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ESCOLA DA EXEGESE — 14 MOTIVOS vocou transformagdes enormes em todas as areas da experiéneia humana, inclusive na concepedo de Estado, de direito e de decisio juri nnismo francés apresentou-se como uma ideologia to forte que jsava ser negado. [sso porque, para assegurarem-se 0s mo ~ liberdade, igualdade e fraternidade ~ era neces- locar um ponto final na historia de trevas que foi a Idade Média. O século das Luzes precisava se separar dos tempos das trevas, dos tempos da dominagio, da desigualdade social € do obscurantismo mistico-religioso que caracterizaram a Idade Média. 4.1.4 Desconectar 0 Direito do Passado Histérico portanto, uma concepgaio de direito desconectada do pa ra necessario mudar o curso da historia, col liberdade, igualdade e fraternidade em um futuro que merecia ser pers do, A Revolugdo Francesa procurou romper com o pasado, Negar 0 passado das trevas para dar um novo curso a historia, Para tanto, 0 porque a lei escrita permitia exa- iculagdo do passado hi desconsiderassem as razSes historicas que justificaram as normas juridi- ‘cas. Porque a partir do momento em que @ norma apresentava-se na escrita, 0 seu texto constituia, por si s6, a expressio do que deveria ser pretado, argumentado e decidido no campo do direito. Razies histéricas, motives do passado, costumes, tudo isso era ob- jjeto de uma forte critica por parte dos ideais iluministas. Precisamente por- Fer omc nconnee rina naan naan 0 Rafael Lazzarotto Simioni deixado para tris, sentido dos seus ideais de no era apenas um eédigo ci . Por si s6, 0 fundamento tanto da ex} cionalidade do direito. Era 0 resultado da sistema into de textos legais que permitia respostas juridicas para todas as des priticas'. Todas as questdes juridicas estavam previstas nos textos iematizados no Code. E se porventura uma questio nao estivesse era porque nao se tratava de uma questo juridica. E com esse isdicional para uma pretensdo sem respaldo ju E 0 fato de se acreditar que todas as que: siderado ut Para a decisio juridica cabia apenas mula de Rousseau, para quem os magistrados 36 tém que obedecer a Ie do Estado’, 4 sundo o qual 0 juz. é a Isso porque a da sempre correta na protege dos la.a todos a ‘animo de liberdade, porque o bedecer a uma io a vontade de alguém’, Com efeito, a Ja quase sobrenatural. A lei é a expressio méxima de uma vontade politica que procura se esforgar para atingir a perfeicio da vontade de Deus. E nesse sentido, a lei passa a ter um cardter igualmente pois embora nao expressem a perfei¢ao ideal das leis de Deus, as ' revelam-se, contudo, como expressio da razio. Pensa-se nas vantagens de tempo e d para as decisdes ju car uma resposta do diteito a uma questao, versas — ¢ incontrolaveis ~ varidveis dos costumes historicos de cada es- ‘agora torna-se possivel si argumentar que a resposta ‘tal questio juridica é esta porque o texto da lei diz. que ¢ esta e nao outra. O zgzanho de tempo e de simplicidade na argumentagao juridica ¢ signi Seritti politi, Roma: wet Frores, 1927. p. 154 eques, Frammenti Ip. 245. Seritti politi, Roma Rafael Lazzarotto Simioni Essa concepgao de direito foi conhecida também como o legalismo da codificagdo pos-revoluciondria. Nessa concepgo, nao ha nenhuma dife- renga entre direito e texto legal. Direito e texto de lei confuundem-se em uma \inica identidade dogmatica, O direito € 0 texto da lei, tanto quanto o texto da © direito, E assim a Escola da Exegese permitiu entender o die tamente segundo os ideais da Revolugio Francesa: negando os costumes & adigdes que vinham das “trevas” da Idade Média, para permitir apenas a idade esclarecida da lei editada segundo as exigéncias do século das Luzes. 