Você está na página 1de 3
104 RESENHAS se apolam ainda na bibliogratia espectalizada, tendo lugar de destaque a Revista de Imigracdo 6 Colontzacao, do Rio de Janeiro e © Bolettm do Departamento de Imigracde © Colonizacdo, dé So Paulo, ‘As AA, mostram Inlcialmente a preocupactio dos Presidentes _provinciais em promover 0 povoumento da provincia através da introdueao de colonos europeus ‘Que também constitulam importante forea de trabalho destinada a substituir a ‘milo-de-obra escrava em extincto, A problemdtica de recrutamento, transporte, recepeto e redistribuleio dos co- ones € amplamente focalizada, assim como a Instalacdo dos ncieos colonials, sua organtzacio administrativa, suas bases econdmleas, sua vida de relacces, Nesse particular as dificuldades encontradas pelos colonos eram enormes, prin- clpalmente face A posicio googratica dos nlcleos que se encontravam, na. sua ‘maior parte, localizados em dreas serranas florestadas, marginallzados em relacio ‘aos elnos de clreulacdo ento existentes. Nao raro as unleas vias de circulacdo de que dlspunham eram constituidas de canals ‘fluviais. Evidentemente, 0 Isolamento dos ndcleos acarretava intmeros problemas nto 36 no plano econdmico mas também concernentes a assistencia méaica, educactonal rellgiosa. Ainda vinculado a0 Isolamento, 0 problema de adaptacto’ dos colonos, sun difleuldade de assimilacto e completa Integracio & comunldade brasileira, — ‘ADYR APrARECIDA BALASTHER RODRIGUES. PIERSON, Donald — Brancos o pretos na Bahia: estudo de contacto raclal. In- troduetio de Arthur Ramos ¢ Robert E, Park. 2 ed. Sto Paulo, 1973, Com- Panhla Edltora Naclonal. (Brasillana, v. 241), Como Assistente de Pesquisa do Soclal Sclence Research Comite da Uni- vyersidade de Chleago, Donald Plerson, com riglda formacio metodolégica, discipulo de Robert E, Park, teve a oportunidade de vir ao Brasil, mals especialmente & Bahia, onde estudou, x loco, problemas de contacto racial, durante 22 meses, ou sela, entre 1985 1997. Publlca sua pesquisa, pela primeira vez em ingles,’ sob © titulo Negroes in Brazil: @ study of Race Contact at Bahia, pela University of Chicago Press em 1942. A obra é reeditada pela Southern’ Iilinols University Press em 1967, com Preficlo e Apéndice sobre método, eserites pelo autor @ Intro- ueflo de Arthur Ramos, preparados especialmente para’ a primeira edicio brasileira, uma nova Introdueso’ pelo autor, escrita para esta edicho. Este trabalho € con. lderado plonelro do ponto de vista da investigacio do negro, prineipalmente pelo que o autor dé & sua pesquisa. Pela primelra vez no Brasil, algém sar com objetividade elentitiea a “situacko racial” balana. Notalse desde © Projeto de Pesquisa, publicado em Apéndice, na obra em apreco, que Plerson, flgm de se ater As Unhas do método clentifico em pesquisa social, ainda Insiste nna Introdueto que “a andllse nele contida nfo deve ser faclimente generallzada ara todo © Brasli", uma vez que se refere & Bahl Em 1939 @ convidado para colaborar no desenvolvimento de uma escola plo- nelra em Ciencias Socials, em Slo Paulo, al permanecendo quase dezesrels anos. Segundo ele, nesta época,\ havia pouco interesse pela “situa¢ho racial” no. Brasil tanto nos cireulos educacionals quanto também em outros setores, Por volta de 41951, entretanto, © interesse pelo assunto tinha se desenvolvido em alto gra em ertds clreuios intelectuals, tornando possivels os estudos da UNESCO em yarlos Pontos do Pals. Se entre a primeira e segunda ediclo desta obra temes um espaco e trinta anos, Plerson pergunta A pagina 29: “Até onde seria exata a identifleacko da ‘situaclo racial’ na Bahla? Ter-se-la esta situacho modifieade no. intervalo REVISTA DO INSTITUTO DE ESTUDOS BRASILEIROS 105 transcorrido? Em que grau cra, o 6, tal situaclo reprosentativa de