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Capitulo 3 — A tentagao e a queda Este capitulo é baseado em Génesis 3. Nao mais se achando livre para instigar a rebelido no Céu, en- controu a inimizade de Satands contra Deus um novo campo, a0 tramar a ruina do género humano. Na felicidade e paz do santo casal do Eden, contemplou um quadro da ventura que para ele estava para sempre perdida. Movido pela inveja decidiu-se a incité-los & desobediéncia, e trazer sobre eles a culpa e 0 castigo do pecado. Mudaria o seu amor em desconfianga, seus cAnticos de louvor em exprobrag6es a seu Criador. Assim nao somente mergulharia estes seres inocentes na mesma miséria que ele préprio suportava, mas langaria desonra a Deus, e ocasionaria pesares no Céu. Nossos primeiros pais nao foram deixados sem avisos do perigo que os ameagava. Mensageiros celestiais expuseram-lhes a histéria da queda de Satands, e suas tramas para sua destruicao, explicando mais completamente a natureza do governo divino, que o principe do mal estava procurando transtornar. Foi pela desobediéncia as justas ordens de Deus que Satands e seu exército cairam. Quao importante, pois, que Addo e Eva honrassem aquela lei pela qual somente é possfvel manter-se a ordem e a eqitidade! A lei de Deus é tao sagrada como Ele préprio. E uma revelagio de Sua vontade, uma transcrigao de Seu cardter, expresso do amor e sabedoria divinos. A harmonia da criagio depende da perfeita conformidade de todos os seres, de todas as coisas, animadas e ina nimadas, com a lei do Criador. Deus determinou leis, nao somente para 0 governo dos seres vivos, mas para todas as operagées da natureza. Tudo se encontra sob leis fixas, que nao podem ser des- respeitadas. Todavia, ao mesmo tempo em que tudo na natureza 6 governado por leis naturais, o homem unicamente, dentre todos os que habitam na Terra, € respons4vel perante a lei moral. Ao homem, a obra coroadora da criagdo, Deus deu o poder de compreender 0 que Ele requer, a justiga e beneficéncia de Sua lei, e as santas reivin- 26 A tentasdo ¢ a queda 21 dicagées da mesma para com cle; ¢ do homem se exige inabalavel obediéncia. Semelhantes aos anjos, os moradores do Eden haviam sido postos sob prova; seu feliz estado apenas poderia ser conservado sob a condigao de fidelidade para com a lei do Criador. Poderiam obedecer e viver, ou desobedecer e perecer. Deus os fizera receptaculos de ricas béngdios; mas, se desatendessem a Sua vontade, Aquele que ndo poupou os anjos que pecaram, nao os poderia poupar; a transgresso priva-los-ia de seus dons, ¢ sobre eles traria miséria e ruina. Os anjos os advertiram a que estivessem de sobreaviso contra os ardis de Satanas; pois seus esforgos para os enredar seriam in- cansaveis. Enquanto fossem obedientes a Deus, o maligno nao lhes poderia fazer mal; pois sendo necessario, todos os anjos do Céu seriam enviados em seu auxilio. Se com firmeza repelissem suas primeiras insinuagées, estariam tao livres de perigo como os men- sageiros celestiais. Se, porém, cedessem uma vez & tentacao, sua natureza se tornaria tio depravada que nao teriam em si poder nem disposigao para resistir a Satands. A Arvore da ciéncia se tornara a prova de sua obediéncia e amor a Deus. O Senhor achara conveniente nao lhes impor senao uma proibigéo quanto ao uso de tudo que estava no jardim; mas, se desa- tendessem a Sua vontade neste particular, incorreriam na culpa de transgressao. Satands nao os acompanharia com tentagées continuas; poderia ter acesso a eles unicamente junto a arvore proibida. Se eles tentassem examinar a natureza da mesma, estariam expostos aos seus ardis. Foram admoestados a dar cuidadosa atengao & adverténcia que Deus lhes enviara, e estarem contentes com as instrugdes que Ele achara conveniente comunicar-lhes. A fim de realizar a sua obra sem que fosse percebido, Satané preferiu fazer uso da serpente como médium, disfarce este bem adaptado ao seu propésito de enganar. A serpente era entéo uma das mais prudentes e belas das criaturas da Terra. Tinha asas, e enquanto voava pelos ares apresentava uma aparéncia de brilho deslumbrante, tendo a cor e o brilho de ouro polido. Pousando nos ramos profusamente carregados da arvore proibida, e saboreando o delicioso