1.4.2 Multijurisdicionalidade e Direito Costumeiro Fragmentado como 0 tinico material ma vez escrita, a lei po- wdida para todos que a ela se Essa combinagio de meio de co tida pela forma escrita da lei permitiu resolver também um problema his- torico do Estado medieval, que era © problema da multjurisdicionalidade: havia tantas jurisdigdes quanto o niimero de classes, estamentos ou estratos ja uma jurisdigo para mercadores, outra iosos, para plebeus etc. Cada estrato soci i ‘ia exatamente porque nao havia relagi icagdo e meio de difusio ins- ri ito costumeiro fragmentado, dole jusnaturalista, com tantos costumes quanto o nimero de estratos soc © seu proprio direito costumeiro E isso representava um problema Sobre os meios de difusdo da comunicaglo, ver-se: LUHMANN, Niklas; DE GIORGI, Curso de Hermenéutica Juridica Contemporanea 3 ferritorio ou de uma nago por um Esta~ Je e ditegio daquela forma de sociedade es- para a pretensio de governo de do. Um poder central de con tratificada exigia, como condigao de possibilidade, a unificagio da jurisdigdo € ‘Quer dizer, a pretenso do Estado de governar um ter- rit6rio mul jonalizado, onde o direito se encontrava fragmentado na idole jusnaturalista, exigia isdigdes quanto os frag~ forma de m stumeiros, instrumento capaz de uni mentados direitos costumeiros de cada estrato s foi uma resposta perfeita. Porque com base na se toma geral e abstrato: geral no sentido da di- (0 para todas as pessoas e estratos sociais do teritorio do Estado ou da nagilo; e abstrato no sentido de que a sua aplicagio nfo dependeria mais de as tio somente da subsunga0 do caso concreto sua concepedo legalista de direito ssidade do Iluminismo de rom- isdigdes que antes eram dividas imedievais; bem como c) substituir xdos e que, exatamente por isso, apre- imento de promogao dos ideais de igualdade, liberdade e fraternidade. 4.2 FUNDAMENTOS 1.21 Justificagées Tedricas Mas apesar da proeminéncia da lei escrita como lido da decisdo juridica na Escola da Exegese, hé também outros dois pres~ ilo de interpretagdo, argumentagio ¢ de- pi oa: Fundagio Calouste Gul M4 Rafael Lazzarotto Simioni cisio. Ao lado do pressuposto politico do legalismo liberal, a Escola da Exegese tem também um pressuposto filoséfico no jusnaturalismo ilumi- ‘bem como um pressuposto cultural no fendmeno das codificagées evolugao Francesa’, Esses trés pressupostos juntos, articulados de ito nos discursos da Escola da Exeg: tuiram as suas rentais de justificagao cientifica. Sa0 os fundamen- tos que constituem a justificagao tedrica (cientifica) da Escola da Exegese: -a jusnaturalista € escrita. A lei escrita 20, filoséfico Gusmatu- imagem cultural da forma codificada dessa um fundamento simultaneamente pol ta) e cultur para 0 modelo de icamente legitimadas xleres separados po- das normas mo- deriam pretender suas tradigdes Estado, ja fun Naturalmente, um fundament do direito pelas decisdes juridicas. A fundament ‘exige mais fundamentos prévios. Uma fundamentagao is deixa aberto um espago muito grand por isso o fechamento dessa rede de pré-fundamen quer aresta eventualmente aberta por perguntas sobre 05 motivos da decisao por uma e nao outra resposta do dieto. Essa combinago de justificagdes politicas e jusfilos6ficas ilumi- nistas permitiram entdo um arranjo ideal com 0 momento cultural da época, ‘cuja moda eram as codificagdes: a sistematizacao dos textos legais em cédi- 0s que nao apenas facilitavam a pesquisa das solugdes juridieas, mas que "Cf NEVES, A. Castanheita, Digest: eseritos acerca do Direito, do Pensamento Furidico, da sua Metodologia ¢ Outros. Coimbra: Coimbra, 1995. v.2,p. 181, al das codificagées, a ideia de e% que todas as respostas juridicas, todo 0 odo total, exelusivo e det la a regulamen- no cédigo. O c6- fora do |, no havia uma na concepsaio de inexii ssseS cédigos remetiat sursos ao direito natural -agio ganha o sentido da completude e da au- ji nfo poderia mais recusar-se a julgar um 10 na Escola da Exegese \gdes priticas. E entende- izadas — as suas just tica aquele conjunto de