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LINS -_ jam Nossas Grandes Tradigées de Sabedoria por em palavras sta avassaladora experiéncia ce Deus. E entdo somente ha dade naquilo que conhecemos a respeito de Deus", diz Si0 Gregério, indo nos sensibilizamos com o fato de que nada podemos conhecer a respeito Dele.” E Meister Eckhart insiste que Deus deve ser amado “como rio-Deus, ndo-espirito, mo-pessos, ndo-imagem, apenas amado como Ele €,0 Uno puro e absoluto, apartado de todas as dualidades, e em Quem de- vemos mergulhar eternamente do nada para o nada.” 29 Um paralelo ocidental visio hindu, neste caso, ocorre em 51. Reimpressdo. [Nova York: Harper & Ros mntradigdes, ambas verdadeiras, Ha um Deus, Nao ba um Deus. Onde esté o problema? Estou certa de que hi um Deus no sentido de que estou certa de que o meu amor nao é uma ilusio. Também estou certa de que nao ha um Deus, no sentido de que estou certa de que nao ha nada ue se pareca com aquilo que posso conceber quando digo essa palavra.” 30 Resumido do Comentario de Shankara sobre o Brahma Sutra, {.i.46, ymposicao extraida de: Katha Upanishad, 1L1i.15; Mundaka Upanishad, i.10} € Svetasvatara, Vvi.14. 32 Brikadaranyaka Upanishad, IL vii.23, 35 Christopher Isherwoord, “A Arvore dos Desejos", in Vedanta for the Wester World (Hollywood: Vedanta Press, 1945), pp. 448-51. 34 Mundaka Upanishad, 1.7, 35 Prema Chaitanya, “O que o Vedanta si West, 1948. Reimpressio, (Londres: 36 O restante desta segio tem por base os ensinamentos de Sri Ramakrishna, de acordo com a compilacio feita por Swami Abhedananda em The Sayings of Sri Ramaleishna (Nova York: The Veclanta Saciety, 1903), com pequenas ath Til Budismo O homem que despertow © budismo comera com um homem, Em seus Ulimos anos de vida, quando a {India se incendiava com sua mensagem e até reis vinham prostrarse diante de. le) as pessoas se aproximavam de Buda da mesma maneira que mais tarde irlam erguntar a Jesus o que cle ers." Somente duas pessoas levaram os outros « fa. er essa pergunta — nio o simples “Quem é voct?”, referindo-se a nome, ori. gem ou ascendéncia, mas "O que voce €? A que ordem de ser vocé pertence? Que espécie voce representa?” Entre elas nao estava Ci ppoledo ou mesmo Sécrates. Essas duas inicas pessoas ertamente, nem Na- ram Jesus e Buda, Quando as pessoas levaram sua perplexidade ao préprio Buda, sus resposta deu identidade a toda a sua mensagem. \ Fespondeu-lhes, “Es um an- 'Nao” "Que és entio’ E Buda respondeu: “Eu sou desperto.” mouse © seu titulo, pois ¢ isso que a palavra buda signifi ta budh denota tanto o despertar quanto o saber. Buda, portan- sminado” ou “o desperto", Enquanto 0 resto do mundo estava znas tis do sono, sonhiando um sonko que é conhecide como 0 estado 2. A patologia da doenca, 5. A morbides da decrepitude, Nes primeitos anos de uma existéncia, a p- 13 vitalidade fisica se une A novidade do viver para tornar a vida quase que awe, raticamente boa. Nos anos subsequentes,surgem os medos: medo da dependén. cia finance; medo de nto ser amado e desejado; medo de doengasesofmmentos prolongados; medo de ser fsicamente repulsivo e dependente dos outros, medo ‘de vera propria vida como um facasso em alguns aspectes importantes, 4. A fobia da morte. Com base em anos de pratica clinica, Carl Jung ob- servou que a morte era o terror mais profundo em todos os pacientes com mais 108_/ As Rliibes do Mundo SOB de 40 anos que analisara. Os existencialistas unem-se a Jung no sentido de acre- ditar que o medo da morte prejudica um viver saudavel. 