fruto, era seu objetivo chamar a atengao e deleitar os olhos de quem a visse. Assim, no jardim da paz emboscava-se 0 destruidor, a observar a sua presa. [26] 28 Patriarcas Profetas Os anjos haviam advertido Eva de que tivesse 0 cuidado de nao se afastar do esposo enquanto se ocupavam com seu trabalho diétio no jardim; junto dele estaria em menor perigo de tentagao, do que se estivesse sozinha. Mas, absorta em sua aprazivel ocupagao, inconsci- entemente se desviou de seu lado. Percebendo que estava s6, sentiu uma apreenso de perigo, mas afugentou seus temores, concluindo que ela possufa sabedoria e forga suficientes para discemnir o mal e stirlhe. Esquecida do aviso do anjo, logo se achou a contemplar, com um misto de curiosidade e admiragao, a arvore proibida, O fruto era muito belo, e ela perguntava a si mesma por que seria que Deus os privara do mesmo. Era entao a oportunidade do tentador. Como se fosse capaz de distinguir as cogitagdes de seu espirito, a cla assim se dirigiu: “E assim que Deus disse: Nao comereis de toda a arvore do jardim?” Genesis 3:1. Eva ficou surpresa e admirada quando assim pareceu ouvir 0 eco de seus pensamentos. Mas a serpente continuou, com voz melodi- osa, com sutis louvores & superior beleza de Eva; e suas palavras nio lhe eram desagradaveis. Em vez de fugir do local, deteve-se, maravilhada, a ouvir uma serpente falar. Houvesse se dirigido a ela um ser semelhante aos anjos, ¢ ter-se-iam despertado seus receios; ela, porém, nfo tinha idéia alguma de que a fascinadora serpente pudesse tornar-se o intermediario do adversario decaido. A pergunta ardilosa do tentador, ela responde: “Do fruto das 4rvores do jardim comeremos, mas do fruto da arvore que esté no meio do jardim, disse Deus: nao comereis dele, nem nele tocareis, para que nao morrais. Entao a serpente disse & mulher: Certamente nao mortereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirao os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo 0 bem e 0 mal.” Participando desta arvore, declarou ele, atingiriam uma esfera mais elevada de existéncia, e entrariam para um campo mais vasto de saber. Ele proprio havia comido do fruto proibido, e como resultado adquirira o dom da fala. E insinuou que o Senhor cuidadosamente desejava privé-los do mesmo, para que nao acontecesse serem exal- tados & igualdade para com Ele. Foi por causa de suas maravilhosas propriedades, que comunicavam sabedoria e poder, que Ele lhes ha- via proibido prova-lo, ou mesmo nele tocar. O tentador insinuou que a adverténcia divina nao devia ser efetivamente cumprida; destinava- res A tentasdo ¢ a queda 29 se simplesmente a intimidé-los. Como seria possivel morrerem eles Nao haviam comido da drvore da vida? Deus estivera procurando. impedi-los de atingir um desenvolvimento mais nobre, e de encon- trarem maior felicidade. Tal tem sido a obra de Satands desde os dias de Adao até o presente, e com a mesma tem ele prosseguido com grande éxito. Ele tenta os homens a desconfiarem do amor de Deus, e a duvidarem de Sua sabedoria. Est4 constantemente procurando despertar um espirito de irreverente curiosidade, um inquieto, inquiridor desejo de penetrar os segredos da sabedoria e poder divinos. Em seus esforgos para pesquisarem o que Deus foi servido recusar-lhes, multidées descuidam-se das verdades que Ele revelou, ¢ que sao essenciais para a salvagao. Satands tenta os homens a desobediéncia, levando- 0s a crer que estao a entrar em um maravilhoso campo de saber. Mas tudo isto é um engano. Desvanecendo-se com suas idéias de progresso, acham-se eles desprezando os mandamentos de Deus, colocando os pés na senda que leva a degradagao e morte. Satands fez parecer ao santo par que eles ganhariam, violando a lei de Deus. Nao ouvimos hoje idéntico raciocinio? Muitos falam da estreiteza daqueles que obedecem aos mandamentos de Deus, enquanto afirmam possuir idéias mais amplas e desfrutar de maior liberdade. O que é isto sendo um eco da voz do Eden: “No dia em que dele comerdes”, isto é, transgredirdes a ordem divina, “sereis como Deus”? Génesis 3:5, Satands alegou ter recebido grande beneficio, comendo do fruto proibido, mas nao deixou transparecer que pela transgres: r expulso do Céu. Embora houvesse achado que do pecado