argumentos que so realizados ‘das decisoes juridi- eta, Essas justiticagdes ados ja argumentados para as srgumentar 0 que jae jcagdes prticas & dete es prévias para os discursos pri ; exclusi % Rafael Lazzarotto Simioni sma da diferenga entre aplicagaio pura do direito e ap! do existia na época. A decisdo em nenhi da decisio ja estaria A identificagao do di nesmo tempo, que no fido & importante para se e da Exegese. Ao afirmar que no ha Gao diz, ao mesmo tempo, que nio ‘outras normas importantes — estava claro que essas outras nor al icado pela fundamentacio do principio da sepa~ ifrio apenas fa bouche qui prom E a forga desse argumento era tanta que inclu \c2o dos tribunais de eassagio mais como protetores das leis do dos cidadaos. ‘como esse? Como responder a um eventual reclamo de injustiga da decisio, que deve seguir fielmente a operagao légica de subsungao do caso a0 texto legal € que, exatamente por isso, corre o risco de apresentar-se ini determinadas situagdes? O interessante é que a resposta para essas questdes stificagdo teérico-cientifica da Escola da Exegese: o texto le direito no qual as decisdes juridicas de- ica puramente dedutiva de subsungao dos as também orientar seus processos argumentativos- jvamente com base extual) 6 poderia supor a st a Escola da Exegese porque somente a lei escrita los6fica necesséria para cumprir respostas juridieas € ioe ‘eserita $6 pode ser infali- ua sistematicidade ligico- otras pal !xegese sustentava a inexisténcia ireito para a decisio dos casos. E se eventualmente ocorresse esposta no direito, a resposta ja estaria previamente dada: um ianto incoerente com o proprio contexto politico da decisio j Ao lado dessa identificagao do direito com a lei esc Exegese disponibilizou também um outro argumento prévio importante para a pratica das decisdes juridicas: a exclusividade da ita como 0 tinico critério de orientagio discursiva. Sob esse postulado, afirmava-se q romada de decisdes juridicas jé estavam dados na | ite no texto legal a decisio ji julaar questies ificagaio do direito com da lei esc a Escola da ldusulas gerais, 0 bem comum e outros conce sminados, Para Castanheira Neves, na Escola da Exe; ca fonte do direito como “CL NEVES ddasua A. Castanheira, Digesta: escrito acerca do Dircito, do Pensamento Juridica, ia e Outros. Chima: Coimin 38 Ratae! Lazzarotto Simioni ~—______afae!Lazzarotto Simoni redido sem resposta na lei € um pedido sem fundamento lido sm ico, que deve, Portanto, conduzir & improcedéncia da demanda”. : om E assim a Escola da Exegese orientava a interpretaga Imentago e a decisio Juridica. Dsponibicando essas ts oa argumentos prévios ~ argumentos autolo estilo de pensamento juridico permitiu uma so ju dos a argue ido essas trés categorias de r I, a Escola da Exegese reduziu a decisio juridica a apenas duas variaveis: qual € @ fato, de um lado, ¢ qual ¢ 0 direito, de outro. Entre o fato ¢ 0 direito toma. ima simples operagao logica de subsungao dedutiva joceard, 1924, especial lidade do levislador quando re= gual ae poe se ares inadequada: "pr wna I derecho de f icbla, México: José M. Cajica Jr, 1945, p, 24) Em uma de suas ob chega a afrmar, referindo-se ao expirio da tel ou A vomtade do, ero R. Bogota: Tem Demolom, que precendo prennciar a © pre ce Cte Napa C. Cours de Code Napoléon: ra sen gta 3 Part Angie Dan ef ae irks, 6 «Privatechigchiche der Nee sgcbng und echwisencut in unserer eit ene ul t Curso de Hermengutica Juridica Contemporanea 29 oie) INTERPRETACAO, ARGUMENTACAO E DECISAO. JURIDICA Depois de explicitarmos os motivos, as razdes teéricas e just (00s priticas da Esco ‘compreender as suas rec na época, para uma per- ferpretar? Uma pergunta que a interpretagdo do texto legal significava uma calunia a de racionalidade dos fundamentos politicos, jusfilos6ficos tos esses que, como sttado, ji se encontravam previamente argumentados pela dou- wola