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© AUXILIAR JUDICIARIO TJ/PA = DIREITO CIVIL Pento AULA 05 ~ FATOS JURIDICOS (2 Parte}: NEGOCIO JURIDIC Fatos Juridicos — 2* Parte Negocio Juridico tens especificos do edital que seréo abordados nesta aula > FATOS JURIDICOS (28 Parte). Negécios Juridicos: conceito, classificagao, elementos essenciais gerais e particulares, elementos acidentais. Defeitos. Nulidade: nulidade absoluta e relativa. *Legisiagéo a ser consultada —> Cédigo Civil: arts. 104 até 184 (Negécio Juridico); art. 185 (Atos Juridicos Licitos); arts. 212 até 232 (Prova). Meus Amigos e Alunos Antes de comegar, um aviso... Esta aula acabou ficando grande... Nao tanto pela aula em si (parte teérica). Mas principalmente pela grande quantidade de exercicios que coloquei. Como esta aula pode ser considerada como continuacéio da anterior, devemos recordar que a expresso fato juridico é bem ampla; ela refere-se a todo acontecimento natural gy_humano que a lei atribui efeitos juridicos. 14 analisamos 0 fato juridico natural (também chamado de fato juridico em sentido estrito), sua classificagéo, a prescrigéo e a decadéncia, etc. Hoje vamos nos ater ao FATO JURIDICO HUMANO, que é o acontecimento que depende da vontade humana (ha quem diga que o termo “vontade humana” seria uma redundéncia, pois somente o homem teria vontade; no entanto a expresso tem sido aceita normalmente pela doutrina), abrangendo tanto os atos lcitos como os ilicitos. Apesar de grande, a aula de hoje é mais “light” do que a anterior, pois € menos teérica e mais dinémica. Além disso, estaremos diante de muitos casos que vivenciamos em nosso dia a dia. Por causa disso, nunca é demais AUXILIAR JUDICIARIO TJ/PA lembrar que este é um curso preparatério PARA CONCURSOS. Portanto, néo devemos nos perder em fatos particulares que podem ocorrer em nossas vidas, mas que néo trazem nenhuma repercussdo para a nossa. O importante agora é conhecer cada um dos institutos dos quais falaremos e as suas peculiaridades, visando o concurso para o qual estamos nos preparando. Inicialmente fornecemos nosso pequeno sumario, possibilitando o aluno localizar melhor os temas abordados em aula, indo DIRETO AO PONTO. Sumario ATO JURIDICO (Sentido Estrito) .. NEGOCIO JURIDICO .. Classificag&o dos Negécios Juridicos . ELEMENTOS CONSTITUTIVOS Elementos Essenciais Gerais Capacidade do Agente Objeto. Consentimento .... Defeitos relativos ao Consentimento: Erro ou Ignorancia Dolo. Coacao ... Estado de Perigo. Lesdo .. Fraude contra Credores Simulacao... Elementos Essenciais Especiais Forma Prescrita ou Nao Defesa em Lei Elementos Naturais.. Elementos Acidentais . Condigao Termo . Modo ou Encargo. Invalidade do Negécio Juridico .. Ato Inexistente, Nulo e Ato Anulavel . Convers&o do Negécio Nulo. Prova do Negécio Juridico.. RESUMO ESQUEMATICO DA AULA. Bibliografia Basica . EXERCICIOS COMENTADOS.. © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part Como vimos, o fato juridico humano (que depende da vontade) pode ser subdividido em ato juridico (em sentido amplo) e ato ilicito. O ato juridico licito € © praticado em conformidade com a ordem juridica, Sua consequéncia é a obtencio de um direito. J4 a pratica do ato ilicito gera o dever de reparar os danos. Vamos analisar as particularidades de cada item desta subdivisdo: 1. ATO LICITO (também chamado de ato juridico em sentido amplo ou ato juridico voluntério). Praticado em conformidade com a ordem juridica. Subdivide-se em: a) Ato Juridico em Sentido Estrito (stricto sensu), também chamado de ato juridico meramente licito ou ato naio-negocial: ha a participagéo humana (voluntaria, consciente e licita), no entanto os efeitos séo os impostos pela lei e nao pelas partes interessadas. Tem por objetivo a mera manifestag&o de vontade do agente, sem contetido negocial, que determina a produgio de efeitos legalmente previstos. A vontade é importante para a realizagio do ato, mas no quanto & producéo dos efeitos desde ato, pois eles decorrem da lei, néo havendo regulamentacéo da autonomia privada. O ato surge como mero pressuposto de efeito juridico preordenado pela lei sem func&o e natureza de autorregulamento. Ex.: 0 reconhecimento de um filho, a fixacio de domicilio, o perdao, a confissdo, etc. b) Negécio Juridico: hd a participagSo humana e os efeitos desta participago so ditados pela prépria manifestacéo de vontade; os efeitos so os desejados pelas partes (ex.: contrato, testamento, etc.). Ha, portanto, autonomia privada; autorregulagSo de interesses particulares, harmonizando vontades que aparentam ser antagénicas e que se subordinam as disposigdes comuns. Ex.: um contrato (de locagéio, de compra e venda, etc.), um testamento, a adogao, etc. 2. ATO ILICITO (também chamado de fato juridico involuntario). praticado em desacordo com a ordem juridica. Quando a conduta (consciente e voluntaria) do ser humano transgride um dever juridico, acarretando consequéncias juridicas alheias a vontade do agente (efeitos juridicos involuntarios, impostos pela lei), como a reparacéo do dano (que veremos na préxima aula, oportunidade em que também analisaremos a responsabilidade civil). © ato ilicito, embora seja um fato juridico (pois causa repercussao no direito) n&o é ato juridico, pois a caracteristica essencial do ato juridico é que este tem de ser licito. O ato ilicito, ao invés de direitos, cria deveres (indenizag&o, reparag&o do dano). @ observacdo. Parte da doutrina ainda se refere ao “ato-fato juridico”, que seria uma categoria intermediaria entre o ato da natureza e o fato do homem. Ocorre nas situaces em que a lei encara a ag3o humana como um AUXILIAR JUDICIARIO TJ/PA AULA 05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Par IREITO CIVIL NEGOCIO JURIDICO © fato, sem levar em considerasdo @ vontade, a intencéo ou a consciéncia do agente. E a manifestacéio de vontade em que se despreza a capacidade do agente, preocupando-se 0 direito apenas com a legitimidade dos efeitos produzidos, Exemplos cléssicos: crianga de 10 anos que compra um doce em uma padaria, ou um salgado na lanchonete da escola, ou um doente mental que pinta um quadro que se torna uma obra de arte. Vamos agora analisar o ato juridico em sentido estrito e o negécio juridico, que so espécies do género ato juridico licito (ou ato juridico em sentido amplo).. Como vimos, no ato juridico em sentido estrito hé uma realizacéio de vontade do agente, mas as suas consequéncias sdo as previstas em lei e n&o as que porventura queiram as partes. Por isso ele é pobre em contetido. Quem pratica um ato juridico em sentido estrito obtém apenas o efeito ja preestabelecido na lei e ndo os desejados pelas partes interessadas. © exemplo classico € 0 reconhecimento de um filho, Digamos que uma pessoa (“A”) teve um relacionamento amoroso fora do casamento. Desse relacionamento nasceu um filho ("B”). “A” quer apenas reconhecer “B” como seu filho. Mas ao fazé-lo, independentemente da sua vontade (e também da vontade do filho), surgem diversos efeitos legais, obrigatérios, como o direito ao nome, poder familiar, obrigac&o de prestar alimentos, direitos sucessérios, etc. Assim, reconhecido um filho, os efeitos decorrentes do ato néo dependem da vontade da pessoa que fez o reconhecimento, mas sim da lei. Por tal motivo, no se pode reconhecer um filho sob condigdes, a termo ou com encargos. Vamos supor que no exemplo dado, 0 pai reconhece o filho, mas faz algumas ressalvas: eu quero reconhecé-lo como meu filho, mas... eu sou casado... tenho outros filhos com minha esposa... ndo gostaria que esta pessoa reconhecida fosse meu herdeiro... (Pergunto: isso pode?) Mais... também n&o gostaria que esta pessoa tivesse 0 meu nome... afinal de contas € um filho havido fora do casamento... (Pergunto: isso pode?) E mais... além disso... ndo gostaria de ter que pagar a pensdo alimenticia... Mas 0 resto eu aceito... (Pergunto novamente: isso pode? Alids... 0 que seria este “resto”?). Resposta a todas as indagagdes: NAO!!! Légico que 0 pai nao pode fazer isso. Uma vez reconhecido um filho, 0 pai n&o pode dizer que nao deseja que ele seja seu herdeiro, ou que nao tenha o seu nome, ou se escuse de pagar a pensdo alimenticia. Como vimos, a situacéo “reconhecer um filho”, traz como consequéncias legais e obrigatérias todos aqueles efeitos acima citados. O © AUXILIAR JUDICIARIO TI/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA 05 ~ FATOS JURIDICOS (2# Parte): NEGOCIC pai pode desejar ou nao aqueles efeitos. Tanto faz... Os efeitos ocorrerao independentemente da vontade do agente, pois eles sdo impostos pela lei. Outros exemplos: 01) Quando uma pessoa estabelece residéncia em determinado local, com Animo de ficar teré como consequéncia legal a fixagdo de seu domicilio civil, embora ndo tenha se manifestado nesse sentido. 02) Quando uma pessoa notifica outra, obtém o efeito previsto na lei de constituir 0 devedor em mora. Ainda que o notificante nao queira este efeito, ele ocorre independentemente de sua vontade. S Resumindo © ato juridico em sentido estrito é o que gera consequéncias juridicas previstas em lei, independentemente da vontade das partes interessadas, ndo havendo regulamentaggo da autonomia privada. A doutrina acrescenta que estes atos so unilaterais, ou seja, basta uma tnica manifestac&o de vontade para que se tornem perfeitos. @ E interessante acrescentar que a doutrina ainda dé uma “complicada” classifieacdo, subdividindo o ato juridico em sentido estrito em duas espécies: a) Atos materiais (ou reais): simples atuag&o humana que Ihe dé existéncia imediata; no se destinam ao conhecimento de determinada pessoa, no hd um destinatdrio. Ex.: fixagdo e transferéncia de domicilio, ocupagao, abandono de coisas, descoberta de tesouro, acessao, etc. b) Participagdes: atos de mera comunicacéio, sem contetido negocial; 0 agente pratica o ato para dar conhecimento a outrem (destinatdrio determinado) de que tem certo propésito ou que ocorreu determinado fato. Ex.: notificacées, intimagées, interpelacdes, oposigées, etc. Negécio juridico € uma espécie do género ato juridico em sentido amplo. E 0 ato destinado & produgdo de efeitos juridicos, desejados pelo agente e tutelados pela lei. O agente escolhe os efeitos juridicos que pretende alcancar. Trata-se de toda manifestacaio de vontade com o propésito de atingir, dentro do campo da autonomia privada, os efeitos juridicos pretendidos, ou seja, os sujeitos de direito podem autorregular seus interesses, nos limites estabelecidos pela lei. E necessério acrescentar que esta manifestagdo de vontade deve ser feita sem haja qualquer vicio (que veremos mais adiante). © exemplo classico de negécio juridico € 0 contrato. Vamos tomar como exemplo o contrato de locacdo. Nele, uma das partes se compromete a fornecer a outra, durante certo lapso tempo, 0 uso e gozo de uma coisa infungivel. Por outro lado a outra parte se obriga a remunerar este uso. Trata-se © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part do aluguel. Os efeitos deste negécio devem ser totalmente previstos e desejados pelas partes. Qual o valor da locagéo? Qual o prazo da locagdo? Qual © dia que deve ser efetuado © pagamento? Qual o local em que o pagamento vai ser efetuado? © locatério deve pagar 0 IPTU? E 0 condominio do prédio? Quais as obrigagdes de cada parte durante o contrato? Todos estes itens (entre outros) so os efeitos do contrato. Todos eles podem ser “negociados” entre os contratantes (ao menos em tese). E, como regra, eles devem estar previstos e desejados pelas partes interessadas. A mesma situagdo pode ocorrer em todas as espécies de contratos. Por isso que 0 negécio juridico é o principal instrumento que as pessoas tém para realizar seus interesses. @ Lembrando © 0 contrato é apenas uma das varias espécies de negécio juridico. Aliés, 0 contrato é exemplo tipico de um negocio juridico bilateral. No entanto, 0 negécio juridico também pode ser unilateral. Neste caso 0 exemplo classico é 0 testamento. Quais os efeitos de um testamento? - Resposta: Tudo aquilo que o testador desejar (desde que nao contrarie a lei, a moral e os bons costumes)! Embora no testamento se produza os mais diversos © variados efeitos, temos apenas a yontade do testador, dai ele ser unilateral (diferentemente de um contrato, em que se leva em consideracao a vontade de ambos os contratantes). Eel pistincAo 4] Negécio Juridico X Ato Juridico em Sentido Estrito Vamos reforgar a idéia: ndo devemos confundir negécio juridico com 0 ato juridico em sentido estrito. Ambos decorrem de uma manifestagdéo de vontade. No entanto no ato juridico em sentido estrito 0 efeito da manifestacdo da vontade esta previsto na lei e ndo pode ser alterado. Este nao é exercicio de autonomia privada. Logo, 0 interesse objetivado n&o pode ser regulado pelo particular e a sua satisfacéio se concretiza no modo determinado pela lei. J4 no negécio juridico, o efeito da manifestaco da vontade é 0 desejado pelas partes; © fim procurado pelas partes baseia-se na autonomia da vontade privada. O negécio leva em consideragao o fim procurado pela parte (ou partes) e a esse fim a ordem juridica adapta os efeitos. [] Resumindo: no ato juridico em sentido estrito a pessoa pratica uma conduta e os efeitos desta conduta sdo automaticos, independente da vontade de quem o pratica; j4 no negécio juridico a pessoa pratica uma conduta e os efeitos da conduta so os desejados pelas partes. No contrato de adesio existe autonomia privada? Alguns autores afirmam que © contrato de adeséio é mais fruto da “autoridade privada” do que a autonomia privada. Ainda que limitada, existe autonomia, mesmo que apenas para assinar ou nao o contrato (autonomia minima). © AUXILIAR JUDICIARIO TI/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA 05 ~ FATOS JURIDICOS (2# Parte): NEGOCIC A classificaclo dos negécios juridicos é muito grande. Levando-se em consideragéo 0 que tem caido nos concursos ptblicos e segundo a melhor doutrina sobre o tema (embora n&o haja uma uniformidade), classificamos os negécios juridicos em: A) Quanto ao numero de manifestacées de vontade 1. Unilaterais: quando a declaragio de vontade emana de uma ou mais pessoas, mas sempre na mesma direcdo visando um Unico objetivo. Ou seja, © ato se aperfeicoa com uma Unica manifestacio de vontade (uma parte), havendo apenas um polo na relagdo juridica. Por tal motivo é desnecesséria a aceitagéo de terceiros para que o ato seja valido e produza efeitos. Ex testamento, rentncia, desisténcia, promessa de recompensa, confissdo de divida, instituigéo de uma fundagao, etc. Podem ser subdivididos em: a) Recepticios (enderegada): quando a declaracao é dirigida a determinada pessoa, com a finalidade de se levar ao seu conhecimento a intengéo do declarante para que possa produzir os efeitos desejados. Ex.: 2 revogacao de mandato (ou seja, de uma procuragao). Se eu revogo uma procuracéo, devo comunicar isso & pessoa a quem eu outorguei os poderes. Percebam que o ato é unilateral (pois a revogacdo sé depende da minha vontade), mas eu devo comunicar a minha decisdo a outra parte para gerar efeitos juridicos (por isso 0 ato é chamado de recepticio). Qutros exemplos: a proposta de um contrato, a escolha nas obrigagées alternativas. Alguns contratos possuem um duplo objeto alternativo: eu posso escolher uma coisa ou outra. Feita a escolha devo comunicar a outra parte para surtir efeitos. b) Nao-recepticios (néo enderecada): quando a declaragio de vontade no é dirigida a uma pessoa determinada, sendo que o conhecimento do fato por parte da outra pessoa é irrelevante. Ex.: testamento. Quando eu faco 0 meu testamento, nada mais precisa ser feito; ndo preciso comunicar ninguém desse fato, nem mesmo os beneficiados. Qutros _exemplos: revogacéo de testamento e renuncia de heranca. Basta que eu renuncie & heranca de forma expressa; ndo € necessério que os demais interessados na heranca sejam comunicados deste fato para que o ato seja valido e operante. Obs.: ficou claro que pessoa ndo se confunde com parte? Por esse motivo é que podemos ter mais de uma pessoa praticando um ato unilateral; no entanto todas elas devem figurar no mesmo polo, integrando a mesma parte na relag&o juridica. © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part 2. Bilaterais: quando a declaracio de vontade emana de duas manifestagdes de vontade em sentido contrario, mas coincidentes sobre 0 objeto (consentimento mituo ou acordo de vontades). Neste caso hé dois polos na relagdo juridica. Exemplo classico: compra e venda. Neste contrato temos duas_manifestagdes de vontade que estéo em polos opostos (comprador e vendedor), mas que firmam consentimento em relacéo ao objeto da venda. Outros exemplos: além dos contratos em geral (locacdo, seguro, transporte, etc.) um bom exemplo é 0 perddo ("A" pode perdoar “B”; mas este perddo somente surtird efeitos se “B” aceitar 0 perddo). O negécio juridico bilateral ainda pode ser subdividide em: a) simples: quando somente uma das partes aufere vantagens, enquanto a outra arca com os énus (ex.: doagdo, depésito gratuito, etc.). b) sinalagmatico: quando hé uma reciprocidade de direitos e obrigagdes para as partes (gera obrigagdes para ambas), estando elas em situacdo de igualdade (ex.: compra e venda, locagao, etc.). Obs.: mais uma vez percebam que pode haver varias pessoas no polo ative e outras varias no polo passivo e ainda assim teremos apenas duas partes. 3. Plurilaterais: contratos que envolvem mais de duas partes, onde se conjugam vontades paralelas. Ex.: contrato de sociedade com mais de dois sécios, consércios de bens méveis e iméveis, etc. B) Quanto as vantagens patrimoniais (vantagem x sacrificio) 1. Gratuito: uma das partes suporta o sacrificio e a outra aufere vantagem; a pessoa assume determinada obrigagdo sem aguardar qualquer espécie de contraprestagao. Sao atos de liberalidade. Ex.: doacao simples. 2. Oneroso: ambos os contratantes possuem Gnus e vantagens reciprocas; hd uma prestac&o e uma contraprestagéo. A pessoa somente assume a obrigagao por esperar em contrapartida a outra obrigacdo. Ex.: locagéo (paga- se 0 aluguel e usa-se a coisa alheia), compra e venda (paga-se o prego para se obter a coisa), efc. Os contratos onerosos se dividem em: a) comutativos: as prestagées de cada um dependem de um acontecimento certo e determinado (ex.: locacao). b) aleatérios: ha uma incerteza em relagdo as vantagens e sacrificios das prestagdes; depende de um acontecimento incerto, havendo, portanto, uma lea ou risco. Ex.: 0 contrato de seguro, para a seguradora é aleatério, pois © pagamento ou ndo da indenizac&o depende de um fato especifico previsto no contrato: o sinistro. © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part @ observacdes B 1) Alguns autores referem-se aos negécios bifrontes: so aqueles que a rigor so gratuitos, mas podem se tornar onerosos de acordo com a vontade das partes. Ex.: 0 contrato de mtituo (empréstimo de coisa fungivel) em regra é gratuito, mas as partes podem combinar uma remuneraciio. Outros exemplos: depésito e mandato. A conversdo sé € possivel se o contrato é definido na lei como gratuito, pois a vontade das partes néo pode transformar o contrato oneroso em benéfico. Além disso, nem todos os contratos gratuitos podem ser convertidos (ex.: a doacao ficaria totalmente desfigurada se isso ocorresse). 2) A doutrina também se refere aos negécios neutros: quando nao houver atribuic&o patrimonial especifica no negécio jurfdico, néo podendo ser caracterizado nem como oneroso, nem como gratuito (ex.: instituig0 de bem de familia voluntério por meio de escritura publica). 3) Todo negécio oneroso é bilateral, pois a prestagéo de uma das partes envolve uma contraprestacdo. Mas nem todo negécio bilateral é oneroso. Ex.: doagio pura e simples é negécio bilateral (possui duas vontades: doador e donatério), porém gratuito. C) Quanto ao tempo em que devam produzir efeitos 1. Inter vivos: destinados a produzir efeitos durante a vida dos interessados. Ex.: locagdo, compra e venda, mandato, casamento, etc. 2. Causa mortis: somente produz efeitos (criando o direito) apés a morte do declarante; 0 evento morte é pressuposto de sua eficdcia. Ex.: testamento, codicilo (que é uma disposic&o de Ultima vontade de pequenas coisas, como um anel, roupas, livros), etc. @ observacdes B 1) © contrato de seguro de vida (ao contrario do que parece) & negécio juridico inter vivos, sendo que o evento morte funciona apenas como um termo. 2) Os negécios juridicos causa _mortis so sempre tipicos e nominados (definidos em lei); ou seja as partes ndo podem realizar negécios atiticos ou inominados desta natureza. D) Quanto a seus efeitos 1. Constitutivos: sua eficdcia opera-se ex nunc (ou seja, 0 negécio se torna eficaz a partir de sua conclusdo ou celebragao). Ex.: contrato de compra e venda. 2. Declarativos (ou declaratérios): sua eficdécia é ex tunc (ou seja, se efetiva a partir do momento em que se operou o fato a que se vincula a declaragéo de vontade, retroagindo_no tempo). Ex.: diviséo de condominio, partilha, reconhecimento de filho, etc. AUXILIAR JUDICIARIO TJ/PA AULA 05 — FATOS JURIDICOS (28 Pact IREITO CIVIL 2: NEGOCIO JURIDICO © (J obs.: ainda na aula de hoje falarei mais sobre os efeitos ex tunc e ex nunc. Estas expresses em latim merecem uma atencéo toda especial da nossa parte (no s6 no Direito Civil, mas no Direito como um todo). E) Quanto a subordinacéo 1. Principais: s&o aqueles que tém existéncia prépria e nao dependem de qualquer outro. Ex.: compra e venda, locagdo, doacao, etc. 2. Acessérios: sfo aqueles que tém a sua existéncia subordinada @ de um contrato principal. Exemplo classico: fianga. A fianca sé existe por causa de um contrato principal; ela nao tem existéncia juridica auténoma (lembrem-se da regra: “o acessério segue o principal”). Se eu sou 0 locador de um imével, quero que o locatério (inquilino) apresente um fiador, que ficaré responsdvel pelo pagamento da divida, caso o locatario néo cumpra com a obrigacéio. Logo o contrato de locagao é 0 principal e a fianga é 0 contrato acessério, que somente existe por causa do principal. Outro exemplo: clausula penal (que 6 a multa que pode ser pactuado no contrato, caso este nao seja cumprido). F) Quanto as formalidades 1. Solenes (formais): a lei exige uma forma especial para se aperfeigoarem; devem obedecer a uma solenidade especifica, prevista em lei. A doutrina faz uma pequena distingdo: a) Atos ad solemnitatem: quando a forma é exigida como condic&io de validade do ato; a formalidade é a propria esséncia ou substancia do ato. Ex.: escritura publica de compra e venda de imével acima de 30 vezes o maior salario minimo vigente (art. 108, CC); testamento publico ou cerrado que devem ser escritos ou provado, respectivamente, pelo tabeliao, etc. b) Atos probationem tantum: a lei néo determina uma forma para ser celebrado 0 ato, mas determina o modo que o ato deve ser provado em juizo, se isso for necessdrio em um processo; a solenidade é tida apenas como prova do ato. Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal s6 se admite nos negécios juridicos cujo valor nao ultrapasse 0 décuplo do maior saldrio minimo vigente no Pais ao tempo em que foram celebrados. Paragrafo Unico. Qualquer que seja o valor do negécio juridico, a prova testemunhal é admissivel como subsididria ou complementar da prova por escrito. 