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Sergio Aves Gomes S8__ serio ves Gomes ‘ninalo omen e, por isso, esto prenhes cle subjetivismo. Todo inérprete& ‘embora no 0 quea, um filsofa e wn politica delet Defende-se também, aqui, que a reflexdo sobre o homem pode absir caminho construgao de um sentido humano para 0 Direito, em todas suas for- mas de manifestagio, tais como: lei, costume, jurisprudéneia, elaboracdo doutti- hria, patos... Perceber, construire reconstruit os signficados destas manifesta {es em suas conexdes com o modo de ser do homem, sua natureza, condigao, nevessidades e possibilidades, significa adotar verdadeira atitude hermencutica, Compreender os liames das refetidas “fiontes do Direito™ com o texto e o “espi- Fito” da Constituigao é papel da Hermenéutica Constitucional, eonforme com- preendida ao longo deste estudo. Trata-se de um pensamento em continua elabo- ago, que almeja a abertura de novos caminhos a serem criados por meio de 'uma prética interpretativa comprometida com a constelagio dos valores constitu cionais. Constitucionais no apenas porque contemplados no texto da Constitui- so, mas também, e sobretudo, porque, quando efetivamente realizados no espa- §99 das telagdes intersubjetivas, acabam por constitur um novo modo de convi- véncia humana identiicado como uma nova forma de se conceber a Democtacia de modo a transformé-la em Democracia participativa AA formagiio de uma consciéncia constitucional e democrética eapaz de perveber tnis nuances é algo indispensavel a consinigao do Estado Demacré tico de Direito. Trabalhar no desenvolvimento dessa consciéncia é papel funda- ‘mental da Hermenéutica que, ao fazé-l0, qualifica-se eomo Hemmenéutica Cons tiucional Esta, para bem orientar a interpretagio juridica, mantém continuo didlogo com 0s jundamentos, valores e fins do Diteito, 08 quais, por sua vez, ‘ocupam lugar privilegiado no ambito da Filosofia do Diteito. Percebe-se assim, desde logo, quite proficuo pode sero didlogo entre a Filosofia do Direito e a Hermenéutica Constitucional, a qual pressupde 0 con- ccetto entre as tantas disciplinas que, por diferentes perspectivas, estudam o rico & vasto cexttio do mundo da cultura. Nele habitam todas as produgSes humans permeadas por valores, como ¢ o easo do Direito, E por meio da vivencia destes, valores que os seres humanos ~ hermenéuticos por natureza — esperam encontrar, construir € reconstruir sentidos. Sentidos estes presentes em cada ato © que, quando compreendidos em seu conjunto, acabam por delinear um sentido maior, ccapaz. de envolver nao apenas alguns individuos, porque tal sentido surge como fruto de preocupagio com a exisiéncia e a comivéncia de toda a humanidade, Perguntar em que sentido esta caminha é a grande questio para que se possa pensar em possibilidades e impassibilidades de um futuro menos injusto € mais fraterno entre os seres inmanos, tanto no mbito local, quanto regional e global A construgdo de tal sentido esti a depender da compreensio que se tiver @ res. peito de certas questées fundameniais. E, entre estas, como estimulo a tantas ‘outtas, hd de se perceber a eterna ¢ sempre atual pergunta: O que é 0 homem? CE COUTURE, Eduanlo J taterprtagto das Leis Processuais 1956 9.23 10 Paulo: Max Limonad, Capitulo 2 O HOMEM COMO SER DE INCERTEZAS E POSSIBILIDADES EM BUSCA DE SENTIDO 24 VIDAHUMANA E POSSIBILIDADES: efetivamente Geen O gu de certeza diante daquilo ane é peel \ constante perigo”, apresenta uma segunda face: um mundo de possibili INNERARITY, Dail Fis Rodiiguce Artur Gur, Usbot Tears a © Gio de Moto Kaj observa gus“ smd do vin & exch eh $i ima po eprint edn nu parr, ust cnr cy de “ta tem que ser O tigre md pode nance testigraree feorbra Ortega. Maso a potty amoey se femmes: opege onal dra é aaa, {que ndo vec com o home, Ene 26 quer iver qua @ aida merce er vivid un sem motivo para espera aigo a ida Ex defnuiva, now @ por insinin de camer Seana ges foto tendo mate Tema mre fel pond re et brevet fs primento da nassa rocogao. pelo ponte final ie resem de fespar para sempre 0 camp mafia ncaa lieder ny mexnon No findo do edad marie late pect 1 morro nconchns™ CE RUIAWISKL Ciro de Mail tnradugao Meta Fisica do Perigo. Sao Paulo: Convvio, 1974. p. 444, SS 0 Sergio Alves Gomes dades quase infinitas. Possibilidades construtivas © pos wrutivas, ibilidades des Construsivas: quando realizam potencialidades eriadoras de um desenvolvimento continuo do ser fuunano, num convivio em que prepondere 4 harmonia entre os sujeitos envolvidos nas miriades de relagdes intersubjeti- vas possiveis. Convivio este que se torna frutifero e realizador para todos os sujeitos envolvidos na construgio de um ambiente social adequado a nature 2a comum de que sto dotados e capaz de atender as especifieidades configu radoras de cada sujeito como um ser tisico e diferente, embora semethante a todos os demais, Destrutivas: quando preponderam as tendéncias negativas do ser bhumano, isto é, aquelas que se contrapdem ao desabrochar de suas potencia- lidades e © conduzem & frustragao, a “perda de si mesmo", pela nao realiza- $80 do projero em que consiste toda pessoa quando chega ao mundo. Nin- guém & mais dependente de cuidados do que o ser humano, jé desde a con- cepedo. F, quando vem a luz, evidencia pelo seu modo de ser que tudo nele carece de evolugao, a comerar por sua dimensdo fisiea O recém-nascido ¢ ja alguém, mas ainda distante da autodetermi- hago. Clama por um crescimento em todos os sentidos possiveis que Ihe possibilite aufonomia. Se bem desenvolver suas potencialidades criativas em favor da vida, entio aumentam as possibilidades de tornar-se uma pessoa com elevado grau de realizagio, capaz de encontrar um sentido otientador para sua existéncia e, também, de conviver harmonicamente com seus se- melhantes ¢ de manter com estes atitudes de cooperagao orientadas pela soli dariedade. Porém, se o meio social em que & chamado a viver for earente de recursos minimos para o despertar de uma vida saudavel, entio as possibili- dades de desenvolver em si forgas destrutivas, aumentam acentuadamente, consoante explica Erich Fromm’ Com isso, nfo se esta a dizer que o individuo seja exclusivamente produto das circunstdncias”, mas sim, que estas interferem seriamente no desenvolvimento do potencial que Ihe & inerente”. “Para rich Fromm. “a omen nao pode vver come se nods fase com se do passese de om ‘je con dada ard de at cop sof inesament ue We Ped ne de ‘mga que se alimonae procrn. oda quando tena Yoda sepuranca de qe neces ‘ronent banca drama « osrrcbnament: quando pode ott sata to‘ a nivel met ‘ata le ria para st mesmo o cae cd deta CE FROMM, Eric Avatamia da Des. {rotividade Humana: 2: ct. Tradasao dc Masco Auris de Moura Mags. Rio de Jano Guanabary, 987.9 30 ‘Segundo Ortega y Gasset "a cicumtinci (.] 0 aqui eo agra, dentro dos quai estamos nerorvelmenteinsriosepristoneran.~ nda va inp es Instone ma tice oy ot afer max nr passives, e nor dean erlnenteentegues dass iia iiphroga, Porta 6 oss responsabilidade™ Ober amb fost espanol que vide enc ‘rare alguém o gue chamanos hose [tna de ser na erin uma Novo Ser parcin enon “serna eveuania’ a tqacee meramente pases. Pash Bo ‘para continua send, tem de entor sempre faces ag, malo qu hi defer no Te nasi nem presi ants: de excl, hide ceca nenferinelmemte or ede ‘desi sob sy exchaina responsabilidad. Ningucw pe sob to neste decd, Ext es Herenéutica Constiucional ot Se 0 homem é um ser de possibilidades. condigdes necessirias para que evolua ¢ realize o nivel mais elevado de suas potencialidades, em sentido construtivo, favoravel a si e 4 humanidade da {qual faz parte. Antes de se tentar qualquer resposta a esse respeito, misters tz refletir sobre a questo "O que ¢ 0 homem?”. Somente mediante a per- cepgao das mniltiplas dimensdes deste ser sera possivel dizer algo a respeito de suas caréneias, suas necessidades. A partir destas pode-se chegar a razd0 de ser do Direito e dos direitos. Notar-se-i entio, que estes ganham sentido como algo construido para suprittais earéncias e possibilitar o desenvolvi- mento do ser humano da forma mais plena possivel. Dai por que muitos estes direitos hoje sto considerados fundamentais, pois sem eles resta im- possibilitado o evoluir das tantas diménsdes humanas, A conseqiiéncia desta impossibifidade & a fakéncia do projefo em que consiste todo ser humano desde seus primeiros instantes de Vida tao, Caras Utes, on de acs Lvl Americar, Sp. aa 2 Setgo Alves Gomes Destarte, criar 0 ambiente adequado a fim de diminuir os riscos que conduzem a essa faléncia € 0 grande desafio a respeito do qual se quer refletir, Compreender tais conexdes entre 0 que ¢ possivel e as con- digdes de possibilidade para que se coneretize 0 almejado exige atitude hermengutica ¢ filoséfica cuja tarefa, como jé aludido, comega pela per- gunta: “O que é 0 homem™? 2.2 SITUANDO-SE DIANTE DA QUESTAO “O QUE EO HOMEM?" Ao se colocar tal pergunta, ndo se pretende, com uma afoita res- posta, definir ou conceituar o homem, pois este, apesar de estudado pelas mais diversas esferas do conhecimento, continua a se apresentar como um desafiador enigma, Entdo qual o motivo pelo qual se pde essa questo, sa- bendo-se de antemao que qualquer resposta cabal seria por demais arriscada? Ademais, que importineia apresenta a instigante pergunta para a tematica em estudo? Pelo menos a estas questdes hi que se tentar alguma resposta A pergunta “o que,é 0 homem?* io por acaso figura dentre aquelas formuladas por Kant“ ao apontar quais seriam, em seu entender, as principais questdes filoséficas, ‘Mas, por que formul-ta na presente reflexiio? Parece haver sério ‘motivo que conduz. a reflexdo em curso a referida indagagao: poe-se aqui tal questio porque se pretende que pensar sobre ela seja 0 caminho capaz de levar o pensamento & temitica principal proposta, em cujo fundamento central esta questio do homem. Em verdade, no se trata de defini-lo, ‘mas, de falar sobre ele. E, ao fazé-lo, espera-se que muito dele seja desve- ‘ompreenddos”. Cf, LIDZ, Theodore, A Pessoa: sou descnvalvincnto duran 9 gilo vial va. Tradigdo ds Auripedo Bareance Sint, Port Age: Arcs Médicas. 