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Capitulo XV Perturbac6es das rochas Generalidades Segundo o processo genético que deu ori- gem a uma rocha qualquer, esta apiesentara uma estrutura caracteristica da sua génese @ das condigées fisicas, quimicas e, fisico- quimicas do ambiente em que foi formada. Assim, as rochas sedimentares apresentam- se na maioria das vezes dispostas em estra- tos quase sempre paralelos ou quase para- lelos ao plano horizontal, sendo o tipo de estratificagdo caracterizado pelas condigdes de deposigéo, ou sejam, profundidade, cor- renteza, influéncias bioldgicas, etc. As ro- chas magmaticas possuem sua estrutura de acordo com o jazimento e com as condigdes inerentes ao magma, como contetido em volateis, composigéo quimica, temperatura, viscosidade, etc. Assim, uma lava fluida pode derramar-se sucessivamente, formando uma verdadeira estrutura estratificada. Se o derrame for submarino a estrutura po- dera ser em almofada (pillow lava) ou ainda se for originado por nuvens ardentes for- mam-se os ignimbritos, que podem passat gradualmente a tufos incoerentes. O mes- mo se realiza com as rochas metamorficas. Suas texturas relacionam-se ao ambiente de metamorfismo, onde poder predominar a acdo da temperatura, ou da pressio ou de ambos conjugados. Resultam ento, ora tex- turas xistosas, ora granoblasticas, ou ca- taclasticas, ou microgranulares, no caso de certos cornubianitos. Uma vez formada uma rocha, qualquer que seja, com as suas caracteristicas de tex- tura e estrutura proprias do ambiente em que se formou, podem ocorrer mudangas nas condigées iniciais. Estas vao imprimir novos caracteres, que poderdo mascarar, destruir os preexistentes. Tratemos, inicial- mente, das estruturas ndo-perturbadas, ¢ a seguir, das perturbadas. Adiantamos aqui que as perturbadas sao subdivididas em dois grandes grupos: as de origem tecténica & as de origem atecténica. Estruturas ndo-perturbadas Via de-regra as rochas sedimentares for- mam-se em estratos horizontais ou quase horizontais (fig. 15-1), -Em alguns casos, contudo, nfo se verifica esta horizontalida~ de, formando-se estratos inicialmente incli- nados, eomo nos cones aluviais proximos as regides montanhosas, onde 0 substrato é inclinado ¢ os sedimentos obedecem a esta inclinag&o do terreno. O mesmo se di com os depésitos deltaicos, nos quais ocorrem trés tipos de camadas, dispostas em Angulos diferentes, como ilustra a fig. 5-14. A incli- nagdo das camadas frontais (foreset) deter- mina com as horizontais de cima a estrati- ficagdio cruzada, como se vé na ilustrago. A 345 reed a ae Sedimentos permianos com estratificagao horizontal, rigos em didiclases verticais. Morro do Convento, Ararangud, SC (foto de J, C, Mendes), estratificacao cruzada é muito freqiiente em camadas arenosas depositadas por Aguas . correntes. Formam-se pelas variagdes nas correntezas, que podem escavar depresses, em cujos lados novas camadas dispor-se-4o em posigao obliqua as horizontais preexis- tentes ou posteriores a elas. O Angulo de mergulho destas camadas varia de 15 a 30°, a posi¢do da inclinagdo indica o sentido da correnteza antiga, constituindo um impor- tante elemento paleogeografico. Outro exem- plo deste tipo de estratificagdio é encontrado nas dunas, onde os estratos se inclinam de 30 a 35° no plano do sotavento, 0 que pos- sibilita, igualmente, a constataco da dire- cdo dos ventos preddminantes, responsaveis pela formagao de antigos depésitos edlicos. Em se tratando de camadas de dimensdes pequenas, de poucos metros de espessura, é facil reconhecer-se no campo esta estru- tura originalmente inclinada. O mesmo nao se di, contudo, com camadas de grandes di- menses. A literatura cita 0 exemplo desta dificuldade numa formacdo geologica da Russia, onde a inclinagdo das camadas leva- ram os estudiosos 4 conclusiio de que a sua espessura era de 7.500 metros, imaginando uma inclinagdo tecténica de camadas ori- ginalmente horizontais, Posteriormente foi 346 verificado tratar-se de inclinagao original de sedinientos deltaicos com uma espessura de 1.200 metros, Segundo a primeira hipotese, a espessura deveria ser tomada no sentido perpendicular as camadas, 0 que faria au- mentar a sua espessura real. Caso digno de ser citado ¢ a ocorréncia de um contato dos sedimentos glaciais com uma elevagdo do antigo substrato granitico, no Sul do Brasil. Os estratos foram dispos- tos paralelamente & superficie arredondada - da elevacéo granitica dando a aparéncia falsa de um dobramento originado pela intrusio da massa granitica. Perturbagées atecténicas Trata-se de perturbagdes locais de peque- na amplitude, afetando pequenas Areas (fig. 15-2). Sd0 movimentos cuja causa reside freqiientemente na fora da gravidade, sen- do realizadas geralmente na superficie ou nas suas proximidades. Vrias so as causas que determinam estas perturbagdes, mais comumente manifestadas sob a forma de dobramentos. Muito comumente, nas madas permocarboniferas do Sul do Brasil, encontram-se estratos que podem atingir até 10 metros de espessura de origem glacial intensamente amarrotados em complicadas dobras, delimitadas por baixo e por cima por camadas nao-perturbadas, horizontais. Fig. 15-2 Dobras atecténicas em rochas sedimentares estrati- ficadas, S20 reconheciveis como tais pelo fato de ocor- rerem entre estratos ndo-perturbados, Esta estrutura ndo pode ter origem tecténi- ca, pois, se assim fosse, 0 dobramento teria atingido todo o pacote sedimentar, e ndo apenas uma espessura de poucos metros. A causa reside no empurrdo provocado pelas geleiras que se deslocavam por sobre sedi- mentos ainda nao totalmente consolidados. £ digno de ser mencionado um afloramento que mostra este tipo de deformagaio, encon- trado na estrada que liga Porto Feliz a Boi- tuva, SP (fig. 15-3A). Em todos os demais casos semelhantes observados nota-se a co- incidéncia da posigéo das dobras, que mos- tram o empurrao do gelo de SE para NW, que € 0 sentido geral do movimento das nossas antigas geleiras. Outra causa que pode produzir deforma- des da estratificagdo original € 0 escor- regamento de sedimentos inconsolidados, de- positados em um substrato inclinado. A perda de equilibrio, seja pelo excesso de peso, seja por maior fluidez, seja por aba- los sismicos, determina 0 deslizamento. Sen- do altamente plasticos os sedimentos ainda no consolidados, as dobras podem ser complexas. Durante 0 processo de litifica~ do de um sedimento, certas camadas mais ricas em agua, mais plisticas, como as argi- losas ou turfosas, sofrem maior redugao em volume, o que pode