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&etc contramargem/15 Gregorio de Matos ee DO eo O» Eu falo, seja 0 que for, G. de Matos INzbIroS, em Portugal, estes poemas fesceninos de Gregorio de Matos: — que masceu na Baia de Todos os Santos, em 1633 (terceiro descendente. dc um fidalgo minhoto e de uma baiana rica), que passou por um colégio de jesuftas e logo em 1652 —dezanove anos com muita beleza fisica ¢ clegincia. ho trajar—foi a Coimbra aprender leis. Ando’ aqui wm brasileiro estudante, Giz Belchior da Cunha muma carta, que, cont as suas imagens seus tropos, parece que baila Momo as cangonetas de Apolo. Era Gregorio de Matos quando se arrastava pelos bancos da Universidade, com proveito mas pouco cntusiasmo; anos antes de vir a abandoné-los sem muitas saudades: — ‘Adeus, protixas. escolas / Com reitor, meirinko e guarda, / Lentes, bedéis, secretérios, / Que tudo somado € nada. Doutor, regressa a casa mas a familia diz-the que Lisboa é 0 meio ade- quado ao seu talento, Gregorio de Matos monta por aqui a sua banca (© causas Ine no faltam, precedido que esta de boa fama nas coises do Direito, ‘chega mesmo a ser Juiz do Crime e Juiz de Orfaos e Ausentes) em vinte fe sete anos de vida Jusitana rematada mum desaire: —quando D. Pedro TT (admirador, tanto, dos seus verses, que sabe de cor a sftira Marinicolas) © indica director de um inquérito que tivesse como resultado certo a prova de corrupgio, no Rio de Janeiro, de Salvador Correia de Sa ¢ Benevides. A recusa formal de Gregorio de Matos em pactuar com os desfgnios de Sua Majestade, aliada ao édio de muita gente zurzida nos seus versos, provoca a onda que 0 devolve & Baia. O poeta lamenta-se: Querem-se aqui todos mal / Mas eu quero mal a todas /(...) 0 meu Gdio é mais valente, / Pois S01 $6 ¢ eles so tantos. No Brasil, porém, a vida no vai correr-Ihe a contento, © poesia sente-se deslocadon, ém ruptura com a mediocridade mental que © rodeia: Era eu em Portugal / Sabio, discreto, entendido, / Poeta melhor que alguns, / Douto ‘com os meus vizinhos / E, chegando a esta terra, / Logo ndo fui nada disto / Porque tum direito entre tortos / Parece que anda torcido. Contra o retumbante fracasso social © profissional —dizse—a defesa 4a boémia. E ninguém (do branco enfatuado ao mulato bajulador) escapa Seer ferocidade dos seus hectassilabos cheios de uma forga sempre vitoriosa sobre 06 desleixos da oficina. Jurista vagabundo ¢ embriagado, Gregério ‘de Matos canta e recita nas tabernas ¢ nas ruas. Na voz do povo & # Boca do inferno. ‘Varies anos de advogado sem causes, de erudito sem ouvintes, de zangas com a familia, de venenosos ¢ licenciosas libelos em verso, fazem dele um _insuportivel. Vai deportado para Angola, (Arapipe Jinior retrata 0 poeta desta fase na sua Obra Critica. Assim: Gério ferocissimo da relaxagéo mais acentuada que jé produziu a nate rece. {...) Um reles boémio, quase louco, sujo, mal vestido, a percorrer 08 engenhos do Recéncavo de viola ao tado, tocando lundus e descantando poesias obscenas para regaio, naturalmente, dos devassos e estipidos Mecenas da roca que the nuiriam a gulodice senil. O fauno de Coimbra, em tltima andise, degenerava