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Ao vislumbrar a construcao de uma escola justa - para todos e de qualidade -, faz-se necessério desvelar os mecanismos de perpetuagao e legitimagao das desigualdades, abrigados sob o véu da neutralidade, da racionalidade meritocratica e da democratizagao da educagao. Ao porem a nu o “jogo universitério", Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron demonstram que a heranga cultural exerce um papel fundamental na reproducdo social. A leitura desta obra, meio século ap6s sua publica¢ao, ajuda a compreender a relagao estreita entre desigualdades sociais e desigualdades escolares, cristalizada na educacao escolar, Fica evidente, como vém mostrando as estatisticas atuais referentes ao acesso ao ensino superior brasileiro, que as constatagoes de Os herdeiros nao perderam sua validade. Bourdieu Jaude Passeron estudantes e a cultura editora ufse Blaboradas no contexto de grandes transformagées no sistema de ensino francés e motivadas pelos movimentos que entecederam 0 Maio de 1968, as reflexdes de Pierre Bourdieu (1930-2002) e Jean- Claude Passeron (1930-) desmontam 0 mito da escola republicana proclamada como instrumento de democratizagao e de promocdo da mobilidade social. A partir de estudos empiricos sobre as atitudes de estudantes e professores universitérios de Paris e da provincia, eles demonstram quea escola tem sobretudo ‘como fungao legitimar e perpetuar as desigualdades diante da cultura metamorfoseando, por meio dos critérios de julgamento que emprega, os privilégios em méritos ouem "dons" pessoals, Tromanyir Gottug v0 bbe. 2034 Os herdeiros: os estudantes e a cultura UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Reitora Roselane Neckel ‘Vice-Reitora Lilia Helena Martins Pacheco EDITORA DA UFSC Diretor Executivo Fabio Lopes da Silva Conselho Baltorial Fabio Lopes da Silva (Presidente) ‘Ana Lice Brancher Carlos Eduardo Schmidt Capela Clélia Maria Lima de Mello e Campigotio Fernando Jacques Althoff ‘ida Mara Freire ‘Maria Cristina Marino Calvo Ealtora da UFSC Campus Universitirio - Trindade Caixa Postal 476 {88010-970 ~ Floriandpolis-SC Fones: (48) 3721-9408, 3721-9605 e 3721-9686 Fax: (48) 3721-9680 editorageditoraufscbr ‘worweditora.nfscbr Pierre Bourdiew Jean-Claude Passeron Os herdeiros: os estudantes e a cultura “Tradugéo Tone Ribeiro Valle Nilton Valle Weditoraufse ‘© 1964, 1985 Pierre Bourdieu Jean-Claude Passeron, Les Editions de Minuit, Paris ‘Esta obra fot publica originalmente em francés com o titulo Les hévitiers: les étudiants ct la culture por Les Editions de Minuit, em 1964, Paris, Pranga. Dires20 editorial: ‘Paulo'Roberto de Silva Capi: ‘Maria Lica Taccinskt +5 Bditoragao: eaulo Roberto dé Siva ‘Remo Sarr Lanferint Revisio: Flavia Vicenzi Leticia Tarabosi Reclaboragao digital de tabelas grificos: ‘ilton Valle 5 ificos ¢ tabelas: (Qs herdeiros meio século depois? Ficha Catalogrtica (Catalogacio na fot elaborada pela DECTL de Bbliteca Central da Uaiversidade Federal de Santa Catarina) 76h Bourdieu, Pierre Os herdeitos: os estudantese @ cultura / Piere Bourdieu ¢ Jean-Claude Passeron; traduco Tone Ribeiro Valle, Nilton Valle. Foriandpolis: Ed. da URSC, 2014. 172p.: gril. tabs ‘Tradugio der Les hériters: les dtudiants tla culture. Inc indice 1. Sociologia educacional.. Bourdieu, Piere 1 Paseron, Jean-Claude Ii. Vall, lone Ribeiro. IV. Valle, Nilton, V. Titulo, CDU:370154 ISBN 678.85.3280653-6 ‘Todos ov drsitoc reservados, Nenhuma parte deste obra poders ser teproduzida, arquivada ou transmitida por qualquer meio ‘ou forma sem prévia permissio por escrito da Editora da UFSC. Impresso no Brasil LISTA DE GRAFICOS E TABELAS Graficos eppietco sds canes exer nun nrg cl FEED V nn i Grifico 2 iesnien Probabildade de acess «uni determinade curso ‘rando ‘a origem socal sexo, Grifico 3 Homens. Grifico4 Mulheres. Tabelas 3 ‘Tabela 1 As chances escoares segundo a origem Socal (1961-1962) . ‘bea 2 stains da ong sail dx hes as grandes cs (96-1960 ‘Tabla 3A origem social ea vida estudanti Apéndice 1 - 0s estudantes na Franga. Dados estatisticos 1960-1963, Grificos Gidfco 1.1 Evolugio da percentagem de estudantes mulheres em Paris ena provincia de 1906 21952... = Gréfco 1.2 Bvolugio do niimero de estudantes por curso. Griico 1.3 Evolugio da dstribuicao de estudantes por euso (4). Gréfico 14 Bvolugio por curso da percentagem de estudantes mulheres (%) ‘Tabelas Tabela 1.1 Bvolugio do nimero de estudantes por niversldades. ‘Tabela 12 Evolagdo do mimero de esudantes mulheres em Paris ena provincia ‘Tabela 13 Evolngdo do mimero de estudantes mulheres po CUE90 Tabela 14 Evolugio da distribuigdo dos estudantes por curso (em valor relatvo) ‘Tabela LS Evolugdo por curso da percentagem de estudantes molheres Tabela 1.6 Evolucdo da taxa de escolarizacio no ensino superior. Tabela 1.7 A origem socal do estudantesfranceses Estudantes por curso em valores absolutos. Ano universtitio 1961-1962 ‘Tabela LA origer socal dos estudantes frances. ‘por sexo, Ano universittio 1961-1962 evwsnen Tabela 1.9 Totalde estudantes em 1,000 pessoas ava clessifcadas segundo as ‘categorias sodoprofssionas, Igans documentos ¢ resultados de enquetes “ddade escolar e origem social ni fea? Oconbecimento dos divers gers deeatro sseuioaongem a Bien Eni Saag pete cette deroclgs Be excercise sg (Pin scal oni aids ee weiner la tides milo. Etudanes de ocologla Jmagem dos estudos. Estudantes de sociologia (0A patticipagao na vida sindical. Amostragem exclusivamente de um eategoria social) do do iterconhecimento segundo o lugar ocupado no enitearo 8 A origem social eo conheciment do testo. [215 Variacio do conlecimento do teatro segundo a categoria do pai otipo de acesso As obras, Bstudantes de icenciamra ne 139A140 ML 7 fitter em ene segundo a cat onal do pete do av. M3 a8. 4 2.20 A origem social eo conhecimento de misica MS YVasigto do conhecimento de misica segundo a categoria ‘Vargio do comecimento de mnsicos segundo a categoria sons! do pai (nimero de mengdes a um miso segundo a categoria onal) 122.24 A filiae20 religiosa, Flosofia/Sociologi. 225 tipo de aljamento.. 6 O trabalho fora dos estudos.A escala de paticipacio ‘Tabela 2.27 Na vida politica ‘Tabela 2.28 Na vida sindical...... ‘si ‘Tabelas 2.29 22.38 Os estudantes (rapazes e Moga) an ‘Tabela 2.29 O tipo de alojamentOven ‘Tabela 230 O trabalho além dos estudos.. Tebela2.31 0 projeto profissional = Tabela 2.32 As opinides dos estudantes sabre seu rio lr sar. Tabela 2.33 A quulidade das obras lids. 131 ‘Tabela 2:34 A continuidade de um repertério de titulos 151 ‘Tabela 2.35 A paticipagio na vida sind nnn 151 ‘Tabela 2.36 A paticipagio na vida politica eis ‘Tabela 2.37 A partcipacdo das estudantes na vida politica segundo seu tipo de lojament... 152 Tabela 2.38 A adesio das estudantes ao sindicao sepindo seu po de alojamento. 