resultar em deforma- gdes das camadas adjacentes. Conforme 0 caso poder-se-4o formar falhas, dobras ou ambas conjugadas. Qs domos salinos séo verdadeiras intr sdes de grandes massas de sal que determi nam o dobramento das camadas de cima (v. fig. 9-9B). Si0 explicados em parte pela menor densidade do cloreto de sédio em relago & das rochas superiores, 0 que determina a tendéncia de ocupar um nivel superior, procurando estabelecer um equi- librio hidrostatico. Experiéncias realizadas com liquidos viscosos de diferentes densi- dades, um em contato com © outro, mos- tram claramente o empurrao vertical de b: xo para cima, formando pequenas protube- rancias no liquido mais denso supracolo- cado. Dobras atecténicas em sedimentos permocarboniferos de origem glacial, situados entre Porto Feliz e Boituva, Estado de Sio Paulo, Achamse intercaladas entre estratos ndo-perturbados, 0 que comprova a origem atectonica, Estas dobras foram produzidas pelo purrio das geleiras que deslizavam sobre os sedimentos, ainda nio completamente consolidados. Pelo encur- vamento do plano axial sabe-se que 0 movimento da geleira foi da dircita para a esquerda (foto de A. C. Rocha-Campos). Nos sedimentos argilosos de Sao Paulo, so freqiientes as marcas que indicam pe- quenas movimentagdes produzidas por es- corregamentos, formando pequenas falhas com espelho de fric¢io no plano da falha. Trata-se igualmente de deformagdes resul- tantes de acomodactio, sem relag&o alguma’ com as de origem tecténica. Outro tipo de deformagdo atecténica € 0 formado nas superficies de regides escarpadas, onde po- de dar-se o encurvamento de uma estru- 347 tura qualquer vertical ou quase vertical (diaclasamento, xistosidade ou estratifica- g&o perturbada) no sentido do’ escorrega- mento pela gravidade, ou seja, de desliza- mento. Finalmente, outra causa consiste na compactagao diferencial de sedimentos quan- do depositados num substrato de topogra- fia irregular. Onde existir uma protuberan- cia do substrato, os sedimentos acima serio menos compactados que os laterais, de maior espessura, por se situarem ao lado da pro- tuberancia. Com isso, geram-se estruturas Sedimentos compactados. 348 sz LLG: Fig. 15.38 Compactusio diferencial de sedimentos depositados sobre uma antiga colina conservada no ambiente de sedimentagdo, Observe-se o topo do arenito (A-A’) antes € aps a compactagao. Alguns sedimentos compactam-se mais do que outros, como, por exemplo, os folhelhos e os evaporitos, dada a sua maior plasticidade. Os arenitos também sofrem o efeito, mas em menor eseala arqueadas de maneira simétrica, com 0 apice da dobra coincidindo com o local da protu- berincia, situada verticalmente abaixo. Mui- tas estruturas acumuladoras de petraleo pos- suem essa origem (fig. 15-3B). Perturbagées tectonicas Generalidades. — Entre os movimentos tectonicos distinguem-se dois tipos: 0 epiro- genético e 0 orogenético. © primeiro se ca- racteriza pela movimentagio lenta de vastas areas continentais, ora se Ievantando ora se abaixando, sem alterar a estrutura geral das rochas. Estas podem arquear-se suavemente ou sofrer um ou mais sistemas de falhas, através dos quais se verifica a movimenta- cdo. Gracas a possibilidade na inverséo pos- terior do sentido do movimento, que via de regra segue as linhas de falhas preestabele- cidas, diz-se de movimentagdes reversiveis Da-se a denominagdo de undagdo (do ale- mio “undation”) & configurago de empe namento, ou arqueamento produzida pelos movimentos epirogenéticos. Uma rocha submetida a um esforgo qual- quer, dependendo da intensidade do esfor- go, da sua duragao e da plasticidade da ro- cha, esta mudar de volume, de forma ou de ambos. A condigao de plasticidade au- menta em profundidade, onde a alta tem- peratura facilita a mobilidade entre as mo- Iéculas ou particulas que compéem a rocha, permitindo maior deformacao plastica. O mesmo nao se di nas regides mais proximas da superficie, onde a plasticidade das rochas € menor, resultando na ruptura da rocha submetida ao esforgo. Existem dois tipos de presso, que resul- tam em diferentes tipos de deformagao. Um deles € a pressio dirigida no sentido per- pendicular a um plano qualquer da rocha © 0 outro é aplicado obliquamente em re- Iago a qualquer plano, recebendo o nome de esforgo tangencial. A natureza da modi- ficago do volume, da forma, ou de ambos vai depender do tipo de esforgo aplicado a rocha e das suas condigées fisicas ao reagir contra a forga deformadora. Assim & que as rochas calcirias e as argilosas sio mais passiveis de deformagées plisticas sem a Tuptura, que se realiza quando é ultrapas- sado o limite de plasticidade. Os quartzitos ow arenitos ja sio menos plasticos, rompen- do-se com mais facilidade. Apesar disso, ocorrem certos quartzitos alta e complexd- mente dobrados sem sinal de ruptura, gra~ cas ao aumento das condigdes de plasticida- de nas regides mais profundas e lentido do processo deformador, dando tempo para 0 ajuste dos constituintes que se acomodam, se deformam sem dar-se a ruptura da rocha. Inclinagio das camadas. — Uma vez ocor- rida a perturbagdo da posigao original de uma camada, por exemplo, sedimentar, esta podera passar de horizontal a inclinada (fig. 15-4). Nem toda a perturbacdo in- clina obrigatoriamente uma camada, que podera deslocar-se paralelamente a sua posi- cdo original, dando origem a falhamentos. No caso de mudar-se a sua horizontalidade, o plano da camada devera ser definido no espago, isto é orientado segundo as suas coordenadas geogrificas. A fig. 15-5 mos- tra quais as diregdes a serem tomadas para esta finalidade. A intersegao do plano hori zontal com a camada determina uma linha que representa a diregdo da camada. E ébvio que uma camada horizontal no possui di- reco. O Angulo maximo que o plano da camada faz com o plano do horizonte é a inclinagdo da camada, devendo ser tomada, evidentemente, a 90° da diregio. Em qual- quer outra diregdo 0 valor do Angulo sera menor, Finalmente, deve ser tomado 0 sen- tido para o qual mergulha a camada, pois a mesma direcdo e a mesma inclinagdo admi- tem a existéncia de dois planos simetrica- mente dispostos, a maneira dos telhados, cuja diregdo ¢ dada pela cumeeira, tendo ambos a mesma diregdo ¢ inclinagao. So- mente © rumo da inclinagdo ¢ diferente e diametralmente oposto nos dois planos. Estas medidas sdo efetuadas com a biis- sola de gedlogo, que possui, além da agu- 349 Fig. 15 Camadas inclinadas de arenitos da Série Camagua, junto 4 mina de cobre de Camaqua, Cagapava do Sul, RS. Iha imantada, um nivel para obter-se o pla- no horizontal ¢ um clindmetro, para a me- dida do Angulo de inclinagao. ‘As deformagdes originadas por esforgos orogenéticos sdo caracterizadas pela irrever- sibilidade da configuragao estrutural que assume a rocha. Sao pois deformagdes per- manentes, podendo dar-se 0 caso de novas estruturas superporem-se as primeiras, sem que estas sejam destruidas. As formas estru- turais mais comuns so didclases, falhas e dobras Ja vimos que uma rocha pode ajustar-se a0 esforgo a que é submetida, seja pela rup- tura ou, ainda, seja por deformagdes phis- ticas, isto 6, flexuras. 