no velho sdtiro do mulatame) Em Luanda o degredo nfo se prolonga tanto como seria de esperar, pois o empenho directo do governador da colénia obtémdhe um regrosso 2 pitria sob condico expressa de nfo voltar a fazer versos (ic). ‘Pernambuco (0 local que ele escolhe para morar) vai coakecer um Gre- g6ro de Matos em decadéncia literaria e fisica, agora tio religioso que mais nfo faz do que pedir ao Senhor penlZo pelos seus antigas pecados. E assim vive até 1696, ano da sua morts aos 63 de idado, alguns meses antes de ‘acabar também (naquelas terras) um vulto maior da literatura portuguese, um velho quase nonagendrio, cego, surdo ¢ parelitico—o Padre Anténio Vieira. A UMAS FREIRAS QUE MANDARAM PERGUNTAR POR OOIO- SIDADE, AO POETA, A DEFINICAO DE PRIAPO, E ELE LHA MANDOU BEFINIDO E EXPLICADO NESTAS DEOIMAS Kilo, vai desenfreado, Que quebrou na briga o freio, Todo vai de sangue ch Todo vai ensanguentado. ‘Meteu-se na brign armado, ‘Como quem nada receia Foi dar um golpe na vei Deu outro também em si, Bem merece estar assi ‘Quem se mete em casa alheia. 0 Inda que paresa nova, Senhora, a comparacio, semelhante a0 furdo Que entra sem temer, na cova, Quer faga calma, quer chova, Nanea receia as estradas ‘Mas antes, se esidio tapadas, Para as poder penetrar Comega de pelejar ‘Como poreo, as focinhadas. = mw Este lampredio com talo Que tudo come sem nojo, ‘Fem pesos como relojo, Também serve de badato; Tem freio como cavalo , como frade capelo, E cousa engragada velo Ora curio, ora comprido; Anda de peles vestido, Curtidas 4, sem cabelo Vv Quem seu prego no entende, Nao dard, por ele, nada; E como cobra enroscada Que, em aquecendo, so estende. E cirio, quando se acende, B relégio que nao mente, E pepinto de semente; Tom cano como funil, pau para tamboril, Bate os couros lindamente, v grande mergulhador E jamais perdeu 0 nado; ‘Antes, quando mergulhado, Sente entio gosto maior. ‘Traz cascavéis, como Assor, E como tal se mantém De came crua, também; Estando, sempre, a. comer ‘Ninguém the ouviré dizer: Esta carne falta tem, es VI Se se agasta quobra as trelas, ‘Como leffo assanhado; ‘Tendo um s6 olho, ¢ vazado, “Tudo acerta as palpadelas. ‘Amassa, tendo, gamelas, Doze vezes sem cansar, E traz jé, para amassar, ‘As costas tio bem dispostas, Que traz cnvolto, nas costas, Fermento de levedar. vo Tanto tem de mais valia Quanto tem de teso ¢ telho; 4H semelhante eo coelho ‘Que somente em cova cria. ‘Quer de ncite, quer de dia, Se tem pasto sempre come; ‘0 comer the acende a fome ‘Mas as vezes, de cansado, De prazer inteirigado, Dentro em si se esconde e some. vol Est sempre solugando Come triste solitério Mas, se avista seu contrério, Fica’ como 0 barco, arfando; Quer fique duro, quer brando, Tem tal natureza casta ‘Que, no instante em que so agasta Qual galgo que a lebre vé) Dé com tanta forca que Os que tem presos arrasta. ea pos ‘Tem uma continua fome E sempre para comer Est pronto e de crer Que em qualquer das horas come. Traz por gerago seu nome, Que por fim hei-de explicar, E também posso afirmar Que sendo tio csfaimado Dé lite, como um danado, A-quem o quer ordenbar. x E da condigéo do ourigo Que, quando Ihe tocam, sc