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SUIEITOE HISTORIA tor de colegio: Joel rman ‘Acolego Sujeitoe Hisératem carder intrdsciplinar. As obras nea inculdas ‘stabelecem um didlogo vivo entre a pscanilise eas demais cigncas humanas, buscando compreenderosueito nas suas dimensSes histrica, politica e soca. Titulos jd publicados: Acrueldad melancdlica, Jacques Hassoun (2002) 4 prea oo fominino, Regina Nevi 2005) ‘Aco rag, Jean Strobl (2002) “Argios do mal.estare da esistnca, Jol Birman 2006) Careto-postal: de teats Freud eam, Jacques Dera (2007) Gramiticas do erotigm, Joe Birman (2002) {Lacan com Denia, René Majo 2002) Mabestarna atwaidde, Joel Ban (2007) Metamoross entre o seal eo socal Carlos August Peixoto Junior (1999) (© corpo da dbo entre «crt cadena, Silvia Alexis Nunes (2000) (das rio, Michel Tore (2001) (thar do poder Maria abel Szpacenkopf 2003) O prazer¢0 mal, Gina Sis (1999) Ouaar is Daniel Kupermann (2003) Problema de géneo, jit Bale (2003) aon eguivocad,Eisabeh Bainter (2008) Judith Butler Problemas de género Feminismo e subversao da identidade TRavugto oe Renata Aguiar 2edigao cIVILIZAGAO BRASILEERA io ddan 2008 SNM © Roaae, Champman fe Hal a, 1980 Eizo om ler porn publnds mda scrdo com Roa, Ine. ‘iro onsna mate: Gender Tonle = Fominion ond the Sverson of Mdetty Eels Gramsch oso cece, velo Grace Jo de Sous Lite Perio ceonsansueio owe ‘there = Sa AC! AGINOQ, tec el Bie: 8nU5A900 sis, crsorchonsenre Re a aon Mean i Pages lgeicag ma ‘werscawonis shat nds tie Pc eee cn am ‘Todos os dios scrote «repro emmenemento o8 testo de pares dove io stance quae ion tee te sorzagto por eto Dios dots sic adios pele EDITORA CWISIZAGRO ARAGIEEIRA Un ode EDITORA RECORD LTDA. ‘Roa Anping 171 Ra dene, RY —20921-380 Tal ay asks2o00 PEDIDOS PELO REEMOLSO POSTAL, hia onal 23.052 Ri Jt, RJ 20522 970 Inpro Bra athe Sumério srhco 7 ‘asiwor Sujeitos do sexo/géneroldesejo 15 ‘uetes*coo Suro zo ess 17 2 AonoEM coveuiséuece sectNeNODESEO 24 2: vena: As Ws CLARE Do DNA COMTEMPONANEO. 26 4 Tonzaroo omit, ouMTANOEALE 33 S nMOAGE SO EAMERLINCADASUESTINGA 37 6 unataceh room tsmucécasoenesccaneno 49 cove? Proibigio, psicandlise e a produgéo da matri heteressexval 1. APERIUTA CTA DO KSIRTURAIIO 6B 2.UEAL MERE EAS ESTEGAS AMASCNADR 74 SMEVOEAMEAMCCUADO HERO 91 ‘Acoumietosoeo0 ctu cosunmmesomoeNecaGiO 102 Ss rEFoMANACO AFRaMKAD eM FOGER 109 veo ‘Atos corporais subversives 119 S.AcoHMOFOUNEADEAANETEVA 121 2. TOUCAI HEU EA FOIA DASCONTHUIDSDESEUAL 140 2 wowque winG:oesnaecrao cotonaL Sec 162 Amsco comonas, smuESoEsFFORMATIAS 185 o ewirwor — Sujeitos do sexo/género/desejo ‘Agente no nasce mlb, torn thes Simone de Bassvoie uritmente flan, nto se pode ier que exitan “nlbers” — Julia Krera Mather note sex, — lace liga A manfetasio da seculdad... etbelecen es nog de sx. Miche Foust categoria do sexo €a categoria plaque funda a sociedad heterosexual Monique Wits 1. "MULHERES” CoMmo SUHEITO BO FEMANISIO Em sua esncia, a teoria fesinisa rem presumido que existe uma iden tidade definida, compreendida pela categoria de mulheres, que no s6 deflaga os interesies e objetivs feminisas no interior de se pr6prio. dliscurso, mas constitui 9 sujeto mesmo em nome de quem a repre- sentagdo politica almojada. Mas politica e representa so termos polémicos. Forum lado, arepesontago serve como term operncional ro seo de um process politico que busta estendr visbilidade elgiti- smidade is mulheres como sujeitos politicos; por outro lado, a reps sentagio ¢ 2 fungfo normativa de uma linguagem que revelaria ou toreria © que €tido como verdadeiro sobre a categoria das mulheres. Para a tosiafeminista, o desenvolvimento de uma linguagem capar de representélas completa onadequadamente pareceu necessirio, a fim de promoveravisibidade politica das mulheres. Iso parecia obviamente importante, considerando a condigio calturaldifusa na qual a vida das mulheres era mal epresenrada ou simplesmente no sepresentads Recentemente, ess concepeio dominante da relagio entre teoria feminsta e poltica passon a ser questionada a partie do interior do liscuso feminist O prépro sujeito das mulheresnio€ maiscompreen- sido em termos estveis ou permanentes. Esigificativa a quantidade de material ensastco que nio s6 questiona a viabilidade do “sujeito” ‘como candidato ihimo representaci, ou mesmo alberta, corto Indica que é muito pequena, afinal, a concordncia quanto ao que cont- titi, ou deveria consimir, a categoria das mulheres, Os dominios da “representagio” politica e lngdttica estabeleceram a prio citrio segundo o qual os propos sueitos so formados, com o resultado de a representacios6 se estender 20 que pode ser reconhecid com sujet, [Em outras palayras, as qualificagGes do ser sujetotém que secatendidas para que a epresentagio poss ser expand, Foucault observa que os sistemas juridicas de poder prodzem 0s sujeitos que subseqientemente pasam a representa! As nogbes jut cas de poder parecem regular a vida poltica em termos puramente ie {gativos — iso &, por meio de limitasio, probigio, egulamentacio, ‘controle e mesmo “protegio" dos individits elaionados aquela est ‘ura politica mediante uma agfo contingentee retratével de escolha Porém, em virtue dea elasestatem condicionados, os sueitosregulados Portas estruturas si formados, definidos ¢ reprodurides de acordo ‘com as exigéncis dlas. Se esta andlise€correts, a frmagtojuridica da Tinguagem da politica que representa as mulheres como "o sujeito” do Prontemas of céueno feminism em si mesma uma formacio disursvacefeto dewnva dada versio da politica representacional.E assim, osujeto feministaserevela, discursivamente constiuido — e pelo proprio sistema politico que i= postamente