350 Os fenémenos geolégicos provocados por ruptura so diéclases, fendas e falhas. clases. — Em qualquer pedreira_ ou afloramentos escarpados de rochas frescas, pode-se observar que a rocha é atravessada por numerosas linhas de fraqueza, & manei- ra de trincas, ou rupturas e planos de certa divisibilidade, seguindo normalmente varios planos paralelos entre si chamados didclases ou juntas. Estes planos separam ou ten- dem a separar em duas partes um bloco de rocha primitivamente uno, ao longo da qual nao se deu nenhum deslocamento das par- tes separadas. Distinguem-se dois grupos de diaclases, quanto 4 origem: didclase de Angulo de mergutho Fig. | Camada inclinada ¢ sua intersegio com um plano horizontal imaginario. Desta intersego resulte uma linha que representa a diregdo da camada. A 90° desta linha, no sentido do mergulho maximo, tem-se o rumo do mergulho, cujo angulo vertical é medido em relaglo, ao plano do horizonte. compressdo e didclase de tracao. As primeiras as mais frequentes, seriam provocadas prin- cipalmente por esforgos tecténicos ¢ caracte rizadas por superficies planas, ocorrendo em sistemas que se cortam em Angulo. As didi- clases de tragdo caracterizar-se-iam por su- perficies em geral nao muito planas, podendo ser sua origem tecténica, freqiientes, por exemplo, nas anticlinais. Neste caso seriam constituidas por um sistema de diaclases pa- ralelas (v. fig. 15-4). As didclases de tragao nas rochas igneas poderiam ser também ori- ginadas pela contragdo durante o resfria- mento, e caracterizam-se por varios sistemas entrecruzados, como por exemplo as dia- clases de contragéo formando colunas de basalto, assunto tratado no capitulo XI (v fig. 11-27). As didclases sio importantes auxiliares na solugdo de problemas tect6ni- cos, podendo esclarecer a eventual diregio do esforgo tecténico (v. fig. 12-8) Falhas. — Sao fraturas nas quais ocorre um deslocamento perceptivel das partes, 0 que se da ao longo do plano de fratura. ‘A amplitude deste deslocamento pode ser de milimetro até muitas centenas de metros. As falhas podem ser formadas gragas a es- forcos tecténicos ou atecténicos. Os pri- meiros, de alta importancia na Geologia Es- trutural e mais freqtientes, podem originar-se de esforgos de tragéo (resultante de mov: mentos épirogenéticos, ou de dobramentos ou ainda de intrusdes magmaticas ou de sais — vide domos salinos) ou de compres- so. As compressdes so geralmente no sentido tangencial & superficie terrestre. Suas causas provaveis serao tratadas no capitulo da Orogénese. As falhas atectonicas sao geralmente de menor amplitude, ndo sé no deslocamento, como também na dimensdo do plano de falha, Formam-se por diversos motivos: pelo desabamento provocado por dissolugio de rochas da subsuperficie, ou pelo colapso nas proximidades de crateras yulednicas, ou ainda pela acomodagao de sedimentos plisticos, argilosos ou turfosos, gragas ao peso das camadas superiores. As argilas da bacia de $40 Paulo mostram com certa freqiiéncia planos de escorregamento motivados por esta causa. ELEMENTOS GEOMETRICOS DA FALHA. a) Plano da fatha — & @ superficie segun- do a qual se da o deslocamento. Muitas ve- zes 0 atrito causado pelo movimento produz uma superficie lisa. podendo ter um brilho bem nitido gragas ao polimento produzido pela friccio. Denomina-se neste caso espe- Iho de falha, que além do polimento mos- tra com freqiiéncia estrias ou caneluras. Estas so formadas pelo risco produzido por grdos mais duros e salientes. Estas es- trias conjugadas com a rugosidade escalona- da (fig. 15-6) indicam o sentido do movi- mento da falha. As vezes estas estrias po- dem cruzat-se, quando houve movimentos sucessivos, mas com diregSes diferentes. 351 Fig, 15-6 Espelho de falha. Gragas & estriagdo pode-se conhecer a diregdo do movimento da falha. O escalonamento (nem sempre existe e nem sempre & Ricil de ser obser- vado) mostra 0 sentido da movimentagio, indicade pela flecha, b) Rejeito — é a medida do deslocamento linear resultante do movimento que oca- sionou a falha. Sob o ponto de vista geomé- trico existem varias modalidades de rejeito, pois so infinitas as direcdes segundo as quais pode dar-se o deslocamento de um bloco em relagdo ao outro, como ilustra a fig. 15-7. Das muitas modalidades de re- jeitos, é mais usado em trabalhos de geologia ‘de campo o chamado rejeito normal, que é a distancia exemplificada pelas setas da fig. 15-8. Denomina-se camada-guia aquela que se presta a tal medida, achando-se ilus- trada na fig. 15-8. Enquanto que o rejeito _s- Plano de falha Fig. 15-7 Esquema das inimeras possibilidades dos deslocamen- tos possiveis das falhas. As flechas mostram que 0 mo- vimento em uma falha pode tomar qualquer direcdo, inclusive as curvilineas, dentro do plano da falha, plano P. Este, por sua vez, pode assumir qualquer posigao na crosta, advindo assim as mais variadas configuragées de falhamentos. normal é facilmente medido com as obser- vagdes comuns de campo, as demais moda- lidades nado s&o facilmente medidas, pois torna-se necessaria a determinagao do sen- tido real do deslocamento, o que nem sem- pre é possivel de ser determinado. , Capa Japa — quando uma camada se superpoe a outra, como se vé nas figs. 15-8 € 15-9; a de cima € denominada capa, e a de baixo, lapa. Se o plano da falha for vertical, estes termos nao se aplicam. B A — Falha normal, B — Falha inversa, ou acavalamento, R € o rejeito vertical em ambas as falhas.. A camada-guia, escolhida em ambos os casos, é a simbotizada pela cor preta, sendo o rejeito medido pelo deslocamento vertical do topo desta camada, Em ambas as falhas o bloco da direita € a capa, € 0 da esquerda, @ lapa. 352 CLASSIFICAGAO DAS FALHAS: a) Falha normal — neste tipo de falha um dos blocos é abatido na mesma dirego na qual mergulha o plano da falha, resul- tando, como conseqiiéncia, num afastamento das camadas, como se observa na figura Lapa Vieiro Capa 15-8A. Tais tipos de falhas resultam de forgas de distensio, cuja tendéncia ¢ a de aumentar a