da Exegese. ira argumentativa desse tipo de construgio teérica ¢ circular: ado tem seu fundamento politico na separagdo dos poderes; d) los poderes afirma que o judiciario € responsivel somente pela €) a aplicagao da lei exige fidelidade ao texto da lei; f) porque lorpretar @ lei seria ja violar a separagao dos poderes; logo 1: g) & proibido lar a separago dos poderes; h) a separagao dos po- ndamento no iluminismo jusfilos6fico; logo 2: € proibido inter- sob pena de violar também a propria concepgo do iluminismo jusfilo- i viola tanto 0 fundamento politico smente argumentados, am- 1.3.1. Interpretagao A interpretagiio do direito recomendada pela Escola da Exegese partia de tas: a) a observagio do texto legal « iimsdiaponichieascccim one Para os casos de diivida sobre a interpretagio correta ~ e somente de divida ~ admitia-se a necessidade do recurso a um valor excep- 2 interpretagdo juridica, que era 0 recurso a vontade Essa vontade nao poderia ser, contudo, suposta ou argu- mentada_simplesment ow justa ou qualquer outro argu- rento, A vontade do ia ser comprovada sobretudo através abalhos preparatérios & edigdo da lei, Essa vontade do ndida como uma vontade racior De modo que a vontade do legisl e valor decisivo para complementar a técnica di ls textos legais nos casos de divida. E essa vor 10 poderia questionar. Importante destacar, contudo, que a pesquisa da vontade do le- 7 itura dos trabalhos pre- is também exigia interpretacdo. E essa interpreta- gio da vontade do legislador seguia a mesma metodologia recomendada ‘também est Curso de Hermenéutica Juridica Contemporanea 4 spretagdo dos textos legais: uma analitica puramente formal da legislador para determinar, dedutivamente, o sentido do por ele editada, Quer dizer, a vontade do legislador devia ser inter- Ia através da mesma combinagdo de um objetivismo herment fom uma dedugio logica do sentido da sua vontade, para deduzir de gicamente, o sentido do texto legal. Observam-se duas operagdes de interpretagao ou dois niveis ana- liticos de interpretagao: no primeiro, a interpretagao do texto da I undo, a slador para, depois, real dedugao logica dessa interpretagdo para interpretar 0 texto da lei. Para a eragio, a Escola da Exegese atribuiu nome de interpretagdo Para a segunda operacao, atribuiu o nome de interpretagdo 16- feréncia, A referéncia comunicativa apontava para fora do a vontade do legislador, para posteriormente deduzir logi sentido da lei Assim, a recomendagio da Escola da Exegese a respeito da inter- pretagio juridica era bastante simples: interpreta-se apenas o sentido grama- do texto da lei, sem considerar todo o restante da realidade que interfere hesse ato de conhecimento. Sem considerar as tradigées historias, culturais, socials, politicas e também ideolégicas diante das quais a interpretagao sem- ‘submetida, E essa desconsideragdo no era apenas uma omisszo in- ‘do método de interpretagao juridica. Pelo contrario, essa desconside- cera expressamente recomendada. Os juizes estavam proibidos de sair estritamente gramaticais do texto da lei, para buscar em elemen- es ao texto os suplementos necessirios para uma interpretacio ‘ada, A interpretagio gramatical nio era apenas 0 método de in- ‘possivel na época, era também o método de interpretagao reco- io da chamada interpretagao logica. A referéncia , » sentido da logica de dedugdo da vontade do legislador para sup! iéncia dos elementos gramaticais do texto legal. Awnte seguro em termos de controle dos argumentos ¢ das decisdes possi ‘ns exageradamente redu ‘em termos de capacidade fbrangéncia normativa do fw sombra da vontade do legis 2 Rafael Lazzarotto Simioni Juridica. Hoje nés podemos criticar essa simplificagao demonstrando os gra- ves déficits de compreensio do dis importante instrumento de transformagao social. Mas na época, essa simplificagao era necesséria para tum direito capaz de