deveria facitar sua emancipasio, o que se rornata politi ‘amente problemtico, se fosse possivel demonstra que este sistema produza sueitos com tragos de género determinados em conformidade com um exo diferencial de dominagio, oa os produzapresumivelmente smaseulinos. Em tas casos, um apelo actitio ese sistema em nome da “mulheres” estaria inelutavelmentefadadoao fracas, é uma questio crucial paras politica particlarmente para a politica feminists, pois os sueitosjurfdicos so invariavelmente produzidos por via de priticas de exclusio que nia “aparecem”, ma vex estabelecida a extrurajurdiea da plltia. Em outraspalaras, a construgio politica do sjeto procede vinculada a eertes objetivos de Iegitimagio e de exclsio, esas operagées politica si efetivamente ‘oculias € naturalizedas por uma anslise politica que toma as esraturas juridicas como seu fundamento. O poder judi “prods” ieviavel- ‘mente o que alega meramenterepretentar;consequentemente,a politica ‘em de. preocupar com essa fungio dual do poder: usicaeprodativa, Com efeito, a lei produ e depois celta a nosso de “sjeito perante a lei, de modo ainvocar essa formagio dseursiva como premissa bsica ‘natural quelegitima, sobseqientemente, a pe6pris hegemonia egulado- 1a lei No basta inguitieeomo as mulheres podem se fazer repre= sentar mais plenamente na linguagem e na politica. & critica feminisen ‘também deve compreender como a categoria das “mulheres, 0 sjeito do feminism € produzida e reprimida peas mesmas estrutras de po- der por intermédio das quais busca-se a emancipacio, Certamente, 2 questio das mulheres como sujeita do femiaismo suscta a possibilidade de nio haver um sujeito que se situe“petante” a lei, &expera de representacso na lei ou pela le. Talvexo sujeito, berm como a evocagio de um “antes” temporal, seam constiuidos pela lei ‘como fundamentofictcio de sua propria revindicags de lestimidade ‘A hipStese prevalecence da integridade ontoldgica do sujeitoperante a Jeipode sr vista como o vestigio contempardnco da hipStese do ead natural, esa faulefundante que 6 consitutva das estruturasjuriicas do liberalino clissivo, A invocacio petformativa de um “antes* nig histéreo torno a prensa bisica a garantir uma ontologia pré-socil dd pessoas que consentem livremente em ser governadss, constituindo assim legtiidade do conteato soca ‘Contudo, além das fecbes“funclacionistas” que sustentam a nocio de sit, ho problema politico que o feminisma encontea na supos! Go de que o termo sudhere denote ma identidade comum. Ao invés Ge um significant estive acomandaroconsentimento daquelasa quem pretende descrever¢representar, mulheres — mesmo no plural — tor- fow-se uantermo problemético, um ponto de contestagio, uma causa de ansedade. Como suger ottulo de Denise Riley, A I That Name? [Sou eu exe nome?”], teata-se de uma perganta gerada pela possibili dlede mesa dos milplossigniicados do nome Se alguém "€” uma mulher, ito certmente néo €rado 0 que ext alguém é;o termo nfo ogra ste exaustiv, no porque os tragospredefinidos de géncro da “ipesioa” ranscendam parafersla expeciica de seu glnero, as por. que o género nem sempee se constitu de manera coerene ou eonsi- tente nos diferentes contexts histricos,e porque o género estabelece inersegbes com modaldades raciais,classtas, nics, sexuaseregior ‘ais de idenrdades iscursvamente constitufda. Resulta que e tornou Jimpossvel separa nogio de “genero" das interseges politica ecul- ‘ris em que iovariavelmente ela € produzida e manta. ‘A presi politica de ter de haver uma base universal para 0 feminisme, a ser encontrada numa identidade spostamente existente ‘em diferentes clearas, acompanha freqientemente a idéia de que ‘pressio das mulheres possui uma forma singular, discernfvel na esta tua univers oo hegemGnica da dominagto patiarcal ow masculina. A ‘nogio de un pavareado universal tem sida arplamente ciicada em anos recentes, por se fracasso em explicat os mecanssias da opressio de género nos conextos culture concretos em que ela existe. Exata- ‘mente onde ese itis contextos foram consaltados por esas teorias, cles o fen para encontrar “exemplos” ou “ilurtagbes” de um prin pio univer presuposto desde o ponto de parti. Esta forma de teo- rinagéo feminist foi eriticada por seus esforgos de colonizar ese apro- priar de culturas no ocidentis,instrmenalizando-as para confirma nnogdes marcedamente ocidentas de opressio, etanlbém por tender a construc um “Tercero Mundo” ou miesmo um “Oriente” em que a opressio de género ésutilmenteexplicada como sintomstca de um bar- bariamo itenseco e nfo ocdental. A urgéncia do feminism no sentido de confers um status universal ao patriatcado, com vistas afortalecer aparéncia de representatividade das reivindicagdes do feminism, mo- tivoa ocasionalmente um atalbo na dregéo de uma universlidade eate- rica ou feticia da estutura de dominsgio, ida como responsivel pela produgio da experigncia comm de subjugacio das mulheres, [Emboraafirmar a existénca de um patiarcado universal nao tenha mais a eredibildade ostentada na pastado, a nogio de uma concepsia genericamente compartthada das "mulheres", croliro dessa perspec- ‘iva, tem se mostrado muito mas dfcil de supers. &verdade, houve tnitos debates: exsitiam tagos comans entre as “mulheres, prexise fentes sua opressio, ou estariam a5 “mulheres” ligadas em virtude somente de sua opressio? Hs uma especiicidade dae culturas das mu- heres, independente de sua subordinagio pels culturas masculnistas hhegemOnices? Caractricam-se sempre a especificdade e a intcgeidade das prévicasculturas ou lingistias das mulheres por aposigio e, por- tanto, nos termos de alguma outra formagioeuleural doainante? Exist: ima regio do "especticamente feminino”, diferenciada do maseulino como ta ereconhecivel em sua diferenga por una universaldade indis- Fintae conseqientemente presumida das “mulheres”? A nocto binitia palsioculeurla fzé-1o.Ealeompalsioclaramente nfo em do "sexo", [Nio hf nada em sua explicacio que garanta que 0 “se” que se alher sea necessariamentef2mea. Se, como afirma ela, o corpo uma situagio”?, nio hi como recorrer a um corpo que j§ nfo teaha sido sempeeinterpretado por meio de significado cultura; conseqiente- mente, 0 sexo io poderiaqualificaese como uma fscticidade anatomica présiscursiva. Sem divida, sek sempre apresetad, por definigio, ‘como tendo sido gtnero desde o comes," ‘A controvérsia sobre o significado de consrugdo parece basearse ra polariddefiloséfica convencional entre lvre-arbitio e determinis- mmo. Ei conseqincia, seria razodvel surpetar que algumasretrigdes lingtistcas comuns ao pensamento tanto formam como liitam os t= mos do debate. Nos limites desses terms, “o corpo” aparece como um inciopassivo sobze o qual ae inscrevem signiicados cultura, ou entio como oinstrumento pelo qual uma vontade de apropriaio ou interpre- ‘agio determina o significado cultural por s mesma. Em ambos os aso, ‘vorpo é representado come um mero instrumento ox mio como qual ‘um conjunto de sigaificados eulturais € apenas externamente relacona- dd, Mas 0 "corpo" € em si mesmo uma construgio, assim como 0 & a imiriade de “coxpos” que constiui o dominio dos sietes com mageas de género, Nio se pode dizer que os eorpos tenham uma existéncia significvel anterior A marca do seu género; e emetge enti a queso ‘em que media pode o corpo vira exit nas) mateae) do géneroe por meio delas? Como conceber novamente 0 corpo, nf0 mais como tm meio ou instrumento pasivo espera da enpacidade vivifcadora de wma vontadecaractersticamenteimsterial? © Se 0 género ox 0 sexo sio ixos ow lives, & fango de um dscurso ‘qe, como se ira suger buseaestabelecercertos limites anise ou sl- Vvaguardlar certos dogmas do humanismo como um pressuposta de qual- ‘quer andlise do género. © locus de intatabilidade,tanco ma nogio de suseiT0s 00 sexovetwenosoeseio “sexo” como na de "ginero" bem como no pepsi significado da nagso de “constr”, fornece indicagies sobre as possibildades cultura que podem e no potlem ser mobilizades por meio de quisquer andes pos. tevioes, Os imites da anise discarsiva do genera pressopSem e definem ‘por antecipacio as posbilidades das configuragbes imagines reaias- ‘eis do género na cultur. Iso no quer dizer que toda e qualquer posi- Iilidade de género sea facaltads, mas que a frontirasanalticassugerem ‘os limizes de uma experifncia dscursivamentecondicionads. Tis ints se estabelecem sempre nos temas de um discus cultural hegemdnico, bbseado em estroturasbindras que se apresentams como a linguager da ‘acionalidade universal Assim, a coer ¢introduaida naguilo que a in _guagem constitu como o dominio imaginivel do génexo. Embora os cientstas sociais se refiram a0 gnero como um “faror” ou “dimensio” da andi ele também €aplicado a pestoas reais como uma “marca” de diferenga bolégica, linghistica cou cultural. Neste times ‘casos, 0 género pou ser compreendido como um significado assumido ‘por um compo (i diferenciado sexvalmente;contudo, mesmo assim ese Sgnificado s6 existe em relagao a outeo significado oposto. Algumas {ereas feminists afiemam sero género “una relagio”, lie um con- junto de relag6es, e no um atriburo individual. Outras, na senda de Beauvoir, argnmentar que somenteo ganero feminino é marcado, que 2 pessoa universal e gnero matulina se fundem em um s6 gEneroy Aefinindo com isso, as mulheres nos teemoe do sexo dele e enalrecendo ‘0s homens como portadores de uma pessoalidade universal que trans ceende 0 corpo. ‘Nam movimento que complica ainda maisadiseusso, Luce ligaray argamenta que as mulheres constituem um paradoxo, se nfo uma con tradigio, no seio do préprio dscurso da identidade. As mulheres si0 0 “sexo que nio é “uno”. Numa linguagem difusamente masculinist, uma linguagem falocEnica, as mulheres eonstinuem ivepresentével, Em outras palavras, es mulheres representam o sexo que mio pode ser ppensado, uma auséncia e opacidade lingQistcas. Numa linguagem que repous na sgnificagio univoca, o sexo feminino consiui aquilo que io se pele restringir nem designa. Nese sentido, as mulhetess40.0 sexo que nto é “uno”, mas miliplo." Em oposigio a Beauvoir, para quem as mulheres sio designadas coma o Outtoy Irigaray argumenta ‘que tanto © sujeto como 0 Outeo 80 os extios de uma economia sig, nifiantefalocéntrcae fechada, gue stinge seu objetivo totalizante por via da completa exclusio do feminino, Para Beauvoir, as mulheres 20 ‘ negativo das homens falta em confronto com a qual a identidade smasculna se diferencia para Irigaray, essa daltia particular consteal ‘um sistema que exclu ina economia significante inteiramentediferen- te, Nao s6as mulheres sao falsamente representa na perspectiva sa. ‘wiana do sujitosignficador e do Outeo-significado, como a falidade da signifcagto salienta a inadequacio de toda a estrutura da repre- sentagio, Asim, 0 sexo que nio é uno propicia um ponto de partda para ertca das representages ocidntais hegeménicase de met dda substéncia que esiutura a propria nogéo de ujeito, que éa metafsica da substinca, e coma ela informa o pensamer- ‘0 sobre as categoria de sexo? Em primeiro lugar, as concepsdes hums nistas do sjeito tendem a presumir ua pessoa substantiva, postador de virios atribuos esenciaise nfo esenciis. A posigio feminist hu ‘manista compreenderia 0 género como umm atrbuto da pessoa, caracte- tizada essencialmente como uma substéacia ou um “nleo” de enero reestabelecco, denominado pesto, denotar uma capacidad universal de razio, moral, deliberacio moral on linguagemn, Como ponto de par tide de uma teoria social do ginero, enteetanto, a concepcio wniverseh 4 pestoa ¢ deslocada pelss posgéeshistricas on antropoldgicas que compreendem o género como uma relago ente sujetossocialmente tans de uma assembigia que permita miiplas convergencias e di- ‘vergncias, sem obedineia a um telos normatvo e definidor. 