2. N&o solenes (forma livre): a lei n&o exige formalidades para seu aperfeigoamento, podendo ser celebrado por qualquer forma, inclusive verbal. Ex.: locagéo, compra e venda de bens méveis, etc. Em regra os contratos tém forma livre, salvo excecdes expressas na lei. © AUXILIAR JUDICIARIO TI/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA 05 ~ FATOS JURIDICOS (2# Parte): NEGOCIC G) Quanto as pessoas 1. Impessoais: independe de quem sejam as partes e de eventual qualidade especial destas para a pratica do ato, Ex.: contrato uma pessoa para pintar um muro (qualquer pessoa pode pintar um muro; néo ha uma habilidade especial para isso). 2. Intuitu personae: 0 ato se realiza em fung&o das qualidades especiais de uma pessoa. Ex.: desejo ser operado por cirurgigo de minha confianca; desejo ser defendido no Tribunal do Juri pelo advogado "X”; quero que o famoso pintor "Z” pinte um quadro para mim, etc. H) Quanto a causa 1. Causais: estéo vinculados a uma causa. Ex.: o registro da escritura de um imével esté sempre ligado & existéncia da escritura de compra e venda deste imével; se a compra e venda for defeituosa, 0 registro também o seré. 2. Abstratos: estéo desvinculados de qualquer outro negécio. Ex.: compro uma casa pagando com um cheque; a emisséo deste é desvinculada; se a compra e venda for considerada nula, 0 cheque continuaré valendo, principalmente se estiver nas méos de terceiros. bs.: Como da para perceber, a mesma espécie de negécio juridico pode se enquadrar em mais de uma categoria de classificagéo, sem que haja incompatibilidade nisso. Alguns elementos do negécio juridico séo chamados de essencials porque constituem elementos de existéncia e¢_validade. Se o negécio possui tais elementos ele sera valido e produzira efeitos. Se faltar alguns desses elementos © negécio serd invélido e n&o produziré efeitos. J4 outros elementos séo chamados de acidentais, pois sio requisitos de eficdcia do negécio. Para alguns autores como Pontes de Miranda, 0 negécio juridico é dividido em trés planos, o que gera um esquema gréfico como uma escada com trés degraus, denominada, em sua homenagem, de escada ponteana. Vejamos. Primeiro degrau. Plano da existéncia. E onde se encontram os seus elementos minimos. Sem eles, 0 negécio simplesmente nao existe. Sao os substantivos (partes ou agentes, objeto, vontade e forma) sem qualquer adjetivo. Se faltar um desses elementos 0 negécio simplesmente nao existe. Segundo degrau. Plano da validade. Neste plano os substantivos recebem os adjetivos. Ndo basta haver partes... elas devem ser capazes. Nao basta haver © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part objeto, ele deve ser licito, possivel, determinado ou determinavel. Nao basta haver vontade, esta deve ser manifestada de forma livre e consciente e sem que prejudique terceiros (isenta de vicios). Nao basta haver forma... ela deve ser prescrita ou nao defesa em lei. Se surgir algum vicio acerca da validade, 0 negocio juridico seré nulo (arts. 166 e 167, CC) ou anuldvel (art. 171, CC). Terceiro degrau. Plano da eficdcia. S80 as consequéncias do negécio juridico, seus efeitos praticos no caso concreto. Séo elementos acidenta condig&o, termo e encargo. Duvida doutrinéria: O atual Cédigo Civil adotou a tricotomia: existéncia- validade-eficdcia? Resposta: Nao! Nosso Cédigo nada trata sobre o plano da existéncia. Observem que o art. 104, CC ja comeca a tratar do plano de validade. Além disso, como veremos, 0 Cédigo apenas disciplinou regras sobre a nulidade relativa e a absoluta, ndo se referindo a inexisténcia do negécio. Portanto, segundo a doutrina dominante, o plano da existéncia ficou embutido implicitamente no plano da validade. 30 Plano. Eficacia. Elementos Acidentais + Condigéo + Termo + Modo ou Encargo - Podem ou nao estar no negécio 20 Plano. Validade. 1° Plano. Existéncia. Elementos Essenciais do Negécio Juridico * Partes ou agentes: capazes + Objeto: licito, possivel, determinado ou determinavel + Forma: prescrita ou nao defesa em lei + Vontade: livre e consciente (sem vicios) © AUXILIAR JUDICIARIO TI/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA 05 ~ FATOS JURIDICOS (2# Parte): NEGOCIC Vamos agora apresentar um grafico geral e panordmico dos elementos constitutivos do negécio juridico. A seguir vamos analisar cada um destes elementos de forma pormenorizada. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS I. Elementos Essenciais: s&o os dizem respeito a existéncia e validade do negécio juridico, dando-Ihe a estrutura e a substancia. A) Gerais (comuns a todos os negécios): 1. Partes ou agentes: capazes. 2. Objeto: licito, possivel, determinado ou determinavel. 3. Vontade (consentimento): livre e consciente, sem prejudicar terceiros (sem vicios). B) Especiais (aplicdveis somente a alguns negécios) 1. Forma: prescrita ou nao defesa em lei. II. Elementos Naturais: so os efeitos ou as consequéncias decorrentes do préprio negécio juridico. III. Elementos Acidentais: so elementos facultativos; podem ou nao ser estipulados e dizem respeito, nao a existéncia ou validade propriamente dita do negécio juridico, mas sim a sua eficacia. 1. Condic&o. 2. Termo. 3. Modo ou Encargo. Como vimos, os elementos essenciais do negécio juridico estéo previstos na lei (art. 104, CC). Sd eles: agente capaz (elemento subjetivo), objeto licito, possivel, determinado ou determinavel (elemento objetivo) e forma prescrita ou nao defesa em lei. Apesar de nao estar previsto expressamente no art. 104, CC, a doutrina ainda acrescenta 0 consentimento (vontade livre e consciente que corresponda efetivamente a0 que almeja o agente). Isso porque caso néo haja o consentimento, 0 negécio estaré viciado, tornando passivel de anulagdo. A capacidade, 0 objeto e a vontade so chamados de elementos gerais, porque so elementos comuns a todos os negécios juridicos. J4 a forma é elemento especial, pois diz respeito apenas alguns negécios. Nem todos os negécios juridicos exigem uma forma especial. © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part A) CAPACIDADE DO AGENTE Se todo negécio juridico pressupde uma declaracdo de vontade, a capacidade do agente é indispensavel, pois é a aptiddo para intervir nos negécios juridicos. Trata-se da capacidade de fato ou de exercicio (pessoa dotada de consciéncia e vontade reconhecida pela lei como apta a exercer todos os atos da vida civil), j4 analisada anteriormente. Os arts. 3° e 4° do Cédigo Civil apresentam o rol dos incapazes (absoluta ou relativamente). Jé analisamos quem s&io essas pessoas. Se alguém ficou com duvida, retorne a aula sobre pessoas naturais. E imprescindivel o conhecimento dessa matéria para a compreensao do que falaremos a seguir. No caso de eventual incapacidade, esta deverd ser suprida pelos meios legais. Enquanto os absolutamente incapazes séo representados em seus interesses por seus pais, tutores e curadores, os relativamente incapazes (embora jé possam participar pessoalmente dos negécios juridicos) devem ser assistidos pelas pessoas a quem a lei determinar. O ato praticado pelo absolutamente incapaz sem representacéo é nulo. J4 o ato realizado pelo relativamente incapaz sem assisténcia é anuldvel. Ainda hoje veremos a disting&o entre 0 ato nulo e o anulavel. Lembrando que o vicio da incapacidade é um instrumento que age a favor do incapaz, para protegé-lo. EE] Incapacidade KJ + Absolutamente incapazes (art. 3°, CC) » Devem ser representados ~ Falta de representagdo —» Negécio Juridico Nulo (art. 166, I, CC). + Relativamente incapazes (art. 4°, CC) -» Devem ser assistidos — Falta de assisténcia + Negécio Juridico Anulavel (art. 171, I, CC). Estabelece o art. 1.634, CC: Compete aos pais, quanto a pessoa dos filhos menores: (...) V. representé-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, apés essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-Ihes 0 consentimento. E interessante acrescentar que o art. 105, CC determina que a incapacidade relativa de uma das partes n&o pode ser invocada pela outra em beneficio proprio, nem aproveita aos outros interessados. Isto porque a intencdo da lei é proteger o incapaz contra a maior experiéncia e mé-fé de terceiros que desejam tirar proveito desta situacdo. Assim néo pode uma pessoa capaz realizar um negécio com um incapaz e ele proprio (o capaz) requerer a invalidade do negécio com fundamento de que a outra parte era incapaz. A incapacidade é uma excegao (forma de defesa) pessoal. Por isso somente pode ser alegada pelo préprio incapaz ou seu representante legal. Mas, como quase tudo, aqui também ha uma exceg&o. Se a obrigac’o for indivisivel (ex.: entregar um cavalo), mesmo que as demais partes forem capazes, néo © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part ser possivel separar o interesse dos contratantes. Neste caso, a incapacidade de um deles poderé tornar anulavel o ato praticado, mesmo que o vicio tenha sido alegado por uma pessoa capaz. Portanto, nesta hipétese, o vicio se estenderé para toda a obrigacdo, sendo 0 negécio anulado. Resumindo » Pessoa sabia da incapacidade relativa da outra parte -> 0 vicio nao pode seralegado em beneficio préprio. » Pessoa no sabia da incapacidade relativa —> 0 vicio pode ser alegado: + Regra: a anulacgo ndo aproveita aos demais cointeressados. + Excecio: aproveita aos demais se a obrigacio for indivisivel. Ha outro ponto interessante que iremos aprofundar mais a frente. Se o menor entre 16 e 18 anos praticar um ato sem assisténcia, escondendo dolosamente a sua condiggo de relativamente incapaz, nao poderé alegar este vicio para anular o negécio e escapar da obrigac&o contraida (art. 180, CC). PelAtencao [4 Nao confundir incapacidade com falta de legitimacao, que é a incapacidade para a pratica de um determinado ato. Ex.: uma pessoa maior e capaz no esta legitimada a vender um bem, ainda que seja de sua propriedade exclusiva, a um descendente seu, enquanto néo obtiver o consentimento de seu cénjuge e dos demais descendentes (art. 496, CC). Recordando 8 A pessoa juridica deve ser representada por uma pessoa fisica (ou natural) ativa e/ou passivamente, exteriorizando sua vontade, nos atos judiciais ou extrajudiciais. Ou seja, é necessério que haja uma pessoa natural para assumir os compromissos ¢ assinar os contratos da pessoa juridica, exprimindo sua vontade e executando os seus objetivos. Em regra essa pessoa & a indicada no estatuto ou no contrato social da pessoa juridica. Na sua omisséo, a representacao serd exercida por seus diretores. Trata-se, assim, de uma representacéo imprépria. Representagaio Os artigos de 115 a 120 CC tratam da representagéo. Esta é uma relac&o juridica pela qual certa pessoa se obriga diretamente perante terceiro, através de ato praticado em seu nome por um representante. O art. 115, CC delimita as situagdes possiveis para a sua realizacéio: conferido por lei ou pelo préprio interessado (mandato). Assim, séo espécies de representantes: a) Legais: a propria norma juridica confere poderes para uma pessoa administrar bens alheios; servem aos interesses do incapaz. Ex.: pais, tutores e curadores, em relacéo aos bens dos filhos, tutelados e curatelados. © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part b) Judiciais: s8o as pessoas nomeadas pelo Juiz para exercer certo cargo em um determinado processo. Ex.: administrador judicial de uma faléncia, inventariante, etc. c) Convencionais: so aqueles que tem um mandato, expresso ou tacito, verbal ou escrito do representado. Ex.: procuragao outorgada (fornecida) a um advogado para patrocinar um processo judicial. Somente nesta espécie de representacéo 6 possivel o substabelecimento. Substabelecer significa transferir a outra pessoa os poderes que 0 mandatédrio recebeu do mandante. Ex.: "A" (representado ou mandante) outorgou poderes para “B” (representante ou mandatério) defender seus interesses em um proceso trabalhista conta a empresa “X”. Como no dia designado para a audiéncia “B” nao iré comparecer, pode substabelecer (transferir) os poderes que recebeu para “D", que é outro Advogado. O representante deve provar as pessoas com quem tratar (em nome do representado) a sua qualidade e a extensdo de seus poderes, sob pena de nao o fazendo, responder pelos atos que excederem a representacdo. Prevé o art. 116, CC que a manifestacéo de vontade pelo representante, ao efetivar um negécio em nome do representado, nos limites dos poderes que Ihe foram conferidos, produz efeitos juridicos em relag&o ao representado. Ou seja, 0 representante pratica o ato; mas é 0 representado que iré adquirir os direitos ou assumir as obrigacdes decorrentes da representacao. © art. 117, CC autoriza o chamado “contrato consigo mesmo” (ou autocontrato), isto é, uma sé pessoa esta revestida das duas qualidades juridicas diferentes, de forma simultanea: ora por si, ora representando um terceiro. Mas isso somente é possivel se houver permisséo da lei ou do representado, sob pena de anulag&o. O exemple classico ocorre no cumprimento do chamado mandato em causa prépria, onde o mandatério é também o beneficiério. Ex.: A confere mandato para B para vender seu apartamento, com autorizagéo para que B venda o imével para ele mesmo = B. Neste caso, quando for feita a escritura, B intervird, ora representando A (como mandatério), ora em seu préprio nome (comprando o imével). Notem, que mesmo nesta hipétese, B manifesta sua vontade sob dois ngulos diferentes (como vendedor, representando A e como comprador, em nome préprio). Observer que séo duas vontades juridicas diferentes. Jé 0 art. 119, CC prevé que se o representante concluir um negécio e houver um conflito de interesses com o representado, sendo que tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou, o negécio também serd anulavel. © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part B) OBJETO LICITO, POSSIVEL, DETERMINADO OU DETERMINAVEL O direito somente atribui efeitos 4 vontade humana quando se procura alcangar objetivos licitos. Assim, além da capacidade das partes, para que um negécio juridico se repute valido e perfeito, deverd versar sobre um objeto licito, ou seja, n&o atenta contra a lei, a moral e os bons costumes. Ex.: na locacéio de um imével para fins residenciais, este é 0 objeto do contrato. Assim, eu no posso desvirtuar 0 que foi pactuado e explorar naquele imével (que era para fins residenciais) uma atividade ilicita, como por exemplo, a exploragéo da prostituic&o. Desta forma, se 0 objeto do contrato foi ilicito, nulo seré 0 negécio juridico. Outro exemplo: compra e venda de objeto roubado. Também neste caso haveré a nulidade absoluta do ato. Além disso, 0 objeto deve ser possivel, realizével. Se 0 negécio implicar prestagdes impossiveis, também seré considerado nulo. Esta impossibilidade pode ser juridica (proibida pelo ordenamento juridico: venda de heranga de pessoa viva - art. 426, CC) ou fisica (desrespeito as leis naturais ou fisicas: ir 4 lua e voltar em duas horas, etc.). Segundo a doutrina para tornar nulo o negécio a impossibilidade deve ser absoluta, ou seja, impraticdvel por quem quer que seja (atinge a todos sem distingo). Se a impossibilidade for apenas relativa, isto é, puder ser realizada por alguém (mesmo que no seja o devedor), n&o haverd obstaculo para o negécio, que continua valido. Finalmente deve ser o mesmo determinado ou, ao menos, determinavel, ou seja, possivel de determinagéo no futuro. Em outras palavras: 0 objeto deve ser previamente conhecido e individualizado ou devem existir critérios que permitam sua futura individualizacdo. Assim, admite-se a venda de coisa incerta (mas n&o indeterminada). No entanto ela deve ser indicada ao menos pelo género e pela quantidade, ainda que nao seja mencionada a qualidade, pois esta pode ser determinada posteriormente pela escolha. Impossibilidade inicial do objeto Um aspecto interessante do atual Cédigo Civil € o seu art. 106: “A impossibilidade inicial do objeto n&o invalida o negécio juridico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condico a que ele estiver subordinada”. Ou seja, quando da celebrac&o do contrato havia um vicio relativo em relacéo ao objeto, mas, durante a execucdo do contrato, este defeito deixou de existir. Assim, nosso Cédigo, consagrando o principio da maxima utilidade, prevé que tal vicio deixa de existir, estando superado. Reforcando: o defeito deve ser relativo, pois se for absoluto o negécio sera considerado nulo. EdaTENGAO EI objeto ilicito, impossivel, ou indeterminado > Negécio Juridico Nulo (art. 166, II CC). © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part C) CONSENTIMENTO (Vontade). Da Interpretagéo do Negécio Juridico. A manifestacio de vontade exerce papel imprescindivel no negécio juridico, sendo um elemento basico. Portanto, é necessdrio que esta vontade seja esponténea, livre de qualquer vicio. Inicialmente perguntamos: 0 que interessa mais ao Direito: a inteng&o ou a acd? Resposta: para o Direito o mais importante é a ago, ou seja, a vontade declarada, pois a intengdo, isoladamente, néo tem valor algum. Somente apés a manifestagdo de vontade declarada (por escrito, palavras, gestos ou sinais) é que a intengao serd levada em consideracéo. Portanto, a declaragéo de vontade € constituida de dois elementos: a) interno: real inteng&o do agente; b) externo: vontade declarada. O ideal é que a pessoa declare exatamente aquilo 0 que desejava. Deve haver uma perfeita harmonia entre o que ela queria e o que ela fez. Mas nem sempre um contrato traduz a exata vontade das partes. Por isso, algumas vezes ele deve ser interpretado, para se chegar a real intengdo das partes. INTERPRETAR © negécio juridico é delimitar o alcance da declarag&o de vontade. No entanto as cléusulas contratuais nao devem ser interpretadas de forma isolada, mas sim no contexto do contrato, em conjunto com as demais cldusulas. © consentimento pode ser expresso ou tacito. Seré expresso quando for declarado por escrito ou verbalmente, mas de maneira explicita. Sera considerado tacito se resultar de um comportamento do agente que demonstre, implicitamente, sua anuéncia, sua concordancia com a situacdo, desde que o negécio, por sua natureza ou por disposigao legal, ndo exija forma expressa. © siléncio pode importar em anuéncia, se as circunstancias e os usos 0 autorizarem e no for necessaria a declaragéo de vontade expressa (art. 111, CC). Ou seja, o siléncio somente tera valor juridico, como um fato gerador de um negécio, se a lei assim o permitir. Caso contrario o siléncio nao tem forca de declaracao de vontade. Portanto, no Direito, no é totalmente aceito 0 brocardo: “quem cala consente”. Em alguns casos (raros) ele se aplica, como na hipétese da doag&o pura, onde o siléncio do beneficidrio é considerado como aceitacdo, concluindo o contrato. Na pratica é 0 Juiz, diante de um caso conereto, que devera verificar se o siléncio representou ou n&o a vontade. No dizer de Machado de Assis: “O siléncio... € um tumulto”. Outro principio basico relative as declaragées de vontade 6 de que se atendera mais a intencao nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem (art. 112, CC). Ou seja, os negécios, de uma forma geral, podem conter alguma clausula duvidosa ou algum ponto controvertido, sendo necesséria uma interpretac&o. Pelo Cédigo esta interpretac&o deve procurar se © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part situar mais na vontade real dos contratantes, procurando as consequéncias e os efeitos desejados por eles, indagando sua real intencéio, do que no sentido literal do negécio (que seria 0 exame gramatical de forma “fria” de um texto do contrato). Trata-se da chamada teoria da confianga, que mantém intima relacéio com o principio da boa-fé objetiva. Além disso, os negécios juridicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebrac&o (art. 113, CC). Trata-se de referéncia & boa-fé objetiva que representa um dever de conduta das partes, de acordo com a lealdade, honestidade, confianga, etc. (a expresso “boa-fé” deriva do latim bona fide, que significa boa confianga, ou seja, 6 a conviccéo de alguém que acredita estar agindo de acordo com a lei, na prética ou na omiss&o de determinado ato). A boa-fé se presume. De forma contréria, a ma-fé precisa ser provada. © art. 114, CC estabelece uma ressalva. Os negécios juridicos benéficos (também chamados de gratuitos, pois envolvem uma liberalidade, onde uma das partes se obriga e a outra aufere vantagens, como na doagdo pura e simples) e a rentncia (ato unilateral em que a parte abre mo de um direito, faculdade ou vantagem) interpretam-se estritamente. Ou seja, segundo a lei tais atos se limitam apenas ao que foi estabelecido pelas partes, sem incluir outras questées. Isto é, nem o Juiz poderd dar a estes negécios uma interpretagéo mais ampla, devendo ficar restrito ao que foi estipulado pelas partes. Um exemplo cléssico disso é a fianga nos contratos de locac&o: sua natureza é gratuita, portanto € considerado um negécio juridico benéfico; por tal motive, se houver alguma duvida quanto a sua abrangéncia, esta deve ser resolvida fazendo-se uma interpretagdo restritiva, ou seja, em favor daquele que prestou a fianga (no caso o fiador), ndo se ampliando as obrigacdes do mesmo (confiram o art. 819, CC). Finalmente, acrescente-se, que ha outros dispositivos estabelecendo regras sobre a interpretacdo da vontade. O art. 423, CC, por exemplo, prevé que quando houver no gontrato de adesdo cléusulas ambiguas ou contraditérias, acolhe-se a interpretagio mais favoravel ao aderente. Merece destaque especial também o art. 47 do Cédigo de Defesa do Consumidor (CDC) que dispde que “as cldusulas contratuais sero interpretadas de maneira mais favoravel ao consumidor”. Outros: a intengéo das partes pode ser apurada pelo modo como vinham executando o contrato até ent&o; na diivida deve-se interpretar 0 contrato de forma menos onerosa para o devedor; as cldusulas contratuais devem ser entendidas como um todo e nao interpretadas de forma isolada, etc. AUXILIAR JUDICIARIO TJ/PA AULA 05 — FATOS JURIDICOS (28 Pact IREITO CIVIL 2: NEGOCIO JURIDICO © DEFEITOS Defeitos do negécio juridico s&o os vicios relativos & formacéo da vontade ou a sua declarag&o, tornando-o passivel de anulag&o. Pode ser grave (quando vicia 0 ato de forma definitiva) ou leve (quando 0 ato pode ser remediado pelo interessado). Podemos dizer que um ato é valido (quanto ao consentimento) “quando eu faco exatamente aquilo que eu queria fazer, desejando seus efeitos, sem que esta conduta prejudique terceiros”. Ou seja, as vezes eu posso ter feito algo que no era o que eu queria fazer (e quantas vezes isso ocorre conosco...); quero comprar algo e me engano... ou sou enganado. Qutras vezes quero fazer algo e fago aquilo que eu queria fazer. Mas o que eu fiz afeta direitos de terceiros, prejudicando _essas pessoas, que no foram partes do negécio principal, mas que foram lesados com a minha conduta. E importante notar que em qualquer uma destas duas situagées (fiz algo que nao queria gu fiz algo que eu queria, mas prejudiquei interesses de terceiros) surgem os chamados defeitos relativos a vontade. Assim, se existe uma vontade, porém sem a correspondéncia com aquela que o agente quer exteriorizar, 0 negécio juridico seré viciado ou deturpado, tornando-se anuldvel (art. 171, II, CC), se no prazo decadencial de 04 anos for movida ac&o de anulagio (art. 178, II, CC). Séo os chamados vicios de consentimento (erro, dolo, coagao, estado de perigo e leséio). Nestes casos ha uma desavenga entre a vontade real e a vontade declarada, sendo que o prejudicado é um dos contratantes. Existem outras hipdteses em que se tem uma vontade funcionando normalmente, havendo a correspondéncia entre a vontade interna e a manifestag&o, mas, no entanto, ela se desvia da lei ou da boa-fé. O que f colocado no contrato infringe a lei e prejudica terceiros. Também so passiveis de anulabilidade no prazo decadencial de 04 (quatro) anos. Sd os chamados vicios sociais (fraude contra credores). A simulagdo também é considerada por parte da doutrina como um vicio social, uma vez que objetiva iludir terceiros. Porém 0 atual Cédigo resolveu discipliné-la em outro capitulo, referente & invalidade do negécio juridico (e n&o no capitulo referente aos defeitos do negécio). Vamos, mais uma vez, apresentar um grafico para melhor classificar os defeitos relativos 4 vontade. Depois vamos analisd-los um a um. E vamos ver qual a consequéncia deste ato viciado. Dependendo do vicio 0 ato pode ser nulo, anulavel ou até mesmo valido. Mais adiante, ainda na aula de hoje, veremos as diferengas entre 0 ato nulo e o anuldvel, as hipdteses que caracterizam uma e outra situag&o, bem como os efeitos decorrentes destas situacdes. Esses tépicos tém vital importancia para efeito de concursos. AUXILIAR JUDICIARIO T/PA = DIREITO CIVIL DEFEITOS. 