5. Sujeigao aquilo de que ndo gostam. As vezes € possivel romper esses lav 05, mas nem sempre. Uma doenca incurével, uma fatha de cardter obstinada — para o bem ou para o mal, hd martiios aos quais as pessoas estio acorrenta_ as pela vida toda, 6. Separagdo dequilo que amam. Ninguém nega que os sapatos da vida apertam nesses seis lugares. A Pric rmeira Nobre Verdade os une, concluindo que os cinco skandas (componentes a vida) sio dolorosos, Como esses shandas sao 0 compo, as sensacbes, os pen. samentos, 08 sentimentos e 2 coasciéncia — em sums, mdo aq mente consideramos ser a vida —, isso equivale a dizer que a totalidade da vi- al como a vivemos) ¢ sofrimento. De algum modo, a vida se apartou da realidade, e essa separacio, enquanto nao for superada, toma impos- sivel a verdadeira Felicidade. Para. brecha ser sanada, precisamos conhecer sua causa; €a Segunda No- bre Verdade a identifica. A causa do deslocamento da vida é tanha, Mais uma ‘vez as imprecisdes da tradugdo — todas elas até certo ponto desonestas — su- sgerem que fiquemos perto da palavra original. Tanha geralmente ¢ traduzido co- ‘mo “desejo". Hd af alguma verdade — do tipo que encontramos na pega Heart. break House, quando George Bernard Shaw faz Ellie exclamar: “Sinto agora como se no houvesse nada que eu possa fazer, porque eu nada quero”, levan- do 0 Capito Shotover a sua nica demonstracio de entusiasmo: "Essa é a uni- ca forca verdadeira. E genial. E melhor que rum.” Mas se tentarmos fazer do de- sejo 0 equivalente a tanha, encontraremos dificuldades. Para comecar, essa ‘equivalencta tomaria initia Segunda Verdade, pois calar os desejos, todos os desejos, no nosso estado atual, significaria morrer, e morrer no € reso essa alegacao de equivaléncia seria talmente equivocad, porque ha alguns desejos que Buda defendeu explicta- mente — 0 desejo dese ppor exemplo, ou de ver os outros felizes —Tanha ¢ um tipo especifico de desejo, o desejo de realizacio individual, Quando somos aleruistas, somos lives, mas af estd precisamente a dficuldade. manter 0 estado de altrussmo, Tanha € a forca que o rompe, arrancando-nos da liberdade do todo e nos levando de volta ao estado em que buscamos realizado Ro nosso ego, o qual exsuda como feridas secretas. Tanha consiste em todas “aquelas inclinagées que tendem a manter ou aumentar o senso de separacio, 4 existéncia separada do objeto de desejo; na verdade, todos os tipos de egots. mo, cuja essencia €o desejo do ego a custa, se necessatio, de todas as outras for tas de vida. Como a vida € una, tudo o que tende a separar um aspecto do ou- {to causa sofrimento & unidade que, mesmo inconscientemente, age contra a ‘Lei, Nosso dever para com nossos semelhantes ¢ compreende-los como exten Budismo_/ 109 ses, outros aspectos, de nds mesmos — facetasirmés da mesma Realidade”.* Essa idéia ests um tanto distante da maneira pela qual as pessoas geral- mente entendem seus semelhantes. 4 visio humana usual jd esté a meio cami- tho andado da descricao que Ibsen fez do hospicio, onde “cada um esta fecha- do num barril de si-mesmo, vedando o barril com uma rolha de si-mesmo & deixando-o sazonar num poco de si-mesmo”. Diante da foto de um grupo, qual rosto examinamos primeiro? Esse é um sintoma pequen, mas categérico, do cancer devorador que causa sofrimento, Onde esté o homem que se preocupa coma fome no mundo tanto quanto em alimientar seus filhos? Onde esta a mu- ther que se preocupa em aumentar o padrdo de vida no mundo todo, tanto quanto com seu aumento de salério? E agui, diz Buda, que esté o problema: é Por isso que sofremos, Em vez de unirmos 20 todo nossa {6, amor e destino, continvamos amarrando-os 20s insignificantes jumentos do nosso eu separado, 6 qual certamente acabard tropecando e empacando. Acarinhando nossa iden- dual, fechamo-nos dentro do “nosso ego encapsulado na pe « buscamos a tealizacio por meio de sua intensificagio e expa so. Loucos que somos, imaginando que o aprisionamento poderd trazer a Dertagdo! Entio nao conseguimos ver que “é pelo ego que sofremos"? Longe de sera porta da vida abundante, 0 ego ¢ uma hémis estrangulada. Quanto mais ela incha, mais sufoca a live circulagao da qual depende a satide, e mais a dor uments _A Terceira Nobre Verdade € a seqéncia logic da Segunda. Sea causa do eslocamento da vida @ 2 fnsiaegoista, entio sua cura