1983 p25, ‘Tal quo tem eecbido diferentes respostas, segundo a dea cos cleentos catia a cla Inorotes, arn demonstra iso, Lina Vas asin 8 “ht das cons mer at Fs Toso Ocidomut’, com as sopunts divsder: concep csi ce VIC. see VC), tistio-moival ee, 886. XV AC} made (96e XVI ~ se. XViil: © contemporinca do ‘Roma (ts. XIX XX UC), CE-LIMA VAZ, 8.1 Henngne Cd. Antropologa Flsotew 13d. Sao Paulo: Loyoin, 1993p. 25154 Lima Vaz, ao refri-se@ eonstinca hisiea da investigagio sobre © homem. observa ue {al refi permansce, desde a aurora da clara eden no contro dat expresebes deta (Ou sj. se faz prescats nas mips manifesagdes cultura ito, hierar einai sofa eth ¢ politica, O mesmo autor destaa gus campo oem a interroga do fo ‘re. homem tornaseo tema doornonts na sp da Sica amiga ce, ase) © par «de endo, acompanha todo 0 desemslvimenso bistro da Fuowofiaocidenta. até encontar ‘suo express essa nos elebres quid kannot:~@ que poste saber? (corn Co. Iihecimeno) 0 que deve facer? coria do ig clea)» gue me € permitde esperar? ( Toso sa religiao) 0 que € 0 homem? (annopotagia asco)” Obsetea tans Gas Kanto estidar a questo do homem,deseavolvn varias tink de pesjlsa orcad plas efor porguntas © que ages primeias qustbs “i explicad segimdo tao rekedo {oma quarts pergunaaCE_LIMA VAZ, Henrique C. date Sto Pa: Loyola, 1993. p-9, 98.99 ¢ 109, Hormentutca Consiucional 63 lado, percebido e compreendido a fim de que seja respeitado. Pois é na insisiencia de querer compreendé-lo que muito daquilo que nele esta, por dele fazer parte, como tal se manifesta e comega a ser notado. Perceber-se entdo sua presenga fisica, a ocupar espago no mundo, suas expressdes psi quicas, reveladoras de sentimentos, sua capacidade’ para pensar, querer sentir, fazer, transformar-se, superar-se e, assim, mudar a realidade em que cele mesmo consiste. A mesma questio convida no apenas a isso. Exige também a colocago do homem no ambiente em que se encontra. Ele nao esti em todos os lugares do universo, Situa-se no contexto de um planeta {que também precisa ser reconhecido ¢ respeitado como tinico habitar ~ de {que se fem conhecimento até o presente ~ adequado a vida, no apenas do homem, mas de todos os seres animais e vegetais que habitam a Terra. Um planeta a respeito do qual jé se conhecem a situagdo na galixia da qual faz parte, dimensig, estrutura, componentes, movimentos, recursos, possibili~ dades e limites” para suportar alteragdes € agressdes e, a0 mesmo tempo, ccontinuar a ser um ecossistema acolhedor da vide. E no bergo da “mile Terra” que todos os viventes podem encontrar ‘os meios necessirios ao seu viver. E nela que o homem enconita e também faz sua morada Por isso, pensar e dizer sobre o hiomei é, inclusive, refletit € falar sobre suas relacdes com o que se costumou denominar natureza. E abrir oportunidade & percepgao de que o homem é também — embora nao s6 natureza. E por isso empenha-se em conhecé-la. Mas esse conhecimento nem sempre o conduz a respeiti-la, pois, na maioria das vezes, dela se apossa com ‘ccna ¢ yoga Jared Diamond analisaamplamente 0 problemas ambien ms graves aitotade por scttadss do passa ed presen guns cnamera cm dor grupos. sc, rie de coin stot cao i Pie {hse sus roocaantes coaaagbs: "ama ta ace extmas dextrin bets ‘ostngere cur compor de gol [] Me samc kre onsinol de fread Iand ja for conver pra onto os, © na propor de comvrado atu wt quarto dar aves que cin esto sero comers max prxinos SO aE pera ce foerat re presen pores pnt nds, honancs,espectente porque lara mos irecem marker unas murcrias primase porque nos forneen os Ghamuades srg ke ecasiene:pote cm saci hdogrifies,pregem 0 soo conta eonda, abe etaps enc cela {Eo gus gerando mato de nose chan, ornecens Ribot pora maria das expctes ‘Sette sede desis: Una gto mar dat panne args do man fol de tad dona on conv ts enseyaenias pana ni sirgcm importa dn pn. ty na memaongao da quad de mosos suprnetan de due w eines de ese te ‘Shorten mene prot ft pion cone plis res hamanos. Cae Siow his de pesos. motor parte eles pobre. depend os eco para obey pote Si extn ce pes faso emis aheualenete. es popcinspodon Ser martes expects poeriam sercaurcasde mod sastenaveIneonene ff “im ‘t-} Una fog signfatoe de explces mais, poputbes eves gendti firms pid ¢ ots en prone at oo gue eta ae perder wo praia me tele! Cl DIAMOND. ued. Colaps camo ss setdais sche fracas ou 0 suc. {radoga de Aland Raposo. Rie Santo: Reco, 2008p 81-564 pai SS 4 Sergio Alves Gomes tal voracidade que acaba por destrui-la, movido pelo d tudo deminar, Esquece-se assim, de que tal deseonsideragio consiste em sua autodestruigdo, decorrente da negaedo dos vinculos vitais que 0 conectam a esta mesma naiureza da qual tanto depende quanto faz parte" ‘Ao se pensar nisso, prepara-se o terreno para a compreensio das rrazdes que aponiam para o ordenar da convivencia humana em face da natureza, Tais motives abrirao caminho para agdes concretas que visem & protege do meio ambiente. Proteger este, significa cuidar da vida, da natureza. E também abrir possibilidades para 0 continuar da existéncia e da coexisténcia nao s6 dos humanos mas também, de tudo 0 que com eles tm a ver pelas relagdes © conexdes ja reveladas ou acultas”, por no terem sido ainda suficientemente compreendidas, E este do abrange uma petspectiva césmica, mais que planetaria, O vislumbrar de tal pers- .ejo ganancioso de "A eo respite a Fabula de Higino wilizada por Heidegocr, ao aresentar 2 auto-interpretg2 do Dash (sta como “cua evea jn debit de toll, 0 recontelnent da ore Tigao do orem coma tee. Diz o fei text: "Curae trovenado unt Fura vii-am peda de terra argo: caitand, tomou ano peace © comegot athe dar fro Enguaniorfita sabre o qu rio. nerve ipter dears pedal qu desse espa formar de argo ue ee fo=de om grado. Como cut quh ent da sou nome 00 qve linha do forma prea prodbuse egg fee dado @ nome [dele Jiper. Eng ‘Curae Jipierdispuavan sobre ome. surg mbna tera (efx) quevend da seu name, inna’ vez gue haviafomecio tnt peso denen enpo. Ox diane tomar Sorueno como drbno. Sono promncto segoine deciie, aparentemente eye Tider por ters dado epi, deve receher na mote w epi: e ft 00, por te rex ded 0 corpo, devs recebero corp. Como, pave fo ‘cura quem primelrao farms, le deve postencer acura” engwanta vive Cott, na cent brea mnie dita ee ‘deve se Chaar ‘home’ pols fo feito de ring (irra) HEIDEGOER, Matin. Ser € ‘Temp, § 12 Traducao ds Masia Se Cavalcante Schback, Petropolis: Ves, 2002, pars 253-264, Tamibsm no bit da religitojudaico-rista, conforme consta no Amigo Test isto, atcira¢apontads com orgs edsstino do homcan, Dots ehos biblias maram © Pprominciamento de Deu al espe, ant o erie @ homer com a0 castigo por have, Jinamsnte com a ic, provado "ar a srvore a ednc bent edo mal, Diz 6 Prime tv da Bilis: “O Senhor Deu forma ps, o home to hava da tn, « ep ‘etn se rasto wm sopre de vido, ¢o howe trouve ana ipesoa) vivente (GSnesi 2, 7) mais adam tei: “Comer o po coor sor do er rai, at qe woes fora de ‘qe fate tomado: porque tw ée pe ene hee tonne enese, 319) CF. Aba Sa fran 38, Tadao oa Vlgata por Matos Soares, Sto Paulo: Puls, O82, ‘A ciressio “canons cults” & doco de seems, Fj Capa © ql proacupad ‘com sistemabidads da vis no planet, ertca © dualism separa que fm cons do odo d's iar com o conheimenta ignores as concedes c& complemntaidae 3s ‘eemperehidas ete os vio sabores Diz "Nose ccplaas academia organza se de mad ge eels nat da com ax exam ras pao gu cn {a onda eatara soi, ov qos conprene iene como omni ‘de regan de coportament. No fra essa ish rigorsa fio serd posse, ols princt- [nat dent deste nove aca ~ pox elem soto caemtst ds mare tk essa ~ 070 9 conuragdo de commis ecologcimente sentative. onponisodes He tel Indo qe sa tcrologinse nstinies soviet eters aera ocits no Drejndqnon « capacidadeinneca do mareza de sstetar vic, Os principe sobre {qi sé ergurdo os ns frases soto to de sr coerenee com ax propos the ogi qe nanweca fer evolu para stearate Vie. Par lomo, exon ‘quenedesemoit wna esr conceit aia para compreens3o da enrtaran mae Haye socais” CE CAPRA Frio Ay comexdes acuta Cine pars una sign scene “ratio de Maelo Brando Cipoia Sbo Pau: Cul 2002.17. Hormenéutica Constitucional 58 pectiva esta a exigir um pensar e repensar a respeito do homem, seu modo de ser e de estar no planeta, no mundo. Sé a reflexdo que leve em conta o conhecimento a respeito do ser humano ~ gravemente menosprezada pela cultura da tecnociéncia ¢ do consumismo desentreado vigentes ~ pode abrir portas & construgao de um sentido construtivo da vida e da felicida- de (eudaimonia) tao sonhada por todos os humanos. “Homem algun é uma tha”. 0 viver humana & conviver, isto & viver “com 0 outro”, Este outro & s6cio de cada um na empreitada que com- partlham: a experiéncia da vida. F no espago da convivéncia que © homem desenvolve seu projeto existencial, sujeito a circunstincias, riscos e perigos de miltiplas especies. Pensar e falar sobre o homem € refletir sobre o signifi- cado e as possibilidades deste convivio. E perguntar, por exemplo. como este deve ser ontenado a fim de methor corresponder a0 modo de ser do homer. “Mas isso ja pressupde um certo conhiecimento a respeito deste “modo de sex” do homo sapiens. Tanto de sua natureza quanto da sua condigio. Falar do homem € pensar sobte suas possibilidades e seus limites. Nao do homem isolado, mas de todos os seres humanos. Reconliece-se em cada um deles uma exclusiva singularidade™, contextualizada no tempo © no espago: um ser real, de came e oss0 € no mera abstragdo, Indagar sobre o homem ¢ procurar nele sua hnumanidade, eapaz de distingili-lo dos demais seres. E também colocar-se em posigio adequada pata ouvir 0 que jé se disse a respeito de tal pergunta ~ “o que é homem? =e notar que o esforgo em busca de uma resposia possbilita nfo “2” solugio definitiva, acabada, suficiente, mas revela aspectos do humano. E tal revela- 40 evidencia as miltiplas dimensdes e potencialidades presentes em cada ser humano, as quais exigem atengao e cuidado, a fim de que o homem possa desenvolver-se de modo equilibrado, Equilibrio aqui significa harmonia a ser buscada tanto no dmbito interior do individuo ~ como, por excmplo, seu estado de satide fisica, psi- quica, espiritual — quanto no'espago de suas relagdes com o mundo que rodeia ~ seu entomo ~ e todos os seres que © povoam, com atengio especial para seus semelhantes. Pois ¢ com estes que se dario as relagbes intersubjet vas, das quais brota a percepeao da alveridade. Observe-se desde logo que a idgja de alteridade ¢ central nas questoes que envolvem o Direito ¢ a Justi- ga”, As relagdes justas se orientam pelo reconhecimento da dignidade hu- Frais do posts igs John Doane, alow poe Thomas Meson, CF MERTON, Thoms Ho- ‘mem Atgum € Uma lita. Tadagso de Tito Amoroso Anssticio. Campinas. Vrs, 2003 Fdgar Morin assim se refer a esta singularidade humana de eada pessoa: “A manera de I jonto de hologrom, tracemes, no nao de nossa singnaridate, no pena toda 0 Inmontdade; todas wd, me tominém gave Jodo 9 covino, incluso eu mite, qo sem ‘diva Joc no fando do narueza humana CX MORIN, Eagar. A Cahega Bem-eita pensar efoma,roformaro pensameno, 5-04. Tradugio de lod aeobinn Rio de Jansto Briand Rise, 2001. ‘tal spot, observa Miguc Reale: pripria do Diet esa nota de “lei, Alters, ator out, damn exprestdo bastante signfeatva, © Direte sempre ‘lteridade ese —_— — — ————=z——— we sana presente em toda pessoa. O fundamento desta dignidade apresenta ities fontes para sua aceitag20,consoante serétratado mais adn. Ja ta Bilin enone se reratado o horem como ser impereito, falive,fnito © Deus, seu Cron Heidegget, a refleti profunds e amplamente sobre pergunta que interrog pelo sentido do Ser v8 0 set humano como “ser-a um ente que & Ser stuago no mndo", So'n pact da tnterpretagto deste Dasei € que 0 autor de Sere Tempo vé possibilidades de e "ganar horfcontes da con preensdo e possivel imerpretacdo do ser Se Heidegger parte de uma anise do “sera para chegar 30 ser parece eno que nada obs sja tomado o mesino ponto de prta quando Se tem por objetivo a construgdo do ainbiente social adequado a0 desenvol- vimenio' mais pleno possivel do ser humane, visto pelo referido pensador como Dasein.Aliis,ndo seria sensato omitt a teflento sobre 0 proprio ho- mem a0 se pretender a defesa de tm modelo de convivencia ~ como é0 de- mmocrétice ~ sem previamente considera os aspectos mais relevantes do que jf se sabe a respeto de tal suit, Prisese que a pretensto, agi, € refletir Sobre as possibildades de que'a Hemmenéutica (Juridica) Consttucional dis- poe ou de que pode dispor para atuar na concretizayao da vivencia democta- tica, mediante sua contritigao na constnugao Jo Estado Democrtico de Dinsito, Dato imperativo de se pensar no idesrio democrtica e nos modos de comportamento humano que correspondam a sis prineipios e regras juridices. Tsso porque, na democraci, tats prncipios eregrass80 modelados em cortespondéncia com a pessoa humana”, seu set, suas caracteristicas, nevessidadese posibilidade. Considera-se, pois, que o modo de estar no mundo, de nele vi- ver, ag, conviver deve ser coerente com aquilo que o homem "ji é" © coin ale ainda ‘pode vira ser", em raz de suas potencialidades nunca suficiestemente desenvotvidas. Isso implica dizer que a estrituragdo © © ‘veakea sempre aan de dis on mais individu, segundo propor. CE. REALE, Migash igs Prliminares de Dirito 30 Narn o texto Biblio: "Enran Dens de: fans o home @ massa imagen semen. Que ‘le wine sobre ox peter mo, sbre a aves su ce sobre anol domésicas © sobre tesa terrae sobre todos 08 pels que se ova sobre aera” (ote, 26) CE Bla Sarda 34. Traduydo da Valaats poe Matos Soares S40 Palo: Pulinas, 192 Cr-AEIDEGGER, Marti El Ser V E1 Tiempo. 