1) Auséncia de Vontade > Negécio inexistente (ou nulo para outra corrente doutrinéria). 2) Vicios de Consentimento -»A vontade n&o é expressada de maneira absolutamente livre; a vontade declarada nao representa a real intencdo do agente. Prejudicam a prépria pessoa que exteriorizou a vontade Err ou Ignorancia, Dolo, Coag&o, Lesdo e Estado de Perigo. 3) Vicios Sociais > hd uma correspondéncia entre a vontade interna do agente e a sua manifestagdo, no entanto, a vontade manifestada n&o tem a inteng&o pura e de boa-fé que enuncia; o negécio € realizado em desconformidade com a lei, pois a intengdo é de prejudicar terceiros que ndo participaram da relagdo negocial Fraude contra Credores. Quanto a Simulacio, devemos tomar cuidado. Embora muitos doutrinadores ainda afirmem ser um vicio social, o atual Cédigo Civil a coloca em outro capitulo (da invalidade do negécio juridico: art. 167, CC), conforme veremos adiante. & observacdo: em regra, o defeito deve ser alegado no prazo decadencial de quatro anos; se 0 prazo nao for respeitado, o defeito nfo poderé ser mais alegado, sendo 0 ato convalidado por decurso de prazo. ERRO QU IGNORANCIA (arts. 138 a 144, CC) Este € 0 primeiro defeito relative ao consentimento. O aluno que conseguir entender 0 seu alcance no sentird dificuldade de entender todos os demais defeitos. Por isso muita ateng&o! Primeiramente: erro e ignorancia sdo sinénimos? Nao! O Cédigo Civil equipara 0 erro a ignorancia quanto aos efeitos; ou seja, 0 Cédigo nao distingue um instituto do outro, mas afirma que as suas consequéncias sdo idénticas no campo do Direito. Assim, embora 0 Cédigo n&o faca, a doutrina estabelece distingdes entre eles (esta diferenca jé caiu em concursos). Erro a falsa nog&o que se tem sobre um elemento que influencia a formagéo de vontade do declarante. Pode recair sobre as qualidades de uma coisa ou sobre uma pessoa. Ocorre quando o agente pratica 0 ato baseando-se em falso juizo ou engano. Pensei que era uma coisa... mas na realidade é outra. J& ignorancia € 0 completo desconhecimento do declarante acerca do objeto ou da pessoa. Assim, as vezes usamos a expresséio “erro”, mas queremos nos referir ndo sé ao erro propriamente dito, como também a ignorancia. © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part Na verdade erro é um registro falso da realidade. Observem que no erro a pessoa se engana sozinha. Ninguém a induz a erro. Mas nao é qualquer erro (ou ignorancia) que torna o negécio anuldvel. Ele hd de ser a causa determinante ou principal. Vejamos inicialmente um resumo sobre o tema. A seguir aprofundaremos 0 assunto. O erro (ou 2 ignorancia) pode ser: % Essencial ou Substancial —» razéio determinante para a realizagdo do negécio -» se a verdade fosse conhecida 0 negécio ndo seria realizado —> Ato Anuldvel. % Acidental ou Secundério > se a verdade fosse conhecida o negécio seria realizado, porém de forma menos onerosa -» Ato valido. A) ERRO ESSENCIAL OU SUBSTANCIAL. Refere-se a natureza do préprio ato; recai sobre circunstancias e aspectos principais, relevantes do negécio de forma que se eu soubesse do defeito jamais teria praticado 0 ato. O art. 138, CC estabelece que 0 erro, para dar ensejo & anulag&o do negécio juridico, ha de ser substancial, ou seja, essencial. Diviséo doutrinria. Parte da doutrina entende que além_— da essencialidade do erro, deve haver a sua cognoscibilidade (qualidade do que é cognoscivel; que pode ser conhecido ou percebido pela outra parte), baseado na chamada teoria da confianca, que tem tem por base a verificagdo da discrepancia entre a vontade real do agente e @ sua equivocada manifestacdo. Por isso, torna-se fundamental apreciar se 0 engano de um negociante poderia ter sido percebido pelo outro. A outra corrente doutrinéria entende que na realidade 0 erro essencial deve ser escusdvel e real. Escusdvel porque ele é aceitdvel, desculpavel dentro do que se espera de um homem médio, que atue com grau normal de diligéncia; tem por fundamento uma razéo plausivel, ou seja, qualquer pessoa com atengao ou diligéncia normal seria capaz de cometé- lo em face das circunsténcias. Ex.: € aceitével uma pessoa leiga confundir o diamante com zircénio. Mas néo se admite esta confusdo para um joalheiro, que tem conhecimento técnico para fazer a distingéo (para ele seria um erro inescusdvel e, portanto, sem possibilidade de anular o ato). Real porque deve acarretar um prejuizo efetivo para o interessado. © Cédigo Civil especificou as modalidades de erro substancial (hipéteses de anulag&o do negécio juridico) no art. 139, CC. Vejamos: 1. Erro sobre a natureza do negécio juridico (error in ipso negotio) + © erro recai sobre a modalidade de contrato que foi celebrado. Pensei fazer um determinado contrato... mas fiz outro. Ex.: empresto um determinado bem para uma pessoa, mas ela entende que houve uma doag&o. Observem que nao houve um acordo de vontades: uma das partes pensa que esté realizando um contrato (empréstimo) € 0 consentimento do outro se dirige a outro contrato © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part (doacao). Outros exemplos: quero vender uma coisa, mas acabo doando; quero alugar um apartamento (0 aluguel é oneroso), mas acabo fazendo um comodato (que 6 um empréstimo gratuito), etc. Esta situacéo ¢ muito dificil de ocorrer na pratica. No entanto pode muito bem cair em concursos... como ja caiu. 2. Erro sobre 0 objeto principal da declaracdo (error in ipso corpore) + a manifestag&o de vontade recai sobre objeto diferente do que se tinha em mente. Ex.: comprei um lote em um condominio que pensava ser muito valorizado, no entanto trata-se de outro condominio, que tem o mesmo nome, mas esté situado em local diverso, muito distante de onde eu queria. Notem, mais uma vez, que ninguém me enganou. Eu errei sozinho (quando alguém me engana trata-se de outro defeito, 0 dolo, que veremos adiante). O erro, neste caso, atingiu a substancia do ato; portanto o ato é anuldvel. No entanto, o art. 144, CC dispde que o erro nao prejudica a validade do negécio juridico quando a pessoa, a quem a manifestacio de vontade se dirige, se oferecer para executé-la na conformidade da vontade real do manifestante. Aproveitando o exemplo acima: comprei o lote no condominio errado (erro substancial); no entanto 0 vendedor, entendendo a situacéo, acaba entregando o lote no condominio onde eu queria inicialmente. Ora, 0 negécio acabou sendo executado conforme minha vontade inicial. Assim, n&o havendo qualquer prejuizo, ndo se anula o negécio. 3. Etro sobre as qualidades essenciais do objeto principal (error in substantia ou in qualitate) > a pessoa adquire o objeto que imaginava; porém engana-se quanto as suas qualidades; 0 motivo determinante do contrato é a qualidade essencial de um objeto que depois se constata que nao existe. Ex.: compro um relégio pensando que ele é de ouro, mas 0 mesmo é apenas “folheado”, compro uma blusa pensando que e de /3 animal, mas na verdade é sintética (e a pessoa é alérgica e este tipo de tecido); compro um cavalo de carga pensando ele era um legitimo “puro-sangue” de corridas, etc. Observem que nestes exemplos eu também errei sozinho. 4. Erro quanto a identidade ou a qualidade da pessoa a quem se refere a declaragio de vontade (error in persona) -> incide sobre a identidade (fisica ou moral) ou caracteristicas da pessoa. Geralmente recaem nos contratos personalissimos (intuitu personae). O negécio pode ser anulado, desde que a consideracio pessoal seja condiglo essencial para a realizagéo do negécio. Exemplo cldssico: estou sendo processado por homicidio e contratei um Advogado certo de que ele € um famoso criminalista, excelente orador e especializado em fazer juri. No entanto constato que ele é um Advogado trabalhista. Notem que no caso de um contrato em que a prestagdo pode ser cumprida por qualquer pessoa (ex.: pintar um muro), mesmo que o contratante tenha se enganado na designacdo da pessoa, tal fato nao seré AUXILIAR JUDICIARIO TJ/PA AULA 05 — FATOS JURIDICOS (28 Pact IREITO CIVIL 2: NEGOCIO JURIDICO © suficiente para a anulacéio do negécio. 0 erro quanto 4 pessoa também pode ser relativo ao: a) Casamento (pode ser anulado por “vicio essencial sobre pessoa”): + erro quanto identidade do outro cénjuge, sobre a sua honra, boa fama, etc. (ex.: casar-se com pessoa e descobrir depois se tratar de criminoso procurado, viciado em téxicos, etc.). + ignorancia de defeito fisico irremediavel ou moléstia grave, transmissivel. b) Testamento * deixo uma joia para X, que salvou minha vida. Descubro, posteriormente, que foi Z e néo X quem salvou minha vida. Se eu soubesse que foi Z quem me salvou, eu no teria doado aquela joia a X. Eu queria doar a joia a quem realmente salvou minha vida, ou seja, Z. Neste exemplo 0 defeito é chamado de “erro quanto ao fim colimado ou por falsa causa”. O art. 140, CC determina que o falso motivo (ou falsa causa) somente vicia a declaracéo de vontade, quando for expressamente declarado como razéo determinante da realizacao do negécio. Ou seja, o motivo somente tem relevancia juridica se for instituido expressamente no contrato, como razio para celebrag&o deste. Outro exemplo: um homem jé idoso recebe a noticia de que teve um filho quando era mais moo, mas na ocasido a me nao lhe informou do fato. O idoso, tentando ajudar esta pessoa Ihe doa uma casa, mas estabelece 0 motivo: somente assim estd procedendo porque esta pessoa seria seu filho. Desta forma, caso comprovado posteriormente que a pessoa nao era seu filho, a doagdo pode ser anulada, pois havia um falso motivo que foi expresso como razdo determinante do negécio, viciando, assim, a vontade. @ Lembrando $M “Ninguém pode se escusar de cumprir a lei alegando que no a conhece”. Trata-se do Principio da Obrigatoriedade (art. 3°, LINDB), que visa garantir a estabilidade e a eficdcia do sistema juridico, que ficaria comprometido se fosse admitida em toda e qualquer hipétese a alegacdo de ignorancia de lei em vigor. Reforcando: somente 0 erro substancial, essencial, escusavel, _real, anula 0 negécio juridico. O erro deve ser de tal forma que, caso a verdade fosse conhecida, 0 ato nao seria realizado, importando efetivo prejuizo ao interessado. Mas o contratante que se achou em erro e promove a invalidade do contrato pode ser condenado a ressarcir eventuais prejuizos que causar a outra parte por n&o ter procedido com a dilig€ncia necesséria ao prestar 0 seu consentimento. Somente a parte interessada (a que errou) pode arguir a anulaco do ato. © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part B) ERRO ACIDENTAL —é aquele concernente as qualidades secundédrias ou acessérias da pessoa ou do objeto. Ocorrendo esta espécie de erro, 0 negécio juridico no sera anulado. © ato continua valido, produzindo efeitos, porque o defeito nao incide sobre a declaragao de vontade. Ele decorre do néo-emprego da diligéncia ordinaria que deve ter um “homem médio”. Mesmo sabendo do defeito, a pessoa teria realizado aquele negécio. Ex.: comprar um carro de ano de fabricacéo muito diferente é um erro essencial; porém comprar um carro de ntimero_de_série diferente é apenas um erro acidental. Da mesma forma, comprar um carro usado com uma cor um pouco diferente (preto ou azul escuro) também € acidental, nao anulando o negécio. Outros exemplos: compro uma casa pensando que tem quatro janelas, mas sé tem trés; doei um relégio a uma pessoa pensando que ela é solteira, mas é casada, etc. 0 chamado erro de cdlculo (que 6 a inexatiddo material) também nao é causa de anulacéo do negécio, mas de simples retificagdo da declaragéo de vontade, nos termos do art. 143, CC. Pode incidir sobre 0 peso, a medida, a quantidade, o valor do bem, etc. E uma espécie de erro acidental, no incidindo sobre a declaragao de vontade e nao viciando o consentimento. Ex.: comprei 12 camisas, sendo que o valor de cada uma delas é de R$ 45,00; logo deveria pagar R$ 540,00, mas acabei pagando somente R$ 450,00. E evidente que houve um erro na elaboracio aritmética dos dados do negécio, pois as partes sabiam do valor do negécio, errando apenas no momento da realizagéo do célculo final. Ss Erro de Fato X Erro de Direito @ © erro de fato € aquele que recai sobre uma circunstancia de fato. Pode ser essencial ou acidental. Cré-se numa realidade que nao é verdadeira. Tudo o que falamos acima se refere a ele. Ja 0 erro de direito diz respeito a existéncia de norma juridica. Consiste na ignorancia da lei, no falso conhecimento e também na sua interpretac&o errénea. Como regra ele ndo admite escusa; n&o admite desculpas. Nao pode ser alegado. No entanto admite-se, excepcionalmente 0 erro de direito (e, por consequéncia, o negécio juridico pode ser anulado), se o ato nao implicar em recusa a aplicacéo da lei e for 0 motivo Unico ou principal do negécio juridico (art. 139, III, CC). Isto &, nao pode 0 ato recair sobre a norma cogente (ou seja, impositiva, de ordem publica), mas tdo-somente sobre normas dispositivas (ou seja, sujeitas ao livre acordo das partes). Além disso, deve ser grave a ponto de afetar e viciar a manifestacdo de vontade do agente. Geralmente o erro recai sobre uma situagao de fato (como vimos, um contrato propriamente dito, ou o objeto deste contrato, ou uma pessoa, etc.). Este é 0 erro de fato sobre uma situac&o concreta. Jé 0 erro de direito é aquele que diz respeito a existéncia (ou ndo) de uma norma juridica. A pessoa supée que uma lei ndo existe ou que ela ndo esteja mais em vigor. © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part Ex.: firmar um contrato de locagéo com base em uma lei, pensando que ela ainda esté vigorando, no entanto ja foi revogada; pessoa contrata a importacao de determinada mercadoria ignorando que existe uma lei proibindo tal importagao. Como a ignoréncia fol a causa determinante do ato, pode ser alegada para anular o contrato, sem com isso se pretender que a lei seja descumprida. Ha outro exemplo muito citado pela doutrina e que gera polémica, inclusive no Direito Penal: um argentino vem para o Brasil trazendo frascos de langa-perfume para revender; na Argentina este produto ndo é proibido e a pessoa nao sabia que era proibido no Brasil; se soubesse, no teria trazido. Ero X Vicio Redibitorio B Essa € uma distinggo muito importante, pois j4 vi cair em diversos concursos. E pode confundir 0 candidato. O vicio redibitério é 0 defeito oculto na coisa, que a torne imprépria para o uso a que se destina ou Ihe diminua o valor. No vicio redibitério n&o ha qualquer erro no momento da celebrag&o do negécio; © que ha é um defeito no objeto (e n&o na vontade do adquirente), que n&o foi notado, j4 que era oculto. Jé no erro ha um engano por parte do adquirente; um vicio de ordem subjetiva, pois foi a vontade que foi viciada pela falsa percepcao da realidade, ndo havendo vicio no objeto. Cédigo Civil prevé outras duas espécies de erro. Vejamos. - Erro acidental in qualitate (art. 142, CC): “O erro de indicag&o da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaracéo de vontade, ndo viciaré 0 negécio quando, por seu contexto e pelas circunsténcias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada”. Como diz respeito as qualidades secundarias ou acessérias da pessoa (ex: se é casada ou solteira) ou do objeto (ex: comprei o lote 321, mas recebi 0 213 por erro de digitagdo), no induz a anulacao do negécio. - Erro na transmissdo de vontade por meios interpostos (art. 141, CC): © negécio é anuldvel quando na transmisséo da vontade do declarante verifica- se falha que a faz chegar ao seu destinatério com contetido diverso daquele emitido; é 0 erro por defeito de intermediag&o que altera a vontade declarada, como se tratasse de uma declaracdo direta. Ex.: uma pessoa utiliza rédio ou televiséo para transmitir uma declaracéo de vontade, mas o veiculo utilizado, devido a interrupc&o ou deturpacdo sonora, faz com que a divulgacdo saia com incorregées, acarretando uma desconformidade entre a vontade interna e a sua declaragéo ou manifestacéo. Somente anula o negécio se a alterac&o for substancial (art. 138, CC), ou seja, prejudicar o real sentido da declaragao expedida. Caso contrario, sera insignificante e o negécio seré valido. DOLO (arts. 145a 150, CC) Dolo € 0 artificio malicioso empregado por uma das partes ou por terceiro, com o propésito de enganar a outra parte do negécio, causando-lhe prejuizo e AUXILIAR JUDICIARIO TJ/PA AULA 05 — FATOS JURIDICOS (28 Pact IREITO CIVIL 2: NEGOCIO JURIDICO © beneficiando 0 autor do dolo ou 0 terceiro. Para a sua caracterizagéo exige-se a vontade de enganar alguém (a doutrina chama isso de animus decipiendi). O dolo inicialmente pode ser classificado em: + Dolus Bonus (dolo bom): € um comportamento tolerade nos negécios em geral. Consiste em reticéncias, realce e exageros nas boas qualidades da mercadoria ou dissimulagées de defeitos. E 0 artificio que ndo tem a finalidade de prejudicar ninguém... as pessoas nao se sentem enganadas. Por tal motivo ele nao é anulavel, desde que no venha a enganar o consumidor, mediante propaganda abusiva. Alids, 0 Cédigo de Defesa do Consumidor proibe a propaganda enganosa, apta a induzir 0 consumidor em erro. + Dolus Malus (dolo mau): consiste em manobras astuciosas (atos, palavras ou até o préprio siléncio) para enganar alguém e Ihe causar prejuizo. Vicia 0 consentimento e por isso € anulavel (na hipdtese de ser essencial) ou obriga a satisfagdo de perdas e danos (na hipétese de ser acidental, como veremos adiante). O dolo mau pressupde: a) prejuizo para o autor do ato; b) beneficio para o autor do dolo ou terceiro; ¢) pode ser praticado pelo siléncio. & observacio. Néo ha critérios absolutos para se distinguir na pratica 0 dolus bonus do dolus malus. E 0 Juiz quem vai decidir, analisando as peculiaridades de cada caso concreto. Exemplo disso é a “mensagem subliminar” (atua inconscientemente em face do consumidor, induzindo-o a determinado comportamento) que pode se caracterizar em comportamento doloso e pratica comercial abusiva. O dolus malus se divide em: + Dolo Principal, essencial ou substancial (dolus causam): art, 145, CC — 6 aquele que dé causa ao negécio juridico, sem o qual ele ndo se teria concluido, acarretando, ent&o, a anulabilidade do negécio juridico. Se nao houvesse o induzimento, a pessoa néo faria o negécio. Para que seja possivel a anulagdo € necessdrio que: a) haja a intengdo de induzir a outra parte a praticar um negécio lesivo; b) os artificios maliciosos sejam graves, por indicar fatos falsos, suprimir ou alterar os verdadeiros ou por silenciar algum fato que se devesse relatar ao outro contratante; c) seja a causa determinante na declaragdo de vontade; d) haja uma relacao de causa e efeito entre a indug&o do erro e a pratica do negécio; e) se 0 dolo foi proveniente de terceiro, que seja do conhecimento do outro contratante. + Dolo Acidental (dolus incidens) art. 146, CC — leva a vitima a realizar © negécio juridico, porém em condigées mais onerosas (ou menos vantajosas), no afetando sua declaracéio de vontade (embora venha a provocar desvios). Nao se constitui vicio de consentimento porque no influi diretamente na realizagao do negécio. O negécio teria sido praticado de qualquer forma, © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part independentemente das manobras astuciosas, embora de outra maneira, em condigdes menos onerosas vitima. O dolo acidental leva a distorcées comportamentais que podem alterar o resultado final do negécio, no entanto no anula o negécio, apenas obriga a satisfagdo de perdas e danos ou a uma redugéio da prestag’o pactuada. % Dolo Essencial dé causa ao negécio juridico, sem 0 qual ele nao teria sido concluido -» Ato Anulavel. ® Dolo Acidental —> realiza o negécio juridico em condigées mais onerosas > nao afeta a declarac&o de vontade + Ato valido, mas enseja indenizacdo por perdas e danos. O dolo ainda pode ser classificado em: + Positive (ou comissivo): resulta de uma aciio dolosa; séio os artificios positivos. Ex.: falsas afirmagdes sobre as qualidades de uma coisa: pode comprar este “cachorrinho” que eu garanto... ele vai ficar bem pequeno... ele 6 da espécie “toy”... passados alguns meses aquele “cachorrinho" se tornou um “cachorrao”. *» Negativo (ou omissivo): é a manobra astuciosa que constitui uma Qmiss&o intencional, induzindo o outro contratante a realizar o negécio. Trata- se da ocultagéo de uma circunstancia relevante e que a parte contratante deveria saber. E, sabedora, no teria efetivado o negécio. Ex.: seguro de vida em que se omite uma doenga grave e o segurado vem a falecer dias depois - neste caso houve uma evidente intengo de lesar a seguradora, beneficiando os sucessores; venda de um cavalo de raga j4 doente e que vem a morrer logo depois da realizagSo do negécio, etc. Nestas hipdteses o siléncio funciona como um mecanismo de atuag&o dolosa (quebra_da_boa-fé objetiva). Acarretaré a anulag&o do negécio se o dolo for principal (motivo determinante), pois é necesséria a relacéo de causalidade entre a omisséo intencional e a declaracgo de vontade (art. 147, CC). Se for acidental enseja apenas perdas e danos. [Kl observagées Importantes EJ 1) Dolo de Terceiro (art. 148, CC). Em algumas situagées 0 dolo pode ser proveniente de uma terceira pessoa, estranha ao negécio. Em geral ndo afeta o contrato, uma vez que o terceiro ndo é parte do negécio. Somente enseja a sua anulacdo se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento. Ex.: “C” instiga “A” a comprar o relégio de “B” assegurando que ele € de ouro; porém o relégio € apenas dourado e “C” sabe disso, estando em conluio com “B”. Neste caso o terceiro ("C”) e o contratante ("B") sdo tidos como autores do dolo. O negécio € anuldvel. No entanto se “B” (contratante favorecido) n&o tinha conhecimento da conduta dolosa por parte do terceiro, © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part nao se anula 0 negécio, mas “A” pode reclamar as perdas e danos de “C” (0 terceiro causador da situacéio). Resumindo: » Beneficiado pelo dolo de terceiro sabia ou deveria saber -+ negdcio anulavel. > Beneficiado pelo dolo n&o sabia e nem tinha como saber > negécio valido, porém o terceiro responde pelas perdas e danos da parte que foi ludibriada. 