superficie da crosta terrestre. b) Fatha inversa ou falha de empurrdo — como o nome indica, uma parte é empur- rada por sobre a outra, cavalgando-a. Lo- gicamente, uma perfuragdo localizada acima Fig. 15-9 Falha inversa, ou de deavalamento. de rejeitado vertical de cerea de 4m (se 0 minerador tiver 1,60 de altura), ‘A posigdo da capa c da lapa esclare- cem a origem dos respectivos termos, [AS solugGes portadoras dos agentes mineralizantes (por exemplo chumbo, zinco, prata, cobre, merctirio, etc., mais comumente sob-a forma de sulfetos) ascendem preferencialmente através de zonas de fraqueza, como planos de didclases ou falhas, como mostra a ilustragao. Fig. 15-10 Falha inversa em caledrio permiano (Formaclo Irati), metamorfizado por um sil de diabisio, de Piracicaba, SP. Amostra coletada pelo Prof. C. W. Correns 353 desta falha ira perfurar duas vezes a mesma camada. Este tipo de falha resulta de es- forgos de compressio, cuja tendéncia é de encurtar a area da crosta terrestre, como facilmente se verifica nas figs. 15-8B a 15-10. ¢) Falha transcorrente ou de deslocamento horizontal — 0 exemplo classico deste tipo éa célebre falha de S. André, na California, que se relaciona ao famoso terremoto de Sao Francisco de 1906. Acha-se ilustrada na fig. 15-11. Muitos outros tipos de falhas poderiam ser citados, pois muitas so as possibilidades da posigéo do plano da falha em relagéo A direcdo dos estratos, assim como pode variar 0 movimento relativo dos dois blo- cos separados pela falha. Pormenores a este respeito poderao: ser encontrados em qual- quer livro de Geologia Estrutural. d) Sistemas de falhas — As perturbagdes que afetam uma regido podem produzir uma série de falhamentos. Dependendo da dire- B dique Fig. 15-11 Falha transcorrente, sem a componente vertical, onde o deslocamento acompanha a horizontali- dade das camadas. Em 4 o deslocamento ¢ facilmente reconhecivel pela descontinuidade do dique. Em B um dos flancos foi gasto pela erosao,,o que dificulta o reconhecimento da falha. Serra da Mantiqueira ie _ ee = ee Rio Paraiba Serrado Mar Fig. 15-12 Seegio hipotética do vale do Paraiba. Este ter-se-ia originado por um sistema de falhas normais que afetaram as rochas proteroz6icas, durante 0 Terciério Superior. A fossa tectoniea por onde corre o rio Paraiba acha-se preenchida parcialmente por sedimentos lacustres do Tervidrio Supe- rior, com folhelhos pirobetuminosos cobertos por arenitos argiloscs com lentes de argilas mal estratificadas. Nos folhelhos ocorrem fosseis de peixes, tartaruga, penas de aves € Varios crusticeos, 40 dos esforgos os planos das falhas pode- ro dispor-se paralelos entre si ou obliquos. ‘Uma das formas mais comuns resultantes de tais sistemas de falhas € a fossa tecténi- ca, Dé-se 0 nome de fossa ou gritben as de- pressdes estruturais ocasionadas por falha- mento, como mostram as figs. 15-12 € 15-13 As regides elevadas da-se a designagio de horst ou muralha. Alguns exemplos nacionais podem ser citados, sendo um deles 0 vale do tio Paraiba, ladeado a noroeste pela serra da Mantiqueira e a sudeste pela serra do Mar. Admite-se que se trata de uma regio aba- tida gragas a falhamentos. Ontro exemplo é © da fossa do Recéncavo Baiano (figura 15-13), comprovadamente formada por fa- Ihamentos do embasamento cristalino, oca- sionando a depressiio, onde se acumulam sedimentos cretéceos portadores do nosso petréleo. Em certos locais a profundidade desta fossa tecténica atinge 5 mil metros. Finalmente, outro interessante exemplo ocor- ij \ \ D \ “y re na regidio da foz do rio Amazonas, onde © Conselho Nacional do Petréleo, em 1946, determinou a existéncia de extensa e pro- funda fossa tect6nica de 60.000km? e de mais de 4.000 metros de profundidade. Tal descoberta, feita através de métodos geofi- sicos, foi confirmada por trés perfuragdes profundas, que revelaram a espessura anot- malmente grande de sedimentos relativa- mente modernos. Ocorrem exclusivamente sedimentos clisticos, cuja idade vai do Cre- téceo Superior até 0 Mioceno, nas partes mais elevadas, segundo estudos paleontolé- gicos de S. PrrRi. Uma das perfuragdes localizada na ilha de Marajé (sondagem de Cururu), atingiu 0 embasamento cristalino a profundidade de 3.900 metros, enquanto que outra, préxima a foz do rio Tocantins (sondagem de Limoeiro) chegou a mais de 4,000 metros sem ter atingido 0 embasa- mento. Segundo estudos geolégicos e sedi- mentoldgicos de S. E. Do AMARAL a espes- Sul do lago Tanganica Q_50km x J x {fy 4y Toy OA z Ls q fy soe és x 0.100hm f DSi ; Q_ 50m f f Salvador Parte norte do Sul do Q_100Km Parte sul do lago Niassa — io Reno mar Vermelho . . 10) Recéncavo Baiano Fig. 15413 Esquema dos contornos e dimensdes parciais de algumas das mais conhevidas fossas teetOnicas do mundo. Os pequenos tragos indicam 0 lado que se abateu Quando estas fossas coincidem com © vale de um rio, como @ 0 caso do Reno ou do rio Nilo, nas suas cabecciras, recebem 0 nome de rift valley. a sura de sedimentos marinhos aumenta para © norte, o que traz alguma esperanca no sentido de ser encontrado o petrdleo nesta imensa e profunda fossa tecténica. Faz pou- cos anos que a Petrobras reiniciou seus es- tudos nesta regiao, tendo ja perfurado a guns pocos na plataforma vontinental junto a ilha de Marajo. Uma delas, a cerca de 200 km do Amapa, revelou-se rica em gas natural. ~ Qutras fossas de importancia para o pe- tréleo foram descobertas recentemente pela Petrobras, na regiao costeira dos Estados de Alagoas, Sergipe e Maranhio. A de Ser- gipe — Alagoas possui 5 mil metros de pro- fundidade maxima, onde predominam sedi- mentos cretdceos cuja espessura pode atingir até mais de 3 mil metros. Movimentacéo dos blocos fathados. — Quanto aos movimentos em si, distinguem-se dois tipos: o de translagao e o de rotagdc No primeiro caso os dois blocos deslocam-se num movimento paralelo, de modo tal que os rejeitos tem o mesmo valor, se tomados em diferentes lugares da falha. O mesmo nao se da quando o movimento é de rotagdo, pois um bloco tende a girar por sobre outro, a maneira das laminas de uma tesoura. Nem sempre € possivel saber-se qual foi o movimento real que ocasionou a falha. Tan- to pode um bloco ter subido e outro descido, como também ambos terem subido ou descido, mas com diferentes deslocamentos, ou ainda, um deles nado se mover e 0 outro abaixar ou levantar. Conhecem-se apenas 0s efeitos, motivo pelo qual se fala no mo- vimento relativo dos blocos. Cataclase, brecha e milonito, — Nem sem- pre o plano da falha é um tinico plano. Muito comumente ocorrem largas faixas, podendo ter