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INSTITUTO BIBLICO BETEL BRASILEIRO. Presidente: Pr. Edmundo Jordao de Vasconcelos Neto Coordenaao do Programa de Pés-Graduacao: Dr. César A. T. Ruiz (Coordenacao Geral do Ensino Teoldgico: Prof* Durvalina B. Bezerra Reflexao Teologica: Estudos e Pesquisas em Teologia e Missio A Revista Reflexao Teolégica é uma publicacdo da Pés-Graduagao e da Coordenacao Geral do Ensino Teolégico do Betel Brasileiro. Os pontos de vista expressos nos artigos refletem os juizos pessoais dos autores, nao representando necessariamente a posicdo da Instituicao. Os direitos de publicacao desta revista sao do Instituto Biblico Betel Brasileiro. Enderecos P6s-Graduacio Betel Brasileiro: Rua Raul de Souza Costa, 790, Alto do Mateus, Joao Pessoa (PB) Tel.: (83) 3041.8115 E-mail: pgraduacaobetel@gmail.com Coordlenacao Geral do Ensino Teol6gico Betel Brasileiro: Rua Sao Bento, 545, Primeira Sobreloja, Centro, S40 Paulo (SP). Tel.: (L1) 3105.5845 www. betelbrasileiro.com.br Conselho de Referéncia da Revista Reflexito Teoldgica Dr. César A. T. Ruiz Prof* Durvalina B. Bezerra Rev. José Alves da Silva Editores Académicos Rev. Stefano Alves dos Santos Rev. Wanderson F. M. de Oliveira Coordenacio e producto griffica Jornalista Claudia Mércia Eller Miranda - MTb 4700 E-mail: betelpublicacoes@hotmail.com Capa: Afstudio Editoracdo eletronica: Emmanuel Luna : Impressdo: Imprensa da Fé Tiragem: 1.500 exemplares Reflexdo Teolégica: estudos e pesquisas em teologia e missdes - n. 3 (2013) - Joao Pessoa: Betel Brasileiro, 2013. Anual. ISSN 2178-0323 Publicagao da Coordenacaio Geral do Ensino Teolégico e do Programa de Pés-Graduagao Betel Brasileiro. 1, Teologia 2. Missdes 3. Programa de P6s-Graduacao Betel Brasileiro. A VISAO MISSIONARIA DO REFORMADOR JOAO CALVINO Rev. José Roberto de Souza* RESUMO: 0 presente artigo rebate a critica de que os reformadores do século XVI foram inoperantes em relacao a obra missionaria. Procura entender o que pensava e como agia Joao Calvino em relagdo as missdes, utilizando para isto alguns de seus comentarios biblicos e cartas, além de opinides emitidas por outros autores, e constata que o reformador expunha a chegada do reino de Cristo e a necessidade consequente da pregacao da Palavra de Deus pela igreja, como principal instrumento de Deus para a salvacao dos eleitos. Palavras-chave: Identidade e Religiao. Missdes. Reforma Protestante. Franca Antartica. Calvinismo. Introdugao A maioria das pessoas nao tem muita simpatia em estudar historia; desconhecem o passado, bem como personagens importantes que deveriam ser sempre lembrados. Opinam mediante 0 pouco que conhecem ou baseando-se em opinides de terceiros. Sustentam posicdes sobre determinados assuntos Ou pessoas sem nunca terem lido profundamente a respeito. No meio evangélico, infelizmente, nao é diferente. Se nao tivermos cuidado, poderemos cair no erro de muitos, porquanto “os admiradores criam mitos, e 0s criticos buscam defeitos.” (SILVA, 2002, p. 85-86). Um exemplo disto diz respeito ao reformador Joao Calvino, como observa Silvestre (2002, p. 216): “Ha seguidores de Calvino que se negam a uma leitura mais acurada de seus escritos”, criando, por conseguinte, uma imagem distorcida do reformador. * Pastor da Igreja Presbiterianado Ibura (Recife, PE); professor ecoordenador do Departamento de Histéria da Igreja no Seminario Presbiteriano do Norte; mestre em Teologia e Histéria (SPN); mestre em Ciéncias da Religido (Universidade Catélica de Pernambuco); especialista em Historia da Religido e da Arte (Universidade Federal Rural de Pernambuco). 