- racko de Jerus devemot prestar o mesmo cult, por Ser Inteparavel e indiielvel da pessoa divina. Tal a ver~ dade catélica que refutou todos os erros contricios. Resume-se om tres pontos 0 fim desta devosto: “Y Correspondermas de’ todos 02 modes ao imenso amor e Joos, simbolizado no seu Coraglo que tanto fez © ‘ofreu por nés, ¢ not concedeu 0 preclogo e suavissimo Sacramento dal Hucaristia. 2 Repararmos, quanto nos ‘for possiel, pelo fervor da nossa pledade todas as in: 4lrias que feriram ¢ ainda hoje ferem o sagrado Cora- ‘Gio, apresentado por Jesus como sede de todos os seas afsing. 3° Imitarmes 0 objeto do nosso culto, revestin- Gomnor dos mesmos afetor ¢ sontimentos que animaram © sou Coracio durante # sua vida e Paixio e ainda hoje Perduram na’ sua vida sacramental ¢ bem-aventurada. Por sus antiguldade, objeto e miltiplo fim, & evidente ser esta dovocko # mais excelente, frutuosa,sélida e con Soladore, Resuminde-se a davogéo om imitar o que ve- heranios, pois todas os demals fins se encerram e pra ficars na verdadsira imitagio, oferecemos a todos esto ‘opdseulo com o Intulto de estimulé-los e, quanto nos Tor dado, guli-los a essa inltscio. Este lvro, no qual encontrareis 2 sume de Teologia asoétiea, abrangendo tanto a doutrina como o exercilo ‘a vida esptitnale interior, fornoee ampla matéria para rmeditagio didria, no expaco de um ano. Destarte pode- eis tomiclo cada ano, perseruti-lo ¢ imprim-lo sempre tals profundsmente no espirto e no eoragio. Poderes, fe Yor aprouver, percorré-o, sem interrapeto, do princi: plo ao fim, ou comecando pela primeira part, inferrom- Det slgumias veres 0 curso regular, quando necesi- fade ou a uilidade vos impelir tomar outra passage ais sdequads, ou quando devogio vee convidar a0 ‘uso. da ftima ‘parte nos dias em que recebendea a so- gradu Comunhilo, 8 ‘Por graves Fazbes, nfo soguimos em tudo 0 dea livres de meditagio quo expéom & matéria de modo igetal'e comun, mes propamos pontos eapecais e parti Gulares, quar em Felagio ao mal a evitar, como no bem. ‘8 fazer, Astim procedemos primeiramente pare que nit~ fguom “corra ao acaso ou agoite 0 ar” (IC 8, 28 5), Buscando ou enpreendendo que de passagem Ihe ocor- rer, sem aleanetr a desejada meta. Bm seguide, tendo fssiduamente diante dos olhos tum fim determinado, pa- a Id dirje suns enorgias e esforgos tanto na meditacio {© oracio, como no exame do conciéncia e na pritica das ‘boas obras, ¢ asim consiga superar os defetes © adquirir ‘as virtudes. Finalmente, extirpando cada uma das eausas ‘ou ralzes dos demais vicios, mais facil ¢ cficazmente ‘consiga destrulos todos; doutro lado, aprendendo © ad- ‘qurindo as prineipais virtades de que Jesus nos dew marmente 0 examplo na humildade © caridade do seu CCoragio, em breve tempo, com maior seguranca aleance tedae a2 ontras [No métedo' de eterever, embora soja verdado que © featemuho de Cristo no deve ser anunciedo com st ‘limes ¢ siblos. diseursos, pols o reino de Deus feoncste om. palavras, senio om virtudes, dols poites feontudo pareteu-nos necessisio no, descurar: 0 estilo perfeitaments adequado ao aazuato © uma lnguagem tere, Rolta-nos ainda notar que por seu carater esta obra ‘lo se destina ‘a leltures em piblico, mes a ser medi tia em particular, Seus dleeuroos e forma so tai qu, fe of quieerdes saborear, devels face a face e de core ho a coracio entreter-vos a sés com Jesus, DIRETORIO PARA A PRIMEIRA PARTE [A quem deseja colher todo o fruto desta obra é mit- ters E compreender bem o eseopo de eada uma das par es que e compoem, Il empregar devidamente os melas Prommstea pera aleangar © fm, e TIL superar os obstée Prue que o inpediriam de ating\lo. Sobre estes tres Gentes daremos, antes do cada. parte regras breves © Trares que sirvam de segura directo, 1 0 escopo da primeira parte & expurgar 0 coracio dau mnisules do peeado, do amor ao mundo perverso € fe amor proprio desordenado. De tres modos podes com render estes pontos ¢ reallaélot. ‘Primeiramente,lberta a alma de todo pecado mortal acrapogandorte de tal modo do smor ao mundo © 20 fete dovordenado a ti mesmo, que de fato prefires Deus Me“Gntor e Salvador a toda as colass e, em conse: ‘fuincla, por neniuma quelras ofender mortalmente 0 al~ ‘ina Majestade, Tn segundo lugar, purfiea o eoracio de todo peesdo venial deliberado, renunelando ao amor do mundo € 80 Yi desordenado a th mesmo, de modo que nem part SIRS Godon ‘os bens criados e nem mesmo pare conser Soe Side queinas cometer deliberadamente algust pe~ ‘edo ven! ‘han tercezo lugar, purifiea-te daquelasimperfelsfies que com fijlidade 2 graga podes evitar, dispondo-te asim ca receer omzundo.¢ a detestar todo amor proprio det ‘ondenado. ‘Wao ue fot alto, & evidento que todos, seam princl pinta "profielentes ov sesmo Derfeltes, podem om fe novo. despertem. Por conseuint sume ven mister fazé-lo moltas vezes e mesmo Seti- TA %te pomvel fori pois quem nfo dlasimuler, spre Bi ae degcobrir algo a extirpar” ‘obeceva, porianto, com diligencia, ser de eum por- tinea, perfelte pureen de corapio, da qual depende SNS tuao ga vide eapiritual. Se B& to poucos que e= SLefentam fauiidade e dogura no caminho da vitude, ip poulos que progridem com repidez e consténets, tho (Ho Pevctie nleangem a uniio divina ¢ venbar = foci Ritemo esta vide os bens prometides pelo Senor £08 cree ae coragio, 0 Prinlpal motivo é porque rarazsente Bator de corquum no intino se puritique perfeitamente Miustoe trabalham com. afl, e poucos progressos fazem; wea obtigados a recomegar, mal stboreiam, se 6 au sere a sunvidade da virtnde: carregam a ert Se thes enperimentar a uncio, Hetes, embors consigan! al: ee erPerivam-ae asi mesmos de imensa,bem-aenti- ‘ont Deus de grande gldria, que tio faciimetite vance Han merergn, ab quisscm purificar-e perfttament, ‘Toda hd que o deménio tanto procare impedir come fa purifeegio total do corasio, Debsa-nos em certo #08: 4 Bomumureguea 4 prética da virtude © resmo & procura Tiijaieigao, contanto que doscuremos a purezs Go ¢o- seer Sabe'o inimigo que deste modo, caindo na tie ras ance havemos de adgulsir virtudes reais ¢ slides, muito mence # verdadetra perflgio. reintetemaat, pols a8 almas ainda mio assaz purifict- ‘ase de asto bem comum: querer logo, com 0 corasio 2a SS derficalmente purficad, 96 war de familia Sens aoe Jesus na. vida Soterior, recrear-se em #8 Eigpeahia por entre 25 flores das virtudes e sxborea compe ftfissmos frutes; ou, entio, o gue ainda é mais flea suavidade do sea amor. Ainda ha outras hsdes a {que se acham expostas a5 aimas no inicio da vidn espl: ‘ite, como, por exemplo: praticer com excesso a mor- ‘ifleacdo exterior, querer obstinadamente aleangar om ‘ioléaela a Mbertagio de tum sofrimento ov a posse de algum bem desajedo, nutrir temores que conduzem 20 ‘atimento moral. Wstas Hlusdes, contuto, embora perie ioeas, nfo ato tio eomuns nem fetais como a que ind Sdescurar a purers interior. Eig, portanto, o alvo para onde deves divigir todos os tous "eeforges.' 1. Considerando bem 0 teu desting & verdadeira bem-aventurange eterna, procura_ conhecer perfeitaments toda a perversidade ¢ todo o mal do pe- fade e sentir profundamente a fealdade que ele em ti Imprimiu. 2. 'Adquire cabal conhecimeato da. valdade fcormupgio do. mundo, assim como da miseravel sorte for que se deixam voluntariamente arrastar por ele & Sterne pendigSo. 3. Aprofundacte no conbeclmento de tL mesmo, do estado a que te reduziram tuas culpas, da ‘ie misirin propria ¢ das tuas inclinagies naturals. ‘Para tal fim, no basta ler ds pressas estas Linh mister, porém, medlté-las com atenoio o diigtnci, © pér fem priticn oo seus easinamenton Mais avisos do que ‘cplicegtes cnoerra ofta obra. Portanto a compete refleti, cesenvolver matéria e spliei-ia a ti mesmo; fem soguidn, produsirpledosos afstone dics siplicas ao Senhor, conforme tas necessidades eapiriuaie; por Ue timo, provar sabor intimo e colher frutos copiesos. A sim, por malo de moditagées, pledosos anes ¢ instantes Dreces, compreenderis melhor o assunto e dele his de tirar maior provelto. O Senhor, par sua ves, nfo deixaré de recompensar-te oo etorgos segundo a gencrosidade €6 seu Coragho, abengoé-los com sua graca, Batenda.se © que diesomos no a6 desta parte primeira como das ‘ermal, TL, Dois métodos podem set empregades, ambos seme ros € facels, como prova a experiénela de muitos, mos tno iletrados, quo sem tédlo e com grande proveto di ante horas intelras se entregaram & meditagio. 2 ‘tes, que pouco habituados oracto mental, io ineapa- 1208 de discorrer por muito tempo. Nada obsta, contudo, ‘8 aie outros tambem meditem deste modo, sobretudo ‘quando so sentirom mal dispostos a mais profundas re- flex ‘Recta primeiramento a oracio preparatéria que\nio varia e pode ser feita nenter termor: “Beeolhel em 68, ‘Smabor Jeous, todos os mous sentidos. Purifial tambem (© meu coragio de todos os peasamentos perversos e e3- franhos, Tuminai-me a intoligéncia, inflamal-me os afe- ‘tos, para que ateata e devotamente pessa empregir, nes ta oragi, og sentidor do corpo e ad Zaculdades da alma para voasa gléra e minha salvacio, e assim merega ser ‘Avendido, na presenga da vossa divina Majestade, pelo ‘Youto saeratisaimo Coracio. Assim seja. — Sentor Je- ‘his, ofereco-vos esta oraplo, unida a divina intenglo do ‘vomto Coragio, com a qual na terra tibutastes louvo~ res & Deus". Torminada esta proce, coloca-te entio bre- Yemento diante do Senhor, representado em algum mis trio oa presente no santo tabernéealo, Finalmente, im- plora.o fhito a ser auferido desta oragto, Bates tree tos ‘conttituem o fnielo ou entrada na meditacéo, soja. qual ‘for 0 método empregado, T"Se te servires do. primeiro’ método do meditacio, 4. If atentamente um ou mals Versioulos, como te for ‘itil on nevearirio, 2, Considera a verdade qua acabas fe ler, a com que a ererim os santos e todos os que esefaram livrar @ alma da eterna perdigio e aleancar ‘2 perpitua aalvagio, o crédito que om artigo de morte thi mesmo Ihe deriag, 3, Examint-te, Ingulrindo de que ‘modo te houveste até agora, na pritiea, em relagio 8 ‘sta verdade: ee 0 retultado Jo exame for bom, rende (graces so Senhor,trbutandotbe glérla, e nfo deixes de ‘pedir a grace para bem perseverares e ainda mais pro- ‘redires} se procedeste mal, arrepende-ta, faze stos de fontrigio ¢ implora 0 perdio. d. Faze bom propéstio fe emenda ou de maior progress, escolhendo moios con- ‘Yenjentes e pedindo a graga de cumprir o teu propésito. 18 ARO “Apés cates aos, se ainda nko houver decorrdo 0 ten po dio pare © medltasto, passa a conaderer outros Yecscaon,Seguindo a mesa orden. fe quiere fazer 20 0 segundo mitodo, depois dos roolineres da medtagto acinn mencionados, 1. ex rea ama, Indo oa rlembrando « materia & med. ‘SB 8PShercta a Intligenla, ponderando 0 esunto FE rncdtacto e dicorrendo a resplto de suns casas ¢ Tune, enamina o que dat doves deduzie para pr em ete: Guns raaies ou Incleamentos que a ino te Tapelem, como até agora procedeste, que & mister fazer oe quais oh obtiction a asta © 8 Melos 8 reer, rercita a vontada, deeperando afeto pie Gane. Sioquadoe e fazmndo ataslnteros, forma boss qe em particular, conforme o estado da tua alms, arrests sastantemeate em teu favor ede Ouro8 0 8 forro da grace aivins. Concvies: Y¢ expandindo o corasio mum coléauio con ten 'p reitando, m0 fm, esta ortho ot oats Com diene: Senhor Teeua Cristo, que por Boro benef- SgenaeMigumates rover h.vosse lgreje aa siqueras {Resves do somo Coragto, concede, eu volo Peso ‘eekcSponler ao amor deste Coragio aagrado, TDArar ca remcsTpomenngens ae injriasfelian pelos homens (eetce a cate afltimimo Corecio e revestir em tudo tesratientos deste meemo Corasio: vs que, sendo tse relnns eam Deus Padre em unio com ES Deue tat por toon os asulos dos esl. Asin Se Relentends te, por atin, b benvavents- 2yq Vinge Maria, ao teu anjo da guarda e ao teu pa Te o"Betes tes pontos formam & consasio ov fin de quniquer metitacto. ‘Gono n expertnla prom extreren ot eanplog doe sonia gine ho eoragio do Sunt, quer dos pecadore, mee safer ilo co faton da sua vida are tntia gervem de mntira para © meditacto. $a ‘atheres maior fruto de tal meditagto, € mister an then xy parila 8 mals sanon, port “ solhidos como padrociros, ou a quem consagras expec Aevoeto.” Cada um tem os seus santos predilstos,cujos exemplos mais 0 edifieam ¢ eitimulam. Assim s6i o roligiosa co- ‘hover melhor a vida dos santos pertencentes ua Or em e aplica-se de preferéneia a ‘mitélor; enquanto a8 ppessots seculares, descjosas de servir a Deus, sontem-se ‘uals atraidas para. os santos cujos exemplos eonvém ‘melhor ao seu estado e Ihes servem de modelo. Por con fseguinte, quando se diz que os santos provederam a exem- plo do Coragio de Jesus ¢ se distinguiram em alguma Virtade, € mister fazares excothn entre eles e examina~ ‘rot partlcularmente as agbes © o modo de viver de tal into, implorendo sua intereessio junto & Deus ¢ re20- mendando-te a ele. Se oportunamenio nfo te vier & mente flgum santo, poderds sempre rogar a asistencia © pro teolo da bemaventurada Virgem Maris. JUL, Finalmente, para evitares ou venceres os obsti- culos gue os inltigos da eterna felleldade te opéem em Inatéra referente A conciéneia, deves em primeiro Ingar ‘ompreender bem 0 que & coneléacls. "'Chami-se coneiéncia o, ditame aprosentado pela ra- so que, em casos particulares, nos adverte ou mostra fnterlormente o que davemos fazer ou omitir quer sob pena de pecido, quando a matéria & de precelto, quer pare aumento de mérito ou malar beneplicito de Deus, fo ato € somente de conselho. Denomina-e dite pro- Yeniente da rasio por ser a conclusio ativa de prinei- ioe conheidos 4 rasto, quer pela Tux natural, quer pela fiaminagio da graga ou da fé Por exemplo: a coneigneia adverteme que hojo, do- tlgo, sou obrigedo a ouvir mista. ta eonclusto de- fdunse tactamente das premiseas: nos domingos hi obri- ‘facto de ouvir mises; ors, hoje € domingo, por conse unto, hoje hi obrigagéo de ouvir missa. EP digno de fota que tal conclusto ee dedas ocultamente e 50 apro- penta ao homem, meemo contra a sue vontade, como, fee tora evidente mequeles que nfo querem escutar a % ‘conics, afim de nfo so sfastorem de cols ifeltas ‘nem serem perturbados. Entretanto, ouvem, mau grado eu, a conciéncia profbir e condenar, Dat & manifesto fque a conciéncia, so for verdadciramente a conciéncia, ‘indopendente do homem e Ihe & superior. ‘Notem aqui com diligéncla e salbam as pessoas exces- slvamente propentas 4 timides ow a0 eeerdpulo que ciéneia aio 6 a agitasio doa nervos, mem representa- fo da imaginagio, nem’ vago temor ou mera possibill- Gade de queda. Com igual culdado notem © observer fas que aio inclinadas 0 relaxamento ou & temeridade ‘que a coneiéncia no € 0 desejo da vontade nom pro Penaio on aversio da naturess, nem alguma paisa ot frtificio subtil. Umas e outras lembremae qe a con ‘itneia 6 0 ditame da razdo ou a vor do Bspirito de Deus ‘que, servindo-e da rezio como instrumenta interno, Bos ala & alma e manifesta em casos particulares as ordens ‘24 sue vontade on ot conselhoa do tet agrado, 1d una concitncla verdadelra ou rete, que mostra st | ‘olsas como realmente alo: isto é, como obrigetério 0 re & de preset coma Perigo © que de foto encore forgo, como provleeo ov tele © gue € matrn Shaul ou do perfeigt. Se the segue ov dlemer Sem aqule santo tenor de Deo Plo qual, com bone fos, eesamos ofendélo ¢ Por eo eitamos os peee | {ow gue devtreem © aiade'e eoeveanea paras Tuotinos conivacia tinorara, hanae concise de: Fenda a que noe inpele s seraoe fin « Been 0 ponto de evita gualer dfevo Vluntstoe obedeer en thao ‘Hk amber una conciaee fats om eines, qe mos | tra an eo diferentes do que remente io: cotece I {So muita vesen por ep Go homem qve visi are unto do que furve ¢ Rare de-Deon © anim 9 oe edo Gs bunmitr's sor eivina, A ignoinen, © haieo {To pecequmuer palsio deordenadn dsformam-na em Stier ou insur stu. om, pew fat ee clarment, ‘ont paricsiamen pare. que elguna iin flos ‘nr ft si fomads como em pacino do qual se de- 16 "dur a conclusio Prétiea ou conciéncia, tare es ‘que, tal concigneia seja a voz, > Ban tse ute epi fre mis dips a Hee? etl ere ore nm vale, eu fous crea, A. colic fv capados de grips nossa voluntari, se, a0 faserinos um sto ones 5 Go tn non vh Y ncate ae tok diac ohana came ao 6 heplgescada'sdilgtace cron yee lo, do Eepiito diving, serve da paiso ou das ou, ‘encionadas, afim de falar jineia erra sem tal culpa noses, ‘elaence erinen, desa-nos o diante de Deus, vet ~— fa ipa! matin carias esi laxada relacionam-se com % conciinel codecs, A oe es Sai ne mi rl Soe aca fo Ue ee ing ts hlaahas puss feel pie Seraghasteegus eh pd oor soot oe ere et ere ate re f> tivels, o pecado e o perigo com a aparéncia ou Feprone, tagio dos mesmos ee eae, 4 gue ve peuade no ver Pecado ou perigo onde Rone ans Fealmete exsten, ¢ mesg ait ‘ecstda Contnas'« peruaien,Cotita'o Homes ete ero por sotrer do fnovéaca culpavel aes elo habits do pecado, quer poe pulse aie o foot dela ou detest dsordenadamente algun woes os tau ead o que tem tl concincla Seas pote {8 oe ern senovendohes so eumay € de eka feat, quando nota sulcentenents tsa een _E ister evtar com o maxim elsado wees eon- {hein cerpulosa como « rennada, Amuse Se » Blo slo apenas perigee mas tani Brean rns, & eas — 2 a ‘sinha ao ee mpeion a perfelee,tormandos ingen, 6 © su Persie 1 te ca prope veo Sa eB pores cate deve Post artery ema cametapecado forma, i & pce sa Se race's omen eapede, pre 2 au, mde ae» rg guar exert Pio Tal coe ae arn mao ty 0 ce ae ee ce pel cnlaca 2. Que ine Oe cum a ta et ite aou listo 2 Que a one Se erat a oo iil, coma emma ta He | endo eh continents Fea rade i et on enero, an are | ek uo fro bel to Do | See Pesan eid quero pe qm foe © \ use eum 0 onal may ak Do et | to Pe is oe uc onde gue ¢ omc Bis | fl petasvots coe aly locate eer connate apna ero da encla= | ui ea toca. goe Mo foie Des Bom | orvitercan \t "furs cometer peeado mortal, requerse, conforms ene | | pence tebloges e ca santos: Tr que o ato interno ou Ehren aeja gravemente mau, ou como tal considerado SUicoucidnele; 2 ae © alma advirta plenamente a [rave matéria do ato, 0 fazer o ato ou produsir a cau Sie ato; que a vontade clente e livemente 46 ple- | 5 Gonuentimento, Se faltar uma destas tres coisas, 0 Pecado, que alléa seria mortal, € veal ‘Mingus comets, pecado formal contra sua vontade Sem cota voutade lire, o homem nfo pode peer for- talents, Pode, eatretanto, co quser, pelo abuso do lie fem coisa mo cts, propé-la ® st a Shammo ou imaginé-la, nela cousentir e pecar. Demals, Dor permissio diving, pode ¢ costume o deménio suse: oT yonsamentos e representagSos, mesmo mis, parm se- Tieko homem a dar 0 consentimenta da vonttde; mun- I ‘ca pode, porém, foreé-lo a consentir. Finalmente, © pré- t 18 cage ore ‘rio Deus e oo bons ¢ bem-sventurados espititos costa. Tham sugerie Pensamentos © apresentar objetos, sempre, Dorés, com o fim de levar 0 homem ao bem, auxiliando Eon vontade a. querer 0 bem, sem jamais constrangt-lo. "E, pois, evidente baver uo homem eres géneros de ‘pentamentot ¢ impulses: 0 primeiro, proventento da i- fre Yontade do homem; o segundo, extxinseco, insirado Delo mau espirto,o deminio; o teceiro tember extri Seco, augeriao pelo bom expirito. "Pelos seus discureos fe conbeceremes: a prépria sugestio nos manifestaré ‘qual o eapiito que fale em nfs" (Sio Bernardo). Para Gompresnato deste fata, servem as seguintes regres que (s santos noe tranamitem sobre o discernimento dos ex pleios. Primeira, os que facllmente caom em yécado mor tal o expirto mau costuma em goral mugerir om Pro- por as aparentes delicins da carne © prazeres dos sen fos, afim de mals soguramente os prender © mergi- Tar not pecados e viel. ‘Bm relagio a tain pesoas, procede o exptito bom de modo contririo: aasidsamente hes punge e perturba a Ghucléncia,afim de torniclas concientes da sun desgrae hr afestvlas do peetdo e convertélas. ‘Segunde. O espisito max com falaz permasio e ssti- cia provira induzir os homens ao amor desordenado € Sanbigio de riqueras ¢ abondincia de bens, afim do fastlos em segulda cair mals faciimente no pecado. ‘0 eapirito bom sugere que o coracio deve-conservar- sav lire de qualquer adsto desordenado ou desejo de bens errenos, para mio ser embaragado com impedimentos. Tercera, O exptito mau soicita, tmpele, insite para que 0 homem aspire & vangtéria, ‘0 esplrita bom propSe © inculca a nobre humildade, que € a verdadeira ¢ segura gléria do homem. ‘Quarta. Ave que, compresndendo a nocessidade de eil- der de salvagho eterna, eomecam a, pensar seriamente Gn asceguricla, o explrto mau costuma ineprar carta ee 19 versa erro mano, afin de impos o bm ‘0 espirito bom os anima ¢ estimula a progredir viril- mente, dexprezando © respelto humgno. Quince, Aos que procuram sifeeramente purificar-se dae pecados e vclos e cada ver mals progridem no zelo pelo servigo de Deus, 0 espirito mau causa diasabores, Escripulo, tristeza, fdas Zalsas ¢ outras perturbecées este. ginero para Ihes impedir o adiantamento. ‘0 capita bom costuma animar a coragem dos que ‘vivem com retidio © aspiram ao bem. Tuminaelhes 0 es Dito, dithes eonsolagbes, pax e serenidade para mais Tapise e-slogremente prostegulrem sempre na prea fae boas obras. ‘Sexta, Com instincia ae esforse o espirito mau para aque a aima, a quem deseja engunar e perder, guande em ‘Rigredo aa ouas engenoeas sugestbes. Quanto the & pos- Shee, opoese que suas tentagSes sejam descobertas fo dirtor espirtsal,cepaz de Ihes frustrar os efeitos 'O eapirito bom ama a ius e s.ordem, porque procede bem e tho boas a5 suas obras. Sétima. K semelhanga do general a examinar a estri- tora ea guammigio da fortaleza que deseja conguistar, fafim de atacivla pela parte mais fraca, 0 eeptito maa ‘oa rodela, espreitande as nossas disposes e todas as hoses virtudes teologais e morais,e, do Ia do em que nos Ve'minia fracoo, drige ob eet ataques ¢ procura vencer= itava. O espirito rau, o tontador, desanims.¢ desco- royot, quando v2 0 ae adversério eapritual repelir 25 tentagées com Snimo intrépido e froute erguida, Se nota, que cate treme e desflece, eatio nfo bi animal mais feron e obstinado em perseguir o homem do que o de- fonio, nfim de cumnpeir © deeajo do seu exprito maligno petinaz, (Conforme santo Inielo, santo Tomax ¢ stn {e Teres). 2 * PRIMEIRA, PARTE EXORTAGOES PARA PURIFICAR 0 CORACAO CAPITULO T Verdades fundamentais 1, Jesus, Aprendei de mim, porque sow manso fe humilde de coragio, © encontrareis repouso para vossas almas (MU 11, 20) Diseipato. So estas as palavras com que Je- sus Cristo nos ordena aprender e imitar as ‘virta~ des do seu Coragio, afim de podermos libertar- hos de toda miséria espiritual ¢ ser verdadeira- mente felizes. Eis a sua doutrina © método com seus"frutos sim, "A nobreza do mestre é 0 que primeiramente s- timula 0 diseipalo a aprender. Mas quem haverd mais nobre do que o Filho de Deus, eonstituido hnosso iinico Mestre por seu eterno Pai, e no qual fe acham todos 08 tesouros da sabedoria e eféncia de Deus? ‘Sua doutrina & a verdade ¢ & superior a todas fs artes ¢ ciénelas mundanas; abre-nos o caminho, 5 a no de bens caducos nem de deleltes transitérios fou de fama passageira, porém de riquezas imen- sas e duradouras, de delicias inefaveis © perpé- tuas, de honras supremas ¢ eternas . Numa 6 mixima resumiu tudo © que nos en- sinou a praticar: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coragio". A todos os ho- ‘mens aplicou esse ensinamento, a todos, pequenos fe ghandes, impos 0 dever de aprendé-lo, sabendo plenamente estar encerrado neste preceito, quan- fo hem compreendido ¢ observado, tudo quanto nos é necessério. ‘Toda a sua vida foi o exereicio desta doutrina ‘que, para nosto estimulo, ele eomecou por prati- car antes de ensinar. 2, Se aprendermos este breve preceito, seremos suficientemente sibios e instruidos, sem que nos seja mister busear algo mai Diiplo ¢ 0 modo de aprender: 0 estudo ¢ a pri- tic “Antes de tudo, entretanto, & necessirio orarmos com instineia para compreendermos.0 que procu- ramos aprender e praticarmos © que nos for dado compreender. ‘Meditemos, em seguida, com diligéneia © pro- fundeza, a sublimidade, @ extensio. do preceito, tendo assiduamente diante dos olhos 0 divino exemplar do Mestre, afim de examinarmos 0 que 7 os convém corrigit, evitar, guardar ou anelar. "Mas, como no basta conbecer, senéo tambem ceumprit o preceito que, por ser todo pritico,.s6 se aprende perfeitamente pelo exereicio, devemos, 2 logo no comego do estudo, iniciar igualmente a pritiea, mostrando-nos, por: pensamentos, pala- ¥ ‘ras ¢ obras, mansos e humildes para com Deus os homens. E, & medida do progresso na teoria e na pric lica, & mister nos esforcarmos para que a effcéeia do preceito sempre mais se estenda a todo o'nosso ‘modo de viver, aos sentimentos:intinios, &s pala~ vras, ages ¢ a qualsquer das suas'modalidades. 9, Se assim aprendermos °divino nsiriament aleangaremos 0 fruto, com o qual prometeu remu- nerar-nos indubitavelmente o esforgo e 0 traba- Tho, aquele que‘de nenhum modo pode enganar-se ‘ou enganar-nos. Qual & 0 fruto prometido?” Gtimo, “eertamente. Encontrareis, diz ele, 0 repouso. Que significa en- eontrar o repouso? E? encontrar aquele bem no qual possamos. permanecer repletos € satisfeitos, sem termos necessidade de outras pesquisas nem sermos agitados pelo temor de perder esse bem, ‘mau grado nosso. 7 ‘Quem encontrar esse repouso, estard,verdadei- ramenite tranquilo-e feliz. Mas quem yar, por maior que seja a sua abundancia, esta- 14 sentipre irrequieto e privado da felicidade; nao se Ihe satisfaz 0 coracao, pois se vé forcado a bus- ‘car otitros bens e sem eessar receia perdé-los con- tra sua vontade. ‘Fomos eriados de tal modo que por natureza desejamos o bem-aventurado repouso, ¢ nio esta ‘em nosso poder deixar de desejéclo. a e Grande beneficio nos fez'o Senhor, infundindo- hos este desejo estimulante, esta faculdade que ‘nos impele, pois, destarte, com maior fortaleza nos atos ¢ mais suavidade no modo, buscamos aqtele em que nos hé de tornar felizes. E dinbora, pelo nosso livre axbitrio, possamos procuirar 0 repouso em muitas coisas, todavia, em, todas, éste nosso desejo ou faculdade nio cessa- ri de agitar-nos até havermos encontrado.o ob- jeto em vista do qualynos foi dada essa faculdade, Gristo, nosso Deus © Senhor, que nos’ deu tal desejo © a quem repugna t8-lo dado sem objeto fou sem possibilidade de atingl-lo, auf’ nos.mos- tra onde devemos buscar seu verdadeiro objeto a maneira de encontré-l. Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de Coragio, ¢ encontrareis o repouso, Nao faz dis- tingio nem exceedes: por conseguinte,’acharemos, © verdadeiro repouso, a real felicidade, Pois, embora o repouso que constitue a felici- dade da alma no tempo presente, pelas condigées da vida mortal, no possa ser pleno em todos os sentidos, Sera contudo verdadeiro, conforme 0 pro- mete o Senhor e 0 atesta a experiéneia de, ini- Imeros santos que foram diseipulos mansog @ hu- ‘mildes de Jesus manso e humilde. Certamente havémos de fruir aquela paz ina- cessivel is perturbacGes do inimigo exterior. Go- zaremos de serenidade Isenta de agitagbes internas. Enfim, alcancaremos a semelhanga e a unio com Deus, que encerra a maior felicidade desta vida, 4 ‘ow antés todos os bens; sem que ninguem no-la ppossa arrebatar, contra nossa vontade. 