servir aos motivos do : romper Com o passa do, com a multijurisd idade © com a \g80 dos virios direitos a izar também que nao havia contradig#o entre os da Exegese ¢ a ulilizago excepcional do recurso & Isso porque entre a interpretagdo gramatical (a refe- 8 (a referéncia & vonta- fundamentos da vontade do legislador réncia somente ao text ratava-se de pura logic sendo, portanto, 0 Essa técnica de interpretagao nao se distancia muito das priticas contemporineas de interpretacio restritiva, como acontece especialmente no campo do direito tributario ¢ do direito penal, Entretanto se sabe que toda essa construgio tedrica da Fscola da Exegese no é apenas inconvé para uma pretenstio de compreensio mais sofisticada e abrangente do direito, ‘mas sobretudo impossivel de ser realizada. [sso porque simplesmente no hit interpretago que parta de um grau zero de compreensi, Como nos ensinou -compreensGes que sio sempre historicas Esse tipo de interpretagio gramatical e Idgica recomendado pela la da Exegese s6 pOde ser sustentado sob a forma exagerad no sentido forte da expresso, Nesse tipo de metodologia problema, portanto, esté na ingénua utilizagao desse método de interpretagao no contexto da sociedade contemporanea. Pois apesar da sua sedutora simplicidade © seguranga, as questdes juridicas do mundo contem- porineo exigem muito mais da interpretagdo juridica do que apenas a expli- citagio do sentido gramatical das leis escritas ” Cf, HEIDEGGER, Mari, Ser e tempo. Parte I. 14. ed. Tradugdo de Mircia $i Cavalcante Schuiback, Petnipolis: Vozes; Sto Paulo: Universidade de Sio Francisco, 2005, especial mente p, 229 ¢ 35. Curso de Hermenéutica Juridica Contemporanea 8 1.3.2. Argumentagao Se a interpretagao juridica recomendada pela Escola da Exegese s6 Juridica, Toda a complexidade que iplesmente dispensados recer & argumentagio la Escola da Exegese, porque a tnica necessaria ja est previamente dada, de modo suficiente e exclusivo, Em termos pragmaticos, uma argumentagao juridica desse estilo de concepgio tebrica acontece nestes termos: a solugdo & x porque o art. x da lei x diz que a solugao é x e no outra, Uma argumentagio, portanto, exagera- simples e, ao mesmo tempo, muito potente em termos de conven- Isso porque o cariter circular e tautologico do procedimento lgico- argumentativo garante que nio haverd necessidade de justificar motivos ou 's superiores a propria circularidade € tautologicidade estabelecida pelo io argumento. Em outras palavras, a forga desse estilo de argumentagio {amente na circularidade dos fundamentos, cuja relagao & estabeleci- orma de uma justificago reciproca, onde a solugdo é x porque a lei a solugo & x ¢ no outra. A tinica saida argumentativa seria pergun- fundamento da lei que diz que a solugao € x e no outra, Mas essa esté previamente trancada pela prépria fundamentagio teérica da da Exegese: o fundamento da lei vem, como antes observado, tanto (ica quanto da filosofia jusnaturatista do iluminismo. Quer dizer, os sf esto argumentados. E exatamente nessa tautologia est a for- implicidade desse estilo de argumentagao. (0 argumentago sempre pode ser muito criativa, sempre E podemos supor, diante da auséncia de comprovagio 1esmo tempo em que se sufocava a argumentaedo juridica io sintatica do texto legal, também se a oxigenava fatos. Isso porque a diferenga entre , Sempre presentes em todas as teorias Togicas de subsungdo, permite um isolamento légico das {que trabatham com “4 Rafael Lazzarotto Simioni ‘questies de direito, mas nao permite esse mesmo isolamento sobre as ques tWes de fato. A det dos fatos sempre pode ser transbordada pela argu- iciando outros. E isso permit argumentagao juridica na Escola da Exegese era uma argum plorava bastante a configuragaio fitica dos acontecimentos, de modo a indu- 2ir a subsungao em uma ou noutra norma juridica. lustragio, 10 dos elemer pode ser definido ”, enquanto