arma, Ergue-se em tocando alarma; Como cavalo castigo # mais longo que roligo, De condigéo mui travessa. Direi, por que nfo me esquega, Que é ciado nas cavernas E que somente entre as pernas Gosta de ter a cabeca. XI 1 bem feito pelas costas, Que parece uma banana, Com que as mulheres eagana Trazendo-as bem descompostas. ‘Nem boas nem més respestas Lhe ouviram dizer, jamais, Porém cause efeitos tais Que, quem experimenta, os sabe, Quando na lingua néo éabe A conta dos seus sinais. / ae es xm pincel que cem mil vezes ‘Mais que os outros pincéis val, Porque dura sempre @ cal Com que caia nove meses; Este faz haver Meneses, Almades ¢ Vasconcelos Rochas, Farias ¢ Teles, Coclhos, Britos, Pereiras, Sousas ¢ Castros ¢ Meinis, Leneastres, Coutinhos, Melos. xa Este, senhora, @ quem sigo, De tao raras condicdes, & earalho de colhdes, ‘Das mulheres muito amigo: Se 0 tomais na milo, vos digo Que haveis de achi-lo sisudo; Mas, sorumbitico © mudo, ‘Sem que vos diga 0 que quer, ‘Vos haveis de oferocor A seu servico, contudo, * Duas horas o caralho. Freteime co'a tintursira, “Mas dizem os comaradas Que peca, pelas estradas, Porque € puta caminheira. Fui, contudo, & capoeira Porque, faminto do alho, Quis dar de comer ao matho; ‘Mas vilhe © cono tio mau, Que tive, como mingau Duas horas, © caralho. eg TEVE 0 POETA NOTICIA QUE SEBASTIAO DA ROCHA PITA, SENDO RAPAZ, Sit ESTRAGAVA OOM BRITES Bris, pastor inda donzelo Querendo descabagar-sc, Vin Betica a recrear-se, Vinda ao prado de amarelo; E tendo duro o pinguelo. Foilho metendo, ja nu, Fossando como um tatu, Gritou Brites: inda bem, Que tudo sofre quem tem Rechadura junto a0 cu. A UMA FREIRA QUE MANDOU AO POETA UM CHOUEICO DE SANGUE I Conta-se pelos corrilhos Que © pelicano, as titelas, Sustenta como morcelas, ‘A puro sangue, a sous filhos: ‘Vos, Dona Fabia Carrilhos, Se bem cuido ¢ niio me engano Deveis de ser pelicano Que enchestes este chourigo Com o sangue alagadico Desse passaro magano. 0 Com que este chourico gordo, Tao gordo e especiado, ‘Um vosso filho é criado: C’o sangue do vosso tordo. Porém tomou mau acordo, Quem quer que o empapelou, E a darmo yos obrigou, Pois ndo tem caminho, enfim, ‘Manderes-me o filho a mim, Que outro pai vos encaixou. 7 mt © que me dita 0 toutiso F que o paio se mediu; E por onde este sai Pode entrar qualquer chourico. Direis que vos ndo dé isso E ou ercio se vos nfo da; Mas alguém vo-lo dara, E que fora o meu quisera Porque se fartara e enchera Do sangue que vai por la. Ww Comi 0 chourico cozido, ‘Com sossego © sem empenho, Porque outro chourigo tenho Para pagar 0 comido. ‘Vos tendes melhor partido, ‘Mais liberal e mais franco, Pois, como em real estanco Tal ‘seguro vos. prometo: Que, por um chourigo preto, Heis-de levar o meu branco, v Sobre vos avantajar Nas cores desta troceda, Vos destes-me uma talheda E eu todo-vo-lo hei-de dar. Se cnidais de mo cortar, Ele € duro, de maneira Que @ faca mais cortadeira ‘Nao faré cousa que importa, Que 0 meu chourigo, 0 ndo corta Salvo um remoque de freira. TE VE Eu o dou por bem cortado, Deste primeiro remoque, Que a9 vosso mais love’ toque Fique de todo esgotado. Eniao 0 vosso cuidado, ‘Vendo que tanto me