4. Enquanto cothemos esse fruto, asseguramos tambem o nosso fim, que ¢ a bem-aventuranca eterna das nossas almas, Eneontrareis, diz 0 Se- nihor, 0 repouso para vossas almas. Se a almas ‘io nossas, nfo 0 sfo, contudo, como se proviessem de nés, visto ter sido Deus, e nfo nés, quem as eriou. Todavia, no-las deu, mas para um fim di- gno dé si, Enquanto ele opera o que Ihe eabe fa- zer ¢, por ser infinitamente perfeito; nunea nos falta, compete-nos cooperar reciprocamente, e des- te modo aleancar 0 bem-aventurado e perpétuo re- pouso das nossas almas. A eterna bem-aventurancayda nossa alma inti- mamente unida & gléria do Senhor, eis o fim que ele tem em vista ‘Se Deus'é glorioso em todas as suas obras, quan- to nio-o seri com obra tho grandiosa como a sal- vagio eterna de almas que triunfantes o louvario perpetuamente! ara obtencio deste fim, de mil modos ele nos protege e ajuda, como bom Pai a seus filhos. Pre- cedeinos qual companheiro que, tomando a frente, indica o caminho seguro e ameno, proporcionando- nos alivio e forcas. 5. Sendo assim, sigamos corajosamente to gran-".” de © excelente Guia, Que aver’ mais honroso para siés? E’ grande léria seguir 0 Senhor, porém’a suprema honra consiste em sermos discipulos amados do seu Co- racio. 2% Poder-se-i imaginar gléria mundana que nfo ‘se desvaneca em comparacio de tio sublime di gnidade? Nio hi bem que nos oferesa maior ulilidade, ‘visto que dela dependem o repouso da nossa alma a felicidade no tempo e na eternidade. Tio gran- de é sua importincia que ela s8 nos pode bastar, ‘enquanto sem ‘ela todos os demais bens so vos e finalmente inuteis, Ai acharemos facilidade © docura, pois ‘seus ‘mandamentos ndo sfo onerosos; juntamente eom ordem di-nos 0s meios de cumpri-los, e faz com que nenhum inimigo, nenhum obstéculo nos es- torve, Na escola do divino Coragio, haurimos 0 amor na sua duleissima fonte e, por ele movidos, se de- vemos executar algum trabalho, niio o sentimos ot entio o amamos, de tal modo o achamos facil ¢ 0" Jesus, manso e humilde de Coragio! Recebei- ‘me, eu volo rogo, como vosso diseipulo, diseipulo do vosso Coragio, e concedef-me aprender com di- ligéncia a ser manso e humilde de coragio © as- sim encontrar 0 repouso de minha alma para: vos ssa eterna gloria, CAPITULO 1 Menhum bem deste mundo nos pode em verdede aguietar ov satislazer 0 coracio 1. Jesus, Filho, foste eriado para a hem-aventu- atest @ experién- ranga, como 0 prova a raz . ensina a fé 26 Buseas sem cessar a felicidade, e fazes bem. Mas deixa de buscé-la na criatura, pois af nao @ encontrards. Nenhuma coisa deste mundo pode saciarte o coracio, e, ainda que fosse 0 tinico a possuir to- dos os bens criados, te corac&o ainda estaria va- zio e infeliz Os bens terrenos provocam sede, sem poder sa- clé-la: quanto mais os possuires, mais ardente sera tua sede. Como poderias encontrar nas eriaturas.o que ne- Jas nio existe? Ninguem dé o que nfo tem. 2 Acaso conseguirés 0 que nenhumimortal j mais pode alcancar? O mais sdbio, og vhomens possuia abundiineia de todosos bens, nadava per Petuamente em novas delieias, maravilhava as mages com a imensidade de suas riquezas © en- ‘chia as terras mais longinguas com-a fama da sua, loria, Sentindo, contudo, © vacuo do coracéo, viu-se obrigado a exclamar: “O" vaidade das yaidedes © tudo é vaidade!" (Ecle 1, 2) Embora tivesses tudo o que no mundo pode de- sejar 0 teu coragio, fosses senhor de toda a terra, ¢ honrado pela multidio dos homens, gozasses to dos os bens, terias de averiguar nada teres encon- trado senio valdadée aflicio de espirito (Ecle 1, 4). ’ 3. Nao te admires disso, meu filho, pois o teu coracio nfo foi feito para o mundo, Por conseguin- te, todo bem terreno ¢ indigno do destino © afeto do ten coracio, 7 ¢ e Foste criado para maiores coisas, nasceste para bens etemos, és destinado ‘a0. infinite, Neo tuciras, pois, jazer na lama, quando foste fella ara reiaar perpetuamente De que serviria ganhar o imundo, se perdesses tua alma? (Le 9, 25), Certamente’serias dupla, mente infeliz, sofrendo aqui as angistias da ma coneiéncia a atormentarte 0 coragio, e mais tar, de sendo condenado a eterna desgraca Bemaventurado 0 que despreza tudo o que é eapaz de iludirthe 9 coragio, que gencrosanente repele tod obsticulo a verdadeira felieidade « lembradd dy nobreze do seu destino, base, ack ma de toda as criaturas, a hem-aventuranga no Criador! 2 me 4. Discipulo. 0° Deus, meu Salvador, vés tne criastes para a felicidade e, ainda que até agora rio cessasse de busci-la, no a consegui enon. rar, * Repetidas vezes, meus desejos elamavam: “Ei ‘aqui ou alt”. Insensato que fri em Ihes dar erédi- 0. Cego pelos desejos desordenados, andet crran. te, s6 experimentando misérias © amargura, em, vex da felicidade almejada Ai de mim! Criado para a Wéiiaventuranca que em vos se acha, 6 meu Deus, fatiguei-me, procu- rando-a fora de vés nas eriaturas, Transvielme Tonge da felicidade, para a qual fui feito, © s6 aleancei para minha perdicho a infelicidade que niio me era destinade, 0” Deus, meu Senhor e Salvador, abiime os olhos, para que veja to grande erro ¢, dele liber tado, busque efleazmente em vés a bem-aventi- ranga, que nfio me & possivel encontrar nas eriatu- CAPITULO IT Nosso corasio encontes no Coragio de Jesus 2 verdadeizo repouro ¢ a genuina lalicidade A. Jesus. Filho, se queres aleancar a verdad ra felicidade, aplica,o teu coragio A imitagao e. Avconvivéncia do me Coragio. Nele encontrarés a paz e a tranquilidade que ‘© mundo nio pode dar nem tomar. Se-tma vez ‘entrasses perfeitamente no intimo do meu Coracao, daf verias todas as coisas terrenas como realmente ioe no como as avaliam 03 insensatos idéla- ‘tras do mundo, Facilmente te libertarias dos euldados supér~ ‘Muos e penosos das eriaturas e s6 os hens verda- deiros julgarias dignos de ti. 2 Teu coracio, sujeito a continuas vicissitudes, muda sete vezes por dia, Inconstante como 9 mar, fora esti alegre ora triste, tranquilo ow agitad: ‘umas vezes inflamado no amor das eriaturas, ow tras, enfastindo com a sua vaidade; agora, fervo- +050, logo depoisiéntibiado, Se, porém, teitoracio estivesse unido ao meu, far-se-ia subitamente grande © duradoura sereni- dade. ‘Sequro por estar unido ao meu Coracio, perma nécerias como em porto seguro sempre © mesmo, 9 * sone inabalavel ¢ inacessivel a qualquer mudanca, quer soprasse vento favoravel quer contratio, Se te escondéres no meu Corasio, nentium inic igo te poderd prejudiear. 0 diabo ronda a pro- cura de presa, ¢ arrasta muitos consigo & perdi io. De ti, porém, nfo conseguiré aproximar-se nem perturbar-te a paz. 3. Oxald conhecesses dom de Deus e soubes- ses quantos bens encerra! Na verdade nele se en= contra teu repouso ¢ toda a tua felicidade. A paz constante, a seguranga imperturbavel, a verdadeira alegria’ do coragio sio 2 partilha de quantos amam e habitam o meu Coracdo. De que servem as riquezas, as honras, os pra- zeres, se 0 coraciio nio se sentir tranquilo e satis- feito? Que pode dar-nos © mundo inteiro senio inquietagées e dissabores? Por conseguinte, sejam quais forem os teus bens, estarés infeliz até repou- ssares em mim, que sou o tinico eapaz de contentar- te. 4. Disciputo. Assim mo atesta a experiéneia, 6 Senhor. Pois em todas as coisas busquel a paz e ‘6 encontrei continuas perturbagées. Para vossa gliria e nosso hem, quisestes que s6 fem vés nosso coracio encontrasse a paz, Crinsles- nos para vés, 6 Senhor, e nosso coraco sente-se in- quieto e infeliz até descansar em vis (Sto. Agos- ‘inbo). 0" duleissimo Coragio de Jesus! Delicias da ‘SSma. Trindade! Alegria de todos os anjos ¢ san- tos! Bem-aventurado paraiso das almas! Que hei de querer fora de és, se ai encontro tudo que pos- % ot ee s0 e devo desejar? Em vés 0 céu encontra o seu gozo, a terra a sua Felicidade. Sendo vés a bem- aventuranga de todos, por que nio serels @ minha? Sim, 6 Jesus duleissimo de Coracio, sois mew re ppouso, minha hem-aventuranca para sempre. CAPISULO IV Para a salvacio 6 necessiro imitar 0 Corapio de Jesus 1. Jesus, Filho, uma s6 coisa é antes de tudo, necessiria: salvares a tua alam. Se a perderes, tudo estara perdido; se a salvares, tudo estar salvo, Nao aleancarés, contudo, a eterna salvacio da tua alma, se nfo imilares 0 meu Coracio. Pois os que Deus conheceu na sua preciéncia,, tambem predestinou a se tornarem conformes & imagem do seu Filho (Rm 8, 29). Qual & porém, esta imagem do Filho de Deus, ‘& qual todos 0s eleitos se devem conformar, seniio ‘0 meu Coragio? A todos nfo é dado imitar minhas agdes externas, nem depende do homem fazer os milagres por tim operados. Outrossim, em con- soquéncia dos diversos estados da vida humana, plo podem todos seguir 0 meu modo de viver ex terior. Entretanto, todos, grandes e pequenos, dou- tos ¢ ignorantes, em qualquer estado, podem e de- vem imitar os sentimentos intimos do meu Cora- 0. Se, portanto, desejas a eterna salvaciio, con forma-te ao meu Coragdo e aprende a revestirte dos meus sentimentos am 8 we PET 2 Ainda que distribuisses ‘ios pobres todos os teus bens, entregasses 0 corpo as maiores penitén- cias, conhecesses todos os mistérios e operasses es- tupendos prodigios, se ndo tiveras em teu,coragio semelhanga com o meu, nada serias ¢ todas estas coisas de nada te valeriam eternament Pela semelhanca com o meu Coracao, his de ser julgado e receber tua sorte eterna. Muitos, na hora do juizo, dirmedio: “Senbor, no foi em vosso nome que profetizamos, expul- samos deménjos ¢ fizemos.intimeros milagres?” Eu, porém, Ihes responderel: “No vos conheco, ‘Acaso nilo vedes as chagas que me infligistes? No reconheceis 0 lado por vés traspassado, que por vosso amor permaneeeu aberto, sem que consen- tisseis em entrar nele? De nada serviré 0 que fizerdes, se nio for feito segundo 0 meu Coraio” (3. Nao € a aparéncia exterior de piedade, po- rém 0 coracio devoto que torna o homem bom e caro diante de mim, ‘Tua salvagio estar segura na medida em que conformares 0 teu coragio ao meu. Faze por tua salvagio quanto te for possivel. Nao pode haver solicitude excessiva, quando se facha em perigo a eternidade. ‘No momento da morte descobriris estar perdido tudo 0 que houveres feito sem referi-lo a mim e f salvacao. Se to grande é a importineia da sal- vacio eterna, lembra-te que o valor da imitaedo do meu Coracio é proporeionado ao da salvagio da tua alma, 2 4, Diseipulo: O° salvacio sterna da alma, tiniea coisa que me é sumamente necessérial Por que estou neste mundo, senio pera salvar a minha al- ‘ma? E por que fui resgatado, provide de tantos socorres, cumulado de tantos beneficios divinos, sendo para mais facil e suavemente salvar a mi ha alma? a Mas, ai de mim! Ainda nfo comec ‘a obra, para a qual me acho neste mundo, Depois de remido, novamente tornei-me vil eseravo e pe- reel, abusando dos meios ¢ heneficios que tio fa- cilmente me poderiam fazer feliz e salvo. Senhor Deus! Com toda a justiga podericis ter permitido que me perdesse eternamente e 50- fresse perpétuo inforttinio, bem merecido por mi tha maliela e pelo abuso de vossos dons. Mas, jé que a infinita bondade do vosso Coracio assim nio -permitit, mas, ao contrario, com novo e maior be- neficio, incitou-me a apreciar ¢ amar a eterna sal- vacdo da minha alma, no serei mais ingrato nem ‘me exporei & perdigio eterna. Deliberadamente prometo coopera com as suavissimas.inspiragdes de vosso Corago, conducentes & hem-aventuranca e salvacio da minha alma. eriamente CAPITULO V Toda 2 nossa perteicio ‘onsiste em imitar 0 Coracio de Jesus 1, Jesus. Filho, toda a tua perfeigdo consiste em. ‘te assemelhares com 0 meu divino Coragio. Meu Coragao € 0 Coracéo do Verbo de Deus, a norma de todas af virtudes, a propria Santidade. Armnit A Sore— 8 8 Por conseguinte, quem imita 0 meu Coragio, imi- ta seu Deus e Salvador, que € a mesma Santidade. Sendo, portanto, o meu Coracio 0 modelo da per- felgio e'a fonte de toda graca, dele aprenderés os meios para santificar-te, haurindo ao mesmo tem- po @ fortaleza para bem proceder. Se queres, pois, ser perfelto, imita o mew Cora- ‘elo e, quanto mais Ihe fores semelhante, tanto mais perfeito serés. 2, Meu Coracio é humilde, e a humildade € a base da verdadeira santificacio. Se nfo aprende- res do meu Coracio a humildade, jamais possui- ris esta virtude e apenas de nome a conhecerds, Se quiseres colocax sobre outro fundamento 0 edificio da perfeigio, nio permanecerii de pé, mas 20 sopro do menor vento desabara, sendo grande ‘Meu Coragio tambem & manso ¢ cheio de cari- dade: a caridade, porém, & a perfeigao da santi- dade. ‘Teu coraeio nunea arderé nas chamas da verds- deira caridade, se nio for inflamado por aquele fogo de amor que abrasa 0 meu. Ai de 8, se outro fogo se acender em teu cora- ‘odo, abrasandoste, porém, para tua perdido! 8, Jamais aleangaris virtudes s6lidas, nem ‘tin- giris a saintidade, a nfo ser imilando © meu Co- ragio. Embora deres sinais de virtude e pareceres meu devoto, sem que teu coracdo imite o meu, toda a ‘tua piedade sera apenas mera atitude exterior. a ‘Nao hé esperanga de perfeigio, se nao tomares por modelo o meu Coraco, 4, Assim foi aésde © principio do mundo, pois jf a lei antiga. prenunciava quais seriam os sent ‘mentos do meu Coragio, ¢ ninguem foi admitido entre os eleitos, sem ter impressas no set. cora- ‘eo as qualidades do meu, Desde 0 inicio da Tgreja até hoje, sempre fol ‘© meu Coracio a santificacio dos apéstolos, a for- taleza dos mértires, a constincin dos confessores, a pureza das virgens, a perseveranca dos justos ¢ a petfeigio de todos os santos. Coragem, pois, meu filho! Segue o meu Coracao para onde quer que ele te conduza, Quanto de mais perto o seguires, tanto mais te aproximarés da perfeigio consumada, Da imitagdo do meu Coragio provém o cum- primento ‘perfeito da lei inteira e toda a santi- dade. E’ sinal certo de predestinacio 0 esforgo assiduo para imitar o meu Coracio, 5, Discipulo. 0° doce Jesus, fonte de vida e gra- ¢¢a, animai-me com vosso auxilio a estudar e imi- tar 0 vosso Coraco, norma de virtude e exemplar da santidade. Libertai o meu coragio de toda ilu- sio'ou empecilho. Fazei que vos procure com afe- to puro e simples, revestindo-me de vossos senti- mentos interiores ¢ das disposi¢des do vosso Cora- do e assim assemelhando-me profundamente’a vés. Ai, Senhor! Quio dissemelhante € 0 meu cora- ‘cio do vosso! Quio pouco até hoje trabalhet para * 5 reproduzir em minha vida a vida do voséo Core Got Oxalé © meu coragio © afasté-lo do vosso! 0" cegueira @ insensatez da minha alma! Compadecei-vos de ‘mim, Senhor Jesus, compadecei-yos de mim segun- do a grande misericdrdia de vosso Coragio! Quantos homens ni viveram tanto tempo como feu, mem tiveram os mesmos meios, ¢ todavia se santificaram, tornando-se fervorosos disefpulos do vyosso Coragio! E eu ainda nio possuo sequer 0 infeio da santidade, pois sou pecador. E’ tempo, Senhor, & tempo que comece a obra da minha santificacéo até hoje negligenciada. Ani- ‘ma-me e estimula-me 0 pensamento de que ainda posto santificar-me, tornarme discipulo do vosso Coracio, distinguir-me por esse felieissimo sinal de predestinacio. Levantai-me 0 animo, 6 bom Jesus, dai-me auxi- ioe coragem, Bis que agora vou comecar. CAPITULO VE Deve puriticar 0 coracio ‘quem deseja imitar 0 Corapio de Jesus 1. Jesus. Filho, se queres granjear a amizade do meu Coracio e gozar a inefavel docura da sua familiaridade, purifiea de todo mal o teu co- rragio. ‘Teu Amado, puro e sem macula, compraz-se en- tre 08 los. Como poderé haver unio entre meu Coragio © teu, se nio o purificares assiduamente? 36 j0 me houvesse esforeado por perverter Ai, meu filo! Que coracio 6 0 te! Nascldo no |. pecado, morada dos deménios, poluido e defor- ‘mado por tantas faéculas, inelinado com veemén- cia a0 mal e tristemente afastado dos bens superio- res, fomentando afeigées desordenadas, geradoras de peeados, cheio do mundo e de si mesmo, habi- tuado a considerarse como fim de todas as suas acdes! 2. E para admirar que ouses convidar-me a vie, sitar um tal coragdo, a morar entre tantas imun- dleies. 0 corario perverso me é abominavel, 0 coragio impuro provoca-me néuseas. Como poderia com- prazerme em té-lo por morada? Busco um coracio puro. Minhas delicfas eonsistem em habitar nele © ecrear-me entre 06 litios. Por conseguinte, quem ama a pureza do cora- elo gozaré da minha presenca e por experiéncia conheceré a ternura e divina suavidade do meu Coracao. 3, Nao te iludas, filho, julgendo andar bem, ‘quando teu proceder exterior & correto, visto ser Prinefpalmente o coragio que eu considero. De que te serviré agradar pelo exterior a to- as as eriaturas, se no intima me desagradares? Se teu coracio for puro, seris todo puro, Pots do teu intimo procedem os maus pensamentos,im- purezas, fraudes, detragées, enfim, todos os ma= es. ‘Tome-se puro o teu coragho, ¢ nada te’impedi- ré de alcancar suavemente a intima unio comi- 4g0 e saborear plenamente a dogura do meu Cora ‘qh. Se, porém, te afastares do mal apenas exte- Fiormente € no extixpares do, teu coracio 0 pe- ceado, nunca estards isento de viclos, Mas estes pro- pagar-se-fo dez vezes mais no tet intimo do que fs poderias evitar no exterior. E enquanto tua con ‘duta externa parece irrepreensivel, é& oprimido sab @ peso dos males internos. 4. Eia, meu filho, preparame em teu coragéo limpida morada, ¢ eu, a ele vindo, serei todo teu f tu todo meu, Havers entre nés admiravel inti- midade © unio s6 conhecida dos que a experi= mentaram. ‘Se generoso ¢ comeca sem detenca esta obra de tio grande importanela, Néo sentiris verdadeira alegria, enquanto nfo a completares. ‘A muitos 0 receio da dificuldade impede a per- feita purificasao do coragio. E’ astieia do demi- no. Este antigo inimigo da salvario humana, s0- endo que da verdadeita ¢ total purificacio do co- ragio dependem nio s5 a tua salvagio ¢ perfei io, mas tambem a do préximo e mormente ml- nha gloria, envida todos os esforgos para impe- di-la, Nao prestes ouvidos as sugestées do artifi- obter 0 seu fim por meio de verdades ou mentiras. Reza, porém, pede a graga divina ¢ com ela po= virilmente maos & obra. Vers todas as dificulda des dissiparem-se diante da tua intrepidez © até ficaris maravilhado, encontrando maiores conso- lagdes onde julgavas haver maiores obsticulos. cioso inimigo, a quem pouco import 38 5. Discipulo, Rogo-vos com instincia, 6 Senhor, criai em mim um coragio puro ¢ renovai no mew intimo 0 espirito de retido (SI 50, 12). Todo 0 meu coragio esti coberto de méculas, Sua infeegdo contaminou-me as faculdades da al- ma € 08 sentidos do corpo. Ai, Senhor! Que ha fem’mim isento de mécula ou absolutamente puro? Enviai, eu volo rogo, a luz da vossa graga a ilu minar‘me o espirito, para que conhesa e chore to- dos os males praticados ¢ todos os bens omitidos. ‘Oh! quanto me arrependo, 6 duleissimo Jesus, de ter profanado indignamente a vossa morada, de vos ter ofendido, afligindo 0 vosso Coragio! La- mento, 6 meu sumo Bem, lamento e detesto todos fos mens pecados. Confesso minha malicia e ingra- tidgo, implorando a miserieérdia do vosso Cora- fo. Senhor, se quiserdes, podeis limpar-me, Lavai ‘me, eu volo rogo, da minha iniquidade e puri ficai-me do meu pecado, E mesmo dos delitos ocul- tos € das fellas alheias, purificaime 0 coragao. ‘Vinde, Jesus, vinde so mew coraglo. Fazei um azorrague com as cordas do santo temor, da viva igratidio © do puro amor, e expulsai todos os que profanam essa vossa morada. A nenhum deles da- rei jamais entrada, Vossa casa chamar-se-A cdsa de oracio; ai vos hei de oferecer minhas homena- fgens e men amor e entreter-me convoseo, CAPITULO VI Nosso coragio deve estar puro mormente do pecado grave, que é 0 mal supremo 1, Jesus. Acautela-te, meu filho, para que no haja em teu coragio pecado mortal Como podes ou ousas amar ou hospedar em teu ‘coragio o inimigo figadal que, uma vez admiti- do, indubitavelmente te far eseravo do inferno, ‘0 mais miseravel dos homens, mais vil que os préprios seres irracionais? Muitos dizem: “Oh! quantos-males devastam a terra!" Contudo, hd um s6 mal: 0 pecado. E fora dele nio hé outro mal. Evita pecado, e'tudo 0 que te acontecer con- ‘ribuird para o teu bem, 2. E” para admirar que um ser racional esponta- neamente cometa 0 pecado, o qual, por natureza, € tHo indigno ¢ abominavel que, mesmo se nto houvesse eéu nem inferno, deveria ser evitado, por ‘causa da sua fealdade intrinseca, Se considerares fa infinita dignidade do ofendido a imensa bai- xeza do ofensor, vers que o pecado é um mal em certo modo infinite. Quem peca mortalmente ataca o proprio Deus fe, $e possivel fora, 0 destruiria. Pois nfo falta ao pecador a vontade de aniquilar 0 Deus do eéu & da terra, 3, Tio grande mal é 0 peeado que, para exter minar este monstro infernal e satisfazer a justica divina, eu, Filho do Altissimo, desct do trono da ‘minha ‘majestade. Fazendo-me homem, sofri du- 0 rante a vida continuo martirio e finalmente expi- rei na eruz, consumido de dores. ‘Momem infeliz! Como te apraz cometer 0 que tantos sofrimentos me custou? Como queres, por lum prazer momentineo, renovar todos os meus trabalhos, dores © morte acerbissima? ’Pelo pecado mortal, tornas-te réu de erime muito ais grave do que 0 dos judeus, meus carrascos. Se estes me houvestem reconhecldo como 0 Senhor de eterna gléria, nunca me teriam condenado a morte. Tu, porém, conheces quem sou e qual a mi- nha dignidade, pelos beneficios de mim recebidos 4, No foi sé por amor que, além de te haver criado, remido e conservado, sempre, qual o mai temo dos pais, te protegi, vigiei e afaguei? ‘Tudo o que és ¢ tens, eu te dei, e, acima de to: dos 03 dons, prodigalizetme a ti, E é assim que ‘me retribues todos esses beneficios? ‘0 animal irracional mostra-se_grato pelo boca- do de alimento que The atiras. Tu, porém, perse- iguesme até & morte, embora te haja eu concedido bens infinits. Considera atentamente o que deves pensar a. tet respeito. 5.0’ filho da minha eterna dileedo, a quem amei ‘aais que a prépria vida, nfo tomes a pecar! ‘Se me amas a mim e mesmo sete amas a ti verdadeiramente, foge do pecado. Quando cometes pecado grave, morres & vida sobrenstural, perdes todos os méritos adquiridos, anulas o direito a celeste heranca, tornas-te coher~ Geiro dos espiritos infernais, antepbes a desgraca a 4 bem-aventuranga, 0 inferno ao eéu, 0 deménio Medita nisso, meu filho, para aprenderes cabal- ‘mente, segundo @ capacidade da tua inteligéncia humana, quio grande & a malleia do pecado, Des- tarte evitaris o tinico mal que te pode tornar eter- namente infeliz, 6. Diseipulo, 0" minha alma! 0 pecado, eis 0 ‘mal supremo que deshonra 0 homem, colocande-o ‘abaixo dos irracionais, fecha as portas do céu ¢ abre os abismos do inferno! 0” monstro abomt- navel, mil vezes mais horrendo que o préprio de~ minio! 0" meu Deus, sou obrigado a confessar, co- herto de vergonha, que me tornei vil escravo do pecado. Com suma loucura, ingratido e malicia, insultei frequentemente, pelo pecado, vossa tre menda Majestade, que os proprios anjos adoram cheios de temor, Sinto-me profundamente confuso por me ter tomado mais vil que os seres irracionais, cometen- do a iniquidade que a propria razio reprova, € abusando quer de todas as faculdades da alma, quer dos sentides do corpo. 7. 0" Senhor Deus! Gravastes em mim vossa amavel imagem, ¢ eu deform a hedionda efigie do demdnio, e de muitos modos tornei-me ainda mais horrivel do que ele. Pecoit o deménio por orgulho, quando nenhum castigo precedente o escarmentara. Eu, porém, co- hecendo a pena do pecado, por desprezo pequei. Ble, 26 uma vez, esteve em estado de inocénci fenquanto eu intimeras vezes a recuperei. Ele se 2 rebelou contra seu Criador, ¢ eu contra o meu Re- dentor. Misero pecador, por um nada ou coisa mais vil ‘que o nada, rejeitei espontancamente a vossa ami- ‘zade, a feliz paz da alma, o direito a eterna bem- faventuranga. Entreguei-me como infortunado. es- ‘eravo ao deménio, compartilhando desde agora sua desgraga e destinado a participar um dia dos seus felernos tormentos, se mio me arrepender e encon- trar miserieérdia no vosso Coracdo, '8, Na verdade, Senhor Jesus, nfo sou digno des- ta miseriedrdia, da qual tantas vezes abusei. Nao ‘sou digno de vos servir, j4 que me escravizel ao deménio, Se quiserdes tratar-me como mereci, mi- nha morada serio inferno. ~ Porém, 6 Deus, meu Salvador, infinita ¢ a miseri- -cérdia do voss0 Coragdo, como 9 provam meus prb= rios pecados; pois, se no fora infinita, jamais teria suportade © mal infinito dos meus pecados. 0" Jesus, tende piedade de mim, segundo a vossa ‘grande miserieérdia, Com instincia peco indul- séneia e espero que perdoeis a este misero peca dor, Pesa-me sinceramente dos pecados cometidos fe proponho firmemente servir-vos dora em diante ‘com fidelidade © amar-vos com fervor. CAPITULO VII Nosso coracio deve ester puro ‘iesmo do minimo pecado 1, Jesus, Filho, purifica teu coracio de ‘toda culpa e evita com’diligéneia a macula, mesmo do menor pecado, Nada hd, nada pode haver que nos fore licito cometer um pecado, embora leve. 6 Se deste modo pudesses salvar 0 mundo Jateiro, ainda assim seria ilfeto ofender-me mesmo na me~ nor coisa, visto ser eu infinitamente superior a0 Ha pessoas que evitam pecados graves, mas sem escripulo cometem leves. O que € sinal evidente de se deixarem governar mais pelo amor proprio do que pelo meu amor. Estes infelizes, porém, hao de conbecer, com prejuizo seu, quanto se iludiram, 2. 