152 ‘Tabela 2.39 A origen social dos candidatos admitidos no primeixo ano de faculdade (de 1951-1952 a 1961-1962) ‘Tabelas 240 22.43 A origem social ea chances escolares na Hungria.. ‘Tabela 2.40 A preporgio de alunos do segundo graue de estudantes de acordo ‘coma categoria socioproissional do Pa nnn ft ‘Tabela 241 As nctas obtidas ea origem social ‘Tabela 242 O sucesso escolar € categoria socioprofissional do pai ‘Tabela 2.43 O sucesso escolar segundo o nivel escolar dos pais. ‘Tabelas 2.44.2 2.49 Os estudantes e a lingua ensinada ... ‘Tabela 2.44 O manejo da lingua segundo a origom social eo tipo de formacio escolar. ‘Tabelas 2.45 e 2.46 O manejo da lingua segundo aorigem social ea vesidéncia parisiense ou provincia Tabela 247 O manejo da lingua segunda o sexo e tipo de formasao escolar. ‘Tabelas 2.48 e 2.49 O manejo da lingua segundo o sexo e a origem socal 159/160 w= 161 rn 162 ‘Tabela 2.50 Os filhos de professores nas diversas faculdades, 163 ‘Tabelas 251 22.54 A relegacdo nas faculdades de citncias coring ‘Tabela 251 A origem social dos estudantes de cléncias nos diversos estabelecimentes de ensino superior. ‘Tabela 252 O estabelecimento na sexta sir ‘Tabela 253 A sexa seca 6 15; lS; 166 ‘Tabela 254 A serio na faculdade segundo a origem socal. POR QUE LER OS HERDEIROS MEIO SECULO DEPOIS? ‘Como qualquer pessoa, 0 professor dispée de outros meios para propagar seus ideais praticos, ¢, se nfo os possui, pode facilmente obté-los, nas formas apropriadas, se pretende fazer lealmente tal esforso, como esta comprovado pela experiéncia, No entanto, o prolessor enquanto professor no deveria tera pretensao de querer transportar em sua bolsao bastio de ‘marechal ou estadista (ou reformador cultural) [..] Max Weber, Ensaios sobre ateoria da ciéncia Por meio desta pequena e bem elaborada obra Os herdeiros: os estudantes e a cultura, que comecou a circular poucos anos antes do “Maio de 1968”, num contexto de grandes reformas no sistema de ensino francés, Pierre Bourdieu (1930-2002) e Jean-Claude Passeron (1930-) desmontam 0 mito da escola republicana liberadora, proclamada como instrumento. (politico) de democratizagio e de promogio da mobilidade social. A partir de enquetes, desenvolvidas pelo INSEE? e pelo BUS? e de estudos empiticos sobre as atitudes de estudantes ¢ professores universitérios de Paris e da provincia francesa, realizados por grupos de trabalho sob suas coordenagées, eles examinam as regras ~ frequentemente nao explicitas, = do jogo universitério, o que Ihes permite constatar que os sistemas de ensino reproduzem as desigualdades sociais por meio do estabelecimento de uma relagio estreita entre intelectuais (professores), educagio e classes privilegiadas. ‘Suas andlises vio mostrar que a fungio de perpetuaco das desigualdades em face da cultura predomina nos processos de escolarizacio, sendo levada a efeito por recursos pedagégicos (e de avaliacdo) que transformam privilégios socialmente condicionados em méritos, dons € talentos individuais, legitimando-os: “para uns, a aprendizagem da cultura da elite é uma conquista que se paga caro; para outros, uma heranca que compreende ao mesmo tempo a facilidade e as tentagées da facilidade”. A * sit national de a statistique et des études économiques (stitute Naclonalde Bstatistica de Estudos Beondicos. Bureau universe de statistiques (Bnd Univestsio de Etatsticss). = Osherdene cultura “legitima’; validada pelos exames e consagrada pelos diplomas, ég da elite, eo ensino, mesmo nas éreas cientificas, “pressupde implicitamente um corpo de saberes, de saber-fazer e de saber-dizer que constitui g patriménio cas classes cultas” “Assim, a origem social dos estudantes, particularmente os do ensino superior, figura como o fator de diferenciagio de maior relevancia, maig que asexo,aidade, a afiliagao religiosa; ou sea, s20 0s fatores culturais maig que os fatores econdmicos que determinam as escolhas, o prolongamento da escolarizagao, 0 sucesso escolar. Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron observam que os filhos das classes altas adquirem a cultura “como por osmose’, gragas ao seu entorno familiar (bibliotecas, visitas a ‘museus, teatros, concertos...), enquanto“para os filhos das classes sociais desfavorecidas a cultura escolar & aculturagao e toda aprendizagem é vivida artificialmente, por estar distante de suas realidades concretas. Portanto, 0 que a escola qualifica como dom natural nada mais é, na maioria das vezes, que a manifestagio de uma afinidade ligada a valores sociais e as exigéncias. do préprio sistema escolar. ‘Ao por a nu o sistema de ensino francés por meio de uma imperios coeréncia concéitual e argumentativa, que se constituiria numa das mare da produgao cientifica subsequente desses autores, esta obra contribuiu para ‘mudar completamente - e definitivamente - 0 olhar otimista, e geralmente ingénuo, quepor décadaso envolveu. Além disso, Os herdeirosinaugura uma nova fase na pesquisa sociolégica, particularmente no campo da sociologia da educagdo, caracterizada nao apenas pelo rigor cientifico no tratamento dos dados, mas também pela preocupagio em “ensinar” um novo modits operandi, como se pode ver na obra Le métier de sociologue, préalables @pistemologiques, de Pierre Bourdieu, Jean-Claude Chamboredon ¢ Jean (Claude Passeron (publicada na Franga em 1968 e no Brasil em 1999 como titulo A profissiio de socidlogo: preliminares epistemoldgicas), Vale lembrat que a pesquisa sociolégica na Franga permanecia ha décadas 4 sombra do hiperfuncionalismo desenvolvido, sobretudo, pelo americano Talcott Parsons, mirando de longe e com profunda nostalgia os dureos tempos da sociologia durkheimiana. ‘Ao fincar as bases para a edificagio da tece “A reprodugao”, langada ni Franca em 1970 e no Brasil em 1975, tese perseguida em obras posterior®s principalmente em Homo academicus (publicada na Franca em 1984 € 20 “api1) em La noblesse d'tat (publicada na Franca em 1989), y, demonstram, em Os herdeiros, que as continuidades estruturais em as descontinuidades, independentemente da forca das Zque tem atingido as instituigBes educacionais desde meados do 7 saber: a expansio da oferta e a intensificacdo das demandas natéria de educacio e de desenvolvimento de competéncias srcado de trabalho que se amplia consideravelmente. Segundo |meramente formal do prinefpio da igualdade de oportunidades, fundamento dos sistemas educacionais. ecendo como uma das principais engrenagens da estratificagio social -e socioprofissional -e participando dafabricagio escolar, a escola, da educagao infantil ao ensino superior, atua eo das estruturas socials por meio da producio de estruturas ‘hes sio correspondentes, fazendo perdurar uma légica de b uma fachada de racionalidade meritocrética. E portanto 20 rado” do edificio escolar e sobretudo universitério, ao caréter da cultura escolar, que Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron ‘grande parte do poder simbdlico que exercem os privilégias sociais, politicos e culturais nas sociedades modernas. Os herdeiros, também & retomada uma das teses déssicas da 1 da educagio amplamente examinada por Emile Durkheim is décadas do século XX e que permanece central na (re) campo das ciéncias da educacio: a relagio entre sociologia, |€ pedagogia. Mesmo nao explorando exaustivamente a nogio @gogia racional’, esbocada nesta obra, os autores oferecem ribui¢do importante ao