emboreo E inda assim vos néo emporeo, Tera por cousa do Otimpo Que @ tripe de um homem limpo Se d8 por tripa de porco. vit ‘Muito me soube a talhada De chourigo, inda que preto, E a ser todo vos prometo Que a ceia fora dobrada. ‘Mas fora mais acertada ‘Cousa e de menos traballio Que, dando-vos nisto um talho ‘Uma linguiga vos: cangue; Que © chourigo coatha o sangue E a linguisa leva o alho. vit Eu sou to bom conselheiro Que heis-de escolher 0 que digo: Porque quem fala comigo Escolhe em um tabuleiro. © chourigo que a Tinguiga, Dou gosto ¢ faco justiga ‘Mas bem sabe, quem se abrocha, Que 0 chourigo @ boca atocha ©-a linguica 0 fogo atiga pee Nao quero mais do que tenho. A medida para o malho, Pela taxa da Cafeira Que tem do malko a craveira, Sio dois palmos de caralho, Nao quer nisto dar um talho. E eu zombo do seu empenho Pois, tendo um palmo de lenho Com que outras putas desalmo, Inda que tenka um s6 palmo Nio quero mais do que tenho. * © caralbo do moleiro 1 feito de papel, ‘Arreita pelo lnverno Para foder no vero. I Q moleiro e 0 criado Tiveram grande porfia Sobre qual deles teria Mor membro e mais estirado, Posse 0 negécio em julgado E, botando ao soalheiro Umm ¢ outro membro inteiro, As polegadas medido Se viu que era mais comprido © caralho do moleiro. 1 Disto o criado apelou E foi a razo que deu: Que © membro, entio, mais cresceu, Porque entio mais arreitou. Logo alegou © provou Nio ser bastante razio ‘A polegada da mao Para vencer-Ihe 0 partido Que, suposto que € comprido, E feito de papelio. Bg = 1m tem, sendo necessétio, Disse mais, que provaria ; Que se era papel se havia Abaixar como ordinério; Que o membro era mui falséicio Feito de um pobre caderno 1 Tio fora do uso moderno; Que, se uma moca arreitada Lhe’ dé no verdo entrada, | E para foder no inverno. Vv E que, depois de se erguer E tao tardo ¢ tio ronceiro, Que ha de mister o moleiro Seis meses para o meter: Porque depois de jé ter ‘Aceso, como um ti¢do, Engana a putinha, entio, Pois pedindo a fornicasse Lhe dizia que esperasse Para foder no verao. * A UMA FREIRA QUE, SATIRIZANDO A DELGADA FISIONOMIA DO POETA, LHE CHAMOU PICA-FLOR Se pica-flor me chamais, Pica-flor aceito ser, ‘Mas resta agora saber Sc no nome que me dais Metcis a flor que guardais No passarinho melhor! Se me dais este favor, Sendo s6 de mim o pica E 0 mais vosso, claro fica Que fico entéo pica-flor. ie AD. MARTA SOBRAL, QUE SENDO-LHE PEDIDA, DO POETS, UMA ARROBA DE CARNE DE UMA VEZ QUE MATARA, RES- PONDEU QUE LHE FOSSE TIRAR DO OLHO DO CU © tu, 6 mil vezes tu Que se uma arroba de vaca Te pedi, é to velhaca Que me ofereces do teu cu: Essa came 2 Barsabu A devias dar, em p6; A mim nio, porque em meu pr6 Nio me atrevo a escolher Nem teu cu, pelo feder, Nem, pelo podre, 0 teu’ c6. A TOMAS PINTO BRANDAO QUEIXANDO-SE DE UMA MULS, QUE TINHA PEGADO UMA MULATA, A QUEM DAVA DIVERSOS NOMES, POR DISFAROE, DIZENDO UMAS VEZES QUE ERA INGUA E OUTRAS QUEBRADURA Fabio: essa bizarria, Essa flor, donaire © gala, ‘Mui mal’ empregada esté Em uma cara caraca. Sobre ser caraca 0 rosto, Dizem que a dita mulata De mui dura e rebatida ‘Tem j& 0 couro couraga. Item, que esté muito podre E nfo escusa, esta