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Geracao Hidroelétrica 2.1 Introdugao O.uso de recursos hidricos para geracdo de energia elétrica é privilégio de pou- cos paises. Disponibilidade dos mananciais, extensao de territérios e condicoes geograficas sao fatores determinantes. A renovabilidade da fonte priméria é um atrativo importante para esse tipo de empreendimento, contudo a geragao hidro- elétrica ndo 6 completamente isenta de impactos socioambientais. A Tabela 2.1 apresenta dados sobre a geraciio hidroelétrica em nivel mundial. Destaque importante é a condicao do Brasil nesse cenario, como o segundo maior produtor de energia elétrica a partir dessa fonte primdria e segundo maior em termos de participac3o na matriz de geracdo interna. Isso é resultado do potencial hidrico do pals e das agdes e estratégias adotadas pelo governo ao longo da histéria do setor energético brasileiro. © presente capitulo aborda os principais elementos técnicos envolvidos na geracao hidroelétrica, desde os termos mais empregados aos tipos de equipamen- tos utilizados, sem esquecer os principios da hidrodinamica envolvidos. Ao final, as questdes ambientais so levantadas, bem como a importancia das pequenas cen- trais hidroelétricas (PCH) para o pais Geragao de Energia Elétrica - Fundamentos Tabela 2.1. Dados mundiais de geracdo hidroelétrica - 2009.!2) Produtores (2008) | _Geragéo (TWh) | %nageragéo mundial | % na geragao intema China 616 18,5 167 Brasil 301 17 83,8 Canada 364 10.9 603 Estados Unidos 298 9.0 7A Riissia 176 53 178 Noruega 127 38 95,7 india 107 32 11,9 Venezuela 90 27 728 Japéio 82 25 7.8 Suécia 66 2.0 48,3 Demais 1.012 30,4 13,9 Mundo 3.329 100,0 165 2.2 Conceitos basicos para geracao hidroelétrica 2.2.1 Equacao da continuidade Considerando 0 liquide incompressivel, o peso P de liquido que num dado tempo atravessa uma secdio de drea A, é 0 mesmo que durante esse tempo atra- vessa uma segdo de area A, posterior: dP =A, v, dt=7 A, v, dt (2.1) sendo: ‘- peso especifico do liquido (constante); v-velocidade média. Como dt é 0 mesmo e as seg6es podem ser quaisquer: dP/dt = y Av =constante (2.2) que € chamada de equacao da continuidade. Essa equacSo permite afirmar que, numa regiao de estrangulamento, a velocidade do fluido aumenta. Efetivamente, a relagdo dP/dt trata-se do peso escoado na unidade de tempo, denominada ainda de descarga em peso ou fluxo em peso. Geragéo Hidroelétrica Ao dividir ambos os lados da equac&o da descarga em peso pelo valor da gravi- dade g, obtemos uma nova relagdo, denominada de descarga em massa: dm/dt = 7 Av 1/g = p Av=constante (2.3) sendo: p- densidade do liquide (constante). Outra relago é a de Q, volume por unidade de tempo, dada por: Q=Av=constante (2.4) também denominada de descarga, fluxo, vazdo ou débito. 2.2.2 Liquidos em escoamento permanente O sistema de forcas que um liquido em escoamento permanente exerce sobre as paredes de um dispositivo no interior do qual se escoa é equivalente a um sis- tema constituido por cinco forcas. Essas forgas produzem o conjugado motor res- ponsdvel pelo movimento nas maquinas motrizes hidrdulicas: “> Peso do liquido: forca vertical, de cima para baixo, e aplicada no centro de gravidade da massa liquida; “> Forca de pressdo normal & seco de entrada: forca aplicada no centro de gravidade da secdo e dirigida de fora para dentro; “> Forca de pressdo normal a seco de said aplicada na seco de saida; forca andloga a anterior, mas “> Forca resultante da velocidade aplicada na seco de entrada: produto da velocidade pela massa escoada na unidade de tempo, aplicada no centro de gravidade da seco com a direcio e o sentido da velocidade; “> Forca resultante da velocidade aplicada na secdo de saida (forca de rea- 40): forca andloga a anterior, com sentido contrério ao da velocidade. Nas rodas d’gua, hd preponderancia da parcela relativa ao peso do liquido. Nas turbinas hidrdulicas, s4o as forcas resultantes da velocidade que respondem, quase que exclusivamente, pelo funcionamento. O trabalho W efetuado num tempo finito t por um Ifquido em escoamento permanente é dado por: Geracao de Energia Elétrica - Fundamentos 2 y v w=vat||{hy +2422 |/p, + Py Me =P'H (2.5) Nees y 28 sendo: P* - peso liquido escoado no tempo t (= y Qt); H - representa a grandeza entre colchetes; chamado de queda hidrdulica ou ener- gia especifica, quando o liquido realiza trabalho ou cede energia, como nas turbi- as; caso contrario, como nas bombas, é chamado de altura de elevaciio; P* h - energia de posi¢ao, energia potencial de altitude ou energia topografica total: representa o trabalho que o peso do liquido, situado numa cota h, pode rea- lizar se abandonado & ago da gravidade; P* p/y - energia de pressao: representa o trabalho que 0 peso do liquido, de peso especifico y, pode realizar quando submetido a pressdo p. O termo p/ é chamado de altura representativa da pressdo, altura de pressao estética, energia especifica de pressao, cota piezométrica ou piezocarga; P* v2/2g - energia cinética: representa o trabalho que o peso do liquido, com velo- cidade v, é capaz de realizar elevando-se no vécuo a uma altura igual a v2/2g; esse termo é chamado altura representativa da velocidade, altura de pressaio dinamica, energia atual ou taquicarga. 