quilémetros de largura, onde se situam os planos da falha, dispostos para- Iclamente uns aos outros. E possivel que a amplitude do deslocamento ndo seja gran- de, mas que a movimentaco seja de grande intensidade, num movimento de vaivém. Disso resulta 0 esfacelamento da rocha, que pode ser intensamente pulverizada, processo designado por cataclase. Em se tratando de regies fracas, permedveis, graas ao fra- 356 turamento, ascendem solugdes profundas, ricas em silica e outros componentes varios, que cimentam a parte pulverizada, dando origem a uma rocha de granulagdo finissima, cor escura, ds vezes preta (gracas & absorgao da luz), que se chama milonito (do grego myle = moinho). Se o fraturamento for menos intenso formam-se as rochas parcial- mente quebradas, as brechas de atrito. A milonitizago pode atingir qualquer rocha, ¢ apresenta-se freqiientemente similar a um dique. ‘As falhas podem ter um importante as- pecto econémico que se relaciona com a formagdo de veios metaliferos ou com a acumulacdo de petrdleo e gua subterranea Sendo zona de fraqueza, so propicias A ascensio dos fluidos mineralizantes. Costu- -se intensificar, os estudos de prospecsio as areas de intersegaio de falhas, onde o fraturamento e com isto a percolagio é mais intensiva, formando bonanga ou ore- shoot de minério. A Agua subterranea pode ser represada em planos de falha, pela im- permeabilidade que o espelho pode adquirir. O mesmo pode ser dito em relagdo ao pe- tréleo. Jé referimos que no Recéncavo Baiano os campos petroliferos sfio devidos a estruturas de falhamentos que aprisionam 0 petréleo. Expresso das falhas na superficie ter- restre. — Dependendo da amplitude do fa- Ihamento e de sua idade, a configuragdo do terreno poder ser afetada. Quando apare- cem na superficie formam uma linha que se denomina linha da falha. Se a falha for de tal forma recente, que a erosdo nao tenha ainda aplainado a regio falhada, formar- se-4 uma declividade coincidente com a zo- na do espelho. Quando os rios atravessam a falha, aparecerdo cachoeiras, corredeiras ou lagos. Outras vezes, dependendo do grau da reativagdo da atividade erosiva de um rio afetado por uma falha, poderd formar- se um vale suspenso num dos afluentes, que é uma configurago comum nas regides afe- tadas pela erosio glacial, como j4 vimos anteriormente. A fig. 15-14 nos mostra que Fig. 15-14 A falha normal, tendo-se abatido © bloco da direita aiiéncia da falha do primeiro esquema. A escarpa inicial, correspondente ao plano da falha, fc B — morfologia do terreno em conse- recuada a montante dos cursos de dgua que drenam a regio, responsiveis pelo desgaste crosivo, Neste caso o sentido da drenagem coincide com, o abatimento e com o mergulho do plano da falha, 0 mesmo néo se dando com C— onde uma falha inversa determinou o represamento de dois ris, dando origem ao lago, tendo-se secado os rios que corriam sobre 0 bloco que se le- vantou. D — falhamento horizontal, que produz a flexio brusca de um rio, 0 que se di quando © plano da falha forma um Angulo grande com a diregdio do curso de agua a declividade formada pelo plano da falha vai regredindo, & medida que a erosto pro- gride, podendo situar-se a quilémetros do local onde se deu o deslocamento. Muitas vezes 0 plano de uma falha con- duz mais facilmente a agua de infiltragdo, seja gragas a abertura motivada pela que- bra das rochas, seja também pela formagao de um plano impermedvel. Isso tudo pode determinar a formagao de diversas fontes dispostas no alinhamento resultante da in- tersegdo do plano da falha cpm a superficie do terreno. Em muitos casos no é permitida a cons- tatacdo de uma falha antiga, se a erosio ja aplainou a Area afetada. Se as rochas dis- postas lado a lado da falha forem diferentes, por exemplo, caleirios ou folhelhos ao lado de arenitos, os solos resultantes destas ro- chas poderao diferir de tal modo, que a vegetacdo seja também diferente. Num caso deste a fotografia aérea da regido prestara um precioso auxilio na verificagdo da falha. Em Areas destituidas de vegetagdo, & pos- sivel que haja mudanca brusca na coloragao do solo ou da propria rocha, seguindo uma 357 direcdo mais ou menos retilinea, dada pela intersegao do plano da falha com a super- ficie do terreno. Se esta for acidentada, a linha obedeceré as irregularidades topogr- ficas, 0 que se nota com © par estereoscd- pico, que mostra o terreno tridimensional- mente. Outras vezes podem formar-se cris- tas com alinhamento preferencial. Estas cristas podem originar-se da cimentagdo ao longo do plano da falha por solugdes as- cendentes de diversas naturezas, podendo ter importdncia econémica, no caso de a solugao ser portadora de minerais uteis, co- mo baritina, quartzo rico em sulfetos varios, € outros. A drenagem pode ou ndo ser afetada pe- las falhas, No primeiro caso, uma das ca- racteristicas mais conspicuas ¢ a flexo brus- ca de um rio, desviado no sentido da falha passando a um rumo mais definido, pela maior facilidatle de escavar seu leito na zo- na enfraquecida pelo falhamento. Ha ca- sos onde é¢ dificil a distincdo entre falhas e diaclasamentos, em base deste critério. Em muitos casos torna-se necessdria a elabora- cdo do mapa geoldgico da area em estudos a fim de ser constatada a presenca de uma falha. Outro problema que pode ser de dificil solugdo é o de diferenciar-se uma falha de uma discordancia angular. A configuracéo poderd ser a mesma, advindo a necessidade eventual de estudos mais pormenorizados, como os paleontologicos ou estruturais. Qua- se sempre se torna imprescindivel o mapa geolégico na solugdo destes problemas. Dobras. — Sao curvaturas ou flexdes, ora mais ora menos fechadas, produzidas por es- forgos de natureza tecténica ou por intru- sdes magmaticas ou, ainda, por causas atec- tonicas. E imprescindivel que a rocha, antes de ser dobrada, possuisse uma configuracao planar, de maneira que os estratos sedi- mentares originalmente encurvados, caso tenham sido depositados num substrato a- baulado, nao so considerados dobras. As propriedades fisicas das rochas sob as condi- 358 des normais de pressio e temperatura dife- rem consideravelmente das condigdes natu- rais em que se encontram as rochas, ora sub- metidas a grandes pressdes, ora a tempera- turas consideraveis, sendo mais freqiiente a atuagio simultanea de ambas. Assim é que a grande maioria das rochas possui uma plas- ticidade muito pequena, podendo em cer- tos casos ser perceptivel experimentalmente, gragas a influéncia duradoura de forgas apli- cadas sobre alguns tipos de rochas, suscetiveis de mostrarem a