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HISTORIA DA IMPRENSA NO BRASIL cmd UM os MAIORES nomes da cultura brasileira do século XX, Nelson Werneck Sodré (1911- 1999) fez especialmente para esta 4". edigGo um novo capitulo sobre © seu pensamento a respeito da atual imprensa no Brasil. Apés mais de 15 anos de auséncia no mercado, “Hist6ria da Imprensa no Brasil vem preencher a necessidade de Profissionais e estudantes em suas pesquisas, estudos, ensaios, teses e trabalhos dos mais diversos. E, certamente, também a curiosidade de muitos sobre a trajetoria dos 6rgios de imprensa que marcaram, fizeram e registraram @ Histéria do Brasil. il ll ac iil = = az Ss 5 = g = oe S om mn = a = cs = a — = = So > 5 Fe a > = o ao B al ISTORIA A IMPRENSA ° BRASIL Nelson Werneck Sodré A morte de Nelson Werneck Sodré, no inicio deste 1999, nao o deixou ver esta 4*. Edigao de “A Historia da Imprensa no Brasil”, para a qual fez um capitulo espe- cial, que agora é publicado ante- cedendo a obra que pesquisou e escreveu durante cerca de 30 anos. E o seu pensamento sobre a atual imprensa brasileira. Um capitulo que escreveu por solicitagao de seus editores, uma solicitaco que © entusiasmou e mesmo o empol- gou, por, mais uma vez, lev4-lo a se debrucar sobre uma obra que ra.asua menina dos olhos. Assim, ele aguardava esta 4*. Edicéo com ansiedade. Agora novamente a disposigao do Ppublico, apés mais de 15 anos de auséncia no mercado, “Hist6ria da Imprensa no Brasil” vem preen- cher a necessidade de profissionais € estudantes em suas pesquisas, estudos, ensaios, teses ¢ trabalhos dos mais diversos. E, certamente, também a curiosidade de muitos sobre a trajetéria dos érgaos de imprensa que marcaram, fizeram €registraram a Historia do Brasil. HISTORIA DA IMPRENSA NO BRASIL HISTORIA DA IMPRENSA NO BRASIL 4°. Edicaio Com capitulo inédito MAUAD Copyright @ by Nelson Werneck Sauté. 1998, # Biigao: 1999 1 reimpressi; 2002 reimpressso: 2004 ¥ seimpressi: 2007 Diets desta edi reservados MAUAD Eons Lila Ra Joaquin Sis, 98, ° andar Laps — Rio de Ianeto — RJ — CEP. 20241-110 Tel: (21) 3879.7822 — Fans 21) 3479-7400 wy. UFRRJ - NOVA IGUACU Registro Data # | 04 | 40 Fg: _ Ex: YON. Ae. 2a0 fbr: Origam; Processo; F134] (Cir-Beast. Crtatocacho-na-Faxte Sixorearo Nacional. bos Erion DE LivRos, RU sean 4B Sodté, Nelson Werneck, 1911 + 1999 Histéia da imprenss no Brasil / Nelson Werneck Sodré 4. (tsi) ~ Rio de Janel : Mavad, 999° Incl bibliog ISBN 85.85756-88-8 1 prensa - Brasil - tori, 1 Tilo, 99-0810 cpp ovat CDU O70:81) (051) Nelson Wemeck Sodré costumava nos cobrar: —E 0 Historia da Imprensa? Quando sai? Acabéiramos de publicar o que seria 0 seu titimo livro em vida, “Tudo ¢ Politica”, uma coleténea de ensaios organizada por Ivan Alves Filho, reunindo 50 anos de seu pensamento, ¢ haviamos programado a 4. Edigao de “Hist6ria da Imprensa no Brasil" para langamento na Bienal Inmternacional do Rio de Janeiro, quando ele completaria, em 27 de abril 88 anos de idade. Ele, infelizmente, nfo a veria. Mas assim 0 fazemos hoje, em homenagem a este grande escritor que, sem diivida, foi dos maiotes historiadores do Brasil. Das ts edigbies anteriores de "Historia da lmprensa, ele nos disse que a terceita, da Martins Fontes, era a melhor, ea clogiava. f assim ue também como uma homenagem ao eseritor, © com a aulorizagio do Edior, Waldir Martins Fontes, a quem agradecemos ~ sem a qual, por imprevistos ocorrides, dificilmente respeitarfamos nosso cronograma =, 4 reproduzimos nesta 4. Edigio, logo apds a publieagio de um dos ‘ltimos inéditos deixados por Nelson Werneck Sodré: um capitulo novo, que ele escteveu especialmente para este livro, sobre os seus pensamentos a respeito da atual imprensa no Brasil Esta obra uma de suas preciosidades. Como disse, em entrevista, jomalista Manya Millen, do "Prosa e Verso" do jornal Globo, “hé livros que se fazem em cima da perna, € outros que demoram muito imais". Este, enfatizava, ele havialevado cerca de 30 ans para pesquisar eescrever assim que, com o orgulho de estarmos novamente colocando & disposigfo dos brasileiros uma de suas melhores histérias, publicamos 44+ Biglo de “Histéra da Imprensa no Bras Os Eorrores O pensamento de Nelson Werneck Sodré sobre a imprensa ¢ os meios de comunicagdo de massa no Brasil, nos tltimos an08.....0.0nn seen EX Introdugiio A imprensa colonial © pecado do liV10 sss 9 O sacrilégio da imprensa ... . 16 A imprensa aulica 29 As condigdes materiais 35 A imprensa da independéncia As condigdes politicas .. A independéncia ¢ a liberdade...... seseccctececeeee AT A perseguigao a imprensa.. © pasquim A luta pela liberdade O avango liberal. O sete de abril. A luta politica . 112 ..120 O regresso conservador ... 128 A imprensa praieira 136 Caracteristicas do pasquim 1155 Agonia do liberalismo 174 A imprensa do Império A coneiliagio 181 Agitagio.. 201 As reformas.... 223 A grande imprensa Esbogo A empresa Imprense e literatura Imprensa proletéria Imprensa politica .. A imprensa burguesa Accrise da imprensa Condigdes gerais..... O controle da imprensa Bibliografia indice dos jornais citados indice onomistico... VIII O pensamento de Nelson Werneck Sodré sobre a imprensa e os meios de comunicagao de massa no Brasil, nos ultimos anos Da época em que se encerra a anélise da imprensa brasileira constante deste livro aos nossos dias, a histéria — a universal, a brasileira, a da imprensa — acentuou mudangas j& em processo (tratadas, portanto, até a 3+, edigdo) e mudangas de que ele nao tratou. Convém, pois, apontar essas ‘mudangas e situd-las no amplo quadro da época em que vamos vivendo, ‘Ao mesmo passo, e com relevaneia, outros meios de comunicagao assumiram papel destacado e competiram com a imprensa, particularmente aqueles que, utilizando 0 som e a imagem, alcangaram ampla difusiio & preencheram espagos que a imprensa jamais ocupout em pais como o nosso, ‘com alta percentagem de analfabetos e baixo poder aquisitivo caracterizando largas camadas do nosso povo. De alguns decénios a esta parte, tomou-se comum a referéncia, por todos os motivos importante, a metas de massa, tratando-se de vefculos de comunicagdo. & preciso, desde logo, compreender eaceitar que a imprensa niko ¢ meio de massa, em nosso pais. Como, aqui, por imprensa entende-se Jornal e revista, é facil constatar que esses meios ndo sio de uso habitual ‘em parcela numerosa, majoritéria mesmo, do nosso povo. Poderfamos, Pois, afirmar, a propésito de mudancas na imprensa brasileira, a partir do momento em que se encerrou a historia neste livro, que a mais sé IX profunda entre elas residiu na amplitude ¢ aleance dos meios de massa no Brasil, Amplitude ¢ alcance que a imprensa nfio acompanhou. A primeira mudanga, assim, consiste na defasagem entre o desenvolvimento da imprensa ¢ a dos chamados meios de massa, em detrimento daquela. ‘A imprensa, como jé ficou analisado aqui, nasceu com o capitalismo e ‘acompanhowo seu desenvolvimento, Ela espetha, atualmente, a ampla crise ‘que caracteriza a atual etapa do avango do capitalismo. Etapa bem definida, alii, pelo extraordindrio surto e influéneia dos referidos meios de massa, ‘Como estamos as vésperas ce avango tecnolégico de proporgdes inéditas, esse terreno, € de crer que profumdas mudangas serio operadas nas atividades dos meios de comunicagdo, sempre em detrimento da imprensa, Mas, se imprensa nasceu com o capitalismo e acompanhou o seu avango, esse processo assinala, no Bras, tragos particulares, estreitamente ligados ‘205 uspectos gue o avango capitalista apresentou aqui. Aquele que mais se destaca, a0 nivel dos fatos, ¢ 0 que assinala a ferenga, de qualidade ¢ de fungao, entre a pequena e média empresa, que definiu o inicio da imprensa industrial, no Brasil, ¢ a dimensao de grande ‘empresa que define, hoje, um jornal eu mesmo, em menor escala, uma revista de grande circulagao. Na proporgao e no ritmo em que se desenvolvem as relagdes capitalistas aqui, desenvolveu-se a empresa Jomalistica, A oficina de um grande jornal moderno, no nosso pais, € inteiramente diferente do que era hi meio século, A propria redacio & diferente, avultando nela o papel daqueles que lidam com o aparelhamento tecnico. © desenvolvimento da imprensa, na fase atual de crescimento das 1elagdes capitalistas em nosso pais e pelo fato de esse avango ter concorrido para o aparecimento, a fingdo a hegemonia dos meios de massa levou 20 quadro, que logo se tornou evidente, de sera empresa jomalistica, na maioria esmagadora dos casos, a iniciadora ¢ impulsionadora desses meios de massa, a comegar pelo ridio, culminando com a televisao, Gerou-se, aqui, portanto, ‘oconglomerado empresarial agrupando jornal — revista, em alguns casos — eemissora de rddio e de televisio. Se esse no foi o quadro geral, deve- se a um trago que jé assinala a passagem da imprensa a segundo plano: a menoridade dos jornais no quadro de avango do capitalismo brasilgiro, isto é,a ineapacidade financeira de empresas de jornal assumirem — sempre esforganco-se para isso — a dimensto de empresas de televistio, O casdier concentrador do avango do capitalismo brasileiro, consideravelmente x acentuado com a etapa neoliberal em curso, impediu que se generalizasse a composicao de agrupamento de jornal e televisio, em alguns casos. A concentragao de poder, nos casos em que esse agrupamento ocorreu, foi extraordinariamente agravada e assinalou um trago novo no desenvolvimento da imprensa brasileira. O reflexo e conseqiiéncias desse trago estdo evidentes, hoje. ‘Oprocesso de concentragao teve inicio, desde logo, no campo da propria prensa, tomada isoladamente. HA muitos anos no acontece, entre nds, fo aparecimento de um grande jornal. Muito a0 contrério, © niimero de grandes jornais reduziu-se acentuadamente. Hoje, sfo poucos os grandes jjornais, no Brasil, como se sabe. E ha, até, nesse processo de concentragio, wequivoco teor destrutivo, como nos casos de grandes jornais que atingiram fo centendrio antes de desaparecerem. Outros, também centenarios, continuam a circular, mas no sio mais do que sombras do que foram. Esse quadro novo, sob muitos aspectos desolador, decorreu, sem diivida, do fato de que um grande jornal, hoje, é uma empresa capitalista de grandes proporgaes. Nao esté mais alcance de qualquer detentor de capital, exige capital de ‘vulto. Para isso concorre, naturalmente, oavango da tecnologia de imprensa, quando a oficina de um grande jormal parece uma fabrica, Jé nem se chama tnais oficina, a rigor, Esse avango tecnolégico obrigou, por outro lado, que as empresas jornalisticas se empenhassem em investimentos acima de suas possibilidades normais. A situagao financeira delas, por isso mesmo, & periclitante, em casos conhecidos. Se fossem empresas de outra érea, ¢stariam liquidadas pelas razdes de mercado, Razdes que elas defendem com ardor infeliz, todos os dis, atreladas ao neoliberalismo. Como as do condenado que elogia o dono da corda em que ser enforcado, Bem disse alguém que o capitslismo tem razSes que a razio desconhece. Seria longo continuar a analisar aqui a relag2o desigual entre aimprensa © 05 meios de massa, mesmo quanclo a andlise fosse limitada 20 quadro brasileiro. Cumpre-nos, apenas, tratar aquilo que ficou limitado a imprensa, neste iiltimo meio século e em nosso pais. O primeiro sinal a assinalar as ‘mudangas ocorridas esteve, como jé foi mencionado, no desaparecimento de numerosos jomais ¢ revistas, Desaparecimento que acompanhiow, na rea da imprensa, 0 processo de oligopolizacao ocorrido na economia, Nossa economia ndo apenas sofreu da tendéncia & concentragao, que foi dominante na érea econdmica mundial, aprofundando a fisionomia de um parque XI industrial dominado por pequeno nimero de empresas, cla destacou, nesta iltima fase, o oligopétio como forma dominante. interessante frisar contraste aparente e paradoxal entre a politica antimonopolista apregoada pelos pretensos reformadores ¢ a acentuagao do papel e espaco dos oligopélios. Nao espanta, portanto, que esse proceso — o de concentrar as reas produtoras em pequteno niimero de empresas — atingisse a imprensa que, conforme foi sempre apontado, acompanha de pesto o desenvolvimento do capitalismo no Brasil. O nlimero de grandes jornais, entre nés, decrescet consideravelmente, Ha, hoje, aqui, reduzido nlimero de grandes jornais. A razio essencial desse fenémeno—a formagio de oligopélios também na imprensa— vem do carter de grande empresa assumido pelos grandes Jomais. E € por isso que a nossa época no assiste ao aparecimento de novos jornais, ¢ nilo apenas devido 8 fungdo menor que a imprensa desempenha na fase em que dominam os chamados meios de massa Continuam a existir, por vezes de forma proeminente, exigéncias isoladas no sentido de fundagao de novos jornais. Mas, mesmo pessoas ¢ entidades ‘bem dotadas de meios materiais para enfrentar a tarefa logo desistem desses propésitos. Uns ¢ outros precisam de novos jornais ¢ tém condigdes para rié-los. Cedo, porém, compreenderam que é muito mais fécil pagar a ifo dos existentes do que langar novas empresas do ramo. E aqui convém lembrar que o vocdbulo ndo é aqui empregado nocomum sentido pejorativo, mas apenas mencionado pela necessidade de constatar 4 realidade, Essa realidade aponta diferenga essencial no exercicio da dominagao: antes, 0 n03s0 capitalismo dependente era compelido, porrazbes externas e por razdes internas, a efetivar de quando em vez intervensdes armadas para impedir mudangas que ameagassem os interesses dominantes. Dai a sucessio de golpes militares, a partir do irrompimento da chamada “guerra fria”. Sempre que, no ventre da sociedade, emergiram manifestages que, em seu andamento, amezgavam a “ordem”, isto é, a estrutura vigente nessa sociedade, surgia 0 pronunciamento militar, destinado a restabelecer © statu-quo. Hoje, isso nfo precisa acontecer e a nova politica importada mostra mesmo acentuada aversio aos pronunciamentos militares, de que tanto se serviu. . Qual a razio dessa mudanga, aqui mencionada porque afeta profundamente o papel e fungdo da imprensa? A mudanga resulta do fato de que a dominagio se exerce, dispensando 0 uso da forga, pelo exerci8io da propaganda, do convencimento. E, para isso, a imprensa é importante XI Claro que subordinada a0s meios de massa, acompanhando o ritmo ditado por eles. Na expansio colonialista, cujo auge ocorrew nos séculos XVII e XIX, os meios de comunicagao entao existentes convenceram os povos colonizados de que