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Nas palavras do processualista da Faculdade, Prof. Felipe Martins Pinto, abandonado o velho clichê pandectista da
“relação jurídico processual”, o processo atualmente só pode ser entendido como espécie de procedimento que se
realiza em contraditório. Há fundamento para que um processo seletivo contradiga sua própria essência?
A resposta: não existe fundamento.
A defesa de tese existe para a exposição da relevância e pertinência do tema defendido. Qual seria o fundamento
de existência de uma etapa denominada defesa de tese, na qual é proporcionado aos candidatos que defendam
inclusive a adequação do tema escolhido, se a banca puder ignorar a etapa e rejeitar a tese sumariamente?
A resposta: não existe fundamento.
Numa Academia, além dessa função da defesa – que, apesar de óbvia, até alguns doutos Professores, de andanças
internacionais, têm dificuldade em apreender – é preciso compreender que sua necessidade ultrapassa a
meramente imposta pelo princípio do contraditório e representa verdadeiro pressuposto de legitimação científica
da tese. Na medida em que propicia a resistência à refutação, a defesa garante o caráter científico da teoria. Sem
defesa, não há refutação; tampouco, ciência. O pensamento de Popper, um austríaco de expressão britânica, é a
base da metodologia científica moderna. Da Faculdade de Direito à Universidade de Frankfurt, é consenso que a
pesquisa científica só avança na medida em que se tenta mostrar sua falsidade. Apenas com discussão, ou seja,
contestação à refutação, é possível declarar o caráter verdadeiro – ou falso – de uma tese.
É nesse sentido popperiano que a Resolução 15/1996, sobre concursos públicos para carreiras do magistério
superior na UFMG, determina que a pertinência do trabalho em relação ao tema proposto pelo edital do concurso
deve ser critério analisado posteriormente à defesa da tese, para que possa haver refutação. O candidato tem o
direito de expor e justificar seus estudos antes de qualquer conclusão advinda da comissão examinadora. Banca e
candidato, juntos, buscam alcançar uma teoria que resista à refutação: científica, segundo Popper.
Art. 28 - A defesa de tese consistirá em exposição oral sobre aspectos relevantes de trabalho original e inédito realizado pelo
c candidato, seguida de argüição pela Comissão Examinadora.
Parágrafo único. Na defesa de tese, a Comissão Examinadora terá em vista avaliar os seguintes aspectos, entre outros:
I - a relevância e pertinência do tema para a área de conhecimento considerada, bem como a contribuição científica,
c técnica ou artística do trabalho apresentado pelo candidato;
II - a contemporaneidade, extensão e profundidade do trabalho apresentado, bem como a pertinência, adequação e
c atualidade das referências bibliográficas;
III - a capacidade do candidato de expor suas idéias com objetividade, rigor lógico e espírito crítico.
Vê-se que a decisão da banca de rejeitar sumariamente as teses dos candidatos antes da defesa – não obstante
privar o certame de cientificidade – é ilegal, pois contraria a resolução da Universidade que disciplina os concursos.
Aquele ato não era de competência da banca; ao menos não naquele momento.
Na inexistência de verdades absolutas, ou, para o gosto dos idealistas, na impossibilidade de se alcançá-las, a
racionalidade cientifica, diz Popper, surge apenas a partir da existência de um espaço para a crítica das teorias. Não
há um conceito universal “infalseável”.
Ou, pelo menos, a Popper e a nós não foi revelado. Mas, para alguns poucos escolhidos, uns doutos ilustrados,
parece que sim; A Verdade “iluminou os olhos de suas almas”. Esses afortunados do destino, ou melhor, para que
não se zanguem, honrados pela longa ascese no caminho d’A Verdade, detêm os conceitos; detém as verdades.
Não há o que se criticar. O Direito Penal é o Direito Penal. Não se enganem; isso não é uma tautologia. É uma
revelação que prescinde de contestação. É a verdade que esses suntuosos doutos, com tanta modéstia, nos
ensinam.
Não há o que refutar. Não há o que defender. O Direito Penal é o Direito Penal. Abençoados sejam esses doutos;
verdadeiras Sibilas do Direito.
Pobre de nós, ignorantes, que vivemos na escuridão da caverna, onde nada é absoluto, onde tudo é incerto. Em
nossa inocência, vemos absurdo ao nos depararmos com a ofuscante verdade: “O Direito Penal é o Direito Penal”.
Zaffaroni, outro pobre que também vive nas sombras da caverna, ilude-nos, ao definir a expressão direito penal
como tanto o conjunto de leis penais (dogmática jurídica), quanto o sistema de interpretação desta legislação
(saber do Direito Penal). Para ele, nenhuma ciência, muito menos a jurídica, está livre da hermenêutica. A
dogmática jurídica se insere num horizonte histórico de interpretação que a compõe e modifica. Não há norma,
para além desse horizonte. Não há lei sem com-texto. O saber do Direito Penal englobaria o estudo do ser
(ontologia), do crime (criminologia), e, evidentemente, da história do direito penal.
O autor argentino, na sua ignorância, não vê a unidade na multiplicidade. Não consegue perceber que há
metalinguagem; que a dogmática jurídica existe em si e, quem sabe, para si, para além das meras sombras de sua
caverna. Seus olhos não estão preparados para serem iluminados pela Verdade: O Direito Penal é o Direito Penal.
Que os doutos o ajudem.
Deus salve os doutos!
Ou, deles nos salve...