2, ed. Traduo de Jos Ga0s. México: Fondo 4 Gultara Eeonornica, 2004.50. No menctonado txt, diz 0 auto 4 Ta universal eel ‘ocepo de ser no Ye pone la ‘especial el vestgacin = es decir ~ el avzar hacks put et camino de la extigenis expecta de wn determina ene 6l ser ah or que debe _Eomase el horizon del comprenasony pile intrprsaetn del Aithur Kaufmann enisnde quo ser humm ea vida em geal devem ocupar o cnt dis Peeipaptes da Filosofia do Dict, ra alias, Dig ce "La flavoia del derecho de “pra pecans a ear dria par a pcopain por cl doch et ‘sgpfen la preceupacion per ef hombre os isla preveupacion port vida en general en Ides Sus Jormes”. Ch KAUFMANN, Artur La" Hlosoia del" Derecho "en ta Posmodernidad.Tradugao do Luis Villar Boda Sania Fede Bogs: Tenis, 198. p72. Hermenéutiea Consttucional a funcionamento da sociedade ~ na qual o homem é, por natureza, echamado ‘a viver ~ devem estar em consonancia com a natureza e as possibilidades de ser que todo individuo traz em si desde o inicio de sua existéncia. Nao parece ser razodvel pensar sobre a sociedade, esquecendo-se do homem © vice-versa. Quando se compreende © homem ~ pelo menos até onde for possivel compreendé-lo ~ compreende-se também muito daguilo que se ¥é na sociedade por ele engendrada. Por outro lado, quando se olha para esta, pervebe-se também o quanto ela reflete os aspectos que se fazem presentes no ser humano, captados mediante suas manifestagdes. tanto Individuais quanto coletivas. Retome-se entto @ questo que aqui mais importa: “O que é 0 hhomem? Diante desta pergunta, muitas so as respostas. Cabe extrar dela 0 aque interessa aos propésitos da presente reflexdo: captar as possibilidades da interpretagao juridica, isto é, da modo de se compreender 0 Dieito e de se fazer dele, por meio de suas manifestagBes normativas ~ Consttuigao, les, tratadas, contratos... ~ um elemento fundamental na ordenagio e construgao do ambiente favoravel 4 realizagao do ser humano como tal, isto é, ao Seu ais pleno desenvolvimento. Mas isto de modo a abranger todos os seres hhumanos e ndo apenas alguns, E para pensar neste projeto de convivéncia ~ tendo em vista 0 pprojeto que também é cada pessoa Humana ~ que se perguinta sobire a ontolo- gia” ea fenomenologia do humano. Assume-se a idéia de que interpretar cortesponde a compreender. E este como um construir continuo de sentidos capazes de orientar a vida e a convivéncia humanas segundo valores cuja vivéneia seja compartilhada eqiitativamente. Na flsofa elisscn, "a omologia& a clénc do ser em gera,enguanto que “na flosfia fnconramos principalmente nat dferenter versbes do exstenciaiame™ CL DUROZOL, ‘Gear: ROUSSEL Andi Diclondei de Fost Tres de Mata Appsxelisr, Campinas Paps, 196, ‘AN preocupagio maior de Edmund Husserl, fndador de fenomenotogia consist em valtar 4 Mengao para as “cists meamas” om “tarne © e880", auperando-se 0 paraigmas cient ficos que “orificilizaram 0 mundo. exrecondose da afimiue dor ssn sends con < lombra Agios Cores Guimirics, CH GUIMARAES, Agules Circe: Fenamend e Direlto, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005. .2.A picocupagto d= Huser com @ mundo da vida"(Lebenswsi) no qual sitaat-se ox res humanes “came ¢ose0" esta tamicm evideneiads quando o referidofilsofo volts sua aengdo para ax "cineias do c= Pinto” Diz el: "oltemos agora nosso olkar dt corporeutade humana por a expr tlade mano, para av chomed cléncion co expirito. Netas 0 nerese trio dirtge-se ‘vclxivamenie aos homens coma pessoas para sur vide e agir peseons. Vid evil & lin sver em commidode, como ewe ma, dentro de wn horzontecomunitrio. & precisa feme em comunidod de diferentes exutura, simples ou compleros, tats con fama ttacao © super-nogéo. 4 polavr vida aqui nto fem sont fatligice, € wma visa cx ‘tvidade pose fins qe cla formas espritucst vie ertdra de eulina. om sent Irate ample, name anidade istrica. Td tes @ tema dos diverse eieacow do expr CHMUSSERT, Edmond. A Crise da Humanidade Européia ea Filosofia, 2 ef Trade ‘Ho de Urbano Zilles Porto Alegre: Euipuers, 2002 p.€8feoleso Filosofia. 41) ——E—— EE — — — ——— eralo Alves Como ja visto, faz parte da atitude filoséfica o continuo perguntar que &”, ditigido inclusive & propria Filosofia (“o que é filosofia?”). Nota- se também que, ao tentar respoidé-la, ndo ha como fugir do sujeito que filo- sofia, que vive a filosofia e elabora tantas outras modalidades de saber. Este sujeito € 0 homem. Mas enti, afinal, “o que & 0 homem?” Afasta-se a ousadia de tentar defini-lo mas busca-se uma aproxi- Imago de suas miltiplas manifestagdes. Pois slo estas os sinais que dio pi tas para aquilo que o homem “é", bem como para o que “pode vir a ser”, dependendo este “pode” de uma série de fatores, muitos deles circunstanciais, nao sempre dependentes da vontade humana, embora muitas vezes, sim. Por isso, afirma-se que o homem & um ser de incertezas e possibilidades. Suas incertezas"' decomem de varios motivos: sua ignordncia a respeito de quase tudo, Pouco sabe sobre si mesmo™ e de seu entorno e, no entanto, tudo deseja saber, pois é um ser datado de curiosidade. Seu pergun- tar e pesquisar, bem como a provisoriedade e fragilidade de suas respostas engendiam novas dividas. Por pouco saber a respeito de si e do mundo em que vive, angustia-se numa continua busca de explicagao e compreensio. Todavia, nem as ciéneias da natureza, embasadas em leis que ja foram consi- deradas perfeitas e sem excegdo, Ihe dio hoje a certeza a respeito de como é , menos ainda, de como seré o futuro da propria natureza, embora desta depend a sobrevivéncia humana, Tampouco a tecnologia, por mais avanga- dda que seja, consegue afastar todos 0s riscos e perigos decorrentes de ages reagdes imprevistas da natureza e que se colocam fora do controle humano. Sem esquever que a tecnociéneia, festejada como fruto do progresso, nao fasta as possibilidades destrutivas da espécie humana mediante a utilizago do saber tecnoldgico, como comprovam as duas guerras mundiais ¢ outras tantas fnestas ocorréncias, ais possibilidades configuram incertezas sobre o futuro da huma- nidade, especialmente quando cigneia ¢ tecnologia sio também utilizadas © seilogo Pedro Demo fala do dessjohumano de cortez e da presenga constant da in rie, aul onto no afta gost pla cert: “Tad gne nce signica ‘cherura e angistia A soctedae gosta mexmo & de certs, por mats Yor seospura inven ‘de massa cabega.Fabricamos fet para que nods nos escape aa contol. ff 4 eres pe ‘madkrna iniste no dsananeta enreclenciae realidad, ao conmirio da versdo trad Ina tne coisa cera €incertza Mae precio tambon ser minimamentecoarene ace tar que essa aftr, se for cera Ondo € cert, ese fr ert, € de ponca idode A veaidade és, incerta, mas 36 abethamas Bem mela 9 que nos parece ert. O cone nena aanca pela via dt Incerteza, mar precisa andar cera sa da incorteca™, mais Slane screen: "Queremas chegar gum liga, mas todo Ingor onde se chega& ne ‘lye guerios, Procavar apotvanadomene i tar anda ¢ as grotfcante que ach {o"ICt DEMO, Pode. Certern da Incerters: sbvaicacias do content © da via, Bras: Plano, 2000p. 169-173 pa Da‘ atolidads do Kena que Séerates asm por tos sus vida: “Conoco 1) mene”, ‘consoante lebra Leonal Franca, 0 refsrr oa iste da matic, para © aul “opel ‘onecimento do homen: € objets de fads a sa expect to ce para ‘que conver rds partes da ‘sa flat” CT. FRANCA, Looe. Nogbcs de Misra 44 Flosomta 240d Rade ance Agi 1990.5. Hermenéutica Consituciona 89 para fins bélicos ou colocadas a servigo do Iuero a qualquer custo ou da et ‘minalidade organizada, em menosprezo da vida demais valores indispensa- veis ao convivio justo, pacifico ¢ solidatio. Ilya Prigogine, ao refletir sobre “o fim das certezas” na contempo- rancidade cientifica, assim se posiciona diante de temas como o acaso © 0 determinismo: © acaso puro & tanto uma negagao da realidade e de nossa exigéncia de compreender 0 mundo quanto 0 determinisma 0 & O que pracuanos ‘consiruir é um caminho estreto enire essas duas concepedes que levarn fgualmente & alienacdo, a de um mundo regido por les que nao deixarn nnenhun lugar para a navidade, e a de wm mundo absurd, acausal, onde nada pode ser previo nein descrito em terios gerais. [J Neste processo de consirugao de um caminho esireto entre as leis cegas ¢ os eventos ar- burdrios, descobrimos que grande parte do mundo ao nosso redor havia ‘até entdo ‘escorregado enire as mathas da rede cientfica’. para reto- Imarmos ume expressao de Whitehead. Discernimos novos horizontes, no- as quesides, novos riscos Marcelo Gleiser chama a atengo para a ignordncia e o comporta- ‘mento paradoxal do homem em relagdo a si mesmo, aos outros € a0 mundo, apesar do desenvolvimento tcnico-cientifico j4 alcangado, Para 0 referido fisico e astrénomo, Se aprendemos muito sobre 0 Universo, sobre a natureza das coisas e sobre a vida, continuamos incapazes de erradicar a fome e a pobreza da face da Terra, continamos a nos matar em guerras e pelas ras, {a fios dividir por preconceitos e intolerdncia, a potuir e devastar in punemente nosso planeta. Algumas das perguntas mais amigas ~ ‘origem do cosmo, da vida, da mente ~ corminuam sem resposta: novas doencas surgem do nada, para nos lembrar de nossa fragilidade pe- ante a Natureza. Morremos como todas as outras formas de vida Por mais que tentemos nos convencer do coniraria, somos ainda wna espécie imatura, com muito para aprender sobre nds préprios e So- bre o Universo em que vivemos. [..] Através da nossa constante bus: ca por respostas, crescemos como individuos ¢ como eidadaos do ‘mundo e do cosnne”. Se o homem tem muito para aprender & porque muito ignora. A. conscigneia desse ignorar, somada ao desejo de saber, engendra a busca do conhecimento em meio a todo tipo de diividas, de incertezas. Estas, embora insuperdveis em sua totalidade, contribuem para o avangar do homem na aventura de novas descobertas e criagdes que iro integrar o conjunto de tudo fo que ele faz de signifieativo: seu mundo cultural. & tentativa de compreen- der 0 homem s6 pode chegar a resultados frutiferos se levar em conta as (CE. PRIGOGINE, liya,O Fim das Certeras: Tempo, Coos © as Lois da Natura Trad de bora Leal Ferri Sto Pavlos Unsp, 1998p. 197-199. CCE GLEISER, Marlo, Micra Macro: Reflexes Sobre o Homsm,o Tempo eo Espaga Sto Plo: Publ, 2008. p17 ——————————————————— a Sexgo Alves Gomes manifestagdes do humano, as quais se objetivam na cultura, pois trata o modo de ser, viver € conviver de homem. Ao se olhar para as manifestagdes culturais percebe-se que estas falam do proprio homem e, a0 fazé-lo, expressam muito do que cle é O conjunto de produedes oriundas da engenhosidade humana evidencia que 0 hhomem ¢ um ser de miltiplas dimensdes e que se encontra em continuo mo- vvimento construtivo ou destrutivo de si mesmo e do mundo em que vive. Este — a exemplo do que se di com o proprio homem — também pode ser por ele aperieigoado ou arruinado, S80 possibilidades que se apresentam no consttuir da histéria, @ qual registra momentos de grandes avanngos eivilizaté- rios € outros de graves retrocessos em rego & barbie. A produgao cultural do homem atesta que este nao s6 difere fi- sicameate dos outros seres vivos, mas também, que € capaz de muitas realizagdes inatingiveis por estes. Ademardo Serafim de Oliveira indica varias caracteristicas que distingiem 0 homem em relagio a outros an mais. O referido autor chama a atengdo para caracteres que so préprios © exclusives do ser humano, a comegar por aspectos fisicos. Mas vai além destes. Observa que 0 homem é inventivo € progressivo em seu desenvol- vimento, E animal pensante, dotado de linguagem, senso ético e conscién- cia moral. Além disso, & um ser reflexive, munido de emogdo estética & josidade, E também um animal social e politico, bem como, uma criatura finita e inacabada”, sta re- Ao estudat a fenomenologia do homem, Battista Mondin aponta nele dea dimensdes, a Saber: a dimensio corpérea (iomo somaticus): a da vvida humana (homo vivens): a do conhecimento sensivel e intelectivo (homo sapiens); dimens3o da vontade, da libetdade ¢ do amor (homo volens); di- mensie da linguagem homo loguens); dimensio social & politica (homo social). E, além destas, aponta ainda as dimensdes cultural (homo cultura lis), do trabalho e da técnica (homo faber). do jogo e do divertimento (Homo Judens) ¢ a dimnensto religiosa (homo religiasus)” Enist Cassirer vé 6 homem como um “animal simbético”, porquanto a riqueza ¢ variedade das formas da vida cultural por este construida so for- "Miguel Reale endossa tl assrtiva, Para o juldsfo palit, “jams fograriamos con- ‘resnder 0 significado do home desinulouo do comple variegada dl gue ele exe Poza. como projecdo e dimenio media de sus conscience tnencionl, 6 raedo pela (quel costume fran que cata ¢ 0 stema aber das intenconaitades objeto eel wore qut.a home sé pode se inegrahmcnte compreenletevondorse On conta 0 ‘que ce como individun “a se" eo que ele ¢ como sbeo so €, enqnato partcipe cons ae on nto do comple de inogens,sinboos, formulas, fl, nsalyOes ee, sca, de tock a8 forma que, no decorso do temp, va osinatandoo incesamte melden de va ‘essobra'o fi dado on posivadona hatrios CU-REALE, Migush O Momem e Seus Ho- Flerates. 