0 que despreza as coisas pequenas, aos poucos cain nas grandes, Habituado gradualmente a jul- gar tudo leve, pensaré andar bem, quando come ter, sem muito remorso de coneiéneis, eulpas maio- res. Se apraz.ao insensalo caminhar & beira do pre~ cipicio, com justica acontecera que, escorregendo- Ihe 0 6, eaia no abismo, Evita, por conseguinte, 0 pecado venial, se niio queres cometer o mortal. Exporis ao petigo tua salvagio, enquanto con- sentires mesto na mais leve culpa, 8, Muitos parecem sentir profundo horror de re- novar a minha morte com um pecado mortal. Con- tudo nfo cessam de eausar acerba amargura a0 ‘meu Coracdo e afligilo com dores contintas por melo de culpas leves, Ah! meu filho! Considera sempre mais e reflete atentamente no que fazes. Querendo causar apenas leve ferimento 20 meu Coracio, talver te enga- nes; como a muitos acontece, e com golpe mortal © traspasses, “ (0° insensatez do coracio humano! Muitos, re- ceiam mais ofender a um homem. do que # mim, ‘seu Deus ¢ Salvador. ‘4. Enquanto continuares a pecar, mesmo venial- mente, andarés mal ¢ no gozarés a verdadeira felicidade. ‘Se tens empenho, como convém, em aleancar & perfeigio, his de trabalhar em vio, por mais que 2 ela aspires, enquanto nfo evitares todo pecado voluntirio. Pols o pecado venial diminue a caridade, causa ibieza, corrompe 0s atos de virtude, obstrue a Fonte das gragas ¢ socorros especiais, enfim, pri- ‘vando aos potieos « alma de todos os bens, deixa-a 5, Na majoria das vezes, por que se torna 0 ho- ‘mem eulpado de tantos ¢ to grandes males, seniio por causa de algum vio interesse ow prazer? Reflete, porém, no real prejuizo que dai procede fe nas graves penas a sofrer no pungatorio ‘Ai se padecem tormentos maiores que todos 08 suplicios deste mundo ¢ superfores a quaisquer ma- Tes desta vida. E de lé nio sairés, até haveres pago 6 tiltimo vintém (Mt 5, 26) Com que veeméneia entdo te hé de pesar have- ‘res cometido mesmo 0 menor pecado, que senti- is ser a causa de estares ainda privado do céw f sofrer severo castigo! Ndo queiras, meu filho, frustrar os desejos e esforgos do meu Coragio para tomar-te feliz, Nao sejas tio irrefletide que pre: firas, contra a minha vontade, ser infeliz, ©. Disefpulo. Senhor, no & pequeno mal o pe- cado venial, pois que ofende vossa divina Majes fade, fere vosso Coragio, priva a alma de gracas € socorros especiais, impede o desejavel progresso, corrompe.o bem, abre caminho para a perdicao, expe a salvacdo & etema ruina e fecha o eét a0 calpado, E ext julguei pequenos to grandes males! Oht ue insensatez! E, o que é peior, cometi tais pe- eados sem nimero, sem medida, chegando 20 ex. feesso as minhas transgressses! Onde tiveram termo? Quantas sfio as poténelas da minha alma, os sentidos do meu corpo, tantos ‘sio os géneros de pecado. Quantos foram vossos dons ¢ beneficios, tantos foram mets abusos e in. aratidées. A cada espécie de ocupacio corresponds uma multidio de faltas, Ai, qual a minha acdo, ‘mesmo entre os exercicios de religito ou piedade, fem que nio se encontre defeito? 0° minha alma! Cometemos tantos pecados por inadverténcia, surpresa, fragilidade. Nao deveriam bastar? Seria ainda mister acrescentar a estes ou tos mais graves, provenientes de negligéneia, livre vontade, malicia? Eis 0 que retribuimos ao Senhor, cuja hondade nos fax viver, a cujo amor devemos quanto somos © possuimos! 7. 0° Senhor Deus, meu Salvador! Se, pela grax vidade e multidio de minhas culpas, no me perdi completamente, reconheco devé-lo & benignidade do vosso Coragio. Foram vossas misericérdias, Se- hor, que nao me deixaram ser consumido, 46 ‘Mergulhado: no Jodo, faltou-me a forga, envol- ‘Veram-me as trevas, desfaleceu-me o cara. Sem- pre mais me afundo e, em consequéncia da fra- ‘queza, nio consigo libertar-me, Quéo grande é a minha miséria! Oh! quem me daré lagrimas aos olhos ¢ vigor ao coraeio para chorar e mover-vos, Senor, a socom Tende piedade de mim, 6 bom Jesus, ¢ livrai- ‘me; purificai-me e renovai-me totalmente. Inflamai o meu coragdo no amor do vosso Co- ragio. Neste divino,fogo, consumi as minhas fal tas e no as reserveis para as chamas do. purgats- io, Rogo-vos seja eu aqui abrasado e purifiesdo no fogo do vosso doce amor, ¢ nio nas chamas ex. piatorias, Duleissimo Jesus, por vosso amor farei o que ‘agora no fiz por temor: por vosso amor evita- rel todo pecado, mesmo o mais leve, CAPITULO 1x 0 corecdo do pecador ‘ndo pode provar sendo a amargura de inflicidade 1. Jesus. Carissimo filho, se chegares ao ponto que teu coracdo nada mais tenha a repreender-te, alegra-te, Ainda mais alegra-te, porque a paz, qual rio de felicidade, te inundaré. O bom coragia tor- nna a alma ditosa, alegra 0 eéu, atemoriza 0 infer no. Porém 0 mau eoracdo enche de infortinio 0 pecador, inspira compaixiio aos habitantes do céu, ‘causa aos demdnios iniqua alegria e exultacio, a” Tmagina todas as calamidades possiveis. neste mundo, nunca igualarés o mimero das que 0s pecadores trazem no coracio. Quio pesada e abjeta & a escravidio do peca- dor! Quantos lagos fortissimos 0 prendem sob o poder de vilissimos senhores: 0 deménio e as pai- xbes trinieas ‘Nele a inteligincia esti ligada por crassa igno- rincia, que nfo o deixa conhecer a verdade. Sua ‘ontade acha-se cativa de abominavel maliefa, que impede de amar a bondade. ‘Traz os sentidos presos pelos vinculos da con- cupiseéneia, de modo a nfo seguir a honestidade. ‘Todo oprimido ao peso das cadelas dos maus de- sejos, nfo consegue alcancar a suave liberdade da graca, 2, Quem haverd mais insensato que o pecador, sendo ele mesmo a causa da sua extrema miséria? Se hit na terra um inferno antecipado, eertamen- te se encontra no coragio perverso que, inflama- do no fogo das paixdes, padece todos os tormentos da ma conciéncia. Como pode jamais slegrarse aquele que sabe ‘que, se 0 fragil fio da sua existéneia se quebrar, terd de preeipitarse nas profundezas do inferno? [Niio sei como ousa entregar-se ao repouso notur- no o que ignora se nfo ha de despertar como ré- probo na eternidadet 3. EP impossivel ao coragio humano nfo dese- jar 4 felicidade. Mas 0 pecador, arrastado cega- ‘mente por inelinagdes indémitas ¢ desenfreadas, erent busca a Felicidade onde s6 encontra maior infor tito. "Alguns pareeeta julgar que, satisfazendo seus de- sejos ¢ eontentando-os plenamente, terfo a paz, quando os virem realizados. Que grande erro! ‘Quem apaga um incéndio, langando novos com- Dustiveis no fogo? Nao seria aumenté-lo em ver de extingui-lo? Emibora alguem sacrificasse as suas paixdes @ salvagio da alma e a saude do corpo, nem por is- So estariam estas satisfeitas ¢ clamariam: “Somos thas, alimenta-nos! ‘Oh! se a todo olhar se patenteasse 0 coracio do pecador, quantas misérias e horrendos objetos.ai fe veriam! Entretanto, para mim todas as coisas ‘sio abertas e manifestas, € ninguem € eapaz de en- ganarme, ainda que posse iludir os homens. ‘4. A tal ponto chega 0 coracio eseravizado 208, ‘maus habites que nada pensa, nada ama, nada facha delicioso a néo ser © que pode contentar-the ‘i coneupiseéncia: destarte, sabendo embora que ¢&- mainha para o abismo da desgraca, pouco Ibe im- porta, e, como estélido animal, corre apés seus haus desejos, conculeando nfo s6 os bens eter tos, mas até a honestidade, a honra e a prépria Vida. Nio carece 0 pecador de inimigo que o ofen- dae atormente, pois ele mesmo é o seu maior ini rmigo e mais cruel verdugo. Dos objetos em que busca seus deleites ¢ sa- tisfagées, Teeebe em geral miltiplos tormentos. 5. Como pode gozar de paz, quem fomenta no sett intimo eausa de perturbacdes? Como pode, rout A Jus — 4 9 luma ver sequer, respirar livremente quem é es- eravo do deménio? Quio infeliz deve ser aquele em eujo coracio Salanaz tem permissio de dominar e estabelecer © seu tronot Bem-aventurado quem jamais experimentou a eseraviddo do deménio e nunea gemew sob os gr Ihdes do pecado! Filho, se ainda nfo sentiste o inforttinio do es- tado de pecado, alegra-te com todo o eéu e jamais queiras experimentar o servico do diabo. ‘Se, porém, miseravelmente Ihe estis sujeito, com- padece-te da tua alma. Com ardor rejeita 0 jugo do inimigo, rompe teus lagos para gozar a liber- dade dos fithos de Deus, 6. Discépulo. 0° Senhor! Quito grande infeliei- dade @ 0 estado do pecador! Como ele é infeliz neste miseravel estado! Qual poder ser sua paz ‘ow alegria, tendo por inimigo a vés, 0 Onipotente, conhecedor de todas as coisas! Nao ignora estar banido do vosso Coracio, seu iiltimo refiigio, e tem coneiéneia de que a cada momento pode ser lan- ado no fogo eterno! Como é infeliz a alma que nilo pode contemplar © céu sem lembrarse de haver perdido o direl to de nele entrar! Se lanea o olhar em torno de si, parece-the ouvir exprobragies e todo aconteci- ‘mento a enche de terror. Se abaixa os ellos, taci- tamente nio pode deixar de recordar-se que’ in- ferno ¢ sua morada. Como € infeliz, por nfo poder voltar ao préprio coracio, sem af encontrar Satanaz ¢ os tormentos. 50 de wm inferno antecipado, onde no hé algo de alegria ou consolacio, porém s6 horror e trevas, temores e angistias! 0° pobre alma! Como estis mudada do estado fem que te achavas, quando, adornada com a graca celestial, nobilitada pela adopedo divina, eras tio bela, tio sublime que causavas admiragio aos san- tos ¢ anjos! Como 0 pecado te deformou, tormando-te toda abjeta e vill 7. O” Jesus! Quem me dera, mesmo a eusta da propria vida, fazer com que tio miseravel estado jamais houvesse existido! Oxali nunca tivesse eaido em tal desgraca antes houvesse perdido a vida do que a tua gracal Bem-aventurados os que jamais perderam a em experimentaram a infelicidade do estado de pecado! Restitui-me, ou vo-lo rogo, a minha primeira ves- te. Restaurai-me a inoeéneia, para que vos sitva em nova vida e a conserve imaculada perante vés até ao fim dos meus dias. CAPITULO X 0 Coracio divino « todos shame, ‘mesmo os pecadores 1. Jesus. Vinde a mim, todos os que padeceis ¢ estais acabrunhados, ¢ en vos aliviarel (Mt 11, 28). Quem é justo, venha justificarse ainda mais. Quem ¢ tibio, venha afervorarse. Quem é peca dor, venha purificar-se ¢ santificar-se. . at eT TE Ai da fragilidade huimsina! Qual 6 6 homem que rio tenha pecado? Quem disser no ter pecado, lude a si mesmo, ¢ a verdade nfo esti nele (I Jo 1, 8). 2 Meu fitho, se te sentes earregado de peca- os ou defeitos, eorre ao men Coragi, onde his de recuperar liberdade ¢ alento. Ndo te deixesate- ‘morizar pelo niimero dos teus males ou pela gran- deza da minha Majestade, Nio vim chamar os jus- tos, mas os pecadores & peniténeia (Le 5, 22) Quanto maiores sio as misérias a opriminte, tanto mais de ti me compadeso, pois 0 que esta mais enfermo, mais necessita do médieo. ‘io me surpreendem tuas misérias, ois cohego teu coragio ¢ a fragil matéria de que és feito. Se ni caiste em maiores males, prineipalmente 0 de- yes i minha graga. Admiro-me, porém, de que, ‘oferecendo-me ett a curarte, nfo o queiras, ou, 6 queres, parecas duvidar da minka bondade. ‘Ab, filho! Nio fagas tio acerba injéria ao men Coragio, que se compraz em perdoar © nio se ean- ss do fazé-to ‘Vé com que hondade trato os peeadores verda- deiramente arrependides, a ponto de ser chamado amigo dos pecadores! 3. Onde’ esti 0 coracto capaz de amar como © ‘meu Coracio? Nio hé maior earidade do que dat 4 vida por seus amigos; eu, porém, o Filho de Deus, exeedi essa caridade, pois dei a vida por ‘meus Snimigos. 52 Quem jamais foi o primeiro a amarme? Quem sme consagrou seus afetos, sem haver antes experi- mentado os efeitos da minha dilecio? 4, Sendo mui numerosos os que perdem a ino- ceéncia antes de conhecé-la claramente ou apre~ ciarthe o valor, a grande gloria do meu Coragao consiste em triunfar dos seus coragées e fazer dos pecadores santos. Ohi Se conhecesses a earidade do meu Coracio, ‘compreenderias com que ternura ama as almas fidis e com que suavidade busca os pecadores. Quem sofre, sem que o meu Coracio se compa- ‘deca? Quem peca sem causarthe magua? Quem se acha enfermo, sem que meu Coracio Ihe dé remédio? Quem ¢ infeliz, sem que o meu Coragio 6 sinta? Quem hé, finalmente, neste mundo que “no deva benefiefos ao meu Coracio? 5, Sou o bom Pai que aos filhos gerados na Cruz abrago com o amor deste Coracdo que Thes per Imanece aberto, para eneonirarem em todo tempo, nao um asilo qualquer, porém o préprio centro das minhas afeigbes. Enquanto dormem, vela 0 meu Coragio para guardi-los. Quando acordados, euida da sua con ‘Tao grande amor arde em meu pelto para com les que a cada um amo e acarieio como se fora © tinico, Se algum deles, seduzide pelo inimigo, de mim se aparta, déi-me o Coracio como pela morte de um fiho nico, Com amor acompanho o fugitivo; con- ‘vido, insisto, prometo. Se, porém, no me quer ou 53 | | vir, tenho pacitaia e, permanecendo & porta do Seu eorugto, ato com frequencia, Finalmente se decide volar mim, corrode ao encontro para estreltilo 20 pete, e 0 met Cov ago exultn por ver junto de si slp ¢ salve, 0 filho a quem’ pranteara como mort Cielo de alegria,convido todo 6 céu a congrne tular-se € exultar comigo. bs 6. Portanto, se queres confortar o meu Coragio, slegrar o céu e refrigerar tua alin, volta a tity de todo 0 coragao, Quer tenhas graves ou leves pecados, vem ao 1meut Coragio, onde encontrards temedio para ex tous anaes. Confianga, meu filo, fo temas. Chamo-e nfo para exprobrarie, mass, para apagar ae tas Iniguidades. Vem, fiho, vem! Espero-te de bragos abertes ¢ com 0 Coragio ardent. 7. Disipulo. Coro a vés, cheio de eontiang, 6 dluleissio Jesus, aniznado pela imensa bondade do vosso Coragao, ‘Ao chegar, camo, suplieante: “Recebet com ele mincia 0 filho prédigo que volta de regio lon aingua, seabrunhado de pesados ¢ repleto de mi Nao sou digno de ser chamado vosso filho, pots szve tio indignamente vor abandonel e com prt. Yes lrajes vos afi Pequet contra 0 céu e perante wis. Culpado, ‘uso langarsme nos vossos bragos: eisme 2 ‘vossos pés, prostrado no pd, apelando para 0 vos- s0 Coragio patemo, para obter 0 perdao. ‘Vos me chamastes, quando de vés fugia, buseas- tes:me, quando perdido, suportastes os abuisos que fiz da vossa bondade, com admiravel dogura me incitastes a convertersme. Agora que vollo neste risero estado, nfo 6 me recebels, mas ainda me acolheis nos vossos bragos. O° Jesus! Nfo hd pal semelhante a v6sl TRegozijemse e alegrem-se comigo todos os an- Jos e santos e jantamente louvem e exaltem para ‘sempre vossa misericdrdia! Bis que agora sou per- petuamente vosso. Com fidelidade vos amarei, 6 Senhor, ¢ por vosso amor cumpriret todas as vos sas vonted CAPITULO XI Como comerar a puritcar 0 coragéo 1. Diseipulo, Inimeros motivos, Senhor, impe- em-me & perfeita emenda. O eéu exelta-me & es- peranga, 0 inferno ameaca-me, A cada momento posso passar da terra a elernidade. Outrossim, © meu coragio, cumulado de vossos dons, impelido pela propria miséria e atraido pela ondade do vosso Coragio, nio cessa de estimu- lar-me, Como hei de executar to grande obra, & qual ‘me vejo obrigado, sem encontrar, todavia, os melos de levi-la ao termo? Ensinai-me, en vo-lo rogo, 6 om Jesus, 0 modo de corrigir-me e reformar-me. ‘Toda gloria dai proveniente sera vossa e do voss0 amantissimo Coragio. 35 2. Jesus. Filho, se queres purificar coragio ¢ extirpardhe' os vieios, empreende a obra com sgrande coragem e generosidade. Conserva 0 bom ¢ firme propésito de corrigirte fe munca desistas no empenko de aleancar a perfeita purifieagdo. Nutre ao mesmo tempo sincero dese jo de cooperar com a graca divina e seguirihe ‘as inspiragdes, Destarte veris teus esforcos coroa- dos de feliz éxito. 0 firme propésito é da tua parte o primeiro maior meio, do qual todos os demais recebem for- ‘6a ¢ eficécia’ pois, sem ele, quasi nada consegui- Ho realizar, por mais poderosos que sejam. Esta vontade eficaz de esforcarse sempre com fa graca divina por bem purificar 0 coragio ¢ con cconstitue a primeira espe- serviclo sem técult rranga de aleanar a pareza de coracio, o primeiro ssinal da futura perfeicio, o primeiro distintivo dos faturos santos, e mesmo o primeiro e real ea- racteristioo dos verdadeiros diseipulos do meu Co- ragio. 3, Com esta disposigio de espirito pde mios & obra, Acende em teu coragio 0 sagrado fogo que The constima todos os pecados e vicios. Compreende, filho, minhas palavras. Se tiveres de limpar um jardim inculto, coberto de plantas © ervas daninhas ¢ outras plantas bravas, consegul- rs o teu intento, servindo-te de ferramentas para cortar © matagal © remover o entullio; porém 36 terminaris a obra apés longo tempo e duro traba- Iho, 56 ‘Mas, se ateares fogo a0 jardim, em breve vé-lo- 4s com facilidade inteiramente limpo. ‘Além disso,-em consequéncia da queimada, 0 terreno tornarse- mais fertil e apto a produzir flores ¢ frutos. De modo andlogo, filho, conseguirés purifiear mais rapida e facilmente o jardim do teu coracio, empregando 0 fogo do divino amor, do que por qualquer outro meio. Verds assim teu coragio mais bem disposto a produzir flores e frutos de santidade. 4. Este divino fogo, obté-lo-is do meu Coracio, se a ele recorreres pela oracio, nfo sé de boca, mas tambem do espirito. Medita profundamente nas penas do inferno ott do purgatério, que tantas vezes mereceste. Consi- Gera atentamente 05 meus divinos beneficios para contigo e toda a tua ingratidio. Contempla com diligéneia minhas divinas ¢ in- finitas perfeigSes, dignas de todo amor ¢ honra, fe, doutro lado, tuas ofensas absolutamente indie fas, a mim dirigidas. Olha-me tambem exhausto {fe teabalhos por teu amor, sofrendo tanto por teus pecados, suspenso na cruz, com as mos estendi fdas e 0 peito aberto para acolher-t. Finalmente, penetra no meu préprio Coracio fe considera até que ponto este Coragio inocente padeceu por tuas culpas ¢ como foi por elas tor~ turado-e consimido, Ao mesino tempo, por me de frequentes afetos ¢ fervorosas stiplieas, achega fo teu coracio bem perto do meu. Sem divvida, na 87 5. Deste amor procura extrair a contrigio, a dor de todo peendo cometido e o propésito de no mais ‘Sem contrigZo, filho, ninguem obtém a remissio dos pecados, e, se no odiar os vieios, jamais de- les sera curado. Por conseguinte, detesta de todo 0 coraco, quan- to te for possivel, 0s teus pecados ¢ vicios, que ul ‘trapassam todo édio e.abominagao e que nunca po- ders demasiadamente detestar e odiar. Quanto maior for a dor produzida pelo amor Givino, tanto mais perfeita sera tua contrigao, ain da que atualmente no o sintas. ‘Quanto mais pura e sinceramente tiveres pesar dio dos pecados cometides, tanto mais estarés ‘certo do perdio e preservado de novas quedas. 6, E? sinal certo de verdadeira eontricio dos pe- ceados passados, abster-se de cometer novos. Conserva, portanto, 0 firme propésito de evitar tudo o que souberes desagradar-me, ¢ antes sofrer todos os males desta vida do que cometer pecado voluntirio, Acautela-te, porém, para ndo te res, imaginando ser sufieiente qualquer propésit ‘Nao basta um vago desejo, nem uma resolusio fe ta s6 por hibito ou forma. Nao é suficiente o propé- sito inefieaz, pelo qual alguem parece querer. Finge iio querer mais pecar e todavia no quer atual ‘mente empregar os meios necessirios para evitar 0 peeado, E’ mister, filho, que o propésite seja ver~ dadeiramente sincero, firme e eficaz para mo- 58 oragio inflamarse-4 entio o fogo ardente do dl- ‘verte a empregar os meios de impedir novos pe- teados, Aflin de conservar sempre vivaz tal propé- ‘Sito, renova-o amiude, ora com frequéneia, alimen- ta a devogio com exercicios espirituais. Assim, al- ccangaris graga especial, para mais facilmente te tornares constante ¢ poderes perseverar. 77. Diseipulo, Na verdade, Senhor, meu coracio semelha-se a uma terra devastada, onde proli- fera vegetacdo nociva ou jaz a corrupeio. 'E! grande empresa purifiear de todos esses ma~ tes 0 coragio, e por mim s6, acho-me ineapaz de fazer algo salutar. “Ajudai-me, porém, eu volo rogo, com vossa gra «ga eficaz e poderosa, que me permitiré levar 2 bom termo tio grande empress. ‘Ardentemente desejo realizar sob vossa diresio ‘obra tio necesséria, util e santa, e nfo desistir até termini-la, Nao permitals, 6 bom Jesus, que me torne tibio ou negligente, Confesso minha propel 20 0 desfnimo, assim como o habito de negli- jos poucos a obra empreendida com ardor. aime, estimulai-me, aguilhoai-me ‘trabalho, antes de agenelar a ‘Vbs, porém, exci ‘e nio me deixeis abandonar evar a obra a0 desejado éxito, CAPITULO XIt 0 sacramento da Peniténcia 6 meio facil ¢ elicas ‘pera purifier dos pecados e vicios 1. Jesus. Filho, 0 men Coragio, sabendo ser tal fa fragilidade dos homens, que nfo podem viver hha terra sem pear, deseobriu um meio salutary pelo qual alcangam, se dele fazem bom uso, 20 59 86 @ remissfio do pecado, mas ainda aumento de sraca. Deus, segundo sua palavra, 6 fiel em perdoar 108 pecados aos que se confessam, e concede a graca ‘205 que a pedem e procuram viver melhor (1 Jo 1, 95 5, 14) Que seria da maior parte dos homens, se nfo hhouvesse @ Confissiio? Quio poueos se salvariam! Quantos dos que gozam no eéu ou um dia I che- gard, estariam condenados! 2. Bis por que dei & Igreja tal poder que aque- Jes a quem ela perdoar os pecados, ser-Ihes-do per~ doados, ¢ Aqueles a quem os retiver, ser-thes-fo re- tidos (Mt 18; Jo 20) “Por conseguinte, se a inveja, a ineredulidade ou qualquer outro pecado penettarem no coracio de alguem, nio se envergonhe de confessé-los 20 sacerdote, afim de ser por ele curado gracas & pa- lavra de Deus e 20 conselho salutar” (Si0 Cle- mente, no T séeulo) “Se te afastaste da Confissfo, considera em teu coracio o inferno, que em teu favor ela extinguira. Ciente, portanto, que, apés a primeira graca do batismo, ainda ha na Confissio segundo auxilio contra 0 inferno, por que abandonas a tua salva- ‘Gio? Tmagina antes a grandeza do castigo, para nig hesitares em tomar 9 remédio” (Tertuliano, no II séeulo). “Ha, pela Peniténeia, remissio. dos pecados, em: hora Iaborfosa, quando o, pecador lava com ligri- mas 0, seu leito © io se envergonha de buscar 0 0 dio’ a sen pecado, confessando-o ao, sacerdo- te do Senhor” (Origenes, no IIT século). “Para todos & desejavel o remédio da Confissio, porque @ alma é ameagada por maior perigo do ‘que 0 corpo, € aos males ocultos é mister aplicar pronto medicamento” (Sio Lactincio, no IV sé cel) “Confessacte, expele na Confissdo toda a peco- nha, e, em seguida, a cura seré facil. Receias con- | fessar-te, quando, mesmo sem fazé-lo, nfo podes permanecer ocullo? Deus oniciente exige a con- fissdo para libertar 0 humilde; condena 0 que aio se confessa, afim de punir o orgulho” (Santo Agos- tinho, no V século). “Confessa-te de modo que nao voltes ao pecado. ‘A Confissio € util, quando o pecador, ja cones: sado, cessa de praticar o mal que antes fizera” (Sio Fulgéncio, no VI século). ‘Feita a Confissio, abstenhamo-nos de pecar; porém a Confissio precede a remissio" (Santo Tsidoro, no VII século). “A Tgreja, fundada por Cristo, dele reeebeu 0 poder de perdoar os pecados” (Veneravel Beda, no VIIT século). “Og que nfo querem eonfessar os pecados, terlio ‘como justiceiro © mesmo Deus, que agora Ihes & testemunka” (Haimo, no IX século). “Nao é necessirio confessar publicamente os pe cados. Basta declarar s6 ao sacerdote em Confissio secreta os delitos da coneléncia” (Luitprando, no X séeulo). at “Portsnto, a razio move © Deus obriga 0 pe- eador a confessar-se” (So Pedro Damido, no XI séeulo).. “A Confissio & necessiria ao pecador e, nfo obstante, convém ao justo” (Sio Bernardo, no XI séeulo). “De tres modos ¢ mister confessar-se: sem dis- faree, sem desculpa, sem demora” (So Boaventu- ra, no XII séeulo) “0 penitente deve acusar-se, perante o sacerdote, com vivo sentimento de dor e firme propésito de femenda e cumprir as obras que Ihe forem ordena- das” (Tauler, no XIV século). “Bxiste o sacramento da Peniténcia, euja ma téria so por assim dizer os atos do penitente, que se distinguem em tres partes: a primeira é a dor do coracio, a segunda, a confissio oral, a terceira, a satisfagio” (Coneilio de Florenca, no XV séeu- 1), Eis, filho, como desde 0 prinetpio os fitis de todos os tempos"e Tugares do. mundo veneraram ¢ praticaram este doce e salutar sacramento. 3, Que hé de melhor do que confessar-se devi- damente? Pela Confissio © homem Ibertase das ceulpas, reconcilia-se comigo, recebe a paz do co- ragio. Antes sentia-se torturado pelas angistias, depois vé-se tranquilo ¢ feliz (0 sacramento da Peniténcia 6 0 remédio da al- ‘ma, Cura-the 08 vicios, afugenta as tentagies, des- tr6i as elladas do demdnio, infunde nova graca, aumenta a piedade e consolida sempre mais a virtude, a Pela Confissio a alma readquire seus direitos perdidos pelo pecado © recupera a beleza defor mada pela iniquidade. 4. Acontece, porém, que o pecador, a0 aproxi- marse deste sacramento da divina misericérdia, ‘movido pela vergonha ou pelo temor, se precipita no abismo do sacrilégio, e agora nio sb € pecador, porém um horrendo menstro de pecado. ‘Acaso poderiis, homem execrando, esconder-te de mim? Conseguinis impedir que eu te lance no profundo abismo por tf mesmo eavado? ‘Tu saerilegamente ocultas pecados a0 confessor a quem as mais severas leis divinas ¢ humanas obrigam a eterno e absoluto siléneio! Eu, porém, (os manifestarel em tua presenca, nfo a um s6 omem, nem a uma s6 nagio, porém ao céue & terra ea quantos seres existem. Entio, no eimulo da vergonha, chamariss os montes a cobrir-te e sub- trair-te & confusio, Quiseras mesmo esconder-te no inferno, mas no o poderas e ters de sofrer aber- tamente toda a merecida confusio e ignominia. Homem insensato! Nio tiveste pejo de pear pa- ra tua perdicio e ignominia, por que o ters de confessar-te para tua salvacio e gloria? Ora, reflete: Por que his de hesitar em mani festar tua conciéncia aquele que foi estabelecido por mim como meu representante junto de ti? ‘Quando te apresentas como penitente, deves con- siderar 0 confestor como a mim mesmo, porque tentio ele representa minha pessoa e possue o met, poder. 68 Demais, ele é homem e tem suas misérias que deve igualmente confessar como tu, sendo-Ihe esta ‘acusacio tanto mais dificil por estar obrigado a maior perfeicio, em razio de seu sublime estado, Por isso, Deus, em sua sabedoria ¢ santidade, decretou que todos, tanto os sacerdotes como os leigos, fossem obrigados & Confissio, se quisessem livrar-se de pecados graves. E mesmo convenien- te que os sacerdotes, cujas sugradas funcdes exi- gem absoluta santidade, se purifiquem das mais leves culpas pela Confissio frequente. Por esse motivo, tambem os leigos se confessam ‘com a maior Hberdade e confianca aos sacerdotes, estes aprendem por experiéneia a compadecer- se das misérias alheias, a sentir a debilidade dos fracos e a chorar com os que choram. 5, Ha pessoas que se confessam com simplicida- de, porém nfo se corrigem realmente, porque nfo se esforgain com sinceridade por emendarse. Uns aproximam-se do sacramento da Peniténeia por necessidade, outros, levados por respeito hu- ‘mano ou por certo hibito. Nio é pois, de admi rar que poneo ou nenhum fruto colham. ‘Tw, men filho, tendo em vista tua salvagio ‘meu beeplicito, faze cada confissio como se fora a iiltima da tua vida, e bas de experimentar os ses maravilhosos ¢ suaves efeltos. 6, Todavia, conhecendo-te a ti mesmo, é mister saberes que muitas vezes sers impelido a come- ter os pecados de que te arrependeste com 0 pro- pésito de evitélos 6 Nio desanimes, porém, filho, ném te entriste- ‘gas em demasia, Sdo efeitos, nfo da malicia, mas ‘da fragilidade, © constituirio faltas antes indeli- “heradas do que voluntirias. Nisso, entretanto, aprende a conhecer a benignidade do meu Cora io, sempre pronto a perdoar, e a miséria do teu, sempre propenso a arrastar-te com frequéncia a0 ‘mal. Contudo, nfo descures a Confissio, por causa destas fraquezas, Quanto mais fraco te sentires, tanto mais a ela deves recorrer. 7. Alguns receiam a Confissfio © dela trémulos se aproximam, ‘as, se tanto os maiares pecadores como os maio- res santos ai eneontram consolacdo, por que te ator- mentas com ansiedade? Ai os mortos revivem, © 0s vivos reeehein vida mais abundante. Tu, porém, por que tremes, como se caminheras para a mor- te ou o suplicio? ‘Enganas-te, meu fille, enganaste. Nao para tor- ‘mento, mas para consolo, fo instituido este sacra- ‘mento salutar 8, Deixa-te de agitacio e ansiedade. Sou o Deus rio da perturbagio, mas da paz; deleitoame com ‘a boa yontade e no com a inguietagio de espirito. Faze 0 que de ti depende, e confessa-te, como odes, com sinceridade. Em seguida permanece em paz, © nio te perturbes com as sugestdes do inimi- go ou da imaginacio. ‘Meu Coragdo, fillo, € 0 reftigio dos pecadores. Quantas vezes alguem recorrer a ele com bumil- dade e contrigio, nfo o repeliret com desprezo. esos, 4 tse — 8 6 Cheio dé confianga, mergulha-te com frequéneia nesta divina fonte em que o-meu Coracdo lavari tua alma em seu sangue, até torné-la inteiramente limpa e pura (1). 