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ESTUDOS ALEMAES Série coordenada por EDUARDO FORTELLA, EMMANUEL CARNEIRO LEAO, "MUNIZ SODRE, GUSTAVO BAYER, CIPBrasl,Catslogagso-nafonte Sinieato Nacional dos Eaitores de Livros, RJ. Habermas, Jrgen, 1929 ‘Beno Sicbencichler; eatrevstador, Michael Hal Sncro: Tempo Brasileiro, 1993 [Entdos alemies) ISBN S-29-0006'9 1p. Ik See cp -193 zs eDU-14) HI9p Paceado como fro / Jorgen Habermas; tradutor, Flavio (Colegio Biblioteca Tempo Univeritiro; a 94; Série “Tadugo do original alemio: Vergangenet als Zukunft 1, Habermas, Sirgen, 1929 - __- Botrevistas, 2. Politica {ternaional. 3 Filosofia sles, I, Halle, Michas. Hl Titulo. JURGEN HABERMAS PASSADO COMO FUTURO ‘TEMPO BRASILEIRO ‘io de Janeiro -RI~ 1993 BIBLIOTECA TEMPO UNIVERSITARIO 94 ‘Colcio dirigds por EDUARDO PORTELLA Profesor da Universidad Federal do Rio de Jancio “Traduzido do original alemao: Vergangenheit als Zukunft. Copyright: @ 1990, Editora Pendo Zurique Entrevistador: Michael Haller Tradutor: Flivio Beno Siebeneichler Capa: ‘AntOnio Dias e montagem de Elisabeth Lafayette ‘Todos os ditt eservados is EDICOES TEMPO BRASILEIRO Rua Gago Coutinho, 61 ~ Tel: 205-5049 Caixa Postal 16099 CEP 2222-070 Rio de Jancito- RY Brasil SUMARIO NOTA DOTRADUTOR INTRODUGAO, PREFACIO AENTREVISTA 1, PODEMOS CONSIDERAR A GUERRA DO GOLFO COMO 0 ELEMENTO CATALISADOR DE UMA NOVA MENTALIDADE NA ALEMANHA? 2. 0S DEFICITS NORMATIVOS DA UNIFICACAO. 3. PASSADO COMO FUTURO. 4, ASEGUNDA CHANCE DA EUROPA. 5.SOBRE © ALCANCE EAS LIMITAGOES DAS ‘TEORIAS, a 1 7 19 4 59 95 NOTA DO TRADUTOR © sistema de numeragdo dos tépicas da entrevista © das questBes desenvolvidas em cada um deles foi introduzido nesta {radugio com o intuito de facltar a leiturae, principalmente, localizagio e a retomada dos temas abordados. INTRODUCAO © presente livro em forma de entrevista, que tentalancar luzes do esclarecimento habermasiano sobre temas atusisdocenario politico europeu e mundial, pode trazer uma contribuigio Importante pura a discussao de problemas que afligem a sociedade brasileira, tais como, por exemplo: a questio da sociedade civil, a idéia de nagio,o problema do socalismo, a utilidade das teorias, os, modelos culturais que devem orientar o desenvolvimento, econdmico, etc. ‘Além disso, eleconsttui uma ocasio impar parase entender ‘0 pontos principais da arquitetonica da teoria do agir comunicatvo, {de Habermas. E80, por duas razoes princpais,asaber: a entrevista apresenta uma condensagio desta teoria (ver principalmente item 5), como também uma aplicagéo dela a problemas centrais da politica mundial contemporaine. © cartier sismorrifico da entrevisia ‘Acestrutura de uma entrevista, de um artigo de jornalou de revista, a recensio de um livio atual, constituem formas de argumentagio, cujas regres so menos restritvas que as do métler ‘academic, 0 que acarreta como consequtneia um menor gra Je rigor ede conesio. Mesmo assim, opiniio filossfica transerita numa entrevista traz vantagens: tem acesso mais féeil & consciencia pablia, permite tomadas de posigio mais francas e associagSes de ‘clas mais livres © interessantes, colocand em relevo # tensio eistente entre posigies diferentes, entre niveis distintos de abordagem da realidad Eu ousaria afirmar que a dinimica do pensamento Ihabermasiano pode ser melhor caplada na complexidade de seu conjunto se estudarmos os fragmentos de seu pensamento dspersos, nos ensaios, excursos, introdugSes, postacios, conferéncias e, principalmente, na indmeras entrevstas. “A dilatada entrevista que 0 leitor tem em mics situa-se na atualidade premente do instante historico: nela Habermas néo se Compora como um go, um meta, um cent poli, um socidlogo, um moralista, ot como um filésofo de cétedra. ‘Sua posigio € a do intelectual eyjo trabalho precipuo consiste em tomar conceitos do imbito da filosofia, das ciéncias politicas e histGricas e colocé-los “em contato com os fatos contingentes, com as expetiéncias biograficas efémeras, com as ‘voltas do espirito do tempo" (Politik, Kunst, Religion, 1977. p. 6), ue se refletem nas mudancas de tendéncia, nas revolugdes, nas todas do pensamento, nas catéstrofes, nas guerras. Eesse ipo de pensamento adquire um valor sismografico surpreendente, uma ‘Yez que capta os sintomas, os elementos indicadores de mudancas estruturais, como um sismégrafo capaz de registrar os minimos tremores ¢ as menores crispagées e movimentos do interior daterra, © passado como futuro “Passado como futuro” fi o lema da campanha politica de Ludwig Erhard na década de $0 na Alemanha Ocidental.Assinala a fendéncia que busca no passado os modelos que servem como medida para a interpretacto do futuro. Habermas retoma esse lema na presente entrevista para ltica entre duasatitudes que sobressaem icussho dos problemas colocados pela queda do social al: deve-se prosseguir na linha dos ideais tradicionsis, tentando constrir um passado futuro, o futuro que 0 passado tinha projetado, ou, ao invés disso, apreender simplesmente © futuro em categorias do passado, um futuro passado? ‘Quanto a esse ponto, Habermas € eético, contrariando muitos dos seus colegas alemaes. Ele constata que a revolucio. ecuperadora, que vatreu a Europa nos ltimos anos, nio consegui Tangarluzes novas sobre os velhos problemas alemes: "poucas vezes {9 jubilo de uma revolucio emudeceu tio rapidamente” (Die nachholende Revolution, p. 7). 