1. Introdução
O Tempo de Sangramento (ou Tempo de Sangria) é um procedimento eminentemente médico que pode ser usado
para avaliar defeitos da hemostasia primária, como distúrbios vasculares e da função plaquetária. Ele compreende a
realização de um corte na superfície volar de um dos antebraços, o qual deve ter comprimento e profundidade
padronizados e deve ser feito rapidamente por meio de um dispositivo automático (“template”). Um
esfigmomanômetro é colocado acima do local do corte, de forma a manter a pressão venosa estável. O tempo
necessário para cessar o sangramento (ou seja, o tempo necessário para a formação do tampão plaquetário) é
medido.
O uso adequado do Tempo de Sangramento permanece controverso. Há serviços que utilizam o teste como rotina em
todos os pré-operatórios, e há outros serviços que não o realizam em hipótese alguma. A verdade é que muitos dos
estudos sobre o Tempo de Sangramento foram realizados antes da disponibilidade dos dispositivos para incisão
padronizada tipo “Template” e faltam estudos adequados que dêem validade ao seu uso e definam claramente as suas
indicações. A maioria dos hematologistas opta por realizar o teste eles mesmos, com base na história clínica, na
experiência pessoal e nos poucos estudos publicados e o fazem principalmente em pacientes muito selecionados,
principalmente naqueles com púrpura manifesta e a esclarecer.
Historicamente, o Tempo de Sangria de Duke foi o primeiro a ser usado, sendo depois substituído pelo Método de
Ivy. O método de Ivy foi posteriormente modificado para o uso de dispositivos para uma incisão padronizada
(Método de Mielke ou Template), o qual é descrito neste documento como “Tempo de Sangramento pelo método
Template”.
Nota do LABConsult: A determinação do Tempo de Sangramento pelo Método Template é indicada em raríssimas
ocasiões, a critério do hematologista ou clínico assistente e em geral deve ser realizada pelo próprio
hematologista. A determinação de Tempo de Sangramento por punção capilar ou técnica de Duke é um
procedimento obsoleto e de difícil padronização, não sendo recomendado atualmente em nenhuma circunstância.
Por estes motivos, o Tempo de Sangria de Duke não é abordado neste documento. Caso o laboratório, por alguma
razão, ainda realize a determinação do Tempo de Sangria por punção digital, poderá utilizar a estrutura deste
documento e adaptá-la. Contudo, o LABConsult aconselha que o laboratório utilize as informações constantes
neste documento para descontinuar o Tempo de Sangria de Duke por meio de um processo de educação dos
médicos solicitantes. Ver Anexo 1.
2. Conceitos e definições
• Tempo de Sangria - Teste laboratorial realizado após uma incisão na pele para determinação do tempo
que decorre até que o sangramento estanque espontaneamente. A mesma coisa que “Tempo de
Sangramento”.
• Método de Duke - Método de valor apenas histórico foi o primeiro método desenvolvido para Tempo de
Sangria, por meio de uma punção digital ou no lóbulo da orelha.
Nota do LABConsult: Tempos de Sangramento (Duke) já foram, no passado, realizados na falange dos dedos
ou no lóbulo da orelha, mas a dificuldade de padronização e obtenção de resultados reprodutíveis levou a
questionamento e abandono de seu uso.
• Método de Ivy - Utiliza duas punções feitas com lanceta, separados de 5 a 10 cm. Algumas vezes o
ferimento fecha antes de cessar o sangramento, sendo preferível o método Template.
• Método de Mielke ou Template - Utiliza para a incisão um dispositivo padronizado para esta finalidade.
Ex: Triplett (Helena), Surgicutt (ITC), Simplate (Organon Teknika).
3. Significado Clínico
Distúrbios vasculares da hemostasia são os que se originam de defeitos ou deficiências das paredes vasculares.
Podem ser devidos a distúrbios genéticos do colágeno ou a distúrbios adquirido, como escorbuto e amiloidose. Os
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Laboratório Clínico ...
Setor: Coleta Tempo de Sangria (ou Tempo de Sangramento)
Sub-setor: Análises realizadas na coleta Indexação:
testes de coagulabilidade disponíveis no laboratório, de modo geral, são inúteis para a elucidação destes distúrbios.
O único teste com alguma utilidade nestes casos é o Tempo de Sangria. Em alguns casos, uma biópsia de tecidos
pode ser útil.
A realização de Tempo de Sangramento está indicada quando se suspeita de um distúrbio da função plaquetária,
devido a indícios da história clínica, e nunca deve ser usado em substituição a ela.