5. IDENTIDADE, SEXO E AMETABSICA DA SUBSTANCIA © que pode entio signiticar identidade”, eo que alicersaa pressupo- ‘gto de que as identidades so idénicas asi mesmas, persistentes a0 longo dorempo, unifcadase ineenantente coerentes? Maisimportante, ‘como ess suposgdesimpregoam o discueeo sobre as “identidades de sfnero"? Sera erado supor que a diseusio sobre a “identidade” devs 3a dscussia sobre aidetidade de gnero, pea simples tazS0 de que as “pessoas” 36 se tornam inteligives a0 adic seu género em «onformidade com padrdesreconhecives de intligibilidade do g2ncro, ‘Convencionalmente, a diseusio socioligica tem buseado compreender ‘anogio de pessoa como uma ag2ncia que eivindica prioridade onli Bea 20s viros paps e fungbes pelos quais assume vabilidadee signi Ficadosociais. No préptio discursoflossfio, a nosso de “pessoa” tem sido anaitcamenteelaborada com base 1a suposigio de que, qualquer {Ue sein 0 contexto social em que “et, a pessoa permanece de alum modo externamente relacionada 3 estturadefinidora da condicio de pessoa, seja esta a consclénca, a capacidade de linguagem on a delibe- Fagio moral. Embora nao esteja aqui em exame ess literatura, uma das premiseas dessasindagagoes é 0 foco de exploragio e inversioertieas. Enquanto a indagagio filoséfica quave sempre centra a questo do que ceonstiui a “ientidade pessoal” nas carateristicasinteras da pessoa, ‘naguilo que estabeleceria sua continuidade ou auto-identidade no de- correr do tempo, a questo aqui seria: em que media as prdtcas regi Tedoras de formacio e divisto do género consttuem a identidade, a ‘coertncia interna do sujito,e, rigor, o status auto-identico da pessoa? Em que medida ¢ a “identidade” um ideal normativo, 20 invés de uma caracterstica deseriiva da experiencia? E como as pitas reguladoras {que governam 0 génera também governam as nocoes culturalmente ine teligiveis de identdade? Em outras palavras, a “coeténcia”e a “conti- nuicade” da “pesson” nfo sio caracteristeas Logics ou analiticas da condigio de pessoa, mas, ao contrétio, normas de intelgibiidade sociale ‘mente inttuida e mantidas. Em sendo a “idenidade” assegurada por cconcetos esabilizadores de sexo, generoesexualidade, a prOpria nogio de “pessoa” se veria questionada pela emergéncia cultural daqueles seres ‘jo géncr0 6 “incoerente” ou “descontinuo”, os quai parecem set pes- ‘soas, mas nio se conformam as normas de glnero da ineligbilidade caltal plas quais as pessoas sio definidas Géneros “ineligiveis sto agueles que, em certo sentido, instinaem ‘emantém relagies de coerEncia econtinuidade entre sexo, géner0,pré- tica sexual edesejo. Em outtaspalavras os espectrosde descontinidade ‘eincoertacia eles prépris 6 concebiveisem zelagio a normas existen- tes de coutinuidade eeoerénca, so constantementeproibidose prod- zidos plas préprias eis que buscam estabeleverlinhas causa ou ex- pressvar de ligacio entre 0 sexo biolgico, o género culturalmente constituido e a “expressia® ou “feito” de ambos na manifestagho do deseja sexual por meio da ptic sexual ‘Anogio de que pode haver uma “verdad” do sexo, como Foucault 4 denomina ironicamente, € prodhaia precisamentepelasprticasre- ‘uladoras que geram identidadescoerentes por via de uma matt de ormas de género coerentes. A heterosexualizagio do desejorequer € insti « producto de oposighes dscriminadase asim ene “e- mnivo”e*masculino” em qu estes ko compreendides como atiutos expresivosde macho" ede “Yemea”. A matieltcl por intermeio dau aidentidade de goer se toxna ntelgvel exige que cetstpos ‘e"ideaidade” no pos “existir"— ino aqulasem que ogénero io decore do sexo eaqulas em que as pitics do desjo nto “decor rem’ nem do “sexo" nem do “genera”, Neste conte, “decorse”seia tuna lac politics de deco insu pls leis culturais que exabe- Ieceme regulam a forma eo significado da sexeaidade. Ora, do ponto de vista dss campo, certos ios de “identidade de género” parecem sermerasfalhas do desenvolviento ou ipossbildades pics, pei samente porque no se coaformarem 3x nommins da etlgibidade cul tural. Entretanto, sua persstncia e prolifera ciam oportnidades cxcas de expor os limite eos objetivosregaladores dese campo de incigibldade e,conseaietemente, de dsseminat, nos propio ter ros dessa mate de iteigblidade, spats sivas subversias de desordem do género, ‘Conte, antesde considera esaspréicaspeturbudors preset cial compreendera “mani de intlgiidad”. cla singlar? De gu se compée? Que alana peculiaeexn,presumivelmente, ente un sistema de heterosexvalidade compulria eas ctegois dares que exabe- lec os conceit de denidade do exo? Sea dtwidade” un eto de pritcas dscursiva, em que mea a identdade de genero ~ exten dls como uma reagto ene sexo, ane, price sexual descjo—seta eeto de ua pri reguladora ques poe ientcar camo hetror senuaidadecompulsria?Tlexplicag nto nos faa etornacamaisina ‘otra tolzance em que a heterosexual eompulsra toa :merament olga do falocentsiamo como casa monalca da opressio de gtnero? 