10 A quesido da faléncia do socalismo € alvo de interpretagées nem sempre concordantes, a quais podem ser divdidas nos seguintes modelos principals: 4) A interpretagio stalinista: Existe um grupo de defensores stalinstas do status quo anterior, os quais repudiam o cardter revolucionsrio das transforms- ‘Ges ocorridas, que eles interpretam como sendo contra-revolucio- nérias, ») A interpretagio leninista: 0 soca leinista apiate numa histéia de lua de classes com sim Final pré-determinado. Por iso, of teus represeaantes, que nio puderam dea de observa fats de novembro de 1589, consderam-nos como uma -revolugho onservaora sto, como una forma prieadora no Ato ‘eum proceso evolaciondro logo praco (rgen Kuzyea), portant, como uma simples autocorreqho do socllismo de Band ©) A interpretagho do comunismo reformist: Esta correnteinspica-te na idéia de um socialismo emocrdza que sea um tereiro eaminko ene os dol pox tnitentes se sociedad: 0 sociliomo de Estado e a soledsde tsa ‘Os comunis reformist pretendem ic mais longe do que os comunistas lenin, or quit dssam apenas coreg os eros Slolnitas, Apolandosse em diferentes corrents terieas do masa ocienal, les tomam como ponto de partiaaiia de lc 3autocompressao salina da evolu Dolebevita asia 0 Sccialsmo, promovendo a extatizago, a0 faves de feclitar 2 sociliagSo dementia dor meio de produc. Bicoria do trecro caminho aparece em diferentes variate, como, por exemplo, a de Dube, segundo a qual 0 Caminho a demotratzagio rata leva uum ord soil ova © sipetior da democracis de mass cdo beat sca u Marion G. Donboffacredita na possibilidade de se unit 0 socialismo e a economia de mereado, Cam "um poueo de fantasia de pragmatismo” € possivel descobrir que ambos se comple- ‘mentam, ou melhor, se corrigem. © resultado poderia ser um comunismo reformista de indole faibilisa, que renunciou a todas as certezas de uma filosofia da hstéria que impde A istGria uma marcha forgada 4) A interpretagio pés-modera do socalismo de Estado Na perspectiva de ume critica pés-moderna da razio, pirada em Nietzsche e Heidegger, ofim do socalismo de Estado significa uma revolugio que encerra era das revolugSes: cla super, na raizo terror naseio da azio. Através dela a razao nio desperta, uma vez que se descobre que ela propria € o pesadelo (Habermas: Die nachholende Revolution, p. 183-186) ©) A interpretagio anticomunista Nesta perspectiva as transformagSes revolucionsrias ‘corridas no Leste sigificam o final da “guerra civil mundial” declarada em 1917 pelos bolehevistas. Portanto, uma revolugio ‘contra sua propria origem. 1 Ainterpretagio liberal Eta registra inicialmente que falénciadosocialismode Estado desencadeia a dssolugio das derradciras formas da dominagio total na Europa, Chega a0 fm uma eainicada com ofascismo. A partir {dafcomegam aimperarasidiasde umaordemliberal Estado dedireito ‘democratic, economia de mercado, pluralismo soca funciona mat basta consdear cnx d exmoronamen dr igure eee R provocados pelas condiesestrutrais dos sistemas de sociedade € ‘de dominacio do socalsmo de Estado. ‘Com relagio 3 interpretagio do comunismo reformista, Habermas argumenta que 0 tema do potencial democratico e da teformabilidade de um socialismo de Estado, revolucionado por ‘dentro, nie pode mais ser colocada de modo realista boje em di ‘A questio 00 terceiro caminho que a ex-Republiea Demoer ‘Alema poderia ter seguido tem que fear sem resposta, mesmo que tescja apoiada em premissas correta. Pois a unica possiblidade ‘de testielo "com um pouco de fantasia e de pragmatismo” ja no ‘existe mais, uma vez que a massa da populacio decidiv-se contra, ‘A interpretagio pés-moderna do socialismo de Estado Habermas contrapie os fatos que nio eabem nesse modelo: a presenga dis massasreunidas na pragas e nas ruas desarmou um fegime armado até os dentes, E essa agio de massas realizou-se ‘no espaco nao elissico de uma arena mundial de espectadores, produzida pela midia cletronica, Ea forge legitimadora das {xigénciasrevolucionsriasveio da razio e do dieito, dasoberania {45 powo e dos direitos humanos. w) __ Esses Taos desmentem atese segundo qual ap6s-hist Guts paralisada, Desmente também o panorama pos-mode {de una buroeracia universal destituida de qualquer tipo de Jegitimagio. (© desmoronamento do socialism buroeritico revela, 20 ‘contro, um wlargamento da modernidade: 0 espirito do Ocidente sleangi'o Oriente ndo somente através da civilizago técnica, mas também através da taigio democratic, (Os fatos também contestam as afirmagbes ideol6gicas da inverpretagio anticomunista : Rest, finalmente, a interpretagio liberal. Ela nfo fas, no entender de Habermas, Porém, incomplets, pois no consegue ver ft trave nos seus proprios olhos, ou seja, as formas de dominagio {otalitria, eonstatveis em todas as atuais democracies de massa ‘cena Em contraste com esas set perspectivas insuticientes de interpretagao da faléncia do socilismo “realmente existente”, Habermas desenvolve uma perspectiva propria, a da democracia radial, inspiada na teora do agit comunicatvo- Parece que a radical democracia est altura dos desafios do séeulo XX1, pois implica numa formacio raconal da opiniao © da ‘ont a partir de interesses niversaizives. 13 const uma epi de arena ob frum universal no qual encontam lgar nfo somente os Iirab, mas também a Suc tc gu pode rt con 9 emento a rniages plat qucimpedem que molduranatciont| do Estado de ditto democrat se extangue Pra ee forum & convidada também a exquera no comunsts, qu pode contbut lho de wasformago dasa cts em auoiicn Tadzalment transformadota den sociedad capitalist, "Habermas tem como certo que apée a bancaota do socialise de Estado n ators radial eformista € oburaco da gulp qual tad deve psa. Flvio Beno Siebencichler “ PREFACIO © desmoronamento do socialismo de Estado no Leste ‘europeu; os iraquianos no Kuwait e os americanos no Golfo; em Bonn, uma politi dirgida unicamente aos intereses prOprios © pendtia social daqueles que desejariam viver nas condigbes dos Slemées ocidentais: tudo isso leva-nos afiemar, com Jurgen Habermas, que «nova inransparéncia