O documentrio Edifcio Master (2002), de Eduardo Coutinho, tem como
material principal depoimentos sobre experincias e vises de mundo pessoais de alguns moradores de um tradicional edifcio situado em Copacabana, Rio de Janeiro. evidente que todos os entrevistados so adultos e com certeza assinaram um termo de autorizao de uso de imagem. Ainda assim, a questo da invaso de privacidade evidente, pois quando as personagens abrem suas casas e suas vidas a uma cmera, normalmente so tomadas por uma grande emoo de finalmente estarem sendo ouvidas, o que as leva a falar coisas das quais elas no tem total controle nem percepo das consequncias que seus discursos poderiam ter. Sempre que se liga uma cmera uma privacidade violada, afirma o francs Jean Rouch. A cmera um instrumento de poder, por isso quando um documentarista captura depoimentos pessoais ele com certeza tem mais poder sobre a situao do que a personagem. Dependendo do enquadramento escolhido, da montagem, da trilha sonora, o discurso pode se alterar drasticamente. Mesmo tendo assinado a autorizao de uso de imagem, de bom tom que o entrevistado veja seu material montado antes da grande veiculao. O documentarista pode at ter certo direito de invadir a privacidade alheia para coletar material, porm no tem o direito de humilhar e distorcer as personagens. A no ser, claro, que o intuito do documentrio seja denunciar uma instituio ou um grupo de pessoas com opinies banais sobre a realidade (como acontece no documentrio Um lugar ao Sol). De qualquer maneira, o documentarista tambm deve ter em mente que se os envolvidos se acharem de qualquer forma prejudicados pelo material audiovisual podero recorrer ao jurdico e o artista dever, em seguida, arcar com as consequncias de seu trabalho. Por fim, se o documentarista tem realmente algum direito de invadir a privacidade das pessoas e das instituies, porque seu material de trabalho em de certa forma a prpria realidade, e considera que aquelas imagens e sons especficos promovero uma reflexo ao espectador.