9.0 Disetputo, O* bom Jesus, que invencio sa- lutar e consoladora de vosso Coraciio! Que est penda condeseendéncia e admiravel suavidade, fazerdes do Sangue emanante do vosso Coracio 0 divino lavacro que nos purifica dos pecados! 4) Sefaenos permitido citar como exemplo o fato ad- imiravel e consolador que ce If na vide de santa Maria Badalona de Pazzi. Certo dia, esta santa virgem ache- verse na igrefe. do seu mostelr, & hors das confssoes, expandia o coragio perante Jesus presente no taber- ‘héculo, absorta ‘naa divinas comunicagies. Subtamente fhotow que o mundo espleitual do algum modo se The par fenteave. Via o estado de coda alma, 0 confessarse. No momento da absalvisho exersmeatal, porém, contem= Plava 0 stngue divino de Jesus correndo misticamente obre a alma e lavando de tal modo que se fornava txtraordinariamente pure e bela, Se tal 6 0 efeito de uma 36 Contissio, qual mio serio da. Conflasio frequente! Sea elma se torna tio pura ¢ bela, lavando-se uma 36 Yee no Sangue do Coragko de Jesus, que Ihe € aplicado ho secramento da Peniténels, queis nao serfo sua pu ext e formorara, a2 com frequéncia se purifier. Se 0s fecidos de Tinno cru ¢ ainda encardides se tornam, eom epetidas lavagens, nfo a6 Limpes, mas até mesmo alvos foro. a neve, acazo alma purificada amiude no San- (gue divino de Jesus nfo fear por fim toda pura ¢ ine avelmente bela? Cortamente este pledoso pensamento pode sumentarte © amor pelo sacramento da Penitin: Eine ooupando-te miavemente © expirito, consolarte monzamente 90 reesbelo. 66 ‘Nio houvesse vosso Coragio descoberto este se- ‘gredo, repleto de toda consolagio, quem jamais 0 teria imaginado? Que seria de nés, que seria de mim, se nfo 0 houvereis manifestado? Gracas vos rendam comigo, 6 dulcissimo Jesus, todos os anjos ¢ bem-aventurados, a_universali- dade dos povos e linguas, pela instituigao deste s cramento de forca vital e santificante que salva fo habitantes da terra e enche 0 eéu de numerosos. santos! Afim de nfo abusar de to grande beneficio € dele colher todo fruto desejavel, confessar-me-ei no s6 amiude, mas com diligéncia. Como se me preparasse para a morte, farei sempre, antes da Confissfo, atos de verdadeira dor e bom propési- to, em paz, porém, e a0 mesmo tempo com sin- ceridade. Falarei ao confessor com a mesma can- ‘dura com que vos falaria, se estivessels visivel a ‘meus olhos. Atenta e devotamente cumprirel quan- to antes a peniténcia imposta. Finalmente, esfor ‘garme-ci por ser grato e viver para vs com novo fervor e coragio mais puro. (0° Jesus! Quo grande é a consolagio © a do- gura que experimento quando, neste sacramento {da vossa miserieérdia, minha alma se lava e puri- fica no santissimo ¢ ilibado Sangue do vosso Cora- gio! Lavai-me muitas vezes, eu vorlo rogo, e fiea- rei completamente:limpo. Lavak-me ainda mais e tornar-me-ei mais alvo que a neve. ern ropa eee ener CAPITULO XIII Devemes conlar ex Det quanto 3 renitsto on pecan, depts te acer coe sneridede o ave moralzente de nde dpende 1. Jetus, Por minha vida, juro nfo querer @ sport do pecador, mas sin que te converta © va Se'o peeador fier penténein de todos 0s pees dos eometidos e observat todos os meus precstos, fertamunte viverk e nfo bi de morrer. ‘A impiedade. do impio nfo 0 prejudicark no ain em que se converter os peeadoscometidos no Ihe serto imputados (Bx 38, 1. 16; 18,21. Por que te perlutbes, met fhe, ou tomes des erdenadamente? Tit nfo sot como o bomen, ex- par de mentt ou madar, Acaso dis, enfo fare? Prometi e nfo. cumprirei? Jurel ¢ no sere fel? Por que duvidas,homem de povea £87 Em ver~ dade, o eeu ¢ terra pasario, porém as miahas palavras nfo passario. 2 Hs: que Deus, tou Pal celestial, por tua sal ago, nfo poupon © psiprio Filho, mas, io me- hos por ti do que pelos demais homens, 0 entre fem. Como no dezin tame cam ele todos os Bens: o. perdio, a. perseverance, 0 paraso e to- das as graces? Thm todas as eoiss fosleenriquecido em mim, fo unigénito Filho de Deus, de modo que nada te falta em grace alguma, Peis onde abundow o de- Ito, superabundon a gragn (Tim 5, 20). ‘proximate, portant, chelo de confianga, do teono da grace, afim de aleangares 0 que te € ne- cessitio, 68 an 8. Filho, desei do eéu para arranear-te 20 abisino do inferno. Sofri toda a vida, para que tw fosses feliz durante toda a eternidade. Livremente del- etme condenar & morte para livrar-te da morte eterna, Tudo isto fiz, quando eras meu inimigo. Ove no fre on que poder recuse te agors doe ‘Se teus detitos te aterrorizam, fica clente, filho, ‘que meus méritos so infinitamente mais podero- fos para salvarte, se 0 quiseres, do que tuas cul pas para perder-te, acabrunhado pelo temor. ‘Se por cause das tuas culpas receias o julge mento, lembra-te que eu, teu Salvador, assentado 2 direita do Pai para interceder por ti, seref o teu Saiz. 44, Dilata, pols, 0 teu coragio no Espfrito Santo que reeebeste no sacramento da divina misericér dia, Esse Espirito de caridade, qual fogo consumi- Gor, destruiré os residues do pecado ¢ baniri todo temor desordenado. ‘Se tivesses sido grande pecador, como o Iadro cerucifieado comigo, se, & semelhanca de Pane To. me houvesses perseguido, se, apéstata como Pe- ddvo, mé tivesses renegado, ima vez que te confes- Snste devidamente e recebeste 0 efeito do sacra Shento, todos os teus pecados te foram perdoados. 5. Por que estas triste, meu filho? EB. por que te perturbas? Acaso me julgas um senhor crue! a quem ¢ dificil satisfazer? Engenaste, meu filho, enganas-te muitissimo. No sou eu 6 Pai, cujo Coragio é a prépria bon Gade? Ainda nio 0 sabes? Nio o experimentaste? 9 Nio me ultrajes com a blasfémia de atribuir ‘me sentimentos que me sio tio injuriosos. 6. Meu filho, nito recebeste outra vez o espirito de servidio no temor, porém 0 espirito de adopeao dos filhos de Deus no qual me amas e a mim lamas: Abba, Pail (Rm 8, 15) Nao temas, pois, filho. Nao pereas em misera- vyeis angistias 0 tempo que deverias passar ama do-me na felicidade, Nio so angistias que de ti exijo, porém amor. Confianga, meu filho, conflanca, tetis pecados te foram perdoados. Dora em diante, esforga-te s0- ‘mente por tanto mais amarme, quanto mais te perdoei 7, Disetpulo, 0° Jesus! 0” Amor! O° minha vida! Quio doces ¢ melifluas palavras emanam do vos- 50 Coracio! ‘0° Senhor Deus! Vés me lavastes nio s6 0s pés, as miios e a eabeca, mas tambem a alma e todo 0 meu ser, no vosso proprio Sangue. TLangastes meus pecados nas profundezas do ‘mar, no abismo da miserieérdia do vosso Cora- do, onde desapareceram da vossa vista. (0° Jesus, poderei jamais esquecer a compaixio com que me restituistes a vida? Cantarei eterna- ‘mente vossas miserieérdias, 6 Senhor! Nos sécu- Tos dos séeulos Iouvarei a bondade do vosso Co- ragio. 8, Bendize, minha alma, 0 Senhor, e tudo que bi ‘em mim louve 0 seu sagrado Coragio. Bendize, minh’alma, 0 Senhor, e nfo esquecas todos os seus beneticios. 7 rele que perdoe todas as tuas culpas © cura tod tus” efermidades. No no8 Hat 6 eaity otson peeadas nem 208 Feri confor eae fans iiguidndes; moa com a abundancia das Comaeragdes do set Coragio 29 aDagot- oma um pai se compadeee dos flhos,essim seem sadceea de nin o Senior, porque & DO Sse eterna a sun miseridrdia 9, Ama o Senhor, 6 minha alma! Ama: Jesus, ‘ orgie muitos pecados te perdoos Mien mens aueles quem menos £08 Pe aot, porem, procura corresponder com sentra do few amor a grandeza da sua bondade- Sind dulcnsimo, Jesus, hel de amaivoe com saan? inns forgas, 18 no perdere o t2mPO, va ado mou coragao que hoje vost reine. Beegare! cave tempo de modo melbr, ais wil ‘ama-o muito, fe mais agradavel a vés, Amar-vos-i a todo instan- te; vosso amor sera sempre minha ocupaco. ‘Em paz nele dormirei fe deseansarei (Sl 4, 9). GAPITULO XIV (0 modo de evitar 2 reealda no pecado 4. Filho, se peeaste, nfo acrescentes novos Pe ‘eados, porém acautela-le para 0 futuro, de modo (que nio reeaias nas culpas passadas. - ‘Quando © dembnio é expulso de um coracio, ‘vate toma consigo sete outros’espirites ainda peio- es do que ele e, vollando, procura entrar nova Trente, Se 0 homem no Thes resiste, os inimigos n penetram, ¢ 0 iiltimo estado daquele homem peior que 0 primeiro (Mt 12, 44 s) q Por eonseguinte, é mister resistires de todos os -modos as tentagdes do deménio, se no queres tor- rare presa do inferno, Néo te aflijas nem te en- tristecas, flho, por seres atacado contra tua vonts- de com varias tentagées. Alegra-te, antes, © ani-_ ‘ma-te. Pols & sinal de estares em estado de graga fe seguires meu estandarte, Se pertencesses ao deménio, certamente ele nia ‘combateria contra quem fosse do seu partido. Mas, por seres meu, ele te tenta e procura arrastarte fem sett seguimento, . Filho, a tentacdo niio & pecado, Ao contriio, enquanto te desagrada, € merecimento digno da recompensa divina, Por mais abominaveis que sejam as sugestées do inimigo, nio te perturbes, Seja qual for a veemén- ia com que te solieita ao mal, nfo te julgues aban- donado por mim. Nunca estou mais perto de ti, nem mais pronto a socorrer-te, do que quando te achas nessas tenta- pes. Filho, quando és tentado, eu assisto ac combate como espectador e protetor, afim de que, estimu- ado € socorrido por mim, possas no s6 resistir, ‘mas triunfar gloriosamente. Sé, portanto, valoroso na Juta. Ninguem seré coroado, sem haver legitimamente combatido, e quem vencer receheré a coroa da vida, 8, Visto andares entre inimigos & direita e & esquerda, exposto.a seus ataques intemnos e exter- nm nos, mister estares munido de armas, para que (© adversirio jamais te encontre sem defesa Conserva 0 eora¢do elevado e utiide ao meu, ‘com 0 propésito deliherado © generoso de sofrer tudo € mesmo morrer na guerra, antes do que vat- tarme as costas. Doutro modo, nilo seris capaz de sustentar com seguranca a renhida peleja. 4. Neste combate, dois géneros de armas te so necessirios: umas defensivas, outras ofensivas ‘A humildade servir-te-4 de arma defensiva. Por ‘esta virtude, descontfia de ti e coloca em mim toda 1 tua confianea, Conhecendo a propria fragilidade, evita, quanto possivel, todas as ocasises perigosas. ‘Seria presuncdo indeseulpavel e diga de confu- io buseé-las ou a elas expor-te, mormente tratan- do-se da pureza. 5, Se, todavia, o inimigo te acometer, invoea-me apoiate com prontidio e eonfianga no mew aux xilio Quem ora, como convém, nas tentagdes, nfo é ‘2 oracio, porém, eos- ‘Logo no inicio da tentagio, resiste generosamen- te, ¢ faze com fervor estas siplicas ou outras seme- Thantes: “O" Jesus, escondei-me no vosso Coracio, para que nfo me separe de v6... Meu Deus! Meu Deus, vinde em meu socorro... Jesus e Maria, fapressai-vos em meu auxilio... Senhor, antes mor- rer do que pecar”. ‘Se 0 inimigo prolongar a tentacdo, sé fiel, des- viando 0 espirito do objeto mau e aplicando-o se rlamente a outras ocupagées boas ou indiferentes, B © continua a orar e a resistir, nao com perturba so nem impaciéncia, porém com paz ¢ firmeza. Destarte 0 inimigo fugiré ou desistiré envergo- nhado, 6. Nio te contentes de repelir a Satanaz, Esfor- gate tambem por agredi-lo, Conseguinis este re sultado se, pelas armas que te ofereee o amor di- vino, voltares contra o inimigo suas proprias ten~ tagoes, Todas as vezes que o deménio te tentar, serve-te das tentagies contra seu fim e intento, para unir- te mais fortemente 2 mim, glorifiear-me com tua fidelidade e adquirir maior fortaleza e mérito. Assim, aconteceré que 0 adversirio, apavorado com sua derrota, nflo ousari voltar, ou, se osar, 86 te dari ensejo de alcancar mais ilustre vité- ria e mais fillgida coroa, 7. Se algum dia tiveres a desgraga de cair, er- ‘gue-te sem detenca e combate com mais humildade € coragem, evitando mormente eapitular e eseravi zar-te a0 inimigo, Muitos, depois de haverem combatido com de- nodo, ja prestes a aleancar a vitéria, desalentados com a importunidade das tentagdes, pereceram miseravelmente em vergonhosa capitulacdo. Avan- te, meu filho! O combate é breve, 0 prémio, eterno. ‘Sé magninimo. Grande parte a vitéria depen- de da coragem, que dispse o espirito para a gra fe, eleva 0 coracdo, aumenta as forcas, modera © sofrimento, aterroriza e enfraquece 0 advers “ ea Por mim, teu Deus ¢ Salvador, pela tua! salvae so, pela coroa eterna e pelo reino dos.eéus, pe- Jeja_valorosamente, oferecendo espeticulo digno de Deus, dos anjos e dos homens. 8. Discipulo. Gracas vos dou, 6 bom Jesus, por ‘dextrardes minhas mios para o combate © meus dedos para a guerra (SI 143, 1) Assim me confortais o coraco, dando-me tanta coragem que me sinto pronto a exercitar as for- fas e Iutar viriimente. Por mim mesmo, entretanto, sei e confesso ser fraco ¢ pusilinime. Entregue mim priprio e 36 confiado nas minhas foreas, que devo esperar se- no vergonhosa desercio e miseravel derrota’? Dai-me, vo-lo conjuro, a graca de no presumir, niio me expor yoluntariamente, com prudéneia evic tar toda ocasitio de queda e assim subtrair-ane a to- as as eiladas do inimigo, ‘A qualquer hora que me virdes atacado pelo adversirio ou pelejando com ele, Ievantal-vos, ett volo rogo, correi em meu auxilio, porque vés, Se hor, sois a minha fortaleza Assistisme, vo-lo suplico. Coloeai-me junto de vos, € qualquer poténcia poder combater contra ‘mim. Convosco vencerei, convoseo triunfarei. CAPITULO XV © modo de extirpar pola raie os vicio @ deteitos 1. Jesus. Filho, para aleancares a perfeita pu reza de coragiio, ndo basta ter boa vontade, medi- tar ¢ orar com frequéncia, amiude confessar-se pie dosamente. Na verdade, siio meios eficazes, neces- % sirios, que nunca devem ser omitidos nem descu- rados. Todavia, por si s6, ndo sio suficientes para des- arraigar os vicios ¢ defeltos. Por isso, fazse mise ter empregar, aldm deles, outro meio capaz de ex: tirpar as raizes nocivas e assim purificar-te perfel- tamente 0 coracio. ‘Tio salutares e doces efeitos so produzidos de ‘modo admiravel pelo exame de conciéncia. Este pequeno exercicio, na aparéneia insignificante, € cficaz ¢ mais ajuda que uma espada de dois gu- ‘mes, ¢ penetra até & divisio da alma e o discerni- mento dos espiritos, perscrutando os pensamentos e intengdes do eoracao. Serve igualmente para extirpar os maus hébitos © 08 defeitos e, 0 que ainda é mais admiravel, fazer adquixir sélidas virtudes e aleancar a perfeicio. 2. Hid tres espéeies de exames. O pri nado a conservar 0 recolhimento de espirito, eon siste em entrares no coraeqo em dada oeasio, pers- cratando-the examinando-lhe brevemente os mo- ‘vimentos e os abjetos com que se ocupa: 0 que fez, de que modo o fez, e como procederd no fu- ‘turo. As ocasiges para fazer este ripido exame de- ‘vem ser frequentes, a saber: no comeso € no fim das principals agGes do dia, quando se te apresen- ta aos sentidos ou & mente algum objeto que te possa tentar ou eativar, e tambem quando caires fem alguma falta Igualmente quando encontrares alguma dificul- dade que te preoeupe ou perturbe; enfim, todas as iro, dest 6 vyeres que por notavel Iapso dé tempo nfo houve- res entrado em ti odes fazer este exame facilmente em qualquer tempo e lugar, mesmo em presenga de outras pes- soas, sem que elas o suspeitem. Nenhuma difieuldade oferece este exercicio. No comego é necessirio, porém sem esforco, aplicares ‘a atencio; e em breve his de adquirir este abi santo e consolador, do qual colheras os mais saluta- res e staves frutes. 3, O segundo & 0 exame geral. Deve ser feito uma ou duas vezes por dia, durante alguns mo ‘mentos tnicamente a isso consagrados, nos quais ‘a ti mesmo prestarés contas da tua vida. Depois de dar gragas a Deus e pedir a luz vvina, perseruta e examina de que modo te portas- te exterior e interiormente, desde o iiltimo exame. Examina teus pensamento, palavras e obras. Considera quais os pecados ou faltas por eles co- ‘metidos, Por fim toma nota de tudo, ao menos na ‘Se jé aprendeste algo da vida interior, coloca teu eoragio junto ao meu, e, comparando-0s, ob- ‘serva a diferenga entre os pensamentos, sentimen- tos e atos de ambos. "Averiquados assim os defeitos e culpas, consi- derando e reconhecendo tua ingratidio aos meus ‘divinos beneficios, faze 0 ato de contrigio mais perfeito possivel e implora a graca para te emen- dares ¢ progredires mals. 4.0 terceiro é 0 exame particular, cujo escopo 6 extirpar separadamente um 86 vielo ou defeito. 7 Admiravel e inerivel & a forga deste exereivio. Oxalé, filho, 0 conheras bem e o pratiques devida- mente! ‘Nao ha costume tio Inveterado nem viefo tio grande que no seja yencido e superado por este ela graca divina, possue este exercicio de certo modo todos os efeitos. Por ele, quantos pecadores se libertaram de vicios que pareciam como uma segunda natureza! Quantos homens foram inteira~ mente purifieados! Quantas almas aleangaram a perfeigio! Sejam quais fore teus defeitos, coragem, fi- tho! Certo da vitéria e da futura liberdade, empre- gga este meio com diligéncia e constinciat ‘Ataea em primelro lugar 0, vieio que for justo motivo de ofensa ow esefmdalo do préximo, ou 0 principal dos teus defeitos. Prostrado © chefe, os ‘demais facilmente sero derrotados. 5, Fis de que modo deves proceder: Pela mani toma resolucgio deliberada e firme de evitar parti- eularmente neste dia a falta que houveres decidi- do extirpar; ao mesmo tempo, implora a.graca de seres fiel ao teu propésito Em seguida, uma ou duas vezes por dia, & hora do exame geral, perseruta durante algum tempo quantas vezes, desde o tltimo exame, faltaste a0 propésito particular e marca ¢ nimero das que~ a ‘ers, entdo, arrependimento nfo sé de twas culpas em geral, mas tambem dessas faltas em particular, renovando a resolugio de acautelar-te 8 TORS particularmente contra elas ¢ implorando. do eéu peculiar auxilio. Entrementes, filho, se notares que te tornas i diferente ou descuidado, seri de grande vautagem impores a ti mesmo algum castigo, todas as vezes que faltares aos pontos do exame particular. 6, Para empregares com retido e perseveranca ‘este e outros meios, necessitas de um guia que te dirija, instru, forme, governe ou estimule, e sem- pre anime, Ninguem é eapaz de andar s6 e privado de guia pelo caminho da vida espiritual e interior, sem ex: por-se aos perigos de transviarse, perder alento, air nas ciladas dos inimigos e mesmo perever. ‘Ainda que fosses santo ou apéstolo escolhido, precisarias de algum guia, Acaso Paulo, embora fosse vaso de eleicio, destinado a pregar meu nome as nagées, nfo foi, segundo minha exorta- ‘elo, instruido e divigide por Ananias? Nao foram (5 santos formados na santidade por outros que santamente viviam? Reza, pois, filho, para que merecas ter um guia segundo o meu Coracio, que seja teu confessor, Superior, ou alguma pessoa revestida de autorida- de, perita e experiente nas coisas espirituais e do- tada de 2clo e prética da vida interior, ‘Aesta pestoa, meu filho, abre teu coracio. Em certos tempos ott ocasiGes, presta-the contas da tua vida, para veres se procedes bem. Interroga-a so- bre 0s pontos em que deves emendar-te e progre- dir, e sobre o modo de fazé-o. ” A matéria desta manifestactio do interior costu- ma sera seguinte: indicar qual é 0 estado habi tual da alma, tranquilo ou perturbado; quais os {eis desejos de vida mais perfeita e os obsticulos ‘a impedir-te; quais 0s exereicios de devocio e mor- lifieacio que costumas praticar. Qual o teu método de meditar e orar, e o gozo ‘ou fruto que ai encontras; quais os teus livros es- pirituais; se convém ao presente estado de tua vida interior; se 0s Iés de modo devido e provel- 1030. Como frequentas os santos sacramentos; qual ‘a tua preparagio, os sentimentos de piedade, a acio de gracas e 0 afeto Qual o método adotado para os teus exames de conciéncia; quais os.meios empregados, © 0 fruto que daf auferes. Como desempenhas as obrigagdes do teu estado, 08 deveres de oficio e as agées ordinarias; qual 0 ‘movel ow principio das mesmas; a natureza ott a graca; qual a tua solieitude © o fim que tens em Como procedes em relacko a0 préximo; qual a disposicdo de teu coragio, qual a vantagem out pre- juizo provenientes quer para ti mesmo quer para outrem, Qual a tua fidelidade em obedecer as inspiragées divinas; quais os teus afetos para comigo; até que onto te comprazes nos sentimentos intimos do meu Coracio. Com humilde sineeridade © docil earidade, de- clara modesta e Iealmente ora uns ora outros dos 80 ontos acima mencionades, conforme tua necessi- dade ou provelto. ‘Se assim procederes, acharis esta pritica faell, utilissima ¢ cheia “de consolagées (1). 7. Diseipulo. Senhor Jesus, para realizar todas ‘essas coisas, necessito muito da luz celestial, afim de descobrir os meus defeitos, e do socorro divino, ‘com que possa extirpé-los Ha muitos que esto ocultos aos olhos humanos ‘e nfio podem ser vistos por mim nem indicados por 1) Sendo de méxima importinecla « pureza de eorasio, pparoce-nes util resumir aqui of meios que em diverses Tugares foram indlcedos para obiEla: 1. A voutade firme o constante de progredir. 2. A oragio, quer men tal, quer voeal, regular e frequente. 3. A pledosa e tre ‘qeonte recepato doa sucramentos. 4. A prdtica fel do {iplice exame, mormente do exame particular. 5. A manifesto sincera da vida Interior ¢ reeiprocamente 4 santa deco. Quem empregar devidamente estes melcs, bterd sem divida a pureza de coragio, exigida ord rariamente pelo Senbor. Se, entretanto, Deus qulser algo de extraordinirio, providenciara os meios que neakum outro poderé.fornecer. Como todas as coisas costumam ser consereadas polos mefos que as produsiram, guarda- is tambem a pureza de coracio pelos melos indieados Dara obtéla. Sio cates maios co “cinco piles de propo: sigio que devem estar sempre diante do, Senhor, novos fe frestoe" (Hb 9, 2), Com 0 mesmo culdado, é mister fempre empregé-los. Para que nio te suceda entbiar-te por neplisineia ox fragiidade, examina e manifest tam- ‘bam de que modo os empregas ¢, se houver algum des- {alecimento,euida em reeuperar quanto antes o primeiro fervor. B, enquanto empregares estes mice, mesmo com ‘iligénein comm, teria tal consolador do estares 20 ‘bom camino que conduz & perfeicio, aL outrem, sem a luz sobrenatural. Se, porém, com 0 fulgor dessa divina luz, fluminardes o meu intimo, aparecerio os defeitos grandes e pequenos. Como 68 raios do sol brilhando num aposento, mostram. (08 préprios iitomos a encher toda o espago, assim sa graca, iluminando o men coragto, revela os fintimeros defeitos, que eu nem sequer suspeitara Mas de que serve conhecer os defeitos, quando niio se pode arraneé-los? Por isso, earego tambem. de vosso auxilio, sem o qual nada posso fazer pa- ra a salvagio, Por wosso sagrado Coragio, 6 Senhor Jesus, 1o- go-vos com instineia conceder-me continive abun- dancia dessa dupla graca, para iluminar-me e so- correr-me, Sem esta graca, nem a minha aplica- cio, nem a solicitude do diretor, por mais que zele € se esforce, consequira algum resultado, Por conseguinte, vés, 6 Jesus, sabedoria eterna, jondade infinita, sois © meu primeiro Dire- ime, seja diretamente, seja por intermé dio daquele a quem escothestes para vosso substi tuto externo, e 20 qual falarei como a vés mesmo. \ CAPITULO XVI E mister apartar do mundo o coragé se queremos imitar 0 Coragio de Jesus 1. Jesus. Ai do mundo, filho! Ai do coragio apegado as suas sedueses © vaidades! ‘Nio basta expulsar do coracio a satanaz. Ainds € mister dai banir 9 mundo. Se nutrires no intimo a alma amor ao mundo, de poueo valeré tudo 0 que fizeres para tua completa emenda, 2 ‘0 mando, continuando a envenenar-te 0 coracio, sem divida conseguiré perverter-te e por flim en- tregar-te ao poder do demidnio. 2 Que é 0 mundo senio o amor desordenado © perverso dos prazeres, riquezas e honras, pelo qual seus sequazes so seduzidos e se tornam corrompi- dos e corruptores? Se queres saber o que deves pensar a seu res- ppeilo, considera como eu o julguel. Passel distri- buindo meus beneficios a todos, Amei os inimigos ‘que me perseguiam, Pregado ao madeiro da eruz, ‘orei pelos que me erucificaram. Pelo mundo, po- ém, nio rezel ‘© mundo procede do diabo © acha-se todo sob » poder do maligno. Nao pode possuir o meu Espl- rio, assim como a mentira nfo pode encerrar a verdade, nem a corrupcio a pureza. 3, 0 mundo por si mesmo prova nilo s6 a reali dade, mas tambem a necessidade do inferno. Que hit de comum entre © mundo e o meu Cora- eo, quando 0 mundo aberta e ocultamente favo- rece todos 0s vieios; meu Coragio, porém, 86 res- pira santidade? © mundo, de acordo com satanaz, seu chefe, pro- cura perder eternamente as almas, enquanto ‘meu Coracio deseja salviclas todas. ‘No podes, por conseguinte, servir, ao mesmo tempo, ao mundo e a mim. Pois, sendo amigo do ‘mundo, tornas-le inimigo do meu CoracZo. 4. Se seguires o mundo, com ele pereceris. Se aderires ao meu Coragio, irs para a vida eterna. . 3 Se expulsares do coragio 0 mundo e os prin- cipios mundanos, afim de oferecer-me um coragio puro, twa oblagio ser-me-A grata e honrosa, e re verter em tua gléria e mérito. Os anjos e santos aplaudirao o teu proceder eo mundo mesmo ver~ seed forgado a admirar tua herdiea grandeza de alma, Bem-aventurado, meu filho, é que aparta do mundo 0s seus afetos para consagré-los s6 a mim! 5, Que encontras no mundo para amé-lo? Tudo fo que nele ha é concupiseéncia da carne, concu- Piscéncia dos olhos e orgulho da vida, eujo fim & a morte e 0 inferno. Com efeito, se amas o mundo ou as coisas que The pertencem, cais na eterna perdicio. Que bem te fez 0 mundo para Ihe consagrares teus afetos? Nunea te fez nem fard outra coisa seniio o mal. Como podes, entio, darthe teu corasio? __ Ni confies, meu filho, nas lisonjas © aplausos do mundo, que s6 exprimem o secreto desejo de iludirte © perderte. ‘Obedece, porém, aos convites do meu Coracio, desejoso de livrarte da eterna desgraga que 0 ‘mundo te prepara. 6. Se nfo abandonares 6 mundo, seras por ele abandonado, depois de haveres coisumido as for- {cas em servélo, Bird com escdrmeo & hora da tua morte, e, quando mais necessitares de auxilio, ver~ teris s6 © impotente. Reflete com frequéncia se, prestes a entrar na eternidade, desejarias ter se- guido a mim ou ao mundo. a Por isso, faze agora com mérito o que doutro modo sem'métito deveris fazer. Esforga-te por desapegar 0 coracio do amor aos = bens terrenos e triunfa do mundo por separagio perfeita Confianca, filho, eu venel 0 mundo. Se quiseres, veneé-Jovis tambem. Apés a vitéria, dar-te-el mora da aprazivel em meu Coragio. 