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ndios pensam que os animais so, na verdade, humanos" ou "o corpo animal de
fato um revestimento que esconde uma natureza humana comum a todos os
seres". A concluso do autor reside em apontar um regime multinaturalista que se
contrape fortemente ao regime multiculturalista hegemnico no Ocidente.
Noutras palavras, se, para ns, a natureza una e invarivel (dela derivam leis
universais) e a cultura, mltipla e varivel, para eles, o que se d o inverso.
Desse modo, todos os seres animais, plantas e espritos possuem uma
mesma cultura, ou esprito, ao passo que o que os diferencia a sua natureza,
seus corpos. E, se no possvel que todos apaream ao mesmo tempo sob a
forma de humanos, isso se d porque o cosmo constitudo de diferentes pontos
de vista ou perspectivas. Dito de outra maneira, humanos e animais percebem-se
como diferentes porque ocupam, cada qual, diferentes pontos de vista. Assim, os
humanos vem os animais como animais, mas os animais vem a si mesmos
como humanos e vem os humanos como animais... Ora, por meio da atividade
dos xams que esse esquema pode ser esclarecido: os xams possuem a
capacidade de ocupar outros pontos de vista, podem ver como os animais vem e,
por isso, compreender que, em sua essncia, eles so to humanos como
animais.
O nono captulo, "Xamanismo e sacrifcio", o nico indito e apresenta corolrios
da discusso iniciada no stimo captulo. Por fim, uma entrevista, originalmente
publicada pela revista Sexta Feira em novembro de 1999, fecha a coletnea,
trazendo mais informaes sobre a trajetria do autor, bem como suas opinies
sobre a produo recente em antropologia. Enfim, depois de se aventurar pelos
caminhos intrigantes de uma obra, o leitor pode confront-la com uma vida, esta
no menos inquietante.
[Renato Sztutman, antroplogo, doutorando USP, editora da revista Sexta Feira ]
O autor prepara a edio de seu prximo livro, tambm pela Cosac & Naify, A
desmedida de todas as coisas, para o final de 2004.