esti na supezagdo dessa Ansia. Se conseguisemos nos libertar dos limites estits do egosmo, pssen- do para a imensidfo de vida univers, fearamos livres do nosso tormente. A _ Quanta Nobre Verdade prescreve como a cura pode sertealizada. A superagio de p iro, se dd por meio do Caminho Octuplo 4, © caminho para fora do c O Caminho Octuplo Buda abordou o problema da vida, nas Quatro Nobres Verdades, essencialmen- te como um médieo. Comecou examinando cuidadosamente os sintomas que ‘ausam preocupacio. Se tudo corresse bem (tio bem que mal perceberiamos a 1n6s mesmos, assim como mal percebemos o processo da nossa digestio), entio zo terfamos com que nos preocupar e nfo precisartamos ficar atentos a0 nos- s0 modo de vida, Mas no € isso que acontece. Hé menos ciatividade, mais co flito¢ mais dor do que gostariamos. Buda sintetizou esses sintomas na Primei- ra Nobre Verdade, coma declaracio de quea vida € dukha (deslocada).O passo eguinte fol 0 diagnostico. Langando ritos e fé ao vento, ele perguntou, concre- tamente, o que causa esses sintomas anormais? Onde esta o foco da infeccio? O que sempre esté presente quando ha sofrimento, e 0 que esta ausente quan- 110 J AsReligioes do Mando es frimento? A resposta foi dada ma Segunda Nobre Verdade: a causa do deslocamento da vida ¢ tana, o impulso para realizacao individual. © qual seria entio 0 prognéstico? A Terceira Nobre Verdade € esperangosa: a doenca Pode ser curada se superarmos o impulgo egoisa para ter uma existenciasepa- ada. E isso nos raz & prescrigao; como realizar essa superacio? A Quarta No- bre Verdade oferece a resposta. A superacio do egotsmo é feita por meio do Ca- minho Octuplo, © Caminho Octuplo, portanto, é uma rota de tratamento, Mas no um tr2- tamento externo, a ser accito passivamente pelo paciente como algo que vem de fora. Nao € um tratamento las, riewals ou graca. Em ver disso, é 0 ‘atamento por meio de teinamento. As pessoas costumam treinar para os es- Portes ¢ profissbes, mas, com notiveis excegoes, como Benjamin Franklin, so {nclinadas a concordar que nao se consegue treinar para a vida, Buda discorda- va dessa idéia. Ele distinguia duas maneiras de viver. Uma delas — a maneira aleatora e imefletida, na qual o sujeito ¢ puxado e empurrado por impulsos ¢ stancias, como um graveto na tempestade —, ele chamava de *perambu- lar’ A segunda a vida com um propésito, ele chamay: pos uma série de mudancas destinadas a libercar o ind orancia, do impulso inconsciente ¢ de tanka. O Caminho mapeia uma rota completa, palando precipicios e curvas perigosas. Por meto de longa e paciente disc ‘a, 0 Caminho Gctuplo pretende nada menos que apanhar a pessoa, onde ela estiver,¢assentila como ser humano diferente, curado das deficiencias que 0 aleljavam. “Felicidade, aquele que busca conquistard”, disse Buda, ‘ce praticat” © que é essa pratica de que fala Buda? Ele a divide em olto passos. Estes, Porém, slo precedides por um passo preliminar que Buda nao incluiu na lista, mas a0 qual se refere com tanta freqténcia em outras passagens, que podemos ‘assumir que estava aqui pressuposto, Esse passo preliminar & 2 associagao cor- zeta, Ninguém reconheceu com mais clareza do que Buda até que ponto somos animals sociais,influenciados a cada momento pelo “exemplo dos nossos com. Pamthelros”, cujas atinudes e valores nos afetam profundamente. Quando lhe perguntaram como se aleanca a tluminacdo, Buda comecou dizendo: “Um inci. tador da fé aparece no mundo. Quem busca a iluminagZo se associa a ele.” Se- guem-se outras injungbes, mas a assoctacio correla € tio bisica que exige ou to pardgral. Quando se quer domesticar ¢ treinar um elefante selvagem,a melhor ma- nelra écomecar amarrando-o a outro elefante que a tenka passedo por esse pro- cesso. Por contato,o clefante selvagem chega a perceber que a condicao a qual estd sendo levado nao € totalmente incompativel com sua natureza de elefante —e que se espera dele nto contradiz