2,4. Riode lacigo: Topbooks, 1997, p. 25. OLIVER, Adsmardo Serafin de AntopoigiaFilosOfca, 6, cd, fo: lntrodugto Ao Pensa- ‘mento Flloofico, Si Paulo: Loyola, 998 p. 12127 MONDIN, Batista O Homem quem & Ele Lleincnios de Antropolosa Flosotca, Palins, 19% csp_p- 27824, pats stad ga cr gae 0 autor anasn + "fonomenog de home Hexmeneutica Consttucinal n ‘mas simbticas**. Para Erich Fromm, “o homem ndo & uma coisa: & wn ser vivo emvolvido mim processo continuo de desenvolvimento. Em cada yonto de sua vida, ele ainda ndo é 0 que pode ser e 0 que ainda pode vir a ser Vé-se ai a riqueza de caracteristicas presentes na configuraga0 do hio- mem, as quais the abrem muitas possibilidades inaleangiveis pelos seres inacio- ais, No entanto, exatamente em razio de suas préprias earacteristicas, o homem. também um ser que se v8 acossado por uma gama de necessidades, isto &, de cearéncias a serem supridas, sob pena de ele mio se ver realizado como set huma- rho ~ refere-se nqui as necessidades fundamentais, bisicas, decortentes de exi- ‘2eneias da natureza e condigio humanas. Ambas evidenciam 0 modo ineompleto « inacabado do hiomem, bem como a interdependéncia entre os seres hhumanos, sem que isso Ihes rete a continua nevessidade de autonomia”™. psiedlogo norte-americano Abraham Maslow muito se ocupou com o tema das necessidades humanas inerentes ao desenvolvimento da personalidade do individuo. Chegou a estabelecer uma hierarquia contendo cinco necessidades, por ele consideradas inatas: as necessidades fisioligi- cas, de seguranga, de afiliagdo e amor, de estima e de auto-realizagto Segundo Schultz, para Maslow, Embora venkamos dotados dessas necessidades ao nascer, 0s com portamentos que efetnamos para satisfazé-las so oprendidos e, por- tanto, sujeitos @ variagdo de uma pessoa para outra. Elas sdo dispos- tas ordenadamente, da mais forte @ mais fraca, As necessidades infe roves 1ém de ser pelo menos parcialmente saisfeitas anies que as $u- periores se fornem influentes. Por exemplo, pessoas famintas mio {CL CASSIRER, Ernst. Enso Sobre o Homem: noduco a una sofia ula hue. ‘raduyao de Tons Rosa Bucno. Sho Palo: Martins Fontes, 2001p, $0. Discordando da ‘liscica defini do home como ania! rational 0 Mea slemdo ad: “a mies pe sadores que defiant omen coo animal rronaie ko eva emp em reenter “or compris former de vide cual co homen em tks asa riqucae brie ‘tert ess formes formas sibs Log em ves de dfn home come animal ttionte,deverioes defueto cone animal symboticum to fstlo, podem dengan Su lUferencs expect e entender o nove camino aberto para 0 home ~ cami para @e- ‘to CXSSIRER: inst_Emat Sobre o Homem: Inrodugio& ua festa a cata tamara Soo Pal: Warns Fonts, 201. 49-90, FROMM, Erich Do amar 4 vida Tradupio de Alvaro Cabral Rio de Jani: Jorge Zahar, 1086. . 138. Sepundo Miray B.S. Gustin, avtonomia figura como primordia dete as tanas neces seq oseyhumano aresena. ia aveteridaaulo"Stgere-ne ue a candi de oma fo terms rts sot ors aa ce ae ie er. ite pips formar nbjetivo pessoas rexpoldadas em conviores de defies eo teas mas adguadan para enngton. Em eros mats resi. ofits eomomi i= ‘Wieta epoca de ogdoe te Imerveneo do esson on do grapo sobre ax condi de St forma de id Ese love deft a eapacidadeindspensvel emi par a aueo0 { hespamatida as pessose™ CT GUSTIN, Mire B.S. Das Necssiades Humanas 905 Direton cna esocloga Hola do dato, Bao Horizonte Dat Rey, 1999... Nn! SCHULTZ. Duane F SCHULTZ, Sydney Ellon Teovias da Personalidade Te ‘Bhan Raner Sao Plo: oni Thorton, 2002. 292 2 Sergio Aves Gomes sentem impulso para satisfazer necessidade superior de estima: estdo preocupadas em satisfacer a necessidade fisiologica de comida, e ndo em obier aprovagdo e estima dos outros. E apenas quando tm ali ‘mento e abrigo adequados e quando ax necessidades inferiores res tanies estdo satsfetas que elas eam motivadas pelas necessidades de classificagdo mais alta na hieharquia™ [Nao cabe aqui analisar teses eventualmente concordantes, ou no, com a bierarquia de necessidades apresentada por Maslow. © que dela inte ressa para a presente reflexto & o fato de evidenciar e reforgar 0 argument que aposta o homem como ser prenhe de necessidades fundamentais a serem atendidas adcquadamente para que possa viver e conviver como alguém capaz. de se sentir num continuo progesso de realizagdo vital que s6 & possivel em companhia de scus semelhantes”. E a vivéncia deste processo realizador de suas potencialidades e fuculdades do pensar, do querer e do sentir que the possibiliara o que Erich Fromm denomina de biofilia’. isto &, 0 amor a vida. O inverso disso seria a assungio de um eomportamento necréfilo, amante da morte € de tudo o que com ela se relaciona, Isso faz sentido, uma vez que nfo ¢ racional imaginar que alguém possa desenvolver amor pela vida e pelo convivio humano, em geral, quando, 4 sua propria existéncia so negados os recursos fumdamentais pelos quais, clama a natureza humana”, como sio, por exemplo, os alimentos indispen- ten dem E liar tl respeitooensinament de Kael JASPERS:“O hone ahve sozinko em moa ‘ina ene de que nd ost ¢ prt Smet cm sts companios de dtm ese {rinse em home steno ¢ dec ctr slario™ CT taredugan 8 Pensa {oad 6, Seu o fildsofo sociale pscaalist Erich Fromm, “ado dsingdo mals fndamental soon ec rio Bo Ut rir mecca €o aa eosin por too ge no é vv, ada gu eter) Un xemplo wt do ia necro pro Her Ele ara fscinado peta detruig. ¢oedor da tmort ra the doce. A necro consul wma orienta fundamental soles ‘Barn «vis que seach em opasiso completa prpris Yo €@ moi mabe pergost ‘ln cries ce vid de gue o homem & copa, Ela € a verdad parr’ en sonar mavte of plo dexvochar da bafta € encom hong preci ie ae ano i conpcoment aa peo proce eecinnt et toda eferas, Prefer consi conserva capt te mens ree vera tne sera noni imap oc Aa ave dei mo are inflenctar pel cor, pela rao, peo renplo, nia pea fora partindsesceiay on cla a hectic de rn ete cone oem co’ CT FROM, Ech 0 ‘rato do omen Seu Cts par Bem paras Ma 6c. Tadao ds Octva Alves Fi Riods ano: ar, 8p. 40, psn, ica d trea umara & ta de lian ras. No pe © horse posi nturcra divin ds demas sees ves, em fata de cxacersas cope 28 quo dfrenciam desis, emboa teh moc emt abn co ses. Para i ape fndanento nas discusses sobre tl temic, ver STEVENSON, Leste; HABERMAN, Dati estidorecanhecese que Hermendutica Constitucional = 7 siveis a vida biolégica, a gua potivel para beber e o ar puto para respirar Por outro lado, sabe-se que ao ser humano niio basta o saciar da fone e da sede fisioldai miiliplas dimensdes e caracteristicas j consideradas. estdo a exigir um ambiente social que lhe propicie 0 desenvolvimento de {odas elas. Se no as desenvolve adequadamente, convertem-se em impossibi- lidades. E tais impossibilidades correspondem a frustragio das expectativas que todo ser humano alimenta ao peteeber possibilidades para ser mais do que ji €. Milhdes de pessoas sequer imaginam a riqueza de potencialidades com que foram dotadas. Infelizmente, muitas morrerdo sem nem mesmo saber disso. Por outro lado, ha tantas outras que percebem seus talentos mas no encontram condigdes © apoio adequados na sociedade em que vive para desenvolvé-los mediante 0 processo educacional necessario, E 0 que acontece diariamente em virios lugares do planeta: 0 holo- causto jnmano em nova forma. Ele vem ocorrendo em razio do modo in- justo como vem se estruturando a convivéncia social. Nesta, persistem © ‘aumentam a cada dia os altos indices de miséria e pobreza, fruto sobretudo da exploragio das poucas nagdes ricas sobre a grande maioria constituida por paises pobres, herdeiros de um tragico pasado colonizador que s6 thes dificultou o acesso & autonomia, isto é, ao verdadeiro desenvolvimento. Emildo Stein, invocando Heidegger, observa: "Como poder-ser 0 ser-ai é possibilidade. Ela ndo & jamais simplesmente futura, A possibilidade envolve 0 ser-ai. E por ela que eu compreendo. Eu projeto minka existencia, como ser-no-mundo pelas possibilidades que compreendo como meu poder- ser. Da compreensdo emerge a visao do ser-ai, seu hovizonte™ Trata-se de um horizonte com muitas possibilidades. Isso por- que o homem, visto por Heidegger como “ser-ai”, em verdade ndo € um ser acabado, definido e nem estalico, Em razio de seu dinamismo criativo e também de sua finitude, pode vir a ser o que ainda nao é. bem como deixar de ser o que jé é. E neste sentido que se pretende vé-lo como um ser de possibilidades. Manfredo Araijo de Oliveira lembra que 0 homem, como ser da pris, 6 ser da configuragdo do seu préprio ser ‘elambém configuragia de seu mundo, Na devisdo do homem. esto ent jogo ele mesmo ¢ seu mundo, a efetivagdo de si mesmo e do mundo: tanto ele como o mundo apreseniam-se como tarefas a se realizar. es- pecificidade slo ser que ¢ praxis se revela exotamente agui: ele & res- ‘ponsével por si mesmo. Assim, o homem como ser da pris e seu mu do, 36 potlem ser entendidos 0 partir da liberdade, que, entao, emerge. foriginariamente, como a experiéncia do sentido fundamental de sua vida no contesto de sua experigneia da toialidade. {..J No esnonto, 1. Dex Tearias da Natureza Martins Fontes, 200. STEIN, Eid. tntrodugdo ao Pensamento de Martin He 2002.9. 68, Traduglo de Adait Ubiajara Sobral, Sto Paulo leguer Poe Ales: ices, i Serio Aves Goes ad gar, de ante. que a efi da fara sed eos como a chance historica de wma configuraca de soni © de 8 ‘mao, tarefansubstniel que pre tere ou na AAs tantas possibilidades ji aludidas estao a depender, muito, de ‘una corfigao fandamental que € éxigéncia da propria natureza humans: 0 convivio em sociedade. Ao se falar em convivio, ja est pressposta& inter subjerividade, a presenca do outro com quem se consitoem as relagdes = ‘mamas, por meio das quais. e somente através delas, muitas das necessidades ‘mnmanas encontrar stistesao, Estruturar 0 convivio em consonancia com a natureza e a condiea0 hhumanas é o grande desafio que envolve uma multiplicidade de fatores. To- dos eles relacionados de alguma forma com o ser humano, um ser que preci- sa ser cuidado™ e aprender a cuidar. A cuidar de si, do outro e do mundo em que vive. Viver este permeado de riscos™, perigos e limitagdes, dentre as quais figura o rempo™ como inafastivel limite ao processo vital de cada OLIVEIRA, Mantcdo Arai ds ie Péxis Mistriea. Sto Plo: Alisa. 