Entre as causas congênitas, a Doença de Von Willebrand é a causa mais comum de distúrbio congênito da
coagulação (cerca de 1% da população dos Estados Unidos). Está frequentemente associada a uma história pessoal
ou familial de facilidade de formar hematomas, sangramentos nasais, ou sangramento pós-operatório (ex: extração
dentária ou tonsilectomia).
Os tempos de sangramento também podem ser úteis para a monitorização da resposta a uma manobra terapêutica
como a suspensão de drogas que interferem com a função plaquetária, realização de diálise em paciente com
insuficiência renal, ou a infusão de DDAVP, plaquetas ou crioprecipitado a um paciente com o Tempo de
Sangramento anteriormente prolongado.
O Tempo de Sangramento não é recomendado como teste de triagem para o potencial de sangramento cirúrgico
devido ao alto índice de resultados falsamente positivos na população normal. Pacientes com distúrbios cutâneos e
pele frágil podem ser predispostos a resultados falsamente positivos. A realização do Tempo de Sangramento em
pacientes que usaram aspirina recentemente e que vão se submeter a uma cirurgia também deve ser desencorajado,
uma vez que as deficiências na função plaquetária persistem por 7 a 10 dias, mesmo em face de um Tempo de
Sangramento normal. Portanto, um resultado normal do teste neste contexto pode dar uma falsa sensação de
segurança.
O Tempo de Sangramento geralmente começa a se prolongar quando a contagem plaquetária cai a valores de 50.000
a 60.000/mm3, mesmo quando a função plaquetária é normal e nestas circunstâncias não será seguro atribuir um
aumento do Tempo de Sangramento a uma disfunção plaquetária.
Finalmente, tempos de sangramento prolongados são encontrados em pacientes com hematócrito diminuído,
especialmente em nefropatas com Ht próximo a 18%, devido à contribuição das hemácias ao comportamento das
plaquetas. Por esta razão, uma transfusão sanguínea pode ser útil no encurtamento dos Tempos de Sangramento
destes pacientes, especialmente selecionados.
Portanto, o Tempo de Sangramento é um teste da hemostasia primária, vascular e função plaquetária, e está
usualmente prolongado em casos de defeitos congênitos ou adquiridos. As principais condições clínicas que levam
ao seu prolongamento são:
• Trombastenia
• Doença de Von Willebrand
• Doença por armazenamento dos grânulos
• Síndrome de Bernard Soulier
• Sensibilidade à Aspirina
4. Princípio
O Método de Ivy é o procedimento tradicional para o teste. O manguito do esfigmomanômetro é colocado no braço
e inflado até 40mmHg. Uma lanceta ou bisturi é usado para provocar uma ferida perfurocortante de comprimento e
profundidade padronizados no antebraço do mesmo lado. Atualmente, o Tempo de Sangramento realizado com o
uso de um dispositivo tipo Template é o método mais confiável, reprodutível e recomendado. Para adultos, usa-se
uma lanceta fixada ao dispositivo template para fazer uma incisão de 5 mm de comprimento por 1 mm de
profundidade na superfície volar do antebraço (onde não haja veias, pêlos nem cicatrizes ou feridas).
O sangramento proveniente do corte é absorvido a cada 30 segundos até que pare. O resultado (Tempo de
Sangramento) está então imediatamente disponível.
A direção do corte pode ser tanto paralela como perpendicular ao eixo longo do antebraço, mas deve ser estabelecida
a sua padronização para a obtenção de resultados confiáveis. Alguns serviços preferem que o corte seja feito de
modo paralelo para minimizar a tensão na ferida (e a formação de cicatriz) e para evitar cortar uma veia superficial.
Há lancetas pediátricas disponíveis, as quais fazem cortes menores. Contudo, as lancetas projetadas para uso em
adultos também podem ser usadas em pediatria. Mais uma vez, o mais importante é a padronização do teste e sua
realização por pessoa capacitada e experiente. É digno de nota que o procedimento seja evitado em crianças que não
vão colaborar adequadamente e que se debatem, pois isto pode causar resultados errôneos.
5. Fase Pré-analítica
• Uma explicação completa do procedimento deve ser dada ao paciente e ele ou o seu responsável deve
assinar o formulário de consentimento pós-informado (Anexo 2).
• O paciente deve ser alertado de que pode se formar uma cicatriz no local (especialmente nos pacientes de
ascendência negra).
• O teste é realizado apenas nos antebraços. Outra localização deve ser adequadamente validada.
6. Fase Analítica
11. Para minimizar a formação de cicatriz, realizar um curativo no local em “borboleta” de forma
perpendicular à incisão.
Nota do LABConsult: Alguns autores preconizam a realização da incisão em duplicata e a
liberação da média de dois valores. Se este for o caso, modificar este procedimento de acordo.
Nota do LABConsult: Colocamos em nossa página um pequeno vídeo sobre o procedimento do Teste de
Sangramento usando o “Surgicutt”.