'No epecto d tori feminists e pestis ances, com reendese qu regines muitos diferentes de poder produnem os on exits deidencidade sexnal. Comsideremona dvergenca que exist entre Posies como ade Irigeray, que afirma shaver um exo, o masa, sue eabora.asimesmo na e através prodgio do “Outro” polsria Em sua defesa do “sujeitocognitivo, Wittig parece no entrar em disputas metaficas com os modos hegemtnicos de signiieagio ou representagi; de fato, 0 sujeito, com seu atributo de autodetereninao, parece sera reabiltaglo do agente da escola existencil sb o nome de lesbica:“o advento de sujets individuaisexige, em primero gat, que se destruam as categorias de sexo (..) a Kabica€ dno conceito que conhego que et ald das categorie de sexo. Ela nfo critica o“ujito” ‘como invariavelmente masculino, segundo as eras de um Simblico ine= vitavelmente paeiarel, mas prope em seu lugar 0 equivalente de um seco lsbico como ustirio da inguagem.2 Para Beauvoir — como para Wittig —a identifcagso das mulheres ‘com o "sexo" € uma fusio da categoria das mulheres com as caracterfs+ ticasestensivamente sexualzadas dos seus corpo, portato, uma re- ‘sna concederliberdadee autonomia s mulheres, al como as preten- ‘umente desfrutadas pelos homens. Assim, a desta da categoria do sexo representaria a destruigo de umatributo, osex0, oa, por meio suieiras 00 sexosctneno/nestso «de um gesto misgino de sinédoque, omou o gar da pessoa, do corto autodeterminador. Ein utras palavras, 608 homens so “pessoas” © io existe outro género senao 0 Femiaino: O género € inde tingsio da oper polta ence ossenoe.Egenero ‘wo agua singular porque sem divide nS ha dois eros. Hi so- ‘mente wn femiino, 6 “asulaa” nfo sendo um gaero. Pos 0 mas ‘alia no 0 mescaline, mas ogeral29 CConeqtentemente, Wit clama pela destuigdo do “sexo”, para que as malheces possam asumiro status de sueto universal, Bm busca dessa desteuigho, ae “mulheres” dever assume um pono de vita tko particular quanto wniversl Como sujito que pode eealizr a univer- salidade concreta par meio ds liberdade, a lésiea de Wittig confirms, 0 invés de contestar, a5 promessas normativas dos ideais humanistas ‘ua premisa & a metafsca da subetncia. Ness aspecto, Wittig se di- feroncia de Irigaray, nl0 $6 nos texmas das oposigées hoje conhecidas centee esendalsmo e materialism, mas naquees da adesio a uma :metafsea da substancia que confirma o modelo normativo do hurna- nismo como o areabougo do feminismo, Onde Wittig parece subscrever ‘um projet radical de emancipagsoIébieae impor uma distingio entre “shica™e "mulher" lao fz por via da defesa de uma “pessoa” cujo sfnero épreestaelecido, caracterizada como liberdade. Bsse seu movi- ‘mento nio sé confirma o status pré-socal da liberdade humana, mas sulecreve a metaisica da substinca, responsive pla produgioe naru- talizagio da propria categoria de x0. A metafiiea da substance & uma expresso associada a Nietasche na critica contemporinea do dscursofilosfico. Num comentivi sobre ‘Nictache, Michel Haar argumenta que diversas ontlogis flosotices ‘cram na stmadila das lusdes do "Sereda "Substncia™ que sto pro- ‘movidas pela crenga em que a formialagio gramatical de syjeitae pre= Aicado reflere uma reaidade emtoligica amerior de substincia eatsbue to. Esses constrtes, arguinenta Haag, constituent os meios filossficas artficias pelos quais a simplicidade, a ardem ea identidadesioeficar- mente insiaas. Em nenhum sentido, todavia, eles revelam on repre- sentam uma ordem verdadeira das cosas. Para nostos propésites, ess crite nerschiana torna-se instrutiva quando aplicada is categor Joséfcas que governam uma part aprecidvel do pensamento térico © popular sobre aidentidade de género. Segundo Haar, a ertica A meta- fia da substincia implica wma ertca da pesipia nogto de pessoa psi- coldgica como coisa substantive | deste gia por nero de sn genealogies ron dds ctegoras peicogis fandamertadas nea lis, Todas 8 categorise colic eine, pessoa) deriva dla daidemidadesubtan- cial Masesa hao remonta bsicrent uma supers que enganan80 0 se0s comm ms tanbém ca flsofor —asabes, ace nalinguagem «mls presente a verde dae eaegorin gratis, Fa gran (Geseurura dessin e predic) que inspite cetera de Descartes de que “eu € use de “peso enquant, na verdad, so 0 persomentas que ‘ena: no fandoa fa pram simpleente radu a vootde de sera “cau dos pensameats de alga. O so, oe indivi, 0 penis conctits fas, vito qu eansformam em subtinis cci uni- des que liialmente tm ede lings" Wittig fornece uma erica altespativa a0 mostrar que nfo € possivel -sjgnificaras pessoas na linguagem sem a marca do nero. Ela presenta uma anise polftca da gramdtica do géneroem francés. Segundo Wittig, ‘ogénero no somente desig as pessoas, as “qualfca”, por asim dizer, ‘mas constitu uma episteme conceital mediante a qualagénero binério ‘Cuniverslzado, Embora a lingua francesa aribua um génera a todos ‘0s tipos de substantivos além das pessoas, Wittig argumenta que sua anilise rem conseqincisiguslmenteparao inglés. No principio de The ‘Mark of Gender ("A marea do género"] (1984), ea excreve Segundo 0s gramitics, a mares do gineroafts os sbetantos. E em rermosde fango que es fala sobre iso. Se questonam sev significa, svezesbiacam, amanda ognero de wen th no que enneerne Ac ceatgorias de peng, ambas lags [ingle fans] guatmente poredores do giaero. Amba ebeem camo «ura conetoontalégico Primitivo que impo, na ngage, ura dvisio dos sres em sexs, (Como conesto ontoligico que id comaraurers da Se jutament om ‘ox umanévoade outros conecitos prinitivosperencencesd mesa linha de pensamento,o gene patecepertencrpiniament oso” Wittig nos diz que “pertencer & filosoia” signifies, para o gévero, pertencer “Aquele corpode conceitosevidentes sem 0s quis os ildsofos cham que nfo podem desenvolver ma linha sequer de racioctnio, € ‘que sio Sbvios para eles, pos exist na naurcza anes de todo pensa- ‘mento, de toda ordem socal” opiniso de Wig écortoborada pelo discurso