aprofundamento dessa discussio ao ivamente psicol6gicas. Vé-se ai o lugar eminente reservado & tha formulagdo das politicas educacionais, uma vez que “nao ir como fim a democratizacio real do ensino’, que geralmente € & igualdade formal das chances, para vencer as desigualdades = Pleciso que se coloquem em pritica “todos os meios para zat metodicamente e continuamente a acto dos fatores sociais de Por que ler Os herdeiros meio sécula depois? Enfim, passado meio século, que interesse ainda pode suscitar este livro, escrito a quatro maos, aos pesquisadores e profissionais da educagio brasileira? Como se sabe, com o passar dos anos, ¢ principalmente Pierre Bourdieu quem vai se dedicar a elaboracdo dos conceitos enunciados em parteria com Jean-Claude Passeron e, por meio deles, edificar uma sociologia das praticas sociais, considerada polémica mas incontornavel 1a andlise dos problemas que afetam as sociedades contemporaneas. Ao mobilizarem esses conceitos, os estudos atuais, relacionados sobretudo & educagio escolas, mostram que as constatagdes de Os herdeiros ~ as quais assumiram um caréter de denincia ~ nfo perderam sua pertinéncia. Nossos sistemas educacionais, da educago bisica ao ensino superior, permanecem marcados pelas desigualdades de’ acesso, de permanéncia, de rendimento escolar, 0 que significa que o “destino escolar” das nossas ctiangas ¢ jovens se define desde a mais tenra idade, estando sujeito & rede de ensino frequentada (pablica ou particular), ao local de moradia (campo, cidade, centro, periferia) ao engajamento politico e pedagogico de administradores ¢ de profissionais da educacio, as expectativas das familias «em relagdo ao saber e & formago. Espera-se portanto que a leitura de Os herdeiros possa contribuir para por em xeque os mecanismos de reproducio social, abrigados sob o véu da neutralidade, da racionalidade meritocritica, da democratizagio da 12 educacio. Espera-se igualmente que a leitura desta obra ajude a impedir que a escola continue perpetuando e legitimando as injusticas histéricas que tém caracterizado as sociedades modernas. Afinal, é a construgao de uma escola justa- para todos e de qualidade ~ que esta em jogo. Nao se pode mais permitir que a escola, que para a maioria dos povos ainda é a linica via de acesso & cultura, seja apenas uma das “flores do maf” do novo milénio, iss" Gibeniexer one Ribeiro Valle Florianépolis, outono de 2013. °Les fleur du mal, deChatles Baudelaire (1821-1867). io fandamenta-se principalmente em um corjunto de fos que realizamos no quadro do Centro de Sociologia Europela © “Gre resultados completos foram publicados alhures,' sobre as statisticas Mmnecidas pelo INSEE e pelo BUS e sobre estudos monogrificas ou enquetes realizadas por nés ou, sob nossa direcio, por estudantes sociologia de Lille ¢ de Pats, organizados em grupos de trabalho ersitério ot isolados: 0 interconhecimento dos estudantes (GTU? de ), a ansiedade diante dos exames (por B. Vernier), uma tentativa de aco (GTU de Lille), o lazer dos estudantes (por G. Le Bourgeois), 0 tudante visto pelos estudantes (GTU de Paris), 0 antigo grupo de teatro da Sorbonne e seu ptiblico (GTU de Paris). Se nos apoiamos apenas raramente em diversas outras enquetes erentes ao conjunto da populagao estudantil ou de outras faculdades estudantes ea politica, os utilizadores da biblioteca universitaria de Lille, osestudantes de medicina, as estudantes), enfim, se 0s estudantes de letras tém um lugar particular nas nossas andlises, é, como se ver, porque eles e de modo exemplar uma relaggo com a cultura que tomamos por objeto. Enfim, nao ignoramos que ao escolher isolar num conjunto de sqitisas em curso sobre a cultura e a educagSo uma anilise do privilégio tural, expusemo-nos a parecer reduzir a um tinico universo as questoes iveis. Mas nao seria necessério correr esse risco para aprender 0 fandamental que a problemética ritual na matéria quase sempre sgue dissimular? | Pietre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, Les étudiants et leurs études, Cahiers du Centre A2socitgie earopeenne, publication de cole petigue des haots etude, Menton © Pats. 1968 © Groupe de travail universitaire (Grupo de Trabalho Universitério). (NT) ° GE infra, p. 23 a ——— CAPITULO 1 AESCOLHA DOS ELEITOS Entre os indios da América do Norte, o comportamento de vistonério cra altamente estilizado, O jovem que ainda nio tinha ‘tido uma visio” habitualmente era levado a escutar muitos relatos das visdes que tinham tido 0s outros homens, relatos que descreviam em detalhe 0 tipo de experiéncia que devia ser considerada como uma “verdadeita visio" e 0 tipo de circunstincia especial [..] que validava um encontro sobrenatural ‘portant, conferia ao visiondrio o poder de cagat, de conduzir um plano de guerra, e assim por diante, Entre os Omaha, entretanto, 0s contos nio davam detalhes sobre 0 que os visionérios tinham visto, Um exame ‘mais aprofundado levava claramente a perceber que a visio nao era uma experiéncia mistica democraticamente acessivel a qualquer um que a buscasse, mas um método cuidadosamente guardado para conservar no Interior de algumas familias a heranga do pertencimento a sociedade dos feiticeiros. Em principio, a entrada na sociedade era validada por uma Yislo ivremente buscada, mas.0 dogma segundo 0 qual uma visto era uma ‘experiéncia mistica nao especificada que todo jovem podia te: ¢ encontrar cera contrabalangado pelo segredo, cuidadosamente guardedo, referente ‘a tudo 0 que constitula uma verdadeira visio. Os jovens que desejavam ‘entrar na poderosa sociedade deviam isolar-se na solido, jejiar retornar € contar suas visdes aos mais velhos, isso para ver anunciado, se nao fossem ‘membros das familias da elite, que sua visio nao era auténtica. Maxcaner Meap, Continuities in Cultural Evolution <> Osherdeitos Basta constatar e lastimar a desigual representagao das diferentes classes sociais no ensino superior para estar quite, de uma vez por todas, com as desigualdades diante da escola? Quando se diz e se rediz que hi apenas 66% de filhos de operarios no ensino superior, é para chegar & conclusio de que o sheio estudantil é um meio burgués? Ou entio, substituindo o fato pelo protesto contra o fato, néo se faz esforco, frequentemente com sucesso, para persuadir-ce de que um grupo capaz de protestar contra seu proprio privilégio no é um grupo privilegiado? Sem divida, no nivel do ensino superior, a desigualdade inicial das diversas camadas sociais diante da escola aparece primeiramente no fato de serem desigualmenterepresentadas. Ainda seria preciso observar queaparcela de estudantes origindrios das diversas classes reflete apenas incompletamente a desigualdade escolar, as categorias sociais mais representadas no ensino superior sendo ao mesmo tempo as menos representadas na popula¢ao ativa Um calcul aproximado das chances de acesso & universidade segundo a profissao do pai indica que em cem elas sio inferiores a um para os filhos de assalariados agricolas, quase setenta para os filhos de industriais e mais de oitenta paras ilhosdemembros das profissdesliberais. ssaestatitica mostra cevidentemente que o sistema escolar opera, objetivamente, uma eliminagio ainda mais total quando se vai em diregao as classes mais desfavorecidas. Mas raramente se percebem cerias formas ocultas de desigualdade diante da escola como a relegagio dos filhos das classes baixas e médias a algumas disciplinas ¢ 0 atraso ou a repeténcia nos estudos. L-se nas chances de acesso 20 ensino superior o resultado de uma selecio que, ao longo de todo o percurso escolar, exerce-se com um rigor muito desigual segundo a origem social dos sujeitos; na verdade, para as classes mais desfavorecidas, trata-se puramente ¢ simplesmente de climinagas.’ Um filho de quadro* superior tem oitenta vezes mais chances de entrar na universidade do que um filho de operario; suas chances "Ver tabela |e grifcos 1 a4. Encontrar-se-io em apéndice diferentes estatiticas sobre a populasdo estudantil e uma nota sobre o método empregado para calcular as chances de acesso ao ensino superior eas probabilidades de fazer um ow outro tipo de estudo segundo 1 arigem social eo sex. * Do original, cadre abrange o pessoal com fungbes de comando ou de controle, que possui ‘os niveissalariais nis elevados numa empresa ou no servico piilico francés, dstinguindo- se segundo o nivel do diploma, (N:T.) também sio 0 dobro das de um filho de quadro médio, Essas estatsticas permitem distinguir quatro niveis de utilizacéo do ensino superior: as ccategorias mais desfavorecidas tém hoje apenas chances simbélicas de ‘enviar seus filhos para @ faculdade (menos de cinco chances em cem); algumas categorias médias (empregados, artesdos, comerciantes), cuja proporgao cresceu nos iitimos anos, tém entre dez e quime chances ‘em cem; observa-se na sequéncia a duplicagéo das chances dos quadros médios (quase trinta chances em cem) ¢ uma outra duplicagéo dos ‘quadros superiores e das profissdes liberais, cujas chances aproximam- se de sessenta em cem, Ainda que nio sejam estimadas conscientemente pelos interessados, variagBes muito fortes nas chances escolares objetivas cexprimem-se de mil maneiras no campo das percepedes cotidianas © determinam, segundo os meios sociais, uma imagem dos estudos superiores como futuro “impossive?, “possivel” ou “norma, tornando-se ‘por sua ver. um determinante das vocagies escolares. A experiéncia do futuro escolar nao pode ser a mesma para um filho de quadro superior que, tendo mais de uma chance em duas de it para uma faculdade, ve necessariamente em torno de si, € mesmo na sua familia, os estudos superiores como um destino banal e cotidiano, e para ofilho de operério ue, tendo menos de dus chances em cem de lé chegat, conhece os estudos 05 estudantes apenas por meio de pessoas ou de metos interpostos. Se se sabe que as relagbes extrafumiliares estendem-se medida que se sobe na hierarquie social, embora permanecam em cada caso socialmente homogéneas, vé-se que a esperanga subjetiva de acesso ao ensino superior tende a ser, para os mais desfavorecidos, ainda mais baixa que as chances objetivas. Nessa distribuigdo desigual das chances escolares segundo a origem social, apazes e mogasestio grosso modo em condigdes iguals. Mas a ligeira desvantagem das mocas aparece mais claramente nas classes balxas: se, lobalmente, as moc2s tém pouco mais de oito chances em cem de acesso ao ensino superior enquanto os rapazes tém dez, a diferenca é maior na parte baixa da escala social e tende a diminuir ou anular-se nos quadros superiores e nos quadros médios. ‘A desvantagem escolar exprime-se também na restrigao da escotha dos estudos que podem ser razoavelmente vislumbrados por uma dada categoria. Assim, 0 fato de que as chances de acesso & universidade esto muito préximas para os rapazes ¢ as moras de mesma origem social no deve esconder que apés entrarem na faculdade todos tem grandes chances de nfo fazerem os mesmos estudos. Primeiramente, e independentemente da origem social, os estudos de letras sio sempre mais provareis para as Capitulo 1| A escolha dos cleitos ‘Tabela 1 As chances escolares segundo a origem social (1961-1962) mogas ¢ 08 estos de ciéncias mais provavels para os rapazes:reconhece- ke ai a influéncia dos modelos tradicionais da divisio do trabslho (¢ dos Conroe Seas”) entze os sexos. Geralmente, as mocasestio mais condenadas is CATEGORIA SOCIO- ee ‘eotidades de eta ede ciencias que preparam para uma profsio docente: PROFSIONAL veerthas de assalariados agricola que ingressim no ensino superior tém i ee $228 de chances de ir para uma dessas duas faculdades, enquanto os a apavesdemesmaorigema tim apenas 809%: os percentuas soc seguida, : feapectiamente, de 853% e 80% para a fihase flhos de operdrios, de “744% e 63,6% para a filhase flhos de empregados, de 84,1% €68,5% para rashaseflhos de quadeos médios ede 74.3% e 59.3% paraas ilhasefihos de quadros superiores. Homem | 08 [Assalariados agricolas | Mulher | 0,6 Total_| 07 | 12,5 | 34,7 | 50,0 Homem | 40 ]/ 188, 446 | 272 | 74 | 24 [Agricultores Mulher | 3,1 | 129 | 27,5 | 518| 29 | 49 Total_| 3,6 | 16,2 | 37,0 | 381 | 56 | 31 Homem | 27 | 186 [480 | 253 | 74 | 07 Pessoaldeservico | Mulher | 1,9 | 105 | 311 | 526 | 47 | 11 sESENTAGAO GRAFICA DAS CHANCES ESCOLARES SEGUNDO A ORIGEM SOCIAL Capitulo 1 | A escolha dos eettos 8 Toiat_|_ 24 [1152 | 413 | 370 | 55 | 09 2 Homem| 16 144 | 525 | 275 | 50 | 06 = loperirios Mulher | 12 | 104 | 29,3 | 560 | 26 | 17 é Toul | 14 | 123 | 428 | 399 | 36 | 14 | Homem | 10,9 } 24.6 | 460 | 17,6 | 10,1 | 1,7 d d Empregados Mulher | 8,1 }} 16,0 | 304 | 440 | 61 | 3,5 | e Total_| 9,5 | 211 | 394 | 286 | 36 | 23 » gg. | Homem | 17,3 [205 | 403 | 249 | 110 | 33 erobritiios dale | mulher | 154] 147 | 218 | 557 | 48 | 60 Total_| 164 || 164 | 318 | 39,1 | 31 | 46 Homem | 29,1 || 21,0 | 38,3 | 30,2 | 35 | 2.0 |Quadros médios Mulher | 29,9] 9,1 | 222 | 619 | 34 | 3.4 Total_| 29,6 || 15,2 | 30,5 | 45,6 | 60 | 27 Homem | 58,8 21,8 | 400 | 19,3 | 147 | 42 Mulher | 57,9] 11,6 | 25,7 | 486 | 65 | 76 Total_| 53,5 | 169 | 333 | 332 | 108 | 5.8 Trata-se, nesses dois casos, de puras categorias estatsticas, compreendendo grupos sociais muito diversos: a categoria dos agricultoresreagrupa todos os que explorama a terra independentemente do tamanho da exploracio e a categoria dos proprietérios da industria € do comércio compreende, além dos artesios e dos comerciantes, os indus- ‘iais, os quais nfo foi possivelisolar nesses cleus, mas sabe-se que contam entze os ‘mais importantes utizadores do ensino superior (Ci. Apéndice J, tabela 1.9). Uma lei- tura prudente da tabela seria portanto deter-se preferencialmente nas categorias mais hhomogéness. V 1 |Profissionaisliberais e i “Agadeceros a M. Bein pls represenlagbes ris (gaficos 1&4) que foram ranizns n0 |quadros superiores nboratéro de cartgraia da Bene pratique des hates études 3S Osherdeizos Gritico 2 ‘arses pote gas aes anes Mencia cterents ocanne enn yoesnac) 3] ezuaresp 10 pen ae expec: Pepi nuts tt nei) oioce rob Sante cae, (Peers) PROBABILIDADE DE ACESSO A UM DETERMINADO CURSO SEGUNDO A , ‘ORIGEM SOCIALE 0 SEXO Grifico 3 Homens oes tarot npn: Pop a ets a) tse ison ‘A dasificagao dos cursos fo feita em Fungo do niimero de estudantes stos em cada um delese a classificagdo das categorias socioprofissionais “segundo a taxa de probabilidade de acesso ao ensino superior. Grifico 4 Mulheres Biotec mews veto ‘Medicina esa raven ‘A escolha tem ainda mais chances de ser limitada quando os estudantes pertencem a um meio mais desfavorecido. Pode-se observar ‘no caso das filhas de quadros médios e das filhas de quadros superiores ‘uma ilustragao dessa logica que impoe uma restrigio mais ou menos severa as escolhas segundo a origem social na entrada no ensino superior. E na vyerdade no nivel dos quadros médios que as chances de acesso das mogas igualam-se as dos rapazes, mas a0 prego de uma relegacio as faculdades de letras (61,9% das chances) mais evidente do que nas demais categorias Sociais (com excecio dos assalariadas agricolas); a0 contririo, quando origindrias da camada social superior, com chances de acessu sensivelmente ‘guais as dos rapazes, essas moas vem atenuat-se o rigor dessa condenaga0 as faculdades de letras (48,6% das chances). 