continua ganhando terreno. com ela cresce a necessidade de esclarecimento. "Este lio foi escrito justamente com a intengio de fornecer novos impulsos para esse esclarecimento: pretende colo problemas candentes relacionados com eventos marcantes da Atualidade politica no enfoque esclarecedor da anslise habermasiana, "Aentrevista fo acertada com Jirgen Habermas no verio de 1990, Combinamos que ela seria eita por via postal. Nésa iniciamos ria 6poea do Ano Novo de 1990/91, detendo-nos inicialmente num Teque de perguntas sobre os alemies na Europa, Prosseguimos em Fevereiro com consideragSes sobre a crise no Oriente Médio. CChegamos ao final em margo, quando nos detivemos em questes complementares sobre o pensamento politico de Jirgen Habermas. IE verdade que ‘o método de entrevista em forma de perguntas por escrito nio permite a eclosio de um dislogo Verdadeiro, nem mesmo objedes espontineas, No entanto, esti de entrevista compensa o leitor, proporcionando uma construgio ‘mais clara e uma forma mais incisiva ‘Onnosso texto nasceu, pois, de uma longa entrevista feita por escrito, As perguntas fitas por mim eas respostas dada por Jurgen Habermas foram agrupadas numa ordem ditada pela atualidade dos ‘problemas, tomando como ponto de partida a questio candente da Guerra do Golfo, Vem aseguira probleméticareferente aosalemBes, ‘seus intelectuais, Num teeeiro momento focaliza-se a Europa. Na 1s parte finaleniram emcenaquetdereferentesvaldade dasteoras Ee Jurgen Habermas numa époce torturada pelos medos desperados pel futuro. vertu era semeada de eventos artasadores, a ceonstrangem sem és un reexame des proprio juan, pode parecer que uma entevista versando sobre questOes atuas esta SSndenada de antema a obsoleeénia rida como sucede com sjslquer materia de consumo. Noentanto,ts abordagensde Jurgen Hrtermas delineadas no desorrer do noso wabelh, superam em tuto © quadro dos sconfecimence cotianos,proporionando Ids parao debate que estate niandosobre saconsequencias os {aioe que sacodem a duat Europas e sobre o seu Tauro. Nos neradccemos a Jurgen Habermas plo eforgndespendidos pare {ue aentevista chee bom termo ms primeiros meses de 1991, {pera das rapide madangas vidas no cenio mundial ‘Michael Haller Hamburgo/Zurique, abril de 1991 16 AENTREVISTA, Dois sconteimentos dramiticor alge e preocupam os ‘homens no inicio da presente década. Petia ' ri". primeito event, mais proximo a ns, & o da queda ‘ertgnas J socal real no Lette da Europa, quelevou, de um Indo, a Unito Sovctien 5 bia a gucra ch ¢ que nos du de presente, nbs alemées, a Unto dt dus Alemanfas. no rouse Eonscaubncis de longo scance alo somente pars nos, como também para todas estrtura doc Estados europe, segundo evento trnou se manifesto srwés da anexagso do Kuwait por pate do rage, em ageto de 199, este st eve como reasto 0 uitisto.do\ Conse de Seguranga da ONU ¢ Culminou, ne dia 16 jane de 199, no ataqe dos Aliados a0 Trague eras por Washington. so fsultow una guerra de ses semangs, qu erdconsequénc inprevses, no somente pare as Destoas no Orente Medi, mas tanblm para a elagds che as ages industiazaas cos Extads do Tree Mundo. M Haller 7 1, PODEMOS CONSIDERAR A GUERRA DO GOLFO COMO 0 ELEMENTO CATALISADOR DE UMA NOVA MENTALIDADE NA ALEMANHA? Resumo: 1.1, A Guerra do Golfo: um ato rasional ou recaida na barbérie? 1.2. Aspectos politicos da Guerra do Golfo, 13.0 papel da ONU. 1.4, Argumentos a favor da guerra: a pretensa lgitimagio da guerra pela ONU. 1.5, Argumentos conta aintervengSo militar no Traque. 1.6, Seqiclas da intervencio. 1.7. Sobre a personalidade de Saddam Hussein. 1.8 Sobre a parcela de eulpa do eurocentrismo. 1.9, Sobre a possiilidade de uma “politica interna mundial”. 1.10, Sobre o pape! dos slemées. L.A possivel eontrbuigao dos alemies para uma politica radical da paz mundial 1a. HALLER: Nesta entrevista fit por escrito eu gostara de colocar logo, no inicio os acontecimentos que se desenrolaram no Golfo Pésico. les desencadearam discusses violentas em todas as regides do planeta, Muitas pestoas viram nessa guerra uma recada na barbérie, fida até hd pouco como impossivel. Ou teria sido ela a ultima ratio, ‘que se antecipo, fim de evitar males piores? 19 HABERMAS: Essa foi a questio que mexeu 2om os sentimentos, durante os meses de jancito ¢fevereiro de 1991. Ela confundiu os Sinimos e teve oefeito de uma dinamite nas cabocas das pessoas. A propria intensidade destes debates acalorados constitul um Fendmena i parte que merece maioresesclarecimentos. Por que seré {que a guerra do Golfo chegou a desencadear essa onda de afetos © ‘eseamasa de argumentos? Tal pergunta nio deve causarestranheza, lama vez que apés 1945 foram desencadeadas eentenas de guerra, lgumas até com maior nimero de vitimas. No entanto, a maioria, ‘delas nem sequer foi percebida no Primeiro Mundo. Certamente, no ‘caso atual estavam também em jogo as reservas de peiréleo do Oriente Médio, das quais depende a producio industrial dos patses, ‘ocidentais, do Japio e de outros mais. Todavia, esse fato.ndo consegue explicar suficientemente as turbuléncias acontecidas a nivel public. Poderiamos também dizer que a guerra de uma uperpoténcia sempre acarreta uma certa significagio global, No entanto, se fora apenas iso, as reagSes despertadas pela guerra da Corgia e do Vietnam deveriam ter tide 0 mesmo alcance. A intervencio no Vietnam desencadeou realmente um confito que se ddesenrolow perante of olhos de uma opiniio publica em sentido, stro, Desta ita, porém, niose tratoude uma guerra de nacional no contexto da descolonizagio. No Iraque houve a confluéncia dedois elementos que modifcaram o modo de percepeao {dos acontecimentos bélicas: 4 racionalidade demonstrativa das estragiase a presenga sem precedentes da midi. Dado que o fracasso traumatico havido no Vietnam no {qurorsomn tm enresosnasrathoe paramos cee (east 1860711, ‘A desctigo de Arato contém, sem duvida, uma boa dose de autocritica: os de esquerda deveriam, ao invés de compartlhar o a satisfagio dos liber situagdes novas. 