popular sobre aidentidade de género, que emprega actitca- ‘mente a asbuigso inflexional de “see” para géneros “sextalidades", ‘Quando no problematizadas, as afrmacées “ser” mulher e “sex” hete- rossexual seria sintomaicas dessa metafisica das substincis do géne- +0, Tanto no caso de “omens” como no de “mulheres, tl afirmacio texde a snbordinar a noséo de género aquea de identidade, e a levar a conclu de que uma pessoa éum género e oem vetade do seu sexo, de seu entimento psquico do eu, e das diferentes expressGes dese eu psiquico, mais ntiveldelas senda do deseo sexval, Em tal contexto pré-feminista, 0 género,ingenvamente (ao ivés de erticamente)con- fandido com 0 xo, seve como prinepio unificador do eu corport ‘ado e mantém essa unidade por sobre e contra um “sexo oposto" cua esrutura mantém, presumivelmente, uma coeréneis interna paralela ‘as oposta entre sexo, gnero e dessja, © enunciada “sinto-me una mulher’, proferido por uma mulher, on "sinto-me un homem", dito ‘por um homem, supe que em nenhm dos casos essa afrmagio éab- surdamente redundant, Bmborapossa parecer nio problemitico ser de ‘oma dada anatomia (apesar de termos de considerar adiante as muitas Gificuldades dessa proposta),considera-se a experincia de uma dispo- siglo psiguica ou identidade cultural de genero como uma realizagio ou ‘conquista, Assim, “snto-me uma mulher” € verdade na mesma medida ‘em que € presumida a evocagio de Aretha Franklin do Outro definidor: ‘oot me faz sentir urna mulher natural”. Essa conguistaexige uma Aiferenciacio em relagio a0 génez0 oposto, Conseqentemente, uma pessoa é 0 seu género na medida em que nfo é 0 outzo genero, form lagi que prestupde e impée a restigio do género dentro desse par bindsio. ( género a6 pode denotar ums unidade de experiénca, de sexo, agtneroe deseo, quando se entende que o sexo, em algum sentido, exige ‘um género —sendoo glnero uma designagfo psiquia elon cultoral do eu —e um desejo —sendo o desej heterosexual, portanto, diferen= ciando-se mediante uma relagio de oposgfo 20 outro género que ele ‘desea. A coeréncia ou a unidade internas de qualquer dos géneros, ho- ‘mem ou mulher, exigem assim uma heterossexualidade estivel e oposi- sional. Esa heterossexualidade institucional exige © produ, a um s6 tempo, a univocidade de cada um dos vemos marcados pelo género que consttuem o limite das possiildades de nero no interior do sistema de género binsrio oposicional. Essa concepeto do género nao 56 pres supde uma relagio causal entre sexo, géneroe deej, mas sere igual- mente que o deseo reflete ou exprime o nero, eque ogénero reflete ou exprime o desej. Supde-se que a unidade metafisica dos és sea verdadciramente conbecid ¢ expressa num desejodifereciador pelo sfnero oposto —istoé, numa form de heterossexuaidade oposicanal, (© “velo sonho da simetria", como chamou-o Irigaray, é aqui pressi= Post, reificado e racionalizado, sea como paradigia naturalista que ‘stabelece uma continidade causal entre sexo, género e deseo, soja ‘como um paradigma expressivo auténtico, no qual se diz que um ex verdadeiro ¢simultinea ou sucesivamenterevelado no sexo, no gener eno dese. Esse eshogo um tanto tosco nos d& uma uncagfo para compreen: dermos as razdes politica da visio do glnero como substinca, A inst- ‘uigio de una heterossexutidade compulséria e naturalizada exige € regula o género como uma relago bindria em que o temo maseulino sliferencia-se do termo feminino, reaizando-se essa difereniagto por _mcio das prticas do desejo heterosexual. O ata de diferenciar os dois ‘momentos oposicionas da esrutoa binaria resulta numa consolidagso de cada um de seus termos, da coeréncia interna eespectiva do sexo, da enero edo deseo. (0 deslocamentoestratgico dessa relacso inva e da mecaisica da substincia em que ela se baseiapressupbe que a produ das eategoras Ae feminino e mascolino, mulher e homem,ocortaigualmente no inte rior da esrurura binéia. Foucault abraca impliitamente essa explica- ‘20. No capitulo final do primeira volume de histéva di sexualidade, ‘em sua breve mas signiicativa itrodugio a Herculine Barbin, Being the Recently Discovered Journals ofa Ninatecnth-Centiry Hermaphro~ die ["Herculine Barbin, ox os recém-descaberts disros de um heema frodita do séeulo XIX"P, Foucaul sugere que a categorin de sexo, anterior a qualquer caracteriaagio da diferenga sexual, é ela prépeia ‘conseuida por via de um modo de sesuaidade hstricnmenteexpecti= «0, Ao postular 0 “sexo” como “caus da experitnca sexs, do com- portamento do deseo produgio ttica da categoriaagto descontinua «bina do sexo oculta os obetvosestraégicos do priprio aparato de rodugio, A pesquisa gencalgiea de Foucaule expe esa “causa” oF- tensira como uum “efeto", como a produgio de umn dado regime de a= szualdade que busca regular a experitncia sexual insted as catego~ ‘as dstntas do sexo como fungbesfindacionas ecausis, em todo € ‘qualquer tratamento discusivo da sexualidade, ‘A introdugio de Poucaule aos divios do hermafroi Herculine Barbin sagere qu 2 eric genealgica das categorasreiicadas do sexo 4 uma conseqnciainopinada de préticas sexuais que nto podem set expliadas pelo discurso médico-legal da heterssesualidadenacuraliza- ‘a, Herculne mo ¢ uma “identidade”, mas a impessbilidade sexual de ‘uma identdade, Erbara elementos nat6mices masculnos e femininos se dstrouam conjuntamente por seu corpo, dentro dele, no es af vetdideiraorigem do escindalo. As convengées lings que prod- 2am eus com enracterstias de gnezointeligiveis encontram se limite em Herculine, precsamente porque elaeleocasionauina convergéncia © desorganizacto das regres que governam sexofgéneraldesjo. Herc line desdobrae redistribuis termos