todo 0 Brasil? Saberemos hoje mals do que ‘sablamos entio, com referencia ts circunstinclas que a produziram! Na Introduelo & segunda edicso anallsa com culdado a questio das contra ‘algdes nos relatos a rospelto do cardter exato da “situacdo racial” do Brasil © enumera varias 7a26es, entre elas a imensidilo googréfiea, a natureza sutil da “situacio racial” aqui, as detiniedes imprecisas que confundem 0 leltor sobre 0 significado das palavras, o restrito volume de pesqulsas de qualidade empirica ¢ as vvarlagGes nos objetivos, abordagens © métodos dos escritores da especialldade. Di axes aclma enumeradas dotém-se mals de porto sobre temas como preconcelto ¢ discriminagio comparando com 0 Brasil, Estados Unidos e Africa do Sul, chegando até ao problema de como determinar a’ posigdo social no Brasil, Valew-se nessa determinagdo de cinco eritérios: (2) laco familiar; (2) grau de instrucdo; (9) competénela pessoal; (4) condicko econdmlca; (5) cor. ‘A obra em andilse ¢ um trabalho de intoresses soclolégico e antropolégico fas relacdes de raca e cultura. Trata de algumas das conseqlénelas do. malor movimento de populacto de toda a histérla, das migragdes aasoeladas A expansio (da Europa Ocldental. Lanca mio do método comparativo auxiliads por téenleas estatisticas de feltura e questionarios para inquérito @ levantamentos com amostragens também eata- Ustleas, embora clame pola falta de estatisticas atualizadas no Brasil, Esta obra representa a primeira tentativa elentifiea que surge no Brasil de estudo sistematizido e objetivo das relacdes de raca, abrindo novas perspectivas zna Sociologia Brasileira no capitulo das relagies de raca. Dizem os entendidos ‘que com esta obra a Antropologia Social no Brasil, evolu! de clencla puramente hijstoriea, para uma Antropologla mals “funcional” © neste contesto © “problema raclal” assume novas dimensbet ‘A obra esta dividida em sels unidades, que por sua vez se subdividem em doze capitulos. (1) © cenério — Com dols capitulos: 0 porto da Bahia oa dlstri- Duleso espacial das classes e cores, Procura expllear porque eseolheu a Bahia como local de suas pesquisas, por ser onde a “situseio racial" se apresenta diferente das que sio encontradas nas colénias britainteas, na india ¢ nos Estados ‘Unldos. A Bahia 6 como uma “porta” indleada para so entrar e examinar, in loco, fa situacio de contacto entre brancos © negros, polos longos anos de acomodacio foclal, A distribuledo da populacio de classe segula de perto a contiguracio da terra, A vinda de escravos para o Brasil est ligada A expanstio acucareira. A eseravatura no Brasil caracterlzou-se, em geral, pelo desenvolvimento gradativo fe continuo de relacdes pessoals entre senhor ¢ escravo, relacdes que tenderam @ humanizar a instituledo e solapar seu cardter formal. Anallsa 0 processo de orria como Uma das aiternativas para que a Ubertacko fosse felta, aqul, de ‘maneira gradativa e pacitica, No Brasil, a Casa Grande possibtiiou um contacto estoal e intimo onde a instituledo da eseravatura val perdendo gradualmente suas earacteristieas de instituleho da escravatura e assumiu os de instituleSo patrlarcal fe familial, Sallenta também a este respelto o papel da Igreja Catéliea. Isto € que fle procura analisar no segundo capitulo: A eseravidio, Em a Miselgenactio (capitutos 5 e 6), faz um estudo comparativo entre Estados unldos e Brasil e explica pela formacto da familia a orlgem de um Intenso processo do miselgenacto no rasil, {avorecida iniclaimente pela mancebla e mals tarde por melo de inter-casamentos legals. A tendéncia geral é para que a poreio predominantemente de origem européla absorva os mesticos mals claros, enquanto or sua vez of mesticos absorvem os pretos, processando-se a “arianizaedo pro 406 RESENHAS ‘gressiva", Sobre casamento