33, tentar encontrar respostas novas pra HALLER: Tair exigencias sfo fora do comum, pois a esquerda tradicional sempre viu sua tarefa preponderantemente no ‘questionamento erico, néo na procura de respostas. E agui uma ‘Pergunta interessante: que tipo de respostas novas o senor pensa que 1 esquerda podera dar? HABERMAS: Os intelectuais de esquerda sabem a0 menos que eles, precisam aprender -mesmo que sinda nio stibamexatamenteo que. [No entanto, mesmo nao tendo ainda as respostas, cles conseguiram, aprender os temas que dominardo os debates que surgirao daqui ‘pra frente, J4tocamos em dois desses temas: em primeio lugar, © eso do pano de fundo cultural e politico, que também é decisivo fora ctblidade co desenvoimeno da denorai em segundo lugar, a relagio entre nagio e nacio de cidadios (e com isso se temaiizam problemas que poderiam se tornar mais importantes para ‘2 Europa do Leste do que para uma Alemanha bem integrada no Contexto europeu). Em ambos 0s cass trata-se do valor posicional 4c instituigées formais de um Estado de dieito. Ao abordarmos a ‘Guerrado Golfo, flamos também sobre os problemas de uma futura politica interna mundial e sobre o papel das Alemanbas unificadas fa nova constelacdo das poténcias mundiais, Tavez o tema mais importante seja o dos aliivos problemas de transigéo do sociaismo {de Estado para a economia de mercado. A revolugio recuperadora nfo langa nenhuma nova luz sobre os noksos velhos problemas — ‘mesmo assim eles passam aser colocados numa situagio modiicada. Em 1990 foram os intelectuais conservadores que ecobriram a situagio transformada com suas vlhas interpretagdes. Foi assim que um heideggeriano descobriu, por exemplo, na “loucura, lobcura” do dia 9 de novembro a consumacio dos tempos, ‘um engano que jétinha sido cometido por seu mestre em 1933. Um ‘neo-atistotélico, por sua vez, viu n0 novo Estado nacional a ‘ealizagio do sono da eticidade substancia, oqual ele sempre ops 40 pesadelo do abstrato patriotismo constitucional. E um extraordinério conhecedor do idealismo alemio interpretou os contecimentos contemporineos como sendo outros tantos acenos ‘para o tipo de repablica alema que os melhores dentre os nossos jé 6 {inham em mente em 1800, sem sucesso. O historiador que se apressou em ir a Wartburg, a convite da Liga Patristica dos Estudantes Alemies, para fazer a ponte entre 1817 eos dias tua, ¢sforgou-se muito para livrar os av6s da mécula do caminho Prvilegiado, ‘A historiadora politica que tem prazer em ser apresentada, pelo folhetim conservador como socialdemocrata tentou, pelo ‘mesmo camino, ganhar as batalhas perdidas de ontem, De seu artigo pode-se depreender a necessdade de se reescrever ahist6ria dda Repablica Federal de Alemanha (FAZ de 12 de dezembro de 1990). Mesmo sabendo que essa Republica deve igualmente 0 seu tual estado relativamente liberal & mudanga de mentalidade desencadcada pela revolta estudantil de 1968, podemos ler 0 seguinte comentirio sobre a geragio de 6: “ie pn gt octet aoe ee ate re Soteargeme ene Sale eae ee {rapido ae remntcer cent Sc emp. ti 0 ‘mts eipea que ec, deuegendo.os Sun eran M80 ¢ [Sealant sa eranga submerge agora ia ce yur preeberma goss ques fore 589 © 190 Antje Vollmer, com suas manciras mansas, colocou os acentos nouito lugar & mostrou por que nio € possivel ordenar Simpiesmente as biogtaias politias de acordo' com a data de haseimento des personagens. Els tem aseu favor as experiéncas de Bonn e a interpretacio de Biermann relative « Deda e fear, Parti do momento em que faz ums dstingao entre 08 tipos Sedentirios c 0s tipos que realmente puseram em marcha, E possvel que se dé o caso de uma artmétea de erage, segundo o {ual 9 6 fr uma coi com o nto, porque se-opdem etivamente&geratio intermedia ~is0,porém, 36. possvel no fothetim, nio na reslidade : e 34. HALLER: Neste contetoconvém lembrara assim chamada querelana erat, comida no vero de 1990, quale desencadeou em tornode Christa Wolf de seu pequeno lo autobiogrfico Serd que at também ido se ratava, acima de tudo, deum problema de geragbes? 66 HABERMAS: Sua observagio correta, Minha geracio, que aps a _gucrrateve todas as chancese tambémas uilizou,dominowocenstio, {intelectual durante um tempo extremamente longo, seja na faculdade de filosofa, eja na literatura. sso também nada tem a ver com a falta de talento; os intelectuais que vinham surgindo no Yiram no momento histrico em que elesse impunham uma raz50 para rebelarse contra os seus predecessoresimediatose proclamar lum novo inicio, Ese isto est acontecendo agora, éalgointiramente natural. Butlesco € 0 modo como acontece. Sob pretexto de uma “estétca daconsciéneia”desalojam-sc os eseritores que se tornaram ceminentes nos primeiros anos do pés-guerra, considerando-os Sportadores do Estado”. Numa situagio normal, a literatura é suplantada apenas pela prépria literatura; agora, porém, os criticos da literatura querem cuidar disso sozinhos! ‘Akém do mais, o debate lteririo em torno de Christa Wolf foi um bom exemplo para a repetitividade dos jogos postos em movimento, O fothetim, que desde décadas reslizou o trabalho mmerit6rio de reabilitar nosso jovens conservadores, apressou-c, Togo apds a abertura do muro, 8 realizar as expectativas de Peter Rulhmkor: “agora ¢ preciso fazer 0 socilismo pagar por tudo 0 que nose fez na €poca com os nazistas”. Tadavia, osubtexto de todo 0 ‘bate & de feitio ainda mais antigo. Acreditou-se que finalmente ‘era chegada a hora de manter os