de modo categérico sua natureza ¢ anuin- cia uma condigéo que, embora chocantemente diferente, é « contagioso do compan na essa ligio, melhor do que o faria qualquer outra coisa, Treinat para a vida do do ndo hi Budismo 11 esplrito nto € diferente, A transformagio com a qual se defronta a pessoa des- tueinada nfo é menor que a do elefante, nem menos exigente. Sem provas v veis de que o sucesso € possivel, sem uma continua wansfusio de corag. Se (como hoje mostram os estutis eie ficos) as ansiedades sio absorvidas por nossos associados, scr que o mesino ‘lo aconteceria coma persisttncia? Robert Ingersoll observow certa vez que, se fosse Deus, teria feito a sade contagiosa, e nfo a doenca; a0 que um indiano, seu contemporaneo, respondeu: “Quando chegaremos a reconhecer que a sas de tao contagiosa quanto a doenca, a virtude tao contagiosa quanto o vicio, a alegria do contagiosa quanto a rabugice?” Uma das tres coisas pelas quais de- vemos dar gragas todos os dias, segundo Shankara, €@ companhia do sagrado: pois, assim como as abelhas ndo fazem o mel a menos que estejam juntas, tam ‘bem nés, seres humans, ndo fazemos progresso no Caminho a menos que te- sshamos 0 apoio de um campo de confianga e interesse gerado pelos que con- quistaram a Verdade. Buda concorda com isso. Devemos nes associar aos que conquistaram a Verdade, conversar com eles, servi-los, observar seus caminhos absorver, por osmose, seu espitito de amor e compai Colocado esse passo preliminar, yoltemo-nos as oito passos, propriamen- , do Carinho. te 1. Visio Correta, Um modo de vida sempre envelve mats do que crencas, tas nunca se desvia completamente delas porque nds, sees humanos, além de sermos animais sociais, como acabamos de ver, também somos animais racio- nafs. Nao inteiremente, é claro — Buda seria 0 primeizo a admiti-lo. Mas a da precisa de alguma matriz, algum mapa no qual a mente posea confiarse sermos direcionar nossas energias com um propésito. Voltando ao exemplo do clefante, por maior que seja 0 risco enfrentado, ele ndo fara qualquer movimen- to para escapar até terse assegurado de que a tilha que devera percorrer supor ta seu peso. Sem essa convicglo, ele prefere fica barrindo em agonis num va- 10 em chamas do que se ariscar a uma queda. Os mais ferozes detratores da ‘azio terfo de admitir que ela desempenha pelo menos um papel como esse na Vida humana, Tenha ela ou ndo o poder de ata, fica claro que detéra 0 pod! de veto, Até sua tazao estar satisfeita, nenhum individuo prossegue com entuc siasmo em qualquer directo. Alguma orientacio intelectual, portanto, é necessiria se a pessoa preten- de porse a caminho de outra maneira que nio seja a9 2zar. As Quatro Nobres Verdades oferecem essa orientacio, O sofrimento é abundante; € ocasionado pe- lo impulso para a realizado individual; esse impulso pode ser moderado; e a ra de moderé-lo & pereorrer 0 Caminho Octuple 2. Intengdo Correta. Enquanto o primeiro passo convocou nossa mente a considerar qual é basicamente o problema da vida, o segundo passe convoca nos- 112_/_AsReligies do Mundo ER A Agi ne so coracdo a decidir o que realmente queremes, Seré que queremos realmente a sninagfo, ou nossosafetososcilam de um lado para 0 outro, ro papagsios de brinquedo a cada rajada de distragoes? Se realmente queremos avancar a perssténcia ¢ indispensivel. As pessoas que atingem a grandeza quae se sempre se dedicam apaixonadamente a uma tinica coisa. Ela fazem mil col. sas todo dia, mas por tris deles permanece aquela coiss tnica que considera ‘ma, Quando buscam a liberiagdo com esse tipo de mente direcionada para tum propésito, as pesscas podem esperar que seus passos deixem de ser uma es- calada na areia escoregadiae se tomem passadas firmes em terreno solide 3. Linguagem correta, Nos trés proximos passos, seguramos os comuta- dores que controlam a nossa vida, comesando com a atengio a linguagem. Nos- sa primeira tarefa é tomar consciéncia do