isso ocorria por razdes diversas. Bles eram compelidos, por convencimento mais do que pela coagao, de que nao tinham outra saida: eram colonizados por uma espécie de fatalidade. Dai, nessa fase histérica, preconceitos de duragao secular: o preconceito de raga demonstrava aos africanos que eles estavam predestinados, como raga “inferior”, no caso dos negros, a trabalhar para os senhores; 0 preconceito de clima buscava convener muitos povos de que as regiGes tropicais, em que eles viviam, no podiam sediar “civilizagdes” adiantadas, privativas dos que viviam em climas frios; e assim por diante, Tratei disso num livro chamado A ideologia do coloniatismo. Sempre os dominadores asseguravam a todos 68 que soffiam o dominio de que deveriam aceitar tranqililamente esse amargo destino, por inelutavel. ‘Como, hoje, procuram provar que a submissfo ao neoliberalismo é uma inexoravel fatalidade, além de ser “moderna”. Os embustes histéricos apenas mudam de forma. E a imprensa desempenha nesse proceso de deformagio papel importante, coadjuvando os meios de massa, Quem controla a imprensa e os meios de massa nao precisa mais de golpes militares. E 0s militares, por isso mesmo, ficam como que em disponibilidade. Prega-se até a extineao deles. A dominago“moderna”esta ‘empenhada em seu desaparecimento . Nas éreas dominadas, evidentemente. No amplo quadro de mudangas do nosso tempo, a imprensa assume fisionomia nova. Antes, como se verd no texto deste livro, as fases se diferenciavam: a fase inicial era de imprensa artesanal, que tivera inicio com o alemao que multiplicou o texto biblico; a fase seguinte seria a da imprensa industrial, quando 0 aparethamento dos jornais apresentou proporgdes desmedidas, com grandes oficinas em funcionamento acelerado, Na forma, havia outra diferenga: a imprensa artesanal vivia da opiniéo dos leitores ¢ buscava seivi-la; na imprensa industrial jé isso ndlo acontecia, 0 oral dispensa, no conjunto, a opiniao dos leitores e passa a servir aos anunciantes, predominantemente. A diferenga é progressiva e existe uma telagao dialética entre a imprensa e o piiblico. As proporedes assumidas Pela relagdo citada variam com o tempo e 0 meio, como é normal, Assim, a diferenga entre a propaganda veiculada pela imprensa entre a @poca estudada neste livro ¢a época atual fica vineulada ao ritmo de avango XI do capitalismo brasileiro. Aquilo que conhecemos coma publicidade e que assume, em nossos dias, grande importancia, condiciona, agora, 0 desenvolvimento da imprensa em sua fase industrial de acelerado crescimento capitalista. Para a imprensa atual, a importancia desse crescimento esté na sua relagio com a opinio que a imprensa veicula Essa opiniao estd inteiramente distante da opiniao do piblico de leitores. A publicidade é a rainha da imprensa, hoje. Isso porque essa relaco esta vinculada a uma outra relago: antes, 0 jornal, ou revista, era empresa pequena oumédia, veiculando propaganda de empresas médias ou grandes, hoje, o jornal, ou revista, é também uma grande empresa. Quando preserva realga os valores da grande empresa, est@ realgando os valores do proprio jornal, ou revista, Nao mais se limita a servir; serve-se também. A publicidade atende a um conjunto de interesses a que o jornal, ow revista, se incorpora. De qualquer maneira, o papel da imprensa, hoje, é muito menos importante do que o papel dos meios de massa. No Brasil, para passar ao particular, a diferenga pode ser aferida por casos concretos relativamente recentes: em 1954, jornais e radio, habitualmente consorciados empresarialmente, montaram uma “operagao” que levou o presidente Vargas ao suicidio, praticamente j4 deposto, em trés semanas, entre 5 e 24 de agosto; em 1964, dez anos depois, jornais, radio ¢ televisao, trabalhando unidos para a tarefa, levaram o presidente Goulart ao exilio, j4 deposto, em “operag4o” realizada em menos de um més. Os dois editoriais de primeira pagina do Correio da Manha, do Rio de Janeiro, assinalaram, nos iiltimos dias de margo, os termos finais da ofensiva. A imprensa, acolitando 0 radio, no primeiro caso, ¢ acolitando 0 ridio ea televisio, no segundo, foi a alavanca que destruiu dois presidentes eleitos. Apelidar de democritico um regime em que isso se tornou possivel 4, evidentemente, perigoso eufemismo, Sempre que aparece um meio novo de comunicag%o—eisso acompanha © desenvolvimento do capitalismo — presume-se 0 desaparecimento dos que entio existem. Assim aconteceu com o aparecimento do radio e, depois, com o aparecimento da televisfio. Na verdade, o novo meio de comunicagio importou em mudanga significativa na area mas nfo importoy no desaparecimento dos entio existentes. Aconteceu, certamente, 1ma diferenciagio de tarefas, de acordo com as caracteristicas dos novos meios, de penetrago maior e mais rapida do que a imprensa. E isso correspondeu, sem divida, a mudangas também significativas no papel da imprensa. Todos XIV cos meios, os de massa e a imprensa, trabalham com a informago, no aspecto de noticia, mas operam de maneiras diferentes. A informagio instantanea, fomecida pelos meios de massa, deve ser completada pela informagio calcada na andlise, mais lenta mas presumicamente mais profunda. De qualquer mancira, todos esses meios, na sociedade capitalista, comercializam essa mereadoria especial que € a informagio. Sio meios que vendem informagao: quem controla a informagao, controla o poder. ‘A imprensa brasileira, hoje, quando o século XX se aproxima do fim, define-se pelo niimero reduzido de grandes jornais e pela oligopolizagao Curiosamente, 0 niimero de revistas aumentou ¢ se caracteriza pela especializagao, na maior parte dos casos. A especializagzo no pila visado por cada uma define a fisionomia da revista, mas 0 fato € que a especializagdo exclui a competéndia com os jomais, aléi da periodicidade, queé diferente entre jomaise revistas. Nos dois casos, o fundamental reside no fato de que a indéstria grifica apresentou enorme avango, em nosso pais, Esse avango no campo da tecnologia foi ainda mais acentuado no caso dos grandes jornais. Nenhum deles chegou, entretanto, a se definir como nacional, quanto ao alcance territorial, dimensio que ridio e televisio atingiram, nas proporgies que conhecemos. Do ponte de vista da coleta de informagdes, particularmente as dos exterior, os grandes jornais se assemelham, todos servindo-se das agéncias intemnacionais de noticias. As emissoras televisiio recebem, quase todas, (05 mesmos filmes, relacionados aos fatos do exterior e isso mostra como 08 nossos grandes jornais so dependentes das agéncias internacionais de noticias, de que, em alguns casos, procuram se emancipar, mantendo correspondentes no exterior, primeiro sinal de fuga a essa dependéncia. Do ponto de vista da matétia informativa que a imprensa brasileira fornece, hoje, os jomais nao apresentam diferengas essenciais em relagao aos do ‘meio século anterior. Na estrutura de um jornal, antes, a divisio era clara, ‘quanto ao pessoal; hoje, ela nao é clara. Antigamente, um jornal, mesmo um grande jornal, dividia o pessoal em trés categorias: diregdo, redagio e oficinas. A diregao exercia a propriedade do jornal, com todos os poderes (salvo nos periodos ditatoriais); a redagio estava ja emancipada da linguagem literdria da fase artesanal, j4 se firmara a diferenga entre literatura e jotnatismo, particularmente na linguagem, e os jomalistas [4 apresentavam fisionomia profissional. Passara 4 fase retratada por Lima Barreto no Asetias Canvinhat. Hoje, jornalista & XV uma coisa, ¢ literato € outra coisa, A mudanga importante foi operada no nivel das oficinas: elas no comportam mais 0 aparelhamento grafico diversificado anterior, em que reinava o linotipo. A oficina, nome em desuso, resumne-se em giganteca impressora que substituiu a rotativa de ‘outros tempos. Ela fabrica 0 jor istribuigko. ‘Nao so operiins os qu engenheiros. O trabalho grafico residual Antes, era possivel diseriminar assim 0 pessoal da imprensa: a direg0 cera recrutada na burguesia; a redago, na camada social média ou pequena burguesia; ea oficina, no proletariado, Desaparecida a oficina tradicional, © proletarindo esti exctnido da imprensa. A redagio obedece a uma hierarquia nova, mais rigida, povoada, interna e externamente, daqueles que ingressam na profissao através de cursos académicos e que, por isso mesmo, demandam estégios para a pritica do mister. De qualquer forma, a figura mitica do jornalista foi extinta. Claro que no sentido e com a significagdo antiga. Nao cabe mencionar se ha grandes jornalistas, simplesmente a atividade do jornalista esta em extingao. Ganhou espago a reportagem, entretanto, ¢ nessa érea é que aparecem agora valores intimamente ligados 4 imprensa moderna, A imprensa de hoje, e é de esperar que isso seja transitério, no é elaborada por jomalistas e apresemta um aspecto singular; os grandes jornais de hoje tém fisionomia inteiramente diversa de antes, Uma das diferengas esté na impressionante uniformidade de posigdes, em cada um dos jomais, eno na diversidade. A grande imprensa brasileira ‘opera, na fase atual, uma tarefa que nunca antes desempenhou: a de deformar arealidade, ou ade escondé-la, No momento, por exemplo, todos os grandes Jomais apdiam o neoliberalismo adotado pelo governo brasileiro, uns com mais veeméncia, com menos veeméncia outros. Tais jomais perderam aquilo que se conhece como credibilidade, o que eles informam nfo merece confianga. Existe profundo divércio entre o que o piblico pensa e acredita € necessita e aquilo que a grande imprensa veicula, A alienaco dessa imprensa nova, ¢ quia palavra nao tem qualquer identidade com o modemo ‘e muito menos com o popular, é total. Uma das medidas dessa alienagao— como distanciamento da realidade — esti no desprezo com que a imprensa encara a cultura nacional, Claro que este € apenas un dos aspectos do desprezo por tudo o que é naciowal, desde 0 uso da lingua até o empilhamento para a operam, si Salvo 0 que se relaciona com a misica, assim XVI mesmo apenas no nivel da chamada misica popular, nada, em termos de cultura, é refletido pela imprensa. A presenca de interesse pela mitsica popular esti intimamente igada ao mercado de discos, domtinado totalmente por multinacionais que, paralelamente, controlam a programagao musical das emissoras de radio e televisdo, O mesmo ocorre em relacdo ao cinema, que deve a sua preseniga nas colunas dos jornais 4 publicidade exigida pela cinematografia norte-americana, Em termos de cultura, como em tudo © ‘mais, o Brasil nfo existe para a grande imprensa. Essa desnacionalizagtio daimprensa— raiz de sa alienag’io — tem s6lidas raz8es, por isso mesmo. Nos dias que correm — quando escrevo estas linhas — esta em tramitago no Congresso uma nova lei de imprensa. O neoliberalismo esta introduzindo profundas, essenciais mudancas na legislagao, em todos 05 campos. A da imprensa nao poderia constituirexcegao. O mesmo aconteee, por excelentes razdes, com a nova ¢ inovadora lei eleitoral: ela vem senclo preparada para assegurar a mamutengao do poder pelos representantes do neoliberalismo. O Brasil conhece de velhos tempos anorma costumeira de discutir e votar lei eleitoral sempre que se aproxima uma eleigdo geral. A nova lei visa sempre acomodar uma sittagio transitoriamente dominante. ‘No aso, assegurar o controle da imprensa pelas forgas politicas dominantes. No detalhe, destituido de importincia para a sociedade, especuila e regula sobre direitos individuais. O seu teor democratico, assim, ¢ duvidoso, certamente bem limitado, E no muda em nada 0 problema da sempre discutida liberdade de imprensa. Esta é colocada sempre, € agora mais do que nunca, nos termos da compatibilizagao com © regime dominante, com as classes dominantes, com as forgas politicas dominantes. Trata-se de assegurar, por dispositivos legais, a situagao existente, quando a grande imprensa detém 0 comando da informagio e, com ele, estabelece as regras do jogo politico, Batizar de democracia um quadro como 0 que apresentado pela grande imprensa brasileira, atualmente, €. sem diivida, levar muito longe uma farsa que, pelo seu uso e abuso, se transformou em norma, Quando a imprensa, como aqui e agora, modula um coro repetitive de louvago a0 neoliberalismo, esti claro ¢ evidente que perdeu a sua caracteristicas antiga de refletir a tealidade. Por razdes que a dialética explica, verifica-se. por contriste, © extraordinatio esforgo que se espelha no aparecimento de centenas de jornais novos e pequens, alguns de vida efémera, como é natural, preenchendo o XVII = vazio que a grande imprensa estabeleceu em relagdo ao que énacional eao que 6 democritico. O Brasil real, com a sua imensa diversidade e os seus problemas exiormes, comeca a repontar, definindo os seus tragos ¢ os seus ramos, nessa proliferagao de jornais que contrastam, em tudo e por tudo, com 0 quado estabelecido pela grande imprensa, a imprensa tradicional, porque antiga. A oligopolizagéo € rompida, assim, pelo esforgo cescomedido dessa Moragio de jornais e revistas de menor porte, mas que refletem com mais clateza ¢ justeza a paisagem social e politica do pais. Nos quiais, inclusive ¢ felizmente, os nossos problemas, que sdo aqueles que giram em tomo daexisténcia das classes menos favorecidas, vém sendo discutidos e em tomo de cuja discuss4o surgem as propostas convenientes aos interesses daquelas camadas da opiniao que nao encontram guarida si oligopolizada, Por outro lado, jornais que servem a aspectos ¢ atividades parceladas da sociedade procuram preencher o vazio que aquela deixa, como se os problemas fundamentais nao fizessem parte da realidade do nosso povo. ‘A farsa que, no desenvolvimento do processo, torna cada vez mais clara o sentido daquilo que, no Brasil atual, se pretende conhecer e aceitar como democracia, coloca com esciudalo ndo apenas o conceito de democracia como o de realidade nacional, sempre escondida nos grandes jornais ¢ revistas, na imprensa que, pouco a pouco, aparece com os seus tragos definidores inconfundiveis de alavancas suportando a alienagao e buscando convencer os leitores de que © quadro apresentado, nessa unanimidade torpe de opinides, resulta dle uma fatalidade, a que todos devem se curvar. Na verdade, a imprensa oligopolizada e vinculada a estrutura social e politica vigemte definiu a sua alienagao ¢ perdeu qualquer trago do que é nacional aqui. A alienagao € 0 seu retrato. XVII Introdugao Por muitas