2 Osherdeiros Em regra geral,arestrgSo da escohas impoe-se mais is lasses ba as cles privlepadas emai etudantes que oe eda, devant send ind ma scent para smo erg mas bia? sea desvantagem devia ao sexo exprime-seprincipalmen rolegaciodsfaculdades deletas,a Acreage Ceca ige ea a que mals pes, pols se manifesta ao mesmo tempo na eliminagio puta c simples dos jovens oriundos das camadas desfavorecidas ena rstrisao das cexcolhas oferecidas aqucles dente cles que escapam a eliminagio, Assim, ‘esses estudantes devem pagar com a escolha forcada de letras ou de ciéncias ‘sua entrads no ensino superior, que tem para eles duas portas e nio cinco 10s estudos de direto, de medicina ou de farmécia representam 33,5% das chances par os ilhos e filha de quadros superiores, 23,9% para os hos ¢ flhas de quadros médios,17,3% paraos filo ilhas de operiios 15.3% para os flhos eflhas de assalariados agricola. ‘Mas as chances condicionais de insrever-se nas faculdades de letras para os estudantes oriundos de uma determinada categoria traduzem apenas fe maneira dsfarcada a relegngo dos sujetos oriundos das classes mais desfavorecas. Na verdade, um segundo fendmeno pode. 20 primeira fculade de les eo intro des dis sociologa, a psicologia ou as linguas também podem servir de refigio para tuma escolaridade superior, orientam-se, na falta de uma vocacio positiva, em diregio a esses estudos que 2o menos thes fornecem a aparéncia de uma razao social. Uma parte relativa dos estudantes de letras, oriundos de uma determinada categoria social, esté portanto equivocada pois a faculdade de letras podeser para uns uma escolhaforgada e para outros tm refigio. Se for verdade que a desigual acesibilidade das diferentes disciplinas provoca o ‘endmeno da relegarlo, pode-se esperar que a hierarquia das instituigbes de ensino leve & monopolizacio das mais dstintas pelos mais favorecidos. E por isso € na Escola Normal Superior e na Escola Politécnica que a proporgio de alunos oriundos dos metos privilegiados atinge seu idximo, respectivamente, 57% e 51% de filhos de quadros superiores e de membros das profissbesliberais; 26% 15% de filhos de quadros médios* ® Beses comentiros visam restituir as tendén: cis que se perebem ma probubiades cmos gues chs eo ta im el asco anal oe tapi on eprpaioiguretere cae cat 0 seal st chee in nr ran ‘slates perenne aia de empregas doc par oc etuanis to eo Sos e fle de units més ou ands, so 0 lb ls de emprogedon gue tm os ralores chances (ont cona) emda ds, Pole se perce nian see id dgunas Sn detects pgp dn nine Ck tbe ‘Ditima manifestagiodadesigualdadediante da escola,oatrasoearepeténcis dos estudantes das classes mais desfavorecidas podem ser apreendidos em todos osnivels do curso: assim, a parcel de estudantes que ttm aidade modal (ato 6 a Sdade mais frequent para ese nivel) decresce & medida que s¢ val fam ditegfo as classes mais desfavorecidas, a parcela relativa de extudantes de Grigem baixa tendendo a aumentar nas falas etrias mais clevadas? Se for verdade que a escolha forcada das faculdades de ciéncias ¢ de letras € uma manifestagao da desvantagem escolar que est igada aos fajetos das clases ineriores ¢ médias (até mesmo quando conseguem Viver seu destino como vocagio), se for verdade que os estudos de THéncias parecem menos ligados & origem sociale, enfim, se se aceita que “Eno ensino literério que a influéncia da origem social se manifesta mais “Glaramente, parece legitimo ver nas faculdades de letras o terreno por léncia para estudar a acio dos fatores culturais da desigualdade diante escola, cuja estatistica, operando um corte sincrénico, revela somente “o resultado: eliminagio, relegagio ¢ atraso. O paradoxo que se quer na ‘verdade é que os que esto em maior desvantagem cultural nao exponham a sua desvantagem justamente ld onde sio relegados pela ago de suas desvantagens. (Os obstéculos econdmicos nao sao suficientes para explicar 0 fato de que as taxas de “mortalidade escolar” diferem tanto segundo as classes ‘sociais, Sobre isso no se teria nenhum outro indicio e ignorar-se-iam as ‘iiltiplas vias, frequentemente contornadas, pelas quals a escola elimina ‘continuamente as ctiancas originarias dos meios mais desfavorecidos, encontrar-se-ia uma prova da importincia dos obsticulos culturais que devem superar esses sujeitos no fato de constatarem-se ainda no nivel do ensino superior diferengas de atitudes e de aptiddes significativamente ligadas & origem social, ainda que os estudantes que elas separam tenham sido submetidos durante quinze a vinte anos & ago homogeneizante da escola e que 0s mais desfavorecidos dentre eles devam somente a uma maior adaptabilidade ou a um meio familiar mais favordvel a possibilidade de escapar da eliminagao.’ © CE Apéndice 2, tabela 2.11, © CE apéendice 2, tabelas 251.2253. > Ch inj, paginas 2 e44. Capitulo 1| A escolha dos eleitos ge sone sop eyo>to v1 ] € e]T £ cs | ee € elepriy € +} + . ee ellelele zfelo|e|ulele # fen[ul>|[els|lelals a fwle|s lalels ee fe sllelelels]s [elel> fs] fe (cont asie5) s vo = (2 le [eke ela |e ee (cos s0p5) s 5 z pi | a] a |e | ee] | eee ee, ‘ « ae | ele |e a ails (opsaget ones) 1 ule ¢ 1 alg ef at [os[or[ar| « [or] [else] ol o| ot | a [at | at {ar [er|st|soragwsoravnd-4| ° ale el] lulolele]s falaluln a ‘ e |e allslele]s]« fofuls]n | | e + L Tt] 6 | | a e}e] + jor Lita : | \ 1 € ; rule Ales) mealecleni| a «le oo ee ee ea a fe ar ser esse SauORANS te] 6 | ot | o¢ | | ce |ir|ar|cs| souavndasiva =4aIl s20s:ti0%4 - CON) opm sony sop vjoasg soyaotawioosopniy sone (28) (peony sewer 2p euereN omnvey monbhdde snuaiee ene ek” GEN Goneqea 9 tds Roope spor) emongaip mate _Simepauiog | somuy __seresepay ‘OD wENOD oO SVRUISOqNI va - aa : _| = SOnIVLERWONd - 2) ule sviooDy | _SoavnnvTessy — | ae sind | © | soujoursonopeaeng 1 me | ods soxapansong SmIOLTND TOV -o| a fa fer| st | ce | ze 8 a| ulin ENSI (14) Siperorelinea] «| Supetior| | : «| - Disinines | «| agronomia (3) uh i z wORTaTS| j nID¥ [1 | sv | Yanan “WIRION | svi0oss | syi00s3| sy10989 a vI0OST (361-1961) se}02$9 sepa sep sounye sop feD0s waB!I0 =p