168 Revista Reflexdo Teologica, N° 3 (2013): 167-176 Recentemente houve a celebracao dos 500 anos do nasci- mento do reformador Joao Calvino (10.07.1509-27.05.1564), o que mostra quanto ele continua sendo lembrado;’ contudo, nao faltam opinides a seu respeito: “Existem muitos retratos contra- dit6rios de Calvino.” (SILVESTRE, 2002, p. 75). Infelizmente, ha quem s6 relembre dois fatos que sao constantemente atribuidos a Calvino, segundo afirma George (1994, p. 167): Poucas pessoas na histéria do cristianismo tém sido tao supremamente estimadas ou tao mesquinhamente desprezadas quanto Joao Calvino. A maioria dos cristdos, dentre a qual grande parte dos protestantes, conhece apenas dois aspectos a respeito dele: acreditava na predestinacao e ordenou que Serveto fosse queimado vivo. Ha diversidade de opinides acerca do reformador Calvino; 0 que nao é novidade alguma, pois um amigo dele ja constatava: “O proprio Beza dizia que era mais facil caluniar Calvino do que o imitar.” (FERREIRA, 1990, p. 217). Relembrando um pouco 0 contexto histérico de Calvino, George (1994, p. 165-164) assim se expressa: [...] reformador da segunda geragao. Isto é, quando nasceu, na Franca setentrional, em 1509, Lutero ja estava dando conferéncia na Universidade de Enfurt [...]. Os dois reformadores nunca se encontraram pessoalmente. Ainda assim, Lutero elogiou alguns dos primeiros escritos de Calvino que lhes haviam sido enviados. E oportuno lembrar que “Calvino, nao menos que Lutero e Zwinglio, teve uma formacao catélica tradicional e deve ter conhecido a sensacao de ansiedade e opressao que caracterizava a cultura da baixa Idade Média.” (GEORGE, 1994, p. 171-172). So atribuidas ao reformador muitas qualidades pessoais. Como escritor, “Jodo Calvino foi incansdvel. Foi autor nao | A Cultura Crista langou recentemente alguns livros sobre a vida do reformado Joao Calvino, entre eles: As Cartas de Jodo Calvino — celebrando os 500 anos de nascimento do Reformador de Genebra e Jodo Calvino 500 anos — Introdugao ao seu pensamento e obra. A visdo missiondria do reformador Jodo Calvino 169 somente das famosas Institutas, mas também de comentarios de quase todos os livros da Biblia, bem como de centenas de cartas e sermées.” (BARRO, 1998, p. 42). Alguns, julgando ser seus discipulos na atualidade e tendo prazer em se envolver com polémicas teolégicas, desconhecem que “o génio de Calvino era mais para organizacao do que para especulacao teolégica.” (BETTENSON, 1998, p. 320). Leith (1996, p. 182-183), lembrando o valor das Institutas da Religiéo Crista, obra de autoria de Joao Calvino, argumenta: [..] € a mais influente declaracao da teologia reformada em particular e da teologia protestante em geral. E também um marco literdrio. Calvino escreveu como um mestre da lingua latina e foi o primeiro grande tedlogo a usar o francés para escrever teologia. Todavia, um fato significante é que, “deliberadamente, ele preferiu utilizar a linguagem comum no lugar do vocabulario dos tedlogos escolasticos. Calvino deixou um legado literario incomparavel. Além dos comentarios biblicos, escreveu sermées, folhetos, tratados, cartas, estudos littirgicos e catequéticos. Fato é¢ que, “durante sua vida, Calvino escreveu mais do que a maioria das pessoas é capaz de ler.” (GEORGE, 1994, p. 188). Nao bastassem esses dotes, ele ainda possufa uma excelente qualidade como pregador; Calvino foi “mestre numa €poca em que 0 ptilpito era o principal meio de comunicacdo para uma cultura inteira [...]