nosso discurso e daquilo que ele re vela sobre o nosso carster, Em vez de comecarmos com a detisio ce falar apenas € tio-somente a verdade — decisto essa que provavelmente se mostrar inefi caz no inicio, porque ¢ avancada demais —, seria melhor comegarmos numa etapa bem mais simples: com a decisio de observar quantas vezes por dia nos desviamos da verdade e, em seguida, perguntar por que o fizemos. O mesmo ‘corre com a linguagem pouco caridosa. Comeca-se, nao com a decisfo de mun ¢a falar uma palavra rude, mas observando nossa fala para percebermos os m0 tivos que acionam a rudeza, Depots de esse primeito estigio ter sido razoavelmente dominado, estare~ ‘mos prontos para tentar algumas mudangas. O terreno jé estarépreparado, pois, uma vez conscientes da nossa maneira de falar, a necessidade de mudancas se tomnard evidente. Em quais diregoes devem prosseguir as mudangas? Primeiro, na diregdo da veracdade, Buda abordou a verdade de modo mais ontol6gico que ‘moral ele considerava o engano mais tolo do que o mal. O engano ételo por- que reduz 0 nosso ser Por que enganamos? Por tis das racionalizagées, 0 mo- tivo é quase sempre o medo de revelar aos outros, ow a nos mesmos, aquilo que realmente somos. Cada vez que cedemos a essa “tarifaprotetora”, as paredes do mosso ego engrossam, sprisionando-nos ainda mals, Seria ireal esperar que possamos dispensar noseas defesas de um sé golpe, mas podemos ficar cada vez ‘mais conscientes delas reconhecer as muitas maneiras que elas tém de nos. confinae. da direcio a ser tomada pela nossa linguagem € 0 rumo da carida- temunho, conversa vazia, mexericos,calinia e abuso verbal devei ser evitados, nfo s6 em suas formas dbvias como também nas dissimuladss. As formas dissimuladas — depreciagio su comentarios évelad. 4. Conduta Correta. Aqui, também, a adverténcia (como Buda a detalha- "ia em seus tltimos sermées) envolve um chamado para compreendermos nos. Budiemo 1113 50 comportamento mais objetivamente do que faztamos antes de tentar aprimo- Té-lo. O teinando deve refletir sobre stas acdes, com um olho nos motives que as acionaram. Quanto de generosidade estava envolvido, e quanto de egoismo? Com respeito & directo na qual deve prosseguir a mudanca, 0 conselho mais Juma ver é: rumo ao altruismo e & caridade, Essas direttizes gerais so detalha- das nos Cinco Preceitos, a versio budista da segunda metade, ou metade ética, dos Dez Mandamentos: ‘Nao matar. Os budistas mais rigorosos estendem essa proibigdo aos ani- mais e sto vegetarianos, Nao roubar. ‘Nao mentir. ‘Nao ser incasto, Para monges e pessoas ndo casadas, iso significa abst ia sexual. Para pessoas casadas, significa moderagéo proporcional 20 seu Interesse no Caminho e & distancia nele percorrida, ‘Nao consumir bebidas alcodlicas. Conta-se que um des primeiros czares rrussos queria escolher a ianismo, is- lamismo e budismo, rejitou os dois dhimos porque incluiam essa quinta proibicio, 5. Ocupacio Correta, A palavra “ocupagio” € excelente, porque nosso trabalho ocupa a maior parte da nossa atencao no estado de vigilia. Buda con. siderava impossivel o progress esplritual sea atividade principal de-uma pes- soa. conduzisse na diregdo oposta: “A mao do homem que tinge tecidos ¢ con. twolada pela tintura com a qual ela trabalha." O cristianismo concordou com isso, Embora incluisse explicitamente 0 carrasco como um papel que a socieda- de infelizmente exige, Martinho Lutero rejeitava o agiota¢ o especuladcr. ta aqueles que tém o firme proposito de aleancar a ibertagio, a ponto de dedicar toda a sua vida a esse projeto, a ocupagio corretaexige a unio & or. dem monastica ea adesio a sua disciplina. Para os leigos, ela pede envolvimen- to em ocupacoes que promovam a vida, em vez de destrut-la. Buda, mais uma ‘ez, nfo se contentou com generalizagoes, les ctou nominalmente—as pro- fissbes de sua época que considerava incompativeis com a seriedade espiitual Algumas dels sio ébvias: vendedor