deformagio plastica. Este fato mostra que o fator tempo é de grande im- portincia no fenémeno responsavel pelo dobramento. A acdo mecdnica deve atuar lenta e demoradamente, pois, caso contrario, dar-se-ia a ruptura ao invés da torcio. Se efetuarmos uma pressio sobre um bloco de quartzito, este sofrera a ruptura quando for atingido o limite de resisténcia compressio, que é cerca de 2.000kg por cm?. O mesmo se da se esta rocha for sub- metida a forga de tragdo, sendo que neste caso, a forca requerida 6 aproximadamente 30 vezes menor, para dar-se a ruptura. Durante a compressio a rocha diminui gradualmente de volume, o que se denomina deformagao elistica (inicialmente). Cessada a pressio, a rocha que sofreu a deformacdo elastica volta 4 forma inicial. Num estadio de pressio maior, a deformaciio passa a ser plstica, pois perdura a forma se cessar a compressio, Finalmente, o terceiro esté- dio é 0 da ruptura. Existem dois tipos fun- damentais de pressio, a hidrostdtica, que atua em todos os sentidos e a pressio diri- gida, que atua num determinado sentido. Se a experiéncia da ruptura de uma rocha sub- metida 4 pressao dirigida for realizada em diferentes condigdes de pressdo hidrostatica, © comportamento sera variado. Quanto maior a press%o hidrostatica, maior deveré ser a pressdo dirigida para que se dé a rup- tura. A importancia deste fato é dar énfase 4s condigdes naturais, onde reinam alta pressio ¢ temperatura, Esta ultima é de grande importancia, fazendo nao sé aumen- tar a plasticidade das rochas, como também aumenta a possibilidade da ocorréncia de reag6es intergranulares, que vém facilitar a acomodacio entre os componentes minera- Iogicos da rocha em vias de deformacao. Repetimos aqui a importancia de outro fa- tor, que € 0 tempo. Este fator, que ndo pode ser reproduzido nos laboratérios experi- méntais age durante muitos milénios. Por estes motivos todos, torna-se possivel a exis- téncia de um verdadeiro amarrotamento em quartzitos, rochas quebradigas ¢ duras, sob condigdes de alta pressAo hidrostatica, pres- sio dirigida, alta temperatura e longo tempo de atuagdo destes fatores (figura 15-15). ines Fig, 15-15 Dobra em quartzito, rocha quebradiga e dura. Sua plasticidade foi adquirida em condicdes profundas de alta temperatura conjugada com presses clevadas, que determinam maior mobilidade dos constituintes, 8 quais se amoldam as novas condigdes. Deve-se levar ‘em conta 0 prolongado tempo de atuagao dos citados fatores Uma pressio aplicada_tangencialmente sobre uma superficie qualquer de uma rocha (mais comumente esta superficie refere-se ao plano de estratificagéo de rochas sedi- mentares), seja esta pressdo originada de uma intrusio magmatica, seja originada de forgas tecténicas (estas sdo.mais freqiientes na formacio das dobras), pode determinar a formagéo de uma dobra. A forma das dobras varia muito, como se vé na fig. 15-16 dependendo da intensidade, duragdo e Angulo de incidéncia da diregéo do esforgo em relagdo ao plano que sofreu 0 dobramento. Quanto ao tamanho, variam desde milimétncas até centenas de metros de amplitude. A posicdo no espago, das do- bras, pode ser a mais variada, dependendo da direcdo, intensidade dos esforcos e da plasticidade da rocha, que varia segundo o tipo de rocha e segundo as condigdes de temperatura. As temperaturas mais elevadas dao maior plasticidade as rochas. Como mostra a fig. 15-17 as dobras podem ter as mais variadas posigdes, podendo mesmo in- clinar-se de mais de 90° como sera explicado adiante. Di-se 0 nome de camada competente (para deformagées plisticas) Aquela que resiste 4 pressio das camadas superiores, mantendo a sua forma dobrada sem se fra- turar nem sofrer deformagées secundarias, resultantes do dobramento. Por outro lado, uma camada ¢ dita incompetente quando ela se deforma ou se fratura, por nao resis- tir aos esforgos do dobramento. E o que acontece com as camadas mais plasticas, como mostra a fig. 15-16 (dobra de arrasto). Morfologicamente a designagdo de dobra 6 aplicada as ondulagdes que se formam nas rochas que possuem uma direc&o preferen- cial, como, por exemplo, nas rochas estrati- ficadas, podendo também verificar-se nas rochas xistosas ou mesmo nas igneas que podem apresentar as dobras ptigmaticas nas regides de ultrametamorfismo. Analisando-se as dobras naturais de ro- chas podem encontrar-se varios elementos geométricos comuns nos diferentes casos. ‘As partes que compéem uma dobra, siio as seguintes (fig. 15-18): a) Flancos — sfo os dois lados de uma dobra. Havendo mais de uma dobra, um lado pode ser ao mesmo tempo o flanco direito superior e 0 esquerdo inferior da do- bra adjacente. b) Eixo — é a linha ao redor da qual se da o dobramento, também denominada charneira. Esta linha pode ser horizontal, inclinada ou vertical. E possivel, em certos casos, que 0 Angulo de inclinagdo seja su- perior a 90°, invertendo-se a desta maneira a posicao da dobra. 359 Dobra deitada Dobra falhada Dobra de arrasto Fig. 15-16 As principais formas de dobras. Na dobra de arrasto, acham-se representadas camadas compe- tentes (no topo e na base do pacote dobrado) tendo entre elas uma camada incompetente, carac- terizada pelo pregueamento resultante da sua fraqueza ¢ plasticidade. As flechas indicam 0 movi- mento relative de uma camada deslizando-se sobre @ outra, causando o cisalhamento ¢ a forma- so das pregas, P. A, € 0 plano axial das dobras. ©) Plano axial — & a superficie que divi- de a dobra em duas partes"similares, que podem ou ndo ser simétricas, dependendo da simetria da dobra. Neste plano situa-se 0 360 eixo da dobra (fig. 15-17). Se considera..nos um conjunto de camadas dobradas, cada uma delas com o seu respectivo eixo, o pla- no da dobra toda consiste na reuniio dos Es a ne fe Fig, 15-17 Diversas posigdes no espago que podem ter as dobras. vertical, variando o Angulo de inclinaga0 do eixo da dobra. Em F, tanto o plano como o eixo so inclinados, aa” representa 0 eixo da e 0 eixo horizontal. Em 4, Be Co plano axial da dobra é Em D ¢ £0 plano axial ¢ inclinado dobra, sendo todas elas simétricas (seg. Billings). cixos de cada camada. Por essa razo 0 plano pode tornar-se abaulado, no caso de a dobra encurvar-se para um lado qualquer. Sera um plano simétrico se o Angulo de in- clinagdo dos flancos for o mesmo. Deixara de ser simétrico se os Angulos de inclinagdo dos dois flancos forem diferentes. d) Crista — € a linha resultante da liga- cdo dos pontos mais elevados de uma dobra, podendo ou néo coincidir com o eixo da dobra. ©) Plano da crista — a superficie forma- da pelo conjunto das