1995.p. 664 Mich! wood, go anal os cmos curauidad,ecopogtoe reocpa 3080 panel cide srino, observa ue Hesuac sa wes plans copa { Sorgesea (Sida) 09 sentido de ansedads,pooeupieo ontundas de apcrstes eens no tro edn espa tanto susa enema guano a esta intro do Dee (ara. 2 Besongen teen Qe spe Sena is sentido princpas: a blr aut prove, lg para i mesmo arse CD) tate, uid de omar conta de lg: (e) qanndo emreznds com 9 patie passa he ‘erat agin estar asso petra, prstpado con aig: 3. Furor sightcn poocupe ‘os ier atvamente de age que psen de ju, Oreksido aor esa anon a Irs consis sto distints, Sarge penence a prio Dosey Berge, referee suas a tide Andké Avago. So Paulo: Renders Digest Misia ¢ Polygram, 1989. A icra ce homcn como um sor caren de autconheriment npeadors ds cba de Rollo May i ada Home 4Procura do Si Beso. Hermenéulica Consitucional i perplexidade e esperanga que o homem exereita a coragen'"', a fim de reali- zar possibilidades para si e para 0 mundo do qual é parte. Sé movido pela firmeza de espirito, perseveranga e tenacidade conseguita a concretizagao de ideais vislumbrados como caminho de seu continuo aperfeigoar-se. Dai assist razio a Erich Fromm, quando constata no, ser humano um processo ‘com sucessivas possibilidades de desenvolvimento! No entanto, tudo isso e muito mais © homem s6 realiza se viver em sociedade. Pois é no Seio desta que se da a vivéneia politica, téo bem defini da por Johannes Althusius, no inicio do século XVII, como “arte de reuniy ‘ homens para estabelecer vida social comum, cultivé-la e conservé-la (© mesmo autor, a0 discorrer sobre as acepgdes gerais da Politica, afirma fim da homem politico “simbiético éa simbiose santa, just, provelto- sa'e felis, e uma vida para a qual ndo fate nada de necessério ou de tn Para viver essa vida, nenhuom homem & auto-suficiente ou bastante provi ddo de natureza, Pois 0 home nasce privado de toda a assistenci, des tudo ¢ inerme, como se tivesse perdido todos os bens mun naufriglo,fosse Tancado nas desgracas dessa vida e ndo se sentisse capa: de, por seus proprios metas, aleangar a seta da mde, syporiara incleméncia do tempo, rnem mover-se clo lugar aonde foi arremessado. Sozinho nesse comego de ‘ida terrivel, com tanto pranto e légrimas, seu fusuro se afigura wna i gente e miserdvel infelicidade. Caremte de todo conselho e ausilio ule que "0 Pao psoas, (logo e podeyoge Rollo May, "a carqtem énecesiria pa gu homeo ‘Eisn decides exgem conse. Par so, Pal Tih ds qae a conagem ¢ omalégee ~¢ orencll ao ntzoser icon ctor singe guar tos de congen: «corm fe 8 ‘aren toni, pto me oso d fof Pr so wt indioael ec Uibilande, Ue ma we vlrsar corpo, porsm sem zr dee firemen de amg ‘pcr egoconic sobre a oues pes A corogem mora om ra een "ha kei ida sede do invade com 0 somes te provi” A coms que aca eae Steondeseem gee por ist fused qus me enoler" A comgsn social € ade ‘cra com 6 os srs huianos 2 expldad Se scar opr en espana Ainge Intmidade sgntcatwa E's cragem de investi o et por ert emp mW incgnumento que exgins uma cnega cada vez meio A quai modi de coe, ‘atv €a mal importante foema ds eoragem que ohamm poe dscvoter eect se funda 9 stede autor, Dz le "Sea cone muvel €u corey do qn ester. cont smo sted pn er consrua, Tod pris pe evi exe coragem cia [Butts es protec de ura san por mada radia preter Pinanes corgi que voor « dfn en mudagar 4 neces mee “nv éproporctonl grou de mudan Ck MAY, allo Coragem de Cia. Trad ‘hod Aulydt Sones Rodrgucs. Rio de ancio: Nova Font, 1982p. 10 19 pas, Fronint rch: Do Amor A Vide, Tradigio de Alvaro Cab. Rio de Jano orgs 2ahar, 1986.9. 8 AACTHUSIUS, Jotanns. Potten Tadugto de Joubert de tives Brida, Ri de Jancis: {opbooks 23: p. 103. 80 Sergio Alves Gomes de e 0 socorro dos outros. Mesmo que sen corpo sea bem-desenvolvido, ele ndo pode se valer da luz da alma: nein na dade alta, 6 capa: de e- contra, em si mesmo e dante des, gules hens externas de que necessita para levar wna vida cémoda e sama: tanpoueo pode prover com suas Priprias energias os requisites cla vida. Os esforcos € 0 diligéncia de Innitas homens sd0 indspensavels para a busca e 0 suprimento de tas coisas. Assi, enquanto permanece isolado e mio s¢ inegra a sociedad dos homens, ele nao pode levar em absolute uma vide confortvel e boa, or the faltarem muas coisas necessaries e ites. Como remédio e auxt- {io para essa sitacdo,é-the oferecid a vida sinbidica, para a qual é di recionado e quase impelido o abragd-la, egso dleseje viver bem € confor favelmeme, ou mesmo simplesmente viver™ Para os gregos, a Politica se concretizava mediante 0 convivio or- denado na Polis, vista como Cidade-Bstado. Nela, os cidadtios partcipavam diretamente'” dos debates ¢ das decisdes que aprovavam as leis a serem por todos observadas. No entanto, cada cidade grega tinha a sua propria ident dade muito bem demarcada em relagio 4s demais. Fustel de Coulanges re- gistra que, no relacionamento entre duas delas, “por mais vizinhas que fossem, formavam sempre duas cidades completamente separadas. Entre elas hevia muito mais do que a distincia que hoje em dia distingue duas uurbes, ¢ bem mais do que a fronteira que divide dois Estados" Atualmente, o horizonte da Politica e da Democracia deve abranger todo o planeta, pela defesa de uma cidadania que seja cosmopolita, ni limitada as fronteiras nacionais, sem que isso implique a destruigio do Estado nacional ¢ das nacionalidades, Leve-se em conta que, além dos interesses alusivos a valores locais ¢ regionais, hi que se revonhecer direitos findamemais de cunho univer- sal, a serem respeitados no ambito global, independentementc da nacionalidade ddo seu inular. Somente tal reconhecimento pode confett a toda pessoa humana ‘status de cidadio do mundo. Nenhum exagero deve ser visto em tal pretensio Porquanto tudo de mais relevante que acontece em qualquer lugar do planeta, seja bom ou ruim, é imediatamente comunicado e, em menor ou maior lapso tempor, acaba por afetar todas as pessoas, onde quer que estejam, denim, 103-108 "uate de Coulonge, o cstdarademocracaatonense, nota que, Pol reg “or deveres do ‘denn on asi. [No havc qn ose comvocata das vex aif ‘parte do Senado dos Quinhenor eb, shante um aoa, ee sentavace toda os dis, do ‘tendo cntotxores vrongeien. redid as isrugde dos embeltadores atemese, 3a Se comer pesado ard dese cdo dein Estas temocrico. ols Oca {qiae td extent rete mito pov tengo para o msntos pesto & para 2 la Adoménc. J.) democrocta 0 perdinria beets do iboo neat de Yad Set ‘duds Por menos que 0 zelodiminuize, ela acaba perecenks ou se corrompenda Cl COULANGES" Tustel des A'Chdade Antiga.Trodugto de Aono Barros Rebelo Laut ‘Alves. Rio de Jans: Buia, 2008 p42 Ie, biden, 9.26, Hermendutca Constiueional 8 Destarte, em tempos de globalizagso econémica, no bojo da qual prepondera a preocupagéo com o dinheiro''” ¢ com tudo que este & capaz de comprar, urge se defenda o ambiente necessirio a continuidade da vida hhumana no planeta. E mais: que esta seja vivida de modo cortespondente & ddignidade inerente a todo ser humano. Para isso, $6 hi um modelo de socie- dade viavel e coerente com a busca de compatibilizagio entre as miiltiplas liberdades conflitantes: & 0 modelo de sociedade que adota os valores demo- craticos como lema para regrar a convivéncia humana, tanto no dmbito local ‘ou tegional como global. Isso porque, somente no seio deste tipo de socieda- de pode o ser humano ser visto e compreendido como ser social de milriplas dimensdes ¢ equivalentes necessidades. Um ser que traz em si, juntamente com suas tantas incertezas, uma miriade de possibilidades. 24 QHOMEM COMO SER HERMENEUTICO EM BUSCA DE SENTIDO A idéia de sociedade esti vineulada as de ordem e organizagao. Ordem, por sua vez, pressupde critérios de ordenagiio, de classificagio, de hiierarquizagao, $6 ha sociedade humana onde ¢ possivel identificar a exis- Kéncia de convivio humano otganizado, orientado segundo determinados valores que servem de bussola ao viver individual e coletive. Sem um mini- no de compartilhamento organizado de tais valores mio se poderia denomi- nar um agregado humano de sociedade. Destarte, 0 movimento denominado constitucionalismo se apre- senta, na modemnidade, como fruto da percepeao segundo a qual a coesio social s6 sera possivel se cada membro da sociedade sentir-se comprometido perante os demais a respeitar um conjunto de normas que tem por finalidade a realizago de uma pauta axiologica entendida por todos como indispensavel & necessaria vida coletiva. A elaboragdo desta pauta seria tarefa simples no caso de se imaginar sociedades areaicas, com poucas variagdes no modo de pensar ¢ de agir dos individuos, orientadas de forma quase homogénea por compreensdes miticas ou religiosas da realidade, Neste contexto, bastaria (0 socilogo Octavio lami adverte para 0 “dic de eidadaia no bio global. Diz ee: “A ‘oberania do cuadio apenas come a ser pensode iid ese pene a so ‘eae mond. Ness altura a istria, cidatonta vise, five. indaceve Irereadora. de wocas, 0 nercamblo de mercadoras.compresadento sn mower naiones, ‘alizonese soba sign de uma moet gb smo, imaginrio, no ocean Dalia. mercadorioaleanou 9 ldo mundial mut ames gue 0 Indio 0 Ft Monet fterocionel (FMI. 0 Banco Mundial (81RD ~ Banco Dermacianal de Reconstr ‘doe Derenimento). eo Conia Geral de Tarif ¢ Comerica (GATM). bm come oe press tranmacionas © agenlos miles sao genet mreadoria ms qa fos do mundo. Uma cidedonia cna essdnele ests espreasa na mcd global dolar & Caio idioma do ingle relate de todo 0 mando. A cidadana do cid do mand xh ‘apenas em exboca, ponada,prometde, moginats” CE. \ANNI, Ostavi. A stcedade global. TI cal Rio de Janco: CrviiagaeBraisra,2003p. 110-181 i —— EE a2 Sergio Gomes irs ensinamentos dos oriculos e sacerdotes para que 0 viver individual € social ganhasse sentido. Nessas sociedades, inexistem fatores gue viriam surgit na modemidade, tais como, 0 Estado laico; o pluralismo''* de tantas faces ~ filosético, politico, religioso, ético, juridico.. ~ com suas miltiplas leituras do significado da existéncia humana; a expansio e fragmentagio do conhecimentol”” humano em variadas e estanques especialidades, a ponto de tomarem duvidosas as possibilidades de um sentido para 0 proprio conheci- rmentoe para 0 viver humano. Neste contexto, tomma-se paradoxal o sentimento que apossa 0 ho- ‘mem: este canta alegremente as vitorias pelo desbravar de novos mundos descobertos em tantas esferas do seu entorno (Umwelt), enquanto lamenta pela auséncia de significado para sua propria existéncia em meio a este Uni- verso que lhe parece, com freqiléncia, Go estranho e enigmtico. E este espanto que acaba por atualizar e renovar © sentido do aio de pensar, de refletir, do voltar sobre si mesmo ¢ de refazer as constantes Perguntas que jamais permitiram calar a Filosofia: o que significa “estar no ‘mundo?”, Hé alguma forma mais apropriada de viver e conviver capaz de possibilitar uma existéncia feliz? Mas 0 que ¢ felicidade? Sio questoes que Imereceram, ao longo da historia do pensamento, as mais diversas respostas, sem que se chegasse a qualquer unanimidade a respeito. No entanto, @ recorréncia destas interrogagdes revela algo de comum, sempre presente em. todos os momentos da trajetoria humana: a inquietaglo do ser humano reve- lada pela pergunta sobre 0 sentido da vida. Perguntar pelo sentido de algo consiste ni apenas em indagar sobre “o que tal coisa é em si mesma” — pergunta essa que, para Kant, seria itrespondivel, por entender que jamais se pode ter acesso & “coisa em si” (das Ding an sich), mas tio-somente, as manifestagdes da coisa, isto é, ao fendmeno ~ mas ¢ sobretudo trabalhar com a idéia de que tudo CE REALE, Miguel Plralsmo ¢Liberdade Rio d fancir: Expresso e Ctr, 19, Edgar Mocin obsorva que 0 conhecimento "wm