7. Diselpulo, 0° Sesihor! Quio insensato fol 0 ‘meu proceder! Quito perversa a minha vida! Sedu- zido de bom grado pela aparéneia de prazeres, Ine ‘eros e honras, abendonei-vos para escravizarme ‘20 mundo, vosso inimigo. : Deixando a fonte de todos os bens, dese ao pin- tano pestifero do mundo, Incbrieime em suas ‘aguas envenenadas. Louco ¢ insensato, despojei- me de tudo. Esqueeido de vés, meu Deus © meu tudo, entre- guebne inteiramente ao mundo, e profanei em seu servigo os vossos dons: meus sentidos externos fe minhas faculdades internas. Tornei-me em extre- mo eulpado. ‘Minha alme fof repleta de males; minha vida aproximou-se do inferno. Vossa célera passou. sobre mim e 0 terror perturbou-me, de mode que dia e noite me sentia infeliz (SI 87, 4. 17) '8, Al bom Jesus! Mesmo quando, impelido pelo excessive pavor do vosto julgamento ¢ pelo medo do inferno, decidira viver bem, qual Go foi minha fatal ilusio! Quéo pernicioso no foi o meu erro! 8 Dividi meu coragio entre vés © 0 mundo, que- rendo servir juntamente a ambos. Que grave injti- ria vos fiz, igualando-vos ao mundo! Assim, no cconsegui satisfazer nem a vs nem ao mundo e sen ‘tia-me infelicfssimo, pois, nfo me contentando con- ‘yosco nem com o mundo, em nenhum dos dois en- contrava a verdadeira felicidade. Agora, porém, {que me abristes os olhos € me tocastes 0 coracdo, 6 Senhor Jesus, 6 a vos servirei. E desde ji vos con- sagro todo 0 meu coracdo para sempre. Tirai, eu vo-lo rogo, desse meu coracio todo amor do mundo, Transformai para mim em ver~ dadeiro amargor toda a sua aparente docura. Enchei o meu coracio com a suavidade do vosso amor, ¢ 9 mundo inteiro eom todas as suas vaida- des tornar-se-i insfpido para mi CAPITULO XVIE Os enganas do mundo 1. Jesus, Filho, 0 mundo todo 6 encetra fal- sidades. Com engano e fraude seduz os impruden- tes. ‘Apresenta ao homem prazeres, riquezas e honras. “Tudo te darei — diz ele — se me servires”. Considers, porém, fio o que o mentiroso pro- ‘mente, mas'o que de fato di, Pela enganosa esperanca de grandes delicias, submete seus amantes & cruel tiramia das pai- xBes que os atormentam sem cessar. ‘Acaso j& encontraste algum mundano, mesmo ‘0 mais afortunado, cujo coracio estivesse inteira- 86 ‘mente satisfeito? Nem encontraris tal homem, ain- dda que percorras toda a terra, __ © mundo promete bens, mas, realmente, s6 catt- ‘sa males, que tornam 0 homem perverso € niio © mpedem de ser infeliz, 2, Diseipulo, Contude, Senhor, muitas veres 0s ‘mundanos gozam dos bens desejados e nio se pre- focupam com as penas espirituais do coraclio. Jesus, Sim, filho, Mas, ainda que possuam em abundineia tudo 0 que possam cobicar no mun- do, como tém a seus bens afeto desordenado e deles abusam, s6 os gozam para sua presente e futura desgraca. Parecem, na verdade, nfo sofrer angistias inte- ores. Porém, meu fiho, se pudesses, como eu, penetrarlhes no eoragio; verias quantos tormentos adecem no intimo da alma, procurando, entre- tanto, oculté-los exteriormente. Concluirias, entio, que a felicidade do homem mio consiste na abun- dancia de bens mundanos, porém antes em conser- Var o coragao livre de todas as coisas terrenas tatisfeito em pacifien e constante unizo comigo. Demais, quanto tempo hio de durar 0s. gozos dos mundanos? Em breve, a eternidade os chama- ri. De que Ihes valeré, entio, a abundincia de prazeres e de outras posses? Sairio do mundo ear~ regados apenas com seus pecados. ‘Acaso quiseras, pelo abuso das coisas tempo- rais, perder o gozo das eternas? Ou, em troca dos falsos bens da terra, renunciar aos verdadeiros bens do céu? a 5, Filho, se és sequaz do mundo, cessas de ser realmente’ cristo © perdes todos’ os privilégios anexos a to grande nome. No teu batismo, por proméssa feita perante 0 céae a terra, renunelaste ao mundo e as suas perversas pompas, ¢ 6 com esta condi te ado tei por filho. Se voltas em seguida a sequela do mundo, é niio sé perjuro, porém inferior a um pagio que aio fez tal promessa. E’ melhor ndo prometer do que faltar ao prometido. 4, Pergunta aos martes o que pensam acerca ‘do mundo. Os eleitos responderio que o inicio de ‘sua hem-aventuranea foi o desprezo do mundo, & (8 réprohos afirmario ter sido pelo mundo enga- nados e perdidos. De um modo ou de outro, filho, his de julgar tum dia por experiencia. 'Sé prudente, meu filho, para que mais tarde no te suceda arrepender-te em vio. Segue as pegadas dos santos, apartando o eorago do mundo e con- servando livres os teus afetos. 5, Usa os bens deste mundo, com se 0s nifo usas- ses. E, enquanto caminhas na terra, guarda 0 6o- rracio no eeu Quanto mais te afastares das erfaturas, tanto mais préximo estaris do Criador ¢ mais apto a re ceber os dans celestes. Se teu coraco estiver com- pletamente desapegado do mundo, este, longe de pprejudicar-te, contribuiré de mil modos para os in- teresses de tua alma, 88 Como se tornaria vil a teus olhos 0 mundo in telro, se bem considerasses o que te aguarda na ceternidade! 6, Disefpulo. Em verdade, Senhor, o mundo € fenganoso, como o tenho experimentado com pre juizo meu. . Quando ele me oferecia seus bens, tive a loucura de crer que me tornariam feliz. Mas quanto me enganei! Como era infeliz, mesmo quando, no deli- rio do amor mundano, imaginava ser ditoso. Ho- mem. terreno, alimentava a ilusio de ser feliz, quando me nutria com as grosseiras favas que 0 ‘mundo me langava, embora, mau grado meu, mui- tas vezes gemesse Sob 0 peso da minha vil escra- vidio ¢ das penas do corasao. onfesso, Senhor, ter sido o autor do.meu infor ‘tinio, ¢ com: justica a ninguem sendo a mim mes- mo devo culpar. Por nao ter queride servir-vos com regozijo € alegria de coragio, tudo possuindo em abundan- cia, torneisme eseravo do vosso e do meu inimigo, padecendo fome, sede e completa pentiria, a ponto de saciar-me com gosto no alimento de animais. 7. Oxalé, Senhor, pudesse apagar, do niimero dos meus anos, aqueles que passel longe de vés, no servigo do mundot Que frtos deles eolbi senfio amargura, remor- sos de conciéncia, angiistias de corardo, pecados a expiar com dores nesta vida ou a lamentar debal- de na outra, Séde-me propicio, 6 meu Salvador! Perdoai-me todos os pecados que outrora cometi, seguinds 0 ‘mundo, ¢ agora detesto do intima do coracio. Nao permitais, eu vorlo rogo, que meu coracéo se apegue sequer & minima caisa pertencente 20 jnundo corrompido. Apartai todos os seus afetos los falsos hens da terra, onde no hi sendo en- ano, vaidade ¢ aflicao de espirito. CAPITULO XVIII Servit © mundo é dura escravidéo 1. Jesus. Filho, quem se compraz em servir 0 mundo, nio 0 conhece. (© mundo é verdadeiro tirano, Os que o servem io miseraveis escravos. Quantos sacrificios e exigéncias impde a seus adeptos, e sé lhes retribue os servigos com mi Jes continuos! Quer que seus eseravos, tornando-se vis instru- ‘mentos da ambieZo, imolem corpo e alma e sem Iuero se condenem. Depols de arruind-los, absndona os miseros como seres inuteis ¢ aptos somente para 0 foo do inferno. 2 Oh! quanto custa aos mundanos a prépria perdigio! Se empregassem por meu amér a meta- de dos esforgos que consagram ao mundo, quo felizes seriam quio grandes santos! Como'é pesada a eseravidio do mundo! Quantas dores intimas a padecer! Quantas dificuldades a 0 suportar! E tudo isso 6 com a esperanga de obter ‘gozos que, uma vez saboreados, causam a morte: “ou atormentam agora com sua posse, ou em breve com amarga separagio. Em verdade, jugo de ferro oprime a cerviz dos ‘mundanos, 86 The conhece bem o peso quem dele fez experiéneia ou 0 avaliou no limiar da eterni- dade. 3. Quem deseja salvarse, deve desapegar do mundo 0 coraca Mi pessoas que, por seu estado de vida, se sepa- raram exteriormente do mundo, Contudo, seduzi- dos no intimo por ele, mais ou menos comportam- se segundo as suas maximas. Outras pessoas, forgadas embora por sua con- igo social a frequentar @ mundo, de tal modo se ‘Gesapegaram de qualquer afeto para com ele, que nenbumn sentimento mundano Ihes penetra no eora- sho. ‘Nio € 0 género de vida nem a forma do vestué- io que prendem o homem ao mundo ou dele 0 se-_ param, porém 0s sentimentos do coragio e a dispo- siglo da alma. ‘Quem mais de coragio se aparta do mundo, mais, estreitamente se une a mim e mais caro se toma fa meu Coragio, seja qual for o seu estado. Onde quer que a vontade divina te coloque, pro cura servirme fielmente. Em todo estado de vida ‘ou condiedo honrada podes viver para mim e san- lificarte. No entanto, é verdade que um estado de ‘vida mais separado do mundo eontribue mais par o assegurar a salvagio ¢ aleangar facilmente @ per feigio. 4. Quantos sequazes do mundo, convencidos da ‘sua malieia, véem a necessidade de renunciar a ele mudando de vida, ¢, entretanto, niio ousam reali zar o sett intento, por temerem excessivamente as tritieas dos niundanos! Essa é a vossa fortaleza, 6 famigos do mundo? Sois porventura magninimos todos vés que, por causa de vas palavras, receai fazer 0 que a £6 vos dita, a razio aprova e vossa felicidade exige? ‘Nilo so as palavras apenas sons que em rapido ‘y6o atravessam 9 ar? Acaso podem mover um 6 ceahelo de vossa eabeca? 5, Seriis tio Touca, filho, que por causa de tals palavras ocasiones tua perdiefo temporal e eter- ‘Escolhe entre meu servigo que te dari a felici- dade e mais tarde os gozos perpétuos do céu, © & teseravidio do mundo, onde levaris interiormente vida miseravel, cujo termo conduz aos suplicios eternos, Eis diante de i a vida © a morte, o bem eo mal: o que preferires ser-te-i dado (Ecli 15, 18). 6. Disefpalo. 0° hom Jesus! Como poderia he- sitar na escolha? Tnfeliz de mim! Que motivo al- jum dia me péde induzir a escolher o° que havin de tornar-me to infeliz! Meu Deus, bondade infinita! Livrastes-me do er- ro, ensinando-me a verdade, Dora em diante, sou todo vosso para sempre, 6 Jesus, minha verdadet- 2 ra bem-aventuranga! Longe de mim, mundo eng hnoso! Péssimo sedutor, inimigo de Deus ¢ da mi nha salvaeao, adversirio de todo bem, fautor de todo mal, tirano, de todos o mais eruell ‘O° mundo, ministro de satanaz! Bem tarde te co hee, demasiado tempo te ameil Agora, adeust Para sempre, adeus! CAPITULO XIX (0 jugo de Jesus & verdadeiramente suave 1. Jesus. Vem, meu filho, toma sobre ti o mew jugo; pois suave é meu jugo e leve meu fardo, (Mt 11, 30) ‘Meu servigo, filho, nfo é 0 de um tirano, nem de um senhor intratavel, porém o de um Pai famantissimo, pronto a dar auxilio e conforto aos (que de boa vontade o server. ‘0 espitito de meu servigo & o amor, ¢ este torna tudo facill ‘Meus mandamentos nfo sio penosos, mas em cextremo leves e suaves aos que me amatn. ‘Experimenta, filho, e prova como é doce servir~ ‘me e gozar a minha suavidade, como é bom des- sedentar-se na propria fonte de todos os bens. 2 Se buscas delicias, s6 as encontrarés verda- deiras em meu servigo. “Todos os gozos do mundo so vos ow pernicio~ ‘50s, Porém minhas consolacdes divinas excedem i- finitamente todos os deleites terrenos, arrebatando por sua pureza os coragies e saciando-os com a verdade. 93. Por vezes de tal modo invadem toda a alma que fa fazem prelibar as delicias celestiais das quais fe inebriam 05 bem-aventurados no paraiso. 3. Quem me serve, nfo € como 0 eseravo do mun- do, que trabalha para ajuntar tesouros na terra, fe por fim nada eneontra nas mios. © meu servo acumula riquezas no eéu, onde rem a ferrugem ou a traca as destroem, nem os Jadroes para furti-las as desenterram (Mt 6, 20). "Todos os haveres terrenos, comparados aos bens celestes, so lodo nada, 4, Se consideras as honras, nio hi maior do ‘que estar comigo e dos meus labios receber apro- vacio e louver. Breve e vi é a gléria do mundo com a qual se fludem os homens uns aos outros. A gloria de ‘meu servigo, porém, é verdadeira e perdura eter- namente. ‘0 menor dos meus servos 6 maior que qualquer soberano do mundo. 5, Acaso J se encontrou algum homem que & hora da motte se arrependesse de me haver servi do? Os mundanos, ao contrario, quanto se arre~ pendem naquele momento extremo do servigo pres- tado 20 mundo! E, se isso nfo thes déi, ainda mais miseraveis sao! E” palavra verdadeira, filho: aque~ Te que me serve fielmente durante a vida ganha dois céus, um no tempo, o outro na eternidade. Mas fo que passa a vida no servico do mundo corrom- pido, padece dois infernos, um J& no presente, 0 ‘outro, mais tarde. om 6. Bia, pois, meu filho, curvacte ao jugo que 0s. anjos no edu e os eleitos na terra carregam, pos Suindo a yerdadeira bemaventuranga. Toma-o Com regozijo. Leva-o alegremente. Serves a0 mes- mmo Senhor que os habitantes no eéu. B, visto que hes imitas 0 servigo, imita igualmente o jubilo. Entristecam-se os servos do pecado e do mundo. ‘A meus servos, porém, quadram a alegria ea exul- tacio. Serve-me, pois; mas serve-me com alegria. O re- goaijo do coracio toraa o rosto alegre, dando 20 Mundo festivo e santo indicio de quanto é beati- leo o meu servigo. 7. Diseipulo, Bm verdade, 6 bom Jesus, & sua- ‘ve para mim servir-vos. Quanto nfo o seré, entio, para os que vos amam de todo 0 coracio! Se eu, que apenias comego a vos amar, eneontro ‘em vis tanta docura, qual nfo gozarlio aqueles ques Consagrando-vos todos os afetos, por muito tempo para vés vivendo com &nnimo generoso, agora si Ramitidos a intimidade do vosso Coracio © par ticipam com a maxima plenitude de todos os vossos bens! (" Jesus, dogura inefavel! Que & 0 homem para assim engrandecerdes? Ou o filho do homem para Ihe dardes 0 voss0 Coragio? (J6 7,17) 8, Viver para vés, prestar-vos obediéneia, no & servis, mas reinar, Em vosso servigo, minguem é Gecravo, mas cada um é rei e senhor, sendo vos 0 Rei dos reis e 0 Senhor dos senhores (Apo 19, 16). 95, Em vosso servico, ninguem é ignobil, ninguem é miseravel, porém todos nobres e ricos, por serdes vés o Rei da gléria, em euja morada , ninguem & mau, nem infeliz, ‘mas todos, bons e ditosos, porque sois o Rei das virtudes, nossa paz e alegria, Bemvaventurados os que sem macula eaminham, em vossa Lei! Eterna € sua bem-aventuranca, pois, ‘vosso reino perdura por todos os séeulos, 0 duleissimo Jesus! Que ha para mim fora de ‘6s, ow que posso desejar na terra senfio a vés? 0” Deus de meu coragio, sois minha vida, minha em-aventuranga, minha partitha por toda a eter- nidade. CAPITULO XX Devemos dar a Jesus, sem reserva, todo 0 nosso cor 1, Jesus, Meu filho, dime 0 teu coracio (Prov 23, 26). basta liberti-lo do peeade e do mundo. Ain- da resta livrilo de ti mesmo. Como a rentineia completa ao pecado estabelece a amizade divina, e 0 desprezo dos bens exterio- res e vios do mundo dispée a alma para a vida interior, assim, deixarse a si mesmo condiz & unio comigo. Portanto, & necessirio que me dés, sem reserva alguma, todo o teu coragio, se queres gozar aque- Ia felicidade que, sendo a maior desta vida, & a Sinica eapaz de tornarte realmente ditoso. 96 2 Tew coracio, meu filho, a mim pertence. Fut feu que do nada o eriei, Quando estava perdido, eu © busquei © remi. Prestes a ser arrebatado pelos ‘inimigos, eu o protegi e guardei, Entregando-me, pois, 0 teu coraciio, s6 me dis o que é meu. Quantos titwlos tenho a merecer todos os teus Aafetos! Acaso possues dotes do corpo ou do espi rito, na ordem natural ou sobrenatural, que nao tenhas recebido da men Coracio? Ha quantos anos arderias no inferno, se ew te houvesse tratado conforme os teus méritos, ow te nio preservasse de pecados dignos das penas eter- Tudo, 6 filho, 6 obra maravilhosa ¢ doce do mew amor, do amor que te consagra 0 meu Corasio desde toda a eternidade, ¢ até hoje nio cessa de manifestar-te . ‘Tua vida intefra é uma série miltipla e comti- nua de meus beneficios. Nunea houve momento ‘que nfo fosse assinalado por algum novo favor. 3. Que exijo de ti, filho de minha dilegdo, em troca desses milhares de bens? Certamente tudo 0 que eu reclamasse, ou tu me pudesses dar, esta ria muito abaixo da grandeza e multidio de mi nas. mereés. Todavia, s6 uma coisa pega: todo teu cofacho. Se mo deres, estou satisfeito, De nada vale tudo © que me ofereceres, exce- twando teu coragio, pois & a ele que acima de tudo desejo, 4A quem melhor do que a mim poderias dar teu coracio? Sem amor nao podes viver, se a’ al- 7 7 gum objeto é mister tributares os afetos de te coragio, ‘Acaso quiseras dar teu coragio ao deménio, ten perpétuo e implacavel inimigo, ow ao mundo com Tompldo e corrutor, ministro de satanaz? Infeliz de ti, filho, mil vezes infeliz, se o deres a um de 4 ambos! Talvez desejaras reservar para ti os afetos de teu corasio? Mas, filho, se a ti s6 amares, no es- peres senfo de tia retribuicio. Qual é porém, recompensa do amor préprio? Nio é ele que abre o abismo do inferno e para Id eonduz? is, teu coractio, filho, E eu o encherel de paz, alegria e felicidade, 5. Nao facas reserva alguma de teus afetos, pois, se assim procederes, nfo poderds ser admi tido nos segredos do meu Coragio, nem saborear a docura do meu amor, ¢ estaris mesmo exposto | ao perigo de transviarte. EY, contudo, costume de muitos, embora queiram ser considerades como hons e.piedosos, guardar afeto a um ou outro objeto criado, sob especioso pretexto do amor préprio. Que haverd mais fre quente, perigoso ou funesto do que este engano? Quero possuir todo 0 teu coracio, filho, eu que ele sout 0 Soberano, © Deus zeloso, seu fim supre- | ‘mo e tiniea bem-aventuranca, q 6, Ama, filho. © amor ¢ licito e necessixio, pois para ele foi feito teu coracdo. Ama, porém, o que € digno de amor, ama-me a mim. E, se algum ou- fro objeto amas, niio o deves amar seniio por meu 98 ‘Se, fora de mim, nada amares senfo por meu smot, se nfo admitires em teu coracio sento a mim ou a alguem por minha causa, possuiris 0 co- ragio inteiramente puro. Portanto, filho, dime todo o teu coraco em o- locausto de suavissimo odor, Nao retomes dele a minima parte, pois tenho édio & subrepeio no"ho- locausto (Is 61, 8) [Lembra-te sempre que, tanto na felleidade como no infortinlo, ten coracio em parte alguma poderé estar melhor do que comigo. 7. Diseipitlo, Senhor, como vejo, € mister liber tar 9 mea corago do amor préprio e dos afetos desordenados para comigo, afim de ser inteiramen- te possuide por vosso amor e viver de vosso Espf- rite ‘Ah! meu Deus! Que érduo trabalho! Hi em meu coragio tantas inelinagies desordenadas, e por ha- vyé-las seguido longo tempo, delas viver tornou-se- ‘me qual segunda natureza. 'Até agora foi quasi minha tnfea norma de con- uta o sentimento espontineo do coragio, quer de simpatia, quer de aversio, Deixei-me guiar por ele rho modo de tratar cam o préximo, no inicio ou ter- ‘mo das ages e mesmo na pritica da religifo © dos exercicios de piedade. 'AU hoje, devo confessar s6 haver buscado 0 que agradava a inclinagio natural, habituando-me a ‘evitar quanto Ihe fosse contrario. Por isso, a maio- a das minhas ages, como vejo, foi vieinda. Sen- do quasi todas obras do amor préprio, no produ- ziram senfo frutes da mesma raiz 6 9 Nio me houvesse a luz da vosse graca esclareci. dio, talvez nem sequer o suspeitara. A tal ponte me beecou o amor préprio. Porém, Ji que pele | gratuita bondade do vosso Coragdo me descoleia: tet os perniciosos males ocultos no meu, coneedel- , ‘ime, vorlo ogo, a graca especial de extirpdlos aq, talmente. Suplico-vos, Senhor, néo permitais haver em meu coragio algo que nio seja vosso. Se af ape, Tecer algumn objeto estranho, obrigaicme imedicae ‘mente a retiré-lo, ou, entio, mau grado meu, area ceaico vés mesmo, CAPITULO XxI A guards do coracic 1. Jesus. Filho, com toda a vigitincia guarda ps ra mim teu coracio, pois dele procede a vida ou a morte, 0 dom maior e mais grato que me possas fazer € 8 oblacio irrevogavel do teu coragao inteito, Tua melhor ¢ mais salutar ocupacio é a fidelidade em conservii-lo puro para mim, Debalde me consagras teu coracdo, se no 0 vie Sias assiduamente, Pois o inimigo, quando menos ereeberes, depois de perverté-lo, o roubard 2 0 homem de coracio dissipado e entregue as ‘coisas exteriores, pode em tempo de fervor {transitéria, econsagrarme seu afeto, Logo, pordin, ue se esfriar a devosio, resin no estade hab ‘ual ow ainda mais baixo, 1100 0 coragio descuidado, pouco atento a sii mes ‘mo ¢ ainda mais raramente @ mim, em breve ton ‘nase insensivel e obtuso para as coisas espinituais, A tudo 0 que Ihe ocorre esta patente, qual mes, cado piblico, por onde transitam livremente pense. ™entos, (entagées ¢ erros de toda espéeie, Por ele vio € vém todos os seus inimigos, De Virios modos o agitam, enchendoo de maculas corrupcio, © homem superficial nem sequer o nota seria- mente. Pols, sentindo horror de viver no seu in terior intimo, a vigiar os sentimentos do’ coragie, rocura fugir ou distrair-se. Destarte agrava-se © mal ¢ 0 estado do coragiéo torna-se cada dia mais perigoso, 3. Se nilo queres ser vitima de tio grandes mi sérias, afasta as causas e cessario os efeitos Pela lembranga da divina presenca eo apelo frequente para mim, reprime a leviandade ¢ acat, tela-te, afim de no cederes a natureza voluvel, ue sempre busea dissipar-se, & propensa as coisas vis, desejosa de ostentar-se em toda parte ¢ habil ‘em lisonjear continuamente os sentidos, Foge das ocupacies vas e inuteis. Afasta todas 4s colsas exteriores de que 0 dever ni te obriga lar. Acostuma-te a ocupar-te contigo ¢ a vi Yer interiormente, como se estiveras a sés comigo neste mundo, Sempre e em toda parte, procura dominarte ¢ guardar recolhimento. Consegui-lovis com 0 $0. corre da graca, com esforgo e exercieio, de inode que se tone natural. Se adquitires este habito, tua propria recom: ppensa encontrila-is no recolhimento de espirito, ‘que constitue para o homem iitexhaurivel tesouro. 4. 0 homem interior guarda todas as portas do Coragao, Conserva no intimo seu Deus e Salvador. Trata-me generosamente e goza da minha familia ridade Sempre senhor de si, possue em paz 0. Amado de sua alma e vé-se preservado de inimeros pe ceados e dissabores, Prosseguindo no recolhimento de espirito, trilha rapidamente caminho da perfeicdo e, nfo obs- tante qualquer impedimento, adianta-se para a per- feigio. [No te deixes dissipar, meu filho, pela formosu- ra exterior das coisas, nem pelas diversas angiis- tias provententes dos acontecimentos, nem pela Ww géncia do trabalho ou pela desolagdo da alma. Considera em que objetos se ocupa tet coract quais os seus movimentos e inclinacdes. Volta-le inteiramente para as coisas interiores fe, assim entretide, permanece em profunds paz gozando a minha presenca. 5. Discipulo, Concedei-me, eu vo-lo rogo, Se- nhor Jesus, 0 espirito interior, afim de guardar para vos met coragio e vigiar-lhe os sentimentos. Sei por experiéneia que o coracdo sempre est cupado, mas, por negligéncia minha, no consi- era o lugar, nem o tempo, nem os objetos. Com frequéncia o surpreendi em Ingares eétra- nnhos, expandindo-se em sentimentos quer de amor, 102, Tasmiagtaatoabescamaianld: ‘quer de aversio, distraido: por sues inclinagdes, contamiiado por varios objetos. ‘Mesmo nas horas ou momentos especialmente “eonsageados 20 vosso servigo, em que deveria orar, Touvar-vos, amar-vos ¢ gozar da vossa presenca, rio Taro achei entregue as distragdes. No tem= po destinado a agdes boas ou uteis, quantas vezes © encontrei dissipado em coisas proibidas on vas. Sem vigilincia, et-lo a difundir-se continuamen- te por iniimeros objetos, arrastado segundo 08 im pulses da natureza, Nunca repoust, pols, mal aban- Dosa um objeto, j4 se enreda em outro, A curio- Sidade o excita, a cobiga 0 atral, a vaidade 0 se- Guz, o prazer 0 corrompe, a tristeza 0 consome, inveja o tortura, o amor ¢ 0 ddio o perturbam, a propria miséria o agita e com esta agitacio 0 ex- ten. ‘Assim se ocupa e se maicha meu coraco, quan do nio 0 vigio ou 0 descuro. 6. 0" Senhor! Quio necessiria € a vigilinciat Quio indispensavel é a guarda do coragio! Nao s6 The & mister eonservar-se recothido em sta mora da, mas ainda ocupar-se unicamente de vés ou por vosta causa, Devo examinar se ele é movido pela graca ou pela natureza, se procede segundo vosso henepl Bite ou por seu instinto e, por diltimo, se em suas fagies mira a vés ow a si mesmo. ‘Preciso velar assiduamente para que met cora- cdo se habitue, por vosso amor, a seguir suave € fortemente 0 Smpeto da vossa rac 108 0 Jesus! Quanta é a importincia desta obral | Sejam quais forem os esforcos necessirios para realizicla, no desistirel de prosseguf-la até ao ter~ Mas, se vos amasse deveras, se estivesse inteira- mente eativo do vosso amor, quo facil © rapids ‘mente completaria esta obra! Se meu coragdo es tivesse echefo do vosso amor, repousaria em vés, Tonge de afastar-se, al encontraria sua bem-aven- turanca, evitando ou rejeitando espontaneamente tudo mis. 0 dulelssimo Jesus! Quio admiravel & o vosso amor! Enchei do vosso amor ¢ da vossa graca 0 ‘meu coragio, e de bom grado cle se conservaré as- siduamente para vés. CAPITULO XXI A brevidade da vida 1, Jesus, Filho, em todas as tuas ees lembra- te dos teus novissimos e nunca pecaris (Eli 7, 40). Enquanto te sobra tempo, faze o que podes para fa etemidade, recordando-te quio breve € a tua vida, Dentro’ de pouco his de voltar & terra da qual foste formad, porque é& pé © a0 p6 torna~ ris (Gn 3, 19) ‘Que & a vida humana sobre a terra? Vapor que ‘um instante aparece e logo se esvaece, sem deixar vestigio. Desde o naseimento, nfo cessas de correr para ‘a morte, nem esti em tuas mios suspender os pas- 104 ELT TPN OTE 2 Relembra, filo, tempo que viveste. Nao, te hd de parecer um sonho? Mais claramente as- sim te ha de parecer & hora da morte que cedo te ‘vind ao encontro, ‘Que é a vida mais diuturna? Os dias do homem atingem 0 mimero de uns setenta anos. Para 0s fnais robustos, oitenta (SI 89, 10). Mas, em compa ragao da etemnidade, sio‘qual gotinha d'égua a0 lado do oceano. ‘Ainda mais: tempo desta vida, confrontado com a perpetuidade da futura, é apenas um se- ggundo. Dele, contudo, depende a eternidade feliz Gu desgracada. Mesmo se houvesses vivido desde @ erfagio do mundo até esta hora, j4 prestes morrer, que seria esta vida, ao entrares na eterni- Gade, onde nao ha dias nem anos ou séeulos, po- rém 0 evo sem fim. 3. Por conseguinte, mew do tempo. 