razdes, fSceis de refevir ¢ de demonstrar, a histdria da imprensa & a prépria hiseéria do desenvolvimento da sociedade capitalista. O con- trole dos nicios de difusio de idéias e de informagées — que se verifica a0 longo do desenvolvimento da imprensa, como reflexo do desenvolvimento capitalista em que aquele estd inserido — & uma luta em que aparecem organizagées e pessoas da mais diversa situagao social, cultural e politica, correspondendo a diferencas de interesses e aspiragdes. Ao lado dessas diferengas, e correspondendo ainda & luta pelo referido controle, evolui a legislagéo reguladora da atividade da imprensa. Mas ha, ainda, um trago ostensivo, que comprova a estreita ligagdo entre o desenvolvimento da imprensa'e 0 desenvolvimento da sociedade capitalista, aquele acompa- nnhando a este numa ligagio dialética e nZo simplesmente mecinica. A liga Gao dialética € facilmente perceptivel pela constatagdo da influéncia que difusio impressa exerce sobre 0 comportamento das massas € dos indivi- duos. © trago consiste na tendéncia § unidade e A uniformidade, Em que pese tudo © que depende de barreiras nacionais, de barreiras lingisticas, de barra ealturais — como » imprenia tem sido governada, em suas operages, pelas regras gerais da ordem capitalista, particularmente em tas thenicas de procucdoe de culo ~ tudo cond 4 uiformidade, pela universalizagio de valores éticos e culturais, como pela padronizagio 1 2 avrropucio do comportamento. As inovagies técnicas, em busca da mais ampla divule gag, acompanham ¢ influem na tendéncia & uniformidade. £ interes serificar o paralelismo entre 0 esforgo téenico de produgio, na imprensa, © © progresso clos meios de comunicagio e de transporte, afetando 0 problema fundamental da grande imprensa, que € 0 do vohime e espago geogrifico cm que a noticia, ow a informagio, ov a dousrinagio téin oportunidade, cstrcito vinculo entre a imprensa ea ordem capitaista aparece, também, na evolugze do problema da liberdade de informar e de opinar, Assim, nao devide ao rudimentarismo des meies — que, na maioria dos casos, exam orais ~ carece de sentido recordar os sistemas de divulgasio anceriores 8 invengfo de Guecenberg c seu generalizado uso: a transiissio de not feias nas tribos primitivas, a Ata diurna dos romanos, 0 reapareci- inento de seu processo cm Vene2a, nada tém a ver com a imprensa. Como todas as invengies, a de Guttenberg resuleou de necessidade social desenvolvimento histsrico gerou e a que estava vineulada a ascensito bur- guesa, cm scu prelidio mercantilista. Como as trocas interessavam apenas a elementos de classes e canadas numericamente reduzidas, entretanto, 0 desenvolvimento da imprensa foi muito lento naquela fase, e ela foi faci mente controlada pela autoridade governamental. Poderosas forgas econ tnicas empenharam-se, desde entéo, por debilitar esse controle — eram as, forsas do capitalismo em ascensio: 0 prinepio da liberdade de imptensa, antecipado na Inglaterra, vai ser encontrado, entio, tanto na Revolugio Francesa quanto no pensamento de Jefferson, que cottespondia aos anscios da Revolugdo Americana, sintonizando com a pressao burguesa para trans- ferir a imprensa a iniciativa privada, © que significava, evidentemente, a sua entrega ao capitalismo cm ascensfo. Nos paises em que essa ascensio operava-se agora muito mais no plano politico, pois estava jé consolidada no plano ecanisinico, a liberdade de imprensa encontrava barreiras nos remanescentes feudais, adrede mantidos, por vezes, pela propria burguesia, como escudos contra o avango, embora ainda lento, do proletariado e do ccampesinato — a Inglaterra ‘ca Franga particularmente — o problema permanceeu longamente no paleo. Foi a auséneia, nos Estados Unidos, de passado feudal, que permitiv alia solugéo répida de tal problema, colocada a liberdade de imprensa ~ isto é, 0 seu conerole pela burguesia — como prostulado essencial e pacifico, abrindo-se a0 seu desenvolvimento, entio, is amplas perspectivas. Assim, cnquanto na Inglaterra a stamp tayes6 sapareecu cin 1855, ¢, na Franga, a liberdade de imprensa permaneceu rs até 1881, — os Estados Unidos srg ampl,pratiament, ca sindepes mroDuGdo 5 A corrida para a revolugio nas técnicas de imprensa, iniciada na Inglaterra, quando 0 Times, em 1814, utilizou a méquina a vapor na sua {mpressio, seria por isso ganha pelos Estados Unidos etn pouco tempo, Era fo ponto de partida para a producdo em massa que permitia reduzir o custo ¢ acelerava extraordinariamente a cireulagio. Era outea prova da interliga (glo entre o desenvolvimento da imprensa ¢ o desenvolvimento capitalista. © desenvolvimento das bases da produgio em massa, de gue a imprensa participou amplamente, acompanhou o surto demogréfico da populagfo Ocidental e sua concentracio urbana: paralelamente, a produsao ascensi nal provocou a abertura de novos mercados, a necessidade de conquisté-los conferiu importincia propaganda, e 0 aniincio aparece como trago ostensivo das ligagdes entre a imprensa e as demais formas de produgio de mercadorias. A ascensio capitalist, que a imprensa acompanhava passo 1 passo, como as suas mais signifieativas caracteristicas, agravaria 0 con- traste entre as éreas que se antecipavam naquela ascensio c as que se at savam; nas primeiras, era mareante a ascensfo do padrio de vida ¢ a divisio do trabalho se multiplicava, impondo a extensio da democracia politica burguesa e 0 surto da educagio, alargando extraordinariamente o piblico dos jornais ¢ a clientela dos anunclantes; nas segundas, o quadro era intel ramente diverso, A luta pela rapidez e pela difusio, associando as alters ‘goes nas técnicas de impressio as que afetavam as comunicagdes ¢ os trans: portes, modificou radicalmente o quadro em que a imprensa operavai nas primeiras dreas, isso ocorreu depressa: nas segundas, muito lentamente. ‘A luta pela rapider exigiu da imprensa sucessivos inventos, condu- zindo 4 velocidade na impressio, acompanhando o enorme ¢ crescente fluxo de informagdes, devido ao telégrafo, 20 cabo submarino c, depois, ao telefone e ao radio, Em toda a area capitalista do mundo, essas trans- formagées se alastraram rapidamente: nos Estados Unidos, na primeira metade do século XIX, Benjamin Day utilizaria um método ji amplamente dominante na Inglaterta, a0 desligar © seu jornal Su da subordinagio passiva ¢ doutrindria aos agrupantentos partidarios, para dar realce 8s noti- cias relacionadas com os processos judiciais © com os crimes, indo as fontes dos choques de interesses individdais e a0 fundo das paixdes humanas, ao palco em que desembocavam, finalmente, as enxurradas da socicdade capi talista. Day tornou, assim, em poucos meses, o Sw no jornal mais difun- ido nos Estados Unidos: em quatro anos, estava com a tiragen no nivel os 30.000 exemplares dliirios, tendo de dobrar o tamanho das paginas ara poder acomodar os anincios cujo afluxo crescia sempre. Fra a dife- renga de formato, de pequeno, semelhante ao do livro, para grande, espe effico do jornal, um dos sinais dadlistingo que se estabelecia entre os dois, = ’ inrropugio processos de difusto de idéias. Foi esse, também, 0 caminho seguido, ai, pelo Moraing Herald, em que James Gordon Bennet demonstraria a possi- bilidade de publicagées de baixo prego pata consumo em massa, outra distingZo entre liveo © jornal. Contea o rush empreendido por homens como Day ¢ Bennet seria inviavel a resisténcia do jornalismo de cunho pes- soal, cujo grande representante foi, nos Estados Unidos, Horace Greeley, quando 0 seu Tribune recusava o noticiirio de crimes e de eseindalos, optando pelo fervor editorial, pela predominineia da opiniio sobre a informagio; a Guerra de Secessio provaria que esta interessava mais do que agucla, © exigia que aparecesse e se muleiplicasse a agio dos corres- pondentes, deslocados junto ao teatro dos acontecimentos, como o Times, de Londres, fizera, quando da Guerea da Criméia, Logo a grande imprensa capitalista compreendeu, também, que é possivel orientar a opinido através do fluxo de noticias; as associagdes especializadas em colhé-las, prepari-las c distribuflas facilicaram o trabalho dos jornais, quando o custo dos servi- G08 tclegrificos se tornou proibitive para cada um, isoladamente, e confli- tante com a necessidade de baixo prezo unitirio para a venda avulsa, A partir do inicio da segunda metade do século XIX, © problema estava na lta entee essas agéncias de noticias que, adiante, seriam associadas aos ‘monopdlios industriais em ascensio, ¢ terminariam concentrando-se, como aqueles. A luta entre a informagio a opinigo nao foi a dnica que marcou 0 esenvolvimento da imprensa; logo apareecu a luta entre a opinigo c a publicidade, que era a forma organizada que a propaganda assumia. Jé em 1803, 0 Hrening Post confessava que “de fato & o anuneiante quem paga © jornal ao subscritor", mas a realidade é que o andncio tina papel ainda secunditio, sendo grande a resisténcia dos profissionais da imprensa ao seu avango geifico, que temiam como séria ameaga a valores éticos peculiares so capicalismo de concorréncia, © até estéticos, ligados A paginagéo, 4 arte tvifiea, que, na verdade, estavam em liquidagio. E surpreendente que um inovador da visio de James Gordon Bennet tivesse lutado longamente no sentido de impedir que as colunas do Momiing Herald fossem quebradas pura acomodar argos aniineios, obrigando os anuneiantes a0 recurso de Feperie a mesina sentenga, em tipo pequeno e coluna tnica, ao longo de tuna pagina inteira, A imprensa fancesa foi pioncira no sentido de dar a0 aniincio a apresentagio geifica destacada e, nos fins do séeulo XIX, essa cra_a norma da imprensa por toda a parte cm que aleangara desenvolai mento. & mudanga seguinte foi no contedde do proprio anincio: os velhios modelos de anincios de estabelecimentos foram substituidos pelas novos, de mercadorias isolatas, valorizadas ao méximo pelas ilustragoes, porroDue4o 5 anhando rclevo quase attistico quand as cores foram introduidas. Era Pegoremecla Wo bia sobre o comer psi sobre 4 cache. EMordinido volume da. publicidade comercial que afin & eegea tomou impostivel © estendimento entre 95 producores ou ot implantes que operavam com as mereadorias anunciadas e o& periédi Suge as anunclavam, Surgo ointermediiro especializado, escrito ou Seen, assunindo, em nosios dias, proporcdes de empress pgancseas, weerrrepadas de organtzar a publicdade para nomerosos produtoces e de Gissibutla a imprensa, Essa divisio de trabalho concentrou nas agencias Teipublicidade enorme poderio, ascendéncia natural sobse a inprensa: Jai passou a depender a prosperidade dos jormis. Como as agdncias de notin espshlidae em coher © dines infornagce 6 apacs I publicidade, espectalizadas em colher e distibuir angncios, cedo se ae eeecn eattaara da economia de monopelio, grads plo deserval- Simento capitalists nos fins do século XIX, Essas organizacdes fizeram da Jmprenes simples instrumento de suas folidades: o desenvolvimento antimprensa, em (angio do desenvolvimento do capitalism, as gerara; depois deserve & imprenca, servis dela. PG segredo da Imprenst consistia, 4 medida que o eapitalismo avan- ava, na rapidee com que chegava aosleitorese na possbiidade de conti- {ioe nos mikes. Era necessirio, por isto, que a producio atendesse & multipicagio de exemplares, e que os transportes atendessem & disiribui- Gio oportuna,répida, vertiginosa, dos exemplares veloziente multiplica- tos, Ar invengZes que tornaram os periédicos empresas industrials apare Ihads, eiciencs, eapazes de produzir, todos os das, milhées de jomnais, sequramse umas as outras, a curtos intervalos. Nos Estados Unidos, & comvetsio da woodpulp em newsprint marcou essa evolugio, earacterizada finds pelo apareciiento. da Linotipo. Reproduzindo ilustiagses rapida mente ¢ a baixo custo, pela velocidade na impressio, ns fins do século, as novas miquinas faziam correr tolos de papel com a velocidad de win em express, taindo os jornais em cores, quando era desejado,e sempre avto- Inatieamente eontades e debrados, lise permiia enorme redugio no custo ds unidade fabriada, a0 mesmo tempo que mellyorava a sua qualidade. Tudo conduzia, Finalmente, a0 rebaixamento do preso pago pelo leitor, cm difusto cada vee mais numerosa, em influéncia eada vez mais larga, tudo em beneficio dos anunciances. Nos fins do aéeulo, nos Estados Unie dos, Pulitzer podia oferecer 0 World a dois conts,reduzides & metade na edigZo vespertina, com extensas lustragdes, numerosas faixas de historic tas, grandes tftlos, notice sensaeionais, enquanto Heart, partindo da ‘ inrropucao aquisiggo do decadente Morning Jounal, construia o seu império na imprensa, proporcionando ao pGblico inclusive uma guerra, a de Cuba, & facil avaliar a terrivel forga da engrenagem que se compde de agéncias dc noricias, agéncias de publicidade e cadeias de jornais e revistas, sua influéneia politica, sua capacidade de modificar a opiniio, de criar ¢ tmanter mitos ou de destruir esperancas e combater aspiragdes. Quando se verifien que essa gigantesca engrenagem é simples parafuso de engrena tem maior, a que pertence, do capitalism monopolista, ainda mais fécil € estimar o seu aleance © poder. Sem considerar exscs dados, que a fria realickie apzesenta, € impossivel, entretanto, discutir problemas como 0 cla liberdade de imprensa, aspecto parcial do problema da liberdade de pensamento. E quando sfo inseridas no quadro as novas técnicas de mobi- lizagio da opinizo, como a televisio e 0 radio, rambém submetidas, em jativa privada e associadas, inclusive, a imprensa, e também submetidas a organizagées em eadeia, verifica-se quanto aqucle yroblena fundamental se apresenta complexo'e depende do regime pre jominante, A questo da periodicidade apresenta-se sempre como preliminar nas exposigdes histéricas. Trata-se de recurso didético, destinado a facilitar a compreensio do desenvolvimento de qualquer processo ou fenameno! No caso da histéria da imprensa brasileira, verifica-se, pela visio de conjunto, que a finiea repartigao acorde com a realidade seria em imprensa ertesanal © imprensa industrial. Tomado o fendmeno como especifico, visto em separiclo, isolado do conjunto em que se desenvolveu, essa divisio, ainda assim, éa mais cabivel. Acontece, porém, que a fase de imprensa industrial & relativamente recente, entre nds, e demasiado curta por isso mesino, Accitar a divisio mais aconselhivel seria apresentar un conjunto desequi librado: 0 longo periodo artesanal ¢ © eurto perfodo industrial, contras- tando. Preferimos optar por uina divisio que, embora arbitriria quanto a0 processo estudadlo, quando visto separadamente, tem a virtude de integr’ lo no canjunto do desenvolvimento histérico do pais. A nossa imprensa, no que tinha de especifico, nfo mudou com a passagem do tmpério & Regineia, ow do Império 4 Repablica, Mudou muito, entretanto, quanto 20 conteido, quanto ao papel desempenhado. A divisio escolhida nio tein Insiores vaneagens, pois, mas presenta, em sua rudimentariedade, recvpso 1. visando mneior e mais Fil compreensio de seu desenvolvimento. Isso permitiu gar sempre a situagfo da imprensa ao quadro geral.go Lenrpo, sas eatacteristicns, suas necessidades. Tal ligagio ndo foi sempre unTRODUGAO 7 cil, como costuma ocorrer quando se destaca um fendmena do conjuuto Gl rms fondmienon, f cette, tanbérn, que este wabalio yoolars oe ‘lareza se tivesse considerado com mais vagar e detalhe problemas como os domograficos; 08 do desenvolvimento da vida urbana; os das técnicas de transmissio sistematica da cultura, a cducagio principalmentes os das téenicas de transmissfo do pensamento, com o telégrafo, 0 cabo subma- tino, o telefone, o rédio; os dos meios de transporte, navegacio, ferrovias, aeronavegagio; e mesmo os mais itimamente ligados ao problema espec fico da imprensa, como os do desenvolvimento da arte grifica, com as suas técnicas ¢ serviddes. Seria interessante, realmente, verificar, a cada etapa, fa drea geogrdfica de circulagao dos jornais, a composigio do piblico, ¢ outros aspectos sempre em mudanga, Para tudo isso, entretanto, 0 espago de um volume seria pouco. Ngo nos fo possivel, por outro lado, detalhar algons sspectos impor tantes na histéria da imprensa brasileira, talvez mais apropriados para trabalhos monogrificos: as grandes campanhas politicas ela desenvolvi- das, como a da Aboligao, a da Repablica, a do Civilismo e tantas outras: a evolugdo do aniincio, refletindo o desenvolvimento do artesanato, do comércio, da indistria, de atividades outras; as influéncias estrangeiras, desde as do comércio aqui estabelecide a partir da abertura dos portos até a das grandes corporagées monopolistas hoje presentes entre nds; 06 dife rentes estégios que a arte grafica apresentou, através do tempo, com estudo mais acurado do almanaque, da circular, do panfleto avulso, do pasquim, do folheto, do opiisculo; © papel dos drgios de instituiges culturais ou especializadas: as alteragdes na distribuigdo, desde a venda nas livrarias, ag assinaturas, até a venda na via péblica; as mudangas no preco de vendas avulsas e sua ligagio com os custos de produgéo ¢ 0 valor da moeda; as alteragdes no que toca 20 papel, seu fornecimento, seu prego, sua qualidade, suas ligagSes com as méquinas; o desenvolvimento das técnicas de impressio, a litografia, a xilogravura, até as modernas: a evolu fo do maquindtio, desde as prensas de madeira as modernas rotativas elétricas, passando pelo complexo aparelhamento de uma oficina moderna de jornal de grande tiragem, com a sua complexa divisio do trabalho que a faz, hoje, téo semelhante a uma grande fibrica; a evolugao da tiragem de jomais © revistas; 0 cstudo do publico, na diversidade de suas camadas sociais; o papel do folherim romantico ¢ das secdes permanentes; a fungao, do noticifrio do exterior, da fase dos paquetes a da ridio;a das gravuras, desde a litografia até A radiofoto; as mudangas na paginagio, acompa: nhando deseaque primitive do editorial politico, is vezes inatéria Ginica 0 jomal, até a preponderincia da parte informativa sobre a opinativa, ea Beas ‘ inrRoDUGAO csercita relagio entre elas; as transformagées na critica dustrada, das cari caturas 4 charge moderna: as relagdes entre Governo e inyprensa e a legisla io sobre censura; 0 aparecimento, desenvolvimento © mudangas nos métedos como a entrevista, a reportagem, inquétito; o desenvolvimento do jornal como empresa, quanto aos recursos necessirios e os dispontveis ¢ suas Fontes: os drgios especializados em medicina, agricultura, economia, humorisma, ete.; 0 interessantissimo estudo da imprensa clandestina; a aprecingio mais demorada da imprensa de provincia, ao longo do tempo. Certo, todas esses aspectos sio interessantes ou importantes, mas dificil Inente caberiam numa sintese como esta, Nem foi preocupagia deste raballio o arrolumento de poriédicos, a fixagio de suas prioridades de aparecimento, de suas datas, de seu tempo de circulagio ~ os casos indivi dualizados permanccem ii guisa de exemplo, destinados a tipificar situa Bevan eps. No que se refere & impronsa, mais talver do que em outro qualquer sévero dle tabalho intelectual, cabe recordar as palaeas do grande eco tists, que foi também homem de pensamento: “Houve tempo, como tia Idade Média, em que nto se trocava sendo 0 supérfluo, o excedente da produgio sobre © consumo. Houve, também, tempo em que no somiente «© supérfluo, mas todos os produtos, coda a ewisténcia industrial, passaram we coinéreio, em yue a produgio intcira dependia da ezoca, Veio, fin hente, tempo cm que tudo o que os homens tinham visto como inalie- nivel tomou-se objeto de troca, de trifico, ¢ podia ser alienado. Este foi © tempo em que as préprias coisas que, até entdo, eram eransmitidas mas jamais compradas — virtude, amor, opinifo, eigncia, consciéncia, ete. — em que eudo, enfim, passou ao comércio. Este foi o tempo da corupgio geral, da venalidade universal ou, para falar em termos de Economia Politica, tempo em que tudo, moral ou fisico, tornandosse valor vena, é levado 20 mercado para ser apreciado no justo valor”. E talvez interessante salientar, por iltimo, que este trabalho pretende tambCm contribuir para a compreensio do dbvio, isco 6, de que sé existe imprensa livre quando 0 pove é livre; imprensa independence, em nagio independente ~ © ndo ha nagio verdadciramente independente ent que scu povo nio soja live, é A imprensa colonial © peeado do livro Coincidéncia interessante fez do aparecimento do Brasil na Histdria e do da imprensa acontecimentos da mesma época, s6 nisso aproximados, por que a arto de multiplicar os textos acompanhou de perto, e serviu, a ascensfo burguesa, enquanto a nova terra, integrada no mundo conhecido, iniciava a sua existéncia com o escravismo, Seo impulso que deu aos por: tugueses 0 mérito de ocupar o Brasil estava ligedo 3 expansio do capital comercial, foi ele responsivel também pelo surto da arte grifica na metts- pole. Cedo cessou, porém, quando Ihe faltaram as eondigies, com o desio- camento daquele capital para outras teas, expulso pela vitéria feudal no reino. Instalou-se, impedindo a continuagio daquela arte, a violencia da “nquisigdo; mais de teinta mil portugueses vitimou ela — a fina flor da inte- lectualidade e muitos dos homens de peciinia. De sorte que o livro, € a técnica de fazé-lo, assumiram ali, pouco depois do inieio da existé histérica brasileira, o aspecto herético que atraia maldligio ¢ eondenagdes. Estavam, cm Portugal. sujeitos os livros a erés eensuras: a cpiseopal, ou do Ordinsrio, a da Inquisigio, ¢ a Régia, exercida pelo Desembargo do Paco, desde 1576, cuja superioridade firmava-se nas Ordenagdes Filipinas, ue proibiam a impressio de qualquer obra “sem primeiro ser vista € hes ° 10 SIMPRENSA COLOMAL cxaminada pelos desembargidores do Paso, depois de vista ¢ aprovada pelos oficiais do Santo Oficio da Inquisigio”. A partie de 1624, o6 lees depend das aucori dades reconhecidas pelo Estado, entre as quais, para esse Gin, estsvam as da Igreja; mas dependiam ainda, para cireularem, da Cire roman Pombal. em 1768, eneerrou esse regime, substituindo-a pelo da Resl Mess Genséria, que vigorou até 1787. Ora, se na metrdpole feudal casas eratm ag condigdes, ffeil € ealcular quais seriam as que impers vista dew sas autoridades civis para serem impressos, isto am na eolénia escra Enrticularmente depois do advento da minerasdo, com artoxe qc clausura. Nio é de surpreender que os inventitios seiscentistas, que Alcantara Machado utilizou para escrever a Vida e Morte do Bandeftante, nse men cionassem um a6 livro. Os setecentisas nio indicariam grande avanyo, a ssi resptito. Foi o surco minerador que alterou as condigaes anteriores: cresceu a populagio rapidamente, decuplicando no século XVIII; cresceu © mercado interno ¢ ampliou-se a divisio do trabalho com v aumento do poder aquisitvo © a especialzagao de atividades, em que se destacou logo 4 mals Iucrativa, Surgicam novas condigées, pois, peeuliates 4 nova sock dade, Nio por acaso © setecentismo apresenta o habito senhorisl de man dar um dos filhos a Coimbra: e nao s6 a Coimbra, pelos fine do séeulo, meg soutras universidades europeias, que o ensino, na colénia, nio ulteapasseve @ au hoje conhecemos como nivel médio. € sabido gue a Universitat, fo Brasil, é recente: o$ motivos sio os mesiuios que atrasarain 0 deserncl vimento da imprensa Muito se indagou sobre os motivos do contraste apresentada pela América espanhola, sem falar na inglesa: México e Pert, conliecerare Pniversidade colonial; de outro lado, © México conheceu a imprenes, ein 1539; 0 Peru, em 1583; as colénias inglesas, em 1650. Que reesea teria sse contraste de orientagio se, i época, Portugal e Espanha, submeridos 40 mesmo regime, o Feudal. deviam ter o mesino interesse cin manter c Eesha sity foloias? Se diverdade devesteocorer, tra sklo antes da Spanha, no sentido de piaior rigor no impedimento 4 cultura, pois encore tara, dene 0 iico da coloizaio, ours © pats acouaeaiee sen TeuiO, We lo aconteceria aos porcugueses, que encantraramn oure dats séculos depois €, quando o encantraram,o aperto ds chose fe aes finda do que ances, ig bpttusucses encontraram, no litoral americana do Atlantica, am ndlades prinitivas, na fase cultural da pedca lseada, que frande, creitat Para o trabalho, pela impossibilidade em fazétor nas grandes empresas que montaram,e que destruiram, fsien ¢ culturabnente, 0 PECADO DOLIVRO nas freas em que levantatam aquelas empeesas, as que lhes permitiram dae estabilidade ¢ continuidade 4 ocupagio. Nessas teas, preponderou s dew. urvicho fisica; nas ireas secundaria, em que o trabalho indigena foi apro. veitado, preponderow a destruigso cultural, de ue fol instrumento acne. quese jesuitica, Haveria algama ilusio, no que dis respeito A inanidade dos resultados do destino aos curumins, nas escolas de ler, escrever ¢ contar? Nao, certamente, Mais importante do que alfaberizar as crianas ind fgenns —ealfabetizar para qué? — era destruir nelas a cultura de seus pais, A situasZo na zona espanhola foi inteiramente diversa: os europeus we ocuparain as suas reas nelas encontraram culturas avangadas que, inclusive, conheciatn a minerago e aproveltavam os mess preciosos. Bles tam precicos, pata estecas e incas, no pelos mesmios motivos que fasci navain o$ europeus da fase miercantil, mas por outros, intimamente ligndos a cultura que tais povas conheciam. Nio se rata de comunidades primi tivas, na idade da pedra Iascada, como no Brasil, mas de culeuras jd em nivel adiantado de complexidade. Essas culturas p:ecisavam ser destruidas « substituidas, sob pena de graves riscos para a ocupagio, tanto mais que or elementos locas com pratca na mineragdo contain a forca de trabalho necessiria a retirada do ouro € da prata que o mercantilismo colocava em destaque. Ain, onde 0 invasor encontrou uns cuevra avangada, reve de implantar os instrumentos de sua propria cultura, para a duradoura tarefa, tomada permanente cm seguida, de subscivuir por ela a cultura encontrada, Essa necessidade no ocorrew no Brasil, que no conheceu, por isso, nem a Universidade nem a imprensa, no periodo colonial, Na zona espankola, lia ¢ outra surgiram logo: itham large tarefa a desempenar, funds. mental, A dualidade de culturas, nela, representava sérios riscos ao domi- nio. Aqui, nfo tinha existéncia prética, nfo representava cisco algum. O apirecimento precoce da Universidade e da imprensa, assim, esteve longe de caraeterizar uma posigio de tolerancia. Foi, ao contratio, sintoma de intransigéncia cultural, de esmagamento, de destruigao, da necessidade de, pelo uso de instrusmentos adequados, implantat a cultura externa, justifi satéria do dominio, da ocupasio, da explorigao, lnstrumento herético, olivro foi, no Brasil, visto sempre com extrema desconfianga, 28 natural nas mfos dos teligiosos e até accito apenas como Peculiar ao seu oficio, ¢ a nenhum outro. As bibliotecas existiam nos mos- ‘clros © colégios, niu nas casas de particulares. Mas ainda aquelas foram Pouguissinas, de livros necessivios 4 priica, constituindo execgio mesino Pi caificantes: A dos jesuieas da Bahia, quando da expulsto pombalina levada a hasta pibliea, nZo encontrou licitances, detergrando-e os livros 7 1 4 IMPRENS4 COLONIAL sequestrados, ov utilizados pelos botiearios, para “embrulhar adubos ¢ uungiientos", O mesmo aconteceu com a do Maranhio: mantida em depé- sito, foi eaaminada decénios depois, nio enconerando nela AraGjo Viana ‘um 36 livro aproveitavel Nos fins do século XVIII, comecaram a aparecer bibliotecas particula- tes, Os autos das “inconfidéncias” as revelams, no intuito de ageavar a sorte dos acusados: ler mio era apenas indesculpivel impiedade, era mesmo prova de crimes inexpiiveis. Os que estudavam na Europa, traziam livros, entretanto, © acé os emprestavant. A enteada de livros ~ salvo aqueles cobertos pelis licengas da censsura — eram elandestinas © perigosas, Os que contavam coisas da tetra nio tinkam aquelas licengas, ou, em alguns casos, quando as recebiain, como 0 de Antonil, impresso em 1711, no Reine naturalmente, softiam apreensio imediatal"), Foi confiscado e destruido, Sobraram, por sorte, trés exemplares, e isso permitiu que, um século depois, fosse novamente impresso e circulasse. Nos fins do século XVIM, comegou © comércio de livros e surgiram as obras heterodoxas, euja presenga nas maos de “inconfidentes” tanto os inculpariam: © cénego Luis Vieira juntava, em biblioteca, Condillae, Mon- tesquieu, Mably ¢ a Lstciclopédia. Tiradentes possuia, em francés, a Cole gio das Leis Constinecionais dos Hstados Unidos da Aiérica; consta dos atutos da devassa que pedira a um cabo, em Vila Rica, que Ihe traduzisse 0 difrio em que se descrevia o levante das coldnias inglesas da América do Norte, Partindo para o Rio, em 1775, Anténio Maximo de Brito teve per. tmissio para trazer os sews livros; entre eles estava pelo menos um conde- ado, © Git Blas. Vidal Barbosa