cristas de um pacoie de camadas. F de grande importancia no estudo da estrutura de depésitos de petréleo, pois 0 aciimulo do precioso liquido da-se nesta zona da dobra. Dependendo do grau de encurvamento da dobra o plano das cristas formaré um maior ou menor Angulo com 0 plano axial como se vé na fig. 15-18. Passemos a considerar 0s diferentes tipos de dobras quanto 4 sua morfologia: a) Anticlinal — € a dobra na qual os flancos se abrem para baixo, tendo por cima 0 eixo, Esta definigdo valida para as do- bras mais comuns, de 2ixo horizontal ou pouco inclinado. Contudo, se 0 eixo for ver- tical ou se ambos os flancos forem horizon- tais, como mostra a fig. 15-17, a.anticlinal € identificada por possuir as camadas mais antigas na sua parte interna ‘b) Sinclinal — é a dobra na qual os flan- cos se abrem para cima, ao contrario da anticlinal, Caracteriza-se por possuir as camadas mais modernas na sua parte interna (fig. 15-19). No campo so necessarios estudos por- menorizados da estratificagdo a fim de iden- tificar-se a posigdo real de uma cainada, que pode estar invertida, isto ¢, pode ter sofrido 361 Linha do horizonte Sinclinal Anticlinal (Assimétrico) ._ Assimetrico) Fig. 15-18. A= Dobra simétrica, cujo eixo se acha ligeiramente inclinado em relagdo a linha do horizonte, B — Dobra assimétrica — Acham-se representacios os principais elementos geométricos em ambas as dobras. P. A. é o plano axial e F representa os flancos da dobra assimétrica. P. C. € 0 plano da crista uma rotagdo de mais de 90°, até mesmo de 180°, Além da estratificago, muitas sfio as marcas na superficie dos estratos, na ocasiéo em que estes se formam, que se prestam para a identificago do fundo e topo da ca- mada. Como exemplo podemos citar mar- cas da correnteza, marcas originadas pela ressicagio da argila, marcas de pingos de chuva, outras mais. ©) Isoclinal — & a-dobra na qual ambos os flancos mergulham na mesma diregio ¢ com 0 mesmo ngulo de mergulho, como se vé na fig. 15-16 (jsoclinal). d) Monoclinal — também chamada fle- xdo, quando se dé o encurvamento de ape- nas uma parte, permanecendo as demais na sua posi¢ao original (fig. 15-16, mono- clinal). e) Dobra assimétrica — 0 Angulo de mer- gulho dos dois flancos difere um do outro. 1) Dobra deitada — 0 plano axial tende & horizontalidade, fazendo com que um dos flancos se situe por baixo do outro. Deno- mina-se também dobra rectimbente. Nos 362 Alpes ocorrem tais tipos de dobras, pos- suindo no niicleo rochas do Paleozéico e nas partes exteriores, rochas mesozéicas. Muitas vezes este tipo de dobra‘conjuga-se com fa~ Ihamento, de modo a deslocar, as vezes a grandes distdncias, o flanco superior que se desliza sobre o inferior. E o que se chama carreag&io, que pode ou nao ligarse a do- bramentos, porque este deslocamento pode ser realizado somente por falha onde o pla- no é aproximadamente horizontal. 2) Dobra de arrasto — trata-se de um conjunto de dobras menores subordinadas a uma dobra maior, onde existem camadas incompetentes junto a camadas competentes. Enquanto estas resistem ao esforgo e ao peso das outras camadas, aquelas nao resis- tem, sofrendo uma série de pregas e de fra- turas de cisalhamento (v. fig. 15-16, dobra falhada), Estas dobras secundirias tm im- portncia na determinagdo da posigdo real de uma dobra, quando apenas parte dela se acha exposta no terreno. Nao é obriga- trio ue as dobras de arrasto se relacionem Fig, 15-19 Dobra sinclinal com fraturamento das c estrato mais nadas no sentido perpendicular ao da estratificagio, O e380 & menos competente ao dobraménto, exibindo 4 dircita uma deformagdo por falhamento, que faz aumentar aparentemente a espessura da camada sempre a uma outra dobra. Quando ha esta relagdo, resulta do movimento diferencial existente numa dobra, onde a parte superior sofre uma distensdo, tendendo a alargar-se enquanto que a inferior sofre uma com- pressdo, Torna-se evidente este fenémeno ao imaginarmos uma viga de borracha ao dobrar-se. Enquanto que a parte de fora se Gistende, a parte interna se comprime, ten- dendo a enrugar-se. O mesmo se di nas regides afetadas por falhamentos, havendo camadas resistentes deslizando-se a0 longo de uma camada incompetente. Verificar- se-do as dobras de arrasto conjugadas a uma rie de fraturas paralelas, que se denomi- nam planos de cisalhamento. h) Dobra em leque — quando os flancos da dobra se aproximam mais na parte me- diana podendo ser tanto a sinclinal como a anticlinal, a configuracao resultante sugere a forma de um leque, como se vé na ilus- trago, RECONHECIMENTO DAS DOBRAS NO CAMPO. — Trata-se de um problema as vezes de dificil solugdo. Nao basta o conhecimento- da posigdo dos flancos, pois, como se vé na fig. 15-17, dois flancos com a mesma posicao podem pertencer a dobras com as mais va- riadas posigdes no espago. Muito raramente pode ser observado diretamente 0 eixo axial da dobra, ou por encontrar-se encoberto por sedimentos posteriores a formagao da do- bra, ou por ter sido gasta pela erosdo a parte do eixo da dobra. O gedlogo devera langar mio de outros elementos, que geralmente acompanham as dobras. Entre estes, sio de alta valia as lineages, os planos de diacla- samento resultantes do dobramento, a xisto- sidade que pode desenvolver-se como con- seqiiéncia do cisalhamento e, também, da deformacdo que podem sofrer os componen- tes da rocha que se dobrou, como minerais, seixos, ou dos proprios fragmentos da rocha fraturada pelos esforgos. O carater mais conspicuo das dobras é co- mumente a lineagéo, Como o nome indica, €a configuragdo determinada pela formagao de linhas e rugosidades paralelas, orientadas de mancira definida sobre o plano da xisto- sidade. Sao varias as causas da lineagdo, 363 mas de um modo geral as linhas acham-se orientadas paralelamente ao eixo da dobra. Podem resultar da interse¢ao dos planos de fratura com a superficie dobrada. Estes pla- nos se formam gracas aos mesmos esforcos que determinaram 0 dobramento, e sao dis- postos paralela ou subparalelamente em re- Iago ao plano axial. Na parte inferior dé-se uma compressio, o que determina a forma- dio de um sistema de rugas. Estas vo cons- tituir outro tipo de lineagdo, também para- Tela ao eixo axial da dobra. Nessas linhas devera ser tomada a direcdo segundo a qual se verifica o mergulho, caso nao seja hori- zontal, ¢ 0 Angulo que faz com o plano do horizonte. A fig. 15-19 ilustra um sinclinal em caledrios marinhos de idade carbonifera. Segundo estudos de H. Dupont, trata-se de antigos recifes de corais que, além do dobra- mento, sofreram fenémenos de