interracial, & falta de dados estatisticos seguros, sente iflculdade para provar sua hipétese de que poucos easamentos tinham transposto fas lnhas do classe, A taxa de casamentos Inter-racials esti aumentando. Aponta 6s fatos que auxillam 0 casamento do negro com pessoas da classe alta, ‘A quarta unldade € Raca © status social em trés capitulos, Plerson mostra como of mosticos livres comecaram sua ascenslo social. Coloca entre os fatores predominantes deste estado de colsas a mobilidade, tanto vertical como horizontal ‘da populacto brasileira, Na determinacto do status social, a competéncla tende @ superar a origem racial. Na época de sua pesquisa havia’duas classes de pretos ha Bahla: 2) dos que sablam de um problema racial em outros paises e falavam a respelto; 2) dos que nfo tinham esse conhecimento, Nos capitulos 10 ¢ 11 da quinta unidade trata da *heranca africana”, estudando ‘os afrieancs ¢ of candomblés. Os afrieanos natives, como clementos da’ populacio, festavam quase extintos na época da sua pesquisa, sendo que havia algum contacto ‘com a Afriea através de lacos de familia. Estuda neste capitulo @ “ussimilacio”: "O caso dos atrieanos, na Bahla, confirma a hipétese de que a transformacho ‘das experlénelas Interlores, caracteristiea de. todos os casos de assimllacko, @ pro ‘eess0 que passa despercebido ao préprio individuo e que hs vezes se acha em oposl- ello As suas resolucdes © deselos" (p. 902). Em *o candomblé” procura deserever © que ¢ 0 candomble, estudando o processo de llderanea dos mesmos. Com refe- renela A origom ¢ 2 Identifleacio culturals, existem tres tipos principals de candom- biés na Bahia: 0 gege-nago, o congo-angola eo cabocio, Trata ainda da funcio social © primdrla do eandomblé: roforco de atitudes © sentimentes que distingul- ram 08 africanos € sous descendentes da populacko europsia © da malor parte ‘dos mesticos Resume no capitulo Brancos ¢ Pretor na Bahia a longa observacho reulizada, ‘A miselgenactio e 0 tnter-casamento auxiliados pela grande mobilidade da sociedade braslielra concorreram para que uma mistura racial so processasse om larga escala, Surge, entio, © mestico, que sobe gradualmente a escala social, Embora grande numero de negros tenham ainda statue social balxo, néo hd, porém, preconcelto e raca no sentido amerieano, mas sim um preconcelio que é antes de classe, Procura ater-se aos fatos e relata suas observagdes apenas em termos deseri- tivos ou analiticos e no em termos apreciativos e normativos. Explica as raz6es @e sun abordagem metodoldgica, sugerindo vinte e sols hipéteses para “testing” Posterlor, para responder & questio: “por que a estrutura da sueledade escravocrata, alana nilo se transtormou na de casta, como uconteceu nos Estados Unidos?" Obra ploneira, objeto de critieas de outros socisiogos ¢ antrepéiogos que se- gulram suas pegadas, valida como tentativa de se dar ao estudo da “situacio rno Brasil uma perspectiva clentitiea bascada em moderna metodologia. Como bem diz, aqui e all em sua obra, nfo pretendeu esgotar 0 assunto acerca da assimilagdo @ aculturacio no Brasil — mas antes propde-se a fazer um “reconhecl- mento’ goral da situacto — ¢ por sl uma manelra de abrir claros onde futuros esqulsadores poderfo ter uma vislo mals sogura do que observar. As considera ‘cbes critiens do que foram objeto as Idéias expostas pelo autor demonstram que sa obra ¢ wm cléssico neste assunto, © como tal deve ser Uda, dlscutida e testada, — ‘TenEAINHA MARIA BRavo SEYFERTH, Giralda — A colonteagdo alema no Vale do Itafat-atirim (um estudo o desenvolvimento ccondmico). Porto Alegre, Edltora Movimento, 1974, No capitulo 1, reservado a9 povoamento do Vale do Itajat-Mirim, a A. his- toria a imigracdo ‘alem& no Brasil com os sous insucessos inleials até 1800, ano

Você também pode gostar