0 tempo é a medida da existéncia. Na proporgio em que o perdes, desperdicas a vida. (© tempo supera em valor todos os tesouros do mundo. Com todos os bens da terra nfo se pode ‘comprar sequer um breve instante, Porém 0 tem- po mos serve para adquirirmos riquezas eternas. ‘Oh! se os mortos voltassem da eternidadey jul- gas que perderiam um momento sem empregi-lo para Hbertar-se das penas ou aumentar os mérk- tos? ‘Mas, ai! Embora nada haja mais precioso que 0 tempo, para muitos no existe coisa mais tediosa! ‘Nao 38 aos sequazes do mundo, porém mesmo ‘a alguns que fazem profissio de piedade, o tempo 105 1, considera o valor parece oneroso, Queixani-se do seu peso, gostam de perdélo e regozijam-se quando, sem enfado, podem passi-lo inutilmente. ‘Assim, com deshonra minha e prejuizo proprio,» deaperdgam’ ese tempo em ue teviam 0 poder ses Ce it's proune © ar {putas mesos para a cteridade 4. Lembra-te ainda, lho, para que Sim vieste © este mundo, Sem dvidaalguron para te pEepar wes otinignde. Que 6 a vide presente, sono « fprendizagers da etemidade? Durante ent breve praro, quanta coisa fe eum- pre fazer! Tens mules peeados 8 explant al Tuna aivare tnt, fnfero © ful, 0 po fatorig eviten cen aleangar, o préximo a so- ESirer ea eneaminhar para a vida eleroa; ent, Son devidos modon mister, quanto Postel, hon” orane e lorfiersme. Se nao a fizres nesta vida, nfo te restart outro temp depots Em toda a eteraidade his de supor tary eftton da tun neglghneln oso. tempo 8 mim pars «no th Fl pe tas emprestado para o empregare no deseme- se cee exon dejo, Se dle basa da Mas eats conas mais tarde Mas, se bem o ti TEASe poderis a eada instante mereesr novo grat de grnga e de etema glia 5. Escula, meu fillto, Coloca-te muitas vezes em cespirito naquele momento em que o tempo para ti fessaré, dando comeco a eternidade, Examina atentamente o que pensarias enti de todos os ‘acontecimentos. passados futuros. A eternidade 106 SOP nap EEE seria tua morads. A eternidade, tua pétria. temidade, tua habitagdo permanente. Rstrangeiro ¢ héspede na terra, passas rapid Prrente em demanda dos bens infindaveis da eter Tinlade. Para 1 devem ir quantos existiram, exis: aaa existindo. Ai, o grande e 0 peguend, 0 rico te pobre, o formoso e 0 feio nao terto outa difer renga senio a que procede da virtude. vRinda um pouee, filho, ¢ tu tamabem 1a estards. Li viverds vida intérmina. Eis o grande pens mento que te deve preocupar, O tempo voard, of eeulos sucederdao aos séeulos, o mundo passaré. Ti efyunea deixarés de existir, munca cessards porMer! Oxald compreendas bem esta verdade, i 6, Se tu te nfo salvares para a eternidade, quem te anlvard? Certamente ninguem. Pois eu mesmo tque sem ti te eriel, sem ti nfo te salvarei (Santo Agostino) Se oe agora ndo trabalhas para tua salvacio © perfeigio, como 0 faris mais tarde? Vird © me Pemmte em que. o tempo nao mais te seri dado rete enh modo podes Tsonjear-te de aleancé- fon ainda mesmo que 0 conseguisses, & empre- 1 femarseda cada dia mais dificil, induzindo-te ** afer la para o futuro, e com estas delongas che- Garin desprevenido as portas da eteridade, Considera 0 dia presente como sendo o iiltimo ‘¢ sive de modo que, se vier o Filho do bomen, Goats, fsento de temor, regozijarte com a se Phegada, Bem-aventurado o que et assim neon. caeey instante da minha vinda. Em verdade 0 107 ‘digo, estabeleet-lo-ei sobre todas as minhas.pos- ses (Mt 24, 46). 7, Diseiputo. 0° Senhor, breve & a vida, porémyy iuitos e grandes ot deveres a eumprir! Ai de mim, como passei até hoje o tempo da minha vida! Negligenciei, como se fossem de nenhuma ou pouea monte, os importantes negécios relatives & feternidade, eujo desempenho me fora por vés im- posto. ‘Que cegueira e malicia! Embora isso ja meres lagrimas de sangue, oxald nfo houvesse feito eot- sa peior! Mas, ai de mim! Quanto tempo empre- jguei em atormentar e afligir 0 vosso Coragio, em cometer © acumular pecados! Muito tempo desperdicei no servigo do mundo, buscando suas futeis riquezas, correndo apés a vangléria, 0: prazeres noelvos e varias bagatelas ‘Muito tempo perdi em propria satisfagio, a nu- trie o amor préprio, a lisonjear as inclinagées da nnatureza, mesmo em atos-bons ou piedosos. ©” met Salvador! Que triste vida foi a minha! Em lugar de virtudes e méritos, ajuntei lenha, fe- no e pallia para acender o fogo que me queimaria, tna vida futura, Perdoai-me, eu vorlo rogo, os pecados cometidos. Dai-me a graca de resgatar o tempo perdido, re- parar oa compensar o passado, empregando fer- Yorosemente 0 resta da vida para o fim com que ela me foi dada. Senhor Jesus, a origem dos meus males foil 0 nif vos ter amado, pots, sendo indiferente para 108 ‘convosco, deixeime cont upto corruptor de outros objetos. Suplico-vos, meu Deus, jt que de tio grande ‘calamidade me livrastes, inflamels meu coracdo hno fogo sagrado que arde no vosso. Esta purissi- ‘ma chama, eonsumindo minhas culpas, estimular- ne-& a cimprir fielmente todos 08 vossos man- damentos para minha eterna salvacio. CAPITULO XXIT A morte 1. Jesus. Lembracte da morte, filho; pois fot deeretado que todos os homens uma so vez mor~ reriam (Hb 9, 27). Por mais que fagas para evitar a morte, nfo fo conseguiris, Porque 0 Onipotente fixou & tua Vida limites que nio podem ser ultrapassados (J6 14, 5). Quando os atingires, em qualquer estad® due te aches, has de morrer. ‘Nesta vida nada hé mais cerlo do que a morte? nem mais ineerto do que sua hora e eircunstin- ‘[gnoras quando morrerds. Fica, entretanto, cien- te que morrerdg, quando menos pensares. Absolutamente no sabes se veris o fim deste ano ow mesmo deste dia Muitos, & espera de longa vida, negligenciam a preparacio para a morte e fazem intimeros pla- nos para 0 futuro, quando de sibito a morte tudo pée termo ¢ os arrebata para a eternidade. ‘Aos teus olhos esté oculto se morrerés em casa ou na rua, de morte natural ou violenta, munide dos sacramentos ou sem eles. 2 Contudo, filho, morrer’s uma s6 ver, © se desta iinica ver morreres bem, estar segura a tua clerna bemaventuranga, Do contrivio, a tua per digo sera perpétua ¢ irreparavel. (0 incompreensivel insensatez do coracio huma- no! A maforia dos homens nfo receia viver em estado de condenacZo. Entretanto, & certo terem de morrer inesperadamente, E° ordculo imutavel que 0 Filho do homem hé de vir quando menos se esperar (Le 12, 40) ‘Mas, por designio digno da divina Sabedoria, permaneee oculto © momento da sua chegada, pa ra que os homens vivam sempre preparados, em estado de graca. E, como muitos se descuidam, acontece que no poucos morrem de improviso.¢ num instante so sepultados no inferno, Ai dos que forem surpreendidos pela morte nes- te infeliz estado! Depois de mortos, jé ndo Ihes restaré esperanca, pois da morte temporal caem tna morte eterna, dos males transitérios passam para os suplicios sem fim. E’ péssima a morte dos pecadores. Horrivel a dos tibios. A dos santos, po- rrém, & preciosa e cheia de consolacdes. Bem-aventurados os que terminam uma santa ‘vida com uma santa morte! Chegam ao fim de to- dos o8,trabalhos, afligées, tentagdes e. perigos © co- megam a segura e interminavel bem-aventuranca. 3. Na hora da morte, como variam os sentimen- tos dos homens! Com a lembranca do passado, do 110 presente e do futuro, uns se atemorizam, outros ‘se regozijam, Alguns experimentam angistias de coragio, outros, alegria, Todos, porém, desejam entio ter vivide bem. ‘A maior consolagio do moribundo é estar bem preparado para a morte. Quem s6 se prepara para a morte quando ela ‘se apresenta, corre grande perigo de morrer des- prevenido, pois falts-lhe 0 tempo, a doenca poe ‘obstaculo, ot as paixdes ainda predominam. Ao ‘mesmo tempo perdura o hibito de negligenciar fa graca, © 0 deminio tenta com mais violéncia. 'Sé, porlanto, cauteloso, meu filho, antes que che- gue a noite na qual ninguem pode trabalhar com seguranga, ¢ cada um comeca a colher o que se- ‘A melhor preparacio para a morte é uma vida boa. Costuma morrer bem quem vive bem, ‘Antes do repouso noturno, prepara diariamen- te tua alma, como se nesta mesma noite devesses passar para a elemnidade. “LE? bom’o conselho da morte, filho. Por isso, antes de. empreenderes ou abandonares algo im- portante, consulta a morte, para saberes o que, & minha vinda, desejarias ter feito ou omitido. ela perfeita pureza de coracio, tornaris a tua ‘morte sobremodo segura ¢ consoladora. Em se tra- tando de assegurar a boa morte, ndo consultes a carne: Porém, mau grado seu, procura 0 bem, fafim de salvares corpo ¢ alma, Depois da morte, feu corpo ser pasto dos ver- mes € 0 que dele restar, tornar-se-& presa da cor rupeiio. at Um dia, entretanto, quer queiras quer nfo, ha de reessuseitar, afim de compartilhar com a alma a mesma eterna sorte, Filho, sejate a morte um pensamento mui fa- miiliar. Se fores fiel em consultar e seguir 05 seus foriculos, ela te consolari no infortinio e te fara modesto na prosperidade. Util em tudo, eumular- te-d de beneficios e, por fim, libertando-te deste exilio, conduzirte-é a patria hem-aventurada, 5, Discipulo, Senhor, quem nio hé de estar pre- parado, j4 que a morte pode sobrevir a cada ins- tante? elo testemunho da conciéneia, sei que & sua ‘chegada desejaria ter levado vida inocente, guar dando pureza no coracio ¢ santidade na alma, Al de mim! Se a morte viesse, vios seriam os meus desejos, pols ainda nfo apresento sinal de santidade, mas, ao contrario, muitos indicios de ti; dieza. (0% Senhor, compassivo ¢ misericordioso! Deixai ‘me por algum tempo deplorar minha negligéncia © realizar 0 que na hora da morte eu desejaria ter feito! * 6. 0° minha alma! Em breve ja mio te restari tempo! Faca cada um 0 que bem entender; nés, porém, enquanto é tempo, trabalhemos pela nossa salvacio. Cada um por si, Pois, & ehegada da mor- te, nenhum outro tomar a nossa vez nem poderd Ir em nosso lugar para a eternidade. Sejam quais forem os ditos,ou agdes alhelias, tratemos de assegurar nossa eterna sorte, Mas qual 4 seguranga melhor e mais certa, Senhor Jésus, do a2 que estar desapegado de tudo e na:posse do voss0 amor, fonte de pureza @ santidade? ‘Se em verdade vos amar, nfo temerei a morte + nem suas consequéncias. © amor, expulsando 0 te- mor, dar-me-i acesso confiante junto a vés. 0” Jesus, meu amor, sede doravante minha vida. Se o fordes, a morte ser-me-A Iuero (Fp 1, 21). Por vosso amor, morra eu eada dia ao pecado, ao mundo e a mim mesmo, afim de viver para vs. Livre de toda eriatura, inteiramente puro, pos- sa ett voar alegremente para v6s, quando a morte me abrir as portas. CAPITULO XXIV 0 jutzo 1. Jesus, Fitho, logo ao entrares na eternidade, ceémpareceris no divino tribunal para dar contas de tua vida e ouvir o decreto de tua etema sorte. ‘Eu mesmo, oniciente perserutador dos coragdes, a quem foi dado todo o poder no cétt e na terra, presidirei ao julgamento, - ‘Todos os homens, quer queiram quer niio, com- pareceriio diante de mim, Juiz dos vivos e mortos, para serem julgedos por suprema sentenca da ‘qual niio hit apelo. _ “Julgarel conforme a justica, No me deixaret aplacar por dadivas ou promessas, nem abonan- far por stiplicas, nem mover a0 arrependimento. ‘Aquele dia é de justica e nfo de misericérdia. Ca- a um reeeherd, nto, segundo as. suas obras. + en us 2. Que pensaris neste momento, filho, quando perante a infinita Majestade estiveres 56 com twas obras, boas ou més? Surgiré entio 0 demOnio para acusar-te, pronto a arrastarte consigo ao abismo infernal. 0 anjo da guarda levantar-se-é contra ti, atestan- do a veracidade, dos fatos. Demais, tua prépria conciéneia te repreenderd, afligindo-te com pavor, medo ¢ terror. Assim acusado, sem defensor algum, ¢ transido de susto, nfo ousaris abrir a boca. 3, Todas as coisas, manifestas ¢ veladas, estio ‘em minha presenca, pois nada hé oculto aos meus olhos. Examinarei minuciosamenté 0 coragio humano desde 0 primeiro uso da razfo até ao iiltimo sus- piro da vida. Descobrirel todas as culpas, particulares e pi- Dlieas, préprias e alheias, graves e leves, tudo, en= fim, que houveres cometide por pensamentos, ps lavras, obras ¢ omisses. Pedirel contas nilo s6 das agdes més, sendo tam- bem das inuteis, vas e ociosas. Tulgarel mesmo os atos de virtude, examinen- do 0 que Ihes faltou no mative, no modo de proce- der ou na intencio, e se todos foram sobrenaturais € perfeitos. Multas agGes na aparéneia boas nesta vida, revelar-se-io como perversas ou vis, ‘As virtudes simuladas dos tibios ho de apare- cor como sio na realidade, vendo-se rejeitadas qual palha seea, propria somente para 0 fogo. a4 LLevando mais longe minhas pesquisns,indagaret io frat de fades or ets benef, ragane melos fe salvage aperfegoamento, Tavocare contra to proprio tempo, examinan- do como o emprestte. 4 Que faréento pecador, se o justo mal esta seguro? Acima de ti vers 0 parsiso incerta, aba So'o abismo essancarndo, 8 itelta v8 anjor como tentomunbas, it exquerda os demuies furioundos, tiante de Ho supremo Arbitro da vida ¢ da mor te elem. 5. Ah, filho! Trabatha agora com diigénta, pax ra esfares seguro naqusle instante, Agora é fac Caio sen imposivl Seque no presente o convite da minha mise candi, para nio teres de expesimentar um aia 0 igor da minh juss. ‘Aaste, agora, totalmente do mundo vieloso, para nao sere foreado a ouvir com os reprobes Imindanos: "Ide, malios, para ofogo eterno” (ME Ba) ‘Agora desapegandoe de tudo, iit o9 santos, afin de’ moreceres com cles 0 chamado: “Vinde, Temaitos de meu Pai, trai pose do eina que Vos foi preparado dese a eriagio do mundo” (Mt 2, 3). 6. Diseiputo, 0° Senhor! Quanto é methor ex=- rninarame e julgarame severamente au, para no Ser condenado no tibunal da Justin divine. Quan to. preferivel investiga bem sefodes os meus pet Samentos,palavras e obras aio bons, coformes ° 15 1 vossa vontade, eapazes de suportar 0 vosso exa- ime e dignos da vossa aprovagio. ‘Agora, ainda ha remédio, Mais tarde, todo esfor- co ser inutil, Agora, a misericérdia me é ofere- ‘cida. Um dia a voz da justiga retumbard: “Presta ccontas da tua vida’. Senhor, Senhor! Se observardes as iniquidades, quem subsistird? Se perserutardes mesmo os atos indiferentes e bons, quem poder sustentar a vos- sa presenca?’ (0° Jesus! Embora me regozije de niio ter outro Juiz senio a vés, estremero, vendo-me constran- bgido a dar tantas ¢ tio formidaveis contas. Em que confiarei, se mesmo minhas boas obras me parecem suspeltas? Onde colocarei minha ¢s- peranga? Nao encontro senfo 0 vosso Coracio, a0 qual me possa confiadamente entregar. Nele porei minha esperanca. Sendo embora no futuro 0 Coragio de meu Juz, nfo deixar de ser 0 Coragao de meu Jesus, amoroso dos que © aman. (0° meu Jesus, lembrai-vos de vossa palavra com que me destes esperanca. Fostes vés que dissestes: Se alguem me amar, eu o amarei” (Jo 14, 21) Se vos amo ¢ sou por vs amado, no recearei ir para vos e comparecer em vossa presenca. Eis 0 que devo fazer, Amar-vos-ci, amabilissimo ‘e amantissimo Jesus, amar-vos-ei toda a vida, de todo 0 coracio. 16 CAPITULO XXV 0 interno 1, Jesus. Filho, todos os homens, por assim di- “rer, enquanto se acham nesta vida, sio objeto do Jee amor. Consagro aos bons divina afeigio, su porto os maus, a espera de sua conversio, procuro Be transviados. Men Coracdo, onde todos esto ins chites, inventa e emprega milhares de meios pare salvé-los todos. ‘Se alguns, porém, frustrando a expectativa da minha misericérdia, vém ao julgamento carregs- dos de graves pecados e obstinadamente rebeldes, seus nomes so apagados do men Coracio, © 0 Ge minha justica os precipita no abismo do inferno. ‘d, All, privados do egu e de todos os seus gox0s, jamais verdo minha face no reino da lé ‘Padecem suplicios sem fim, por terem perdido 0 Bem infinito. mersos em incompreensivel abismo de fogo, ar~ ‘dem ¢ sofrem eternamente, ¢ 0 fumno dos seus tor Jnentos sobe pelos séculos dos séculos. ‘Todos os males Ihes sobrevém. Nio ha sentido ‘do corpo nem faculdade da alma que nio tenha especial castigo. Gada um seri particularmente atormentado por aquilo em que pecou, sofrendo pena proporeionada ‘a0 mau delet, "AIL os impudiens, devorados por sempiternos a= dores, saturados de intoleraveis e fétidos cheiros, serio careomidos por vermes imortais. “Ali, os Ticos maus ver-se-o em suma indigéneiay sofrendo, sem alivio, extrema sede ¢ fome. u7 All, 08 ambiciosos, em humilhacdo infinda, se- io desprezados e conculeados pelos préprios de- Al, os formentos, sem um instante de inter rupedo, continuam eho de continuar eterma- mente. ‘Ali, cada um recebe castigo, segundo seus de- mizitos 3, O lugar, os senhores e companheiros aumen- tam de modo ineompreensivel os suplicios. Que haverd mais terrivel que o circere infernal, onde niio ha Inz nem ordem, mas 6 perpétua obscuri- ‘dade e sempiterno horror. Quem mais eruel do que os demdnios a esgotar sua ciéneia e poder, inventando e infligindo tor mentos? Que haverd mais triste do que a misera multidio dos condenados a bramir sem fim nem esperan- a? Em verdade, tantos so os suplicios, quantos ‘08 companheiros. 4, Eis como sio: punidos os que recusam servir- me a mim, sea Deus, Criador, Redentor perpé- tuo Benfeitor- Por minha vida, juro que todo joelho se hi de dobrar diante de mim e todas as nagies me ser- vido, Quem niio serve de bom grado & minha bondade no tempo, seri foresido a inclinarse perante mi- nha justica na eternidade. Nio estranhes, filho, 0 castigo dos condenados, pois eles mesmos, Ionge de se admirarem, confes- Sam receber a digna paga de suas agdes. us ‘Ninguem contra. sua vontede vai para o infer- no. E° por prépria escolha que 0s réprobos 1é se precipitam e por isso s6 de si tem queixa. Proclamam minha infinita bondade e reconhe- “em sua extrema malleia, 5. O peeado & a porta do inferno, © os cami- nnhos que para Ia conduzem so todos os objetos eapazes de induzir a pecar. ‘Quantos se perderam pelo amor dos prazeres, pelo desejo desordenado de fazer fortuna, pela perversa ambigao de honrast ‘Nao desejes, filho, algo que te possa prender © em seguida lanear no abismo. ‘Nao € menor o perigo de busear em tudo a pré- pria satisfacio, Quantos, infelizmente, parecem co ‘megar a viver bem, ‘mas, porque nfo renunciam a ‘i mesmos, reineidem no mal, eaem em mais pro- funda desgraga e por fim condenam-se miseravel- mente. Para escapar ao inferno, nfo basta comecar ‘bem, mas faz-se mister perseverar no bem. Deixa para sempre o pecado e o mundo, para no te veres abandonado por mim. Renuncia ti mesmo, para que teu proprio peso nio te arraste as profundezas. Faze tudo, earissimo, padece tudo para evitar os eternos tormentos, Todos 08 trabalhos ¢ afligées ‘desta vida nada sio, comparados as penas do in- ferno. “Aqui chega em breve o termo dos trabathos ¢ do- res. No inferno, porém, nio hi resgate. 19 6, Discipulo. 0° Deus e Senhor nosso, qui rrivel & a vossa justica na eternidade! Justos, po- rrém, sito vossos julgamentos, ¢ justifieados pelos priptios réprobos. _ ‘Mas, embora nada me eausa mais violento terror do que o inferno, nada hé, talvez, mais apto a des- ppertar em meu coracio 0 vosso amor: Com efeito, Senhor Jesus, como posso pensar no fogo do inferno sem abrasar-me nas chamas de Que outra coisa seri eapaz de mostrarsme mais sensivelmente a bondade do vosso Coracio para comigo © impelir-me com maior yeeméncia a vos retribuir © amor? Se libertasseis dos tormentos infernais alguna ‘alma condenada ¢, fazendo-a voltar a esta vida, Ihe concedesseis meios superabundantes para faci mente salvar-se e no céu merecer eterno trono de gloria, quanto vos amaria essa alma! Acaso julgo- ria mostrar assaz a devida gratidio? Poderia pen sar no inferno sem desfazer-se de amor? Como no iguardaria bem puro para vés 0 coragio! Quio san- ta vida vos consagraria! Mas, Senhor, eu vos devo multo mais do que ela vos poderia dever. Muito maiores e mais exce- lentes Deneficios me fizestes, quando, merecendo eu as penas do inferno, delas me preservastes. Com feito, & melhor e mais valiosa graca ser isento de algum mal do que ser dele livrado, depois de ‘experimentilo. 20 E este favor tio estupendo, maravilhoso'e suave, ‘yés mo concedestes nfo uma ver, mas quantas ve- zes cometi pecado mortal E se, talver, no houvesse cometide pecado mor- tal, ainda mais eresceria a minha obrigacZo, age varseia a divida de gratidio, aumentaria o moti- Yo de vos amar, De modo ineomparavel, estaria mais eativo de vossos obséquios. : .o me houvesse a infinita benignidade do vosso Coragio preservado por meio de vossa graca, ha ‘quanto tempo terla caido em pecado digno dos su- Dlicios infernais. Nio hé pecado cometido por um omem, que outro nfo possa igualmente fazer, se nfo o sustentar a vossa graca Seja qual for o meu passado, a vos devo a ven- tura de ja ndo estar no inferno e ainda poder al- angar o céu. Fostes vés que mie Hivrastes da perdi ‘Segundo # abundancia ¢ grandeza da bonda- {Ge do vosso Corasao, salvastes minha alma das pro- fundezas do inferno e das garras de seus perse- guidores. ‘Vinde todos que temeis o Senhor e eu vos nar- varei quantos heneficios cle fez & minha alma (Sl 65, 16). ‘Como nfo haveria’ de amar-vos, 6 Jesus, bon- dade inflnita, ¢ consagrar-vos toda a minha afei- ‘Ghot Sim, en vos amo ¢ vos amaref, enquanto exis- firt Amar-vosel eternamente pelos séeulos dos s&- teulos! $6 a vés pertencerio todos os meus afetos! Para vés, 6 Jesus, viverei, para vés 56 @ qnem tudo devo. a LR aT IY CAPITULO XXVI 0 ctu 1. Jesus. Filho, os olhos niio viram, os ouvidos ni ouviram, nem o coracio do homem jamais con- ceebeu o que ett preparei para os que me amam e fielmente me servem até ao fim (1 Cr 2, 9) Quem seri eapaz de exprimir, aos que ndo 0 go- zaram, 0 que € 0 céu, donde todo mal & banido fe onde hé abundincia de todos os bens? LA no se encontram trabalhos, nem afligées, tentages ou perigos. Todos esses males passaram com a vida mortal, dando lugar & perfeita tranqui- lidade, ao eterno gozo, & imperturbavel paz, & fir- ‘me e perene seguranca. 2, LA nfo se sente frio nem calor. Nao se véem intempéries ou sucessio dos tempos, nem dias nu- Dlados ou noites tenebrosas. A minha gléria sem- piterna ilumina aquelas regiées bem-aventuradas, a divina sere: jade de meu rosto as torna apra- aiveis, a infinita docura de meu Coracio as ani ma, de modo que tudo é amenizado com Iuz pura @ sempre nova. Bem-aventurados os que Ii habitam! Nao pade- cem fome nem sede, Jamais sofrem dissabores ou enfermidades. Saciados ¢ inebriados na torrente das divinas de- licias, acham-se no vigor da eterna juvéntude, e, no gozo da vida imortal, brilham mais que o sol, nes perpétuas eternidades. '3, Filho, ali me verés como sou. Face a face me contemplaris nos suavissimos esplendores da mi- 2 nha Majestade. Arrebatado de admiragio e trans- ordando de gozo A vista de minhas infinitas per~ feigSes, louvaris espontaneamente e exaltaris so remancira, no excesso da tua alegria, os meus amabilissimos atributos. Entio conhecerés ao mesmo tempo os profuun- dos mistérios da fé e todos os segredos da natureza. ‘Toda a cigncia dos filésofos & ignorineia, compa rada ao conhecimento do menor dgp meus eleitos. ‘Veris toda a magnifieéncia do meu eterno reino, suas riquezas infinites, suas honras sempiternas, ‘suas delicias perpétuas. Diante de tantos ¢ tao fgrandes encantos abrasarte-is em meu duleisi- 4. Entio, fitho, de modo perfeito me amarés, sem Jivisio dos afetos, sem desfalecimento nem fim. ‘Agora, por vezes,-te afliges, ignorando se é9 di gno de amor ot de édio. Li, porém, com inexpri- nivel alegria terés a certeza que me amas ¢ és or mim amado, e este mfituo amor ha de perduc rar por todos os séculos. ‘Lé, com perfeita seguranca, repousaris sobre meu Coracio e gozaris plenamente a docura de famarme e inebriarte do mew amor. Saturado de extremas delicias e arrebatado fo- ra de ti, mergulharte-is com 0s anjos ¢ santos no ‘Secano da amor, Tejubilando em sempiternos efn~ ticos de amor. . ‘Assim passarés os séeulos e viverés na eterni- dade, sempre a desejar e querer amar, e sempre feliz e saciado de amor. 123 5, Enfim, o que & a consumacdo da bem-aventu- ranga: eu serei tua posse © de mim gozaris eter nameate. Seris todo meu ¢ eu todo ten, e gozo que em mim encontraris sempre his de experimenticlo de modo novo e duleissimo. Em mim possuiris to- dos os bens, tendo tudo © que possas querer of desejar. Imaging, se o podes, as belezas, maravilhas e do- sguras encerradas no eéu, quando te for dado ver seus encantos ¢ inefavel gléria, tomar parte nos coros angélicos, alegrar-te perpetuamente com os santos, contemplar ¢ amar a Virgem santissima, gloriosa Soberana do reino celeste, e ser por ela reciprocamente contemplado e amado, Quo amaveis so os tabernéculos celestes, fix ho! Que aprazivel sociedade e doce bem-aventu- ranga a perdurar eternamente! Eis, meu filho, a recompensa excessivamente grande dos que me servem de todo 0 coragio. Aca so pode o mundo dar ou mesmo prometer tal fe- lade? Levanta os olhos ¢ contempla 9 que te espera, se me fores fiel até ao fim. Coragem, filho! Quanto puderes, pela graca divi- nna e tua cooperacio, purifica-te perfellamente e conserva-te nessa pureza, pois no eu nada entrar ‘que esteja sequer de leve manchado, Quanto mais puro fores na terra, tanto mais lorioso seris no eéu, mais préximo de mim e mais caro a0 meu Coracao, wm 6. Disctpulo, 0 Jesus! Como sto felizes os que se acham no eéu convoseo! Ditosos so os mortais que vos servem de cor®: do puro! Inefavel bem-aventuranca gozario na feternidade, e mesmo no tempo, quem haveri mais, feliz que eles? _ feliz servigo de Jesus, que nos aleanca tio grande prémio! Tornas facil e suave tudo o que condiz a tio imensa gloria ¢ felicidade. ‘O° duleissimo Jesus! Ordenai-me fazer ou softer ‘por vis 0 que quiserdes. De bom grado tudo ace {o, afim de vos comprazer no tempo e vos possuir na eternidade. ‘Rogo-vos, por vosso sacratissimo Coragio, me le- vyeis salvo a0 vosso reino, pelo caminho que vos aprouver, e, assim, com os anjos e santos vos con- temple, ame e goze nos séculos dos séculos’Assim DIRETORIO PARA A SEGUNDA PARTE 1. Bsta segunda parte tem por escopo aplicarsnca a fssogurar, pela pritica das vireuder, & nossa lelgio, depois de’ nos havermes Ubertado dos afctos pernicionos € esordenados. Para consoguirmot ete fin! de. modo sficaz ¢ a0 mesmo tempo auave, € mister tomasmos por ‘modelo a Jesus com as disposigbes Interires do acu Cov ragio. Sendo ele “0 eaminho, a verdede ¢ a vids", so © iitarmos, iremos de virtude em virtude, com sop. ranga, certeza e faclldade, © destarte havemoy de st rantir a noase ‘salvacio, e dole modcs pode-so praticar, emt qualquer estado ou condicio de vids, 0 exereteio des virtues pelas quats ros € dado imitar @ Coragio de Jesus e reprodusir em ‘née sua vida interior. 