. Calvino pregava duas vezes aos domingos e ‘uma vez por dia em semanas alternadas. Seus sermGes eram anotados a mao por diversos fiéis franceses refugiados.” (GEORGE, 1994, p. 187). Procurava conciliar as qualidades que tinha, ao seu chamado pastoral, pois “verifica-se nos sermGes de Calvino uma combinacao admiravel do tedlogo, exegeta e pastor” (FERREIRA, 1990, p. 162). Uma particularidade pouco conhecida da vida desse teformador é a sua visdo concernente a obra missiondria. O resultado disso 6 uma visdo equivocada: “Frequentemente tem sido acusado por muitos historiadores de ter sido inoperante quanto ao mandato mission4rio dado a igreja de fazer discipulos de todas as nagées.” (BARRO, 1998, p. 38). O pensamento de que Calvino e os outros reformadores nao possuiam nenhuma consciéncia missiondria teve inicio entre os 170 Revista Reflexao Teoldgica, N° 3 (2013): 167-176 catdlicos romanos, com o propésito de enfraquecer 0 movimento reformador ante a opiniao publica da época (BARRO, 1998, p. 39). E lamentavel que essa visao equivocada tenha sido reproduzida na atualidade, nao mais entre os catdlicos, mas por muitos que afirmam ser reformados calvinistas. Quanto ao fato de Calvino nao ter escrito algo de forma tao substancial, em relacao a obra missiondria, como julgam alguns, Barro (1998, p. 40) faz a seguinte observacao: E certo que Calvino nao escreveu, entre os seus muitos livros, nenhum tratado missiolégico, mas também é certo que ninguém vird a encontrar algo que tenha escrito contra a idéia de missGes. O ponto que queremos ressaltar aqui é que, se Calvino nao escreveu sobre missées, isso nao é motivo suficiente para afirmar que ele nao reconheceu a dimensao missionaria da igreja. Mesmo que inexista um compéndio missionario de autoria de Calvino, podemos observar, de maneira clara, sua visao missionaéria em seus comentarios biblicos e em outros dos seus muitos escritos. Em seu comentario Harmonia dos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas (Harmony of Matthew, Mark, and Luke), ao tratar sobre a Grande Comissao, Calvino (2003, p. 383-384) afirma: [...] nés aprendemos a partir da enumeragaéo destes eventos que nos sao dados por Mateus que o tltimo destes nao aconteceu antes deles terem entrado na Galiléia. O significado 6 este, ou seja, pela proclamagao do evangelho em todos os lugares, eles deveriam trazer todas as nagGes a obediéncia da fé e, depois, eles deveriam selar e ratificar a doutrina deles pelo sinal do evangelho. Em Mateus, eles sao ensinados, em primeiro lugar, simplesmente a ensinar; mas Marcos expressa © tipo de doutrina, a fim de que eles pudessem pregar o evangelho; e, logo depois, o proprio Mateus acrescenta este limite, qual seja, “ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. (1) Ide, portanto, (2) fazei discipulos de todas as nacoes, (3) batizando-os [...] fazei discipulos de todas as nacGes. Aqui, Cristo, ao remover a distincao, faz os gentios iguais aos judeus e admite ambos indiscriminadamente a participar na alianga. | A visdo missiondria do reformador Jodo Calvino 171 Barro (1998, p. 43) ratifica a preocupacao de Calvino com a obra missionaria, ao lembrar mais uma vez o comentario da Grande Comissao: [...] com respeito a Grande Comissdo, Calvino menciona: O Senhor ordena aos ministros do evangelho que preguem em lugares distantes, com o propésito de espalhar a salvacéo em cada parte do mundo. Mais de uma vez ele afirmou esta conviccdo. Quando comenta 1Tm 2:4 ele declara: Nenhuma nagio da terra enenhum segmento da sociedade estao excluidos da salvacao, porque Deus deseja oferecer 0 evangelho a todos e sem nenhuma excecéo. Quando nos familiarizamos com a teologia de Calvino, podemos concluir com certeza que ele entendia perfeitamente que Cristo era a tinica esperanga para a humanidade. Calvino, comentando a passagem biblica de Gélatas 4:26, afirmou: “A igreja enche 0 mundo todo e é peregrina sobre a Terra”.? Hermisten (2009, p. 183) comentando essa citagao de Calvino disse: “A peregrinagado da igreja tem um sentido missionario (“até os confins da terra”) e escatolégico (“até a consumagao do século”). Enquanto ela caminha, confronta