de venenos, mercador de escraves, pros a. Outras, se adotadas no mundo todo, serlam revolucionérias: agougueiro, cervejeiro,fabricante de armas, coletor de impostos (a corrupeio nessa ativida, de era rotineira na época). Mas uma daquelas profissdes continua a eausar per~ plexidade: por que Buda condenava a ocupagio de mercador caravaneiro? Enquanto os ensinamentos explicitos de Bude sobre o trabalho visavarn ajudar seus contempordneos a decidir entre as ocupagées que levavam 30 pro- gress0 espiritual e as que o impediam, ha budisias que sugerem que, se Buda tensinasse hoje. ele se oreocunarin menne crm acnerine arnnatiane nein = 1n4_/_ As Religies do Mundo o perigo deas pessoas esquecerem que ganhar osustento ¢ um meio, néo oprin- cipal objetivo da vida. 6, Esforgo Correto, Buda dava imensa énfase & vontade. Aleangar a meta exige um tremendo esforco; hd virtudes a desenvolver, paixes a refreare esta- dos mentais destrutivos a apagar, para que a compaixlo e o desapego tenham a oportunidade de surgi. “Ele me roubou, ele me bateu, ele me malteatou'— na mente que abriga esses pensamentos, o dio munca deixard de existir™ Mas a James chamou de “lento e tedioso esforgo da vontade”. “Aqueles que seguem 0 ‘Caminho", disse Buda, “bem poderiam seguir 0 exemplo do boi que marcha pe- lo lamacal carregando pesado fardo. Esté cansado, mas seu olhar fixo, voltado pparaa frente, ndo descansa até sair do lamacal, e s6 entdo ele faz uma paus pa- 1a repousar. © monges, lembrai que a paixio e 0 pecado sto mais do que o su- jo lamacal, e que sé escapareis a0 constéincia, no Caminho."” Com veleidade — um baixo nivel de ‘mero desejo que nio vem acompanhado pelo esforgo ou agio para aleancar a ‘meta — nada se consegue. ‘Ao discutiro esforgo correto, Buda acrescentaria mais tarde algumas refle- xées sobre aquilo que hoje chamamos de timing [o senso de oportunidade, aes- cotha do momento certo e do tempo de duragdo de algo]. 0 alpinistainexperien- te, partindo para a conquista de sua primeira grande montanha, fica impaciente com a lerdeza, eparentemente absurd, do guia veterano; mas, antes do fim do dia, o ritmo lento do guia jd mostrou estar certo. Buda tinha mais confianca no esforco constante do que nas explosdes sibitas, Esticada demais, a cord do vio- lino arrebenta;o avido que nao segue os angulos corretos de ascensio se arreben- ta. Na China, 0 autor do Tao Te King transmite a mesma idéia com uma imagem diferente: “Aquele que dé as passadas mais longas nio vai mais longe.” Como 0 Ocidente achou os dois iltimos passos do Caminho Octuplo de particular importincia para a compreensio da mente humana e de seu funcio- rnamento — ha diversos centros de meditacio nos Estados Unidos que se dedi- cam exclusivamente a sua pritica, numa tentativa desproporcional de atender 405 profissionais da save mental —, itemos discuti-los com mais detalhes. 7. Atengao Correta. Nenbum mestre concedew mente mais influéncia sobrea vida do que Buda. O mais apreciado de todos os textosbbudists, o Dham- rmapada, abre com es “Tudo 0 que somos é resultado daquilo que pensamos.” E, a resp assegura-nos que “todas as coisas podem ser dominadas pela atengao plena, Dentre os flésofos ocidentais, Spinoza é o que esta mais proximo de Bu da quanto ao potencial da mente. O dito de Spinoza — “compreender alguma Budiemo 1 5 coisa ¢ liberta-se dela” — praticamente resume toda a sua ética. Buda teria co ‘cordado com ele. Se conseguissemos realmente compreender a vida, se pudés- semos compreender realmente a1nés mesmos, perceberiamos que nem wma nem tro sa0 problemas. A psicologia humanista segue a mesma premissa. Quan- do “a percepedo consciente da experiencia esté plenamente operante”, escreve Carl Rogers, “podemos confiar no comportamento humano, pois nesses mo- zmentos 0 organismo humano se conscientiza de sua afabilidade ¢ ternura para com os outros”, Buda via a ignorancia, e ndo o pecsdo, como o ofensor. Mais