0 primeiro modo eonsiste em pra ticar as virtudes que sio de preceita , por eonsegulnte indispensaveis a qualquer estado ot condigie. O seg, io, em exercitar, segundo 0 benepléclto divin, tam: bem as virtudes que sio de conselho e tals asseguram nossa salvacio, conteibuindo. melhor para a gloria do Deus e merecimento nosso. Como, porém, ambos 09 mo. dos encerram indefinidos graus, nor qusis se pratica Vireude sempre com maior perfeigio, nio hi pesson, ot mais perfeits, que nio possa tom provelto ocspar-se esta matéria e dal colher abundante fruto, ‘as, sendo vontade de Jesus que, na imitacio de suas ‘irtudes, sejamos aca de tudo humildes ¢ mansos de ‘oragio, com diligéncia © culdado, apliguemo-nes io 56 a basear na verdadeira humildade e aperfeleoar pel ‘mansidio e cavidade quaiequer virtudes que nele aprene 125 demos ¢imitamcs, maa tambem s srmoe, antes de td ‘namie ¢ maneos na maneir de patient eares vitades "Em parte alguma sprenderemos mlhon, mie eeg3r0 ¢ faclimente as vitadan do quo no Coracfo de Jesus Sendo este Coragio 0 modelo da verdaeira vstide so contemplrmnos eam atone, veremon en gue om Sate virtue e quae as suan quallades; estate evita: fomos 0 perigo de errar em matéria de tanta importin. ia, quer para o tompo quer para a cleradade, Com ad- sits! conolatto,apronderemos ser = vitudo » spego ‘oto do coragio a slgum objet, de alqum modo Bom, Notaremos tambem este objeto, ao quel damot por eses de modo figura,» denominagio de virtade, Bio Fim selidade a propria vitude, mas apenas objeto da ‘irEude. Aprenderemos igualmente que a virtue, tal cx soo crintZo n dove praticar, precas sem, f0 natural, Dont sobrensturl, ¢ veremce claremente a ifereasa fxistente entre ambas, Or afete do Coracto de. Jesus ‘gue ihe inapirevam of stor internor ov exterse, orig Sivamree nfo de tmpulso on movimento da natarean ic rena, mas de um Principio saperior © divi: no 2 prodsam conforme’ ot sehtimentor naturals e hxmares, qs de acordo com o divino benpldcitoe, loge dev sar algum delete tempore, tendlam em tado para Deus fomo se dtm fim. Por consetinte, s0 procuramos o bem por impulao cov movimento metamente natural se procedesion unica. ‘ents por inclinagso ou aversdo'provenentes da matte een se. temos im virta tun fish menamente natural, mos virtue natural e oom en mio havemoe ds ‘lcangar porfegdo ris nesta vida nem fruto de mé- igs para elemidade Porm, so do Corecio de Jus aprendermes «virtue sctrenatiral o & protcarmos, lovaromos wie intron hn do miitonw eemelsante is. ‘Que & a vide tnerior, cxjo modelo encontramos no Ccoracio do Jens, renko comecar com a graga de Deus fo por principio sobrenstural todos oa atoe volntitos, Get Sacernos quer extrnon termini contorme 8 YOO. 127 {ade de Deus, tr nelen como fim Deus e sus intareses ccuparse interormente de Dets, noms Salvador e pot nor viver para ele? Pration tido inno aguelo que de ‘cordo com 0 divino beneplasto principia © acaba todas 5 suas aghes voluntéris, tendo eat mira & vontade dr ina e por amor perssverando tin tratar com Deus no Inno do coragi. Eis a verdadeira vida interior, pula dual se adguirem genunas e slid virtades © se cheee Som segorana « fuidade d real santado.o toile "Ess vida convéms a quslauerestedo ¢ condigio. Nao 6 privé dos eclesléstios ¢religioso, tae tam per fence tos legos e scalars. Acsso nfo vivian ean geral deste modo of primeiroserstios? Nio & esta a vide @ {odes proconiaada plo range? ualguer pemoa doteda de boa vontade pode levar eta vida sintifieants, prticar a. virtade sobrenataral sting a perfecto. A agusigto da virtude © da por {gio nko depend, eo muitos parcom ener da aele das dsposigies natura, aces ow dfcen, tas sim, 4a graca divin e da cooperacio prestada pela veatade Inumana, Como Deus dia graca no em atencio ie quae lidades natures, mas a principio gratultamente e depois om vista doa mérior sobmensturads eda aragio, eons {ade humana, sje quel for a dnporgio natural do ho. nem, 6 realmente ze de coopera, ot mio, com rae Say toma evidente gue a vstude ew perficho nfo de Penden da indole ow da dsponieto natural. Portant, ‘Mo adqurimos mhor'e mais perfitaments & virtade por termos indole mais faci, mam am quanto mais eft Gaz for ® cooperacio da nosea vontade. Nio € poraue Ssentimos menos as repugnancins da natareza, 3 ponds fazemos atas mals generoeos da vontade, que sleacamos ple pera «ia vistdn, Ean dota to commie or, ensinada unsnimemenie pelos saatcm, que & apres: eran do préprio Caragéo de Jus, merece Yoda a noma ‘Com efit, na prtica da vrtude, & mister aceutelar= smornos das iusde entre as quels'& prinelpal e quasi 128 ‘comum & 8 soguinte: contentarmo-nos com 6 objeto da Sirtude, sem praticarmes @ prépria virtude. Hm outras palarrast jalgamoe pratiar a virtudo, quando, por in ‘inagio natural, gosto ou intengio produzimos’o_ objeto {da virtades on entio, pensamos poder adgurir verdadeira fe sida virtude, sem atos repetidos e generosos pelos ‘vais se vencom e #6 sbnegam as palaées e os impulses da naturesa, ‘Nesta. temivel fiusko ctem mormente os ‘gue nogligensiam puriflcer perfeitamente 0 corasio. ‘Outras iiusdes que podem por veues ocorrer no exer: cielo da vine, nascem em goral da precedente, Tals de'um Indo, detanimar por causa das difieaidades fou relutincias da naturesa, conaiderando-as como obstii flos A virtude ¢ no como meios, que de fato assim po- dem tornar-te, quando delas nos servimes generosamen- te afi de edguinir gentina o sélida virtude; doutro lax Go, considerar como virtude ae bous qualidades naturals ‘Ou a laengio de vieios e tentagSes, ou, sinda, nogligen- dando a verdadelra.¢ ‘lida Virtude, agpirer unit ‘vina, Basan e outras TuaSes faciimente eviterés, ‘qual verdadeiro ditelpslo do Coracio de Jesus, viveres ‘ida interior. Por consoguinte, quando te achares neste perfodo da vida: expritval, que te 6 ensinado testa segunda parte pelo Coragio de Jeros, deves envidar todos os teus e=- Torgos para conkecer e amar # Jesus do modo mais per- feito, aprendendo e tomando cada ver melhor 88 dispo- sles do son Coraglo, em tous pensamentes, palavras fcées. Para aleangares esse intento, além dos dois mé& todos de meditagso, jé explieados antes da primelra par- ‘te, que poderis empregar tambem aqul, se neles achares ‘roveto, es como te convém proceder. 1H, Duplo & 0 método préprio para usar a parte se- ‘guna: 0 primeiro eonslate na meditagio, o segundo na fontemplagio, senda ambos mais conscantes aos ensina- Imentos que os santos nos transmitiram sobre a oracko rental Se te servires da meditagdo, representa-te, com 0 aux‘- tio da meméria alguma virtude do Coragio de Jesus que te sirva de objeto 8 meditacio © em seguida seja por tt raticada. ‘Tua inteligéncla considere as qualidedes da vistude Proposta, compare teu préprio coragio com o de Jesus, relativamente esta virtude, repasse tua vida passada, afin de examinar 9 modo © o grau em que cultivasts fen virtude. Se astaz o fizste, di gragas a Deus, teu Salvador, attibuindo-Dhe toda a fonraj em caso contrari, Dede perdio, providenclando pare o futuro sobre as dea Sides © 0 modo de exereitar casa victude. ‘Afeigoc-se ta vontade a cata virtude, produzindo atos fnternos da mesma; além disso, entretenia-te com Jesus, cexprimindo os sentimentes do coracao: de srrependi: ‘mento e bom propésito, de temor ou experanga, de aver~ ‘io ou amor, enfim, eamuniquesthe tudo pledosamente Airijetho muitas siplieas Se te entregares & contemplacio, v8 no mistirlo ou ‘no fato particular para eave fim escohido, quais sejam (5 sontimentos do Coragio de Jerus 8 esse respeito e-em ada uma das elreunstincias, qual 0 objeto © 0 grax da sua estima ou reprovacto, quais as coiaaa que evita ow procura. Considers, nesta matéria, quais as palavres que pro- {ere o Coragio de Jesus e a3 que por ele nem sequer slo ceoncebidas, © muito menot pronuneiadss, Observa, outrossim, quais os atos procedentes do Co- ago de Jesus © as virtudes com que se aeham omadon, ‘Durante toda esse contemplacio, faze frequentes ates que expriamem piedosos afeton ou petigdes,conforme tua evosio © necassidade, ov segundo. a inepiagéo da mac. Desie modo aprenderés na contemplacéo a pensar, falar e procedor como o préprlo Jesus ‘Além dos atos das virtudes teologala, recomendam-se especialmente, nesta parte da vide eapiritaal, atos repe- tidos da virtide a cuje prétice te aplleas, de generoea abnegesio da. naturesa desordensda ede nobre amor 130 ‘para com Jesus, sendo convenionte relteré-loa com per- severana. Quer medites ou contemples, 6 mister considerares os ‘mistérios da vida de Jesas, como se 08 presoneiasses. EP © que ensina explleliamente sto. Boaventura: "Se de- ‘sejes colher fruto dastas meditagées, faze como ae et ‘eases presents de palavras e ages que se narram do ‘Rosso Senhar Jesus Cristo, como se aa ouvnte com O= of vidos e as visses com os oles, apicandoshe todo 0 afeto a alma e pondo de lafo quaisquer outros culdados & solicits” TIL Os santos, versados nos caminhos interlores da ‘vida copeitul, ensinam que o espirito maligne costume ‘tentar mals sob a aparéaeia do bem aqueles que ji vi ‘vem isentos de pecado e so exercitam a aquisigto das Virtudes. His por que recomendam a tals pessoas as se- [guintes rogras para discernimento robre o bom e 0 mat espirto, © a8 sugesties de ambos. Primetra. Aos que progridem de bem a melhor, 0 ‘epirito bom move pacifien, serena © suavemente ‘O-mau expirito, porém, move a alma eom perturbaclo, confit © agperezs. ‘Aos que vio de mal a pelor, os mencionados espcitos ‘movem de modo contririo. O epirito hom os estimula, fnguicta e provoca para que se eonvertam. © cespirito mau esforsa-se por tranqullisi-los no mal, acalenti-los © lsonjei-ies, atim de deté-os no pecado ¢ fndustlos s maiores queda. Segunda. E' priprio de Deus ¢ de qualquer espirito bom dar, em seus impulaos aos que procedem bem ou sinceramente para isso 80 esfoream, Yerdadelra alegeia «fabio espirtual,afastando a tristeza e a perturbagio, fsusadas pelo espeito mau. Terceira. 0 espiito mau observa se a alma possue conciéneia delicada ou relexade. No primsiro caso, es- forgacte por tomla mais delicada até no eecriptlo © ‘a0 extremo, para mais facimente perturbi-la venes-la: ‘or exemplo, se ¥é que a alma nlo comete peeado, mortal * at ‘ox venial, nem falta voluntéria, entio, o espirto maw, por nio Poder indusila a eair em pecedo, procura fazer ‘com que ela flgue © comsldere ser pecado 0 que de fato fnlo & No segundo caso, porém, esforsa-se 0 esptito Imaw por tornisla sinds mais relaxada ¢ obtusa; por fexemplo, ge esta alma a principio menospreza os pect {dos veninis, procure fazer com que pouca importincia, ‘G8 aoe mortals, o, se antes ae Inquictava algum tanto ‘com ce pecndor, cle trabalha por Induzi-la-a pouce om sada se preocupar com eles ‘Quarea, A alma desejoea de progredir na vida esi ritual deve sempre proceder de modo contririo a0 exbi- tito mas, Se este tenta tornéla mais relaxada, procure ‘2 alma tornar-ee mals delleada. Igualmente, so elo quiser fndusila a escrdpos, esforeee a alma por fimar-se rho reto melo, fim de tomarse e manterse tranquils. ‘Ouinea. EP préprio do copirito. mau tranefigurar-se ‘as veses em anjo da Tus. Comeca apresentando pensamen- ‘tos convenlentes & alma piedosa termina por fazer The perversis sugesties. ‘Sexze, A alma deve examinar atentamente a série 4o pensamentos que Ihe sobrevém. Se o prinepio, 0 meio fo fim forem bons e tenderem para um bom objeto, & ‘Sinal que of pensamentas sio sugeridos pelo esprito bom. 5ies, go série de pensmentos terminar em alguma eoi- ‘mis ou menos boa do que a alma. se propunha fazer, ou entdo em inquieti-la, perturbando-a e tirando- Ihe © trangulidade e a paz do que antes gozava, & in- ‘lelo evidente procederem tals pensamentos do exprito ‘Sétims, ‘Tendo descoberto ¢ conherido o inimigo pelo ‘mal a que indus, convim a alma considerar a série de Densamentos sugeridos com aparéncia do bem e investl- Bat, deade 0 principio, de que modo o inimigo proci- Fou aos poueo! destruirihe e roubar-ihe a tranguilidade fo pat Interior, até realizar o seu perverso intento, Des- ‘arte, instrulda pela experiéncia, evitaré mais ‘facil Imente no futuro a clladas do espizito mau (Conforme ‘santo Tnielo, slo Bernardo, santa Gertrudes). 132 SEGUNDA PARTE EXORTAGOES A IMITACKO DO SAGRADO CORAGAO DE JESUS EM SUA VIDA TERRESTRE CAPITULO I © aprego que se deve ter pela graca santiicante Perse ae aslo em conserva 1 guarda este bom depésito E' teu tesouro, twa gloria, ta felicidade-e todo teu bem. E’ a graga que faz dé ti a imagem de Deus, tor nandoce semelhante a ele. ‘Reconhece, pois, 6 homem, a tua dignidade. Pe- ta graca santificante és elevado & semelhanga com Deus, fomas-te mais sublime que o universo € nada hha na terra que te seja comparavel. ‘Que €o esplendor dos astros? Que & a formo- sura de todos 0s seres criados, quando comparada 4B beleza da alma, ornada com a divina graca ¢ deste modo assimilada ao proprio Deus? ‘Ergue-te, portanto, ¢, lembrando-te de tua be- leza, no te deixes macular. = 2. Pela graga que em ti rexplandcce, Deus te dot, no de qualquer modo, as come iho ea asim e mito amado, © que eu sou por naareza, posses por adop- 6, deta forma que no s6 3 chomade, mas na ‘erdade, éfilho de Dews (40 80} Compreende, se 0 pods, 0 que € ser flho de Deas amado ¢ acaiclado por fal Pail No mundo lorianse o fils ejulgamse flizes de ter pals Siios, Dons poderosos, ou mesmo ros, sees o grandes, Que so, pordm, ax qualidades de todos os pa terreno, contontadas com as prfeigbes de Deus? Quanto mats justo e forte nfo & o mntivo que tens de gloria regoij, por postures emo Pa © pripsio Deus, Saberano do cate da tera! Por consegnte, pondera com 0 devido apreso a excelénca da divina adopeio, A ti que autora tras exllado, estangeiro,jazendo na mis, ol concedido pela graca divina que de excrav te tr asses liver, de peregring fosses promovido td fnidade de filo, assim nobitad, gocesses em Axndlinela dos bens divine, ‘Acaso nfo excede too entendimento © nfo ar rebata todo coragio que Deus chame 9 homem de fiho e como fal o' considers, e que o homem fnvoque ¢ ten a Deus por Pal? Bemeaveaturado aguele que, conhecendo valor da grage sant ante, pela qual fot elevado dignidade de lo de Deus, eatina tanto sa alta nobresn, que de ne- ‘hum modo se mostra degenerado, mas antes 3 evela digno de fal Pais 134 43, Se, pela graca, és filho, tambem és eonstituide herdeiro. Em verdade, és herdeiro de Deus € meu coherdeiro (Rm. 8, 17) . Por conseguinte, filho, 0 reino sempiterno que me perience por direito natural, tambem é teu pelo titulo da graga santifieante. ‘Quando olhas o eu e em espirito contemplas a ‘gloria, a bem-aventuranca ¢ todos os bens eter~ ‘nos, dize contigo: Bis minhas riquezas e minha hheranca, se conservar o titulo da graca. ‘Meus ‘méitos, filho, fizeram com que @ graca te conferisse diteito certo aos bens celestes, € min- guem te pode desherdar, senio tu mest. Deus mantém sua promessa e ser fiel & sua lavra. Tu, ordi, se rejeitas a graca santificante, perdes no mesmo tempo o direito e a heranca. 4. A graca, filho, constituindoste herdeiro do reino celeste, tambem te faz compankeizo dos an- jos ¢ irmio dos santos. ‘Se te alegras em gozar a docura de amigos ilus- ‘res, embora mortais e sujeitos & mudanca; se te Tegozijas de ter irmfos segundo a carne, ainda jque seu nimero partilhe e diminua a grandeza a heranca terrena, qual ndlo deve ser o teu jubilo tm ponslres pela graga como compankeiros 0 san- fos anjos e leres por irmios os bem-aventurados tcleitos de Deus, euja multidfo, longe de dividir ow minorar a tua celeste heranca, antes « multiplica e aumenta? Que irmios sio os teus, meu filho! Como sto umerosos,ilustres, opulentos e bons! Sao teus ir inils primogenitos, preelaros por seus triunfos, co 135 roados com a gléria da bem-aventuranga, jd se- guros de sua sorte, mas ainda solicitos por ti Amam-e sinceramente, estimulam-te com seus fexemplos, socorrem-te com suas preces © convi- dam-te & recompensa. Ditosa graca que te granjeia tais irmaos! Oxalé ‘bem 0 compreendas, filho! 5. Outrossim faz a graga santifieante com que 4 na vida presente gozes a verdadeira felicidade, Esta-graca & 0 principfo da paz interior. Sem a graca no hi verdadeira paz, pois s0 ela assegura 8 paz, Quem jamais Ihe resistiu e teve paz? (16 9, 4) F, onde nio ha paz, que felicidade pode existir? ‘Se gozares a paz proveniente da graca, alegrar-te- 4s santa e tranquilamente na prosperidade, e no in- fortinio facil e frutuosamente encontraris con- solo. Conserva-te em estado de graca, e sempre po- doris ter paz e felicidade, Sio disso testemunhas todos os santos e mesmo todas as almas que, uma ver convertidas, conservaram com diligéneia a di- vina graga, Na posse da graca, quando compara ram seu estado com a precedente condigao de sua vida intima, puderam por experiéncia afirmar- me: Um s6 dia em vossos trios, 6 Senhor, & me- Thor do que mil nas tendas dos pecadores (SI 83, 10). 6, Demais, filho, se vives na graca santificante, ‘meu reino esta dentro de ti, de modo que repouso impero em teu coracio, como em meu trono. ‘Meu reino consiste na tranquilidade e alegria do 136 Espirito Santo, que é o Espirito da caridade e san- tificagao. Neste reine, governo menos como Soberano 20 siibdito do que como Pai a eduear o filho destina- do a compartilhar do seu poder. Enquanto permaneces sob o dominio da graca, minha sabedoria te governa de modo especial, mi- nha onipoténcia te protege ¢ meu amor te acom- panha e abraca, Nada tens a temer,filho, por este reino, assim governado, defendido e amado, a nio ser que tt mesmo te tomes traidor. Se fores fiel, indubitavelmente hi de permane- eer firme e perdurar eternamente, ¢ nio estari fem poder do inimigo destrui-lo ow arruiné-lo. Como é doce e consolador este pensamento, tho! Como é apto a inspirar-te a méxima estima pela graga santificante! 7. Considera, meu filho, quantos ¢ qui gran- des bens possues encerrados neste tnico bem. ‘Acaso nao vale mais do que todas as coisas des- te mundo? ‘Ora, filho, para que sempre melhor © mais per- feitamente conhegas o valor da graga e Ihe consa- igres devida estima. Se bem a conheceres ¢ com jjustica a apreciares, acharas pouco ou pelo menos ho julgaras demasiado sacrifiear, para conservi- Ia, se necessirio for, nio s6 a fortuna, a boa fa- ‘ma, tudo 0 que hi de ageadavel © caro, mas até ‘mesmo a saude ¢ a propria vida. ‘No 0 fizeram os meus santos martires, todos 08 santos hersis, entre os quais inlimeros adolescen- tes e virgens delicadas? Acaso milhares deles, 137 ] 1 fo seeping tars ores quando se thes oferecia a escolha, nfo quiseram sacrificar nos tormentos todos os hens desta vida, ea propria vida, antes do que perder a graga em. troca de algum bem? Portanto, ja que és filho de tio ilustres herdis, emprega todos os esforvos, assidua vigillnela e mi ximo euidado em conservar esta preciosissima graca, tanto mais que todas as tentativas dos ‘migos tém por fim despojar-te dela e assim per- der-te, Demais, carissitno, conforta-te com a graga, ne- Ia cresce e por atos de verdadeira virtude pro- ride até & perfeicio. Compreendeste todos estes en- sinamentos, meu filho? 8. Discipulo, Sim, meu Senhor. E oxald ja an- tes © houvesse compreendido, Se outrora assim 0 fizera, depois de perdé-le, no me teria Iamen- tado € gemido mais do que Fsatt pela perda do di- reito de primogénito? Ineomparavelmente maior era minha perda do que a sua, e em troca de ob- jelo mais vil. AhI se 0 houvesse compreendido, ‘acaso, por qualquer coisa que foste, teria rejeitado este tesouro? 0 Senhor Jesus! Oxali nunea houvesse perdido este maximo hem! Porém um s6 pensamento me cconsola: nio ser ainda demasiado tarde, poder go- zar-dos privilégios de vossa graga e por ela santifi Gracas vos dou, meu duleissimo Jesus, por ter- des usado de tio grande miserieérdia para comigo, indigna criatura. Jamais esquecerei a imensa be- nignidade do vosso Coragao, 138 0" Jesus, fazei, eu vo-lo rogo, que dora em dian- te prefira qualquer género de morte & perda de vyossa grasa. Suplico © imploro, por vosso sacratis- simo Coraeio, seja atendida a minha prece. Procure quem quiser a prata ott 0 ouro, honras ou preeminéneias, alegrias do mundo ou consola- ‘¢0es. Quanto @ mim, Senhor, por vés instruido, de sejo, acima de tudo, conservar a vosea graca e nela cerescer todos os dias de minha vida. CAPITULO It Mocivos quo impelirem 0 Pilko de Deus 1. Jesus, Filho, s6 Deus 6 bom. Ele é a stima Bondade, a suma Sabedoria, o sumo Poder, a st ma Perfeicio. Que pode haver melhor e mais perfeito do que seguir ¢ imitar a Deus? Como Deus niio podia ser pereebido pelos sen- tidos e os homens eram propensos as coisas visl- veis, aprouve-lhe que eu, pessoa divina, me fizes- se homem, apresentando forma exterior eapaz de cativar 0s sentidos dos homens, afim de que eles pudessem com maior facilidade e dogura imitar a Deus, s primeiros pais do género humano, aspirando A grandeza, eoneeberam em seu orgulho o desejo ea tentativa de se tomarem semelhantes a Dew, conhecendo como deuses o bem e o mal, Cairam, porém, no pecado, e com a perda do bem conhe- ldo, fizeram experiéneia do mal até entio igno- rade, 139 Eu quis, por conseguinte, apresentar-me de tal ‘modo aos homens, que sem presungio nem perigo pudessem com seguranca aspirar & semelhanca com Deus ¢, assim, libertados do mal, adquirissem © bem. 2 Antes de tudo, porém, era mister remir os ho- mens, pagar suas dividas e restituir-thes a liber- dade. Graves débitos os oneravams. Tio grande era a injuria feita & Majestade divina que nenbuma eria- tura, mas s6 0 proprio Deus humanado podia sa- tisfazer plenamente a justica divina e reparar em verdade a honra divina, Jaziam os miseros escraves do inferno a lamen- tar sem remédio a sua perda, Compadecido dessa infeliz multidfo, vim a eles com o coragio a trans- bordar de misericérdia, afim de resgaticlos e eon- duzi-los & santa e doce liberdade. 4, Estando o céu fechado por causa do pecado, niio havia entre as erlaturas quem 0 pudesse abrir. Se, para esse fim, niio houvesse eu baixado & ter- ra, nenhum mortal jamais subiria ao eéu, ‘Antes de minha vinda, Deus era sem divida eo- hecido na Judéia, onde, entretanto, apenas poucos ‘ serviam dignamente pela graga, concedida aos hhomens em vista do meu futuro advento. Mas en- tre o8 gentios quo diminuto era o nimero dos que, ‘cooperando com a graga, temiam a Deus, pratica- ‘vam a justiga e Ihe eram accitos! Em que trevas vagava descuidada a grande maio- rial Em que profundo e vasto abismo de eorrupsio se revolviam os homens! E, mesmo depois de con- 140 sumada a obra da redencZo, como vivem ainda ‘muitos, no obstante tantos meios de salvagio! Tgnorantes por propria culpa ou esquecidos de mim, erram como cegos e, depravados, preeipi- tam-se na perdicio. ‘Que seria do género humano se eu, 0 Verbo eter~ ‘no, nfio me hottvesse inearnado? Nem um s6 ho- ‘mem teria podido aleangar a Deus ea bem-aven- turanga sobrenatural, Assumindo a carne, uni em minha pessoa a sublime majestade divina com a fextrema baixeza humana, de forma que, por mim, quem quiser poderd atingir a Deus e a ecleste bem- aventuranca. 4. Vim glorificar a Deus, meu Pai, e manifestar ‘seu nome e sen amor aos homens. ‘Outrora 6 nome de Deus, 0 nome do Senhor, era santo ¢ terrivel. Agora, o nome de Deus é 0 santo fe doce nome de Pai ‘A Lei antiga era lei de temor. A Lei nova é lel de amor. Pois Deus amou tanto os homens, que Thes dew seu Filho unigénito (Jo 3, 16). E eu, pelo amor do Pai e dos homens, incarnei- me por obra do Espirito Santo, que é 0 Espirito de dilecao, "Toda a obra da Incarnago’é obra de amor, de amor desinteressado, de amor infinite 5, Vim do eéu e para Ia vollo, mostrando a to- dos o caminho, afim de que onde eu estou, af es- tejam tambem os que me seguirem. ‘Eu sou a Verdade e apareci brilhando por entre as trevas do mundo, afim de iluminar todo homem wat vindo a este mundo, e assim cada um poder dirt. Bir os passos por caminho certo e seguro. Eu sou a Vida e vim a este mundo para que os ‘mortos recuperassem a vida e a tivessem em abun dincia: a vida da graca na peregrinagio terrestre. | ea vida da gloria na patria ecles (Jo 10, 10), Mas eis que o homem, depois de regenerado & vida da graca, livre do eativeiro da morte e formado do caminho que conduz & pate Ode segui-lo por achar-se fraco e debi Grandes sio as suas enfermida: porém maior a onipoténeia do Médico, a virtude do divino medicamento, eapaz de curar toda lan guidez e doenca. te remédio & a graca multiforme, preco de minhas dores, didiva do meu Corgado, que convida todo homem a desejar a saude e que Ihe ministra, uma vez curado, auxilio para sequir-me. Vindo a este mundo, teria podido perfazer @ mic nha carreira mais rapidamente que um igante, A muiltidio de enfermos, porém, de tal modo co. moveusme o Coracdo que, detendo-me entre les, parecia de certa maneira tomar-me fraco com eles, Indo 4 sua frente, aplanava-thes toda aspereza do ‘camino, & cada um socorria e animava de forma ‘que poderiam, se 0 quisessem, seguir-me facil e ale Gremente os passos para o reino do eet 6. Eis, meu filho, como te amei! Pois tudo isso fiz tanto por todos como em favor de cada um em, Particular. Por conseguinte, tambem por ti, como se estiveras 36 neste mundo, perdido e infeliz, e eu viesse do eéu busear-te, remirte ¢ salvar-te 2 ‘Ja que eu me dignei descer a ti para conduzirte 20 meu eterno reino, segue-me agora. Em qualquer condigio ou estado, em todas as ‘ireunstincias, propée-te imitar a minha vida, ca minho seguro'e certo para o eéu. Nao ereias ser este caminho apenas a minha vida exterior, mas, principalmente, a interior. ‘No meu intimo esti o meu Coraclo, onde se acha toda a gléria e o principio de todas as vir tudes. Filho, nfo sejas como os judeus, que, s6 atentos & aparéneia exterior, nfo consideravam os senti- mentos € disposigdes do meu Coracdo. Tu, porém, F penetra-me no intimo do Coracio. Perseruta-o, me- Gita-o, absorve-te nele. 7. Se fores grato para comigo ¢ me retribuires ‘© amor, his de indagar com diligéncia e cumprir fielmente 0 que for do agrado do meu Coracio. ‘Mas € na oragdo que deves inquirir © meu bene- plicito, buseé-lo com amor, abracé-lo por amor tambem com amor execut-lo Meu fiho, a oraeio & a chave do eéu, © mes- ‘mo a chave do meu Coracdo. Abre com esta eha- ve e goza de todos os seus tesouros, 8, Discipulo. Gracas eternas vos dou, Senhor, Deus, Criador ¢ Redentor do género humano, por ‘vossa gratuita e exeessiva earidade que vos Ievou a reparar 0 homem do modo mais maravilhoso do que fora erindo. 0 Jesus Cristo, que desde a eternidade, sendo de ‘modo inefavel Filho de Deus, quisestes, no exces- ‘50 do vosso amor para conosco, tomnar-vos Filho 3 do homem, quem nio vos ha de retribuir o amor? Quem nio se uniré inseparavelmente a vis, viven: do unicamente para aquele a quem tudo deve? 0 imensa benignidade! O° admiravel suavides dol Contemplar o Filho de Deus nascido da Vir- gem! Adoro-vos, Jesus, Filho de Deus vivo, incarnado no seio de Maria! Em vés espero, 6 bondade inf nital Amo-vos de todo 0 coragio, 6 amor aman: ‘fssimo e amabilissimo! Sols meu eaminho, minha verdade, minha vida, CAPITULO Ir Nosso corseio, 4 exemplo do sagrado Coraséo de Jesus incaraado, deve consagras-se inteiramente a Deus 1. Jesus. Filho, meu primeiro ato apés a Incar- nagio, foi um ato de amor pelo qual me consagrei totalmente a meu Pai celestial. Nada excetuei nesta oblagio total a meu Pai. Nada houve na vontade de meu Pai que eu no abracasse de todo 0 Cora- sho. 4 nesse instante disse explicitamente do intimo do Coracio: “Eis que venho, 6 meu Pai, como vi tima de tua vontade. No eomeso do livro foi eser to, a meu respeito, que eu faria tua vontade. Assim © quero, ea lei do teu benepl do meu Coragao” (Sl 89, 8 s). No primeiro momento de minha vida, o Pai apresentou-me todos os trabalhos e dificuldades, aaa fodas as humilhagdes e dores, tudo, enfin, que ew devia fazer e padecer até ao iiltimo suspiro. Com generosa vontade e coracio totalmente de icado, tudo accitel, segundo o beneplicito do Pai. Esta disposicio interior do meu Coragio conser vvei-a em todos os momentos de minha vida, sen- tindo-me perpetuamente impelido a fazer sempre © que fosse do agrado de meu Pai, 2. Bis, meu filho, © modelo da verdadeira devo~ eo que te ha de ensinar a dedicar-te igualmente de todo 0 coracao desde 0 inicio de tua carreira ‘no caminho da virtude. Na vida espiritual, quasi nilo se eneantra algo tio importante como a verda- € total devoeso. O coracio que nfo & com- smente dedicado, di provas de estar destituido ‘de integral pureza. ; Se fores pareimonioso comigo, eu 0 serei conti- 0. Se, porém, fores liberal, eu reciprocamente 0 serel, sempre exeedendo-te em generosidade. Se de coracdo magninimo te consagrares a mim com todos 05 teus bens, de modo que em tudo braces eficazmente o meu beneplicito, eu te con- duzirei inviolavel e seguramente em todos os acon- tecimentos ¢ em certo modo ver-me-ei obrigado fa salvar-te, 8, Esta perfeita dedicagio constituiu sempre 0 inicio da santidade em meus eleitos. Essas almas generosas e nobres tinham em nada os malores sacrificios durante a vida inteira, consagrando-me perfeitamente sua pessoa ¢ todos os seus haveres. or isso fui para com elas tio liberal e muni- ficente que ja nesta vida mortal, vendo-se no gozo Arvo, A nan — 20 us de excessiva dogura, multas vezes nilo podiam re- ter as ligrimas e prelibavam algo da. felicidade destinada a inebrié-las no céu. Agora, porém, muitos que fazem profissio de piedade, s6 querem ser devotos quando Ihes apraz Estes, sem diivida, so mais dedieados a si pré- prios do que a mim. Por isso continuam a ser es eravos do amor préprio, inditosos, privados da fe- licidade interior © jamais dispostos para a unigo divina, ‘Tu, porém, meu fitho, se queres ser livre ¢ feliz, retira 0 coracio de tudo o que ha fora de mim e consagra-me todos os teus afetos. Se pudesses conservar 0 coracio perfe te dedicado a mim, em qualquer emergéncia, per- manecerias imperturbavel e tranquilo, Pols toda perturbacdo nao provém das circunstancias fortui- fas, mas do coracio mal disposto relativamente a0 divino beneplicito, ‘Se desejas aleancar a intima unido comigo, de- ves estar desapegado de todas as eriaturas e em quaisquer circunstinelas ser devoto para comigo. 