nePeSY z eqey = SOMPPTIO w S _ Osherdeims ee eae es Ih | ie EI SEIE allele] a [s/s SEleeieihala a Tbe wlalals -[ a) 0 | & | ABBE s[lal-] "| +] ]8 ye ee felal-la[e[-[a (Sele eRe afl [ele] [2 =)a) Siu aaeleeatist -|-[-|- -[-[-[2 alzlslel salen ie ees eal 3 i.ge ge 2 sine 5|8|63 aes| 8 |2 * No eato de pals aposentados ou falecidos, fol indicada altima profisio exercida. Fonte: La Documentation fangs, 045, 1958, fatores de diferenciagao, a origem social & sem diwvida todos os cia exerce-se mais fortemente sobre o meio estudantil, sente em todo caso que 0 sexo € a dade e sobretudo mais do ro fator claramente percebido, como a afiliaglo religiosa por $e a tcligito decarada & motivo de uma das clivagens mals patentes, "a opesigio entre “alas e “nko falas” ou “antitalas” tem wa fungi dria eminente, a afliagdo rligiosa e mesmo a prética assidua no srerminam diferencas significativas, ao menos no que concerne is atitudes den welagao a escola e & cultura escolar. Sem diivida a partcipagso em ou movimentos confessionais (sobretudo catdicos) € buscada pelos ‘esobretudo pelas estudantes, durante os contatos organizados Tegulares no interior de grupos secundérios relativamenteintegrados, “lates” ow “associagdes’, que substituem o meio familiar; sem fa os estudantes catélicas realizaram em sua majoria seus estudos fos 0s estabelecimentos privados (51% contra 7% dos nio catélicos); sem divida os engajamentos ideoldgicos ou filosdficos estéo Gignificativamente igados & confssio e a taxa de pritica: 43% das catclicos gue se econhecem numa escola de pensamento nomeiam o personalismo, sf 9% 0 marxismo e 48% invocam o existencialismo, enquanto 53% os nfo catdlicos nomeiam 0 marxismo, somente 7% 0 personalismo ¢ 40% ‘p existencialismo; sem divida os estudantes catélicos parecem aplicar nos “seus estudos e na representacio que fazem de sua futura carreirs uma ética ‘boa vontade e do servico para outrem que apresenta ume expresso “particularmente lirica entre as_mogas. Mas, nas condutas ¢ etitudes “ propriamente escolares, 0 pertencimento relgioso jamais determina " diferencas esatsticamente significativas. Num meio que se renova anualmente ¢ num sistema que atribui 3 pprecocidade um valor eminente, a idade e mais precisamente a antiguidade ‘nfo tém sua significagao habitual. Sem davida hé condutas, atitudes e ‘opinides que marcam a influtncia genérica do envelhecimento: pode-se ‘compreender nessa légica que o engajamento politico e sindical aumenta ‘com a idade ou que a moradia independente tende a se tornar mais frequente assim como o trabalho fora dos estudos. Mas muitos fendmenos parecem ligados, o contrério, ao que se pode chamar de idade escolar, isto a telagfa entre idade real ea idade modal dos estudantes quefrequentam para caracterizar alunos ou egressos da Escola Normal Superior. (N.1) Capitulo 1 | A escolha dos ceitos > Oshendeiros tum mesmo nivel de estudos. Se é fi isolar as condutas¢ s attudes sob ra multiplicar as oportunidades de participar da condicéo estudantil, é a quals se exerce a influncia do simples envelhecimento que sumen fom uma imagem fascinante mais que com uma condigdo real, com suas a maturidade ¢ a inclinagio para a independéncia, & muito mais dip necessidades satisfetas, que eles se identificam com essa escolha, sempre apreender 0 sentido e a influéncia do envelhecimento escolar, potwue revogivel. Ora, oscilando (segundo a disciplina) entre 10% e 20% para os estudantes mals velhos nao sio somente estudantes envelhecidos, filhos de camponeses e de operirios, a taxa de estudantes que vivem com categoria de estudantes representada em todas as faixas tirias (e em raul suas familias se eleva para 50% e as vezes 60%" no caso dos estudantes diferentes em todasas classes socials) e predspostaporcertascaracterrg, (c sobretudo das estudantes) oriundos das classes alas escolares 20 envelhecimento nos estudos." Enfim, a influéncia da idade jamais se exerce de modo univoca nos diferentes dominios da existineisg [ssas diferengas sio muito patentes para serem postas em duivida. sobretudo em sueitos origindrios de meios socials diferentes einseridos em geralmente & na atividade universitéria dos estudantes que se estudos diferentes, a antiguidade podendo ser, como se viu, um aspecto dg scobre o principio de defini¢io que permite salvaguardar a ideia de ‘handicap social ou, a invés, o privilégio do “eterno estudante” etree cstinlanil ¢ uns, uniicada ou uniicance, Ainda’ que am diferentes em outras relagGes, os estudantes, quando considerados 5 seu papel de estudante, tém em comum o fato de estudar, quer dizer, sencia de toda assiduidade ou de todo exercicio, de submeter e de mentar a subordinago de seu futuro profissional a uma instituicéo com o diploma, monopoliza um meio essencial do sucesso social. Mas udantes podem ter em comum determinadas praticas, sem que se concluir que cles tém uma experiéncia idéntica e sobretudo coletiva. Usuérios do ensino, os estudantes também so seu produto e néo ‘categoria social na qual as condutas e as aptiddes apresentadas lever m tanta intensidade a marca das aquisi¢des passadas. Ora, como muitas isas estabeleceram, ¢ a0 longo da escolarizagao, e particularmente Como falar, mesmo “tandicdo. catalan fante as grandes transig6es da carreira escolar, que mais se exerce a designar um meio onde aaa, namie ana iéncia da origem social: a consciéncia de que os estudos (e sobretudo filhos de camponeses, de operérios, de empregados e de quadros s) custam caro e de que hé profissdes nas quais ndo se pode entrar subalternos e mais de 57% dos filhos de quadros superiores ou profissionais algum patrimdnio, as desigualdades da informacao sobre os estudos liberais, enquanto 36% dos primeiros séo forgados a exercer um trabalho tuas possibilidades, os modelos culturais que associam certas profissbes fora de seus estudos ¢ somente 11% dos segundos? A natureza ou 0 Eéscolhas escolares (0 latim, por exemplo) a um meio social, enfim a ‘montante de recursos e, nesse sentido, o grau de dependéncia em relagéo posi¢éo, socialmente condicionada, a adaptar-se aos modelos, as de ope a adele os esudantes segundo Sua orien: lm BFas e aos valores que regem a escola, todo esse conjunto de fatores que tion p rate sentido. segundo 4 tupeaiec des ei ae om que se sinta “em seu lugar” ou “deslocado” na escola ¢ que seja . ee ebido como tal determina, apesar de todas as aptidées iguais, uma taxa ‘vestudrio, por exemplo, pode ou nio ser assumido ‘la famili pie 3 " 4 crigem do dichein. Salen of ettlente aes cen a lesacesso escolar desigual segundo a classes sociai,eparticularmente nas séo apenis parcialmente estudantes. Eles nio precisam fazer esforgo S@bciplinas que supem toda uma aquisiglo, quer se trate de instrumentos, Definindo chances, condigdes de vida ou de trabalho totalmente diferentes, origem social 6, de todos os determinantes, o tinico que estende sua influéncia a todos os dominios e a todos os niveis da experiéncia dos estudantes ¢ primeiramente as condigies de existéncia. © habitat e @ tipo de vida cotidiana que Ihe esto associados, o montante de recursos € sua reparticéo entre os