que os a-se de uma argumentagdo bastante comu no do direito penal dos dias de hoje. Podemos denominar esse estilo de argumentagao de de subsungao, quer dizer, uma argumentagao que, diante da Jj esta previamente argumentado com sui entdo niio resta outro espago para a argumentagao juridi Jjustificar uma determinada narrativa — e nao outra ~ a respeito dos fats. Importante chamar a atengio para 0 fato de que esse estilo de ar- gumentagiio se encontra bastante presente tanto fundamentagao das lides na cursos praxis forense quanto na justificagdo das respostas as a de diteito: de um lado, a simplificagao técnica do isso & assim porque o arti- 20 tal diz que € assim, e do outro, a complexificagio se chama subsungao, passa a constituir a dindmica e o sentido da argumenta- lo juridica. Nesse estilo de argumentagiio juridica ficam de fora, portanto, ar- gumentos importantes como a forga ou o peso ~ que sempre precisam ser como a religido, a cultura, as tradigdes historicas e também as finalidades projetadas para o futuro. Essa ordem de valores argumentativos tora-se su- pérflua lo da argumentacao juridica da Escola da Exegese. E nova- mente aqui ¢ importante destacar que esse estilo de argumentagao era neces- Curso de Hermentutica Juridica Contemporénes 8 10 pos-revolucionario. Mas € evidente- je. terpretagio na Escola da Exegese se restringia ao sentido I6gi- co-sintitico do texto legal, na sombra da vontade do legislador, com um estilo de argumentagzo ‘que se desenvolvia apenas na justificago da confi- ragdo dos fatos para uma adequada subsungao, logo se pode perceber que a “io juridica, nesse contexto, encontrava-se tio somente sob a altemativa ‘entre considerar provada uma ou outra narrativa possivel da situagdo fitica. ‘Toda a problematicidade da decisdo se restringia, portanto, & questo problema de decisio sobre apenas duas vs o variével “narrativa do fato” e a varidvel “texto legal apl ‘como problema de decisio apenas a escolha ~ € ‘a narrativa x ou a narrativa y do fato premissa maior a extavajusificada p idamentagao tebrica da Escola da ; iva da narrativa adequada 0 de explicagio pode 10 processtal” poderia ser surpreendida por casos ~ vam determinadas narrativas a respeito perfeitamente nos elementos sintaticos poderia surpreender la subsungdo com a apresentagio na dde uma premissa me~ Yencialmente comprometedora da operagao silogistica. Em termos esse problema da decisio juridica poderia ser denominado, como ., de casos dificeis. Mas na época nao havia essa compreensio do di- legais. Com efeit lo de potidez, preferimos no citar os autores que continuam a utilizar esse ‘da decisto jridiea do Sdeulo XIX. 4 Rafael Lazzarotto Simioni reito. E por esse motivo, esse tipo de a e886 Problema de decisio nao era visto Propriamente como um problema de decisio, mas sim como um problen nas aparentes, p. exclu pondia também ao problem: ou, em nossa perspectiva, diante de uma da narrativa a sintaxe da lei ou no nor ~ a decisio poderia recorter a ¢ dogmatizados, como a analogia, em um primeiro momento, e os ios sgerais, em tltimo caso ~ ou, em nossa perspectiva, a decisio poderia recorrer 4 suplementos logicos (analogia) ou a suplem: vendentes ao sistema de refer zada através di milaridades va provada e narrativa esperada pelos element 08 do texto legal. Ji jos gerais, que era denominada analog: somente a em timo easo, quando ndo era possiveljustiicar a uti- ja legis lizagao da ai ese possivel era a situago da deciso constatar la- nem o uso da analogia legis, tampouco o recur- 8e, a recomendagio da Escola da Exegese era a \damento juridico para a pretensio. Com unas e no conseguir ji so a analogia 1.4 CONSIDERAGOES FINAIS Hoje nés podemos observar que Exegese a incapacidade de inada subsungdo era resolvida com a improcedén Podemos identificar uma certa tendéncia a ago dristica das Digesta:escritos acerca do Direito, do