intelectuais do Leste edo Oeste no Ponto em que era possvel comprovar nao somente o seu perigoso {opismo, inimigo do bem comum, como também desmascaré-los ‘comoos verdaderos inimigos do povo. Ivan Nagel interpretou iso ‘demanecita inteiramente correta ao falarde uma "lutacontraanimais, ‘meres no lrg do eae da Replica ‘Demosatca An cn Reps Fee cn Aaa com nn aio peice stam sean cs ema eons Sarees com um sb morcaeo”(uddeaseh Zong, 2223, atremiroce B30) 3s. HALLER: Além do ratamento dado aos inelecuais na Alemanha de hoje, exisiem muitas outras coisas que nos fazem lembrar os imchosanos da Republi Feral da lemanko, quando a police Fe reconsagto" de Konrad. Adenauere de Ludi Erhard ipedia or 4 ruptura defintiva de ideologias tradicionais. O passado foi Suplantado ~ e pedemos ver ainda hoje as suas ruinas. Tudo parece indicar que oclima de opinido rinante nos anos 90, comoborado pela ‘tual potica alemd,retoma esse velho modelo. HABERMAS: Dieter Obernddrfer, 0 polit6logo de Freiburg, 30 analisar a primeira eleicho geral das duas Alemanhas, chegou conclusio de que esti se formando uma paisagem de partidos, surpreendentemente semelhante as constelagSes dos anos 50.130 vale naturalmente apenas para as grandezas agregadas, ndo para 35, estruturas que esto pot baixo, a quais se configuram de modo inteiramente diferente. O que se di aqui, acontece em todo o lugar; © enganador déja vu torna-se eficiente historicamente. O8 “ocidentais” (Wessis) reagem to alergicamente a cerlas caractersticas habituais erasgos mentas de seus irmiose ims do Leste, porque eles mesmos se reconhecem nesses aspectos, ‘Ressurgem imagens tpicas das prOprias fases iniciais, quando as virtudes secundéria dos alemies conseguiram desvencilhar-se dos ddebruns politicos ~ eda cor marrom ~ inclinando-se agressivamente para a esfera privada destituida de historia. As imagens de entio, ‘quando 0 orgulho nacional slenciosamente se transportou para 0 ‘orgulho econdmico, retornaram apés novembro de 1989, ¢ cupam desde entéo ¢ inteiramente, a fantasia, impedindo que sua mobilidade seja aproveitada para abordar os problemas do futuro. Certamente a novidade inaudita da passagem de um socialismo Estado falido para um capitaismo desenvolvido poderia expl ‘esa tendéncia para a regressio. Quando o homem elevou'se pela primeira vez nos ares com o avito dotado de hélice, aprendendo ‘como dar-se bem em meio is incertezas de um novo elemento, ele interpretou a navegacio aérea em conceit da navegagio maritima, {que jah muito tempo eram do dominio das pessoas. Era uma forma mégica de superar 0 medo perante riscos desconhecidos. Eu lembrei-me disso quando se quis retomar o modelo da reforma ‘monetiria de 1948; esta foi realizada sob condigSes inteiramente dlistintas e nao prestava como modelo, Procure lembrar-se dos anincios de propaganda politica de Ludwig Erhard, que Klein, 0 Porta-woz do governo tinha mandado preparar para # eampanha Palas cleigdes: Passado como futuro. Naturalmente os anos 90 10 ‘io os anos 50. No entanto, a tendéncia que leva a escolher modelos do passado como padrdes da interpretacio do futuro parece set iresistvel. Um ato consciente de elaboragio constitucional teria 8 ‘construdo um passado futuro. Ao invés disso, o futuro éaprect tna forma do passado, de acordo com o lema: enfrentemos a nova, situagio do modo como ja o fizemos an 36. HALLER: Tendoem mente esa dificil historia dos alemaes,épossivel ‘Perguntar se wma sociedad realmente esd em condicées de "tormar-se ‘enhora” do passado. E mesmo que a histria nd se repita: serd que ‘existe algo parecido com uma pressio coletva a repetigao? HABERMAS: Os tedlogos costumavam caracterizar como pecado ‘original aquilo que hoje denominamos de coergéo individual ov ‘oletiva & repetigio. Ralpf Giordano caracerizou a repressio do passado nacional-socalista, portato, a base psicol6gico-socal que ‘stava na baseda reconstrucdo levada acabo por Adenauer ¢ Erhard, ‘da qual falamos hi pouco, como sendo a “segunda culpa”. te Becker e Hans Becker previnem agora contra uma terceira culpa". Num artigo muito esclarecedor (Frankfurter Rundschau, de 9 de novembro de 1990) ambos os psicélogos. interpretam a diseussio sobre 0 passado do Servigo de Protegio do, Estado (Stas) com um dscurso latente sobre o passado nazis “A deco atl ex Replica Demortia Arse 0 ‘Epoque vide 10S a 190 prc mutates uma cratra ‘iron mv na Rep Fer dh Aka os 14S ‘oda Ram ina co em, rey ogni, ‘omeeodelgrs teem vec ce Note amar ‘Scene un cottons rel sams por parts eno ‘Stemaepenasun-odopeprosotmenes Newnes uma (gante renga reine apesepuso inact eo deo EP ioctamens con opments dexomos ms Reps Derr Ak erro tes expan 0 80 ‘ee the raat ropes CONT Sees HHO, ‘Sead em 15 (© desejo de linchamento ¢ a exigéncia de se colocar um Ponto final nas coisas sio aspectos que se complementam: os oti rosso uma tena pte ‘mle dna edn doula. os queen ot ‘go iro prs or ciptse, dor exgingan que se ‘Satasse apes on part o Eu nfo tou psnsogo e tel também como ¢ dif teste stimagdeswbre molivor ecatatgias de defess de prandes grupos orem, Bester ¢ Becker clocam sun ends pcelpeostil no coo ii us mendes amid a ne Certapausbiitade- Uns boa parte ds reagcs aque pode set essai peo fto de que hoje se fevlvem Teseninentos ados na histéria do I e do II Império. Pode-se primed vey as preference doe paris Que eristalizsram nos novos Estados da Alemanka como sendo Syaclona no anode um interes propio ealareido.Porém, nio deveriamos deixar de considerar também observagoes Hstéio ploigiad tipo ds qu utek Beker az porexempl, ‘obre noon compet “Aamig fogs oxo stata da Unio Sviia pie ‘eng eos es hasastinnam pared. Fu ana se {pred & opti fe senia pets mora do sons Sa Fepattca Demis A com momar iene So Gu fo emo Treo Ine, pos