sabia de cor pedagos de um livra de aynal, Alvares Maciel comprara, em Londres, a Histdria Americana Inglest, que deixou no Rio, ao recotherse a Vila Rica, vindo da Europa, Acioli aponta © caso, na Bahia, do padre Agostinho Gomes, acusado como Jraneés porque comera carne numa sextafeira e lin Voltaire, Muniz Barreco, envolvido tia conspiragio de 1798. possuia a Nova Helo‘sa, de Rousseau, © a Revoluedo, de Volney. Cipriano Batata, outro elemento daquela conjura, tinha a Histéria da América Inglesa © 2s Obras de Con. dillac: © twnente Hermégenes de Aguiar, 0 Diciondrio Filosdfieo, de Volraire. No Rio, em 1786, a Sociedade Literéria, continuagio da Acade- ‘ia Ciewifica, fora ttansformada, segundo as autoridades, em motive de 0) Fei Veloso fez parecer dole um extato, emt 1800. Biss eo inca, praticamente, rue eso inal ede ete Hs, apace somente in 18ST ne {ke Were 1g 905 esos de Js! Ses Rebels sce elon An Peceria de Artie, de ono Magus Peete ms Wah. cm 172s, pabiondo eats twee 1724 crm meq eed neo RVI (PECADO DO L1VRO 3 ‘lias conspirativas®, Silva Alvarenga, tido como um dos franceses do ter apertado pelo desembargador Antonie Dini da Geet Stes Sinessa, sob 2 acusagio de “posse e uso” de livros de Mably © Rayna confeisou que comprara aquele, inocente de seu conteddo, a um mari- nheiro, 0 segundo The fora emprestado por Mariano José Pereira da Fon seca, futuro marqués de Maricé, que confessou, esclarecendo que munca olera® ‘Como entravam na eolénia os livros? Da mesma forma que na metré pole, onde sofriam a mesma perseguigio, Pereira de Figueiredo estranhav: que 2 mocidade lusa estudasse em livros proibidos e estrangeiros. Jodo Ribeiro contaria que, tendo fornecido a eerto economista a relagio das obras condenadas pela Mesa, soubera depois que servira para que aqucle as encomenclasse para constituir a sua biblioteca. Acrescentava ter visto, na alfindoga, o caixote de livros trazidos por um bacharel: toilos proibi- dos. Pina Manique denunciava que “a maior parte dos livros impios e sedi- ciosos que aparecem no piblico de mio em mao saem da alfindega”. Ted: filo Braga explica que quase todos os livrciros de Lisboa cram franceses “fundavam casas com uma honradez proverbial, pondo em circulagao todas as publicagdes modernas por meio das quais 0 espitito critico do enciclo- pediimo entava neste desgacade pis marsiado pela inbecliéade™, A policia fiscalizava severamente tais livrarias ¢ livreiros. Manique relataria que um deles fora ““duas veres preso pela achada de livros incen- didtios que espalhava e vendia nesta cidade". Diogo Borel introduaira em Portugal, segundo se escreveu, nada menos que doze mil exemplares da Constituigio Francesa. Na colénia, onde chegwam, muito provavelimente, arte desses livros, o processo era 0 mesmo. F 0 que se conclui de declara. ‘0 como a do governador da Bahia, nos fins do século XVII, D, Fernando José de Portugal, justificando-se de ndo ter agido contra o padre Agostinho Gomes porque nio the pareecra razoivel fazé-lo 56 porque Ié Correios da Europa, Gazetas inglesas e outros papéis desta natureza quando cles corzem sem proibiglo ¢ so remetidos dessa Corte a diferentes pessoas”. No Rio, bservara jé o conde de Rezende que, a chegada dos navios da Europa, (2) Antinio Dine wale peti de devasaseovalvendo eseritre, cone a qu ralizou 0 ‘be os acontecimentos ds Conjurasa0 Mila, Not Autor da Devt, eto apenos x documentos ‘atolamento ds biblioteca encnteadas nas casas de algne Gor conjade® (G) Foto miscrfve rola José Berard da Siesta Frade, quem denancew 9 profesor {Ge de retiice Manuo! Indio da Sila Alarenga exes contadee da Socedove Litera. que 98 ‘eunlam & tus do Cano. 18 (hoe Sete de Setembro) a0 conde de Rezo, Solera doi 90: d= ‘ito preventive, caregaoe de fete (3) Testo Broa: Bocoge, Porto. “ A IMPRENSA COLONIAL tratavam muitos de “obter noticias ¢ gazetas estrangeiras para 0 que até haviam estabelecido uma sociedade”. Papéis, gazetas, livos eram vendidos no cais por marinheiros ingleses. Revelam os Autos da Devassa que Tira- dentes, em 1788, andara procurando no Rio livros que tratassem do levante dos ingleses. © Almanague da Cidade do Rio de Janeiro, de 1792, mencionava a existéncia de uma s6 livraria; mas o de 1799 acusa a existén- cia de duas, Que livros seriam vendidos nelas? © Livro de Carlos Magno, 0 Almocreve das Petas, almanaques, folhinhas. Tudo impresso no Reino, evidentemente. Os bons livros, os livros auténticos, entravam de contra. banda, Com a abertura dos portos, “os abominaveis princfpios franceses” — como diria D. Rodrigo de Sousa Coutinho — passaram a entrar em maior volume. Néo tardariam providéncias: a provisio de 14 de outubro de 1808 cordenava aos juizes da alfandega que nfo admitissem a despacho livros ow ‘papéis impressos sem que The fosse mostrada a licenga do Desembargo do Pago, © Intendente Geral da Policia, Paulo Fernandes Viana, baixatia edital, a 30 de maio de 1809, determinando que os avisos, antincios ¢ noticias de livros A venda, estrangeiros ou nacionais, s6 fossem publicados depois da aprova¢zo policial. Jf entéo entrava, entretanto, 0 Correio Bra- siliense e, dos prelos antes destinados as Secretarias dos Negécios Estrangei- rose da Guerra, comegavam a sair livros, Mas, até ai, e principalmente depois, com o arremedo de imprensa iniciado com a transferéncia da Corte joanina para o Brasil, parece que se seguia, aqui, com atengio os acontecimentos europeus que caracterizavam © triunfo da burguesia: conversas nas esquinas, nos adros, nas lojas, nas casas, No Rio e nas provincias, als: 0 padre Francisco de Sousa Pinto, de Cachoeira de Macacu, opinava que “o governo atual da Franga é melhor que 0 de Portugal”; o licenciado Gervisio Ferreira, de Itaboral, talvez por influéncia de seu primo, 0 médico Jacinto José da Silva, formado em Montpellier, “era partidério da situagio politica da Franga”, Antes, Silva Alvarenga tivera de explicar ndo apenas a posse ¢ a leitura de determinados livros, mas por que a Sociedade Literdria permitia que os seus membros (5) Na dons Cones do Re neo, feo promdo, Ant Dinos onder bot rei dos cra “Conner ox peso di ou rove rasen no prt de sono, snd tan culpa qe ses impute Qu ona lave pron, satan em eonerabcy, 00 paris 6 pbs, qo gveno ds inp see er pterid s dt mong, rk 9 ao, epson Iota gteepone democrice cn ely do uno monarsco,gueoswamepowiem + i era emp objeto du sas, undo ‘sto peseric tm os interop rats 4 Congo Nain, tenn Conjrfo Bon (PECADO DO LIVRO 1s sivessem iguais direitos, ¢ sso em sucessivos interrogatérios: a igualdade de diseitos era sacrilege. Profunda er 2 desconfanga dos estrangeiros,¢ tinha as sus azdes. a Régia de 1792 recomendava muito euidado com o navio Le Dilligent aan nos mares do sul em busca do explorador La Pérouse: era fretento para introduzir nas colénias estrangeiras © mesmo espitto de fiberdade que reinava neste pais" (a Franga), ¢ acrescentava que « Consti- tuigio Francesa j estava traduzida em portuguese espanhol. Mas as idéias Chogavam, realmente, burlando a vigiincia: boletins espalhados na Bahia, Js vesperas do movimento de 1798, diziam: “Animai-vos, povo baianense, aque esid para chegar o tempo feliz de nossa iberdade, o tempo em que Hodes serio iguais”. Em Pernambuco, 0 Semindrio de Azeredo Coutinho tornara-se um dos centros de pregacio liberal: entre os seus primeiros mestres estavam os padres Miguel Joaquim de Almeida Castro — depois ‘elebrizado como Padre Miguelinho — ¢ Joao Ribeiro, figura extraordi néria do movimento de 1817. Ensinava 0 primeiro Retérica © Poética; Desenho, 0 segundo. Mais adiante, ali lecionou outro padre de cultura invulgar, Miguel do Sacramento Lopes Gama — o Padre Carapuceito. As teorias de Rousseau influfam em pastorais, como a do defo Manuel Vieira de Lemos Sampaio, governador do bispado que, em 1817, sustentaria nfo set a revolugio republicana contrdria a0 Evangelho, visto que o direito da casa de Braganga se fundava em contrato bilateral, de que estavain desobr- ¢gados 08 povos, por tera dinastiafaltado primeiro 2s suas obrigagdes. ‘As sociedades secretas multiplicavamese. O Aredpago de Itambé parece datar dos fins do século XVIII e ensejou as academias Suassuina ¢ Paraiso, inspiradas pelo sibio Manuel de Arruda Camara, carmelita secula- rizado, médico formado em Montpellier, com passagem por Coimbta, fentusiasta das idéias francesas, iniciado na magonaria quando de sua estada na Europa. A sombra das lojas magOnicas, aliés, vivem Domingos José Martins, espirito-santense que foi comerciante na Bahia e em Londees, Jacobino apsixonado; Antonio Goncalves da Cruz, 0 Cabugi, mulato Viajado que punha, em sua casa, em lugar de destaque, o retrato das figuras ‘mais notaveis das revolugdes francesa ¢ americana; ¢ tantos outros, ao longo de muitos decénios. Mas no apenas a magonaria permitia agrupar os que pensavam melhor, na fase final do perfodo colonial — também a Igreja, pelas Suas figuras mais eminentes, senfo como organizacio, pelo menos pela gio individual de descacados servidores, homens como Luis Vieira, Fran cisco Vidal Barbosa, Matias Alves de Oliveira, Rodrigues da Costa, Carlos Correia, José Lopes de Oliveira, Silva Rolim, conjurados mineitos de 17895 16 A IMPRENSA COLONIAL, [ Agostinho Gomes, Joio Ribeiro, Albuquerque Lins, Pereira de Albuquer. gue, Miguelinho, Tendrie, Roma, pregadores ow martires da Liberdade, Jaime Bezerra, Montenegro, Fortuna, Coelho, Alencar, Venincio de Re, zende, Barbosa Cordeiro, Joo de Albuquerque, Muniz Tavares, Ornelas, Santa Mariana Brito, frei Pescogo e os mais que fizeram parte dos cin. gitenta © sete padres comprometidos na rebelido de 1817, alguns com ago nnilitar, como Souto Maior, Jodo Loureiro, Gomes de Lima, Francisco de + S. Pedro, © Cachico; os vinte padres que fzeram parte da representagio brasileira as Cortes lisboetas; os guertifheiros baianos Breyner, Manuel de Freitas ¢ Dendé Bus, Bernardo, Sampaio, Januirio, Ferreiea Barreto, Batista Campos, Belchior Pinheiro, José Custédio, José Bento, Lopes Gama, frei Caneca, dirigentes invulgares de rebelides, protestos, motins, aferrados aos principios liberais, alguns chegando ao martirio em sua m clero, portanto, em que o fermento cultural fez crescer as | jas politicas, que participou profunda © generalizadamente das lutas do cempo, que discerniu com clareza as necessidades do povo brasi- leiro © soube servidas com herdico devotamento. Clero em que se reeruta. riam, logo adiante, os jornalistas mais ardorosos e também alguns dos mais liicidos que a época conkeceu. Figuras, esas do clero, a que a histéria nfo fez ainda justiga, esquecendo a maior parte delas, reduzindo as dimensoes de outras, deixando sem adequada andlise esse fendmeno singular que foi a patticipagio dos religiosos na vanguarda liberal da fase da autonomia, O sactilégio da imprensa | Os holandeses, dominando a rea mais rica da colénia, no século XVII, | introduziram no Brasil alguns elementos caracteristicos da atividade bur. guesa, de que foram pioneiros. Nao a imprensa, porém. Apesar de the terem dado singolac desenvolvimento, na drea metropolitana, na propor. sao do avango de sua burguesia, nfo se empenharam em trazer a0 seu novo dominio americano a arte tipogrifica. Indteis foram os esforgos de Nassau hesse sentido. & cutioso 0 fato, porque mostea como as condigdes da coldnia constituiam obsticulo mais poderoso a0 advento da imprensa do que os impedimentos oficiais que caracterizaram a atitude portuguesa. Claro que estes, na sua vigilincia permanente, concorreram também para o rotardo com que conhecemos a imprensa. Mas a rardo essencial estava nas condigies coloniais adversas: 0 escravismo dominante era infenso & cultura € 4 nova técnica de sua difusio. A etapa econdmica e social atravessada pela coldnin nio gerava as exigéncias necessirias 4 instalagio da imprensa. } | | | | OSACRILEGIO DA IMPRENSA 17 ram as iniciativas isoladas, no século XVI, 0 papel das auto- oat sieniais foi importante. Elas ngo decorreram, assim, de uma ettrigdo social, mas de esforgos tolados. Nem ene, een, par iro netr pole qUe surgissem, liquidando-os no nascedouro. aeien 1706, sabes auspicios do governador Francisco de Castro Morais, insralouse no Recife pequena tipografia para impressio de letras de cim- bio e oragdes devotas. A Carta Régia de 8 de junho do mesmo ano, entre tanto, liquidou a tentativa, Determinava que se devia "seqiiestrar as letras sas ¢ notificar os donos delas ¢ os oficiais de tipogeafia que no imprimir em consents que s imrimissem vos ou pa al sos”, Essa iniciativa pioneira tem significagio meramente cronolégica, pois sroiteve nenhuma funcio efetiva, nem a suspensia de sua atividade des nw atengao, Até mesmo as informagdes a respeito, numa época em que Petros inslitos mereciam registto buroctitic rigoroso, si excassa. NZo se sabe muito mais a respeito do caso do que o registrado aqui. £ 0 que repetem todas as fontes, sem variages. Jo mesmo nao acontece com o que se relaciona com a outea tenta- tiva conhecida, a de 1746, no Rio de Janeiro, Recebeu, como a anterior, 0 bafejo da autoridade local, o governador Gomes Freite, Ant6nio Isidoro da Fonseca, antigo impressor em Lisboa, transferiu-se A col6nia, trazendo. tna bagagem o material tipografico com que moneou no Rio pequena oficina(®, Chegou a pola em atividade, pois imprimiu alguns trabalhos, entre os quais se destaca a Relagio dla Entrada do bispo AntGnio do Des- ferro, redigida por Luis Antonio Rosado da Cunha, com dezesscte paginas de texto. Moreira de Azevedo conta, nos seus Apontamentos Histdricos, que a metrdpole agiu rapidamente para liquidar a oficina: “mandou Corte abolida e queimada, para nao propagar idéias que podiam ser contri- tias a0 interesse do Estado" Parece que teve relagio com o episédio a ordem régia, de 6 de julho de 1747, onde se dizia ser sabido terem vindo: Para o Brasil “quantidade de letras de imprimir", que mandava seqies- War para o Reino, por conta do dono, notificando-o que “nao imprimis- sem livros, obras ou papéis alguns avulsos, sem embargo de quaisquer licengas que tivessem para dita impressio, sob pena de que, fazendo 0 contririo, seriam remetidos presos para o Reino para se Ihes impor as (6 nn toro Foc iment iho, rl Ct Ri 2k (0 Lino. o Yorn! e 2 Tipopfis no Bisel, Rie, 1945, ig, 412),ente oe seve cee pa {amo cande doce, Caran de Sous ¢ ours pine + cto da Vin de. fo de Gesno, de iacinia Fre de ancrade, 3 Obras, de Duarte Ribewo de Maced. 