os homens com a mensagem do evangelho, chamando todos ao arrependimento e a fé em Cristo Jesus, até que ele volte.” Mesmo crendo na doutrina da eleicéo e sendo um dos grandes propagadores dessa doutrina, Calvino através dos seus escritos demonstrou a compreensao de que o evangelho deveria ser pregado a toda criatura, sem distingdo. Para Calvino, a eleicao nao deveria ser motivo de acomodacao, e sim, de motivacao. Exemplo disso é 0 comentério que ele faz de 1Timéteo 2:4 - “Nenhuma nacgao da Terra e nenhuma classe social sao excluidas da salvaciio, visto que Deus quer oferecer 0 evangelho a todos sem excecao.”° Mesmo acreditando que as pessoas sao regeneradas unicamente pelo poder de Deus, afirmava também que a mensagem deveria ser pregada da melhor forma que estivesse ao alcance do pregador: “Portanto, preguemos sinceramente, de forma inteligente, com amor e entusiasmo. Quanto aos 2 Cf. J. Calvino, Galatas (Gl 4:26), p. 144. Ver ainda As Institutas, IV.1.1. 3 Cf. J. Calvino, As Pastorais, p. 60 (Tm 2:4). 172 Revista Reflexao Teolégica, N° 3 (2013): 167-176 resultados, esses pertencem a Deus, escapam da nossa esfera de acao.”* Sobre a forma que Calvino pregava, Lawson (2010, p. 86- 87) comenta: Na maioria das vezes ele usava figuras de linguagem tiradas da propria Biblia, mas muitas de suas figuras estavam relacionadas as dreas militares, judiciais, académicas ou a natureza, aos artesdos etc. Ele usava com frequéncia expressGes comuns extraidas de conversas rotineiras do dia-a-dia. Apesar de o humor nao ser habitual nas pregacées de Calvino, ele usava uma linguagem estimulante e uma ironia mordaz que, sem duvida, tirava sorrisos dos ouvintes ou chocava a plateia - deixando uma marca duradoura. Um detalhe que muitos esquecem é que “os reformadores sdo julgados nos padrdes do que se entende por missdes atualmente. Zwemer esté certo quando afirma que Joao Calvino viveu no século XVI e nao no século XIX. Nao podemos esperar que ele tivesse uma visdo mundial como aquela encontrada em William Carey.” (BARRO, 1998, p. 42). Além disso, no préprio modelo missionario de William Carey, Hudson Taylor e outros pode ser encontrado algum equivoco biblico ou estratégico em alguma das obras que esses servos de Deus fizeram, com a melhor das intengGes. Mesmo que Calvino nao tenha escrito especificamente um tratado sobre missdes, encontramos, como ja vimos, elementos que ratificam que ele teve visdo e, acima de tudo, preocupacgéo e atitude com a obra missiondria. Além disso, encontramos na hist6ria “um estudo sobre 88 agentes enviados em 105 missdes, durante o periodo de 1555 e 1563” (McGRATH, 2004, p. 213). Outro elemento significante que dever ser lembrado em relacaéo a preocupacao de Calvino, é que ele “assegurou que Genebra fosse um local de reftigio para aqueles que possuiam ideias reformistas. Durante 0 seu periodo de exilio, esses refugiados frequentemente absorviam a perspectiva de Calvino e, ao retornarem aos seus paises de origem, continuavam a propagar o calvinismo.” (McGRATH, p. 227). Os estudiosos geralmente 4 Ver J. Calvino, As Institutas, II. 5.5,7; Ill. 24.2,15. Avisdo missiondria do reformador Jodo Calvino 173 afirmam que a fama em torno de Calvino e dos objetivos que ele tinha em relacao a Genebra contribuiram para que inGmeras pessoas de diversas nacionalidades e de varias posicdes fossem. atraidas para aquele lugar. Calvino queria fazer de Genebra 0 modelo de uma perfeita comunidade crista. Sua posicao estritamente evangélica atraiu grande ntmero de refugiados, muitos deles pessoas de posicdo, cultas e ricas, mormente da Franga, mas também da Italia, Paises Baixos, Escécia e Inglaterra. Logo se tornaram elas fatores de muita importancia na vida genebrina. O proprio Calvino e todos os