precisamente, na medida em que o pecado é falta nossa, ele € acionado por uma ‘gnorancia mais fundamental — em especifico, a ignorancia da nossa verdadei ra natureza Para superar gradualmente essa ignorancla, Buda aconselha um auto-exa- ime tio continuo que (quase) nos faca definhar a0 pensar nele; mas que co derava necessatio por acreditar que @ liberdade — libertar-se da exisienci consciente, robotizada — € alcaneada por meio da percepedo consciente de si ‘mesmo. Para esse objetivo, Buda insista que tentssemos compreender a nés ‘mesmos em profundidade, vendo todas as coisas de modo meticulo:o, “taisco- smo elas realmente sto”. Se voce mantiver firme e constante atencio aos seus ensamentos e sentimentos, perceberé que eles flutuam para dentro e para fo- ra da sua percepgdo consciente, e que nio sio, de modo algum, partes perma- nnentes de voc® mesmo, Testemunharia todas as coisas de maneira nio reativa, especialmente seus humores e emogées, sem condenar alguns nem se agarrar a outros, Varias outras priticas sio recomendadss, incluindo estas: 0 aspirante deve manter a mente no controle dos sentidos e des impulsos, em ver de ser conduzido por eles; deve meditar sobre as visses assustadoras e desagradiveis, car de sentir aversto por elas; deve impregnar o mundo inteiro com pen- ‘a consciéncia do ser hu- ano médio, este sétimo passo pede ao buscador para dar sua atengdo plena ¢ constante a toda acio que praticar e todo contetido que surgir na corrente da sua consciencia. O adepto se torna consciente a partir do momento em que o sono se apodera dele; ele percebe se esti inalando ou exalendo o ar naquele mo- mento, E claro que isso exige prética. Além de tabalhar continuamente nesse exercicio, também € preciso dedicar um momento especial para a introspeccéo sem distragoes. Perfodos de completo recolhimento também devem ser inclut- dos no programa, Temos aqui a descrigio, feta por um observadar ocidental, de monges tai- landeses praticando esse sétimo passo: Um deles passa horas, odo dia, caminhando lentamente pelos terrenos do wat {centro mondstico budista), absolutamente concentrado na mais diminuta 116_/_ As Regier do Mando HST AstetgoescoMind Jracao ée cada ato ligado a cada pass Esse procedimento é levade a cada um dos mais simples ato fscos da vida covdiana, até que, em teoia, a Consciente possa seguir cada passo percorido na geracio de um sentinen de uma idéia ow de wrs pensamento. Um monge de 55 anos de idade medita Junto a um pequeno cemiterio adjacente ao wat, porgue ali nao se sente per- ado. Ele se senta, com as pernas crizadas na posicdo do lotus, ese ma 4m imovel, mas com os olhos abertos, durante horas a flo — seja na cara Jorte da meia-noite, seja no calor torido do meto-dia. Em média, ele perma nece ali durante duas ou trés horas.” Por meio dessa pratica,fizemos varias descobertas: (1) Toda emoco, pen- samento ou imagem vem acompanhada de uma sensacdo fisiea, e vice-versa. (2) Percebemos padres obsessivos naquilo que surge na nossa mente, e como es- ses padroes constituem o nosso sofrimento (dukitha). Para alguns de ns, € 0 padrio de alimentar velhos ressentimentos; outros se descobrem preocupados com ansiedades ¢ autopiedade; outros, ainda, simplesmente se sentem perple- xos. Coma pritica continua, sentimos que as garras obsessivas desses padres se afrouxam. (3) Todo estado mental efisico é fuido; nenhum deles ¢ sdlido e permanente, Mesmo a dor fisica¢ feite de uma série de sensacées deseontinuas que podem mudar subitamente. (4) A pessoa que medita percebe como é pe queno o nosso controle sobre a mente e as sensa¢des fisicas, e como é pequena 8 pereepcio consciente que costumamos ter de nossas reacbes. (5) O mais im- Portante € que comegamos a perceber que nfo ha nada por trés dos aconteci- mentos mentaisfisicos, orquestrando-os. Quando sprimoramos nossa eapaci- Gade de atengio microscépica, fica evidente que a propria consciéncia nao € continua, Como a luz de uma lampada, o liga/desliga ¢ to rapido que a cons- cigncia parece ser continua, quando de fato ndo o é. Com essas descobertas,co- nega ase dissolver a crenca num eu separado, que existe por si mesmo. 