2) Dolo dos Representantes (art. 149, CC). Aqui a lei prevé duas situagdes com solugées diferentes. No caso da representac&o obrigatéria ou legal (pais, tutores ou curadores), 0 representado fica obrigado a responder civilmente somente até a importancia do proveito que teve. Isto porque 0 seu representante foi “imposto” pela lei (ou de forma judicial), sem que ele pudesse se rebelar contra isso. Seria injusto responsabilizar o representado por tudo. Por ser incapaz, ele ndo pode escolher o seu representante e nem vigiar os seus atos, no tendo ciéncia se ele esté agindo de forma maliciosa. No entanto, no caso de representagéo convencional ou voluntaria (que é 0 caso domandato) 0 representado responderé solidariamente com o representante por tudo, inclusive perdas e danos. Isto porque aquele que escolhe um representante e Ihe confere uma procurago, cria um isco para o mundo exterior; 0 procurador ird agir usando o nome do representado. Por tal motivo deve, inicialmente, escolher bem a pessoa que ira representé-lo. Além disso, deve vigiar os atos da pessoa que escolheu para ser seu representante. Escolhendo mal (culpa in eligendo) ou néo fiscalizando (culpa in vigilando) o seu representante, o representado responde solidariamente pela reparacdo total do dano (e ndo apenas limitado a responsabilidade do proveito que teve, como no caso da representacao legal). Resumindo: >» Dolo do representante legal (pais, tutores e curadores) —> responsabilidade do representado limitada até a importancia do proveito que teve com o dolo. % Dolo do representante convencional (mandatério) —» responsabilidade soliddria entre o representante e o representado, inclusive nas perdas e danos. 3) Dolo reciproco (ou bilateral). Ocorre quando ambas as partes agem com dolo (comissivo ou omissivo), desejando obter vantagem em prejuizo da outra. Configura-se a chamada torpeza bilateral. Nesta hipdtese ocorre a neutralizagéo do delito, pois ha uma compensagdo entre os dois ilicitos. Isto é, nao haverd a anulaggo do ato, pois ninguém pode se valer da propria torpeza. © ato considerado valido para ambos (art. 150, CC). Dolo x Erro. O erro deriva de um equivoco da prépria vitima, sem que a outra parte tenha concorrido para isso. J4 0 dolo é intencionalmente provocado © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part na vitima pelo autor do dolo. Em outras palavras: no erro eu errei sozinho; no dolo alguém me enganou, isto é, eu errei, mas fui induzido a cometer este erro pela conduta (m4-fé) da outra parte, Resumindo: erro € espontaneo; o dolo é provocado intencionalmente. © dolo do direito civil (artificio para enganar alguém) n&o deve ser confundido com 0 dolo do direito penal. Este é a inteng&o de praticar um ato que se sabe contrario a lei. O sujeito quis ou assumiu o risco de produzir resultado. Esta previsto no art. 18 do Cédigo Penal. Também no se confunde com 0 dolo do direito processual. Este decorre de conduta processual contraria a boa-fé, sendo reprovavel; trata-se da chamada litigancia de mé-fé (prevista nos arts. de 16 a 18 do Cédigo de Processo Civil). Nao se admite invocagio do dolo para se anular um casamento. Isto porque em relacéo ao Direito de Familia as regras séo um pouco diferentes. O art. 1.550, inciso TI, CC prevé que um casamento somente pode ser anulado por vicio de vontade nos termos dos artigos 1.556 a 1.558. Os dois primeiros artigos se referem ao erro essencial sobre a pessoa do outro cénjuge. E 0 ultimo se refere a coagao. Portanto, por exclusdo, ndo se pode alegar dolo para se anular um casamento. No entanto, observem que no ha uma proibigo expressa de se reconhecer o dolo no casamento. Isto se extrai por dedug&o légica. Por tal motivo, € possivel na pratica que o Juiz reconheca o dolo de um dos cénjuges para a realizacéo do casamento. Imaginem a situagéo em que um homem se casa com sua namorada, pois ela diz que esta gravida. Depois do casamento, ele descobre que a namorada mentiu. Diante dessa situagdo entendo que ele até poderia alegar o dolo para anular seu casamento. COAGAO (arts. 151 a 155, CC) Coag&o é toda press&o fisica ou moral exercida sobre alguém (vida, integridade fisica), seus bens ou honra, para forga-lo, contra a sua vontade, a praticar um ato ou realizar um negécio juridico. O que caracteriza a coacdo é 0 emprego da violéncia (fisica ou psicolégica) para viciar a vontade, influenciando a vitima a realizar negécio que sua vontade interna nao deseja celebrar, por isso € bem mais grave que o dolo. Na coacéo hé uma intimidacdo. Oferecem-se a vitima (também chamada de paciente ou coacto) duas alternativas: emitir declaragéo de vontade que nao pretendia originalmente ou resistir e sofrer as consequéncias decorrentes da concretizagdo da ameaca ou de uma chantagem. Espécies a) Coacdo Fisica (vis absoluta): é 0 constrangimento corporal que retira toda capacidade de querer de uma das partes, implicando auséncia total de consentimento ou manifestacdo de vontade (ex.: amarrar a vitima, segurar sua mo e fazé-la assinar contrato, etc.). A vitima nao chega a manifestar uma © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part vontade, agindo de forma mecénica. Segundo a doutrina, a manifestacaio de vontade é um requisito para a existéncia do negécio juridico. Assim, nao havendo a vontade, 0 negécio néo existiria, sendo considerado inexistente. Doutrinariamente a coacao fisica ndo 6 um vicio de consentimento, pois sequer houve a vontade. No entanto a questo é polémica: hd autores que sustentam a nulidade absoluta do negécio (endo a sua inexisténcia). b) Coagéo Moral ou Psicolégica (relativa ou vis compulsiva): atua sobre a vontade da vitima, sem retirar-Ihe totalmente 0 consentimento, pois ela conserva uma relativa liberdade, podendo optar entre a realizado do negécio que Ihe € exigido e o dano com que é ameacada (ex.: se ndo assinar o contrato, vou incendiar sua casa; vou estuprar sua mulher, vou mostrar uma foto sua em uma situago constrangedora, etc.). Trata-se de modalidade de vicio de consentimento expresso na lei, posto que hé manifestac&o de vontade, embora sob pressdo (consentimento viciado). O art. 152, CC prevé que o Juiz, ao apreciar a coacéo, deve ter em conta aspectos subjetivos, como o sexo, a idade, a satide, a condicio e o temperamento do paciente, bem como as demais circunstancias que possam influir na gravidade da coacao. El Observagao: a jurisprudéncia entende ser possivel a coagéio exercida contra pessoa juridica. Isso j4 foi objeto de questo em concurso do CESPE. Entendimento do STJ: “O érgéo diretivo da pessoa juridica poderé ser vitima de coag&o, desde que esta se refira a atos juridicos contrdrios & finalidade daquela e a sua reputagio. Se a finalidade perseguida pela pessoa juridica é objeto de alguma modalidade de ameaca, o érgao diretivo, consequentemente, poderd emitir ato juridico invalido”. Efeitos % Coagio Fisica: nfo hé consentimento algum > auséncia de vontade —> ato inexistente (ndo ha previsio expressa na lei, mas é mencionada pela doutrina). Para alguns autores é hipétese de nulidade absoluta. % Coacdo Moral: ha consentimento, mas ele € viciado > ato anulavel (expressamente prevista no Cédigo Civil). E importante deixar claro que nem toda ameaca se configura em um vicio de consentimento. Assim, s&o necessarios os seguintes requisites para a caracterizagéo da coagéo moral e a consequente anulagéo do — negécio juridico (art. 151, CC): + seja a causa determinante do negécio juridico: ou seja, nexo causal entre 0 meio intimidativo e 0 ato realizado pela vitima; se ndo houvesse a coagio, ndo haveria o negécio. © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part temor justificado: deve causar um medo ou um fundado receio na vitima. Os melhores exemplos a respeito so: ameaca de morte, chantagens, cércere privado, desonra, mutilac&o, escandalos publicos, etc. Ex.: se vocé ndo me der tanto eu colocarei “aquelas” fotos suas na internet... J4 0 grau de ameaca para o reconhecimento (ou nao) do defeito @ a consequente anulag&o do ato deve ser apreciado pelo Juiz, caso a caso. dano iminente: suscetivel de atingir a pessoa da vitima, sua familia, seus bens, etc. O termo familia abrange ndo sé a que resulta de casamento, como também decorrente de unido estavel. 0 dano pode atingir pessoa ndo pertencente a familia da vitima, hipétese em que o Juiz decidira se houve ou nao a coacéio, analisando cada caso concreto. dano considerdvel e sério: a ameaca deve ser grave (vida, liberdade, honra, patriménio) e séria, capaz de assustar a vitima (ou paciente), nela incutindo um fundado temor. 0 dano pode ser patrimonial ou moral. Se a ameaga for indeterminada ou impossivel nao é capaz de anular o ato. Coag&o exercida por terceiro A coaco exercida por terceiro vicia 0 negécio juridico se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite (art. 154, CC). Assim, havendo uma cumplicidade entre o coator e o beneficiario, além da anulacaio do negécio, ambos ainda responderdo solidariamente pelos prejuizos sofridos. Porém prevalece o principio da boa-fé, no se anulando o ato de que a parte no sabia ou que ndo podia saber sobre eventual coag&o por parte de terceiro (art. 155, CC). No entanto, mesmo nesta hipétese, o autor da coacdo responderé pelas perdas e danos sofridos pela vitima. Excluem a Coagio, ou seja, no se configura coag&o (art. 153, CC): Ameaga do exercicio normal de um direito (exercicio regular de direito). Ex.: se vocé ndo pagar a divida, vou protestar o titulo e ingressar com uma ago de execugao ou requerer a sua faléncia. Ora, assim agindo (protestando © titulo e ingressando com uma ac&o) eu apenas estarei exercendo um direito que me é assegurado pela lei. Portanto ndo ha coacao. Temor reverencial: 0 simples receio de desgostar ou magoar os pais, ou pessoas a quem se deve respeito e obediéncia também é incapaz de viciar 0 negécio. ESTADO DE PERIGO (art. 156, CC) E uma inovagao do atual Cédigo. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua familia, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigacéo © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part excessivamente onerosa (art. 156, CC). A vitima nao errou, nao foi induzida a erro ou coagida, mas pelas circunstancias de um caso concreto, foi compelida a celebrar um negécio (unilateral ou bilateral) que Ihe era extremamente desfavoravel. Trata-se de uma hipétese de inexigibilidade de conduta diversa, ante a iminéncia do perigo por que passa o agente, nao Ihe restando outra alternativa sen&o praticar 0 ato. Tratando-se de pessoa no pertencente a familia do contratante 0 Juiz decidiré de acordo com as circunstancias de um caso concreto. Uma pessoa, temerosa de grave dano moral ou material (situagdo equiparada ao estado de necessidade, mas que com ele n&o se confunde), acaba assinando contrato, mediante uma prestag&o exorbitante. Ex.: um pai teve filho sequestrado, sendo o que bandido Ihe pediu 100 mil reais para o resgate. Um “amigo” sabendo do problema, se oferece para comprar suas joias; elas valem 500 mil, mas ele oferece apenas 100 mil reais, que é 0 valor do resgate. O que faria um pai nesta hora?? Acaba vendendo as joias para o “amigo” (na verdade é um ‘amigo da onga’, como costumamos dizer). Isto porque o valor oferecido é muito inferior a0 de mercado. Posteriormente o pai pode anular 0 negécio com base no estado de perigo. Outros exemplos: vitima de acidente automobilistico que assume obrigagéo exagerada para ser salva de imediato; venda de imével por valor infimo para poder pagar cirurgia de filho, que corre risco de morte, etc. E necessério, em todos os exemplos fornecidos, que a outra parte tenha conhecimento da situagdo de desespero do primeiro e se aproveite dessa situacéo. Em algumas situagdes é a prépria pessoa em perigo quem promete uma extraordindria recompensa para ser salva, como no exemplo de um ndufrago. A doutrina também sempre lembra o famoso exemplo hist6rico do rei inglés Ricardo III quando lutava em uma batalha (Bosworth Field) e seu cavalo foi morto. Caido, o rei gritava: “Um cavalo, um cavalo, meu reino por um cavalo!” (A horse, a horse, my kingdom for a horse!) O rei prometeu seu reino por um cavalo, pois estava premido por uma necessidade de salvar a si do perigo de estar em uma batalha sem ter um cavalo e assim ofereceu todo seu reino em troca do animal. Portanto acabou assumindo uma obrigag&o excessivamente onerosa, pois é evidente que seu reino valia mais do que um cavalo. Sé para completar a histéria: Ricardo III acabou perdendo a batalha, o reino e também a prépria vida. Mas eu pergunto: se ele tivesse ganho a batalha sera que cumpriria a obrigag&0?? Ha alguns exemplos em que 0 perigo nao foi provocado e nem houve mé- fé das partes. Ex.: pai que oferece uma quantia exorbitante para o tratamento de seu filho, que sofre de uma grave doenga; ndufrago que oferece ao seu salvador uma recompensa exagerada pelo seu salvamento. Nestes casos néo seria correto que o salvador ficasse sem uma remuneragéo e nem que o obrigado empobrecesse. O contrato apenas foi celebrado de forma © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part desvantajosa. Portanto a doutrina (néo ha previsdo legal) costuma afirmar que quando © prestador de servicos esté de boa-fé, ndo pretendendo tirar proveito do perigo de dano, o negécio deve ser conservado, mas com a reduc&o de eventual excesso contido na obrigaggo assumida, equilibrando-se as prestacdes das partes. Exemplo do STJ: a exigéncia de ‘cheque caucéo" para tratamento hospitalar emergencial é hipétese de estado e perigo. “Nao é razodvel em cheque dado como caugdo para tratamento hospitalar ignorar sua causa, pois acarretaria desequilibrio entre as partes. O paciente, em casos de necessidade, quedar-se- ia & mercé do hospital e compelido a emitir cheque, no valor arbitrado pelo credor”. Alias, atualmente, essa conduta foi criminalizada (art. 135-A, Cédigo Penal). Requisitos para a configuracao do estado de perigo: + Situac&io de necessidade de salvar a si ou a pessoa de sua familia. + Iminéncia de grave dano atual e grave, capaz de transmitir o receio de que, se no for afastado, as consequéncias temidas ocorrerao. O risco de dano pessoal pode ser: perigo de vida, leséo @ sade, integridade fisica, psiquico ou moral (honra). + Nexo de causalidade entre a declarac&o e o perigo de grave dano. + Conhecimento do perigo pela outra parte, que se aproveita para tirar alguma vantagem (é 0 chamado dolo de aproveitamento). + Obrigacéo assumida excessivamente onerosa, ou seja, desproporcional, causando grande desequilibrio contratual. Lembrando que se a onerosidade 6 razoavel, 0 negécio pode ser considerado como valido. Realizado um contrato sob estado de perigo, a sangéo € a anulacdo deste contrato (arts. 171, II e 178, Il, CC). O prazo é decadencial (pois atinge 0 direito propriamente dito) de 04 anos. A anulagdo se justifica pela ofensa ao senso de justica que deve estar presente nos contratos em razéo da sua funcéio social; a parte agiu contra o principio da boa-fé objetiva, pois se aproveitou da situago de necessidade para tirar vantagem do negécio. Ks] Observacgao: Segundo o Enunciado 148 da II] Jornada de Direito Civil do STJ: “Ao estado de perigo aplica-se, por analogia, 0 disposto no art. 157, §2°, CC’, ou seja, nfo se decretaré a anulacio do negécio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redug&o do proveito, conforme veremos no instituto seguinte. LESAO (art. 157, CC) Trata-se de outra inovacéio do atual Cédigo. Lesdio é o prejuizo que um contratante experimenta quando, em um contrato comutativo (onde as partes © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part conhecem as prestagées de cada um e ha equivaléncia entre elas), deixa de receber valor correspondente ao da prestac&o que forneceu. Este instituto visa proteger © contratante em posic&o de inferioridade ante o prejuizo por ele sofrido na concluséo do contrato, devido também a desproporgio existente entre as prestacdes. Decorre do abuso praticado em situacdo de desigualdade, punindo a chamada “cléusula leonina” (alguns autores também a chamam de “cldusula draconiana” - que é uma referéncia ao famoso e rigoroso legislador ateniense Dracon) e 0 aproveitamento indevido na realizagao do contrato. Como se percebe, hé uma deformagéo da declaragdo de vontade por fatores pessoais do contratante, diante da inexperiéncia ou necessidade, exploradas indevidamente pela outra parte. Exemplo: pessoa esté em vias de ser despejado e, premido pela necessidade de abrigar sua familia e ndo ver seus bens deixados 20 relento, acaba realizando outro contrato por valor muito acima do mercado, negécio esse que, se tivesse condicéo de melhor refletir sobre os seus efeitos, jamais faria. O objetivo é reprimir o enorme desequilibrio nas relagdes contratuais. Outro exemplo da doutrina é 0 caso do empregado de uma fazenda que compra mantimentos no armazém da propria fazenda, porém a precos exorbitantes. O art. 157, CC prescreve que ocorre a lesio quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiéncia, se obriga a prestagdo manifestamente desproporcional ao valor da prestagdo oposta. Aprecia- se, assim, a desproporc&o das prestagées segundo os valores vigentes ao tempo em que 0 contrato foi celebrado, pois 0 contrato é prejudicial desde o seu nascedouro. Cabe ao Juiz (somente o Juiz pode rescindir ou modificar 0 contrato), diante de um caso concreto, avaliar eventual desproporcéo entre as prestagdes. Segundo a doutrina, para a caracterizacéio da leséo dispensa-se a verificago de dolo ou de mé-fé da parte que se aproveitou, sendo que também nao é relevante se a desproporcéo foi superveniente formacao do negécio. Requisitos para a configuracéio da les’o * Objetivo (material): manifesta desproporcéo entre as _prestagdes reciprocas (desequilibrio prestacional), gerando enriquecimento para uma das partes (lucro exorbitante) e, consequentemente, 0 empobrecimento para outra. + Subjetivo: premente necessidade ou inexperiéncia_da pessoa lesada. Saliente-se que a necessidade do contratante néo esté relacionada com sua condig&o econémica, sendo que o lesado pode ser mais rico que o beneficiério; trata-se da necessidade contratual. No mesmo sentido, a inexperiéncia também deve ser relacionada ao préprio _contrato. Inexperiéncia no significa falta de cultura, pois a pessoa pode até ser culta © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part e inteligente; 0 que ocorre é a falta de conhecimentos técnicos ou habilidades relacionadas ao contrato. Ocorrendo a lesdo, a sanc&o é a anulacao do ato ~ arts. 171, Il e 178, II, CC. O prazo é decadencial (atinge o direito em si) de 04 (quatro) anos. I<] E importante acrescentar que nao se decretaré a anulag&o do negécio se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redug&o do proveito (leséo especial ou qualificada - art. 157, §2°, CC). Ex.: a pessoa favorecida reconhece que exorbitou e concorda com a reducéo da prestag&o que Ihe era extremamente favordvel. Evita-se, assim, a anulago do ato (principio da conservag30 dos negocios juridicos). No entanto, cabe ao Juiz averiguar se o suplemento foi suficiente. Desta forma prestigia-se 0 principio da conservagao dos contratos. « Enunciado 149 da III Jornada _de Direito Civil do _STJ: “Em atengéo ao principio da conservac&o dos contratos, a verificagéo da lesdo deveré conduzir, sempre que possivel, 4 revisdo judicial do negécio juridico e ndo 4 sua anulagao, sendo dever do magistrado incitar os contratantes a seguir as regras do CC 157, §2°”. + Enunciado 150 da III Jornada de Direito Civil do STJ: “A leséo de que trata o CC 157 n&o exige dolo de aproveitamento”. Segundo a doutrina, dolo de aproveitamento € a intengSo de uma parte de se aproveitar da necessidade ou falta de experiéncia da outra parte para dela auferir vantagem exagerada na celebracéo do contrato, ou seja, a situacao de necessidade deve ser conhecida da parte beneficiada pelo negécio que se estd celebrando. Como vimos, esse elemento n&o é essencial para o reconhecimento da lesdo. Ele pode até estar presente, mas nao é essencial. Por isso se diz que a les&o é mais obietiva. [El Observacdo Importante E] Nos contratos aleatérios a lesio somente pode ser alegada de forma excepcional, quando os riscos s&o consideraveis em relacdio a uma das partes (e a vantagem que ela obteve é exagerada em relacdo ao risco normal de um contrato) e infimos para a outra. Lembrando que contrato aleatério é aquele em que a prestacéo de uma das partes néo é conhecida com exatidéo no momento da celebrac&o do contrato. Depende de uma élea (alea - do latim = sorte, azar, incerteza, perigo, etc.), que é um fator desconhecido; depende de um risco futuro e incerto. S estado de Perigo x Lesio @ A necessidade exigida no estado de perigo é diversa da exigida na leséo. No estado de perigo haé um risco pessoal (perigo de morte, integridade fisica, etc.) proprio ou de membros de sua familia, sendo que o AUXILIAR JUDICIARIO TJ/PA AULA 05 — FATOS JURIDICOS (28 Pact IREITO CIVIL 2: NEGOCIO JURIDICO © contratante, entre as consequéncias do perigo de dano e 0 pagamento de uma quantia exorbitante, opta pelo ultimo (com a intengéio de minimizar ou sanar 0 mal). J& na leso 0 contratante, devido a uma necessidade econémica, (risco. patrimonial) realiza negécio desproporcional; ha uma situacio de hipossuficiéncia de uma das partes e o aproveitamento desta circunstancia pela outra. Além disso, enquanto no estado de perigo exige-se o dolo de aproveitamento, ou seja, vicia a propria oferta, sendo necessdrio 0 conhecimento do perigo pela outra parte que se aproveita da situagdo para firmar @ obrigac&o vantajosa, na leséio esse elemento pode até existir, mas ele nao € essencial para o reconhecimento do vicio, ou seja, nao é necessério que a necessidade ou a inexperiéncia seja conhecida da outra parte, pois o que ocorre 6 uma “usura real”. Finalmente o estado de perigo pode se referir a negécios bilaterais ou unilaterais (0 art. 156, CC, menciona apenas “obrigacdo excessivamente onerosa", ndo se referindo se esta obrigacéo é unilateral ou bilateral). Jd a leséo somente ocorre em contratos bilaterais e comutativos, pois © art. 157, CC, menciona uma contraprestagdo (“prestagéo_manifestamente desproporcional ao valor da prestacao oposta”). @ Lesao x Teoria da Imprevisio @ Na lesdo 0 desequilibrio nasce com o préprio negécio juridico, tornando-o passivel de anulag&o (0 vicio nasce junto com o contrato). Na teoria da imprevisdo hé um contrato valide, sendo que o desequilibrio prestacional ocorre posteriormente. FRAUDE CONTRA CREDORES (arts. 158 a 165, CC) Constitui fraude contra credores a pratica maliciosa de atos, pelo devedor insolvente (ou por eles reduzidos a insolvéncia), que desfalcam seu patriménio, com o fim de coloca-lo a salvo de uma execugao por dividas em detrimento dos direitos creditérios alheios. Em outras palavras: 0 devedor desfalca seu patriménio tornando-se insolvente, com o intuito de prejudicar seus credores. Ressalvadas as hipéteses de credores com garantia real (ex.: penhor, hipoteca e anticrese) os demais credores esto em idénticas condigdes no recebimento de seus créditos. Se o patriménio do devedor nao for suficiente para o pagamento de todos os credores haveré um rateio (chamado pela doutrina de par conditio creditoris). E no caso do devedor praticar atos com a finalidade de frustrar o pagamento devido, ou tendentes a violar a igualdade entre os credores, ocorreré a fraude contra credores. Observem que nfo é a vontade que se encontra viciada, pois a pessoa faz exatamente o que queria fazer; o vicio reside na finalidade ilicita do ato, ou © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part seja, prejudicar seus credores. Por isso é que a fraude contra credores é chamada de vicio social (¢ no vicio de consentimento, como vimos nos demais defeitos até agora), Exemplo classico: pessoa contrai um empréstimo; porém, em data préxima ao vencimento da obrigacéio, doa todos os seus bens, ficando sem patriménio para saldar a divida. A garantia de um credor de que ird receber € 0 patriménio do devedor. Se este maliciosamente desfalca 0 seu patriménio, a ponto de néo mais garantir 0 pagamento do que deve, colocando-se em uma situagao de insolvéncia, configurada esté a fraude contra credores. Elementos constitutivos da fraude contra credores » Objetivo (eventus damni): trata-se do prejuizo causado ao credor, que deve provar que com a pratica do ato o devedor se tornou insolvente ou jé praticou o ato em estado de insolvéncia, ndo tendo mais condigdes de honrar suas dividas. Lembrando: a insolvéncia ocorre quando a soma do patriménio ativo do devedor é inferior & do passivo. Em outras palavras: o valor das dividas excede o valor dos bens. >» Subjetivo (consilium fraudis): trata-se do “conluio fraudulento”, da mé-fé, da intengdo deliberada (animus) de prejudicar, com a consciéncia de que de seu ato advirdo prejuizos a uma terceira pessoa (que € 0 credor). O art. 159, CC prevé duas situacdes onde hé presunco relativa (juris tantum: que admite prova em contrario) de ma-fé do terceiro adquirente: a) for notéria a insolvancia do devedor; b) quando o terceiro adquirente tinha motivos para conhecer a mé situagdo financeira do devedor. So suscetiveis de fraude os negécios realizados: @ A TITULO GRATUITO: doag&o de bens, remisséo (perdéo) de dividas, rendincia de heranga ou usufruto, etc. Basta a pratica de um desses atos, colocando 0 devedor em situag&o de insolvéncia, para se presumir a fraude. 