Péscoa, Para secar os humores Fazer da salsa salsada, Nao me espanto que nascessem Tais efeitos de tal causa’ Que de mulata sai mula, Como de mula mulata. Um dia dizeis que 6 ingua, No outro que nao é nada, ib E ou digo: so no for mula, Que seré burra burrada; ‘Mais direi, por vossa honra, Que ¢ qucbradura sem falta Que, de cantar e bailar, Mil vezes 0 talo estala. Ponde, de contra-ruptura, ‘Um parche na parte inchada, ‘Com funda por que a side Figue na funda fundeda, A LUISA SAPATA, QUERENDO QUE 0 AMIGO LHE DESSE QUATRO INVESTIDAS, DUAS DE DIA E DUAS DE NOITE I Uma com outra slo duas, Pela minha tabuada, E vés mulata esfaimada, Quercis duas vezes duas. Se iss0 vos dera, por Tuas, E 0 quiséreis cada més, Dera-vos trés vezes trés; Mas quatro, entre dia ¢ noite, Dar-vossi eu tanto agoite Que fardo dex. vezes dez 0 ois, puta, essa vossa crica Téo gulosa de rescaldos Que cuidais que os nossos caldos Os compramos na botica? © caldo no multiplica Quando, entre quatro virithas Se liquida em escumilhas; E vés, a lavadas mos, Quereis um caldo de gritos Por um caldo de lentilhas? Spe mw 1 0 caldo quintesséncia, E tal, que uma gota fria Prodiz uma senhoria E talvez ume exceléncia. Se tendes dele caréncia E, por faitar 2 vontade © quereis em quantidade, Nao trateis, no, de esgotar Os colhdes de um secular: Ide & braguilha de um frade. Vv Puta, se a vossa ragdo Hilo-de ser quatro, 2 porfia, Dormi com quatro em um dia E quatro se vos dardo; ‘Mas tirélas de um cristio Que apenas janta © nio ceia E nio dara foda © meia, Isso 6 mais que crueldade, E mais tendo v6s um frade Que € gato que nunca mea. v Mudai, pois, os pensamentos, E se nfo heis-de quietar Com uma, do secular, Ide servir aos conventos, Que os leigos, j macilentos, Esyaidos ¢ esgotados Com um més de amancebados, Cobram 140 grande festio Que jf pagam de vazio Dois ‘mil vasos alugados. aie VE No filho do caldeireiro ‘Tendes emprego adequado Pois, 20s maliios ensinado, Fode como um mathadeiro, Se no vale ou se no outeiro Lhe dais a mama ¢ © peito E achais que & mogo de jeito Na parte do olhinko morto, ‘Tendes razio: pois é torto Mas tem 0 membro direito. ENOONTRO QUE TEVE COM UMA DAMA MUI ALTA, OORPOLENTA E DESENGRAGADA 1 ‘Mui alta © mui poderosa Reinha e senhora minha: Por poderosa, rainha, Senhora, por altcrosa, Permiti,’ minha formosa, Que esta prosa_envolta em verso De um poeta tio perverso ‘Se consagre 2 vosso pé. Pois, rendido vossa fé, Sou 'j poeta converso. 1 Fui ver-vos, vim de admirar-vos, E tanto essa luz me embaga Que aos raios da vossa graca ‘Me converti a adorar-vos. Servievos de apiedar-vos, dolo «elma adorado, De um migero, de um coitado ‘A quem s6 consente amor, Por galardio, um rigor, Por alimento, um cuidado, ae m Dai-me por favor, primeiro, Ver-vos uma hora na vida Que, pela vossa medida, Vird a ser ano inteiro. Permiti, belo luzeiro, A um coracdo lastimado, Que por destino ow por fado Aleance um sinal de amor; Que sendo yosso, 0 favor, Sera por forca estirado, WV Fodamo-nos, minha vida, Que estes siio 0s meus intentos, E deixemos cumprimentos Que arto tendes, de comprida Eu sou da vossa medida E, com proporgio to pouca, Sé este membro vos emboca