Pensamento Jurdico, Coimbra: Coimbra, 1995. v. 2, p. 189, Curso de Hermenéutica Juridica Contemporanea a 10. Qualquer complicagao ja E pode-se supor também famente, uma resposta do formas de interpretagio, argumentagio € poderia ser vista como i por incapacidade de (0, tomnava-se mais faci Trata-se de um estilo bastante conservador de decisio juridi Apesar de estar no contexto pés-revolucionario francés, a orientagdo da deci- sio ao texto da lei impede que a argumentagao possa produzir justificagdes quer para o futuro, A iin nna sombra da vontade do legislador que editou a lei. Argumentos de pio, como so aqueles necessirios de justificagdo com base na mor valores éticos, nas tradigdes culturais e ete., nao tinham lugar nesse estilo de decisdo juridica. Como também nao tinham lugar os argumentos de conse~ quéncias, orientados para um prognéstico juridico dos possiveis efeitos co- laterais da decisio. Entretanto, é importante reconhecer ¢ admirar 0 esforgo de cientifi- cidade da Escola da Exegese. Especialmente porque a decisio poderia no decidir (nom Tig da proibigdo do diferimento da deci cam-se diante de situagdes nas quais & necessario criar o direito. Portanto, bem mais facil para a Escola do Direito Livre ~ uma corrente critica a cola da Exegese — resolver esse problema, porque para ela se poderia de- cidir qualquer coisa, segundo a consciéncia do juiz, Mas a Escola da Exezese procurou constituir eritérios légicos, fortemente dogmatizados, de modo a itar qualquer decisio construtiva do direito. E cumprir assim com um dos Jemas da Revolugdo, segundo 0 qual o juiz ¢ tio somente a boca da lei ‘Traduglo de A.M, Hespanha benkian, 2003. p. 417), 8 Rafael Lazzarotto Simioni estritamente formal do direito, diante da qual a materialidade da justiga ou da corregao moral ficavam afastadas. E assim a Escola da Exegese conseguiu construir um sistema fechado do direito, capaz de garantir graus bastante altos de seguranga formal e si produgio de graus igualmente dade silenciada Quanto mais seguranca formal, mais inseguranga material se pro- duz, B qui icidade cognitiva, mais complexidade fica silencia- da, sufocada pela forma estritamente sintatica do texto da lei, Com efe formalismo desse estilo de decisio desempenhava satisfatéria seguranga simplicidade formal do direito, mas exatamente em razio disso, produzia também muita complexidade ¢ inseguranga material. Isso porque, diante da simples regra do texto legal, qualquer um ja poderia planejar estrategica- ‘mente seu comportamento de modo a evitar léncia da lei, fazendo as- sim creseer a complexidade na dimensao pratica, silenciada pelo formalismo teorético do diteito. Nos dias atuais, pode-se constatar a presenga do estilo de interpre- tagao, de argumentagao ¢ também de d ficagdo juridica da seguranga e da simy apenas uma das 3 i vvineulante, com (os de inseguranga materi € de complexi- ‘Ao contrario de uma grande parte de importantes jurista podemos coneluir que a Escola da Exegese teve seu fim c em 1899, Claro que ela teve seu di ante das exigéncias da sociedade para adaptar-se is constantes transformagdes ‘le modelo de Estado que hoje nds cha- Curso de Hermenéutica Juridica Contemporanea 9 pretensio de suficiéneia e exclusividade dos textos tomando nao s6 scessiiia, a introdugo P*, Mas ela subs produz fortes in- Ges de interpretago, argumentagdo e decisio. Com 0 declinio da Escola da Exegese, pelos motives acima salien- tados, foi assim aberta a porta para a Escola do Livre, na qual 0 texto da lei era a fonte principal do direito, mas no mais a fonte exclusiva e sufi- E essa exagerada dade deciséria 56 seria corrigida posteriormente, st6rica e da Jurisprudéncia dos Interesses, até chegarmos a teoria pura do direito de K sen e at at rsidade de perspectivas contemporaneas que se convenci nou chamar de p6s-positivismo.

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