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Poesias Negras - Do povo buscamos a fora (poeta angolano AGOSTINHO NETO)

"No basta que seja pura e justa


a nossa causa.
necessrio que a pureza e a justia
existam dentro de ns.
Dos que vieram
e conosco se aliaram
muitos traziam sombras no olhar
intenes estranhas.
Para alguns deles a razo da luta
era s dio: um dio antigo
centrado e surdo
como uma lana.
Para alguns outros era uma bolsa
bolsa vazia (queriam ench-la)
queriam ench-la com coisas sujas
inconfessveis.
Outros viemos.
Lutar para ns ver aquilo
que o Povo quer
realizado.
ter a terra onde nascemos.
sermos livres pra trabalhar.
ter pra ns o que criamos
lutar pra ns um destino uma ponte entre a descrena
e a certeza do mundo novo.
Na mesma barca nos encontramos.
Todos concordam - vamos lutar.
Lutar pra qu?
Pra dar vazo ao dio antigo?
ou pra ganharmos a liberdade
e ter pra ns o que criamos?
Na mesma barca nos encontramos.
Quem h-de ser o timoneiro?
Ah as tramas que eles teceram!
Ah as lutas que a travamos!

Mantivemo-nos firmes: no povo


buscramos a fora
e a razo.
Inexoravelmente
como uma onda que ningum trava
vencemos.
O Povo tomou a direo da barca.
Mas a lio l est, foi aprendida:
No basta que seja pura e justa
a nossa causa.
necessrio que a pureza e a justia
existam dentro de ns."

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