0 ato pode ser anulado pelos credores quirograférios (do grego chirografo: chiro = mo; grafo = grafia, escrito = escrito 4 mao, assinado; © credor sem garantias especiais que conta apenas com a_ garantia comum a todos os credores: 0 patriménio do devedor). IMPORTANTE! Neste caso ni @ necesséria a prova do consilium fraudis (0 conluio fraudulento, a mé-fé). A simples pratica do ato de liberalidade j4 implica na presuncéo da mé-fé (esté implicito o propésito de fraude). Exemplo classico: estou devende uma determinada importancia, mas nao desejo pagé-la, embora tenha bens para saldar minha divida. Comego entdo a “doar” meus bens para sobrinhos e primos. Fazendo isso eu me coloco em situag&o de insolvéncia. Portanto basta a “doacéo” para se presumir a fraude, n&o se exigindo a prova da mé-fé. Outro © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part exemplo: tenho algumas dividas, mas nao tenho dinheiro para pagé-las. De repente, um tio muito rico falece e me deixa uma grande heranga. Parte dela seré para pagar meus credores. Sabendo disso, eu renuncio & heranca. Nesta hipétese também esta implicita a fraude; mesmo renunciando a heranca, meus credores tém direito a ela até o montante da divida. Depois de pagas as dividas, 0 que sobrar (se sobrar algo) eu poderei fazer o que quiser, inclusive renunciar. Finalmente: tenho algumas dividas que estéo préximas do vencimento. Por outro lado, sou também credor de outras pessoas. Com o dinheiro que receberei destes poderia pagar minha divida. Porém eu renuncio aos créditos e com isso me coloco em situagéo de insolvéncia. A minha rentincia pode ser anulada pelos credores, sem que haja a prova de mé-fé. @ A TITULO ONEROSO: se o negécio foi oneroso, saiu um bem do patriménio do devedor (ex.: um imével), mas entrou outro bem (0 dinheiro). Portanto, em tese, ainda nao esta caracterizada a fraude. No entanto, desde que insolvente ou for notéria a insolvéncia (ex.: j4 havia protestos contra o devedor), ou ha presuncéo (relativa) de que iré dissipar o que recebeu (ex. venda de iméveis em data préxima a do vencimento da divida e ndo hd outros bens para solver o débito; venda realizada entre parentes préximos, amizade intima, 0 preco vil na venda do bem, etc.), seré reputada uma venda fraudulenta se nao houver dinheiro suficiente para pagar o credor. Assim, se houver sobra patrimonial que permita honrar seus débitos, ndo havera fraude contra credores. Se 0 comprador nao tinha como saber o estado de insolvéncia do vendedor (estava de boa-fé) nao se anula o negécio (protege-se o comprador, pois, como vimos, nosso Cédigo protege quem age de boa-fé). Concluindo: na hipétese de alienago onerosa deve-se provar tanto 0 eventus damni, como o consilium fraudis. @ PAGAMENTO ANTECIPADO DE DIVIDAS (art. 162, CC): pagar uma divida antes de seu vencimento, por si sé, ndo configura fraude contra credores. Mas se 0 devedor insolvente paga uma divida que ainda _ndo venceu, em detrimento de outras que j4 se venceram, frustrando a igualdade entre os credores, ha fraude contra credores, sendo que o primeiro pagamento deve ser anulado e 0 beneficidrio € obrigado a repor o que recebeu. Também configura fraude contra credores quando 0 devedor, ja insolvente, resolve privilegiar um dos credores quirografarios, dando-Ihe uma garantia real (ex a hipoteca da casa). Ora, como a garantia real se sobrepde aos demais créditos, o devedor também estar frustrando a igualdade entre os credores. @ CONCESSAO FRAUDULENTA DE GARANTIAS (art. 163, CC): presumem- se fraudatérios dos direitos dos outros credores as garantias de divida (ex.: penhor ou hipoteca) que o devedor insolvente tiver dado a algum outro © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part credor (art. 163, CC). Neste caso anula-se a garantia, retornando aquele credor favorecido a condig&o de quirografério. SJ observacdo: presumem-se de boa-fé sendo validos os negécios ordindrios indispensdveis a manutenc&o de estabelecimento empresarial ou a subsisténcia do devedor e de sua familia (art. 164, CC). AGAO PAULIANA % Os atos eivados de fraude contra credores s&o anulaveis através de ago especifica, chamada de acéo pauliana. Ela deve ser proposta pelos credores quirograférios (e que jé 0 eram ao tempo da alienacéo fraudulenta: credores_preexistentes) contra (art. 161, CC) 0 devedor insolvente ¢ também contra a pessoa que celebrou negécio juridico com 0 fraudador (litisconsércio passivo necessério). Aqui pode ocorrer um problema! Digamos que o devedor insolvente vendeu a “A” € este tenha revendido este bem para “B”. Como ficaria a situacdo de “B”, uma vez que ele no integrou a relacio juridica de base? A saida é a seguinte: se “B” agiu com mé-fé poderd integrar 0 processo no polo passivo, juntamente com 0 insolvente e com “A”. Mas se ela agiu de boa-fé nao devera integrar © proceso. O credor devera buscar outros bens dos demais envolvidos ® 0 principal efeito da ago é revogar o negécio lesivo aos interesses dos credores, repondo o bem no acervo sobre o qual se efetuaré o concurso de credores. O prazo decadencial para o ajuizamento da agéo é de 04 anos a contar da celebragao do negécio (arts. 171, II e 178, II, CC). © observacses & Vimos que os negécios juridicos, quando praticados com determinados vicios (erro ou ignorancia essencial, dolo essencial, coag3o moral, lesdo, estado de perigo, etc.) podem ser anulados. Mas, para que isso ocorra, é necessério ingressar com uma ag&o prépria. A unica ado que tem um nome especial é a proveniente de fraude contra credores (que chamamos de pauliana). Nos demais casos de anulacgo fala-se apenas em “acdo de anulagio por erro essencial de objeto”, “ago de anulagio por dolo substancial”... tudo depende da hipétese concreta. Segundo a corrente majoritéria, a natureza juridica da acéo pauliana é anulatéria desconstitutiva do ato impugnado, pois ela anula as alienacées fraudulentas, determinando o retorno do bem ao patriménio do devedor. Alguns autores também chamam esta ago de revocatéria. No entanto tomem cuidado com este termo, pois o art. 130 da “Lei de Faléncias” (Lei n° 11.101/05) também hd uma acéio com este mesmo nome e pode confundir. AUXILIAR JUDICIARIO TJ/PA AULA 05 — FATOS JURIDICOS (28 Pact © SlFraude contra Credores X Fraude a Execucéo Ed Nao podemos confundir esses institutos! Ambos possuem como elementos comuns: a fraude na alienacio de bens pelo devedor, com desfalque em seu patriménio, colocando-se em situac&o de insolvéncia e prejudicando o credor. No entanto se diferen m: % Fraude contra credores: tema referente ao Direito Civil (arts. 158 a 165, CC); defeito no negécio juridico (vicio social, pois atinge terceiros). No momento em que foi realizada a alienacéo fraudenta, ainda n&o havia sido proposta nenhuma ago (embora jé possam existir titulos protestados). Os credores ingressam com a acéio pauliana, visando a anulacéo do ato fraudulento. Fraude & execugdo (ou fraude de execugdo): é um incidente de Direito Processual Civil (art. 593, CPC). Ao tempo da pratica do ato (alienaco de bens de forma fraudulenta), j4 corria contra o devedor acéo judicial capaz de reduzi-lo a insolvéncia (portanto, pressupde-se uma agéo jé em andamento). Os bens que foram alienados jé estariam comprometidos tendo-se em vista a ac&o proposta. Ou seja, 0 devedor ja havia sido citado para uma ago (de conhecimento ou de execusio, é indiferente a espécie de ago) em que o autor persegue o recebimento de seu crédito. Na fraude a execugéo 0 credor nao precisa mover acéo pauliana, uma vez que o ato (venda ou doacéio do bem) nao é apenas anulavel, mas ineficaz perante o processo de execuciio. Na fraude a execucdio 0 vicio é mais grave (inclusive & crime: art. 179, CP), sendo considerado como um ato atentatério a dignidade e administragdo da Justiga, podendo ser declarado ineficaz e reconhecido pelo Juiz no préprio proceso, mediante um simples pedido da parte lesada. Vejamos um quadro comparativo: FRAUDE CONTRA CREDORES FRAUDEA EXECUCAO 1. Defeito do negocio juridico (vicio social), regulado pelo Direito Privado: arts. 158/165, CC. 1, Incidente do Processo Civil, regulado pelo Direito Publico: art. 593, CPC. & mais grave. 2. Quando praticado o ato pelo devedor ainda nao havia sido proposta acao alguma. 2. A pratica do ato ocorreu ap6s_a propositura de uma acéo judicial (processo de conhecimento, de execucao ou cautelar). 3. Para combater a fraude deve ser proposta acdo pauliana (ou revocatéria), visando a anulacao do negécio juridico. 3. Independe da propositura de acao. Expem-se os fatos e requer-se ao Juiz a ineficacia do ato, no curso do préprio processo que esta em andamento (alegacao incidental). IREITO CIVIL 2: NEGOCIO JURIDICO AUXILIAR JUDICIARIO TJ/PA IREITO CIVIL 4, Tratando-se de alienagao onerosa 4. Nao se exige prova da ma-fé do exige-se prova da ma-fé do adquirente | terceiro adquirente, uma vez que esta & (consitium frauds). presumida (doutrina). Elobservacées Ed 1. Embora a doutrina entenda que na fraude execugo nao se exige prova da mé-fé, 0 STJ editou a Stimula 375: “O reconhecimento da fraude a execuggo depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova da mé- Fé do terceiro adquirente”. 2. A jurisprudéncia dominante em nossos Tribunais é de que a fraude a execugéo somente se caracteriza quando o devedor é citado para a acdo e a partir dai realiza os atos fraudatérios. Antes disso seria apenas a fraude contra credores. Pessoalmente entendo que ndo é necessaria a citacdo, bastando a propositura da ag&o. Com isso previne-se a hipétese em que a aco é proposta, mas o réu se oculta para ndo ser citado e neste interim realiza os atos fraudatérios; posteriormente, j& em estado de insolvéncia, aparece para ser citado... sem bens. © Fraude contra credores X Simulagdo @ Ambas atingem e prejudicam direitos de terceiros. No entanto, na simulacdo a alienaco € ficticia; na fraude contra credores a alienacdo é real. GB Fraude contra credores X Dolo A fraude se consuma sem a participagéo do lesado no negécio (atinge um terceiro); no dolo a pessoa lesada pelas manobras desleais é uma das partes do negécio. SIMULAGAO (art. 167, CC) Simular significa fingir, mascarar, camuflar, esconder a realidade. Juridicamente € a pratica de ato ou negécio que esconde a real intencéio; ha um acordo de vontades (conluio) entre os contratantes para dar existéncia real a um negécio juridico ficticio ou para ocultar o negécio realmente realizado, violando a lei ou enganando terceiros. A intengéo dos simuladores é encoberta mediante disfarce, parecendo externamente negécio que nao é espelhado pela vontade dos contraentes. Simulagdo é a declaragdo enganosa da vontade, visando obter resultado diverso do que aparece, com o fim de criar uma aparéncia de direito, iludindo terceiros ou_burlando a lei. Ou seja, celebra-se um negécio juridico aparentemente normal, mas na verdade ele no pretende atingir o efeito que juridicamente deveria produzir. Exemplo classico: um homem, casado, possui uma amante e deseja doar um apartamento para ela. No entanto © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part a lei no permite tal pratica (e nem a sua esposa permitiria). Assim ele faz um contrato de compra e venda, com escritura e registro, tudo aparentemente perfeito; mas na verdade, ele ndo vendeu o bem, ele fez uma doagdo. Ele fingiu celebrar uma compra e venda, mas na realidade realizou uma doagdo, posto que no houve uma contraprestagao em dinheiro. ElatencAo &] importante &) © atual Cédigo Civil n&o trata mais a simulagéo como defeito referente & vontade ou consentimento do negécio juridico e sim como causa de nulidade deste. Alids, esta particularidade tem caido muito nos concursos. Acompanhem. Nosso Cédigo é todo dividido em livros, titulos, capitulos, segdes, etc. Na Parte Geral, o Livro III trata dos Fatos Juridicos. De imediato temos 0 Titulo I que trata do Negécio Juridico (art. 104 e seguintes). Jé 0 Capitulo IV (art. 138 e seguintes) passa a tratar dos “defeitos do negécio juridico”. Observem que cada seco fala de um defeito: erro ou ignorancia, dolo, coagdo, estado de perigo, lesdo e fraude contra credores. Observem que a simulacao nao esta prevista neste Capitulo, mas sim no art. 167, que faz parte do Capitulo V, referente & invalidade do negécio juridico (que veremos logo adiante). Além disso, o art. 168, CC determina que a simulacdo é hipétese de nulidade do ato (e no mais como anulacéio como no Cédigo anterior). No entanto parte da doutrina ainda a classifica como vicio social. No concurso como eu facgo? Se esta questo cair em um concurso, observem a forma como foi redigido o cabegalho da questdo. Se ele afirma * de acordo com o disposto no atual Cédigo Civil...” podemos concluir que ndo se trata de um vicio social (e, consequentemente, defeito do negécio juridico). Continuando... Na simulag&o ha um desacordo entre a vontade declarada e a vontade interna e nao manifestada. As duas partes contratantes estéo combinadas (observem 0 exemplo classico que demos a respeito ‘do marido e da amante’) desejando iludir terceiros (a esposa ou os filhos). Desta forma o ato somente estaré viciado (causando a nulidade) quando houver inteng&o de prejudicar terceiros ou violar disposigéo de lei. Requisitos para a simulagao + Acordo entre as partes contratantes ou com a pessoa a quem ela se destina. A regra: a simulaco é ato juridico bilateral. + Declarag&o externada deliberadamente dissonante com a inteng&o (dai no ser vicio de consentimento, pois nado houve vicio na vontade do declarante; ele assim procedeu conscientemente). + Intengiio de enganar terceiros gu violar a lei. AUXILIAR JUDICIARIO TJ/PA AULA 05 — FATOS JURIDICOS (28 Pact IREITO CIVIL 2: NEGOCIO JURIDICO © A doutrina classifica a simulag&o da seguinte forma: 1. Absoluta: ocorre quando a declaracéio enganosa de vontade exprime um negécio juridico, mas no ha intengdo de realizar negécio juridico algum. Exemplo: proprietério de uma casa alugada finge vendé-la a terceiro; sua real intengao com isso é 0 de facilitar 0 despejo contra seu inquilino. Outro: marido, ante iminente divércio, simula negécio com um amigo, contraindo falsamente uma divida e transferindo-Ihe bens em pagamento visando prejudicar a esposa na partilha. Observem que em ambos os exemplos ndo houve negécio algum; tudo foi fingido. Nestes casos o negécio € nulo e insuscetivel de convalidagéo. 2. Relativa: as partes pretendem realizar um negécio; mas este é proibido pela lei ou prejudica interesses de terceiros. Assim, para encobri-lo, praticam outro negécio. Portanto, neste caso ha dois negécios: a) 0 simulado ou ficticio: € 0 negécio aparente, aquele que se declarou, mas n&o se quer de verdade; e b) © dissimulado ou real: € 0 oculto, aquele yerdadeiramente desejado pelas das partes. O negécio aparente serve apenas para ocultar a real inteng&o dos contratantes. Ex.: marido que finge vender um imével a uma pessoa, mas na verdade esté doando o bem a sua amante; a simulagdo é relativa, pois hé um ato simulado, aparente (compra e venda) e outro dissimulado, real (doacio). Outro exemplo: pessoa realiza a venda de um imével com prego na escritura inferior ao real para pagar menos imposto e burlar 0 Fisco. A simulacio (seja absoluta ou relativa) acarreta a nulidade do negécio simulado (ou seja, do negécio aparente). No entanto, no caso da simulac&o relativa subsistiréo os efeitos do negécio dissimulado (vontade real do contratante), se ele for valido na substancia e na forma. Enunciado 153 da IlLJornada de Direito Civil do STJ: “Wa simulagao relativa, 0 negécio simulado (aparente) é nulo, mas o dissimulado seré valido se n&o ofender a lei nem causar prejuizo a terceiros”. Resumindo + Simulagao absoluta > negécio juridico nulo (nulidade absoluta). + Simulago relativa > negécio simulado nulo; negécio dissimulado vlido, se respeitar a forma e a substancia. SD Exemplo clissico GB pai deseja doar um imével a um de seus filhos (este 6 © negécio real, dissimulado), mas n&o quer que este bem seja trazido a colacéo quando de sua morte. Finge, enti, uma compra e venda (este é 0 negécio aparente, simulado). Neste caso, se néo causar prejuizo a terceiros ese forem obedecidos 0s requisitos legais da doacgo (que é 0 negécio real ou dissimulado, pois esta era a intenciio do pai desde o inicio), ela seré mantida. Notem que neste caso o bem doado deve sair da parte disponivel do patriménio do pai, néo © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part prejudicando a heranga dos demais filhos. Ou seja, ao contrério do que geralmente se pensa, um pai pode favorecer um filho em detrimento de outro. Mas isso deve ser feito de forma legal, dentro da chamada “parte disponivel” do ascendente. *concluinde: mesmo havendo simulacéio, 0 negécio real (dissimulado) pode subsistir (néo sera considerado nulo) se for vaélido na forma e na substancia (no ofendeu a lei e.nem prejudicou interesses de terceiros). Asimulagao ainda pode ser classificada em: a) Subjetiva (por interposta pessoa ou ad personam): ocorre quando a parte contratante nao € 0 individuo que tira proveito do negécio, pois é apenas um sujeito aparente. E o “testa de ferro” (também chamado de “homem de palha”). Ex.: "A” vende um imével a "B”, para que este transmita o bem posteriormente a “C”, sendo que a inteng&o, desde o inicio, era transferir 0 bem para “C’, mas isto, por algum motivo néo era permitido. Tal simulagao somente se efetivard quando se completar a transmisséo do bem ao real adquirente. b) Objetiva (ou simulag&o de contetido): relativa @ natureza do negécio pretendido, ao objeto ou a um dos elementos contratuais. O ato contém uma declarago, confisséo ou cléusula nao verdadeira. Ex.: as partes, em uma escritura de compra e venda de um bem imével, declaram preco inferior 20 do negécio real com a intengao de pagar menos imposto sobre a transmissao do bem. Qutros exemplos: colocar data diversa em um documento (ex.: pré ou pés-datar contratos); doacéo de bem imével pertencente a um homem casado & sua amante, dando-se a aparéncia de uma compra e venda, etc. c) Inocente: quando no ha a intengSo de violar a lei ou de lesar outrem. Exemplo_claéssico: uma senhora, sem herdeiros necessérios, possui trés sobrinhos e deseja doar um imével para um deles. No entanto ela no quer ‘melindrar’ os demais sobrinhos. Assim, finge fazer uma compra e venda em relag&o a este sobrinho, mas na verdade o que ela fez foi doar o imével ao sobrinho preferido. Observem que a senhora nao lesou ninguém. Os sobrinhos no sdo seus herdeiros necessérios. Se ela quisesse doar diretamente o bem a um deles, poderia fazé-lo sem problema algum. Qutro exemplo: homem sol e sem herdeiros necessdrios simula uma venda de bem imével a sua namorada; ora, como n&o ha impedimentos, se ele quisesse simplesmente doar o imével, poderia té-lo feito. d) Maliciosa: envolve © propésito deliberado de prejudicar terceiros ou de burlar 0 comando legal, viciando o ato que perderé a validade, sendo considerado nulo de pleno direito. Hipdtese legais de simulacéo: estabelece o art. 167, §1°, CC que haveré simulago nos negocios juridicos quando: © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part ‘> Aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas as quais realmente se conferem, ou transmitem. Trata-se da simulag&o por intermediagéio de pessoa. A declarag’o de vontade é emitida aparentando conferir direitos a uma pessoa, mas esta os transfere para terceiro ndo integrante da relagao juridica (simulacao relativa subjetiva). > Contiverem declaracéo, confissiio, condigéo ou cléusula nao verdadeira (simulagao por ocultagao da verdade). > Os instrumentos particulares forem antedatados, ou pés-datados (simulagéo por ocultagao da verdade). El arencAo El Ha quem entenda que como na simulagéo inocente no houve prejuizo a quem quer que seja, a conduta deveria ser tolerada, nao se anulando o negécio. No entanto, estabelece o Enunciado 152 da III Jornada de Direito Civil do _STJ: “Toda simulagéo, inclusive a inocente, é invalidante”. Concluséo: como 0 Cédigo Civil no faz mais distingéo entre a simulacgo inocente € a maliciosa, a saida aplicar a regra: “nulidade do negécio simulado manutenc&o do negécio dissimulado, se for valido na forma e na substancia”. & observagées Importantes @ 1. Estabelece o art. 168 e pardgrafo Unico, CC que as nulidades do art. 167, CC (simulag&o) podem ser alegadas por qualquer interessado ou pelo Ministério Puiblico quando Ihe caiba intervir. Se o Juiz conhecer do ato ou de seus efeitos e a encontrar provada, deve pronunciar a nulidade, néo Ihe sendo permitido supri-las, mesmo que haja requerimento das partes. 