eng a ‘bane como Esto mis sypemene ma se {ogo poster a Repbea Dooce Ale sano ‘muna, fu mio ie ve owen ogo, inves o Paro Neca Soc Tanadres Aries (SDAP) tered uma certo pane como acne? 1 poom com o Puro Socaia Uninedo da smanha (SeDy memo qoeaceothese sao logo apso enna da Aue” Quand esonpar'opotndo vl de eeG80 29 Fri ono San eae per, {a beeen ur reson de guarenta anos e Repl Bemostea Ales, posese eons uma ea aa Se ‘cro Zain 3 ag 200) O tema “resi i opti coletv” no me parece tio fora de propésito quando se presencia iis reagds.Alcn do mais LLatz Nethammer public imamente peauisas de brogratia soca relacionadas com a ase dos genes do Partido Socista Unifcado da Alemanha (SED), as quai comprovam a hipese segundo 1 qual a geragio da Juventud Hilersa” (10) © de “ventude Live da Alemanhs (FDI), que entou em cena nos anos 0 © que cartegn 0 sitema © a gual corresponded segunda feralo da “rosonsiragio” no Ocidene - vw numa Euriua com os velhoscomustt da princia hora o que pode Secexpcado asves da psiclogia. 70 37. ALLER: As inimeras tetativas que foram fits desde queda do muro no senido deum entendimento poco enrealemes do Leste ao Oeste sempre baterm na segue difeuldae: no decorer dos kos arent anc fomaranse ds tas dts am et riprios padrbes de socalangdo, comes jrtdcas idiomas ‘ir ndo cute wn didlo do entendimento a comuicagdopolica transcode moto ditorcido. Qual sera o caminho ceo por que ‘sa comunicagao fos enta de distorgbe? Quai seria os temas imalsropparse cnet al preccomumnovo corso HABERMAS: © que o senhor chama de comunicagéo politica jé ‘apareceu em muitos tall-shows como livo de figuras: os ocidentais (esis, que arrendaram a mora, defrontam se com as Osis (alemies {do Leste) “liquidados” © bumilhados, que lutam ~ de modo impressionante ~ pela sua auto-estima. Os mais fracas sio os mais sensfveis Na Alemanha Ocidentala vida quase no modiicow nada de Seu velho ritmo, 20 passo que em Berlim os contraentes ferem-se Teciprocamente de tanto que uns passam a0 lado dos outros. Basta ‘olhar a linguagem do corpo para reconbecer a grande miséria moral, {que a unficagdofeita no gto nos propiciou. Falta distancia, Um {Encontro no qual ambos os lados presupem a sua autonomia exigiia {ambém que cada um dos lado esclarecese em separado asua historia transcortida nos dtimos quareata anos ¢exgiia também que tanto & Repibica Federal da Alemanha como a Repiblica Democrética ‘Alem conseguisem tera sua propria autocompreensio, "No moment alual parece que se delineia no horizonte um desenvolvimento bem diferente. A Republica Federal da Alemanha, tas poderosa,apressa-e em propagar publicamente a luta por sua storia, que muitos iniiaram logo apés a uniicago num es idamente revanchista, a0 passo que a histGria da Republica Democratic Alemi éenterrada em meio ao maior ou menorsiléncio “como um cadiver que é passado & meméria da geracio seguinte. Desde a Guerra do Golfo, so 6 posto sob olema: “Nos precisamos tornar-nos novemente um pove normal”. Ora, uma historia pela metade, & qual se acfescenta a autoconsciéncia coletiva dos vencedores, forma uma base por demais frgil para um consenso ‘nacional mais firme. E anova Alemanka, que devido nova situagao ‘mundial seguramente teré de ser nova, precisa deste consenso mas, n ‘ontrovérsias sobre a politica interna, que te tornam cada vez mais, Ssperas ‘Seria preciso haver um consenso sobre 0 futuro papel da ‘Alemanha na Europa e sobre o tipo de ajuda que a Alemanba, a locomotiva econémica da Comunidade Européis, deveria dat para tommar possvel um desenvolvimento evondmico, social e pacifico na ‘Alemanha do Leste. Além disso, eu desejaria que houvesse um onsenso sobre um patriotismo constitucional enraizado nas ‘experigncias da historia alema. Essas experiéncias ensinam, por ‘exemplo ~ como lembra H. A. Winkler (Die Zeit, 28 de setembre de 1990) ~queaexpressio “nacional” deixou de ser, a partir de meados dos anos 70, uma palavra de guerra da esquerda para tornar-se uma palavra de guerra da direita;ensinam também que a Aleman foo ‘inico pas industralzado que, durante a crise econémica mundial, langou fora o Estado de direito democrético em favor de uma slitadura fascsta, Além disso, terfamos que ter clareza sobre a forma, ‘eas fungSes do novo Estado nacional, sem nos expormos, 80 mesmo tempo, censura a “arroganciado pés-nacional” Finalmente, seria ‘preciso delimitar o terreno sobre 0 qual 6 possvel se desentolat 0 ‘debate em torno da domesticagio ecoldgieae social do capitalism, (que todos desejam, a0 menos fas palavra. O conllito em torno da cescolha das politicas adequadas ira decidir 0 modo como agiremos em relagéo a imigragdo das massas que afluem do Leste e dos paises do Tereeiro Mundo. Temos que saber 0 que queremos defentler: 0 rude chauvinismo do bem-estar de uma sociedade que se sezmenta ‘no seu interior e que se transforma numa fortaleza em relagéo 20 ‘exterior ~ ou a integridade de uma sociedade altamente indivdualizada que precisa manter intactos os seus sistemas de funcionamento, porém, apenas para implementar os prinpios de uma consttuigio universal. Alem do mais, eu nao estou muito ‘convencido de que no terceiro milénio um acorde politico bésio, © {ual para néo colocar em rsco o pluralismo, deverd ser bastante abstrato, necessitaré ainda de simbolos para se expressat. AS bandeirasatrés das escrivaninhas dos presidentes sio uma imitagio dos Estados Unidos. Lé, no entanto, a socializagéo politica, que ‘mantém viva algumas idéias do séeulo XVIM, ou séculoesclarccido, ‘constitui o nivel mais importante da integragdo social de um continente gigantesoo. Entre nés, a tentativa da administragio, no sentido de ‘Propagar entre o povo as cores negra, vermelha e dourada, revela, lum certo aspecto manipulador.Igualmente