8. Concentracio Correta, Este passo envolve substancialmente as téeni- 28 que jd encontramos na raja yoga hinduista, e leva substancialmente & mes- ma meta Em scus ulkimos anos de vida, Buda disse aos seus discipulos que suas pri- as de libertacto haviam surgido quando ainda era erianga, antes de deixar a casa paterna: certo di, sentado a sombra refrescante de uma macieira € mergulhado em profundo pensamento, de repente ele se surpreendeu no es- tado que mais tarde identificaria como o primeiro nivel das absorgSes. Esse foi o seu primetro e tenue antegozo da libertacio,e ele disse a si mesmo: “Este € 0 caminho da iluminag8o.” Foio sentimento de nostalgia pelo retorno e aprofun- damento dessa experiéncia, tanto quanto a desilusio com os prémios usuals da vida mundana, que o levaram a decisio de de completamente sua vida & aventura espiritwal. O resultado, como vimos, néo foi simplesmente uma nova Budiono 07 atone losofia de vida. Foi a regeneracio: a mudanca para um tipo diferente de cria- tura, que sentiu 0 mundo de maneira nova. Se nfo virmos esse aspecto, nao es- taremos equipados para sondar o poder da budismo na historia humana. Algo aconteceu a Buda sob a Arvore Bodhi, , desde entéo, algo aconteceu a todo bu- lista que perseverou até o passo final do Caminho Octuplo, Como uma ctme- za forografica,a mente estava mal focalizada, mas agora ofoco foi ajustado. Coin 4 “extirpagdo da ilusdo, da ansiedade e da hostilidade”, os tés venenos, vemos que as coisas nZo sio como suptinkames, Na verdade, todas as suposigées de- sipareceram, sendo substitutdas pela percepeao diteta. A mente epouse em sua verdadeira condicéo, Conceitos budistas basicos E tio dificil termos certeza da visto total de Buda sobre a vida quanto da de qual- quer outro personagem da Histéria, Parte do problema vem do fato de que e como a maioria dos antigos mestre, nada escreveu. Ha um hiato de quase séou. Joe meio entre suas palavras faladas e os primeiros registros escritos, e, embo- Faameméria naqueles tempos pareca ter sido incrivelmente fel, € certo que um histo tao longo crie problemas. Um segundo problema vem da riqueza de ma- terial dos propris textos, Buda ensinou durante 45 anos e, de uma forma ou de ionante corpo de ensinamentos chegou até nés. O resultado sem duvida, uma bencdo, masa simples quantidade de ma- terial € desnorteante; isso porque, embora seus ensinamentos tenharn perma- necido admiravelmente coerentes a0 longo dos anos, era impossivel falar para tantas mentes, e de tantas maneiras, sem criar problemas de interpretagio, Es- sas imterpretagbes constituem a terceira barreira. Na época em que 0s textos co- mecaram a aparecer, jd existiam escolas sectarias algumas decididas a minimi- outras decididas a agueé-lo. Isso leva os estudiosos a perguntar quanto do que estfo lendo representa o pen. samento teal de Buda e quanto seria interpolagao sectitia, Mas nfo resta divida de que o obstéculo mais sério para a recuperacio da filosofia plena de Buds € seu proprio silencio em pontos cruciais. Vimos que seus grandes interesses eram priticos e terape: especula ricos. Em vez de discutir cosmologias, Buda queria apresentar as pessoas um ti po de vida diferente. Seria um equivoco dizer que a teoria nao the Seus didlogos mostram que ele analisou meticulosamente cerios problemas abs. tos; que ele, na verdade, possuia uma brilhante mente metafisica. Era um ipio seu resistir filosofia, assim como a pessoa com uin senso de missio se afasta dos passatempos, julgando-os perda de tempo. Sua decisio faz tanto sentido que até pareceria uma traigdo inseric uma se ‘fo como esta, que tenta francamente identificar —e até certo ponto defini —

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