fonineno mlldimensional de manera itmpordve simutioncametefko, bilgi, cerebro meek pricy, clue, soci aa o pensador fonts, vives hoje graves conseqcin da ature do sabe“. « prpria ‘ona do continent sms car rach ee fmdny fare exfocelados iso potolegen pura 9 conheeimento,sopundo Morin, spoiedo my Graton “Percebese anda om mata difuldade que congo e 0 efeeloment do co ‘cam as ponies de conkechncnos sobre nis mesnos sabre 0 mando, provacande © ‘que Gnsdorf cham jusiomomte de porlaga do sober E serescnts qu rare de arid platen intendscplinridace 0 ereseientoexpnenciol dos Sabre sepa ‘as ev ena on, especiaist ou nao poar cad es Male o sabe eine O mots ‘sve qe tl atnogdo parece evident emer [-]. Comegaos a compreener que. mes Sendo Yoatnnte dependente dc interes entre 0 exprios uaa, 9 anhscinent esc ‘hese const ns pottncla gave stoma esa €ameacador. He oelifto do saber ‘aemporneaergvese con una Tove de Bebe oe now doin als do que donna ‘Cr'MORIN Edgat © Sitado.3-O corhecimen a conbecinon, ripe, Tradugso ‘SJuomit Machado da Sv. Porta Alcpre Selinn, 1998p 2021 Hermendutica Consttucional sa que ha de existente nao se efetiva isoladamente e que. por isso, € possivel Pereeber conexdes ¢ influéncias entre o dado ¢ 0 construido da realidade; estabelecer relagdes de semelhangas e de diferengas entre todos 0s cle- mentos dos quais se toma conhecimento, Relagdes estas acabam por pto- duzir sentido, Tal percepgao niio é fruto do acaso, mas de esforgo do espirito lau- mano que, paulatinamente, a0 longo da hist6ria, vem detectando a complex rede em que consiste esta imensa realidade denominada Universo". Na ‘continua aprendizagem do mundo, a compreensao a tespeito das coisas di-se em forma de um proceso que apresenta avangos, recuos, construsa0, des- construgao, fazer, desfazer ¢ refazer. E, assim, sobre cadiveres ¢ escombros de no poucas hecatombes ressurgem vida e esperanga. Movidos por um lhar prospectivo que aspira a novos horizontes, persistem os humanos na aventura de construir e de escrever sua propria historia. Isto Ihes possibilita, maior compreensio do que foi, do que € e do que ainda pode ser a humani- dade; de como viveu, vive e podera Viver. Esta constante busca de compreen- sao de sua propria trajetoria evidencia a sede de interpretagdo presente em todo ser humano ~ atitude esta ausente nos outros animais ~a qual o qualifi- ca como um set social e histérico que interpreta, isto é, que é capaz de per ceber, construir, destruir e comunicar semtidos, E por se encontrar assim dotado ~ com faculdades que Ihe possibi litam vivéncias em miltiplas dimensdes, as quais se constituem num con: tante centro produtor de sentidos ~ o ser humano ¢ um ser hermenéutico: um ser que vive em fungao daquilo que Ihe possibilite um “estar no mundo” com sentido, embora nio raras vezes descubra que certos caminhos e ages 0 conduziram a resultados nefastos e que por isso pade e deve avangat em outra direeao, seguindo © construindo novos sentidos com a esperanga de encontrar a almejada felicidade, Perceber relagdes significa construir sentido, Mas, o que é sentido? Peter L. Berger € Thomas Luckmann afirmam que “o sentido nada ‘mais do que uma forma complexa de consciéncia: ndo existe em si, mas sempre possui wm objeto de referéncia. Sentido é a consciéncia ce que existe uma relacao entre as experiéncias™” 0 cicnista Marcelo Gisr afta que “durante acwlo 20, nos concep do Universo ‘udu ponindnente. De wm Universo estco, prope pa Encin em [917 essen tim Lnnersa.em expand, onde gates se afasan ta dar outa com veloc propa nats sua distinc. Quanto mais Tonge a elvn, ator asia velocidde de veces te 1924, nao se sabio ao cero seo Fa Lea era. inca gata ou se autres nebuloss isiels am tlecipios imino era. Hoje saben que o Vee Licte ¢ apenas una ete conten ‘de bites de gldvias, cada ne com centonan de bites de exveln € estemamente if! ‘oncebernas a grandinidade do Universo apart de mss limited percep tere At rastamene ease 0 objetivo da axtrononta& a covmaogii” Ct GLEISER. Marco, Micro Macro: Reticxdes Sobre o Homem, Tempo co Espago, p27 (CEBERGER, Ptr Ls LUCKMANN, Thomss. Modernidade, lurasmo ¢ Crise de Sent | ovens do homem modem, Traduo de Edgar Orth, PoiSpai: Worcs, 2008, p13 —————— Er TE ww Sergi Alves Gomes Viver e conviver resummem a gama de experiéncias que compoem 0 existir de todo individuo. E no viver e no conviver que este adquire capaci dade de compreensio da realidade, vendo-a em suas miltiplas manifestagies. Isso ocorre porque somente ao tomar parte nas relagdes sociais pode sociali- zar-se. Neste processo de socializago, assimila, produz e comuttica sevtides. Com o evoluir da técnica e das cigncias da natureza, parece ter surgido, na cultura da sociedade consumista, o esquecimento da inquietagio capaz de gerar sentido condutor a lugares menos banais do que aqueles desti- nados ao mero consumo de coisas. Teriam sido as aspiragdes mais profundas do ser humano abafa- das por uma espécie de distragiio com os afazeres imediatos do cotidiano, de sorte a nao se perquirir mais sobre fiundamentos e fins capazes de orien- far a agio humana? I facimente pereeptivel como o interesse por tais temas tende a ceder higar as preocupagdes pragmiticas alusivas aos meios cientificos tecnoléaicos para fazer fimcionar com maior perfeigio as maquinas inventa- das pelo homem. E este, encantado com a maravilha tcenol6gica, se afeigoa tanto & produgdo e a preciso matemtica desta que passa também a agis, a tratar o outro © aceita set tatado como se fosse uma dessas maquinas. Aulo- matizase. Desenvolve o interesse apenas em busca do imediato, do hic et ‘unc, do sucesso tclevisive. Para isso, privilegia o fer em dettimento do ser. Aspira @ acumulagdo ilimitada de bens materiais, na ilusto de que estes, por si s6s, sejam capazes de preencher 0 vasio™ que a auséncia de sentido Ihe traz. Alia-se a outros sujeitos que vivenciam semelhante expe- rigneia de vida e, juntos, mas eada um pensando apenas em seu bem-estar individual, fundam empresas, sociedades, orientadas apenas pelo e para 0 Erich From, ao wala da teen sob fre sr, expla: "I. Por ser ow tr dome refi ‘crim quoldederdstinton de wm sje em decloragDes como’ ev tone om ear 30 ‘rancor ‘ew su fel Refierme odes mados finders de estonia das ciferentes, spies de onenago para com ee mundo, tds efron exacts ce extra dee ‘ver evjas vespectvas predamindncia determina sada co pensar, seme ag de tna pessoa 2 No modo tor de estén, mou relctonamento com 2 mands de pertena & ous em gue quero que nud & toda inclusive en mesmo, jam minha propriedade. 3° No Im ser de easel devas recombecer das forman de ser Cina etd om contrast com ter-{.]e signe relidade erelacionament euteaico como munis. 4 oube forma de ii ontaste com aparecer ese refered verdaeira nature, verdes rade, de {ens pesoa on coven. em conte com aparcnctas fasorin FROMM, Crh. Ter Ow Ser? £1"GaTradio de Nathanael C- Case. Rio do anc Zar, 1980.3. (0 fsielogs nortc-amercayo Rollo May indage “Qual origen picolgic dessa experienc Le vacio? d semaqd de sew que vere o9 nivel ecole ddl nf de fom tia ro senda de gue as pesvoasdo wast, despovidas de potncaldade emocional. Unt er Iason nto ca man sent esti, como a foe wna boeia prada de mova carga 4 Snaro de vac povém, em grado tia de megpacidade po fer ago de ec fe ‘beta a propria ve ed mundo em gre vena. O racuo interior éo resultado acunolady, Tong prac, da convo peso de ser incapae dea como um end, dria propria vie modifica cade dx ese oot old at ames on exercer inflcnca sobre ‘mando que as vodeia" C1 MAY, Rolo, O Momiem & Procura de i Meso. 5c. TeadscS0 SE Aur Brito Wossenborg Petropolis Ves, 976. Hermenéutica Consitucinat 8s Iucro financeito, o qual é deificado por forga da expectativa de com ele se preencher a sede de felicidade. Mas esta parece crescer ainda mais. na medi- dda em que © acumular de coisas também aumenta indefinidamente, como também se multiplicam os compromissos didrios da agenda de quem ‘em fungao da compra e venda de coisas. FE verdade que tais preocupagdes podem afastar até a sensagio do inarredvel fluir dos dias. Na sociedade consumista, onde a velocidade da prodlugdo € do consumo é 0 que importa, esquece-se do passar do tempo. Muitos vivem como se fossem imortais ¢ estivessem muito acima da fini de humana. A arroganeia com que atuam evidencia neles a auséneia de um sentido maior para seu “way of life”. No entanto, paradoxalmente, neste modo de viver, parece no haver tempo para mais nada. Para ninguém. Nem para si mesmo. Nao ha tempo para conversar, ouvir, dialogar, apreciar a natureza, cultivar amizades, expressar afetos. Resume-se a vida a uma quadra de competigao, na qual o esporte que a todos convoca é a “hita pela sobrevivéncia”, Nao se luta para viver, menos ainda para viver bem, mas para sobreviver. Os encontros amistosos so substituidos pelos contatos da concorréncia e da disputa, embora sempre disfargados com a aparéncia da cordialidade. Nesta disputa, em geral, aponta-se com freqiiéncia “o vence- dor” (“the winner”) ou os poucos vencedores. Os demais, a maioria, com poem a esfera dos perdedores, isto é, dos exeluidas. Isso evidencia alguns tragos do homem e da sociedade contemporanea, isto é, de milhSes de sees humanos no contexto de um mundo carente ainda de um sentido capaz de congregar toda a humanidade num convivio mais coerente com aquilo que © homem é ¢ do que ele & capaz de ser em favor de si mesmo e de todos os demais viventes que com ele compartilham a vida no Planeta. A tal respeito observa Ricardo Timm de Souza: Assim, 0 individvo, assoberbado pelas tarefas do dia-a-dia e esmagado pela competicao, dificiimente consegue mobilizar as energias necessarfas ‘para questionar a fudo 0 sentido de sua proprio exisiéncia ¢ 0s rumos {ue ela toma. Ocorre um excesso de fatores que tendem a consirange-lo tno sentido do que femos chamadlo “automatism” da vida. Tende a per- ceber-se como envolvido pela engrenagem de uma imensa miguine pro tdutora de coisas, da qual ndo comhece nem @ Inicio nem 0 fim, como 0 Charles Chaplin do filme Tempos Modernos'* E assim, no meio de tantas coisas, © préprio ser humane tam- bem € coisifieado. Se isso ocorreu com 0 homem da revolugio industrial, lembrado nna obra de Chaplin, nao sera diferente com o da era da cibernética. A che- gada do computador, da internet e dos demais meios de comunicagao de massa acelera ainda mais 0 ritmo frenético das atividades inerentes a um sistema que estimula cada vez mais a produgao de mereadorias e o consu- "SOUZA. Ricardo Timm. Sobre A Constructo do Sento: O Pensre © Agie Ente a Vida ca Filosofia Sao Paulo: Porspeetiva, 2003p. 3 —eee—————————————————— 86 Sergio Aves Gomes mismo. Neste ambiente, até os seres humanos ~ em razao da presenga ou auséncia ticles de certas habilidades técnicas para produzit mercadorias ou setvigos ~ so vistos como produtos em oferta para o consumo. De tal sorte que, quando as pessoas nio atendem as exigéncias do mercado ~ personi cado como se fosse um ser vivo capaz de reagdes como as de “nervosis- mo”, “calma” mas sempre com a fome insacidvel de lucto ~ so por este descartadas, excluidas de seu Ambito para integrarem a massa dos milhdes de desempregados. O mercado as rejeita por nio produzirem os resultados de cunto lucrative por ele almejado, capazes de, pelo menos por instantes, satisfazer seus caprichos cada vez mais sofisticados. Mas ele no se movi- ‘menta sozinho. E impulsionado por individuos orientados por uma concep- 10 mercantilista e monetarista da vida, segundo a qual o que importa é lucrar, consumir e fazer consumir, A salvagio da vida de cada um esti, segundo esta ideologia, no fato de Yer e conswmir, conforme acentua Erich Fromm, ao refletir sobre a sociedade consumista aidads ambiguo atvachtedae, pogo ges tem he pode ino anterior logo perde « sua caracterstica de satsfacer. Os