artifical € a discussi0,, 2 ‘por demais apaixonada, sobre qual deve ser a cidade escolhida para capital. Eu estou do lado do colega Lepsius, que afirma simplesmente 0 seguinte: nds no temos, nem precizamos de uma ‘metrépole. "Nés somos uma nacio provinciana-tniversal”. Pode até haver uma carrada de razbes que levam alguém a considerat Berlim ‘como a cidade mais indicada para a sede do governo. Noentanto, 0 rgumento pior 0 da concentragio espacial do “espirito”. Na Britaria contra os criticos da metr6pole, contra © pulular do regionalism, contra ohedonismo apolitico, contra fuga da politica ‘mundial, ete, eu s6 posso reconhecer uma coisa: a contusio que os jovens conservadores fazem entre produtividade intelectual € comportamento do poder. Alguém poderia explicar-me, por ‘obséquio, 0 que os intelectuais, que talvez tenham se emancipado, apesar de tudo, dos sentiments de Carl Schmit, podem fazer hoje fem dia com a categoria “aura do Estado”? B 4, A SEGUNDA CHANCE DA EUROPA Resume: 4.1, Sobre a atitude ambivalente dos intelectuais com relagio 8 ‘exRepiblica Democratica Alem, 42. A razio por que os intelectuais da Europa Ocidental se ‘opuserum unilateralmente aos Estados Unidos. 43, Sobre as chances de um socialsmo demoerstico 444 Sobre a possblidade de uma reforma do sistema construido pelo Partido Socialista Uniticado. 4.5. Sobre o significado do fracasso do socilismo como um sistema de Estado dirgista, 46, Consequéncias advindas do fim da oposigio Leste-Oeste. 47, Sobre a cadueidade das formas de organizacio do moderno sistema de Estados. 48 Sobre as posibilidades de uma passagem democritica nos Estados da Europa Oriental 49. Os problemas decorrentes da reconstrugio de uma “sociedade burguesa” ou “sociedade civil”. 4.10, A Sociedade civil na Repablica Federal da Alemanhsa ¢ na Replica Democratea Alem. 4.11, Sobre o fracasso das Verdes. 4.12 Sobre o interese nas teoris polities, 4.13. Os sentimentos de resignago em relagio 20s problemas ‘colocados pela progressva destrugio do meio ambiente, Sobre a posibilidade de aprendermos através desses 4.14. A critica dos intelectuais do Tereeiro Mundo 20 “eurocentrismo. O camino habermasiano entre ootimismo © ‘opessimismo, 75 HALLER: Passemos a falar sobre o ocaso do socialismo de Estado e sobre as conseqiéncias advindas para a Europa: 0 que seré das sociedades da Europa Oriental, qual seré a reagao da Europa Ocidental? ‘Nenhum dos nostos tinka contado com uma ruina to concreta sem retomo do socialismo de Estado. Antes disso, quando a Republica Democrtica Alemd ainda exist, tds nds, intelectuais€ (8 meias de comunicagao de massa liberais, tinkamos um Telacionamento extremamente reservado com a outra Alemanha. A ‘tice, quando exterada, fazia questdo de apontar para uma serie de ‘ireunsincias atenuantes, eos elatGrios de artistas degredados sobre 9 formato totlitério do’ aparelho de Exiado encontravam pouca ressondncia, Nao obstane, quase nenhum dos intelectuais oidentas, ‘aprecava a Replblica Democrtica Alema. Nos ciculos da esquerda indo dognitica havia hd muito tempo um consenso de que as Condigoes da Repiblica Democrdtica Alemd no eram exatamente faquilo que se quer caractenzar com a palavra “socialismo". Como if numa visio rewospectiva, essa curiosa ambivaléncia no tratamento dado a ex-Repiblica Democriica Alera? HABERMAS: © senhor pergunta a mim? Quem cresceu na ‘Alemanha Ocidental apés a guerra, portanto, no lado oposto ao da RRepiibliea Democritica Alemé, nio teve nenhuma chance de se itudir sobre as condigbes reprssivas existentes na esfera de dominio {da Unido Sovietica.Etodos os que, entrenés, se tornaram socialist, sob a nfludncia intelectual do marxismo ocidental, deram esse asso, indo por eausa do “socialismo real”, mas apesar dele. Eu jé dei essa ‘esposta uma vez em 1977 em Israel, quando me foi feita a mesma jetgunta. E verdade que eu sempre me senti um tanto bloqueado, Temendo engrossar ainda mais 0 coro dos anticomunisias que Continuam a dar o tom entre nés. Mesmo assim, eu jamais deixei dduvidas quanto & minha rejeigio do stalinismo ¢ a0 meu apreso do. ‘marxismo sovitico -0 mesmo tendo acontecido com Horkheimer e ‘Adorno. E neste sentido ndo se pode falar, de forma nenhuma, em “ambivaléneia". Eno tenho nenhum mérito nisso, dado o fato de {que minha socializagio politica ocorreu no contexto politico do final ‘Jos-anos 40 inicio dos anos 80. Também ndo subi as barricadas de 1968 com a bandeira maoista na mio, como muitos dos Novos Filésofos que acreditaram dever impor a fout le monde que se 16 afastassom dos “mestes pensadores. Pode-se infer dai que ot Curreulon so diferent. Nao extem indice representatives 42. ALLER: Nésjérelatamos que o socialism realmente existent na Europa do Leseteve sempre a pretendo de se arena pela imagem ‘deuma sociedade na qual ereatiza a pat ea justia. Tea sido esta perspective que levou ositelectuais da Europa Ocdentlaseoporem liilteratmente contra ot Estados Unidos? HABERMAS: Eu tinha os mesmos motivas e conviegSes contra a Guerra do Vietnam que os meus estudantes na "New School” em Nova Torque em 1967/68, os quais ocupavam o ali existente “induction center” ¥s ses horas da mana, desaparecendo depois, ‘um a um, em diregio ao Canadé, a fim de subtrairse a0 servico nilitar obrigatrio. Intervindo numa guerra civil, desencadeada no ‘ontexto da descolonizacio, 0 governo dos Estados Unidos ni foi Fiel aos valores proclamados na sua consttuigho. Ora esses valores ‘correspondiam 30s principios com os quaiseu tinha me identificado apés a guerra. O encontto com as tradigbes politicas desta terra, ‘com tradigdes legtimamente americana, de Thomas Paine até 0 Pragmatism, deixou marcas profundas em muitos da minha HALLER: Houve uma fase em sua vida na