ministros a eles associados eram estrangeiros. (WALKER, 1983, p. 77). Nas préprias cartas que eram enderecadas a Calvino, e nas que ele remetia, 0 contetido nos impressiona, pois podemos perceber “o tremendo fardo que pesava sobre os seus ombros. Em carta escrita a Sulcer, ele diz: Em todas as partes da Franga, os irmdos estdo implorando a nossa assisténcia. De todas as partes surgiram cartas solicitando a Calvino que providenciasse pastores e ele sempre procurava um modo de atender a esses apelos.” (BARRO, 1998, p. 43). “Epistolégrafo copioso, muitas pessoas da Europa e das ilhas britanicas Ihe pediam conselhos. Suas cartas, com outros escritos, integram 57 volumes do Corpus Reformatorum, e existem 2000 de seus sermées.” (CAIRNS, 2004, p. 254). Como podemos perceber, Calvino cria e pregava a respeito da eleicdo divina; ele também cria que a pregacao do evangelho era 0 meio ordinario de os eleitos serem alcangados pela graca salvifica. “Quando lemos as suas cartas e os comentarios biblicos por ele produzidos, encontramos neles uma preocupacao com a divulgacao do evangelho e coma falta de pastores para as igrejas da época” (BARRO, 1998, p. 42). Calvino nao perdia tempo quanto a propagacdo do Reino de Deus, e sabia como poucos fazer uso dos meios que estavam ao seu alcance para o avanco da pregacao do evangelho: Por causa das circunstancias da sua permanéncia em Genebra, Calvino fez uso de outros elementos para divulgar a fé crista. 174 Revista Reflexao Teoldgica, N° 3 (2013): 167-176 Um destes foi a imprensa, que veio a se tornar 0 principal meio de comunicagao nas maos do reformador. Em 1557 ele permitiu que os seus sermées fossem impressos. Rapidamente eles foram traduzidos para varias linguas como o aleméo, latim, francés, italiano, tcheco, inglés, espanhol, holandés e até mesmo o grego. (BARRO, 1998, p. 44). McGRATH (2004, p. 221-222) relata o resultado do avanco feito através da mensagem pregada pela fé reformada na Franca, ainda em meados do século XVI: Segundo uma lista preparada pelo Almirante de Coligny em marco de 1562, havia na Franga, aquela altura, 2.150 igrejas de huguenotes. E complicado confirmar esses ntimeros; porém, seria razoavel sugerir que havia, pelo menos, 1.250 dessas igrejas, com uma membresia total de mais de dois milhdes, dentre uma populacao nacional de 20 milhées de habitantes. Considerac¢ées finais Concluindo, gostaria de relembrar um evento histérico mais proximo de nés. Refiro-me a histéria do protestantismo brasileiro. Ainda no periodo do Brasil Colonial (1500-1822), apesar de tao pouco tempo do “descobrimento/achamento” do Brasil, e mesmo com uma tremenda investida por parte da Igreja Catélica Apostolica Romana, a Contra-Reforma - movimento catélico que tinha como objetivo inibir o avanco da Reforma Protestante -, nao foi suficiente para impedir a fé reformada chegar ao Brasil. Nos relatos histéricos que tratam do periodo da Franga Antartica (1555-1567), encontramos a grande contribuicao de Calvino no envio dos huguenotes: [...] no dia 10 de novembro de 1555 chegaram a Baia de Guanabara, trés navios com 600 tripulantes e passageiros, tendo no comando o navegador e aventureiro Nicolau Durant de Villegaignon (pelo seu procedimento de traicéo para com os huguenotes, ficou conhecido como 0 Caim da América), de 45 anos, ora cat6lico ora protestante [...]. No dia 7 de marco de 1557, um ano e trés meses depois da primeira expedicdo, chegou a segunda leva de franceses: cerca de 300 colonos, catélicos e sem religiéo em sua maioria. Com eles vieram quartoze huguenotes de Genebra, enviados A visdo missiondria do reformador Joao Calvino 175 por Joao Calvino - 0 qual foi comunicado do pedido pelo chefe dos huguenotes 0 almirante Gaspar de Coligny - [...]