8 Nfs de Portus de Manuel Svein de Fas, 2 dogo de Antonin José da Sia pbkeadas em ida lor, Puece que difeulddes ners bugs eta 3 sue M3 on 8 A IMPRENSA COLONIAL penas em que tivessem incorrido, de conformidade com as leis e ordens a respeita ‘A ordom insistia ainda em explicagSes elucidativas: “Nio sendo convenience haver ai tipografias, nem mesmo utilidade para os impresso- res, por serem maiores as despesas que no Reino, de onde podiam vir impressos 0s liveos e papéis, no mesmo rempo em que deviam ir as licengas da Inquisigao e do Conselho Ultramarine, sem as quais nao se podia impri. mie nent correr obras”. No dizer de Moreira de Azevedo, “nao convinha a Portugal que houvesse civilizagio no Brasil Desejando colocar essa colénia © seu dominio, wio queria arrancé-la das trevas da ignorincia”. A cia, realmente, constitui imperiosa necessidade para os que explo- ram os outros individuos, classes ou paises. Manter as coldnias fechadas & cultura era caracteristica propria da dominagio. Assim, a ideologia domi nante deve erigir a ignorincia em vireude(), Segundo versio dificil de elucidar, Anténio Isidoro da Fonseca cempregava “a fraude na, suas impress6es, alterando a data das edigdes da tipografia, a fim de escapar & perseguiga0”, O confisco do material liqui- dou >. Em 1750, requeria licenga real para volear a trabalhar no Rio, “com © intento de ganhar 0 que Ihe era preciso © a sua mulher”. Esperava da autoridade real permissio para “‘stabelecer a dita imprensa no Rio de Janeiro, na mesma forma e para o mesmo fim de que usava dela, ou na Bahia". O despacho foi inexorivel e seco: ‘escusado". O nome de rsntonio Isidoro da Fonseca tem o interesse de fixar as dificuldades, mais do que as realizages da imprensa, na colonia. Coubethe, de qualquer maneiza, a prioridade: a Relagdo da Entrada foi o primeiro folheto impresso no Brasil Rizzini esclarece que 0 primeio livro em lingua portuguesa impresso na América foi o Luzeiro Evangélico, do frei Jodo Batista Morelli de Castcl- nuovo, nome que tomou no claustro Fulgéncio Leitio, publicado no México, em 1710. (1) Na Corte de Guia de Caador, de 1650, como tem sido lembrado, D. Francisco Manu ‘ee Melo, que sire algum ternpe no Bras preg signee da mouher, como fandamento de sat ‘etude, rferindo oat de que se guardaseo homer "de mula que fz ime ds mules que sabe Tati, econtandoo pitoresco eas suite: "Confessaa se ura mer honrada a um fade vlho f rabyjente, como comsyane a dizer em lam a confit, pergustoue o cntesor:~ Sabeis [kuin? Disedhos ~ Pade, tieime em mostio. Tornou a petguntar:~ Que estado tends? Res- ondewshe: ~ Cada, Agus tomou: ~ Onde est voiso mado? ~ Na fad, eu padre gee) Eno, com agudcra rpetia 9 who: ~ Tende mo, fhe: sabes ltim,enste-vos em mateo, {endet mando na fai, Ora, Me-ws smbora ewnde cout di, que vos & Targa que tags muito ‘gue diet, «cu estou hoje muito depresa™ A nogio da beattude da ignorinea, ls, € evan Como se Se. cal a ignorincia é umanads & humble e &conformagio com sorte ‘de His de que os males do mundo #6 n9 ody tim euta, dovendo as euatuasconformarse com 3 sorte que thes cabo 9 SACRILEGIO DA IMPRENSA 19 ‘Aimprensa surgiria, Finalmente, no Brasil ainda desta ver, a definiti- va, sob protesio oficial mais do que isso: por inieiatva oficial ~com 0 advento JaCorte de D. Joxo. Anténio de Aradjo, futuro conde da Barca, na confusio da foga, mandara colocar no porto da Medusw o material fotogrfico que havia do comprado para a Secretaria de Estrangeiros e da Guerra, de que era titular, f que nio chegara a ser montado. Aportando ao Brasil, mandou instal-lo nos paixos de sua casa, 2 rua dos Barbonos. Daf o ato real de maio: “Tendo-me constado que os prelos que se acham nesta capital eram os destinadas para a Secretaria de Estado dos Negéeios Es- trangeiros e da Guerra, ¢ atendendo & necessidade que hi de oficina de impres- sdonestes meus Estados, sou servido que a casa onde eles se estabeleceram sirva inteiramente de Impressio Régia, onde se imprimam exclusivamente toda a le- gislagdo e papéis diplométicos, que emanatem de qualquer repastigiio do mew Real Servigo, ficando inteiramente pertencendo o seu governo ¢ administragio & ‘mesma Secretaria. Dom Rodrigo de Souza Coutinho, do meu Conselho de Esta- do, ministro e secretario dos Negécios Estrangeiros e da Guerra, 0 tena assim entendido, ¢ procurard dar ao emprego da oficina a maior extensao ¢ The dard todas as instrugdes ¢ ordens necessérias e partcipard a este respeito a todas as estagdes o que mais convier ao meu Real Servigo. Palicio do Rio de Janeiro, em 31 de maio de 1808.” Por decisio de 24 de junho, a administragzo da Impressao Régia caberia a ‘uma junta, composta de José Bernardes de Castro, oficial da Secretaria de Bstran- ‘geiros e da Guerra, Mariano José Pereira da Fonseca, algum tempo atrés submeti- do aos rigores da justiga metropolitana, com 0s seus companheiros da Sociedade Literéria, por crime de idéia, ¢ José da Silva Lisboa. Competia & junta. conforme regimento da mesma data, além da geréncia, “examinar os paptis c livros que se ‘mandassem publicare fiscalizar que nada se imprimisse contra a religido, 0 govern €.05 bons costumes”, Era a censura, Nada se imprimia sem 0 exame prévio dos censores reais, frei AntOnio de Arrdbida, o padre Jodo Manzoni, Carvalho e Melo, © 0 infalivel José da Silva Lisboa. Dessa oficina, a 10 de setembro de 1808, saiu o primeito mimero da Gaze- 1a do Rio de Janeiro. Era um pobre papel impresso, preocupado quase que to ‘Somente com o que se passava na Europa, de quatro paginas in 4”, poucas vezes ‘mais, semanal de inicio, t-semanal, depois, custando a assinatura semestral 38800, € 80 réis o ntimero avulso, encontrado na loja de Paul Martin Filho, Iereador de livros. Dirigia esse arremedo de jornal frei Tibircio José da Rocha. ‘Trazia como epfgrate, dentro da praxe, 0s versos de Horécio: r 2» A IMPRENSA COLONIAL | Doctrina sed vim promovetinsitar, Rectigque eultus pectora roborant, Jornal oficial, feito na imprensa oficial, nada nele constituia atrativo para o piblico, nem essa cra a preocupago dos que o faziam, como a dos gue 0 haviam criado. Armitage situou bem o que era a Gazeta do Rio de Janciro: "Por meio dela sé se informava a0 piblico, com toda a fidelidade, | do estado de saiide de todos os principes da Europa e, de quando em quando, as suas paginas eram ilustradas com alguns documentos de oficio, noticias dos dias natalicios, odes e panegiticos da familia reinante. Nao se manchavam esas paginas com as efervescéncias da democracia, nem com a exposisio de agravos. A julgarse do Brasil pelo scu Gnico periddico, devia ser considerado um paraiso terrestre, onde nunca se tinha expressado um sé queixune”. Claro que havia queixuines. Como expressi-los, porém, numa folha ‘cujo material de texto era extrafdo da Gazeta, de Lisboa ou de jornais | ingleses, cudo lido e revisto pelo conde de Linhares e, depois, pelo conde | de Galveias, © que nio tinha outra finalidade sendo agradar & Coroa de que io estreitamente dependia? Frei Tibtreio nada ganhava “para ser gaze- teiro": quatro anos aturout 0 oficio, © demisiu-se, sendo substituide por Manuel Ferrcica de Aradjo Guimaraes. Hipdlito da Costa lastimaria que se consumisse “40 boa qualidade de papel em imprimir tao ruim matéria”. A gualificagio era merecida, sem qualquer dévida, mas cabetia, ao longo dos tempos, com a mesma justeza, a muitas outras folhas. Consagrada como marco inicial da imprensa brasileira, a de frei Tibiircio ndo teve nenhum papel daqueles que sio especificos do periodismo, salvo o cronolégico. Papel especifico teve, sem diivida, © Correio Brasiiense, mas é dis: cutivel a sua insergao na imprensa brasileira, menos pelo fato de ser feito ho exterior, 0 que aconteceu muitas vezes, do que pelo fato de nao ter surgido € se mantido por forca de condigdee internas, mas de condi externas. Hipélito da Costa justificou-se de fazer no estrangeiro 0 seu Jornal: “Resolvi langar esta publicagao na capital inglesa dada a dificuldade de publicar obras periddicas no Brasil, ja pela censuca prévia, jf pelos peri ges a que os redatores se exporiam, falando livremente das ages dos homens poderosos". Razdes dbvias: teria sido mesmo dificil, sendo impos- sivel, mancer folha imune 4 censura, aqui, no inicio do século XIX: Mas no é isso que suscita a divida, Muitos exilados fizeram jornais for{'dos seus paises, como forma e meio de participar de suas lutas internas, Tais Jornais, como © Correio Brasiliense, entravam clandestinamente hide deviam encrar. O que thes dava o cariter nacional era a estreita ligagio OSAGRILEGIO DA IMPRENSA 2” 1s condicdes intemas em que procuravam tembém influir; a impres- com as eeerior efa eicunstancia, A questdo fica mais clara quando ee so thera 0 jornal de Hipdlito — do tipo doutrinirio © nio do tipo noti siege ~ como angulo externo de ver Brasil, perspectiva externa: todos os fossos grandes problemas foram por ele tratados muito mais segundo as tondigées internacionais do que nacionais. ; ‘A visio costumeira do problema parece padecer de vicio formal. Ela se repre em dss dregs; dos gue glosifcam Histo “ a dos qu 0 igrem. A posigdo tipica dos que glorificam pode ser exemplificada com Senne dz Olivera Lima, que estudou o periode joanino no Brasil: "O Goneio Brasiliense, por ser 0 tinico periédico portugués do tempo que podia manifestar independéncia, porque se cditava fora dos dominios reais @ tinka & sua frente um homem de espfrito desassombrado ¢ clarividente, constitui o melhor, senio o exclusivo, repositério das falhas da administra- so brasileira". A posigdo dos que a denigrem pode ser ciificada com exemplo de Femando Segismundo que, no seu requisitério(®, alinha os seguintes argumentos: Hipdlito nao foi precursor do abolicionismo; tratou da questo dos eseravos, pela primeira vex, em 1814, afirmandose contré rio ao insttuco servil; voltou 20 assunto em 1815, entendendo “chegado 0 tempo em que esta questio de escravatura deve ser decidida afinal”, ¢ achando que o problema do tréfico poderia ser contornado cot a introdu- io de maquinas e infcio da imigracao; voltando ao tema, em 1822; teve antecipadores, entretanto®; nao foi precursor da imigrago européia, rem da idéia da transferéncia da capital para o interior!™); ficou ao lado das Cortes, quando estas tentaram recolonizar o Brasil, censurando a sua “tendéncia democritica” (p. 548, Il); apoiou a determinacio de fazer voltar a0 Reino o principe D. Pedro, para manter a “desejada unizo entre Brasil e Portugal” (p. 851, 11)"1)), Hipdlito da Costa fandow, dirigin e redigit 0 Correio Brasliense, em Londres, durante todo 0 tempo de vida do jomal. O némero inaugural (8) Tee petteiada 0 VI Congest Nacional de oraias . (9) 0 pears porteuss Mase! Rib du Rosa, avtoc de © Edope Reverso, Empen 4, Suiened, Corrie, Inia ¢ Lieto, Lido, 1787: 0 conus mines ebamos; daemgsdos pl Artin Rodipus Vek de Obi na Mena Sobreo Seloramen toa Province So Pula Apr! em Parte 8 Toda x Ou Irvine do Base 1822, U1) Veo de Oks digs mors opine eenecem BW. soNe 0. dull Ai dept Bn oe spre i a oa fray que pian do prose da Independrci, Ns Ita ca a oper ad também: sa conga do mead brasicoe un manstengSo fone poss ema Independ ise cen onagae done que manta 0 Beal submetido a Portugal 2 AIMPRENSA COLONIAL deste apareceu a 1? de junho de 1808, exés meses antes, portanto, da data fem que surgiv a Gazeta do Rio de Janeiro na Corte. Actitando 0 jornal de Hipdlico como integrado na imprensa brasileira, seria, conseqtlentemente, a data de aparecimento de seu primeito niimero o marco inicial, natural. mente, do nosso periodismo. Jé dois némeros do Correio Brasiliense circulavam, ¢ possivelmente no Brasil ~ considerando o tempo do trans. porte maritimo dos portos ingleses aos brasileiros, na época da navegacio A vela — quando, a 10 de sctembro, apareceu o nimeto inicial da folha ditigida por frei Tibircio. Além do problema da precedéncia, hd que con. siderar, no caso, que eram diferentes em tudo, mesmo pondo de lado a questio da orientagao, quando a diferenca chegava quase a0 antagonismo, Representavam, sem a menor divida, tipos diversos de periodismo: a | Gazeta ora embrito de jornal, com a periodieidade curta, intengio infor. Iativa mais do que doutrinéria, formato peculiar aos drgios impressos do tempo, poucas folhas, prego baixo; o Correio era brochura de mais de cem Paginas, geralmente 140, de capa azul escuro, mensal, doutrinério muito mais do que informativo, prego muito mais alto. Protendia, declaradamente, pesar na opiniao publica, ou o que dela txistia no tempo, ao passo que a Gazeta nao tinha em alta conta essa fina- lidade. Como todos os drgias de governo do tipo do joanino, na época do absolutismo, no se preocupava com isso mesmo porque ngo tinha que disputar a outros érgios, de orientagio antagdnica, que nio existiam, a preferéncia da leitura. O jornal de Hipdlito, a0 contritio, destinava-se a conquistar opinises; esta era a sua finalidade especifica, Mensalmente, reunia em suas paginas o estudo das questes mais importantes que afeta. vam a Inglaterra, Portugal ¢ o Brasil, questées velhas ou novas, umas jé postas de hé muito, outras emergindo com os acontecimentos. Em tudo 0 Correio Brasilicnse se aproximava do tipo de periodismo que hoje conhe- ‘cemos como revista doutriniia, ¢ nao jornal; em tudo a Gazeta se aproxi- maya do tipo de periodisimo que hoje conhecemos como jornal — embora fosse exemplo rudimentar desse tipo. Hipdlito da Costa chegara 4 Inglaterra em fins de 1805, fugido dos céreeres da Inguisigio porcuguesa. Ein fins de 1807, as forgas francesee cocuparam Lisboa, ocasionando a fuga da Corte joanina para o Brasil, sob a protegio inglesa. Ora, foi esse 0 exato momento cin que langou 0 Cor roio Brasiliense. A que obedeceria essa decisio? E impossivel deduzijja de problemas © aspectos subjetivos. Os dados objetivos para o julgamento dela — € de seu desenvolvimento — s40 os nGmeros do préprio jornal, $30 35 posigées assumidas pelo seu fundador, dirctor e redator diance dos pro- blemas que foram sendo colocados pela realidade. © melhor bidgrafo de a a SAGRILEGIO DA IMPRENSA ito admite que o jornal surgiu com o fim de “prepatar para o Brasil Hips soe se melhores costumes politicos". Mes adic, também, insite, no foi fundado para pregar a independéncia« nfo ae out!2), O proprio jornalista deixaria entrever, ou expressatia clara. re, assuas finalidades, nas matérias que divulgava. Em 1819, por exemt Migs Ninguém tem atacado ras os defeitos