const inidores modernos poceyy ideniicar-se pola rma: eu sou =o que ‘eno 0 que consumo" Tais individuos fecham-se em grupos, em grandes organizagdes transnacionais que nao se importam com a vida daqueles que no pertencem ao seu hermético cireulo, salvo na medida em que possam lhes propiciar rendimentos. Desligam-se psicologicamente de qualquer incomodidade que © sofrimento alheio possa thes trazer. Colocam-se num patamar imaginério superior ao comum dos mortais, alimentam 2 competi¢go econdmica como ideal de vida e de felicidade eterna para si, esquecendo-se da fragilidade inerente d existéncia de todo ser humano, a cuja espévie também eles perten ccem, Esquecem a condigo humana que parece no os afetar. Em sintese perdem sua propria humanidade. Ao construirem para si, de forma obtusa ¢ goistica, um pobre sentido para o viver, os agentes da ideologia neoliberal ~ que mal toleram a presenga de um Estado minimo, nfo interventor, sempre disponivel a usar da forea em defesa de seus individuais interesses ~ acabam pot empobrecer 0 sentido da vida de tantos outros seres humanos; impedem a Inuitas pessoas 0 acesso a condigdes de possibilidade para um viver com dignidade, na medida em que promovem a pobreza, a exclusdo social ¢ a mniséria destas. E as custas desta miséria erigem seus impérios: um império govermido pelo poder do dinheiro e orientado pela logica do fer. Ainda que este tet se dé ds cusias do ser, isto, por conta do softimento de milhoes de setes humanos cada vez mais marginalizados da evoluglo social nos, paises ditos “peritéticos”, subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, Sem falar dos bolsdes de pobrezas também presentes naqueles mesmos paises que se dizem FROMM, Erich Ter ow Ser, p85. __Hermenéutca Constiuconal ar ricos ¢ desenvolvidos, como ocorte inclusive nos Estados Unidos da Améri a maior poténcia econdmica e hegemdnica do mundo, A todas estas mazelas se opde a idéia de democracia de que se tan- {ga mo nesta reflexdo. Idgia que contém uma base de sustentagiio identifi da no principio da dignidade humana, assumido como um elemento univer sal a ser reconhecido em todo individuo humano, independente de qualquer qualificativo cultural ou antropolégico que se the feconhega, tais como, sexo, raga, cor, procedéncia, credo, idade, condigao socioecondmica.... Reconhecer a dignidade em toda pessoa apresenta-se como um avango espiritual da hu- manidade. Tal reconhecimento nao se di por acaso e nem tem sido levado a sério por todos os governos, nem mesmo por muitos daqueles que jé contam, ‘com constituigdes clemocriticas a positivar tal principio. De qualquer modo, espalham-se cada vez mais pelos cinco conti- hentes os anseios ¢ as vozes daqueles que clamam pelo respeito a pessoa hhumana, independentemente da capacidade desta atender, ou niio, aos inte- resses mercantis do Nove Leviatd que a tudo pretende cobrir com seus tenticulos: © mercado, regido pelo pensamento tinico do lucro financeito aliado a governos autoritérios disfargados de democratas. Construir espagos adequados ao senso da dignidade humana significa abrit clareiras de espe- rangas ¢ de possibilidades de vida digna e realizadora em favor de toda pessoa. Somente no espago democrético é que cada individuo tem oportuni- dade de desenvolver-se plenamente como ser humano, Sé ai é que ele pode tomar-se sujeito autnomo ao invés de ser usado como coisa descartivel, cujo valor € relativizado pelos eritérios do luero econémico, © espago demoeritico ¢ plenamente compativel com 0 modo de ser do homem e por isso Ihe & indispensivel. E, gragas as tantas caracte- risticas deste, tomna-se perceptivel que ele & um ser ja constituido, mas ‘iio ainda pronto, perfeito. Muito tem a fazer por sie pelo mundo em que se insere. Por isso ~ € em razo de sua capacidade interpretativa, isto é, de compreensao da realidade que faz dele um ser hermenéusico - 0 ho- ‘mem € também apto a constituir novos modos de viver ¢ novos sentidos para sua existéncia, a qual se di, consoante ji afirmado, sempre em coe- xisténcia, ou seja, na companhia dos outros seres humands. 24.41 0 Ser humano como ser constituido e constituinte (inclusive de sentido) A partir da aparentemente simples jungo biolégica do espermato- zéide com 0 dvulo inicia-se a aventura humana em busca de uma existéncia plena. O ser que apenas tem iniciada sua trajetoria jé se apresenta como uma tealidade em continuo desenvolvimento, dependente de um conjunto de fatores {que se concorrentes, possibilitardo seu nascimento com vida e crescimento no novo ambiente em que se vé eolocado, a0 nascer. (rer 8 Sergio Alves Gomes Ao nascer, o reeém-nascido humano é alguém que evidencia sua lidade e suas possibilidades, suas earéneias e seus anseios, earéncias n atendidas pela natureza e pelo ambiente social em que Se encon- tra, Trat-se de individuo que, pelas caractrisicas a ele merentes, necessita de elementos fundamentais & sua sobrevivéncia: oxigénio para respirar, figua para matar-Ihe a sede, alimentos adequados & manutengao saudavel de sett organismo bioldgico, abrigo para morar e roupas que o protejam contra as intempéries da natureza, tals como, fio ou calor excessivos em relagdo a temperatura suportivel pelo corpo humano. Ademais, estari sempre exposto ao risco de contrair alguma doenga oriunda dos mais variados organisms ~ virus, bactérias.. ~ presentes no complexo ecossiste- tha que serve de habirar a0 ser hhumano. Dat a necessidade de cuidados continuos com a said. E esta, nio se reduz ao aspecto meramente fisico A dimeasio fisica & apenas uma das tantas outras presentes no ser h to que clamam por atengao, por providéncias a serem tomadas no sentido de possibilitar o desenvolvimento multidimensional deste ser- Consoante conceito da OMS ~ Organizagéo Mundial da Satide ~ “a sauide é um esta do de completo bem-estafisico, mental e social, ¢ nao meramente a ausén- cia de doencas ou enfermidades"™*. Deste conceito, importa aqui desta- car a indicagio que faz sobre a nao-dissociagio entie 0s aspectos fisico, imental e social do ser humano, com 0 que reforga a idéia da unidade do individuo como centro congregador de varias dimensdes complementares entre si, de modo a comporem um fodo. E um,todo dentro de outro todo maior: © universo em que se encontra inserido Estudos de Antropologia Filosofica'®, consoante ja referidos, apontam para vérias earacteisticas que distinguem © homem de outros ani- mais, Entre aquelas, figura a razdo que Ihe possibilita a reflexto, ou seja, 0 voltar-se sobre scu proprio ser a fim de observar 0 que ele "ja é” & a projetar © que ainda “pode vir a ser A ra2i0o, aliada aos sentimentos, produz no homem 0 anseio de compreensdo de sie do mundo no qual se encontra inserido, Nasce nele, por isso, uma espécie de fome de interpretagdo da realidade em que con- fra © pnd CAPRA, Frijot. O Ponto de Mutagio. 14, od. Tradugto de Alvaro Cabral. S20 Paulo: Cut, 1995p. 117, Pare cy “embora 0 defini da OMS sof algo ireulista pols escreve'a vou como um esto estrco de perio Bemesto, sor se dunt pro fesso cm constonte mucinga © evaogio ~ eta Peete, nfo abstone, a natureza hola dd sade, que ter de ser npreen Se qusermos entero fonimen da curd”. CAPRA, Frid © Ponto de Mutagao, 117 Mara Cina Morass dota que" nosso mano, como a sista comples, constinido ‘de itlideespovten que se desdabrom, a explctton e Inegr tn fat dinco de eer nisl Un tealdade & parted una oir ttle ean Indefnidamente. (Un ‘tomo € uma totale qe & parece wa molcol, qe parte de ur edly ge sind tm cide este consi wn ninco, wn indo sss por dante” CL. MORABS, Maria Cnuids. Pensamento Econsistemica: Cducagio. sprendiaagen © edadania no culo XX Pottpais: Vanes, 2001.9. 62-63, GLIVEIRA, Ademardo Serafin de. Antop Filesotcn, 830 Paulo: Loyola, 1998.) 124127 __Hormansutiea Constiucional 20 siste ele proprio e 0 mundo no qual existe e coexiste, vealidade esta sujeita também a transformagdes oriundas da natureza e das maos do préprio ho- mem. Quando o homem refleie, pereebe sua finitude. E esta, pode levé-lo ao desespero, ao “nao-sentido” da vida ~ se inteypreta-la como um camiaho para o nada ~ ou trazer-the um profundo desejo de auto-superagio, de se ‘por & morte como fim de tudo. Neste caso, 0 senso de ser fnito coloca-o diante da procura e do apoio em algo que seja infinito. enquanto seu inaca- bamento 0 convida a um constante fazer-se, isto é, a uin continuo preen chimento dos vazios sempre existentes nos espagos das possibilidades da quilo que ainda nao se coneretizou nele e em seu entarno. Este vazio pode ser tomado como mola propulsora para a permanente construgao de si e do ‘mundo, Mas neste, em que pese a solidio interior que pode Vivenciar, no estd $6. E ser projetado para a convivéncia. B somente nesta consegue desenvolver a percepgao de si mesmo e dos demais sujeitos cuja ex the possibilita identificar-se como um “eu” e a ver no outro um “tu, O ‘outro” sera sempre necessério para que exista 0 “eu”. Todo “eu” & profun- damente dependente do exist do outro. Isso implica a interdependéncia de todos os seres humanos e a necessidade de convivéncia, E por isso que faz sentido identificar o viver humano como simultaneo comviver. S8 no con texto deste surge a possibilidade de um “nos” ‘A convivéncia revela uma rede complexg de relagdes humanas. por meio destas que nascem as interagdes sociais!™. Tanto as que conduzem a entendimento, por meio da cooperagdo, quanto as que resuliam em com- peticao ¢ conflitos. E na convivéncia, pacifiea ou beligerante, qué o homem onsir6i ou destrdia si ea seu entomo, Tudo depende do elemento prevale- cente a animar as relagdes: a solidariedade ou o egoismo. Trata-se de enxer- gar ou ignorar 0 outro, de levi-lo em consideragao mediante um relaciona- mento respeitoso que também mereca respeito ou desconsideri-o a tal ponto, como se fosse invisivel; ou vé-lo € encontri-lo apenas para utilizar-se dele como meio a servigo dos fins egoisticos daquele que o instrumentaliza Entre 0s varios significados do verbo consttuir!™ estao: sera base, ‘parte essencial de, formar, compor, organizar, estabelecer, consistir em, set Assim — tendo-se como ponto de partida o sentido semntico do re~ ferido verbo —afirmar que o homem € um ser constituido equivale a conside- ri-lo como base, fundamento, parte essencial de algo. Implica, também, vé- lo como um ser formado, composto, organizado, estabelecido, A patti deste olhar, levando-se em conta a natural tendéncia do hhomem para viver em sociedad, originaria de seu proprio modo de ser, pet~ ccebe-se de imediato ser ele quem — reunindo-se com outros homens ~ cons [As fvnas bisias do interaeao “oar procensos seins coopera, confessed, onputicao acomadacdo". CE_ MACHADO NETO, A. L MACHADO NETO, Zahid Soctologia Basie > ed Sto Paul: Sari, 1973p. 06 CCE FERREIRA, Auélio Buacquc de Holanda. Nove Diiondrio da Lingua Portuguesa, Rio 0 Sorgio Alves Gomes ‘iui, fanda a sociedade, como locus adequado ao atendimento de suas ne- cessidades basicas e a0 desenvolvimento de suas potencialidades. Constituir a sociedade significa erigir nela uma forma de vida or- denada segundo principios ¢ regras assumidos como fundamentais, isto é, como esteios, sustenticulos, pilares que assegurem a vigéncia © o funciona. mento do convivio social. As soviedades que optam pela Democracia elegem © Estado como instituigio ordenadora da vida social, por meio da Politica e do Direito, Nao se trata, porém, de um Estado com caracteristicas indefini- das, mas sim, de um paradigm estatal instituido com base nos valores rept tados fimdamentais & convivéncia ordenada e justa, tais como: liberdade dignidade da pessoa humana, igualdade de oportunidades, acesso a bens tnateriais indispensdiveis ao desenvolvimento de toda pessoa, acesso a juizo imparcial para solucionar eventuais controvérsias... E com caracteristicas