rei que a ambos nos fica, Por baixo erica com etice, Por cima boca com boca. * © meu pai, tu qu’é que et mora? I Co cirro nos entrefolhos Se queixava um negro cono De ver Ihe fincava 0 mono 0 fodedor dos antolhos. E revirando-the, os olhos, Dizia a puta cachorra: Desencaixa um pouco a porra! Eu venho, @ regalarme, E tu fodes a matar-me? © meu pai, tu qu’és que eu morra? aes a Fretoi uma negra mina E, fodendo- todo 0 dia, A coitada nio podia. Porém era puta fina: A porre nela se inclina, Tnclino com forga a porra E, forcejando a cachorra, Ela me disse: esperai! E eu The disse: chegai © meu pai, tu qu’és que eu morra? As exceléncias do con ser bem grande e papudo, Aperiado, borday grosses, ‘Chapio, ensato ‘e-carnudo. I Com cachopinha de gosto, Em cama de bom colchéo, Nos peitinhos posta a méo E 0 pé no fincapé posto. Ajuntar rosto com rosto, Dormir um homem seu sono, Acordar, calear-ihe 0 mono “6 quase a0 gorgolejar, Entéo € 0 ponderar As exceléncias do cono. 1 Eu, na minha opinido, Segundo 0 meu parecer, Digo que no ha foder Sendo cono de enchemio: Porque um homem com sezio, Inda sendo caralhudo, Meterd colhtes, ¢ tudo, E assim mostra a experiencia Que, do cono a exceléncia, E ser bem grande e papudo. ce Mm # também conveniente Que no tenha o parrameiro A nota de ser traseiro E que seja um tanto quente; Que as vezes, mui facilmente, So tais as misérias nossas, Que havemos mister as mocas, Para regalo da pica, Com cono de pouca erica, Apertado, bordas grossas. wv ‘Mas a maior regalia Que, no cono, se hé-de achar Para que posse levar, Dos conos, a primazis (este ponto me esquecia): Para ser perfeito em tudo, # nunca se achar barbudo, Por dar bom gosto ao foder, ‘Como também deve ser ‘Chupio, enxuto ¢ carnudo, * A UMA DAMA QUE GOSTAVA DE O VER MISAR Inda que, de eu mijar, tanto gosteis Que vos mijeis com riso e alegria, Haveis de ver, de siso, inda algum dia, Por que de puro gosto vos mijeis. Entio, destes dois gostos sabercis Qual é melhor, e qual de mais valia: Se mijarde-vos'v6s, na pedra fria, Se, mijando eu, tapar que nfo mijeis, ay A f€ que ai fiqueis, desenganada, E entio conhecereis, de entre ambos nés, Qual € melhor; mijar ou ser mijada. ois se nos mijamos, sés por sés, Haveis de festejar una mijada Porque eu a mijar entro, dentro em vos. Déenas, mana, que tas dou, Que’ tas ctton’eeperando, ‘Metome a Hingua st boca Enquanto tes ertou dando. Vem, que estou para tas dar, Chega-te, vida, que morro, Necessito de socorro, Nao me queiras acabar. ‘Estou ja para estalar, Nao me ajudas, por quem sou, Que para tas dar, estou? Pois que € isto? tanto tardas? Acaba, vida, que aguardas? Dé-mas, mana, que tas dou, 1 ‘Meu coragio, que me abraso, ‘Morro com tio lindo gosto ‘Que em perigo me tem posto, Gosto de téo lindo vaso. ‘Ve que se vem, passo a passo, Estas lagrimas chegando. Dize, meu bem, para quando Hao-de ser? Otha que vem: Acaba, dé-mas, meu bem, ‘Que tas estou esperando, 2 Er | uL Acrescente 0 excessivo, Para 0 gosto acrescentar: Nao queiras, vida, matar A quem morre, estando vivo, 1, se em modo tao esquivo, © gosto sempre se apouca, Por que seja igual a troca Que fazemos, neste caso, Pois tens 0 membro no