diferentes postos orgamentérios, a intensidade e. modalidade do sentimento de dependéncia varidvel segundo a origem dos recursos, como a natureza da experiéncia ¢ 0s valores associados & sua aquisigao, dependem diretamente e fortemente da origem social ao mesmo tempo que substituem sua eficécia * CE. Apéndice 2, tabelas 2.21 ¢ 2.28, GE Apéndice 2, tabelas 2.1 a 25. Capitulo 1] A escotha dos eeitos ~ SS Osherdeiras intelectuais, de habitos culturais ou de rendimentos, Sabe-se, nesse dominio ¢ sobretudo dos que fizeram os estudos clissicos." Vé- ‘meio familiar. Assim, a agdo direta dos habitos culturais e das disposicdes herdadas do meio de origem ¢ redobrada pelo efeito multiplicador das orientagées iniciais (também produzidas pelos determi i \inismos primarios), as uals desencadeam a asio de determiismos induzidos ids ce gfcazes quando se exprimem na logicapropiament escola, sb a forma ee ‘que consagram as desigualdades sociais sob a aparéncia de Numa populagio de estudantes, nao se a i : preende mais resultado inal ée um conjunto de inluéncias decorrentes da origem social ee elroy stg eter Se eee “pln, nde pe cnc tpn nna ies late ee eines Siete ane eet ament pee lgeeny npg gree Sole eer ee ee face Son ceeet naneae gt nee la heranca social em heranga escolar em situagbes de classe diferentes, E por isso, Por extmpo, que os resultados dos filhos dos guadros superiors teadem a se teparti de ed ease tnecieareeece mamas eee ener sate Se nce a or exem, que © sucesso escolar depende estreitamente da aptidao (real ou al Para manejar a lingua com ideias proprias a0 ensino e que 0 sucesso pportanto como os sucessos ou fracassos a : spresentados, que os estudantes professores (inclinados a pensar na escala do ano escolar) tém tendéncia ¢ ‘mputar ao passado imediato, quando no ao dom e a pessoa, dependem na realidade de orientagses precoces que sio, por definicio, o efeito do acto exerce-se hé muito tempo. Para os estudantes originarios das Me baixas que sobreviveram a eliminagdo, as desvantagens iniciais ‘am, 0 passado social transformando-se em passivo escolar pelo de mecanismos de substituicdo, tais como as orientagdes precoces € intemente mal informadas, as escolhas forcadas ou as repeténcias. Fexemplo, num grupo de estudantes da faculdade de letras, a proporcio ‘estudantes que fez latim no secundario varia de 41% para os filhos ‘operirios e agricultores a 83% para os filhos de quadros superiores e rembros das profissdes liberais, o que é suficiente para mostrar a fortiori jo-se de literatos) a relagdo que existe entre a origem social e os jos lassicos, com todas as vantagens escolares que estes proporcionam. ide-se reconhecer um outro indicio da influéncia do meio familiar no de que a parcela de estudantes que diz ter seguido 0 conselho de sua ia para a escolha de uma seco na primeira ou na segunda parte do arelado" cresce ao mesmo tempo que se eleva a origem social, ainda 1e0 papel do professor decresca paralelamente. Observam-se diferencas andlogas nas atitudes em relagéo a0 ‘ensino."* Seja porque eles aderem mais fortemente & ideologia do dom, seja ‘creem mais fortemente no seu proprio dom (ou nos doisjuntos), 08 ‘estudantes de origem burguesa, reconhecendo téo unanimemente quanto ‘os outros a existéncia de técnicas do trabalho intelectual, testemanham um ‘maior desdém aquelas que sa0 comumente tidas como incompativeis com a ‘imagem romantica da aventura intelectual, como a posse de um fichario ou de uma agenda, Nao ha modalidades sutis da vocagio ou da conducao dos ‘estudos que nao revelem o carter mais gratuito do engajamento intelectual ‘nos estudantes das classes altas. Enquanto, mais seguros de sa vocasao fou de suas aptiddes, estes exprimem seu ecletismo real ou pretendido ¢ seu diletantismo mais ou menos frutuoso pela grande diversidade de seus interesses culturais, os outros revelam uma maior dependéncia em telacio a universidade. Quando se pergunta aos estudantes de sociologia se prefeririam dedicar-se ao estudo de sua propria sociedade, dos paises do terceiro mundo ou & etnologia, percebe-se que a escolha dos temas e dos terrenos “exéticos” torna-se mais frequente & medida que a origem social © Exames nacionais realizados no final dos estados do liceu (ou do ensino médio) visendo conferiro grau de bacharel. (NT) CE pagina 33, tabela 3 e também Apéndice 2, tabelas 2,6 213, Capitulo 1 | A escotha dos eleitos ~ 3 eleva-se. Da mesma maneira, se os estudantes mais favorecidos voltam-se ‘com mais naturalidade as ideias em moda (vendo, por exemplo, nos estudos das “mitologias’ 0 objeto por exceléncia da sociologia), nao é apenas | porque a experiéncia protegida que conheceram até entio os predispoe | a aspiragdes que obedecem ao principio do prazer mais que 2o principio da realidade e porque 0 exotismo intelectual e a boa vontade formal representam o meio simbélico, isto é, ostentatério e sem consequéncias, ! + de liquidar uma experiéncia burguesa exprimindo-a? Para que esses ‘mecanismos intelectuais possam se formar, nao é preciso que sejam dadas ~ durante muito tempo as condigdes econémicas sociais da liberdade e da gratuidade das escolhas? Se o diletantismo na condugao dos”estudos ¢ particularmente 0 feitio dos estudantes de origem burguesa, é porque, mais seguros quanto 4 manutengdo de um lugar, mesmo ficticio, ao menos numa disciplina de refiigio, eles podem, sem risco real, manifestar um desinteresse que supée precisamente uma maior seguranca: eles leem menos as obras diretamente ligadas ao seu programa e as obras menos escolares; eles sio sempre os mais numerosos a fazer estudos milltiplos ¢ a valorizar Aisciplinas distanciadas ou de faculdades diferentes; eles so sempre os ‘ais inclinados a se julgar com indulgéncia, ¢ essa maior complacéncia, que 2 estatistica dos resultados escolares denuncia, assegura-lhes em 32 Muuitas situagdes, o oral por exemplo, uma vantagem considerdvel.”” E preciso na verdade evitar ver na menor dependéncia dos estudantes burgueses em relagéo as disciplinas escolares uma desvantagem que compensaria outros privilégios: 0 ecletismo sinalizado permite tirar proveito das possibilidades oferecidas pelo ensino. Nada impede que uma parte (em tornode um tergo) dos estudantes privilegiados transforme em TUDES EM RELAGKORESOOLAE ACULTURA Hoste parpagso sindkal > Osherdeiros CONDIGDES DE BUSTENCIA " Convidados a exprimir sua opinio sobre seu proprio valor escolar cassifcando-se numa «scala, os estudantes de origem burguesa recusam mals que os estudantes origindris das classes baixas as categorias médias (75% contra 88%) e situam-se com mais naturalidade nas categoras dos “bons” ¢ dos “muito bons” (18% contra 10%), enquanto os estudantes das clases meas apresentamn em todos os casos atituesintermediirias. Ora, neste mesmo grupo, 06 estudantes das classes baixas apresentam resultados escolares regularmente ‘melhores que os estadantes das clases alta: 58% dentre eles tiveram ao menos uma meno ‘nas exames anteriores contra 39% dos estudantes das classes alas ea diferencaé ainda maior no grupo dos estudantes que tiveram a0 menos duas mengées, no qual os estudantes