desta natureza que o referido modelo estatal configura 0 que vira a ser deno- minado Estado Democrético de Direito. Revela-se assim a dimensao constinuinte presente no ser humano. ‘Ao constituir a sociedade com suas tantas instituigdes, os seres humanos projetam nela o que trazem em sua natureza e cultura. Fazem- na 4 sua propria imagem: plena de paradoxos. Nela convivem 0 medo que se tem do outro com a boa-/é a permear a maioria das relagées humanas; cheia de riscos ¢ violéncia, mas também dotada de possibilidades para 0 entendimento. £ uma sociedade na qual a afetividade gera lagos de amor, enquanto 0 ddio explode matando inocentes; nela convivem recantos de paz € de prece nio distantes dos campos de guerra ¢ do irracional fan: tismno que espalha o terror. Mas o que € ser formado, compost, organizado, estabelecido? Formado é 0 que se esitura segundo alguna forma. Segundo Abbagnano, no sentido atsttlico, forma consstena esséncia necessrta ou substincia das coisas que tém maton” e, para Kant, "a materia do com ceito é 0 objeto; a forma dele é a universalidade™"' Disso decorre que 0 ser humano tem uma forma universal que 0 distingue em sua esséncia, dos demais seres e objetos que povoam 0 espago. Perceber © homem como um ser composto é notar, em sua estrutura, tim conjunto de componentes integrados de modo a compor um sistema cuja complexidade tem sido, ao longo da historia, objeto de estudo pelas mais variadas perspectivas cientificas e filosdficas. Ser composto significa set pluraf, dotado de miitiplas partes, variadas dimensdes. Ser organizado quer dizer ser constituido por meio de ordem, isto é, harmonia entre as partes e fungdes de modo a poder configurar a unicade a ser reconhecida uriversal- mente como ser humano. Dizer que 0 homem é um ser estabelecido,signifi- «a considerilo um sujeito simado em relagio ao expago a0 tempo. Esta CF ABBAGNANO, Nicola ptsedey sofla.2. ed, Sto Paulo: Mestre Jou, 1982, Hermenéutica Constiuciona ot locatizagao possibilita individualizar e valorizar cada pessoa como um ser hhumano tinico, localizado em um ponto especifico do universo, em um pla- neta, em determinado continente, em certa regido, em um dado pais. Sentir- se titico sem a pretensao de ser “o nico” significa ver teconhecide o valor de si mesmo no espago social co-habitado por milhdes de humanos também dotados de semethantes qualidades, acompanhadas, porém, da diferenga que caracteriza a individualidade de cada um deles. Infere-se do que ja se disse que o ser humano no é apenas um or- ganismo dotado de forma e substincia especificas, situado em determinado Ihgar e tempo. A riqueza de sua complesicade dificulta qualquer tentativa de defini-lo de uma vez por todas, Os seres humanos, consoante se percebe a partir das caraeteristicas de que sto dotados, apresentam um conjunto de necessidades a serem atendi- ddas no meio social, a fim de se desenvolverem como pessoas, Dai a necessida- de da construgio de um ambiente adequado ao evoluir humano. Nasee assim fa grave questio: qual modelo de sociedade pode corresponder ao suprimento de tais caréncias? Quais necessidades bisicas ho de ser supetadas a fim de gue 0 homem possa reconhecer-se como tal e adotar alitude capaz de gerar hharmonia em relagdo a si mesmo e a todo o existente (sociedade, cultura, natureza, universo, Deus..)? ‘Toma-se evidente que uma sociedade adequada a0 convivio huma- ‘no no pode ignorar o fato de as exigéncias bisicas para essa convivéncia pacifica decorterem daquelas presentes na propria natureza humana. Por $80, niio hi como ignora-la impunemente. Constituir uma sociedade que, em sua esséneia e em seu modo de ser e de agir, menospreze as necessidades fundamentais inerentes ao ser humano significa instituir um ambiente hostil fs possibilidades da paz, da solidariedade e da justiga entre os homens. Em tal ambiente, o discurso que mencione tais valores nao passa de retorica va- zia, mascarada, despida de qualquer intengdo efetivamente democritica. Pelo contrario, soa como pura demagogia © oposto desta farsa 56 é possivel mediante a constituigdo de uma so- ciedade que compreenda ¢ adote a Democracia com toda a carga axioldgica ‘embutida na substincia desta, F i860 exige 0 empenho de ts “os homens de boa vontade” a que faz referéncia a mensagem evangélica’’-, sem preconceitos {de origem, credo, raga, sexo, cor ou qualquer diseriminagdo capaz de colocar uns contra os outros. Vé-se ai o preniincio da recomendaga0 que vitd mais tarde como lei maior do pensamento cristio, para reger a convivéncia humana 0 amor a proximo'”. Este, em linguagem do Direito Constitucional, ayasalha-se nas (0 cvangslisa Laci, ao naar o annco do nascimeato de Crist. fio por um ajo acs paso feeds len die gue "sutdamenteyporecen como ano ms mlday ua ct eles tamu @ Den edsendo: “Glan a Deus meadow cu. ep na tera ons hanes, de Do somade"CT Biblia Sagrada, Lucas 2 3-14 “Doucet nov enacts Qe eels es a oes, gue Ns com eu Ys ae twsamets tambon i aot as om 080, 13,34 expressdes que se referem a uma sociedade fiaterma, line, justa ¢ solidiria, Presidida pela defesa da paz e cooperagdo entre os povs, tendo em vista © pro- sesso da umanidade'™ e nto de apenas alguns de seus homens € paises. Tamn- bbém para Kant. ¢ a “bos vontade” que adota por lei universal 0 principio do imperative eategérico: “age sempre segundo aquela maxima cuja universalidade ‘coma lei possas querer ao mesmo tempo" Por tratar-se 0 homem de um ser de possibilidades, & razoivel acreditar na possibilidade de construeao de um ambiente mais adequado sobievivéncia da humanidade. Porém, sobreviver apenas no realiza os mais recdnditos anseios humanos, E preciso ir além, Sobreviver & necessério ¢ possivel, Mas nio ha certeza de tal sobrevivéncia, Ha graves atos conti- nuios de destruigio do planeta. Sao frutos da gandncia, do abuso e da vontade de poder, da miséria gerada pelo préprio. modo desumano do conviver humano.'O estorgo de salvagdo da humanidade da autodestrui- go serd mais bem orientado se forem adotadas, como Leitmori. a coneretas que fomentem a esperanga e explicitem as recompensas de una convivencia amorosa. Mas, para se chegar a esta, é preciso sair em busca do sentido da propria existéncia. Somente a partir dai, ¢ por meio desta procura, seré possivel constituir © ambiente humano capaz de gerar o encontro de sentidos, fruto da “fusdo de horizontes", conforme expressto criada por Gadamer, a ser reloinada adiante, da qual possa nascer algum sentido que faca sentido a todos os seres humanos Fedenl Brasileira vigente, ' wena " facta npr ee Ci KAN ea in ie dC Fo Pann oR Capitulo 3 A HERMENEUTICA JURIDICA E A BUSCA DE SENTIDO PARA O DIREITO 3.4 AQUESTAO DO SENTIDO PARA A EXISTENCIA HUMANA, (0 DIREITO E A CONSTITUIGAO Viver é um constante buscar de sentido para a existéncia’®, um ininterrupto interpretar. Interpretar consiste na atgibuigao de significado a le percebida dentro e fora do ser humano. E buscar sentidos jé cons- ‘compreendé-los € construir novos sentides adequados a0 tempo ¢ lugar em que se interpreta. O eseritor e psiquiatra Viktor E. Frankl A busca do individuo por um sentido & a morivagdo primdria em sua vida, @ nao uma “racionalizagao secundivia” de impulsos instinivos. Esse Sentido &exelusivo e especifico, una vez que precisa e pode ser cumprico Somente por aquela determineade pessoa. Somnenteentdo esse senda assume tomar importancia que satisfaré a sua prdpria vomtade de sensido\ rma que Foi a preocupaedo om o scnido de existécia amas que vou Viktor E. Frankl x eiar a Andis Exists ou Logotrapa. A ase resp, Aicd Lane, medic, pseolog clo ‘Brapoua, ebsrvaguc"wier-com semi signfic deacobrs © melhor aor passive deo de tim stooge reokila Noose ace quaue voor excl a aes, mas aga testa, € considera, pelo meu concincntoe mina consents como sendo 0 me Thor olor 0 senate & ent sempre ogalo gue expaceomentedeeriamos fase ager: fo] Ver um semido signa compreender tm oalidade™ Aint, acrescet: "O sentido € urate vido prio deerme geri de temp, Sogindo exe cas, percorese« pst vatvedo “am voor pele qual vie a pena vier arsumeste odes wt vsco emis i mes forma que toda Vigem eprexotasrpresis © piace lemporiay, ta ecrre Come sentios CLLANGLEcAliied, iver com Senldo: saslse exsoncial aplicade Petrolia: Ves, 1992. p. 39642 CE FRANKL, Vicior . Em Busca de Sendo: Um psisloge no campo de conc SL Trade’ de Waller ©. Schlopp © Carla C. Aveline: Sto Leopoldo/Propotis: Sino ‘Eisvorcs, 2002 . 92. Novia mesma obra (92-93), 0 blr fiz referencia w dts pesquisa {gue velga nese do ser human cont com azo para “iver com senido™ Diz cle talou-se ma Fraga i yu de opiniso public, Os resuades mora que 89% dey pessoy combs iv ge @idivio procia deelgo em fngdo do siviver £ 6196 adirom have age cu alga em suas pris i elo gual etait CONSELHO EDITORIAL: Dioto Processual Cit Dito do Consumidor Francisco Carlos Duarte Anionio Carlos Efing PéeDavtrem Besta Professor da PUCPR Douter om Dir = Protessc da PUCPR, Helena de Toledo Coothe Goncalves Dvato Punale racessuai Po Lssira‘cm Drei Ecoramsco ¢Sosaipsia Neti Cordeiro PUCPRDauloranda om Diets Precessual Doutor em Dito - Professor da PUCPR, Culpa PUCSPProteasora ce Draio Pro: eda Uniorsidade Tush ‘pest Givi na PUCPR iro Cia ‘Bret Processual Trout Rainer Czajkowski James marine Mestre em Broo Professor d2 FOG - Die Plstbauorem Dislo-Professorda PUCPR tor Academica das Facuisades Inlagradas Fosotia do Dirt Canta ‘Jose Renato Gaziero Colla Carlyie Popp DDouterando em Brae pela UFSC-Pro- _Doular em Drelo- Professor da FOC © fessor da BUCPR Pucer Bireto Tnbutsno: Paulo Nalin Roberto Catalano Botelho Ferraz autor em Dita - Professor da UFPR Doutorem OvetProtersorda PUCPR ——Dirato ao Traao José Augusto Delgado Roland Hasson Mrisvo dots ‘Doulor em Bieta Professee da PUCPR Dirt interaciona: Brot Ambion 0 Agra Joao Bosco Lee ‘Ana Paula Gularte Liberato Doster om Draits Prolessorda PUCPR _Dautoranda em Eaucapdo pela Universidad Eduardo Blaceht Gomes tela Emprosa -Protessora da PUCPR o da (Dovlorem Drets-Protssorda PUCPR —_ESMAFE Escola da Magistratura Fodor, Elizabeth Aecioly oto Consitucionat Doutora em Orie incmnacona pela use, Claudia Maria Barbosa Professora Vielania do Curso de'Poe-Gra: Doutoraem Det - Profcsora da Graduacio, ‘iuagao amEstudos Euopeus da Fenidade Mostrado « Dostorada da PUCPR {4a roto da Universitat de Lisboa Melissa Folmann Bite Comerciat Nesta em Dato Professore da Graduarao @ Marcos Wachowicz tis Pos Gradvagao da PUCPR -Profssora a Doulor em Dieta Professor das Facuda- Poe-Graduapio de aversasinstulgoes de Er ses ntegracas Curtiba Sno Super = resionla do Insuo Brasieeo ISBN: 978-85-362-1963-9 . ‘Ay, Muniz da Rocha, 143 - Juvevé - Fone: (41) 3352-3900 SI//fUff) itt Mt ‘naa otorajuee com be market come Gomes, Sei io Alves. 6633 Hermenéutica constitucional: um contribu & consti- tuigao do Estado Democratico de Direto/ Sergio Alves Gomes./ Curitiba: furus, 2008 3960. |. Hermengutica (Direito). 2, Dieito constitucional 1. Titulo 1465 cb 42.1022.ed) vibs Du 347 Visite nossos sites na inlemet: www jurua.com-br wweditoriajurua.com Celito De Professor io Alves Gomes ‘Dour em Dieito:Flosofa do Dito edo Estado, pela Ponca Universidade Catlca de ‘So Paul, Mesire em Dirt © Pés gradvado em Filosofia Polica pela Universidade Esladsal > Londtna; Ji de Dirito(aposeniao); Professor de Flsata do Dl ede Teor Geral do Dreiono curso de Mestrado om Dirt, da Unversidade Estadual de Londina; Professor Adunto na Universidade Estadual de Londina (Departamento de Diet Pico), cos cursos Jrscos de Graduagaoe Especiizacdo; Professor na Ponicia Universidade Catdica do Parana mpus Lona), no curso de Especiakzagao em Drello Consltuconal) HERMENEUTICA CONSTITUCIONAL UM CONTRIBUTO A CONSTRUCAO DO ESTADO DEMOCRATICO DE DIREITO Curitiba Jurua Editora 2008

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