vaso, Mete-me a lingua na boca Vv His, pois, vida, de advertir Que em modo’ to sublimado * Se acha menos desmaiado Quem mais se deixa dormir. Para mais tempo sentir © que estamos trabalhando, Quisera, vida, que quando ‘Me canso, para tas dar, Nunca quisera acabar Enquanto tas estou dando, * A UMA DAMA QUE, MANDANDO-SE CO(AR EM UM BRAGO PELO SEU MOLEQUE E SENTINDO QUE, DAQUELE CON- TAOTO, SE LHE ENTESAVA 0 MEMBRO, 0 CASTIGOU I Corre por aqui uma voz E vem a ser o motivo, Silvia, que 0 vosso cativo Se levantou para vés. © caso € tompe e atroz E quis que a fama corresse S6 para que se estendesse Pelo vosso brago ¢ milo; Que junto so fogo, o carvao, Era forca se acendesse. nares 0 Vos mandastes que o moleque ‘Vos fosse o braco cocar, E ele quis vos esfregar Mais que 0 braco: 0 sarambeque. Procedeu bem, alfaqueque, Se bem nisso se repara, E eu mesmo o intentara Se me vira nesses passos; Que isto de chegar a bracos Bem sabeis vés no que para. ao Vos estendestes a mao E, chegandotha a breguilha, Entre viritha © virilha Topastes um camatio: Ta entrando no tesio 0 coitado do negrete E porque vés, em falsete, Tal grito the levantastes, Como o fogo Ihe afastastes, Apagou-sethe'o pivete. Iv Se outra vez vos der a tosse De cogar a comichio, No chameis © negro, no: ‘Cogai-vos com que vos coce E se estais ja sobre posse, ‘On vos no podeis mexct, Deixai a sarna comer ois bem sabcis que hile andar Atras do comer, cocar, “tras do cogar, foder. ee, re ‘Vos dizels que arvomba, arrombe, Nao se arromba dese. modo} 1 Mulatiohas da Baia Que toda a noite, em bolandas, Correis Tuas ¢ quitandas, Sempre em perpétua folia Por que andais nesta porfia? Com quem de vosso amor zomba? Eu Jogo vos faco tromba! Vos nio vos dais por achado: Ea encruzo o meu rapado, Vos dizeis arrombe, arromba. 0 ‘Nenhum propésito tem ‘© que diztis © 0 que cu faco; Que ou fajo do vosso lago E v6s botais fora o trem. E se eu 0 cubro tio bem, E 0 tenho escondido, todo, De onde tirais 0 engodo Para arrombar a quem zomba? V6s cuideis que assim se arromba? Nao se arromba desse modo. Wm # necessério que eu queira E que vos diga que sim, Que me ponta assim e assim, A jeito ¢ em boa mancira: Que descubra a diantsira E, entregando 0 passarinho, Lho metais, devagarzinho, Pois qualquer mulher se sente Que entre de golpe, mormente Quem o tem apertadinho, asa Iv A mulher, fonte de enganos, Por melhor aproveitar-se Comega hoje 2 desonrarse E acaba de hoje a dez, anos. E jé quando 0s desenganos Publica, com desafogo, Ser mais quente do que o fogo, Nao se deixa resolver E, por mais virgos vender, Nilo o quer aberto, logo. * A AMASIA DESTE SUJEITO QUE, FIADA NO SEU RESPEITO, SE FAZIA SOBERBA E DESAVERGONHADA. I Puta Andresona, eu pecador te aviso Que 0 que amor te tiver no tera siso; ‘Tu te finges néo ser senio honrada E nunca vi mentira mais provada: Porque, de mui metida ¢ atrevida, Te vieste a sair com ser saida, ‘Mas quando de ti, puta, nfo cuidare, Fazeres tais baratos de tal cara! 0 ‘Esse vaso encharcado, qual Daniibio, Dé a, crer que és puta inda antes do Dilivio: Tio velha puta és que ser podias ‘Eva das putas, mie das putarias; E, por puta antiquissima puderas Dar idade as idades, ¢ era as eras; E havendo feito putarias artas, Inda hoje das a crer que te no fartas. =p cg Entram na tua casa, @ seus contrates, Frades, sargentos, pajens e mulatos, Porque € tua vileza, to notéria, Que entre os homens néo achas mais que esoéria A todos esses guapos dés @ lingua B, por muito que dés, nfo te faz mingua: ‘Antes é linguaraz ¢ 2 mim me espaata ‘Que dando # todos tenhas lingua tanta. Vv ‘Mas isso te nasceu, puta Andresona, ‘De seres puta vil, puta fragona; Que © falar da janela e da varanda S6 se acharé em putas de quitanda. CaLte, que a puta grave, qual donzeta, Geme na cama e cala na janela. ‘Mete @ lingua 10 cu e, havendo mingua, Quando deres ao cu, daris & lingua. v ois se deixas calar sempre, por baixo, E ld para calar-te tens o encaixo, Calte um dia por cima, atrosdora, Que.jé se enfeda quem ha rua mora, E diz até uma preta, e mais nfo erra, Que a ovelha ruim é a que berra; Calte, Andresona, que de me aturdires Tomei eu a ocasifo de hoje me ouvires. oe DECIMAS 1 Qi: febre tém, to tirana, As mogas deste lugar, Que se esto sempre @ sangrar Na veia d’arca conana? A doenga € tio insana, Frenética e aluada Que, a cada ua passada, Toma logo o sangue a vir Sem a veia se ferir, Porque esté sempre aventada, r Eu nunca pude alcancar Como clas ficam sangradas ‘Sem levarem Jancetadas, ‘Amles fogem de as levar! Cada més as vem sangrar Com os seus dois cornos, @ lua, E sem lanceta nem pua © sangue por si se escorre, Sua c parece que corre, Corre e parece que sua. m1 © sangue, em bom portugués, Com letras bem rubricadas, Depois de muitas penadas Poe na fralda caqui foi més», Chega um galante cortés Ao templo do amor, entao, A fazer adoragio E, qual sacristio maior, Descobre © painel de amor E acha uma degolacto, =r Hips Isto, sem tirar nem por, ‘Me sucedeu sempre a mim No grande Pernamerim Onde esté 0 templo de amor; E entrando no interior Do templo, que eu fabriquei, Um tio de sangue achei. Pus-me entio a esperar Que vase, para o passar: Nio vasou, nunca © passei. contramargem 1 Maria! Néo me mates, que-sou tua mae!— Camilo Castelo Branco. (Espotado) 2=A Torre de Babel ou e Porra do Soriano sequila de As Musas —Guerra Junqueico, (Exgotado) 3 Quatro Anaittieo da Cormeagso— Charies Fourier. (sgotado) 4-0 Fim do Mundo Fitmado pelo Anjo N. 5. Blaise Cendrars. (Pspotado) 5~0 Bispo de Beja—Homem-Pessoa, (Apresn- ido pela PD) S—Proposta Modesta—Jonathen Swift. Eagar tado) Manual de Civitdade para Meninas — Pierce Louys. (Bxgotado) 8—Criptinas —Joko de Dess. 9 Ler na Retrete—Henty Mille: 10—Zaroff — Richard Connell 1 —Flatho Negro—Fielho dAlmeida, '2—Gragas e Desgracas do Olho do Cu—Que- edo, 13 Martinhada—Camées do Rossi, M4 Flopio de Calvicie—Sinésio de Ciene Este folheto, décimo quinto da coleceio Contremargem, com uma nota initodutGria de Anibal Femnandes, é uma ediglo & etc produzida por Publicacées Culturais Engrenagem, [da.—Rua da Emcnds, 30, wub. rds, 1200 Lisbos, telefens 371955. Foi compost ¢ impresso na Minigrifica (Cooperativa de Artes Grifieas, SCARL), Rua de Alegria, 20, 1200 Lishos, durante ‘9 més de Novembro de 1982, Tirazamse 1000 exemplares

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