0 Teorema de Bernoulli foi proposto por Daniel Bernoulli (1700 - 1782) que, em 1730, langou os fundamentos da hidrodinamica. Se o liquido, ao escoar-se, no sofrer trocas de energia com o exterior, o trabalho é nulo e, portanto, H = 0. Assim, obtém-se a expresso: 2 nee ete (2.6) y 3g que representa a equacéio de conservacdo de energia para os liquids. Em outras palavras, a equacdo afirma que, em qualquer ponto que se considere de uma veia de um liquido perfeito em escoamento permanente, sem fornecer ou rece- ber energia, a soma da cota com a altura representativa da pressiio e com a altura representativa da velocidade é constante Embora no se verifique na pratica o cumprimento das exigéncias para sua aplicacao, o teorema de Bernoulli pode ser adotado em calculos preliminares. Em um escoamento real, deve ser considerada a perda de carga ocorrida ao longo do tubo, conforme mostrado na Figura 2.1. Geracao Hidroelétrica Plano energético Perda de carga Taquicarga Piezocarga Plano de referéncia Figura 2.1. Balanco energético entre dois pontos de um tubo. 2.3 Caracteristicas construtivas de uma central hidroelétrica Os principais componentes de uma central hidroelétrica estéio indicados na Figuras 2.2 e 2.3, Barragem Casa de maquinas | Gerador }— Turbina Canal de restituigao Figura 2.2. Componentes de uma hidroelétrica. Geracao de Energia Elétrica - Fundamentos Figura 2.3. Vista aérea de uma central hidroelétrica. Fonte: Cortesia Chesf-5. Silva 2.3.1 Barragem A barragem tem as seguintes finalidades:(41 ~} Represar as aguas do rio para permitir sua captacdo e desvio; “> Elevar o nivel das 4guas a fim de proporcionar desnivel adequado ao apro- veitamento hidroelétrico ou condigées de navegabilidade ao rio; “> Formar reservatérios reguladores de vazées. As barragens podem ser classificadas em: Barragens a gravidade: aquelas em que o equilibrio estatico da construcio, sob a aco das forcas externas (empuxo hidrostatico), realiza-se pelo proprio peso da estrutura. Os principais tipos so barragens macicas, barragens aliviadas a con- trafortes, barragens de placas planas ou em arco. Quanto aos materiais emprega- dos, podem ser do tipo alvenaria de pedra, concreto ciclépico, concreto armado, barragens de terra e enrocamento (pedras soltas). Geracéo Hidroelétrica Barragens a arco: utilizam a propriedade das estruturas em arco para resisti- rem com facilidade a cargas uniformemente distribuidas sobre seu dorso, transmi- tindo-as para as margens e 0 fundo do rio. Barragens a arco-gravidade: tém sua planimetria em forma de arco, mas, Por outro lado, funcionam parcialmente como barragens a arco e parcialmente a gravidade. As obras acessérias das barragens sao: Descarregadores de vazées excedentes: atuam quando a capacidade de arma- zenamento for atingida, evitando o transbordamento em locais impréprios. Os principais tipos séo: “> de superficie ou vertedores: permitem a passagem da agua sobre a bar- ragem; na parte inferior é comum a construcao de dissipadores de energia visando evitar erosio. “> de fundo: situam-se na parte inferior da barragem, sendo 0 escoamen- to em press&o; a vazdo é controlada Por meio de comportas. Na saida, é necesséria a construcao de dissipadores de energia. Tomadas de gua: constituem os pontos onde se inicia a condugdo da dgua para as turbinas. Os principais componentes sao: *® grades de protesao: possuem a finalidade de interceptar material carrega- do pelo rio que possa danificar as turbinas. ~> comporta: destina-se a abrir ou fechar a admissao da agua nos condutos, “> tubo de aera¢do: construido nas tomadas de agua em pressdo, imediata- mente a jusante das comportas, constitui um tubo ou galeria vertical aber- to em sua parte superior para permitir a entrada de ar na tubulacdo apés © fechamento rapido das comportas, evitando a formacao de depressées. 2.3.2 Condutos de aducao da agua Destinam-se & condugdo da 4gua da barragem as turbinas, podendo ser: Condutos de baixa press&o: caracterizados por baixas declividades e baixas velocidades de escoamento. Condutos forcados: condutos fechados cujo escoamento se dé a pressées crescentes de montante para jusante; podem ser executados tanto em galeria como a céu aberto, Figura 2.4. 35

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