2. A nulidade do ato simulado n&o pode prejudicar terceiros de boa-fé que tenham negociade com um dos contratantes simuladores (art. 167, §2°, CC). Bcuriosidade. O que € contrato de vaca-papel? Trata-se de um contrato agrario (parceria rural), que, na realidade dissimula um empréstimo a juros extorsivos. Ha a simulagdo de empréstimo de vaca (que na realidade 6 somente dinheiro e n&o a vaca), que possibilita, quando do pagamento, a cobranga de um valor superior aos juros autorizados pela lei, sob o argumento de que se trata do “resultado do investimento agropecuério”. A jurisprudéncia tem-se posicionado no sentido ndo da nulidade absoluta do contrato, mas a submisséo dos mesmos &s normas pertinentes ao verdadeiro contrato (miituo de dinheiro), em especial 8s cléusulas que limitam ou fixam as taxas de juros e multa contratual. [El simulac&o X Reserva Mental E] Na simulag&o ha um consenso entre os simuladores para enganar terceiros. Jé na reserva mental nao ha acordo entre as partes para enganar terceiros. AUXILIAR JUDICIARIO TJ/PA AULA 05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Par IREITO CIVIL NEGOCIO JURIDICO © Vamos falar um pouco mais sobre a reserva mental, pois se trata de um tema tormentoso. Na realidade uma das partes, unilateralmente, manifesta uma vontade quando da celebragio do negécio, mas em seu intimo a sua intengSo é outra, diferente da declarada; em seu intimo ele nao tem o propésito de cumprir © efeito juridico pretendido com o contrato. Representa uma emisséo de declaragSo de vontade nao desejada em seu contetido e nem em seu resultado. O agente quer uma coisa e declara, conscientemente, outra coisa. Portanto, hé uma n&o-coincidéncia entre a vontade real e a declarada. Ex.: uma pessoa empresta dinheiro a outra, sendo que esta estd desesperada, a ponto de cometer um suicidio. Na verdade a primeira pessoa néo deseja realizar um contrato de mtituo (ou empréstimo), mas sim de ajudar a segunda pessoa, doando-Ihe 0 dinheiro. No entanto n&o quer que a outra saiba que o empréstimo, na verdade, é uma doagdo. Assim, ela finge que esté emprestando, mas ela mesma jé sabe que o devedor no teré condigdes de Ihe pagar o empréstimo. Portanto o empréstimo, na verdade foi a fundo perdido, ou seja, uma doag&o. Outro exemplo: pessoa se casa, ndo com o intuito de contrair matriménio, mas sim para no ser expulsa do Pais. Para o Cédigo, se a outra parte desconhecia a real intengao da parte que manifestou a vontade fazendo reserva mental, a vontade manifestada deve prevalecer e 0 negocio juridico seré considerado valido. O art. 110, CC prescreve: a manifestagéo de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito reserva mental de ndo querer o que manifestou, salvo se dela o destinatdrio tinha conhecimento. E importante deixar claro que a reserva mental pode ser fraudulenta ou inocente, se houver ou no conhecimento prévio e intengSo de prejudicar. Podemos resumir o assunto da seguinte forma: A) Reserva mental licita (desconhecida pelo destinatdrio) +0 negécio subsistiré e 0 contratante deve cumprir a obrigacéio assumida. B) Reserva mental ilicita (conhecida pelo destinatério) —ocorre a invalidade de negécio juridico, pois o destinatério tem ciéncia do que foi premeditado pela outra parte. 34 vimos todos os elementos essenciais gerais. Recordando: capacidade das partes, objeto licito, possivel, determinado ou determindvel e consentimento. Vimos também os possiveis defeitos em cada um desses elementos e os seus efeitos. Vejamos agora o elemento essencial especial, que € a forma prescrita ou ndo defesa em lei. Cuidado com esta expresséo! Forma prescrita é a determinada pela lei; forma nao defesa em lei é a forma © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part NAO PROIBIDA pela lei. Aqui, a expressio “defesa” tem o sentido de proibigao. Forma & 0 meio pelo qual se externa a manifestacéo de vontade nos negécios juridicos; é 0 conjunto de formalidades, solenidades, para que o ato tenha eficdcia juridica. A forma pode ser: a) ptiblica: o ato é celebrado por uma terceira pessoa, estranha ao negécio para que se observe uma formalidade do negécio (escritura lavrada pelo tabeliaio); b) privada: 0 ato é celebrado somente pelos interessados, sem maiores formalidades. Forma prescrita ou nao defesa em lei Em regra a vontade pode se manifestar livremente, no havendo uma forma especial. Vigora 0 Principio da Liberalidade das Formas. Pode-se recorrer & palavra falada, escrita, ao gesto e até mesmo ao simples siléncio (hipéteses excepcionais). O art. 107, CC determina que: “A validade da declaragéo de vontade n&o dependerd de forma especial, sen’o quando a lei expressamente a exigir”. Todavia, em casos determinados, para dar maior seguranga nas relagdes juridicas, a lei prescreve a observancia de uma forma especial, como requisito de validade do ato. Ex.: 0 art. 108, CC determina que qualquer negécio juridico que tenha por objetivo constituir, transferir, modificar ou renunciar direitos sobre iméveis de valor superior a 30 vezes 0 maior salério minimo vigente no Pais, somente pode ser efetivado mediante escritura publica. Outro dispositive interessante a respeito é 0 art. 227, CC: “Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal sé se admite nos negécios juridicos cujo valor n&o ultrapasse o décuplo do maior salario minimo vigente no Pais ao tempo em que foram celebrados”. Reforcando: Consensualismo € a regra. Formalismo é a exceso. Assim, forma especial (ou solene) é 0 conjunto de solenidades que a lei estabelece como requisito para a validade de determinados atos juridicos. Tem por finalidade garantir a autenticidade do ato, facilitando sua prova e assegurando a livre manifestagdo de vontade das partes. As partes também podem convencionar que um negécio seja realizado de uma determinada forma. Elimportante E] Nao confundir forma com prova. Enquanto a forma serve para indicar a vontade interna do agente, a prova serve para demonstrar a existéncia do ato. Nulo é 0 negécio juridico quando no se revestir da forma prescrita em lei ou quando preterir alguma solenidade que a lei considere essencial para sua validade (confiram o art. 166, inciso V, CC). © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part Concluindo: se houver desobediéncia quanto & forma (prescrita ou n&o defesa em lei) = Nulidade Absoluta do Negécio Juridico. Espécies de forma do negécio juridico 1. Forma Livre (ou geral): para os contratos consensuais (também chamados de ndo-formais) > pode ser usado qualquer meio de exteriorizacdo da vontade (desde que nao prevista uma forma especial): como vimos, palavra escrita ou falada, gestos e até mesmo o siléncio. Ex.: admite-se a forma verbal para a doacéo de bens méveis de pequeno valor (art. 541, CC); mandato verbal (art. 656, CC); matue, ete. 2. Forma Especial (ou solene): para os contratos formais ou solenes > conjunto de formalidades que a lei estabelece como requisito para a validade de certos atos. Nado pode ser preterida por outra. Citamos alguns exemplos (entre outros) de negécios juridicos que exigem uma formalidade especial: + Casamento: para se casar é imprescindivel todo um conjunto de formalidades, um rito totalmente formal e adequado, inclusive quanto ao regime de bens escolhido. + Pacto antenupcial: deve ser realizado por escritura publica. + Adogio: é imprescindivel o registro de pessoas naturais. + Bem de familia (hipétese prevista pelo Codigo Civil - arts. 1.711/1.722): formalizado por meio de uma escritura publica e posterior registro. Lembrando que se for 0 chamado bem de familia instituido pela lei 8.009/90 dispensam-se as formalidades. + Testamento: deve ser feito por escrito, com rito adequado e ntimero de testemunhas determinado. + Hipoteca: formalizada no registro de iméveis. E interessante acrescentar que para alguns atos juridicos a lei impée apenas uma forma para ser realizado. Jé outros podem ser praticados por mais de uma maneira (multiplicidade de forma). Vejamos: 2.1. Forma Especial (ou solene) Unica: a lei prevé uma formalidade essencial e n&o admite qualquer outra configurag&o. O exemplo classico € 0 ja mencionado art. 108, CC (escritura publica em relac&o a negécios juridicos que envolvem iméveis de valor superior a 30 saldrios minimos). Outros exemplos: registro da propriedade imobilidria no Registro de Iméveis (arts. 1.227 e 1.245, CC), pacto antenupcial por escritura ptiblica (art. 1.653, CC), ete. 2.2. Forma Especial (ou solene) Plural: a lei exige a forma especial, mas faculta a pratica por meio de duas ou mais maneiras, sendo todas elas previstas em lei. O exemplo classico é 0 reconhecimento voluntario de filho havido fora AUXILIAR JUDICIARIO TJ/PA AULA 05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Par IREITO CIVIL NEGOCIO JURIDICO © do matriménio. Ele pode ser feito: a) no préprio termo do nascimento; b) por escritura publica ou instrumento particular; c) por testamento ou d) por manifestag&o expressa e direta perante o Juiz. Outro exemplo: criaglo de uma fundagao (art. 62, CC: escritura publica ou testamento). 3. Forma Contratual: é a pactuada pelas partes; as vezes um contrato pode ser realizado por meio de instrumento particular, mas as partes convencionam que ele sera realizado por instrumento publico. Ex.: posso realizar um contrato de locagdo por instrumento particular. No entanto, para dar maior seguranga ao ato, podemos pactuar que 0 mesmo seré feito em cartério, por instrumento publico. Bem... com isso terminamos a anilise dos elementos essenciais (gerais e especiais), que dizem respeito a validade do negécio juridico. Veremos agora os elementos naturais, que séio bem simples e dizem respeito apenas aos efeitos do negécio. Logo a seguir veremos os elementos acidentais, que dizem respeito eficdcia do negécio juridico. Vamos a eles. Os elementos naturais s&o os efeitos ou as consequéncias decorrentes do negécio juridico, sem que seja necessdria a mengéo expressa a estes efeitos, pois a norma juridica jé determina as consequéncias juridicas. Ex.: Em uma compra e venda os elementos naturais so: obrigagéo do comprador de pagar o prego e a obrigacéo do vendedor de entregar a coisa. Além disso, o vendedor tem responsabilidade pela eviccdo da coisa (evicgdo ¢ a perda da coisa em virtude de sentenga judicial), pelo vicio redibitério (que é 0 defeito oculto na coisa), etc. Qutro exemplo: Em um contrato de locagéo hd a obrigacéo do locador de entregar 0 bem locado. Por outro lado o locataério deveré pagar pontualmente os aluguéis. Enfim, cada parte deveré cumprir 0 disposto nas cldusulas do contrato. Em outras palavras, cada contratante deve cumprir as obrigagées que assumiu. © negécio juridico é chamado de puro e simples quando seus efeitos se produzem sem dependéncia de qualquer outra circunstancia. No entanto o negécio pode conter disposicées que influem sobre seus efeitos. Séo os © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part elementos acidentais do negécio juridico, que s&o as cldusulas que se Ihe acrescentam com 0 objetivo de modificar uma ou algumas de suas consequéncias naturais, ou seja, na geracao dos efeitos juridicos que Ihe sejam préprios, No séo exigidos pela lei, mas podem ser convencionados de forma facultativa e acesséria, pela vontade espontanea das partes. So elementos ditos acidentais porque o ato negocial pode estar perfeito sem eles; sua presenca é dispensdvel para a existéncia do negécio. Dizem respeito a eficdcia do negécio juridico. No entanto, uma vez convencionados possuem 0 mesmo valor dos elementos estruturais e essenciais, pois passam a integrd-lo de forma indissocidvel. Séo autolimitagdes da vontade, admitidas nos negécios de natureza patrimonial, n&o podendo integrar os de carter pessoal, como os direitos de familia puros e os direitos personalissimos (adogao, reconhecimento de filho, etc.). Sao eles: + Condigao + Termo + Modo ou Encargo A) CONDIGAO (arts. 121/130, CC) Condig&io, nos termos do art. 121, CC, é a cldusula acesséria que, derivando exclusivamente da yontade das partes, subordina a eficdcia do ato juridico a evento futuro e incerto (ex.: eu Ihe darei o meu carro, se eu ganhar na loteria). Fato passado nao caracteriza condic&o. A condig&o afeta a eficdcia (produgéo de efeitos) do negécio e n&o a sua existéncia (uma vez que a vontade foi legitima). Requisitos para a configurag&io da condicao: > Aceitagdo voluntéria das partes (voluntariedade). Ou seja, s6 sao consideradas condigdes as que foram convencionadas pelas partes e no as impostas pela lei. > Evento futuro do qual o negécio juridico dependera (futuridade). > Incerteza do acontecimento (que poderd ou nao ocorrer). A incerteza abrange © evento (se ele vai ou no ocorrer) e n&o o periodo em que ele vai se realizar. Por isso, a morte (em regra) nao é considerada condicao. Mas ela pode se transformar em condig&o quando sua ocorréncia é limitada no tempo (ex.: eu Ihe darei um carro se fulano morrer este ano). O titular de direito eventual, embora ainda no tenha direito adquirido, ja pode praticar alguns atos destinados & conservac&o, com 0 intuito de resguardar seu futuro direito, evitando que eventualmente sofra prejuizos (ex.: requerer inventério, pedir uma garantia, etc.). Antes de se realizar a condigéo, 0 ato é ineficaz. © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part CLASSIFICAGAO DAS CONDIGOES 1. QUANTO AO MODO DE ATUACAO (é a que tem maior incidéncia nos concursos) a) Suspensiva (art. 125, CC): é aquela que suspende (protela, adia) os efeitos do negécio juridico (eficdcia) até a realizacaio do evento futuro e incerto. Adia-se, temporariamente, a eficdcia do negécio. Ex.: eu Ihe darei uma joia se vocé ganhar a corrida; enquanto vocé nao ganhar, eu n&o preciso entregar o bem, pois a condigéio suspende a doagio. Outros exemplos: eu Ihe darei uma casa logo apés 0 seu casamento; eu Ihe darei um carro, se vocé passar no concurso... ® enquanto a condig&o nao for verificada (realizada, concretizada) é chamada de pendente. > 0 cumprimento (ou a ocorréncia) da condig&o é chamado de implemento. % quando a condicao nao é realizada chamamos de frustrago Pendente a condig&o, n&o ha direito adquirido, mas uma simples expectativa de direito ou um direito eventual. Ex.: “A” doa a “B” um objeto sob uma condigéo suspensiva. Antes do implemento da condig&o, “B” vende o bem a “C”. Esta venda € considerada nula. “B” n&o poderia vender este bem antes da ocorréncia da condig&o. Somente com o implemento da condig&o aperfeigoa-se 0 ato negocial de forma retroativa, desde a celebracao (efeito ex tunc = falarei mais sobre esta expresso adiante), exceto nos contratos reais (que necessitam da entrega da coisa ou do registro do contrato). Reforco: enquanto nao implementada a condic&o suspensiva o negécio ainda nao produz direito e obrigagdes reciprocos. Por isso, se houve algum pagamento em dinheiro e a condig&o nao foi implementada, é possivel a devolugéo deste dinheiro. Pelo art. 126, CC é possivel que, na pendéncia de uma condic&o suspensiva, sejam feitas novas disposigdes. Mas estas somente terdio validade se n&o forem incompativeis com a condig&o original. b) Resolutiva (art. 127, CC): € a condigéo que subordina a ineficacia do negécio juridico a um evento futuro e incerto. Ou seja, a ocorréncia do evento futuro e incerto resolve o direito transferido pelo negécio juridico. A eficdcia do ato se opera desde logo (chamamos isso de entabulamento), mas se resolve com a ocorréncia da condigéio. Lembrando: resolver = extinguir. Portanto o implemento da condigo extingue os efeitos do ato. Ex.: deixo-Ihe uma renda enquanto vocé estudar (se vocé parar de estudar, vocé perde esta renda; 0 direito se resolve, extingue). Enquanto a condig&o nao se realizar, vigoraré 0 negécio juridico. Verificada a condigéo, extingue-se o direito para todos os efeitos. Outro exemplo: empresto-Ihe uma casa para vocé nela residir enquanto © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part for solteiro. Isto quer dizer que no dia em que vocé se casar perdera o direito de usar a casa. E interessante esclarecer que pelo art. 128, CC esta exting&o do direito, como regra, no atinge os atos jé praticados. @ biferenca basica. Condigio Suspensiva X Condig&o Resolutiva & + Condigo suspensiva: subordina a aquisicao do direito 20 implemento (ecorréncia) de um evento futuro e incerto, ou seja, a condig&o deve ser implementada para que o negécio juridico tenha eficécia, Enquanto a condigéio ndo se verificar, no se ter adquirido o direito a que o negécio visa (art. 125, CC), hd apenas uma expectativa de direito. + Condig&o resolutiva: propicia a aquisig&o e 0 exercicio de um direito desde a celebracéio do negécio até que ocorra o implemento do evento futuro e incerto; realizada a condigéo cessam os efeitos do negécio. Enquanto a condigfo nao se realizar, 0 negécio vigora normalmente, produzindo seus efeitos e exercendo-se os direitos estabelecidos por ele (art. 127, CC). 2. QUANTO A PARTICIPACAO DOS SUJEITOS a) Casual: se depender do acaso, de fato alheio @ vontade das partes, ou seja, de um acontecimento fortuito. Ex.: eu Ihe darei um anel de brilhantes se chover amanha. b) Potestativa: se decorrer da vontade (ou do poder) de uma das partes. Subdivide-se em: + Puramente potestativa: so aquelas que sujeitam todo o efeito do negécio ao capricho ou puro arbitrio do proponente; decorre da vontade absoluta_de uma das partes, segundo um critério exclusivo de sua conveniéncia, independente de qualquer fator externo. Ex.: eu he darei um carro se eu levantar o brago, ou se eu quiser, ou se eu vestir determinada roupa. A doutrina costuma chamar esta cldusula de si voluero” (se me aprouver). Séo proibidas pelo nosso Direito: art. 122, CC. * Meramente (ou simplesmente) potestativa: so aquelas que dependem da manifestacéio de vontade de uma das parte e de um fator externo. Assim, além da vontade, exige-se uma atuacdo especial do sujeito. Ex.: eu Ihe darei uma jola se vocé cantar bem (nao basta cantar... deve cantar bem...); ou se vocé passar num concurso (n&o basta se inscrever... deve passar...); ou se vocé for Paris (ndo basta s6 a vontade, exige-se a obtencéio de tempo e de dinheiro para isso), etc. Um dos contratantes tem poder sobre a ocorréncia do evento, mas no um poder absolute, pois depende outros fatores externos. Por este motivo a cléusula é valida (ao contrario da puramente potestativa em © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part que decorre da vontade exclusiva, do puro arbitrio de uma das partes). A condicéo meramente potestativa pode-se tornar promiscua, quando inesperadamente ocorrer algum problema (anteriormente inexistente) que a torne inexequivel. Ex.: dou-Ihe uma importéncia em dinheiro se vocé escalar determinada montanha; antes de realizar a condicéo a pessoa quebra a perna, impossibilitando a escalada (que anteriormente seria possivel). c) Mista; deriva da vontade da parte e de uma terceira pessoa. Dou-Ihe o dinheiro que vocé necesita sob @ condic&io de formar sociedade com meu irmao (depende da vontade da pessoa e do meu irmao). @ observacdes 1) Existem situagdes em nosso Direito que aparentemente € condig&o puramente potestativa, mas o préprio sistema juridico a admite. O exemplo classico 6 0 art. 49 do Cédigo de Defesa do Consumidor, que estabelece o chamado “prazo para reflexdo": prazo de sete dias para ver se 0 consumidor gosta ou no do produto. 2) Pode haver uma combinagdo entre as espécies de condic&io. Ex.: a condig&o pode ser suspensiva e casual ao mesmo tempo, ou suspensiva e potestativa. Também resolutiva e casual ou resolutiva e potestativa. 3. QUANTO A POSSIBILIDADE a) Fisica e juridicamente possivel: € a que pode ser realizada conforme as leis fisico-naturais e as normas juridicas (no contrariam as leis da natureza e nem a norma juridica, a ordem publica e os bons costumes). b) Fisica e juridicamente impossivel: é a que nd se pode efetivar por ser contréria natureza (ex.: eu Ihe darei um carro se vocé filtrar toda a égua do mar; ou capturar vivo um drag&o, etc.) ou a ordem legal (ex.: eu Ihe darei um carro se vocé renunciar 4 pensdo alimenticia; fago um contrato de heranca de pessoa viva). El importante Ed Invalidam os negécios juridicos as condigées fisicas e — juridicamente impossiveis, quando suspensivas (art. 123, I, CC). Isto porque ndo haveria seriedade na proposta. Além disso, nosso direito considera inexistentes as condigées impossiveis quando forem resolutivas (art. 124, CC) e também as de no fazer coisa impossivel (ex.: dou-Ihe uma importancia em dinheiro se vocé néo usar qualquer aparelho auxiliar para ir as profundezas do oceano). Assim: © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part + Condig&o suspensiva impossivel (ex.: eu Ihe darei um carro se vocé filtrar toda a agua do mar) — invalida (nulidade absoluta) 9 neadcio juridico, pois como o evento nunca vai ocorrer (6 impossivel filtrar toda a gua do mar), 0 negécio néo produziré efeitos. + Condicéo resolutiva impossivel (ex.: dou-lhe um cavalo; mas se ele correr a uma velocidade acima dos 200 km/h a venda estaré desfeita) > considera-se jnexistente a condicdo (e n&o o negécio); como a condigéo nunca iré se realizar (ndo ha cavalo que galope a mais de 200 km/h), 0 negécio (doag&o) continuaré produzindo efeitos. 