das classes baixas so proporcionalmente duas vezes mais mumerosos, 33.54% contra 16%. ‘Cangeneses Operrios xmpreadce Quadros ebatarnas Quadrosmdoe Quads speiones ‘roster iberae Anite Comeniantes Armpit avrg ce Capitule | A escolha das eleitos privilégio escolar 0 que pode constituir uma desvantagem para os outros, pois, ver-se-é, a escola atribui paradoxalmente o maior prémio a arte de se distanciarem dos valores e das disciplinas escolares. Os estudantes mais favorecidos nao devem somente ao seu meio de origem habitos, treinamentos ¢ atitudes aplicéveis diretamente as suas tarefas escolares; eles também herdam saberes e um saber-fazer, gostos e um, “bom gosto” cuja rentabilidade escolar, por ser indireta,¢ ainda mais certa, ‘A cultura “livre” condi implicita do sucesso universitario em al isciplinas, é repartida desigualmente entre os estudantes ori rmeios diferentes, sem que a desigualdade dos rendimentos possa explicar as diferengas coastatadas. O privilégio cultural é evidente quando se trata da familiaridade com as obras que somente a frequentagio regular do teatro, do muset ou do concerto (frequentagdo que nao é organizada pela escola, ou somente de maneira espordidica) pode oferecer. Ele é ainda mais manifesto nos casos das obras, geralmente as mais modernas, que sio as menos “escolares’* Em qualquer dominio cultural medido, teatro, misica, pintura, jazz ‘oucinema, os estudantes tém conhecimentos ainda mais ricos e mais amplos quando sua origem social é mais elevada. Se a grande variagao da pritica de um instrumento musical, do conhecimento das pesas pelo espeticulo ou da miisica clissica pelo concerto ndo tem nada que possa espantar, pois 6s habitos culturais de classe e os fatores econ6micos acumulam aqui seus efeitos, causa surpresa que os estudantes se distingam muito caramente, segundo sua origem social, no que concerne & frequentagao dos museus € mesmo ao conhecimento da histéria do jazz ou do cinema, frequentemente apresentados como “artes de massa’, Se se sabe que no caso da pintura, que nao é diretamente o objeto de um ensino, diferengas aparecem até mesmo no conhecimento dos autores mais clissicos e acentuam-se quando se trata das pinturas modernas, se também se sabe que a erudi¢ao em matéria de cinema ou de jazz (sempre muito mais rara do que nas artes consagradas) também € muito desigualmente repartida segundo a origem social, deve- se concluir que as desigualdades em relagio @ cultura nao séo em lugar algum téo marcadas quanto no dom{nio em que, na auséncia de um ensino Cf tabela 4 e também Apéndice 2, tabelas 2.14 a 2.20. ‘SoIveMA ‘Erunigao € PRATCA ENGALAMENTDS ‘CUCTURAS CCONHECIMENTO OAS OBRAS MODERNAS CCONTATO DIRETO COM AS OBRAS <> Capo | A esotha dos eletos & S Osherdeiros organizado, os comportamentos culturais obedecem aos. determinismos sociais mais do que & logica dos gostos e dos entusiasmos individuals," cultura inferior pois os mesmos elementos que @ . Fei tém o seatida’ que teviam am conf Taaie amplo, A Os estudantes dos diferentes meios ndo se distinguem apenas pely i fe celbea yore! dsnapeto nance orientacdo de seus interesses artisticos, Sem diivida, os fatores SOciais ritica escolar da cultura daqueles cuja origem social ce deveioaHe de diferenciagio podem muitas vezes anular seus efeitos mais aparentes aus cultura devia esos? Cada coneciment es € © pequeno-bargués sério pode compensar a vantagem que oferece aoe x perebio a0 mesmo tempo como um elemento de uma contacto € estudantes das classes altas a familiaridade com a cultura erudita, Mas og um momento do inert cltural na so tealidade ead posto valores dliferenciados que orientam comportamentos semelhantes podem cara fechando todn a crv. Enfim,é mance pssal de waar os se revelar indiretamente através de diferencas mais sutis, Isso se vé muito cculturais que Ihes confere a qualidade propriamente cul setae Ge bem a propésito do teatro que, diferentemente da pintura ou da misica, ag ey ete peer Na participa 20 mesmo tempo da cultura ensinada na escola e da cultura livre ermite a naturalidade ou a atribuicio da naturalidade sio oes ¢ livremente adquirida. Os filhos de camponeses ou de quadros médios, de fprias aos estadantes oriundos das classes alts, nas quais ess ‘perdrios ou de quaciros superiores podem inanifestar um conhecimento sem 0 papel de sinal de pertencimento a elite. equivalente do teatro cléssico sem ter a mesma cultura, mesmo nese . dominio, porque nio tém o mesmo passado cultural, Os mesmos saberes Aagao do privie Bee merce ee ee ‘do experimentam necessariamente as mesmas atitudes endo produzem os s mais brutais, recomendagdes on relagbes, Se aes ‘mesmos valores:enquanto atestam em algunso poderexclusivo daregra eda ‘ensino suplementar, informacio sobre 0 erseene tae eis aprendizagem escolar (pois foram em grande parte adquiridos pela eitura 0 cena da eran cultural se ait de rani mi drt livre ou escolarmente obrigatéria mais do que pelo espeticulo), exprimem: is indireta e mesmo na auséncia de ce ae necessério pregar a outros, ao menos tanto quanto a obediéncia aos imperativos escolares, & mais “cultos” é talvez, Sa areas a pritica Posse de uma cultura devida primeiramente ao seu meio familiar. Assim, | TL ac aactabe rena anie e poen enquanto por um teste ou por um exame se estabelece uma constatacao dos oe ee eee eal gostos e dos conhecimentos num dado momento do tempo, dividem-se iio isa maior pas do ten gue oa voraeclu num ponto determinado tantas trajetérias diversas. classes cultas arranjam iniciagées difusas muito ee ara Além disso, um bom conhecimento do teatro clissico néo tem 0 citar, por uma espécie de persuasio clandestina, a ade 4 ‘mesmo significado para os filhos dos quadros superiores parisienses, que © associam a um bom conhecimento do teatro de vanguarda e mesmo do teatro de bulevas, e para os filhos de operitios de Lille ou de Clermont. Ferrand, que, conhecendo bem o teatro clissico, ignoram tudo do teatro de vanguarda ou do teatro de bulevar, Vé-se com dlareza que uma cultura Puramente escolar no & somente uma cultura parcial ou uma parte E por isto que ices da burguesiapaisiense podem maifstar uma 4 como por osmose, n vvasta cultura, adquirida sem intengao nem esforgo ro ‘momento em que lutam para nao se submeter & menor pressio da parte de Noe ne. Néo se ia muito *Vocé vai aos museus2” - “Nio muito frequentemer ‘40s museus de pintura com liceu, sobretudo aos muscus de historia, ‘Meus pais me levavam sobretudo ao teatro. Nao se vai muito a0 museu! ~ ‘Quais sd seus pintorespreferidos?” - "Van Gogh, Braque, Picasso i ginal. Eu os canhecn por Monet, Gauguin, Cézanne. Eu nio 0 vi no orig log mesa ev lo Fa oo um puto dao Bao Ea gosto sobretudo de ouvir misia mais do que de toca, Temse muito de Bach, ‘Mozart Schubert, Schumann” ~*Seus pais aconselham leituras? © Uma origem social elevada nio favoreceautomaticamente cigualmente todos os que del sr benefician. No coco da fequentesiu do teatro ou dos concertos, arepartigio das flhos dle quadros superioresé bimodal: uma parcela da populacéo (um tergo aproximedamente)

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