Clique para assistir: http://www.labconsult.com.br/vd/vdpop/bleeding_time.html
7. Fase pós-analítica
8. Referências
1. Wintrobe,M.M. Clinical Hematology , Lea and Febinger, Philadelphia, 1974, p1049.
2. Mielke, C.H., Kaneshiro,M.N.,Weiner J.M. and Rapaport,S.I., The Standardized Normal Ivy Bleeding Time and
its Prolongation by Aspirin. Blood, 34:204, 1969.
3. Laboratory Manual of Hemostasis, WB Saunders Co., Philadelphia, 1971.
4. George JN, Shattil SJ: The Clinical Importance of Acquired Abnormalities of Platelet Function. NEJM 324:27-
29, 1991.
5. Lind SE: Prolonged Bleeding Time. Am J Med 77:305-312, 1984.
6. Bontempo, FA. USE AND MISUSE OF THE BLEEDING TIME. Transfusion Medicine Update. The Institute
for Transfusion Medicine. 1994. http://www.itxm.org/Archive/tmu4-94.htm
7. CLSI. Performance of the bleeding time test. H45-A2.
8. MCL Web Resources. Bleeding Time.
http://www.mclno.org/webresources/pathman/BT_web/Bleeding_time.htm
9. Lewis, MS et al. Hematologia Prática de Dacie e Lewis.9ª. Edição, Artmed, 2006.
O Tempo de Sangria (ou Sangramento) foi desenvolvido há cerca de 170 anos, antes mesmo que se reconhecessem
as plaquetas como elementos normais do sangue. O teste era usado na avaliação de pacientes que se apresentavam
com púrpura. O método atualmente recomendado é o Template, e o pensamento atual é de que o TS avalia
distúrbios vasculares e a função plaquetária, desde que elas estejam presentes em número adequado (acima de
100.000/mm3). Contudo, há relatos de seu prolongamento em pacientes normais, em casos de deficiências de
fatores de coagulação e em pacientes em uso de warfarina ou heparina (resultados inespecíficos).
O Teste de Sangramento tem, igualmente, uma sensibilidade reduzida. Por exemplo, detecta apenas 27% dos
pacientes com Doença de von Willebrand (a qual é detectada 65% das vezes com base apenas nos sintomas). Além
do mais, exige a realização de um corte no antebraço do paciente que pode ser doloroso e ainda deixar uma cicatriz.
O Intervalo de Referência é de cerca de 2 a 9 minutos, mas caso a história clínica seja positiva, tempos ao redor de
7 minutos tornam-se suspeitos e resultados normais não devem afastar a possibilidade de uma diátese hemorrágica,
devido a pouca sensibilidade do teste.
Na investigação de uma tendência hemorrágica, a base é uma boa história clínica, mas o Teste de Sangramento
pode ser usado, a critério médico, em uma bateria de testes, como complemento. O Tempo de Sangramento,
segundo as evidências disponíveis, NÃO deve ser usado para:
• Triagem pré-operatória;
• Excluir uma diátese hemorrágica;
• Liberar o paciente para uma cirurgia quando há uso recente de aspirina, evidências clínicas de
sangramento, outras anormalidades laboratoriais ou uma história pregressa positiva para sangramento
anormal.
Nota: O Teste de Sangramento tipo Duke, no qual se faz uma punção digital, não tem absolutamente nenhum valor
na atualidade e não deve ser realizado em nenhuma hipótese.
Conclusão
Para realizar o teste, é aplicado um manguito de aparelho de pressão no braço com a finalidade de manter uma
pressão venosa pequena, mas padronizada. Você terá a sensação de que o manguito está preso, mas não sentirá uma
pressão forte ou incômoda.
A seguir a superfície do antebraço escolhido será limpa com algodão e álcool, deixando secar para então ser feito um
pequeno corte com uma lanceta padronizada. O corte pode ser comparado a um arranhão, por ser superficial e
rápido, e não deve ser doloroso. Você vai ouvir um “clique” quando a lanceta for disparada.
O sangue será limpo com um pedaço de papel, enquanto se observa o tempo que leva para o sangramento parar. O
resultado será liberado para que você o discuta com o seu médico.
No local, será feito um curativo adesivo, o qual deve permanecer por 24 horas, para ajudar a minimizar a ocorrência
de cicatriz.
De acordo:
Paciente:______________________________________________________________Registro:________________
Responsável (Paciente):__________________________________________________Data:___________________
Responsável (Laboratório):______________________________________________
Nota do LABConsult: Imprimir e preencher em duas vias: uma via para o paciente ou responsável e outra para
arquivo no laboratório.
Distribuição: Versão 1.0
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