4. Filho, nilo seja tua devogio como a de mui- tos, toda exterior, consistindo apenas em atos ex- ternos. Por isso nfo merece o nome de devocio, dela tendo s6 a aparéncia, Seja tua devocio verdadeiramente interior, ten= do sua origem em coracio tio bem disposto, que estejas pronto, com 0 socorro da graca, a subme- ter-te incondicionalmente a todas as minhas or dens e a sacrificar tudo por meus interesses. 146 Entretanto, é tambem mister que tua devocio transpareca no exterior, por seres homem, e no anjo. Possuindo corpo e alma por doagio minha, com ambos deves honrar-me e santifiear-te Seja, porém, o teu exterior um transbordar da superabundincia dos sentimentos de teu coragiio. Destarte possuiras sélida devocio e seris verdadel- ramente imitador do meu Coracio. 5, Esta devogio, filho, é efeito da graca sobrena- ‘tural que, iluminando 0 entendimento ¢ movendo ‘a vontade, torna o homem voluntariamente pron to para tudo o que pertence ao servico divino. Por meios naturais, nunca te seri possivel ad- quirir a devogdo. Pols, sendo sobrenatural, s6 & praticada por virtude sobrenatural Se a divina graga nfo te auxiliar, nada_pro grediris, ainda que me facas protestos de dev a teus proprios olhos parecas devoto. Ora, portanto, afim de receber copiosa graca € aleangar © espirito de devocio. Se rezares bem, seris atendido, pois & oracio tudo foi prometido. Com o auxilio da graca e a cooperacio de teus esforgos, a verdadeira devogio, que a muitos, se- quazes do amor préprio, s6 de nome & conhecida fou julgada onerosa, tornarse-tes facil e doce. No gozo ou na auséncla da consoliedo sensivel, ‘continuaris a desempenkar os teus negécios e cum- prir teus deveres com paz ¢ proveito, e permanece- ris fel aos exercicios espirituais, ‘Sem ansiedade nem solicitude, repousaras nos bragos de minha Providéneia, qual erfancinha no colo mateo. B estarés sereno e contente em todos ca ur 5 acontecimentos, pelos quais eu te fizer passar para conduzir-te & vida eterna. 6, Discipulo. Senhor Jesus, que para salvar-me xyos aniquilastes, e em testemunho de amor me des- tes 0 vosso Coracio, todo dedieado ao mew amor, concedei-me, et vo-lo rogo, a graca.da perfelta de- vocii, para que, estando livre meu caragio de to- do objeto fora de vés, eu me torne por amor todo voss0. Confiante no socorro de vossa graga, que humil- demente imploro, ofereco-me'a vés de todo 0 co- ragio, consagrandosme totalmente a vés, a0 ¥oss0 sservigo e aos vossos interesses, 0 dulefssimo Jesus! Accitai a doagio © consa- gragio-de tudo 0 que sou e possuo, e concedei-me © espirito de santa devocio que, enchendo-me de ungio 0 ‘corasio, tome saborosa a piedade, all- ‘mente 0 amor para convosco, suavize a oragio © me disponha para a pritiea da virtude, Assim animado, hei de perseverar com firmeza e alegria em vosso servigo, atrair suavemente 0 proximo a ¥6s, regozijar os anjos e santos, e fi nalmente, © que ainda vale mais, consolarei e en- cherei de goz0 0 vosso Coracio. CAPITULO IV Devemos aprender do sagrado Coracio de Jesus recem-nascide ¢ imbuitnos do eu expirito 1, Discipulo, Vinde e vede, eriaturas todas! Ad- mirai-vos ¢ enchel-vos de espanto. Bis que Deus inclinou os céus e descew (SI 17, 10), vindo habi tar conoseo. us Ea eT TT 0’ Deus menino! 0” prodigio de amor! O° delicia os anjos que vieram do eéu contemplar-vos reeli- nado no presépio 0" Jesus, Filho de Deus, nascido da Virgem! Co- ‘mo sois amavel! Como sols doce para mim, tor- nando-vos erfancinha, fazendo-vos todo amor! Sois certamente admiravel na grandeza de vossa Di- vindade, porém mais admiravel para mim na amabilidade de vossa pequenez. Sois sumamente digno de amor, pela infinidade das divinas per feigées, Mas arrebatais os coragées com os exces sivos eneantos de vossa infineia. Quem se pode- ria saciar, 6 bondade infinita, de vos contemplar ‘¢ amar, inebriando-se na amorosa dogura do vos- 80 Coraciio! Como sois dove, meu Jesus! Como sois doce, além 6 que esté oculto em vosso intimo! Que é @ vosso Espirito interior, senddo a suprema suavidade mais, ‘doce que mel? 2, Jesus. Sim, filho, é 0 Espirito do meu Cora fo que produz ¢ vivifiea todas estas maravilhas e encantos. Este meu Espirito que por amor me trouxe do seio de meu Pai ao seio da Virgem, introduzindo ‘com tanta suavidade no mundo a mim, o Unige nito do Pai, anima, governa e guia o meu Cora- glo, de modo que: este se dirige para onde o im- pele 0 Espirito. A plenitude do Espirito reside no meu Corasio, pois, ao seu enviado, Deus nio da seu Espirito por medida, 149 Sobre 0 meu-Coraeio repousa o Espirito de sa- edoria e inteligéncia, o Espirito de conselho e for~ taleza, o Espirito de ciéncia © pledade, o Espirito de temor de Deus, o Espirito de graga e prece, 0 Espirito de dilegio (Is 11, 2). Tal & © Fspitito do meu Coracio! Espirito so- brenatural e divino que, sendo caridade, abrange todas as virtudes, Esse Espirito do meu Coragdo, amor a respirar amor, guiando com suavidade ¢ forca, impele & perfeicio, move ao sacrificio, atrai ao heroismo. 5. Meu fitho, bem-aventurado o homem que pos se 0 divino Espirito do meu Coragio e por ele se deixa guiar em tudo! Pois sio filhos de Deus todos os que sio eonduzidos por seu Espirito, Nao €0 exterior nem a profissio, mas, sim, o Espirito que faz 0 verdadeiro diseipulo do men Coragéo (im 8, 1). De que te servirdo todas as coisas, se no pos- suires este Expiito, em 0 qual nio podes ser meu? Privado de meu Espirito, nfo te agradardo mi- has obras, nio compreenderés meus ensinamen- tos, nem acharis dogura em meus preceitos. Sé na medida em que possuires o meu Espirito, his de saborear ¢ compreeader minha vida e doutrina ‘Se te animar © meu Espirito, meus julgamentos fe afetos serio os teus, a vida do meu Coragdo, a vida do teu Pelo influxo deste Espirito, o verdadeiro disci paulo do meu Coragéo tudo examina. $6 por ele {ado avalia, sb por ele opera e 6 movido. 150 Possuinds 0 Espirito do meu Coracio, faze 0 ‘que quiseres, pois em tudo ele com seguranga te ha de guiar e proteger. 4. Este meu Espirito animou todos os santos. Sua unciio os instru, sta forga os robusteceu, sua santidade os formou. Considera 0 que ensinow aos apéstolos, © mir tres, aos confessores e is virgens. Vé como 0s for- taleceu e amestrou a calear o mundo ¢ desprezar ‘a si mesmos. Uns caminharam para o suplicio da morte como a glorioso triunfo, outros tornaram- se émulos dos anjos, ou trilharam com perfeicao f via comum, Todos, porém, alegremente me imi- taram e até ao fim permaneceram, em quaisquer circunstineias, unidos @ mim. Quanto nao. padeceram’ os santos, estimulados por mew Espirito? Que ndo fizeram para dar-me ‘maior amor e gléria, santificando-se, e para indu- ir, quanto Ihes fosse possivel, todos os homens fa amarme ¢ glorificarme? Estes perfeitos disci- pulos do meu Coracio, cheios de meu Espirito, por tle se deixaram dirigir em todos os seus pensamen- tos, palavras e obras, e de acordo com suas inspi rragées pautaram a vida inteir 5, Filho, se queres aprender o Espirito do meu Coracao, estuda a minha vida, meditando-a devota- ‘mente, penetra no meu Coragio, examinaclhe © pondera-lhe piedosamente os sentimentos, Em tu- do, pelos frutos 0 conheceras. Em eada mistério de minha vida encontraris ‘meu Espirito a operar. 151 Entretanto, de que te valerd conhecer o Espirito, se nao receberes de sia plenitude? Reza, pois, met filo, reza com fervor, afim de seres animado por fle ou obteres acréscimo de sua inspiracio. Se re- gares como, convém, indubitavelmente o recebe- Tis, pois eu prometi dar 0 bom Espirito aos que ‘0 pedissem. Quanto mais e melhor rezares e meditares, tanto mais “dele receberis, conhecendo-o com maior perfeigao ¢ seguindo-lhe mais facilmente os dita- 6, Diseipulo. 0" Jesus, é da plenitude do vosso Espirito que recebem ¢ vivem vossos diseipulos. Enviai, pois, a meu coragio, eu vos suplico, o Es pirlto do vosso Coragio, afim de animarme € re- germe em tudo e por tudo ‘No vos rogo, como Eliseu ¢ Elias, que a mim ‘venha vosso duplo Espirito, pois nem sequer uma simples medida meu limitado coragio pode eonter. Pego-vos, porém, que vosso Espirito me invada to- talmente, banindo para sempre o espirito do mun- do € 0 espirito proprio. Dai; por vosso Espirito, a meu coragio jules mento reto como 0 do vosso Coracio, inteligén- Gia de sua doutrina, amor terno eficaz de suas cobras. Entio viveret por vosso Espirito nfo simples- mente a vida da natureza, mas tambem a vida da fraca, nfo meramente uma vida humana, mas sim de certo modo divina: a vida de vosso Espirito. 12 mevercenmeemene ~ CAPITULO V Devemos aprender 2 humildade do sagrado Coracio de Jesus Menino 1. Diseipulo, O° Jesus, como nascestes pequeno para nés ¢ como eriancinha a nés vos destes! Ora, io sols Aquele que 6? Nao € eterno esse vosso Nome? ‘Quem poder narrar a vossa geracio? Desde & etemidade e por todos os séculos vos existis. ‘Quem exprimira 0 vosso poder ou faré conhecer ‘yossas demais perfeigies? Por vos tudo foi feito, por vée tudo é governado. Encheis 0 eéu ¢ a terra. E eis como vos vejo aqui! prodigio! O° milagret © Deus infinito jaz pequenino nesta grata! “Aniquilouse, torandose criancinha, exilowse por entre humilhagSes, eontente de ser desconhe- ido, Dizelame, por favor, 6 duleissimo Jesus, por que naseestes pequenino, € vos destes a nés como erian- cinha? 2. Jesus, Meu filho, vim salvar 0 que perecera. ‘Tal ora o rumo do género humano, que sua repa- ragio exigia tio grande humilhaglo do Filho de Deus. Caira o homein no abismo do orgulho. Pela hu- mildade deset até &s profunderas do abismo, afim de salvar 0 homem. ‘Antes de minha vinda a este mundo, 0 orgulho de tal forma obscurecera ¢ corrompera o espirito ddos gentios, que néo s6 ignoravam a virtude da 153 nimildade, mas a tinham em conta de fraqueza fe objeto de horror. Emibora. reconhecessem a Deus, cuja tux esti gravada no coragio humano, todavia nfo o glori- ficavam como Deus, antes desvaneceram-se em seus pensamentos. Obseureceurse-ihes o coragio in Sensato. E, eorrompendo-se, tornaram-se abomina Seis em seus designios, Assim quasi toda a carme corrompera seus caminhos (Rm 1, 21). ‘Que haveria melhor ¢ mais eficaz para liber. taro mundo de tio grande e pernicioso mal, do que 0 exemplo de Deus sumamente stbio © per feito, humilkado até ao aniquilamento, assim con fundindo todo o orgulho humano e refutando-the para sempre as razdes ou pretextos? 43,0 orgulho, meu filho, sempre foi ¢ sera a oti- gem de todos os males, enquanto a humildade cons- titue 0 principio de todos os bens. "A humildade, que é a vietude das virtudes, nasce dda verdade e € informada pela caridade. ‘Conhece, pois, em verdade, primeiramente & Deus e a ti mesmo, afim de poderes atribuir a Deus 0 que é de Deus ¢ a tio que é teu. Portanto, filho, procura conhecer o que € Por ti mesmo. Que & por ti mesmo senfo puro nada, {do qual Deus te eriou? 0 nada é teu. O ser que Fe Gebeste vem de Deus, Filho, se julgas ser alguma Coisa, embora nada sejas por ti mestno, enganas- te e iludes-te a ti mesmo. Que possues de ti mesmo, natural ou sobrenatt- yalmente? Na ordem natural, possues as faculda- “Mes da alma, os sentidos do corpo, dotes do espi- 14 silo e qualidades exteriores. Todas estas coisas, se- jam quais forem, donde te vieram? A quem perten- ‘cem? Excluindo 0 que é obra e dom de Deus, que esta sendo o nada? Este é teu, tudo o mais per tence a Deus Estes dons Deus tos concedeu para o bom fim de os fazeres servir & sua gloria, e & tua salvagio. Se de todos eles usares com esse intuito, nfo fards se- nao eumprir o teu dever. Se os utilizares mal, facrescentaris ao teu nada a culpa de ingratidio, perversidade e abuso dos beneficios divinos. ‘Erna ordem da graga? Nilo ela um grande abis- ‘mo, pois que é certo nada possuires e nada pode- res fazer para a salvagio sem o seu socorro? Tudo © que sobrenaturalmente possues, quaisquer vir~ tudes e méritos adquirides, tudo é efeito da graca, ‘sem a qual nada poderias realizar © nem sequer fencetar. Portanto, quando Deus te recompensa, co- roa seus proprios dons. ET verdade, filho, que, para adquirizes méritos, cooperaste com a graca. Esta cooperagio, porém, quando bem examinada, que revela? A fé ensina que dever’s dar um dia estritas contas de cada graca recebida. Es, pois, por conseguinte, obrigado f tornar cada graca produtiva por tus coopera- oho. ‘Nilo foi esta consideragiio que encheu os pré- prios santos de humildes sentimentos? Que nfo eve cla inspirar a ti, que tantas vezes cooperas al com a graga ou mesmo a menosprezas? ‘Se nio te & possivel enumerar a multidio de fal- tas de cooperacio, pondera ainda quantas ¢ quio 155 grandes dividas contraiste pela negligéncia ou mau ‘emprego dos dons divinos, além de teu nada ¢ im- poténcia na ordem da grace. Filho, se devidamente advertires a obrigagio de cooperar com a graga de Deus e bem usar de seus dons mesmo naturals, compreenderis, eomo o fi- zeram o8 santos, teres motivo de humilhar-te ta to mais profundamente, quanto maiores e mais co- ppiosas didivas recebeste. 4. Oculto esti o que em ti é inferior ow peior. Examina e considera tuas multiplas misérias, Iitos e pecados, avaliando 0 que com justica por cles mereceste Se te fosse dado o que com justica mereceste, ‘acaso jG nio serias objeto de desprezo para os ha- Ditantes do céu, da terra e do inferno, sofrendo fa eterna abjecio? Se talvez nao tenhas cometido pecado que te torne digno da condenagZo, nem por isso tens mo- tivo de ensoberbecer-te, A preservacio de graves quedas nao provém de i, mas é principalmente ‘obra da graca. Ainda que no houvesses cometido mais do que um s6 pecedo venial contra a infi- rita Majestade de Deus, merecerias tio grandes Ihumithagdes que nem o mundo inteiro tas pode- ria dar. 5. Que és tu, filho, com todo o teu ser? Que & fem eomparagio des demais homens? Sem divida, qual, gotinha d’égua comparada a todos 0s rios e mares. Que é a universalidade dos homens pe- rante as miriades dos anjos? Menos certamente que esta terra em relagio com o eéu imenso. Mas 156 que so todos os anjos diante do préprio Deus? ‘So como se nfo existissem, pois infinita & a. dis- tincia que entre ambos medeia. E que és tu, fi- Tho, pequenino ser, habitante de um cantinho do forbe, perante 0 Deus infinite? Que é, na verdade, filho, ou que motivo tens para orgulhar-te? Ou antes, que razio tens de nio hbumilharte? Filhinho, nilo te digo tais coisas para envergo- har-te, mas, como @ filho earissimo do meu Cora- lo, te exorto, afim de que, seduzide pelo orgulho, rio venhas a eair perecer. 6, A Deus s6 toda eriatura deve honra e gloria 6 ele é verdadeira e sumamente digno de rece- ber o império, 0 poder, a bencio, o louvor € 0 su- remo culto, nos séculos dos séculos. Por maiores que sejam as perfeisdes encontra- das nas eriaturas, por mais eximias que parecam, sio apenas raios das perfeigSes divinas que em tudo sio absolutas e infinitas. Mesmo se Deus niio 0 houvera ordenado, todas 1s criaturas racionais deveriam reconhecer ¢ hon- ‘Tao essencialmente a gloria deve ser tributada a Deus que ele proprio nfo pode ser indiferente ‘a esse respeito, por ser 0 tinieo digno de reeebé-I. 7. Filho, & preciso teres o conhecimento de Deus ¢ de ti, pois revela-te grande verdade, mui apta a humilhar-te, Todavia ainda nfo ¢ isso a humil- dade, visto que a virtude no se acha no conheci- ‘mento, mas no afeto, Nao é tambem na humilhagio que consiste a virtude da humildade, mas antes 187 xno amof da humilhacdo. Nao existe virtude, se nao houver afeto ou movimento da boa vontade. Quantos se humilham ou so por outrem humi- Thados, sem contudo serem humildes! Quantos os- fentam sinais de humildade, enquanto interior ‘mente conservam orgulho! Para que a humildade seja virtude, qual a de- ‘vem praticar os meus disefpulos, e a humithagio se torne ato de tal virtude, & mister ser animada pela earidade ou afeto sobrenatural A Virtude da humildade, filho, ¢ aquele afeto sobrenatural, que te inclina ou move a tender, ‘quanto te & permitide, ao ten proprio lugar, de modo que tributes a Deus 0 que & de Deus, a ber: agio de gracas, honra e gloria; ¢ a ti at dbuas o que te pertence: o nada e a absoluta indi- gnidade, Qual é esse teu lugar? 0" filho! Quo profunde e terrivel & o lugar por ti merecido! Mas considera ‘9 amor do meu Coracio! Para consolar-te e ele- var-te, fazendo-me homem, bumilhel-me por tie destinei-te lugar mais honroso e excelente. Desde entio, teu lugar é junto de mim. Onde, porém, estarés comigo? Onde me encon- tranis? Pequenino no presépio, exilado desconhe- ido no Egito, oculto em Nazaré, trabalhando ¢ sofrendo em minha vida piblica, ocupando o dl- timo lugar ¢ nele morrendo. 8, Comigo, filho, estaris longe do orgulho odio- sa Deus ¢ aos homens, que gera todo pecado, corrompe toda virtude, priva dos méritos, acumu- 158 Jn castigos, despreza o exemplo do meu Coragiio f segue os passos do deménio. 0” humildade! Feliz virtude que faz encontrar graga diante de Deus e dos homens! Enquanto © Senhor resiste aos soberbos, dé graca aos hu- mildes. Os proprios orgulhosos desprezam-se uns aos outros, e admiram os humildes, A humildade é a primeira das virtudes. Sem ela fio se adquire virtude. Sem ela, perde-se a vir- tude adquirida. A humildade, gerando as demais ‘virtudes, as nutre e as conserva. Nobre virtude é a humildade, pois torna o ho- ‘mem verdadeiramente magnanimo e generoso. Com ela supera nfo s6 arduos obsticulos, mas vence a si proprio. Enquanto 0 orgulhoso, com 0 coracio aperta- do e angustiado pelo temor da humilhacéo, que The pode sobrevir, ora foge, ora hesita perante a difienldade a superar, 0 humilde, com 0 coragio magnanimo e dilatado, j4 vitorioso de si mesmo, junfa do obstieulo e prossegue alegremente. Va- lorosa € a virtude da humildade que dispde a’al- ma a grandes feitos. O humilde, esquecido de si mesmo e confiante em Deus, transforma suas for- eas, revestindo-te da fortaleza de Deus, em quem se apoia ¢ tudo pode. Gatisa terror aos préprios demdnios. Pols esses inimigos a nenhum mortal mais reeelam do que ‘a0 humilde, Finalmenté, a humildade é virtude s6lida, Por ela 0 homem ¢ fortalecide, de modo que niio se 159 deixa abalar por palayras ow atos alheios, nem & abatido pelas préprias misérias ou fraquezas. ‘Nio é por conseguinte, virtude da humildade, mas simulaero de humildade, tudo 0 que te torn pusillinime, timido ou de qualquer modo abatido. ‘Aquela nobre virtude nfo produz to indignos efeitos. 9. Fitho, embora sejam tio grandes a justiga, a necessidade, a utilidade e a exceléncia da hu maildade, deves, contudo, saber que ndo € confor- ‘me os sentimentos humanos iio se comprazer em. si mesmo, em todas as coisas referir puramente toda a gloria a Deus, nao atribuir a si senio a indignidade, contentarse em ocupar comigo 0 Ul- timo lugar, abragar de coragdo tudo 0 que apraz ‘ao meu Coracibo. ‘Em verdade, se consultares a natureza, esta com horror fugiré de tais coisas. Entretanto, filho, se iqueres ser dise{pulo do meu Coracdo, é mister se uires a graca, em ver da naturéza, e procederes hiio por inelinacdo natural, mas movido pelo amor divino, que te fard imitar o meu Coragio, apesar das relutineias da natureza. Se assim fizeres, acontecerte-a 0 mesmo que fos. santos, Estes averiguaram exceder a humil- dade em docura a natureza e acharam deliciosas fas proprias humilhacées Pela meditacio e a prece granjeia tu 0 poderoso socorro da graga e, eooperando generosamente com la, de coracio e espirite abraca e exercita a hu- mildade, até poderes facilmente praticé-la em pensamentos, palavras e obras. 160 Filho, lembra-te sempre de meu exemplo no te esquecas de minhas palavras. Fazendo-me erian- cinha; dou-te um preeeito novo, o preceifo do meu Coragao: Aprenide de mim, porque sou manso humilde de Coracdo. 10, Disefpulo, 0° duleissimo Jesus! O” Deus me ‘nino, aniquilado por humildade! Clama o pres plo em que jazeis, clama a obscuridade na qual vos ocultais, elama o préprio silénefo, clamam to- das as coisas ao redor, quanto sois humilde de Co- ragio. 0” Mestre da humildade! Fis:me prostrado aos ‘yossos pés para aprender de vos a virtude da ver- dadeira humildade. COxalé sempre vos conheca ¢ sempre me conhe- a, iluminado e abrasado nas generosas chamas a6 vyosso Coragio, afim de vos atribuir eontinuamente ‘o que & vosso, ea mim o que’ é meu. AME hoje confesso no haver bem compreendido a humildade. Agora, porém, percebo, agora vejo que a virtude da humildade ndo me deprime nem avilta, mas exalta e nobilita, pois me eleva & se- ‘melhanca eonvosco, que sois nobre por excelén- (0 benignissimo Jesus! Daisme lugar junto de vyés! O° Senhor, no sou digno! Como busquei al- uma ver outro lugar, como se pudera encontrar melhor do que convosco? Perdoai-me, Senhor, a ingratidao, Perdoai-me a maldade, Perdoai-me a loueura. 161 Doravante estarei sempre convoseo, Aspirem os ambiciosos,¢ posigdes elevadas, Eu, porém, quan- to me fof permitido, almejarei os lugares inferio- res, certo de af estar convoseo $6 convoseo desejo + estar; convosco contente em toda parte. CAPITULO Vi 0 sagrado Coracio de Jesus Menino nos ensina no presépio a sants pobreca 1. Discipalo, Senhor Jesus, meu cor: pira por vs, Minha alma, que vos ama, vos pro- ‘cura, Indicai-me, eu vo-lo rogo, onde habitais. Jesus. Vem, filho, e v8. Eis o sinal que te dou: encontrar-mesis pobre mo presépio, AS raposas tem suas covas, os pissaros do cén seus ninhos, | Te Desde'o ‘meu nascimento na indigéncia de um es- 162 2 Bem-aventurados os pobres de. espirito; por- ue deles é 0 reino dos eéus (Mt 5, 3): Bem-aven. furados, porque se acham livres dos niaiores peri. gos @ ameacar a eterna salvagdo, Bem-aventura. dos, porque tém salutar ocasiio de praticar imen. ‘sas virtudes. Enfim, bem-aventurados, porque pe- Jo coragéo mais se assemelham a min Filho, nada possuir, ¢ mesimo estar na indigén: cia no constitue a virtude da pobreza. Mas, por meu amor, ter o coracéo desapegado de todas as coisas criadas, eis o que faz a verdadeira virtw. de da pobreza. Tal virtude atinge a sua. perfel. s0 quando, por meu amor, 0 homem renuncia a todas as coisas terrenas de modo que nada pos. sue como proprio e a coisa alguma se apega com afeto, AA este gra nem todos sio chamados, porém sim a0 primeiro. Pois mais facilmente um eamelo pas. saria pelo fundo de uma agulha, do que alguem, sein esse desprendimento, entraria no reino dos ccéus (at 19, 24) Se alguem nio renuneiar, ao menos de coracio, 4 todas as coisas, nio pode ser meu diseipulo (Le 14, 33), 3, Nada ha mais nocivo, filho, do que amar 0 Ginheiro, Este amor perverte 0 juizo © seduiz o coragio. E, como ao dinheiro tudo obedece, quem © ama, obeecado pela cobica, tem o espitito ve- nal, de modo que esti pronto a vender sua alma mortal em troca de um bem perecivel 163 s santos, usando os bens terrenos, deles tinham ‘9 coragio desprendide. Mesmo entre as mafores iquezas, eram pobres de espfrito. Nao poucos, porém, sob aparéneia de bem ou retidio, deixam-se enganar pelo inimigo da sal- vacio, Este astuto adversirio procura persuadir (5 homens que a riqueza ou @ abundancia de bens terrenos, sendo em si coisas indiferentes, e suseepti- veis de ser empregadas utilmente, podem ser de- sejadas ¢ procuradas sem perigo. Quem deste modo se deixa enganar, logo por experigneia conhece que se acha enredado nas ci ladas de fraude diabéliea. Acabrunhado de pertur- bagies, trevas © mis inclinacées, nfo pode alean- car a perfeigio de-seu estado, seja qual for, e ex- pe a grande perigo a eterna salvaci 4, Filho, se te sobrevierem riquezas, nio thes apegues teu coragio, pois desses bens és antes 0 dispensador do que © dono. Com o coragio des- prendido, renuneia a tudo, conforme for da divina vontade, ou usa destas riquezas para minha glé- ria e 0 verdadeiro bem de tua alma, Cumpre estares em tal disposisio que, se me aprouver fazerte renunciar a todos os bens ou permitir seres privado deles, de boa mente te resignes. ‘Mas, se és pobre, regozijate, filho, e exulta Nio percas 0 fruto de tio grande bem, suportan- do de ma vontade os efeitos da pobreza. ‘Nao te envergonhes de viver na mediania ow mesmo na indigénela por amor de mim, que nio ‘me envvergonhei de tornar-me pobre por ti. Tens 168 antes motivo de gloriarte, porque possues o que eu alcancet a prego de tantas e tio grandes humi- | Thagdes. = __5. Quer sejas pobre ou rico, cultiva a santa po- breza e pratica esta virtude to cara ao meu Co- rapdo ¢ a ti tio proveitosa. ‘Nio hd estado de vida em que se néo possa fou deva exercer esta virtude. Pois diariamente ‘ocorrem frequentes ocasides de pratieé-la. Esta grande virtude estende-se & habitagio, & mobilia, a0 vestuirio ¢ & bebida, enfim, a todo 0 modo de viver. Em tudo isso, ou falta alguma coisa no absolu- tamente necessiria, ou existe outra, contriria & inclinac@o natural; ou entio, entre ot objetos pos- suidos para natural comodidade, & possivel, sem perigo, diminuir mais ou menos alguma coisa Filho, se amares de coracio, como convéra, a san= ta pobreza, jamais te faltardo melos e oportuni- dade de praticé-ta Quantos sio de fato pobres, mas, além de nfo ter mérito algum, ainda se servem de sua pobreza para aumento de sua miséria e ofensa de Deus! Oxalé tivessem juizo! Em vez de amargor, prov: iam a docura da pobreza, santificando-se. 6. Aos meus olhos,honroso & 0 nome dos po- bres de espirito, que cultivam e praticam a pobre- za, quer por necessidade, quer por livre vontade. Com eles tenho relacées ¢ familiar coléquio. Pois seus coragSes, qual boa terra, recebem a semen te de minhas palavras e produzem frutos ao efn- tuplo. 5 165

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