4. QUANTO A LICITUDE a) Licita: quando néo for contréria & lei, 4 moral e aos bons costumes; ou seja, a condic&o é permitida ou tolerada em nosso direito. E 0 que dispde o art. 122, primeira parte, CC. b) Ilicita: quando for condenada pela norma juridica, pela ordem publica, pela moral e pelos bons costumes. Ex.: eu Ihe darei uma joia se vocé me deixar viver em adultério; ou se vocé furtar alguns documentos, ou se voc mudar de religiéo; ou se vocé no se casar, etc. A condig&o que viola meu direito de ir e vir também é considerada ilicita. Nosso direito considera ilicita a condicéo perplexa, ou seja, a que é contraditéria em seus préprios termos, deixando o intérprete confuso, perplexo € privando o ato de todo efeito (ex.: eu Ihe vendo um apartamento, mas vocé no poderd alugé-lo, nem nele morar), bem como a puramente potestativa (ja vista acima). [] Cuidado! Invalidam 0 negécio juridico as condigées ilicitas ou de fazer coisa ilicita (conforme o art. 123, II, CC). [lé importante salientar que ha condigdes que nao sao aceitas pelo nosso Direito. Alguns atos que nao admitem condig&o, pois s&o ligados a uma norma de direito puiblico, cogente. Estes atos geralmente est&o presentes no Direito de Familia e Sucessées e séo chamados de atos puros. Exemplos: * condigéo de n&o se casar: néo € admissivel uma condic&o proibindo o casamento. Porém ela até pode ser aceita se for elaborada da seguinte maneira: eu Ihe darei um apartamento se vocé nao se casar com Paulo. Ou eu Ihe darei_ uma casa se vocé casar com Leandro. Quanto a condigéo da obrigatoriedade de permanecer em estado de viuvez, ainda causa muita polémica, nao sendo aceita por todos. © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part + exilio: no se pode proibir que uma pessoa more em uma cidade ou que ela tenha morada perpétua em outro lugar. Porém nada impede de se pactuar a condigdo de que a pessoa vé residir em outro lugar, fora de uma capital (ex.: eu Ihe darei uma casa se vocé se mudar da capital do Estado). + religio: a condigSo para mudanga de religiéo atenta contra a liberdade de consciéncia assegurada pela nossa Constituicéo, sendo, por tal motivo, proibida. + profisséio: no pode haver condicéo para que néo se exerca determinada profiss3o. Porém pode haver para que se siga uma certa profissdo (ex.: se vocé se formar em Direito, eu Ihe darei meu anel de grau). * aceitago ou rentincia de heranga: este ato deve ser puro e simples, sem nenhuma condigéo. + reconhecimento de filho ou emancipagéo: também n&o pode haver qualquer condig&o para se reconhecer um filho (ex.: eu 0 reconheco como meu filho, desde que vocé aceite ndo receber pensdo alimenticia ou renuncie © direito de eventual heranca); ou emancipac&o (eu emancipo vocé, desde que vocé no se case). S observacio. E preciso que no haja interferéncia maliciosa de qualquer dos interessados no desfecho da situagdo prevista. Se um dos contratantes interferir (dolosamente, intencionalmente) na ocorréncia do evento, para que ele se realize ou ndo se realize, a penalidade € a de que se considere realizado o fato no sentido oposto daquele pretendido pelo agente malicioso (art. 129, CC). Ex.: eu Ihe darei determinada importancia em dinheiro se o motorista chegar ao local combinado até 0 meio dia; se a outra parte aprisiona o motorista para que ele n&o chegue no horario previsto, reputa-se verificada a condig&o, pois a mesma foi maliciosamente obstada pela parte contréria. B) TERMO (arts. 131/135, CC) Termo é a cldusula contratual acesséria que subordina os efeitos do negécio juridico a um acontecimento futuro e certo. Trata-se do dia em que comeca e/ou extingue a eficdcia do negécio juridico, subordinando-se a um evento futuro e certo (embora a data deste evento possa ser determinada ou indeterminada). Assim como na condi¢&o, alguns negécios n&o admitem o termo (ex.: aceitagdo ou rentincia de heranga, emancipacao, reconhecimento de filhos, etc.). Requisitos para a configurag&o do termo: > Certeza quanto a ocorréncia do fato: por este motivo nao suspende a aquisigéo do direito, sendo que o titular do direito pode praticar atos conservatérios. © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part » Futuridade: fato presente ou passado nio caracteriza o termo, ainda que ignorado pelas partes. Espécies de termo Ha varias espécies de termo: convencional (é 0 estabelecido pelas partes), de direito (é 0 que decorre da lei), de graca (é a dilagéo de prazo concedida a0 devedor), etc. No entanto a classificagéo mais importante para efeito de concursos € a diviséo em: a) Termo Inicial ou Suspensivo (dies a quo): quando fixa 0 momento em que a eficdcia do negécio deve ter inicio, retardando © exercicio do direito (ex.: a locagao terd inicio dentro de dois meses; eu Ihe darei um carro no Natal deste ano, etc.). No termo inicial jé hé o direito adquirido (diferentemente da condic&o suspensiva onde h4 uma mera expectativa de direito, impedindo-se a sua aquisigo). O termo inicial ndo suspende a aquisicéo do direito, que surge imediatamente, mas sé se torna exercitavel com a superveniéncia do termo. Em outras palavras: O termo suspende o exercicio, mas néo a aquisicéo do direito (art. 131, CC). Assim, celebrado 0 negécio as partes tém, desde j4, direitos e obrigagdes reciprocos, mas que ainda nao sao exigiveis. O exercicio do direito fica suspenso até o instante em que o acontecimento futuro e certo previsto ocorrer. ® observacdo: se 0 termo inicial for impossivel, demonstra que no hé uma vontade real de criar a obrigacio, gerando, portanto, a sua nulidade. Ex.: eu Ihe darei um carro no dia 31 de fevereiro; ou no dia de “Sao Nunca”. b) Termo Final ou Resolutivo (dies ad quem ou ad diem): é aquele que determina a data da cessacao dos efeitos do negécio juridico, extinguindo as obrigagdes dele oriundas (ex.: uma cléusula que diga que a locacéo se findaré no prazo de 30 meses). Antes de chegar o dia estipulado para seu vencimento, 0 negécio, subordinado a um termo final, vigoraré plenamente e seu titular poderd exercer todos os direitos dele provenientes. Com a chegada do termo final ndo se destrdi o negécio; apenas Ihe retira a eficdcia. A doutrina ainda menciona o termo de graca, que seria o termo judicial, aquele que é fixado pelo Juiz em sua sentenca. ir termo com con: suspensiva A condig&o suspensiva trata de evento futuro e incerto. Além de suspender 0 exercicio do direito, ela suspende também sua aquisigao. Jd o termo se vincula a um evento futuro e certo. Ndo suspende a aquisicéo do direito, apenas adia o seu exercicio. © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part © termo ainda pode ser classificado em: c) Data determinada (termo certo): quando estabelece uma data determinada do calendério. © evento € certo e eu sei o dia em que ele vai ocorrer. Ex.: a locagdo teré inicio no dia 1° de janeiro do prdximo ano; alugo uma roupa para ser usada no dia do seu casamento, etc. d) Data indeterminada (termo incerto): se se referir a um acontecimento futuro, mas com uma data incerta. Eu que o evento vai ocorrer, mas no sei exatamente quando. Ex.: eu Ihe darei um imével quando fulano falecer; 0 evento é futuro e certo (pois a morte 6 sempre certa), porém a data é incerta. Arrendo suas terras apés a primeira chuva do ano (0 evento é certo, pois vai chover, no entanto o prazo é indeterminado, pois ndo sei quando vird essa primeira chuva), etc. N&o confundir também termo com prazo. Prazo € 0 lapso de tempo compreendido entre a declaragéio de vontade e a superveniéncia do termo em que comeca 0 exercicio do direito ou extingue 0 direito até ent&o vigente. Ou seja, prazo € 0 intervalo entre o termo inicial € 0 termo final. E contado por unidade de tempo (hora, dia, més e ano), excluindo-se 0 dia do comeco (dies a quo) e incluindo-se o dia do vencimento (dies ad quem), salvo disposig&o legal ou convencional em contrério (art. 132, CC). Para resolver algumas questées relativas ao prazo, o Cédigo Civil apresenta as seguintes regras (arts. 132, 133 e 134, CC): + Se o vencimento se der em feriado ou domingo, prorroga-se até o primeiro dia Util subsequente. « Seo termo vencer em “meados” de um més, isto deve ser entendido como sendo 0 seu 15° dia, qualquer que seja o més, pouco importando que ele tenha 29 ou 31 dias. + Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual numero do de inicio, ou no imediato, se faltar exata correspondéncia. Ex.: prazo de més estabelecido no dia 10 de abril se expira no dia 10 de maio. No entanto ha a ressalva: quando no ha a exata correspondéncia no ano ou més posterior. Ex.: fiz um contrato de ano no dia 29 de fevereiro (ano bissexto). No ano seguinte n&o haverd o dia 29 de fevereiro. Logo o vencimento recairé no dia 1° de marco. Outro exemplo: fiz um contrato de més no dia 31 de maio. Nao existe o dia 31 de junho. Portanto o prazo recaira no dia 1° de julho. « Prazo fixado em hora é contado de minuto a minuto. + Nos testamentos presumem-se os prazos em favor do herdeiro. © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part + Nos contratos, presumem-se em favor do devedor (salvo se do teor do instrumento ou das circunstancias resultar que se estabeleceu em beneficio do credor, ou de ambos os contratantes). Sendo estabelecido em favor do devedor, este poder pagar o débito antes do vencimento, mesmo contra a vontade do credor (ainda que este no possa exigir 0 pagamento antes do vencimento). + Nos negécios juridicos entre vivos, onde niio foi estabelecido um prazo, 0 mesmo pode ser executado desde logo. A doutrina entende que a expressdo “desde logo” nao deve ser entendida “ao pé da letra”, como sinénimo de imediatamente, pois as vezes é necessdrio que haja um certo tempo (por menor que seja) para que a prestacao seja cumprida. E isso ira depender da natureza do negécio, do lugar onde a obrigac&o sera cumprida (pode ser em lugar distante do local da celebragéo do negécio) ou mesmo de suas circunstancias. @ observacio G@ a exemplo da condigéo, também é possivel haver uma combinacio entre todas as espécies de termo. Ex.: 0 termo pode ser inicial ¢ certo a0 mesmo tempo; inicial e incerto; final ¢ certo; final e incerto. Alguns atos também n&o admitem termo, como aceitaco ou reniincia de heranga, adog&o, emancipaggo, reconhecimento de filho, etc. Finalmente. Fala-se em termo essencial quando o efeito pretendido deva ocorrer em um momento determinado, sob pena de, verificado depois, néo ter mais valor. Ex.: data para a entrega de um vestido para uma ceriménia (casamento). £ evidente que apés a data da ceriménia nao ha mais 0 interesse visado pelo credor. C) ENCARGO OU MODO (arts. 136 e 137, CC) Encargo (também chamado de modo) é a cléusula acesséria, que em regra, aparece em atos de liberalidade inter vivos (ex.: doag&o) ou causa mortis (ex.: heranga, legado), impondo um énus ou uma obrigacéo @ pessoa (natural ou juridica) contemplada pelos referidos atos, mas sem carater de contraprestaciio exata. Resumindo: é um énus que se atrela a uma liberalidade. O encargo deve ser sempre menor que o beneficio concedido. Na realidade € uma limitag&o trazida a uma liberalidade. Trata-se, geralmente, de uma obrigacéo de fazer. Ex.: dou um terreno 4 municipalidade para que nele seja edificado um hospital; dou-lhe dois terrenos desde que em um deles seja construida uma escola, etc. Também poderd ser instituido nas declaracées unilaterais de vontade, como por exemplo, na promessa de recompensa ("perdeu-se cachorrinho... recompensa-se bem”). Observem que o beneficio vem acompanhado de um encargo. Um exemplo muito comum, inclusive em nossa vida particular é 0 comodato. Este é um contrato de empréstimo de AUXILIAR JUDICIARIO TJ/PA AULA 05 — FATOS JURIDICOS (28 Pact IREITO CIVIL 2: NEGOCIO JURIDICO © coisa infungivel (que n&o pode ser substituida por outra igual). E um contrato gratuito. Porém eu posso colocar um encargo. Ex.: deixo vocé morar de graca em meu apartamento (se eu cobrar por isso, deixa de ser um comodato e passa a ser locagSo). No entanto eu posso colocar o seguinte encargo: desde que vocé pague © condominio e o IPTU. O pagamento destas despesas trata-se de um encargo, que no iré retirar a natureza gratuita do comodato, pois n&o estaré havendo uma contraprestacao. Uma caracteristica do encargo é a sua obrigatoriedade. Por isso, caso 0 encargo n&o seja cumprido, posso exigir 0 seu cumprimento por meio de uma ago judicial especifica. 0 art. 136, CC dispde que o encargo nao suspende a aquisicdo nem o exercicio do direito (salvo quando expressamente imposto no negécio). Ex.: aberta a sucesséo 0 dominio e a posse dos bens transmitem-se desde logo aos herdeiros nomeados, com a obrigagao de cumprir 0 encargo; se este nao for cumprido a liberalidade seré revogada. Assim, se uma pessoa receber o terreno para a construggo de uma creche, a propriedade se transmite de imediato, pois a construg&io da creche ndo suspende a aquisicéo do direito (a propriedade do terreno). Interessante a anélise do art. 137, CC. Se o objeto do encargo for ilicito ou impossivel, € tido como nao escrito, libertando 0 negécio juridico de qualquer restrigo e ele vale normalmente (como se fosse uma doacéio pura e simples). Exemplo: eudou um terreno a Pedro desde que ele assuma a paternidade de um filho que eu tive fora do casamento. Esta cldusula seria juridicamente impossivel. No entanto no hé uma ligag&o entre o encargo (assumir a filiago) e a doacéio em si. Portanto se Pedro aceitar a doacéo e depois ndo assumir a paternidade, 0 negécio valeu. A cldusula é tida como néo escrita. Isto porque néo hd uma ligac&o entre aceitar a doacdo e reconhecer 0 filho. Outro exemplo: eu Ihe dou uma casa com o encargo de se construir uma escada até 0 céu. Ora, como isso é impossivel, vale a doacdo pura e simples, como se n&o houvesse o encargo. No entanto o dispositive contém uma ressalva: salvo se o encargo se constituir no motivo determinante da liberalidade. Ex.: eu Ihe dou uma casa, no entanto esta deve ser mantida como depésito de entorpecente. Observem que nesta hipétese a casa (objeto da doagio) possui uma ligagéo imediata com o encargo (manutencéo como depésito de entorpecente). Por isso o efeito é a nulidade total do negécio juridico. Concluindo: devemos analisar cada caso em concreto se o encargo é o motivo principal ou secunddrio do negécio. Se for principal (raz&o determinante da liberalidade) ocorre a invalidade de todo negécio; se for secundério, mantém a validade do negécio. AUXILIAR JUDICIARIO TJ/PA AULA 05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Par [x] i) JAtencdoBEINao confundir encargo com condigéo. A condicio suspensiva impede a aquisigéio do direito e o encargo nao impede a aquisicfo e nem suspende o exercicio do direito. Difere da condicéo resolutiva, porque ndo conduz, por si, a revogagéio do ato; o instituidor do beneficio poderé ou nao propor a acéio revocatéria, cuja sentenca no tera efeito retroativo. Como as diferencas entre os trés institutos (condigo, termo e encargo) so sutis e 0 examinador gosta de aproveitar esse fato para confundir o candidato, costumo fornecer o quadrinho comparativo abaixo, realcando as IREITO CIVIL NEGOCIO JURIDICO principais diferengas entre os elementos acidentais e facilitando 0 estudo. CONDICAO SUSPENSIVA TERMO ENCARGO. 1. Evento futuro e incerto. 1. Evento futuro e certo. 1, Impde sempre um Snus. 2. Enquanto nao verificada, n&o se adquire o direito a que 0 ato visa. 2. Adquire-se, de imediato, © direito, apenas se retarda 0 seu exercicio. 2. Nao se suspende a aquisicggo nem 0 exercicio do direito. 3. Emprego da conjungao se (eu Ihe darei isso, se_vocé 3. Emprego da conjuncao| quando (eu Ihe darei isso) 3. Emprego das locugées: para que, a fim de que, fizer aquilo), quando vocé fizer 18 anos). |com a obrigacao de, mas, ete. 4. Pode ser aplicada a|4. Pode ser aplicada al4. Aplica-se aos atos de liberalidade heranga, etc.). Vimos até agora os elementos constitutivos do negécio — juridico (essenciais, naturais e acidentais). A partir daqui veremos o que causa a invalidade do negécio juridico. quaisquer atos. quaisquer atos. (doagao, Para a realizagdo de um ato juridico, a lei civil impde que sejam observados determinados preceitos. Em alguns casos, os atos praticados pelas partes podem no produzir os efeitos desejados, posto que realizados em desacordo com o ordenamento juridico. Segundo a doutrina tradicional a expresso invalidade (ou ineficdcia) € empregada para designar o negécio que n&o produziu os efeitos desejados pelas partes. © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part © grau de invalidade do negécio depende da natureza da norma ofendida. Vejamos: A) ATO INEXISTENTE Ocorre quando falta algum elemento estrutural ao negécio; inidéneo & produgéio de qualquer efeito juridico. Ex.: compra e venda na qual nao se estipulou prego; ou nao se identificou 0 comprador ou 0 vendedor; ou simplesmente n&o hd objeto; ou praticado com coagao fisica, etc. N3o é necesséria a declaragao da ineficdcia por decisdo judicial, porque o ato jamais chegou a existir (ndo se invalida aquilo que nao existe). Costuma-se dizer: “ato inexistente € 0 nada no mundo juridico”. O vicio € t&o sério que o ato é considerado como inexistente. B) NULIDADE De uma forma ampla nulidade é @ sancdo imposta pela lei que determina a privacéo de efeitos juridicos do ato negocial, praticado em desobediéncia ao que ela prescreve. Para que se possa declarar um negécio juridico nulo ou anulavel, é preciso que ele ao menos tenha entrado (embora com vicios) no mundo juridico para surtir os efeitos manifestados. Duas sdo as espécies de nulidades: nulidade absoluta e nulidade relativa (ou anulabilidade). Ambas pressupdem previsdo legal e prejuizo. No final deste tema fornecerei um quadro comparativo entre ambos (ato nulo e anulavel). 1. NULIDADE ABSOLUTA (ato nulo): € mais grave, pois 0 ato nao produz qualquer efeito, por ofender principios de ordem publica. Hé um interesse social para que se prive o negécio de seus efeitos. O ato é absolutamente invdlido; n&o precisa ser anulado, pois j4 nasce nulo; o Juiz somente declara 0 ato nulo. Caracteristicas das nulidades absolutas > Podem ser alegadas (por meio de ac&o declaratéria) por qualquer interessado, ou pelo Ministério Publico, quando Ihe couber intervir (art. 168, CC). >» Devem ser pronunciadas pelo Juiz, de oficio (sem que haja uma provocacao especifica), quando conhecer do negécio juridico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, nao Ihe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes (art. 168, paragrafo unico, CC). >» © negécio juridico nulo n&o é suscetivel de confirmacéo (excecao feita a hipétese do art. 170, CC, que veremos mais adiante: converséo), nem se convalesce pelo decurso de tempo (art. 169, CC). Ou seja, o negécio nulo é imprescritivel, porém os efeitos patrimoniais prescrevem. Em outras palavras: a declaragdo de nulidade n&o prescreve; 0 que © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part prescrevem s&o os eventuais efeitos patrimoniais decorrentes dessa declaracao. » Efeitos ex tunc (natureza declaratéria), que veremos mais adiante. S&o nulos os negocios quando (art. 166, CC): + praticados por absolutamente incapaz (ex.: venda realizada por menor de 16 anos, enfermo mental interditado, etc.). € interessante deixar claro que se um contrato foi assinado por um menor de 16 anos, este contrato seré nulo, n&o se convalidando pelo tempo. Ainda que passado muito tempo e 0 menor se torne maior, 0 ato continua sendo nulo; o advento da maioridade nao faz o contrato se convalescer. + for ilicito, impossivel ou indetermindvel 0 seu objeto (ex. contrato para fazer uma viagem até a estrela Alfe-Centauro, venda de um carro roubado, etc). + 0 motivo determinante, comum a ambas as partes for ilicito. + n&o se revestir da forma prescrita em lei (ex.: pacto antenupcial feito por contrato particular, testamento feito de forma verbal, etc.). + for preterida solenidade que a lei considere essencial para sua validade (ex.: testamento realizado sem testemunhas, compra e venda de imével sem fazer a escritura, etc.). + tiver por objeto fraudar lei imperativa. + a lei taxativamente o declarar nulo ou Ihe negar efeito (ex.: casamento de pai com filha adotiva; cléusula que permite ao credor ficar com o imével hipotecado, etc.). + © negécio juridico for simulado (art. 167, CC): pessoa finge vender uma casa a terceiro somente com 0 objetivo de facilitar 0 despejo do inquilino (na verdade nao houve intencdo de praticar negécio algum). 2. NULIDADE RELATIVA (anulabilidade do ato): quando a ofensa nao atinge de forma direta o interesse social, mas sim o interesse particular de pessoas que o legislador pretendeu proteger. O ato anuldvel prende-se a uma desconformidade que a norma considera menos grave, pois viola preceitos individuais, provocando uma reag&o menos extrema. Enquanto nao for declarado como tal pelo Juiz, produz efeitos normalmente. Neste caso a lei oferece aos interessados as sequintes alternativas: a) requerer a anulacdo do ato; b) confirmar ou sanar 0 vicio (evitando-se o seu desfazimento); c) deixar que continue a produzir seus efeitos normalmente, pois o préprio decurso de tempo convalidara 0 negécio. © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part Caracteristicas > © Juiz n&o pode pronunciar (reconhecer) a anulacdo de oficio; exige-se uma provocagéio, ou seja, uma ago anulatéria proposta pelo legitimo interessado. Somente os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade (art. 177, CC). O negécio anuldvel pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro (art. 172, CC). O ato de confirmacéo deve conter a substdncia do negécio celebrado e a vontade expressa de manté-lo (trata-se da confirmag’o expressa, prevista no art. 173, CC). Admite-se a confirmaco tacita quando 0 negécio jé foi cumprido em parte pelo devedor, ciente do vicio que tornava o negécio anuldvel; a vontade de confirmar esté implicita, pois mesmo sabendo do vicio que tornaria o negécio anulavel, a parte néo se importou com isso e praticou o ato, cumprindo a sua obrigagao (art. 174, CC). A confirmacéio expressa, ou a execugdo voluntéria de negécio anulavel (confirmacéo tacita), importa a extingéio de todas as agdes, ou excecées, de que contra ele dispusesse o devedor (art. 175, CC). A invalidade do instrumento nao induz a do negécio juridico sempre que este puder ser provado por outro meio (art. 183, CC). Respeitada a intencdo das partes, a invalidade parcial de um negécio juridico no 0 prejudicaré na parte valida, se esta for separavel. A invalidade da obrigacao principal implica a das obrigagdes acessérias, mas a destas nao induz a da obrigacéo principal (art. 184, CC). > Quando a anulabilidade do ato resultar da falta de autorizago de terceiro, > Sao serd validado se este a der posteriormente (art. 176, CC). Anulado 0 negécio juridico, restituir-se-Ao as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, nao sendo possivel restitu-las, sero indenizadas com o equivalente (art. 182, CC). A anulabilidade nao tem efeito antes de julgada por sentenga, ou seja, s6 atinge os atos apés a declaracao de anulacao (art. 177). Efeitos ex nunc. anulaveis os negécios (art. 171, CC): + por incapacidade relativa do agente, sem a devida assisténcia de seus representantes legais (ex.: venda feita por prédigo sem ser assistido). + por vicio resultante de erro, dolo, coagao, lesdo, estado de perigo ou fraude contra credores (ex.: venda sob coag&o moral; com erro essencial, etc.). + por falta de legitimacéo (ex.: venda de imével sem outorga do outro cénjuge, casados sob o regime em comunhdo universal de bens). © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part + se a lei assim o declarar, tendo em vista uma situag&o particular (ex.: art. 496, CC: E anulavel a venda de ascendente para descendente, salvo se os outros descendentes e o cénjuge do alienante expressamente houverem consentido; art. 550, CC: E anulével a doagao do cénjuge adtltero ao seu cimplice de adultério pelo outro cénjuge ou seus herdeiros, até dois anos depois de dissolvide a sociedade conjugal). Prazo Decadencial Nos termos do art. 178, CC é de quatro anos 0 prazo de decadéncia para pleitear-se a anulacéo do negécio juridico. Conta-se esse prazo: a) no caso de coacgéio (moral), do dia em que ela cessar; b) no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou les&o, do dia em que se realizou 0 negécio juridico; c) no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade. E importante salientar que quando a lei dispuser que determinado ato é anulavel, sem estabelecer um prazo para pleitear-se essa anulacdo, este prazo seré de dois anos, a contar da concluséo do ato (art. 179, CC). Ex. observe o art. 496, CC. Ele prevé que é anulavel a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e 0 cénjuge do alienante expressamente houverem consentido. Reparem que o dispositivo diz que 0 ato é anulvel, mas n&o prevé o prazo para se requerer a anulac3o. Logo, entende-se que este prazo é de dois anos, por forga do art. 179, CC. Outro exemplo: art. 533, II, CC (que trata da troca ou permuta). Bresumindo BH 1. Inexisténcia do Ato: n&o ha vontade; 0 negécio juridico néo chega a se formar por faltar-Ihe elemento constitutivo essencial (ex.: coacéio fisica). 