do sistema binéio, mas esa mesma Fedisribuicio os romp e os fa prolifera fora desse sistema. Segundo a PROBLEUAS DE GtuERO Foucault, Hercaline nfo € categorizavel no enero binéri como tal desconcertante convergéncia de heterossexualidade e homowsexualid {deem sa pessoa 66 € ocasonada, mat nianca eausada por son descon- tinuidade anatomica. A aproprigio de Herculine por Foucault ¢ dv oma, mas sua anilse implica a interessante crenga em que a Ieterogeneidade sexal(paradoxalment excluide por uma “hetero"-se- sualidade natualizad) implica ums ertca da metafsca da substincia, tal como esta informa as eaeactersticas identitiias do sexo, Foucault imagina a experiéncia de Herculine como “um mundo de prazeres em (que sorssos pairando toa”. Sorrso, felicidad, razeresedeseos ‘slo aqui representados como qualidades, sem a substincia permancite qual supostamente escioligads. Como atibutos utuante, eles oi- setem a possbilidade de uma experiénca de género que nia pode ser reendida pela gramitica substancinlizane ehierarquzante dos subs- tantivos (res extensa)e adjetivos(nributos, essenciaiseacidenas, Pel Ieturacursiva de Hercule, Foucault prope uma ontologia dos ai- ‘bos acidentais que expbe a postulagio da idenidade coma um prin- pio culturalmente restric de ordem e herargui, uma Fogo regula- dora Se é posstvel falar de un jomem” com umn ateibato masculino € compreender ess atributo como um cago fea masacdental desse ho- mem, também € possivel falar de um “home” com win atibuto feri- nino, qualquer que sea, mas continuar a preserva ainegridacle do neto. Porém, dispensarmes a priridade de “homem” ¢ “mulher ‘como substincias permanentes, no sed mais possve subordinar agos lssonantes do nero como caracteritieas ecandras ou aidentas de ‘uma ontofogia do género que permanocefundamentalimente iat. Se ogo de uma subscincia permanente é uma constrgto feta, pro- Admida pela ordenacio compolsérin de atributos em seqiéncins de ge ero coerentes,entio ogéacro comosubstinsa, viabilidade de homer ruler como substantive, se v8 questionado pelo jago disonante de atribatos que no se conformam aos modelos seqenciais ou easais de inecligbildade, esse modo, a aparéncia de uma substinca permanente ou de ust suleiTos 00 sexosetneno/oesti0 eu com tags de género, ao qual o psiguiatra Robert Stoller se refere como 0 “nicleo do género",€ produzida pela regula dos atributos segundo linhas de coeréncia cuturalmente estibelecidas. E resulta qoe ‘denincia dessa produce ficcia €condicionada pela interagio deste= Bulada deateibutos que resstem sua assinilagéo numa estrutura pronta de substantivos primérios adjetvos subordinados. Claro que € sempre possivelargumentar que os adjtivos dsonante agem retroativamente, ‘edefinindo as identidodes sbstantivas que supostamente modifcam,€ expandindo conseqientemente as categoriassubstantivas do geneto, para ineluir possibildades que elas ates excluiam. Mas se essa subs. 'ncias nada mais sto do que coeréncias contingentement criadas pela regulagio de awributos, a propria ontologia das substinciasafigura-se ‘io 86 um efeito artificial, mas essencialmente supérina esse sentido, o gérero no € um substantive, mas tampouco € um aual ranscende, na opinio dels, as eategotas do sexo: “se 0 desejo pods ibertara s mesmo, nada teriaa ver com a marcacio peelimina® pelos sexos."! Wing refere-e a0 “sexo” como uma marca que de algam modo é ‘plcada pela heterossexualidade instiucfonalisada, marca esta que Pode ser apagada ou obscurecida por meio de priticas que efetvamente trutos heterossexistas na sexualidedee na identidade gays, Arepeticio dle Constrtos heeerossexuais nas culturas sexu gay e hetero bem Pode representar o lar inevitvel da desnaturlizago e mobilizagio 0+ tees “at” “ered 8 pps sa ¢ fenton ewe suid masons as da") eee SCN oc rea PROSLEMAS DE cE eKo das caegorias de género. A replicagio dle constrats hetcrossenuais ent estraturas ndo heterossexutissalientao status cabalmente cone, truldo do assim chamado heterossexual original, Assim, 0 ay € pata ‘hetero nfo o que uma cépia€ para o original, mas, em ver disso, 0 ‘que uma c6pia & para uma e6pia, A repetigio imitativa do “original”, clscutida nas partes finais do capitulo 3 dest lvr, revela que oo ginal nada mais € do que uma parédia da iia do natural edo origi ral Mesino que construtes heterosexiseascirclem coro lugaees praticdveis de poderidiscuso a partir dos quaisfar-se 0 género, per sista pergunta: que possibilidadesexistem de rectculagio? Que pos- sibilidades de fazer 0 género repetem e deslocar, por meio da hipét- bole da dissonincia, da confusto interna eda prliferacio, os pe6prios construtos pelos quais os géneros sio mobiizados? ‘Observese no s6 que as ambigdidadeseincoertncis nas prticas heterossexual, homossexual ebissexual—e entre elas —slo suprimidas « redesctza no interior da estrutura reifcada do binéio dsjuntivo ¢ sitio do masculin/feminino, mas que esas configuracbes elt ris de confasto do género operam corn lugares de inervengio, de- indncia ¢ deslocamento dessas reificagées. Em outras palaveas, a “unida- de" do género € 0 efeito de uma prétca reguladoca que busca unifor- iar identidade do género por via da heterossexualidade compulsd ria forga dessa pritca €, mediante um aparslho de produgio exclu dente, restrigit os sgnficados relatives de “heterssenualidade”,“ho- ‘mossexuolidade” e“bisexuatidade”, bem como os lugares subversives ‘desua convergénciaeresigniicagi, O fato de os regimes de poder do heterssexismo e do falocensrismo buscarem inerementarse pela repe- ‘igio constante de sua Iégia, sua metafsicae suas ontologias naturale zados ito implica que a propria repetigko deva se interrompia — ‘como