da administagio do Brasil do po Correlo Bralense. Comecou exteperisidco hi mas de onze anos 56 fa esse fim, sendo acidentais as outras matérias © para isto se foram Per mado nerta colegdo todas as noticias oficials percencentes & época em abescie dificuldades, jé sre escrevemos, posto que nisso tenhamos tido grandes dificuldades, j aque eserevemos em pais estrangeiro, mais distante do nosso, jé porque eervemon contra os defeitos da admiistao, sods s pesto em ato. dade, principalmente as em que se fala diretamente, devern ser inimigos Hee rearrange ine of maou de ober Infrae series” ‘Trata-se, assim, de uma finalidade moralizadora ¢ nfo modificadora, étiea e nio revolucionivia. Até que ponto a tarefa moralizadora, em que o jomalista pretendia melhorar os procesios administratvos, poderia it sé € possivel verifiear acompanhando a sua anilise dos problemas, nimero a mero. Isto é trabalhoso, mas nao é dificil. Conquanto a publicagao nfo indicasse quem a dirigia c fossem poucos os trabalhos assinados, podem ser atribuides a Hipdlito, que confessou mais de uma vez que a fazia sozinho: “Agora é estencial a0 nosso argumento o declarar aqui que todo © incansdvel trabalho de redagio, edigdo, correspondéncia, etc,, otc., deste petiddico tem recaido sobre um sd individuo que, alids, carregado de futas muitas © mui diversas ocupacies, que se Ihe fazem necessaras,jé para buscar os meios de subsiénca, qué mio pode ter nos esasos eros 4a produgio literaria deste jornal, jé para manter a sua situagao no efrealo piblico em que as circunstincias 9 obrigam a viver"™2). Hs, aqui, das Confissdes: a de que redigia o jornal praticamente sozinho, e a de que ndo vivia disso, mas de outras atividades. Ambas sao interessantes. A segunda porque é ficil deduzir, e até provar, que tais atividades estavam rclacio- das com a orientagdo do jornal, e eram atividades comerciais. Nao se discute aqui o problema sob o aspecto ético, se era Iicito ou nio. De qual: quer forma, 0 Correio Brasiliense foi tarefa gigantesca e refleve, const tuindo para isso insubstitufvel fonte, o quadro da época da independéncia, visto do angulo da burguesia inglesall®) (12) Mecenas Dourada: Hipsita da Coste 0 Correto Brasense, Rio, 1957. nit. 145.1 (03) CorroioBratense, pig 174, XX (14) 0 Corio dasone ou Armaténs Literrio, pimeizo per6ticapublicado por base ” A IMPRENSA COLONTAy Até que ponto cireulow na coldnia 0 Correto Brasiliense, até que Ponto cumnpriu a sua finalidade doutrindria de influir na opiniio, até que reas da opinido influiu, sia problemas mais ou menos dificeis de elucidan, Durante um ano, ao que parece, hesicou © embaixador portugués em Lon, tres, D, Domingos de Sousa Coutinho, em eomunicar as autoridades que Fepresentava a existéncia do jornal. Fé-lo, finalmente, em oficio secretis. simo de 20 de junho de 1899: “Como assunto da mesma delicadissime natureza me resolvo enfim fazer chegar & presenga de Sua Alteza Real, se © mesmo Senhor assim o permitir, um papel que eu descjatia que nutes tivesse saido a luz do dia, © que hi perto de um ano que estou indeciso se © devo mandar ou nao”, Esse papel era o Correiro Brasiliense, Iguorariam antes as autoridades do Rio de Janeiro a existéncia do jornal? Teria cle chegado ou nao aos scus leitores aqui? Claro que hi um ano cliegava uo Brasil, cra lido © comentado, e chegava também a Portugal, Que, depois do aviso do embaixador luso em Londres, chegava e influfa, é ficil comprovar com depoimentos insuspeitos da época. Em junho de 1809, organizando lista diplomatica cifrada, para uso daquele mesmo embaixador, as autoridades do Rio de Janeiro nela indufam o nome de Hipdlito da Costa, entre cem outros, reis, generais, funciondrios, Em 1810, © referido embaixador voltava a informar sobre 0 Correio Brasiliense, men. | sionando que 0 jornal era largamente lide em Londres pelos portuguescs que ali residiam — numerosos desde a invasio napolednica na peninsula — € mesmo por aqueles que ali iam a negécios, © ainda por comerciantes ingleses que tinham cortespondentes no Brasil e em Portugal, e que assina- vam o jornal ¢ o remetiain a esses correspondences, o que € bastante eluci- dativo. Segundo o bario Eben, a circulagio em Portugal se tormava cada vex maior, Essa afirmagio seria confirmada, em 1817, pelo encarregado de 4, primito we da census portuguesa ciculow de 19 de junto de 1808» dezembro de 1822, impretn na ficina de W. Lows, 2m Londres, sande roguhumente Yod0s 03 meses, RUM TOL ob 175 nimeros, de 96 a 150 pignss in 88, formande 28 volumes. Tava abalva do titulo or vtion 4 Cundes; "Na quats parte nova os empas atl se mae mundo howe i ehegara”, Divas em wextes: Pola, contend documents oficis, nacional e estangstos:Coméreoe Arte, cOM informe sobre © vomércio niional e internacional; Litetury € Ciencia, com inforvoybek cents leis, os eu wien, MicelUnes, com mata vara, infosnaedes do Ball 42 Portugal eae polémveas, Reflexes, obee a nondades da mes, com os coments dos acon fomentosreeentes. © Currespondénea que insevs ak comanicagbes ecebides, ss veacs mona, 3 eres sa tesponsbldae ds esranhes, com os ropes nomerou peudénimon- Ojon nfo 3 jeaparadeatontevinentonou probcmic inter do Enlace, may destaana sempre uns Soutten, quando, no phn sternacionl isa respeta 4 Portugal on 90 Bas Reels hot seus coment ‘os a pono da burgess ingles que, no procssa Je autonomia dads americana de oeopag 20 sea, et uma em relgdo 5 Espanhs eoutes em relia a Portugal, de cue Subotdinado se erp ‘ae sempre soluides dos problemas do inorese bins sem que da alias @ sACRILEGIODA IMPRENSA scios da Franga em Lisboa, Lesseps, que comunicaria a0 seu meee e duque de Richelieu, que o Correo Drasilense era também lida om Pasi, spor todos". 10 Bras Pe acncia de conhecer da circlagio do Jornal, ou por forga da comunicagZ0 do embaixador em Londres ~ e as datas fazem erer que Io primeizo motivo —, a Corte do Rio de Janeiro tomou as providéncias Perini a 27 de marco de 1809, 0 conde de Linhares dererminave je findega, José Ribeiro Freire, a apreensio de material impresso no ee ontendo critcas ao governo: "O Principe Regente Nosso Sealer, cuja Real Presenga levei o oficio de V. M. juntamente com o Aviso e a irochura vinda de Londres, cheia de caldniss contra a nagio e 0 governo lés; cheia de atrozes falsidades contra varias pessoas e das maiores ies iidades sobre economia poles, 0 qu VM. jostomente deteve B servido ordenar que V. M, mande guardat o mesmo Aviso € obras, do fo entregando a pessoa alguma e que o mesmo pratique com todas as épias e exemplares de scmelhantes obras que possam vir para o futuro, nio querendo $. A. R. permitir que se divulgue nos scus Estados uma obra ‘cheia de veneno politico e falsidade, e que pode iludir gente superficial e ignorante, além de ser umn verdadeicolibelo. E jgualmente S. A. R. servido gue V.M. mande mais um exemplar e Aviso para ficar nesta Secretaria de Estado, ¢ que remeta outro ao Intendente Geral da Policia, a quem expe: dem as ordens particulares sobre o procedimento que deve tomar a este respeito”. Era, segundo Mecenas Dourado, “'o primeiro ato proibindo a irculagio do Corrcio Brasiliense no pais” e, como vemos, provocado pela apreensio, que fez 0 juiz da Alfindega, de exemplares deste jornal ¢ dos "Manifestos impressos que o autor da obra mandou para o piblico ter conhecimento da mesma”, como diz a informagao do porteiro daquela tepartigio. Tais manifestos seriam impressos de Hipdlito da Costa reco- mendando o seu jornalt!®) =“ Quats seriain as “calinias contra a naggo e o governo inglés”, atsibu das a Hipdlito da Costa por D. Rodrigo de Sousa Coutinho, ¢ quais as “absurdidades sobre a economia politica” de que seria também responsé vel o jornalista? Aqui esté, sem divida, um dos aspectos essenciais nio apenas da posigio de Hipslito da Costa mas do surto eapitalista e do pro- cess0 da Independéncia brasileira. Os estudos de Economia Politica exam Proibidos em Portugal, até mesmo na Universidade de Coimbra, e por Justas razdes, do ponto de vista da classe feudal dominante no Reino) (13) Mecenas Dourado:op. et. nip. 2711 «: (16) Lem: p. 44,1. Hig cisrevia: “Os estudos de Economia Politics so proibidos wa 2s A IMPRENSA COLO) tincias, Com a metrépole dominada pelos franceses, era indispensével tide aos bateos estrangeiros trazer ¢ entregar as mercadorias dieerama, na colénia. A dase dominante brasileira, a dos grandes proprietitiog que mais interessada estava no livre cométcio, constituia o piblico pony Gil do dagio editalo em Londres, O mesmo ecorta, epotasdes de com a camada dos comerciantes. E, por outras razdes, com @ can imédia, Aquela classe ¢ estas camadas, entretanto, do eam dadas & dow agiio, & postulagio dos problemas, atitudes préprias de uma classe, burguesia, inexistente no pais, uma ve 2 que ndo eram burgueses, @ rig os elementos da camada metcantil, que operavam com a forma pré-capi lista do capital, © capital comercial, haurido na esfera da cireulaga0 ena nna da produgio. © atraso da imprenss no Brasil, ais, em Gltima andlise, tinha apenas vw explicagio: auséncis de capicalismo, auséneia de burguesia, 56 n paises em que o eapitalismo se desenvolveu, a imprensa se desenvalveu, influéncia do Correto Brasiliense, pois, foi muito relativa. Nada te extraordindsio, Quando as cigcunstancias exigiram, apareceu aqui Prensa adequada. E por isso que sé por exagero se pode enquadrar @ Gorroio Brasliense no conjunto da imprensa brasileira, Quando come;ou a citeular, com a clandestinidade obrigada ou nfo a que se submeteu — slndestinidade porque proibido ou clandestinidade porque pouco lido ~ io se haviam gerado aqui ainda as condigdes para o aparecimento da imprensa, O que existia era arremedo. Quando surgiram aquelas condigiies, © Correio Brasiliense perdeu a razio de ser Nie foi coincidéncia 0 sew desaparecimento no ano da Independéncia, Seu pensamento a respeito, aliés, era claro: “Ninguém deseja mais do que és as reformas Ges, mas ninguém aborreee mais do que nés sejam estas reformas feitas pelo povo. Reconhecemos as mAs conseqiiéncias dese modo de reforms. Desejamos as reformas, mas feitas pelo govetno, ¢ urgi nos que ogoverno as deve fazer enguanto é veimpo, para que se evite serem feitas pelo povor™®. As palasras sio de 1811, mas Hipdlito da Costa per- manceeu fiel 20 que elas traduziam de contetido politico. Essa era, sem diwwida, também a posigio da classe dominante, no Brasil e na época, Mas esta evoluiu, progressivamente, esposando, em’ 1822, a solugio da Inde- pendéncis. Hipdlito da Costa nao a esposou: aceitowa, Foi ultrapassado pelos acontecimentos e, portanto, pela parte mais importante dp. seu pablico. E o Conreio Brasilense perdeu a razio de existir, por isso mesmo, d (08) Correio Brastiense, pig $73, lca sea principal da fase proto-histdrica da imprensa brasileira, Bods in ee eronologie, foi iniciativa oficial, de que ida pees oe Gazeta do Rio de Janeiro constituiu o primero favo. A expondia a determinadas eausas nfo era gratvita, Fra agora He cori, isso prova que o absolutismo estava em declinio. Ja necessirio inisrrywores, de ver proclatnadas as suas virtudes, de difundir os Feet soe oor vriacipalmente, combater as idéias que lhe eram con- ers peso bertura d rescia o ndmero Io men ps qus com aber dos portion, eis onimera tat (eos entrados clandestinamente, inclusive jorais,e nfo apen See rarliense, apareciam as folhas que tinham bafej offi ¢ que Petey neuralar os eleos dats do material contbandendo Erase Tus pei agora, defenderse Pediat a on delesa Sremrentativas sucessivas de periddicos, senzo numerosas pelo vriadas. : is da Gazeta do Rio de Janciro, de 1808, surgiv na antiga capita colonia» Baka,» segunda cide bras «Ida de Ouro do Dra titulo sintomitico de folha de formato in 42, quaero piginas, irculands Aetergs vextan fers, 20 rego do 60 ris exemplar © 84000 assinn tura anual Ea impressa na oficina de Silva Serva, escrta pelos porcugueses bachatel Diogo Soues da Siva e pave Inco Jest de Macedo, tendo ap recido o primeiro nimero a 14 de maio de 1811, trazendo como epigeate Os versos de Sa de Miranda: “Fala em tudo verdades / A quem em tudo as dove. Fora nga sb os aap cion do conde dos feos que ragoe at a5 que o periddico deveria obedecer,apresentando “as noticias pol fs sempre nana ma sgl, amin smpesmente ct, sem interpor quaisquer reflexdee que tendessem diretamente ou indict mente a dar qualquer inflexao & opinigo pablica” hea ia pretenta fbencfo, entretanto, nfo deveria imped a folha de Monat “como o ecierniional nha em consideragio no mundo pela adesio ao seu governo ¢ a religiio”. Assim, deveria ser imparcial mente 2 favor do absolutismo € constituirse em drgio de sua lowagio. J pelo titulo, supondo ser uma idade de ouro para o Brasil © periodo joanino, a folka trazia o timbre que a caracterizaria, E, conquanto os redacores 2lem para vs comersantes, 9 fi de gue ety the forces Moxa gue tecebiam erm sia conespondéncia ~ ea ls elmente Peles ses contton como exterior of Gis elements informs = 6 Compromiso com a verdade obese de injngesseveraniere tagadas pela autoridade, isto é, a nenhum respeito por ela, 0 que é cil verficar 2 AIMPRENSA COLONIA cio do qual postam o governo € seus ministros rebater os sofisinas d outros © exercer uma saudavel influéncia sobre a opiniZo da nagio". En indispensivel, assim, quanto a O Investigador Portugués, a que cabia nati, ralmente tal missio, “‘sujeité-lo a uma espécie de regulamento € fazer pop assim dizer um ajuste com os redatores”. Liberato entrou em conflito com, Paluela, fazendo ressalvas, de inicio, ae “ajuste”, para, depois, em 181, comegar a destemperislo. A quisilia prendeu-se principalmente i posigig) de Liberato que, no jornal, combatia a permanéneia da Corte no Brasi 1D, Jodo ndo teve dividas: mandou suspender o auxilio a folha, que Libs. rato abandonou em outubro de 1818. Em fevereiro do ano seguinte, g Jornal desaparceeu. Era preciso substituilo, Palmela sugeriu que se publicassem “no Rig de Janciro © em Lisboa jornais que defendessem a causa do governo com) talento © conhecimento”, enquanto tentava, de sua parte, conseguir jor nas que combatessem "a indecéncia e o atrevimento dos periddicos port: gueses que se imprimem em Londres”. Dessas tentativas surgi O Content porinico, redigido por Manuel Indcio Martins Pamplona, exsentenciado, que recebia mil francos mensais da legagéo lusa em Londres pelos seus servigos. Nao foram excelentes esses servigos pois o embaixador portuguds, agora