qual 0 senhoracreditou ~ ‘au mesmo esperou ~ que a Europa Oriental ria encetarocaminho do socialism democritico, podendo chegar a triunfar sobre o Ocidente, ssendo economicament, a0 menos moralmente? HABERMAS: Eu certamente tive opinides mais ortodoxas do que as de hoje. A gente se esforga em aprender! Mesmo assim, eu precise! aprender para saber que olema “aleancareultrapassar” era ridiculo. Minka conviegao sempre foi a seguint: seas coisas devem melhorar, clas melhorario Ié onde as forgas produtivas © as democracias de Estado estio mais desenvolvides, ou seja, no Ocidente. Inclusive, os meus amigos de esquerda sempre me langaram em resto esse “eurocentrismo”. E hoje eu vejo, nlo sem, tuma boa dose de simpatia, que a histéria mundial oferece uma, 7 segunda chance & Europa unis. Hé muitos sus. sitios 20 Sugimento 8 ucts don grands mpics os romanos © 0 rFramos, ca portogueses es espanhis os ngleses os fancests, Setruson ¢ quae podeTiamos dizer ~ os americanos. Nenhum dieses imperosetornowaicenaumasegundaver. Hoje, no entanto, SS foras bs quas Max Weber adscreveu oraconalismo ocidenta oseriam unarsenovamente desta ver como expt sem ipragdes mperais © sem intospecgbesnatlsstias, de tl forma ate etna Baron ge aprender se sti pods ate "Rigo quero fupir sua pergunts, Natualmente eu acalente a esperanga'de que o ocialismo burocrtico viria um dia a Teralizar se ea dar um paso rumoaprendizagem,o qual podria cr um equivaeme funcional para o paso Je aprendizagem do ompromaso do Estado socal no Osidente. Essa minha esperanga foi mas forte nos das da primavera de raga do que durante aera {i Breschnow. Enio trios tido um confront, ertamente num. nivel de desenvolvimento inferior, entre vantagens edesvantagens Complementaes espeiica dos sistemas, ue), numa linguagem tmait simples: de um lado, teriamos tido inventividade Texenvolvimento das forge produtvas, de out lado, maior SSgoranga socal equi um ercimento digido qualitatvamente. Eenementcs xt esperanga esta seputada 44. HALLER: 0 senhor considera o sistema construido pelo Parido Socialista Unifieado reformével? Teria sido possivel erigir na Repiblica Democrética Alema um socialismo democrdtico feneampado pela populacio? Democritico no sentido ocdental de lima represertagio ampla e plural dosinteresesesociaisa no sentido ido poder social de dsposigdo sobre os meios bsicos de producao? HABERMAS; Eu reimprimi uma entrevista dada em novembro de 1988 para ‘Sinn und Form” no meu texto "Nachholende Revolution” (Revolugio recuperadora, 1990), Afeu manifestel a opinido de que S politica de Perestroika iia finalmenteiromper norelutante regime de Honecker, levando-o também # uma pluralizacio do sistema politico. Eu nao via € continuo a no ver nenbuma razio a prior Contra um potencial de desenvolvimento democritico de um Sosialismo de Estado revolucionado por dentro. Entretanto, com & B abertura do muro, todos os diques rutam. E isso eu aliemo sem ‘nenhum pesar 45. HALLER: Pouco importa como se entenda isso: junto com 0 ‘marcismo-leninismo fracassou a idéia de introdusir e impor 0 socialismo como um sistema de Estado digs. Que conseqiuéncias {sso tem para o mundo ocidenta, especialmente para nds? HABERMAS: Com religi asso, ou no poss dizer muito mais do {ue gusluer leo de joral maou mencs bom informada sabe. Adio paso ocapiaimoieexlrar ames mercadasn0 Segundo Mundo, As aaghs de comer eat extavam ht mo tempo dependentes do mercado munda: agora, porém, © modo se produc ockentaiompe no ineror de culture formas devid, {ue jf tinham slo senda strats de process burorieos de modernizacio ¢ esvaziadas de sua substancia tradicional. E dificil zr eomo ser ea segunda ransormagio,ipslment But de Shaler mado Ocdene rd obiatoimapinur novos pos de Dror de soda prs o emolament capes de ee onligdes pases paranodal do capital oor how-Com 0 descongelamenta dos blocs, propa poiicamiltar ¢ de frmamentos ntou uma pov fe. © dasarmamento ea mange dzeattégiasdeamamentocoloeao comple mia dust soo presso,acretndo, como sonsoqoénc, um redmensonamento Ae nossasfnangas publics © oma recsturagio de setores importantes paras economia poplar qucro que esa endénia tiossranl stave do Gta do ola tie incrnctooajéseormaram oovaraanatenocampo 4 poten tema surgem novos espats pars aaa, como se ‘eyed dar eck da ONU wo Rawat A Geeta do allenso Sr chance: cn o eames irs tora se lar qua dis superpatania que stouns em oconrle ‘luo detoon x confi © dsemolvinento dapar dacconomia tunis © fracas do Banco Munda no trate 2 poles Je roles Uieminaro deconlan uma omic 3 pressio. migatiis de populags das nagtessubdesenvolidas, ‘Erste ninco fome aio Je dewrdem, expla e intanparente. Exa stag cage um entrelagamenio mais efetivo de planifcagses lobas, bem como uma ” proteio poi ao mesmo tempo neurae mais fia através de Toroes internacional Jé flame sobre sso mais acima. E precito acrescentar aso a5 isparidades que extem ene at necesidadet ‘de um sancamento ccondmico social de lugares da terra para o& Guais Cale, Caio ou Lima sio of trtessmbolos eos Frreos Timites ecoldgicos de um equilforio da natureza j& muito sobrecarregadee "AS conseqdnciasimoditas para a Alemanta ¢ a Europa ‘Ocidetal so patentes. © problema perane © qual se enconta 4 pollca de deservohmenta da Alemanba, uc 6 de clevr mais Fapiamente posse! as condigies de vida na sua outa part, a im festanearamiragdo do Leste para Oeste cloca somber, 100 ‘utes premisas, para o relacionamento entre a Europa Ocideniale $Oviemal As gguntescasondas de migragdo, de 20 até 30 mils eeuropeusdo Leste, queso os dado eneslados no moment pelos ‘atstios, consituem uma sangdo exondmiea de tipo novo, que 0 Gsidente 36 pode alastar através de uma poles de ajuda a0

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