sesso fos pessivl. se arepetigio est fadada a persistir como mecanismo da reproduc culeural das identidades, dat emerge a ques ‘Ho crucial: que tipo de repetgdo subversva poderiaquestionar 4 p= Pria pritca reguladora da identidade? Se no pode haver recurso a uma “pessca’ i “sexo” ou uma "se- nattz de poder e as relagbes discurivas que ualidade” que escape cfetivamente produzem ¢ tegulam a incelgiilidade desses concsitos para n6s, 0 que constiuiia a possblidade de inversdo, subrersio ou deslocamena efeivos nos termos de unna ientidade construida? Que posibildades existem ev vitude do carder constr do sexo e do nero? Embora Foucault seja ambiguo sobre o carer preciso das “pré- ticasreguladaras” que produzem a categoria do sexo e Witg pareca investi toda a responsiilidade da constucio na reprodugéo sexual ¢ feu instrument, a heteressexualidade compulséia, outros disersos convergem no sentido de produricessafcciocategica,porra6esmem, sempre claras ou coerentes entre si. As elas de pole que permelam, ss cigncias boldgics nto so facilmente redutveis, a alianga médico- legal que emergin na Fucopa do século XIX gerou fegdesentegSress {que nfo poderiam ser antecipadas. A pr6pria complexidade do mapa liscnsivo que consti o género parece sustentar a promessa de wna convergénciainopinada e generativa dessas esteuturasdiscursivas € re- aguladoras. Se as fiogbes reuladoras do sexo e do género si, elas pré- ria, gates de significado multiplamente contestado, enti a propria smukiplicidade de sua construgio oferee a poribilidade de uma ruptura de sna postlacio univoca. ‘Claramente, esse projeto nfo propée desenhar uma ontologia do aero em rermos ilos6ficos tradicional pela qual o significado de ser mullet ov homiem sja clucidado em termes fenomenolégicos. A pre- sungZo aqui é que o “ser” de um gtnero € um efeito, objeto de uma i vestigagio genealdgica que mapeia os parlmetros pollcos de sua cons- ‘eugio no mado da ontologia, Declaar que género € eonstruido no 6 afirmar sua iusto on acificialidae, em que se compreende que esses termasresidam no interior de um binstio que conteapde como oposies ‘0 “real” 0 “autéatico”. Como genealogia da ontologia do géncto, 2 presente investigago busca compreender a produc discursva da plau- sbilidade dessa relacio binévia,e sugerir que cerasconfigeracbescul- turais do género assumem olugardo“real”econsolidam eincrementamn ‘sua hegemonia por meio de uma ancanatralizagao apta eben sucedida, Se hd algo de certo na afiemagio de Beauvoir de que ninguém nasce sim torna-e mulher decorce que mer 6 um termo em proceso, wim evi, um construir de que nio se pode dizer com acerto que tenba uma ‘origem ou um fim. Como uma prética discusivacontinas, o term ests shertoaintervensese e-significagbes. Mesmo quando género parece trializarse em suas formas mais reifcadas, a peépria“eistalizagio” € uma pritca insistent einsidisa, sastencadaeregalada por véris meio ocias. Para leauvoit, nunca se pode toenat-se mulher em defnitivo, ‘como se houvesse um flosa yovernar o processo de aulturagioe cons. teuglo. O género€estilizagio reptida do corpo, uin conjunto de atos repetidos no interior de uma esteutyra reguladora alent rigid ‘ual secrsaliza no tempo para produsie a aparéncia de uma substinca, de uma clase natural de ser. A genealoga politica das ontologias do _ginero, em sendo bem-sucedia, desconsteuria a aparéncia substantiva do gnero, desmembrando-a em sens atos constitutes, e explcaria e Jocaliara esses atos no interior da estrururas compularssciadas pe- lus visas foreas que polciam a aparéncia social do género. Export 0s sos contingentes que criam a aparéncia de uma necessidade naturel, tentativa que tem feito parte da critica cultural pelo menos desde Marx, <érarefa que assume agozaaresponsabilidade atescida de mostrar como, 4 propria nogio de sueito,s6inelgfvel por meio de sua aparéncia de ginero, admite posibiidades excludes & fasg pels vrias reificagies do géncro constitativas de suas ontologias contingents. ‘0 capitulo seguinte investiga algonsaspectos da abordagem pica: alta etraturaisa da diferenga sexual da construgso da sexualidade relativamente a seu poder de contestar os repiesreguladores aqui es- bogados, também a seu pupel na reproducio acriicadesses regimes, ‘A univocidade do sexo, a coeréncia interna do genera e a estrutura bi- na para o sexo e o genero S20 sempre consderadas como fcgbes x sguladoras que consolicdam e naruralzam regimes de poder convergentee ‘de opressio masculina eheterosexista O capital final considera a pré- prin nogio de “corpo”, nfo coma uma superficie pronta a espera de ‘sjgnlicag, mas como um conjunto de fontsra,indviduaise soci, politicamentesignifcadas e mantidas. Mostraremos que sexo, jf 80 ‘mais visto como una “verdade” interior das predisposige eda identi= dade, € uma sgnificagéo performativamente ordenada (e portano no sustitos bo sexovatwenosoeseio *€" pura. simplesmente}, uma sigaiicagio que, liberta da interioridade dt superficie mturalizadas, pode ocasionar a proifragio paroditica © 0 jogo subversivo dos significados do género, O texto continuaré, {entio, como wm exforgo de refletr a possibildade de subverter e deslo- ‘ar as nogbes natualizadas ¢ reifcadas do género que dio suporte 4 Ihegemonia masclina exo poder heterossexista, para criar problemas dle gnero nfo por meio de esratégias que representem um além ut6pi- «0, mas da mobilzagf, da confusio subversiva eda poliferacto preci. samente daqaelscategoras constutivas que buscam manter 0 genera fem seu Tuga, a posar como uses fundadoras da identidade. conto Proibigdo, psicandlise a producao da matriz, heterossexual

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