. No dia 10 de marco realizou-se o primeiro culto reformado [...]. Onze dias depois, 21 de marco, foi organizada a primeira Igreja Evangélica no Brasil e da América do Sul.” (CESAR, 2000, p. 37-38)! Dessa maneira, a vinda dos huguenotes para a Baia da Guanabara, apesar do seu tempo tao efémero e de ter tido um final triste, tem o seu valor historico, pois esse fato fez com que ficasse registrado o primeiro culto protestante nas Américas, que se tenha conhecimento, bem como a elaboracao da primeira Confissao de Fé das Américas, conhecida como Confissao de Fé da Guanabara (ou Fluminense), e, acima de tudo, esse também 6 0 registro que temos dos primeiros mértires protestantes das Américas. Tudo isso como resultado da vinda dos protestantes huguenotes. Esse acontecimento serviu como motivacdo para que outros se sentissem encorajados a servir ao Senhor fora da sua patria. Estou convicto de que este nosso artigo contempla apenas uma sintese raquitica da acdo missiondria do reformador Joao Calvino. Desejamos, porém, que sirva como um motivador a mais para a realizacao de outras pesquisas. ABSTRACT: This article aims to make a contribution as to undue the misunderstanding according to which the sixteenth century reformers were not given to missions. We are going to argue from the life of the reformer John Calvin. In this connection, we will consider what Calvin thought about missions and how he acted upon it. In order to accomplish our goal, we researched some of his writings, such as Bible commentaries, letters as well as the opinion of other authors about the subject in view. Keywords: Identity and religion. Missions. Protestant reformation. Antarctic France. Calvinism. 5 Para compreender esse periodo e o final dessa historia, ver os livros: A tragédia da Guanabara, de Jean Crespin, e Viagem 4 Terra do Brasil, de Jean de Léry. Léry foi um dos integrantes da comitiva que chegou em 1557 trazendo os calvinistas solicitados por Villegaignon. Ainda durante o periodo do Brasil Colénia, houve a segunda tentativa de implantagao da fé reformada calvinista, através dos holandeses (1630-1654), especificamente com Mauricio de Nassau. Para melhor conhecimento desse periodo, ver a obra do Rev. Frans Leonard, Igreja e Estado no Brasil Holandés. 176 Revista Reflexdo Teolégica, N° 3 (2013): 167-176 Referéncias BARRO, Ant6nio Carlos. A consciéncia missiondria de Calvino. Revista Fides Reformata, v.3, n® 1, Jan-Jun 1998. BETTENSON, H. Documentos da Igreja Crista. Sao Paulo: ASTE, 1998. CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos - uma historia da igreja crista. Sao Paulo: Vida Nova, 1995. CALVIN, John. Calvin’s Commentaries, vol. 17, Rapids - Harmony of Matthew, Mark, and Luke. Baker Book House Company, Grand MI. 2003. CESAR, Elben M. Lenz, Historia da Evangelizacao do Brasil, 2000. COSTA, Hermisten Maia Pereira da, Joéo Calvino 500 anos - Introdu¢ao ao seu pensamento e obra. Sao Paulo: Cultura Crista, 2009. FERREIRA, Wilson Castro, Calvino: vida, influéncia e teologia. Sao Paulo: CEP, 1990 GEORGE, Timothy, Teologia dos Reformadores. Sao Paulo: Vida Nova, 1994. LAWSON, Steven J. A arte expositiva de Joao Calvino. Sao Paulo: FIEL, 2010. LEITH, J. H. A tradicao reformada: uma maneira de ver a comunidade crista. Sao Paulo: Pendao Real, 1996. McGRATH, Alister. A vida de Joao Calvino, Sao Paulo, Cultura Crista, 2004. SILVA, Jouberto Henriger, A Musica na Liturgia de Calvino em Genebra. Revista Fides Reformata, v. 7, n° 2, Jul-Dez 2002. SILVESTRE, Armando Araujo, Calvino e a resisténcia ao Estado, Mackenzie, Sao Paulo 2002. WALKER, W. Histéria da Igreja Crista. Rio de Janeiro: JUERP e ASTE, 1983. 3 aaa iteM iis (oNtstuey do reformador Joao Calvino BTM 100 Bolo}

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