especializado em conseguir penas de aluguel, cogitava logo de captar ado padre Joaquim Ferreira de Freitas, redator do Padre Amaro ou Sovela Politica, Histdrica e Literdria. Alugedo o padre, verificou o alugador, logo depois, que ele se vendia a todos. Fez-se necessirio aumentar-lhe 0 sub- sidio. © padre se tornaria profissional do mister: foi alugado, adiante, pot Caldeira Brant, quando das negociagdes para o reconhecimento de nossa Independéncia e, mais tarde, pelo Chalaga, para descompor o Brasil ¢ os que haviam levado D. Pedro 1 A abdicagio, Notivel precursor, esse, dé alguns notérios jornalistas atuais, desonra da classe que no pode por eles seraferida. Circularam em Londres, entrando no Brasil, outros periédicos, nio éstipendiados pelo governo de D. Joo. O Portugués ox Mercixio Politico, Comercial € Literdrio, por exemplo, seqiiéneia do efémero semanirio O Espetho, de Joio Bernardo da Rocha, visando particularmente os comer antes, que comegou a circular em abril de 1814 e findou em dezembra le 1821, combatendo a politica de D. Joio. Como 0 Correio Brasiliense © U Portugués, suiria om fasciculos O Campedo Portugués, que Yiberato Freire de Carvalho redigiu, depois de abandonar O Investigador Portugués: Sua incependéncia em relagio ao gaverno luso nio significava deforma alguma simpatia pelo Brasil. Muito ao contrério, o seu redator declararis que, para ele, tratava-se de libertar Portugal “de uma escravidio em que UFRRJ « NOVA IGUAGU vs, 2254 Ex. S 3 ‘amprensa AULICA ava ¢ da vil sujeigio em Gueo tinha o Brasil". Outros periddicos portu- eta de existéncia efémera, cicularam em Londees, ma fase entre a fuga Sarsoite de D. Joo para o Brasl e a nossa Independéncia, mas nfo exer eagm influéncia alguma no pablico brasileiro. Em grande parte, os seus se, pela sua violencia, os artigos do Frandico AntOnio Soares, que os asinava com o pacudénimo de Fro Resoluto, Num desses artigos, mencionava dois ofa huss, © Jost Joaquim Janvirio Lapa e 0 capitio Zeferino Pimentel Morcsa ‘que, ofendidos, decidiram punir por suas préprias maos o autor do individuos nascidos no Reine. Conseguiri com isto siobilizar 4 op brasileira ~ no que serd aliés ajudado por outro periédico de igual f mas muito mais violento, A Sentinela da Praia Grande, cujasrelagbes os Andradas ainda nio estio suficientemente apuradas. Mas sed tina m Hizagao puramente demagigica que acabard por se desmoraliear"40), Esse foi, realmente, o papel do Tamoio, nos seus erés meses de pauha apaixonada, secundado, em linguagem ainda mais violenta, jomal do sardo Giuseppe Stephano Grandona, A Sentinela da Liberdat Jieira do Mar da Praia Grande, que eireulou na Corte entre agosto ¢ novegh $ bro de 1823, isto é, no mesmo periodo em que circulou O Twmois e que se dizia, mas do que nio ficou prova documentétia, ser érgio tamb da inspiragao de José Bonificio e exemplo a mais de folha por cle anima nas agora fora do poder. E preciso inserir no quadro brasileiro, na fase que decorre em liquidagto da imprensa liberal pelo governo de José Bonificio, em outa de 1822, e 0 fechamento da Constituinte, em novembro de 1823, os tecimentos portugueses, iniciados em maio deste dilkimo ano, mas e ioea, Towels chegaram 20 Ro de Janeiro em agosto, més justamente em qa ago. Mal informados, procuracam, numa bores do largo dt Carioca comecain a circular, a 5, a Sentinela, do Grandona, a 12, O Tamoio, n pensavam fosse o culpado ¢ aplicaram uma surra de bengala n Vasconcelos Drumond e Franga Miranda, Que acontecimentos. er actutico David Pamplona Corte Real que, assim, pagou pelo que nfo Feros lasionades com o golpe absoluista que invesira novameng] feDeose a ocorénca nanoite eS denovembro, | D. Jodo VI na plenitude dos poderes do Estado, motivando a ofensiva lug} © Pamplona queixou-se & "soberana Assembléia”, on cial entretanto, para retorno & undo dos dois paises. A Independencia estava, assim, du do a comissio especial, entretanto, mmente ameagada, tanto mais que a esquerda liberal fora destruida na Co ¢ era severamente reprimida nas. provincias, Nesse quadro, pois, d repercutir pessimamente a incorporagio as forgas militares brasieisas ofcisis c soldados lusos que haviam optado pela permanéneia no Brat «que, nas lutas do tempo, somavam esforgos com os negociantes lusos d Principais pracas do pais, reforgando comsideravelmente as suas posi ¢ permitindo thes acitudes acintosas. Ora, nesse quadto, quando se Fe culavam manobras para reaproximar o imperador do rei portugués, isan © retomo a uniio entre os dois paises, a campanha da Sentinela ¢ do T ‘moio tinha signiticagio positiva. Ainda aqui, entretanto, a ressalva de Cal Prado Jinior tem todo cabimento: “E de lamentar que o édio de J Bonifécio a democracia e ao liberalismo — que ainda no Tamoio apa 3 cada passo ~ o tivesse impedido de ser inteiramente consequente em 5 acitude, ligindo-se com aqueles que lutavam mais eoerentemente contra contra o atentado, deci : 4 ” wrdindrios e prescritos nas lei que “o agredido devia recorrer aos meios ordinsriose p i Grasuno foi dlscucido em plenito, na sesie de 10 de noverbro, prove ‘COU inusitado comparecimento populzr. Silva Lisboa, éulico incorrigivel, ‘Protestou contra a invasio do recinto dos deputados, recebendo a resposta ‘VWeemente de Antdnio Carlos que se declarava espantado de que houvesse “tanto medo do povo e tio pouco da trops'"42), Martim Francisco, no = an io 12 0p. cit. pig. XVI Pe Sa Se os mnt eta 2 i eum, ei oe himo nea fe Sor ands Nome de is paamentr brain de lodos os tempos! "Sr. Peden. Assan desapadivel me ter de Ss ue fo sn toe dsr Aon, ina s,s pe Ie cigar prgunar» min cn: ublnam pentium suru? 0 Bas 9 slo ee Corstens Br eves ao Coo, ese Hale feito a0 nome Brasiletro na pessoa do cidaddo David Pamplona, enh sna at IPtOWEFo aparece no scio do ajuntamento dos Representantes Nacionais? Dix: ate um 8 te Nona qa mes nonin ioe ene mwa de dass Deputados? Momo siléncio da morte, itho da coacto, pela as linguas, ov 0 sous, sind a stern apcs cr aemblante. Jato Ce wom nés Repesenaner De (40) Caio Mado Jinioe:“intodusto" d eUigfo fesimila de O Tamela, Rio, 1944. 80 ATMPRENSA DA INDEPEND, igo A PRENSA 8 mesmo diapasio, exclamaria: “Grande Deus! ja é crime amar o Brasil nele nascido ¢ pugnar pela sua Independéncia ¢ as suas leis!” 7 © ambiente na Corte era de tensio: 4 9, os ministros da Gu da Justica, portugueses de nascimento, haviam pedido demissio, sepuig a 10, por Carneiro de Campos e Nogueira da Gama. Ao reunirse, a | Assembléia sabia que se preparava contra ela um golpe. Ia em meio a, sio, realmente, quando chegou oficio do ministro do Império, Franc Vilela Barbosa, j¢ formado 0 novo ministério. Narrava que os oficiais, guarnigo haviam representado ao imperador contra os insultos que vi recebendo da imprensa, que acusavam de incendiaria; 0 imperador for parecer que os militares no se deveriam imiscuir nos negécios politig, mas esperava da Assembléia providéncias relativas & tranqlilidade pt A Assembléia respondeu com moderagio: pedia acusagio concreta, mengao dos oficiais ¢ dos jornais. A informagio voltou pela madrugad representacio fora dos oficiais de todos os corpos da guarnigio, os jor exam 0 Tamoio ¢ a Sentinela, com os Andradas como responsiveis 9 redagio daquele ¢ influéncia neste. nistro do. leram-se of Andradas e a Assembléia convidou om Some tara ealeagtes, Eran cinco horas do madrugnda oronel do exéreito, comparecee atrasado e armado, come- Barbas ado. Advertido pelo presidente, evantouse © decarou necesidade de “pelo menos uma lei que coibisse o abuso da ‘da imprensa”. Disse e retirou-se. Pela manhi, chegou um off Mfeareto dssolvendo a Constitvinte por eer fallhado a0 compromisso iar a inegridade do Impl, 8 Indeperdnci e distin de pedrot). Terminara a longa "ncite da agonia”. Reinava o absolutismo, a ramoio 2 Sentinela deigaram de circular. Reseava agora a imprensa Fe dnica. A outra, a que fora liquidada em outubro do ano da Inde- cia, cumprira exemplarmente a sua missio; a que restara, a andra- liguidada cm novembro de 1823, tivera também o scu papel. Adireita feensio, empolgando o poder, ndo apenas destru‘a a liberdade, mas mt agora aqueles que a haviam servido, de permeio com aqueles que m eombatido. A vitima maior era o Brasil fim todo o trabalho dos que colocavam © problema da liberdade ‘quem? Da Nao Breuer do pode sr-quando se perde a dignidade, éesaparece também taidade, No, nfo somos mada, se extpidos vemos, tom femediar, o ultajes que fazer 99 ove do Breil excangeirs que adotamos navionais,e que asalariamos pata nos cobricem de bes, Como dise pois Comstto que o cao devia remeterse a0 PodetJudisiro, que nfo ‘oss competénca? oi ele simples viagf0 de um dicitoIndisidual, om antes om ataque fi toda a Naglo? Foto eilao ultajsdo « espancado porte ofeniddo 30s indvfduos apres {oi por ser Braslevo, ¢ ter aero enc 3 Independénca do sou Pas, nfo ama obando dt ‘nigos que, por descuito nosio, se em apaderado das nossas fort? Os eabelor te me rk sangue ferveme em borbotGes 3 sta do infando atetedo, quae maquinalmente yto: fa! Se no podemos salva a honraBrellere, sa ineapaidade, 80 ago do Gover, corogoa of celeradosssasinos, digas a0 ludido Povo que em nbs so a: Brailes, nl ts podemosastegurr hones ¢ vide: tora! vx meamos a defesa da vows honrae diva {ids. Ws seri isto propo de homens que esto em nore itag90? No, por certo;80 teabolhaei.enquanto tive vida por comasponder a confianga que em mim pit 0 bios Fo ler Pade oor aensinado; nso & nove que ot Jefensoree de Pow ej vitimae do 8 tusmo: mas meu sangue glad iaganga, c cu passe 3 posteridad, com 0 wogad da dig uo Bros. E que mats pods desar ainda 0 mae ambicioro dos homens? Anda é tmpe, St. or expusrem do teriiio do Império qu yoluen". Ne mesma sesso, Martin eo fe breve dscuso-"Darsedo cto que, svierids a esouddodas tea, enemoe mraltz? Que, ramentador como te nate do dspotome, mamas sind ssf f Ou que, wigades sb o peso de noms opresies,emodcemos de sul, a be arn oor eae come rns Pv i? To ot uns, nfo tems sindaconeegdénias, conden ofto pot oda 2s ws faces, sercuatincie rests que acompostaramne arr, poste Motu do crime ou ines soretdon. Dasedhe que semelnt ates e089 39 origi ino dos sburae da prem cuminemov. Nami dia sto? Bons, ft rscdo,cm sua bois, no spo 20 pda ata da Cais o bai Dad ett Seen Sor Lapa s Cpt Moreover epanci« pot qu? Pot solo: porque ox peers qu, nenoseaband «flo da urea. que co ‘© mano posting emprestado de baskinmo, pgsm o beets de ox havetmos Aosta gos opting, peas tae de pani ceva us nn deraando 0 noo sang solepand educlament bates da nos Inde fms, sim groerem o argue rsp, © simentoqur ox mate.a ca ue o> So orn enlia de nosis dstemore. 2g m,n saportamor om nosso moto seathante fea” ) ofc dis: "ayenc tu convocido com tinh cio de conocar.a Asa tint Leptin, por deci de 3 de junto 60 no plOxina pasado; fin dar Hos perigos que the estavam iminentes; ¢ havendo esta Assembléia perjurado 20 0 solene fae prow 2 taco de delenor acne do pio, su Independencia» nina ‘Hei por bem, como impesador defensor perpétuo do Brasil, disolver a mesma Asse Sonos jf una outs na forma dst ised Clas para comocagio dst, qv aot ful deers trata sobre 0 grojeta de Consiieto que cule hl Jee br apres uplicadaments mais liberal do que 0 que 2 extinta Anemia eabow ac fs OF ore secession erent repaiges oem asim etenio Hexecutar a bem da salvage do Impétio”. forga nacional nfo esmags 05 celerados que querem faernosgueta por taigdes nots, zombaria do mundo. cumprenosabandoar os lugares que enxovlhames com a ness Imando d Mesa a min emenda. Digs a0 Govero que, ainda que o caso do insu fio 20 ‘fo David Pamplona preg viola de um dveito individual, como por sua natuera | ‘da seja wma injriapabes 30 Bras aga inguirdeler; wereadoe os autores, a As 2 A IMPRENSA DA INDEPEN entrava em derrocada: © poder popular, que tanto se hiviam esto por gerar, defendendo a idéia da convocagio de uma Constituin recrutamento de seus membros por via direta, na consulta mais amy as condigdes do tempo permitiam, fora podada, de inicio, com a indireta e, depois, com a redugio dos poderes da Assembléia, agora Vida. Os avangos progressivos eram respondidos com 0 sitbito e total a classe dominante apoderava-se do comando, exercendo-o em sua Para isso, teria de, tomando medidas violentas, suprimir toda stagdes de liberdade, inclusive e principalmente a de imprensa, Era o primeiro retrocesso no longo ¢ tortuoso processo da Inde déncia; ndo seria o Gnico. Como o avango anterior no havia sido 0 Entre o fechamento da Constituinte e o movimento de Sete de decorre nova etapa, em que, gradativamente, as liberdades vio reconguistadas, até 0 episédio da abdicagio, quando se abre a etap: tiria por exceléncia, a do periodo regencial em que, com um regente © com um legislative renovado, o problema da liberdade é recolo parece preponderar. £, por isso mesmo, periodo rico, quanto a impr «quando aparecem, © proliferam, os periédicos, até aqui mal situados, jornais de cireunstancia, de combate, de linguagem virulenta, em historiografia oficial tem visto apenas os aspectos negativos, sem neles 0 fecundo exemplo de sentido libereério e de avango no esc mento da opin te Pla, el i se all ‘Alta pela iberdade Pouco antes de retirar-se do Brasil, o govetno joanino, a 2 de margo de 1821, determinava numa das derradeicas leis firmadas aqui por D. ozo: “Todo impressor seri obrigado a remeter a0 diretor dos Estudos, ou @ suas vezes fizer, dois exemplares das provas que se tirarem de cada na imprensa sem suspensio dos ulteriores trabalhos, a fim de que 0 detor dos Estudos, distribuindo um deles a algum dos censores régios € otvido 0 seu parecer, deixe prosseguir na impressio, nifo se encontrando ada digno de censura, ou a faga suspender, no caso unicamente de se ue contém alguma coisa contra a religito, a moral e bons costumes, fontra a Constituigio e Pessoa do Soberano, ow contra a publica tranqil- lidade, ficando ele responsivel as partes por todas as perdas ¢ danos que tal suspensio © demoras provierem, decidindo-se por Arbitros tanto Causa principal da injusta censura, como a secundiria de perdas e da- hap™44). preciso notar que tal decisio é posterior 4 das Cortes lishoetas, Stas Bases Constitucionais haviam determinado a liberdade de imprensa. tao temor das autoridades coloniis, isto é mandatérias da mecré- (46) Colepto des els do Bras Decretos Crit e Alert, 1821, Rio, 1889, pi. 25 a

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