deslizes. Na fig. 15-20 observam-se os estddios da evo- lucao de uma dobra de arrasto ¢ as con- figuracdes na topografia. De um modo ge- ral, as Sreas afetadas por dobramentos mos- tram sulcos no terreno, paralelos ao eixo das dobras. Nem sempre os vales coincidem com as sinclinais, ou as cristas com as anti- clinais. Com 0 progresso do desgaste erosivo & possivel que a regiao do sinclinal seja mais resistente & erosio, passando a constituir a parte mais elevada, ou seja, a crista. Discorddéncias Ligado as deformacdes ¢ aos hiatos na deposi¢&o das rochas ocorre um fendmeno geol6gico denominado discordincia, que sob © ponto de vista estratigrético significa uma superficie de erosio ou de nao-deposicao que separa estratos mais jovens das rochas mais antigas, representando assim um hiato significativo, ocorrendo entre elas um longo lapso de tempo. Podem ocorrer diversos tipos de contatos entre formacdes, ou ent dades geolégicas separadas por estes men- cionados hiatos de tempo. Segundo MENDES © nome genérico € descontinuidade, que pode corresponder a um pequeno lapso de tempo, e de natureza local (recebe 0 nome de diastema), ou de grande amplitude, quer no tempo, quer na extensio, poden- do ser regional. O tempo pode ser de dezenas ou centenas de milhoes de anos, 364 € a extensio de muitos quilémetros, 0 que recebe 0 nome de discordancia. Sio verda- deiras quebras na seqiiéncia estratigréfica, No entanto, essas rochas que nao foram conservadas numa determinada regiéio, po- dem ocorrer a centenas, ou muitos milhares de quilémetros em outras regiées, 0 que permite, por meio da correlacao, o estabe- lecimento da coluna geolégica mundial. Si0 muitos os eventos tecténicos que podem ocorrer durante o mencionado hiato de deposi¢ao. Existem quatro tipos de discor- dancia, que passaremos a expor: 1) Durante 0 lapso de tempo correspon- dente ao hiato existente entre as rochas separadas pela discordancia, pode ter-se verificado a ocorréncia de’ perturbagdes tectOnicas, que tenham deformado as rochas preexistentes, antes da deposi¢ao seguinte. Tendo havido tais perturbacSes que alterem a horizontalidade das rochas mais antigas, as rochas mais modernas dispostas na hori. zontal formargo um Angulo com aquelas, como se vé na fig. 15-21. A este caso dé-se © nome de discordancia angular. 2) Nao havendo deformacées tecténicas, a super- ficie de separagdo mostra o desgaste erosive das camadas antigas seguido pela deposicao das camadas mais jovens, mas em paralelo com as camadas anteriores, sendo impor- tante que ocorra em extensao regional, rece- be o nome de discordancia erosiva ow para- lela, ou desconformidade. 3) As camadas entre si esto paralelas; ocorre apenas uma interrupcao considerdvel na sedimentacio, Esta discordéncia, que somente poderé ser averiguada pelos fésseis, € normalmente designada como paraconformidade. Durante © periodo de formacio de um pacote sedi- mentar podem ocorrer irregularidades na deposigéo, com pequenas fases de erosiio local motivada pelas mudancas da corren- teza, originando pequenas discordancias, também chamadas de discordancia intrafor. macional. Outro exemplo é 0 da estratifi- cacao cruzada (fig. 5-13B), que pode ser causada, como j4 nos referimos anterior- mente, pela deposigao em Aguas correntes, nada tendo a ver com as discordancias, 4) Finalmente, o quarto tipo é denominado inconformidade, que é uma discordancia existente entre rochas igneas ou metamér- Fi 15-20 Evolugdo de uma dobra com as respectivas expressies ma superficie. No alo a dobra é ligeira- mente assimétrica, tendo @ erosio gasto ao longo da crista, que é ligeiramente inclinada. Nos flancos iniciam-se alguns sulcos formados pelas vertentes que vio formar o rio da dircita, No meio progride 0 esforso da csquerda para a direita, iniciando-se uma falha quase horizontal. Uma nova dobra mais suave direita determina o represamento das éguas, formacio de uma lagoa alongada © conseqiente depasigio de sedimentos recentes. Notami-se as escarpas abruptas. Em- baixo, tendo progredido o estorga, deu-se 0 deslizamento ao longo da linha de falha, formando-se (© chamado nappe. Os sedimentos lacustres modernos foram englobauos pelas rochas perturbadas © a configuragio topogrifica mudou por completo, com a formagio de escarpas ¢ degraus ali- nhados no sentido das cristas do dobramento (seg. Longwell et al.). ficas antigas, sobre as quais repousam sedi- mentos depositados apés longo ciclo de Ievantamento epirogenético seguido da de- nudac&o generalizada e posterior subsidén- cia, a fim de permitir a sedimentagdo. Como exemplo pode ser mencionada a sedimen- tagio carbonifera sobre © embasamento gniissico pré-cambriano da Bacia do Parand. Tais configuracdes sio muitas vezes difi- ceis de serem percebidas no campo, ora pela precariedade dos afloramentos ora pelo pe- queno Angulo formado pelas duas entidades separadas pela discordancia. Em muitos casos torna-se necessiria a elaboragio de uum mapa geolgico pormenorizado a fim de averiguar-se a existéncia de discordancias. = Inconformidade Discordancia erosiva Paraconformidade Fig, 15-21 Os principais tipos de discordancias, Na inconformidade as rochas sedimentares estratificadas repousam sobre rochas ctistalinas formadas em profundidade, Isto exige longo hiato cronolé- ico, pois as rochas formadas a quilémetros de profundidade necessitam de soerguimento, acompanhado de erosio, para, depois processarse a sedimentacio, A discordéncia angular & carac- terizada pela perturbagio tecténica das rochas mais antigas, antes da deposigio seguinte. Mais comumente as camadas mais antigas mergulham com um Angulo maior, mas ago obrigatoria- mente, tendo em vista a possibilidade da exisiéncia de eventos tecténiccs posteriores, superim: postos. Na discorddncia erosita, houve o desgaste erosivo da mais antiga, antes da’ deposigio Posterior ao hiato sem ter havido deformacio. Na discordancia paralela ‘nio ha fase erosiva (biato), reconhecivel como tal, gracas 4 datagio em bases paleontologicas, Acham-se hipote- ticamente representados estratos matinhos paleozdicos (cujo fossil caracteristico 6, entre outros mais, 0 trilobite) sotopostos a estratos cenozdicos continentais, com fésseis de plantas dicotile- déneas, ceracteristicas desta era gcoldgica BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA Brioussov, V. V., Problemas Bisicos de Geotectinica, “Ed, Omega, $. A. trad. de Cava, $. C, e MEDINA, M.A, 1971 BILLINGS, M.P., Structural Geology, Prentice-Hall, Inc., 3 ed., Nova York, 1972. De SrrteR, L. 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