2. Nulidade: hd uma declaragéo de vontade, mas esta néo traduz a verdadeira intencfo do agente ou persegue resultado contrério as determinagées legais. a) Absoluta (ato nulo): vicio mais grave, pois decorre de ofensa a preceitos de ordem publica. b) Relativa (ato anulavel): vicio menos grave, pois decorre de violagéo de interesses privados. Convalescenga do Ato Anuldvel Segundo a doutrina (néo ha unanimidade quanto a terminologia) a convalescenca pode ocorrer de trés formas: confirmag&o (ou ratificacéo), convalidagio e prescrigéio. Embora 0 atual Cédigo nao seja explicito, entende a doutrina que os efeitos da convalescenga do negécio s&o retroativos (ex tunc). Vejamos. © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part * Confirmagéio (ou ratificacéo): consiste na rentncia ao direito de alegar a anulabilidade, salvo direito de terceiros (art. 172, CC). Pode se dar de forma expressa ou tacita. Expressa (art. 173, CC): 0 ato de confirmacdo deve conter a substancia da obrigacéo confirmada e a vontade expressa de confirmé-la. Portanto, deve ser a mesma clara e precisa, para que nao paire qualquer divida a respeito. Tacita (art. 174, CC): quando o devedor, mesmo ciente do vicio que poderia anular o negécio, cumpriu voluntariamente a obrigacdo (art. 174, CC). A confirmagio (expressa ou técita) implica em rendncia a todas eventuais ages judiciais. + Convalidacao: consiste no advento de requisito faltante a formagao do contrato anuldvel, ou seja, aquilo cuja auséncia importava na anulabilidade do contrato passa a se fazer presente. Ex.: uma venda realizada por relativamente incapaz foi efetivada sem a assinatura de seu assistente; a posterior anuéncia dele, assinando o instrumento, sana o vicio e convalida o negécio. * Presctigéo ou decadéncia: houve o transcurso de tempo superior ao previsto em lei. Ex.: 0 ato foi praticado mediante erro essencial sobre o objeto; determina o art. 178, II, CC que este defeito deve ser alegado no prazo de quatro anos, sob pena de decadéncia; superado este prazo o defeito ndo poderd ser mais alegado e o negécio se convalesce. Grafico das Diferencas A deciséo que declara a nulidade retroage a data da celebragdo do negécio AtoNulo | Efeitosextunc | nulo. Efeito erga omnes (contra todos). Matéria de ordem puiblica. Ndo retroage. A decisio de anulabilidade opera efeitos a partir da anulac&o. Efeitos somente entre as partes contratantes. Matéria de ordem privada. Ato Anuldvel Efeitos ex nunc Percebam as duas expressées em latim (ex tunc @ ex nunc). Elas séo muito importantes. Ndo sé no Direito Civil, como em todos os ramos do Direito. Ja vi estas expressdes cairem em quase todas as matérias. Portanto, muita ateng&o. Vejamos. EX NUNC — Significa “de agora em diante”, desde agora. Portanto quando dizemos que algo tem efeito ex nunc, queremos dizer que os efeitos decorrentes sero daqui para frente. Quando se anula um negécio juridico os efeitos dessa anulag&o iniciam-se a partir dessa declaracéo de anulabilidade (em outras palavras: os efeitos nao retroagem). Para ajudar a fixac&o desta expressao, ha um “macete” muito usado pelos professores: ex nunc (ndo retroage) = © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part expressiio nunc “lembra” nunca. No entanto, cuidado: nunc no _ significa nunca. Nunc _significa_agora, no momento presente (portanto, de agora em diante). A dica 6 sé para ajudar uma melhor associacéio. Vejamos 0 que diz 0 art. 177, CC, reforgando o que ja falamos: “A anulabilidade nao tem efeito antes de julgada por sentenga, (...)”. EX TUNC — Significa “desde entéo", desde aquele momento. (lembrem-se do macete: ex tune - tudo; tunc - tras, vai para tras). Ou seja, os efeitos da declarago da nulidade do ato retroagem a data da sua celebracéio, como se ele néo tivesse existido. Esta expressdio também pode se referir a uma clausula que admite a retroatividade da lei, alcangando situagdes j4 consolidadas sob o império de lei anterior. Implica na anulago do ato alcancado por seus efeitos. ERGA OMNES —é uma expresséo latina que significa: contra todos, o que é valido em relago a todos, extensivel a todos, oponivel a todos. S observacdes D 1) Um negécio juridico nulo pode produzir efeitos? Segundo a professora Maria Helena Diniz a resposta é afirmativa, pois 0 negécio pode produzir efeitos enquanto néo decretada a sua nulidade. Ou seja, sendo nulo ou anuldvel 0 negécio juridico é imprescindivel a manifestago do Poder Judiciério a respeito, porque a nulidade, ainda que absoluta, nao se opera ipso jure (ou seja, de imediato, por simples forca de lei). A nulidade sé se repercute se for decretada judicialmente; caso contrério, surtirfo os efeitos aparentemente desejados pelas partes. Portanto, se a aco de nulidade no for proposta, o ato continuaré valido e operante. 2) A teoria das nulidades sofre algumas excecdes no que diz respeito ao casamento. Portanto, ainda que um casamento considerado nulo, pode_gerar efeitos em algumas situagdes especiais (especialmente em relagdo & filiacdo e ao cénjuge inocente). Regras comuns a nulidade e a anulabilidade + Pelo art. 182, CC, anulado um negécio juridico as partes serdo restituidas ao estado em que se encontravam antes do negécio (status quo ante). Ex.: anulada a compra e venda de um relégio, tanto @ importancia em dinheiro eventualmente entregue, como o objeto do negécio (0 relégio), devem ser devolvidos as partes. Se for um bem imével o registro imobilidrio deve ser cancelado. Isso néo sendo possivel (a coisa no mais existe ou € invidvel a reconstituig&o da situagéo anterior), 0 lesado seré indenizado com o valor sauivalente a coisa. + A nulidade (absoluta ou relativa) pode ser total (atingindo todo 0 negécio juridico) ou parcial (afeta somente parte do negécio). A nulidade parcial de um ato no prejudicara a parte valida do negécio, se for destacdvel, ou seja, se esta AUXILIAR JUDICIARIO TJ/PA AULA 05 — FATOS JURIDICOS (28 Pact IREITO CIVIL 2: NEGOCIO JURIDICO © puder existir autonomamente (art. 184, CC). Trata-se da aplicacio do principio da conservag&o do negécio juridico. Por esse principio 0 Juiz, sempre que possivel, deve conservar ou manter 0 negécio impugnado por invalidade. Desta forma, o Juiz pode afastar uma cldusula invdlida do contrato, mas mantendo o restante da avenca. Exemplo: a taxa de juros estabelecida em um contrato foi muito acima da legal; neste caso o contrato pode ser mantido havendo apenas a redugdo da taxa para sanear a invalidade parcial do contrato. Outro exemplo: a declaracéo de nulidade da clausula de fianga nao atinge todo o contrato de locaciio. * A nulidade relativa do instrumento no induz a do ato se este puder ser provado por outro meio (art. 183, CC). Ou seja, mesmo que viciado um contrato, este pode ser provado de outras maneiras. Ex.: anulacéio do contrato de locag&o n&o anula a prépria locagdo; esta pode ser provada por meio de recibos e testemunhas. + A nulidade da obrigagdo principal implica a nulidade das acessérias. Mas 0 contrério no. Ex.: nulidade de cléusula onde se estabelece a locacéio residencial porque o locatério é menor invalida todas as outras cldusulas, inclusive a fianca. 38 a nulidade no contrato de fianga nao atinge o contrato de locacéo, propriamente dito. Quadro Comparativo ATO NULO (nulidade absoluta) ATO ANULAVEL (nulidade relativa - anulabilidade) 1, Interesse da coletividade; matéria de ordem ptiblica. Efeitos erga omnes (extensiveis a todos); opera-se de pleno direito. 1. Interesse do prejudicado; matéria de ordem privada. Efeitos inter partes; afeta apenas as pessoas que o alegaram, salvo nas hipéteses de indivisibilidade e solidariedade. 2. Natureza declaratéria. 2. Natureza desconstitutiva. 3. Pode ser arguida por qualquer interessado, inclusive 0 Ministério Publico quando Ihe couber intervir. 3. Somente pode ser alegada pelo interessado (prejudicado) ou por seus legitimos representantes. 4. O Juiz pode reconhecer de oficio, mas nao pode supri-la. 4. © Juiz nao pode reconhecer de oficio. No entanto, se alegada, ele pode sana-la. 5. O vicio ndo pode ser sanado pela confirmacéo, nem se convalesce pelo decurso do tempo. Admite-se a conversao. 5. © vicio pode ser sanado pela confirmagao expressa (art. 173, CC) ou tacita (art. 174, CC). AUXILIAR JUDICIARIO TJ/PA AULA 05 — FATOS JURIDICOS (28 Pact 6. Em regra, a declaracio de nulidade no prescreve (0 que prescrevem sao os efeitos patrimoniais _decorrentes). Excecies: quando a lei assim o permitir, negécios de fundo patrimonial, etc. 6. Prescreve em prazos mais ou menos exiguos ou em __prazos decadenciais (art. 178, CC: 04 anos; art. 179, CC: 02 anos). 7. Efeitos ex tunc (desde aquele momento). A declaragéo de nulidade retroage a data da celebraco do 7. Efeitos ex nunc (de agora em diante). Produz efeitos até o momento em que foi decretada a sua invalidade. negécio (emissao da vontade). Nao retroage. Os efeitos se operam somente a partir da anulagao. CONVERSAO DO NEGOCIO NULO 0 art. 170, CC admite a conversdéo do negécio juridico nulo (0 Cédigo somente se refere ao negécio nulo e ndo ao anulavel) em outro de natureza diferente: “Se 0 negécio juridico nulo contiver requisitos de outro, subsistir este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade”. Observem: 0 negécio no pode prevalecer da forma como pretendida pelas partes; é nulo. Mas como seus elementos so idéneos para caracterizar outro_negécio, pode ocorrer a transformacao, desde que nao haja uma proibig&o expressa. Elementos: a) pratica de negécio nulo; b) intenc&o das partes, ou seja, a conviegdo de que as partes teriam querido este novo contrato (em lugar do anterior) se houvessem previsto sua nulidade (elemento subjetivo); c) 0 negécio contém os requisites necessarios de outro negécio; d) aproveitamento do material ou fatico do negécio invalido. Como essa matéria é bem teérica, vamos exemplificar bem. Duas pessoas celebram um contrato de compra e venda de um imével por meio de um instrumento particular. Ora, esse negécio € nulo (nulidade absoluta), pois a compra e venda de um imével exige instrumento publico (e nao particular), que no caso € a escritura publica (para iméveis com valor superior a 30 salérios minimos: art. 108, CC). Um negécio nulo, como regra, nao gera efeitos. Mas neste caso, possivel salvar este negécio, aplicando a teoria da conservagao do negécio (pois visa a manutengo da vontade externada), mediante atividade de requalificag’o do negécio juridico: basta consider-lo como sendo uma promessa de compra e venda (e n&o como um contrato de compra e venda propriamente dito). A promessa é um compromisso bilateral de contrato ou um contrato preliminar. O art. 462, CC no exige as mesmas formalidades do contrato definitivo: 0 contrato preliminar, exceto quanto 4 forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado. No entanto é necessério que os contratantes queiram o outro contrato, se soubessem da IREITO CIVIL 2: NEGOCIO JURIDICO AUXILIAR JUDICIARIO TJ/PA AULA 05 — FATOS JURIDICOS (28 Pact IREITO CIVIL 2: NEGOCIO JURIDICO © nulidade daquele que celebraram e que o negécio nulo tenha os elementos do outro negécio a ser convertido. Resumindo: 0 contrato de compra e venda é nulo; porém a vontade das partes fica preservada convertendo-se a compra e venda em uma promessa de compra e venda, sendo que o negécio requalificado é considerado valido (o compromisso no exige a forma publica), gerando efeitos. Outros exemplos: uma nota promisséria considerada nula (n&o respeitou requisitos de validade) pode ser aproveitada como confiss&o de divida; a doacio de um bem inalienavel pode ser considerada como um usuftuto, etc. S Reforcando @ aproveitamento do Negécio Juridico A) Ato Nulo: nao pode ser confirmado e nem se convalesce pelo decurso de tempo; admite-se, no entanto, a conversao (arts. 169 e 170, CC). B) Ato Anulavel: pode se convalescer pela: confirmac&o (ou ratificagio), convalidagao e prescrig&o ou decadéncia. Obrigagées Contraidas por Menores + As obrigacées contraidas por menores entre 16 € 18 anos séo anulaveis se contraidas sem assisténcia de seus representantes (os quais devem intervir pessoalmente nos atos). + Os menores devem ser assistidos por curadores especiais quando intervierem em atos nos quais possa haver um conflito de interesse com seus representantes legais (art. 119, CC). Ex.: pai e filho, este com 17 anos, querem vender imével que possuem em condominio. Neste caso, para a venda do bem o filho deve ser assistido por um curador especial, pois ‘pode’ haver um conflito de interesses entre o menor e seu pai. O prazo decadencial para pleitear-se a anulagéo do ato praticado com esta infringéncia é de 180 dias a contar da conclusio do negécio ou da cessacao da incapacidade. + Quanto aos ates ilicitos em que forem culpados, os menores entre 16 e 18 anos, so equiparados aos maiores. Vamos deixar claro: somente se o ilicito for civil; isso nao se aplica ao ilicito penal, pois a imputabilidade penal & com 18 anos, conforme o art. 228, CF/88: “Sdo penalmente inimputaveis os menores de dezoito anos, sujeitos as normas da legislagdo especial”. + © menor entre 16 e 18 anos n&o pode eximir-se de uma obrigagéo ou requerer a anulag&o da mesma, invocando a sua idade, se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se espontaneamente se declarou maior ao assumir a obrigagio (art. 180, CC). Ex.: rapaz com 17 anos queria alugar um apartamento (seria inquilino). Para isso seria necesséria a assisténcia de seus pais. Porém, falsifica seu documento de identidade e se apresenta como maior. Passados alguns meses, deixa de © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part pagar o aluguel. Acionado, alega ser incapaz. Tal argumento nao sera cabivel, pois ele se apresentou como maior quando assumiu a obrigagdo. + Ninguém pode reclamar 0 que, por uma obrigag&o anulada, pagou a um incapaz, se no provar que reverteu em proveito dele a importancia paga (art. 181, CC). Ou seja, uma pessoa celebrou um contrato com um incapaz. Este negécio foi anulado. O incapaz nao sera obrigado a restituir eventual quantia paga. Exceto se a outra pessoa provar que a quantia reverteu em proveito dele mesmo (o menor). PROVA DO NEGOCIO JURIDICO tema “prova do negécio juridico” nao esta especificado em nosso edital. No entanto ele pode estar implicito no item negécio juridico. Ou seja, 0 examinador pode dizer que quando se referiu ao negécio juridico englobou, também, a sua prova. Pelo sim e pelo no vamos completar o tema e dar esta matéria. Como se costuma dizer: “cautela e caldo de galinha n&o faz mal a ninguém”. Até porque esta matéria no é muito extensa. Vamos a ela. Uma vez praticado determinado negécio juridico, pode surgir a necessidade de prova-lo. Nao basta alegar um fato. Exige-se a prova deste fato. Hd um brocardo de diz: allegare nihil et allegatum et non probare paria sunt (nada alegar e alegar algo e n&o prové-lo se equivalem). Deve-se provar apenas 0 fato e ndo o direito a ser aplicado, pois € atribuigéo do Juiz conhecer e aplicar 0 Direito (jura novit curia). As Ordenagdes do Reino (Filipinas) jé mencionavam que “a prova é 0 farol que deve guiar o Juiz nas suas decisdes sobre as questées de fato”. Prova 6 0 conjunto de meios empregados para demonstrar, legalmente, a existéncia de atos e de negécios juridicos. No processo a prova serve para estabelecer a verdade diante do Juiz. PRINCIPIOS + © 6nus da prova incumbe a quem alega o fato e nao a quem o contesta. Esta é a regra -» Cédigo de Processo Civil - art. 333, I e II. Se o autor alegar um fato, mas nada provar, o réu (como regra) seré absolvido. + Eu disse acima “como regra”, pois alguns fatos independem de prova, como os fatos notérios, que sdéo os fatos da cultura geral, de conhecimento de todos. Ex.: datas histéricas (natal, ano novo, etc), os dias da semana (depois da segunda-feira, vem terca-feira...), personagens histéricos (Tiradentes, D. Pedro II), ete. © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part + Também devem ser considerados veridicos os fatos incontroversos, sobre os quais néo ha debate entre as partes. Ex.: um fato foi alegado pelo autor e no foi contestado pelo réu. As partes concordam com os fatos; tornou-se incontroverso, embora possam néo concordar com o resultado juridico deles. + Se, para a validade do negécio juridico a lei exige forma especial, sua prova sé poderé ser feita pela exibicio do documento (ex.: a compra e venda de iméveis $6 se prova pela escritura publica). + Se 0 negécio for de forma livre (no solene), a prova pode ser feita por qualquer meio permitido pela ordem juridica (até mesmo verbal). REQUISITOS. A prova deve ser: a) Admissivel no proibida por lei e aplicével ao caso em andlise. b) Pertinente -» idénea para demonstrar os fatos relacionados com a questo que se discute. c) Concludente - apta a esclarecer pontos controvertides ou confirmar as alegacées feitas no processo. O art. 212, CC enumera de maneira exemplificativa (e no taxativa) quais so os meios de prova. Vejamos: A) CONFISSAO E 0 reconhecimento do fato pela parte que pratica o ato contrario a seu interesse e favordvel ao adversério. Ela pode ser judicial (feita em juizo) ou extrajudicial (feita fora de um processo); espontaénea ou provocada; expressa ou presumida (ou ficta, no caso da revelia: arts. 302 e 319, CPC). Em regra sé pode ser produzida por pessoa capaz e no gozo do direito que se discute. Ou seja, a confisséo de pessoa sem capacidade para dispor do direito relative ao fato confessado n&o produz efeito juridico (art. 213, CC). Além disso, se a confissao for feita pelo representante do incapaz somente teré eficdcia dentro dos limites em que puder vincular o representado. Ou seja, uma procuracao deve conferir poderes especiais para a confissio. Se o mandatério tiver apenas poderes de administracio, n&o poderé confessar. A confiss&o nao valeré se foi feita por um sé dos cénjuges quando o fato versar sobre bens iméveis. Finalmente: a confissdo ¢ irrevogavel, mas pode ser anulada se for oriunda de erro de fato ou coagao (art. 214, CC). B) DOCUMENTOS (piiblicos ou particulares) As declaragdes constantes de documentos assinados presumem-se verdadeiros em relacdo aos signatarios (art. 219, CC). Documentos publicos s&o os elaborados por autoridade publica no exercicio de suas fungdes. Ex.: certidaio (reprodugéio do que se encontra transcrito em determinado livro ou © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part documento), traslado (copia do que se encontra langado em um livro ou em um processo). Documentos particulares so os elaborados pelas pessoas em geral (ex.: cartas, telegramas, exame médico para frequentar piscina, etc.). © Lembrando: documento € uma express8o genérica; instrumento € uma espécie do género documento, s&o eles que “do vida” ao negécio juridico. + Nos contratos celebrados com a cldusula de ndo valerem sem instrumento publico, este passa a ser da substancia do ato, e sé ele poderd provar este mesmo ato. * As obrigagdes convencionais de qualquer valor, constantes de instrumentos particulares, e assinados pelas partes, fazem prova se assinados por duas testemunhas. * Para fazer prova perante terceiros, os documentos precisam ser registrados no registro ptiblico (Cartério de Titulos e Documentos). * Todos os documentos e instrumentos de contrato que tiverem de produzir efeitos no Brasil devem ser escritos em lingua portuguesa (art. 215, §3°, CC). Se feito em outra lingua devem ser traduzidos por tradutor juramentado (art. 224, CC). C) TESTEMUNHAS. Testemunha é a pessoa natural (fisica) que, néo sendo parte diretamente interessada no objeto do litigio (estranha ao feito), é chamada para depor sobre fato ou para atestar um ato juridico, assegurando, perante outra, sua veracidade (testemunha judiciéria) ou para se pronunciar sobre 0 contetido do documento que subscrevem (testemunha instrumentéria), como as testemunhas que s&o colocadas na realizacio de um testamento, nas certidées de nascimento, nas escrituras puiblicas, etc. A prova exclusivamente testemunhal somente seré admitida em atos negociais cujo valor nao ultrapasse o décuplo (dez vezes) do maior salério minimo vigente no Pais no tempo da celebrac&o e qualquer que seja o valor do contrato como complemento de prova documental (art. 227, CC). Nas demais hipéteses ela € admitida como forma subsidiéria ou complementar da prova por escrito. A prova testemunhal para surtir efeitos no Ambito do Processo Civil deve atender aos seguintes requisitos: a) deve ser pessoa fisica, ndo se admitindo o testemunho de pessoa juridica, cujas informagées integram a prova documental; b) deve ser pessoa estranha ao feito, ndo se confundindo com as partes; c) deve ter conhecimento dos fatos, direta ou indiretamente, para atestar sobre sua existéncia; d) deve ter capacidade juridica para depor, preenchendo os respectivos pressupostos legais. Este tema é tratado no Cédigo © AUXILIAR JUDICIARIO T)/PA = DIREITO CIVIL Pento JUA.05 ~ FATOS JURIDICOS (24 Part de Processo Civil, sendo que o seu art. 405 estabelece quem pode ser testemunha. Nao podem testemunhar os (art. 228, CC): + menores de 16 anos. + que por enfermidade ou deficiéncia mental ndo tém discernimento para a pratica dos atos da vida civil. + cegos e surdos, quando a ciéncia do fato dependa do érgao dos sentidos que Ihes falta. + interessados no objeto do litigio (ex.: flador de um dos Iitigantes; sublocatério em agao de despejo, etc.). + inimigo capital ou amigo intimo das partes. + condenados por crime de falso testemunho (sentenga penal transitada em julgado, em face do principio da inocéncia). + ascendentes e os descendentes, inclusive adotivos, em qualquer grau. + cOnjuges. + colaterais até o terceiro grau, por consanguinidade (irmaos, tios, sobrinhos, etc.) ou afinidade (sogra, genro, cunhado, etc.) de alguma das partes. Gobservacies @ 1. 0 pardgrafo Unico do art. 228, CC possibilita que essas pessoas sejam ouvidas (prestem depoimento) para a prova de fatos que sé elas conhegam. 2. Quando um menor de 16 anos presta declaragdes em juizo, eles sio considerados como informantes (e néo como testemunhas, propriamente ditas). A contrério senso, as pessoas com 16 anos ou mais jé podem ser testemunhas, Se a testemunha tiver entre 16 e 18 anos, pode prestar depoimento mesmo sem a assisténcia de seus representantes legais. No entanto, apesar de ser considerada testemunha, se ele mentir no iré responder pelo crime de falso testemunho, uma vez que € inimputavel. 3. A capacidade para ser testemunha nao se confunde com a capacidade civil. Como sabemos, 0 cego, 0 mudo, o surdo bem como o enfermo, nao séo incapazes civilmente, mas o sero para testemunhar, caso tais deficiéncias resultem na impossibilidade de percepc&o sensorial adequada do fato a ser narrado (ex.: 0 cego ndo pode ser ‘testemunha ocular’ de um crime). 4. Devemos lembrar ainda que ninguém é obrigado a depor sobre fatos “a cujo respeito, por estado ou profisséio, deva guardar segredo; a que nao possa responder sem desonrar a si préprio, seu cénjuge, parente ou amigo intimo e que os exponha a perigo de vida, de demanda, ou de dano patrimonial imediato” (art. 229, CC).

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