resulta infinita perda, ocultou sua propria miséria, a fim de arrastar outros 4 mesma posigao. Assim hoje o transgressor procura disfargar seu verdadeiro cardter; ele pode pretender ser santo; mas a sua elevada profissdo apenas o torna mais perigoso como enganador. Acha-se ele do lado de Satands, pisando a lei de Deus, ¢ levando outros a fazerem o mesmo para a sua ruina eterna Eva creu realmente nas palavras de Satands, mas a sua crenga nao a salvou da pena do pecado. Descreu das palavras de Deus, e isto foi © que a levou & queda. No Juizo, os homens nao seréo condenados porque conscienciosamente creram na mentira, mas porque nao acreditaram na verdade, porque negligenciaram a oportunidade de aprender o que é a verdade. Apesar do sofisma de Satands indicando 10 viera a si (27] [28] 30 Patriarcas Profetas 0 contrario, é sempre desastroso desobedecer a Deus. Devemos aplicar o corago a conhecer o que é a verdade. Todas as ligoes que Deus fez com que fossem registradas em Sua Palavra, so para a nossa adverténcia e instrug’o. Sao dadas para nos salvar do engano. Da negligéncia as mesmas resultard rufna a nés mesmos. O que quer que contradiga a Palavra de Deus, podemos estar certos de que procede de Satanés. A serpente apanhou o fruto da arvore proibida e colocou-o nas mos de Eva, que estava meio relutante. Fé-la entio lembrar-se de suas préprias palavras de que Deus lhes proibira tocar nele, para que nao morressem. Nao receberiam maior mal comendo o fruto, declarou ele, do que nele tocando. Nao percebendo maus resultados do que fizera, Eva ficou mais ousada, Quando viu “que aquela arvore era boa para se comer, e agradavel aos olhos, ¢ érvore desejavel para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu”. Génesis 3:6. Era agradavel ao paladar; e, enquanto comia, pareceu-lhe sentir um poder vivificador, e imaginou-se a entrar para uma esfera mais elevada de existéncia. Sem receio apanhou e comeu. E agora, havendo ela transgredido, tornou-se o agente de Satans para efetuar a rufna de seu esposo. Em um estado de exaltagao estranha e fora do natural, com as maos cheias do fruto proibido, procurou a presenga dele, e relatou tudo que ocorrer: Uma expresso de tristeza sobreveio ao rosto de Adao. Mostrou- se aténito e alarmado. As palavras de Eva replicou que isto devia ser 0 adversério contra quem haviam sido advertidos; ¢ pela sen- tenga divina ela deveria morrer. Em resposta insistiu com ele para comer, repetindo as palavras da serpente, de que certamente nao morreriam. Ela raciocinava que isto deveria ser verdade, pois que nao sentia evidéncia alguma do desagrado de Deus, mas ao contrario experimentava uma influéncia deliciosa, alegre, a fazer fremir toda a faculdade de uma nova vida, influéncia tal, imaginava ela, como a que inspirava os mensageiros celestiais, Adao compreendeu que sua companheira transgredira a ordem de Deus, desrespeitara a tinica proibigao a eles imposta como prova de sua fidelidade e amor. Teve uma terrivel luta intima. Lamentava que houvesse permitido desviar-se Eva de seu lado. Agora, porém, a agao estava praticada; devia separar-se daquela cuja companhia fora sua alegria. Como poderia suportar isto? Adio havia desfrutado da A tentagdo ¢ a queda 31 companhia de Deus ¢ dos santos anjos. Havia olhado para a gloria do Criador. Compreendia o elevado destino manifesto 4 raga humana, se permanecessem figis a Deus. Todavia, estas béngaos todas foram perdidas de vista com o receio de perder ele aquela tnica dadiva, que, a seus olhos, sobrepujava todas as outras. O amor, a gratidao, a lealdade para com 0 Criador, tudo foi suplantado pelo amor para com Eva. Ela era uma parte dele, e ele nao podia suportar a idéia da separagio. Nao compreendia que o mesmo Poder infinito que do p6 da terra o havia criado, como um ser vivo ¢ belo, ¢ amorosa- mente lhe dera uma companheira, poderia preencher a falta desta. Resolveu partilhar sua sorte; se ela devia morrer, com ela morreria ele. Afinal, raciocinou, nao poderiam ser verdadeiras as palavras da sabia serpente? Eva estava diante dele, tao bela, ¢ aparentemente tao inocente como antes deste ato de desobediéncia. Exprimia maior amor para com ele do que antes. Nenhum sinal de morte aparecia nela, ¢ ele se decidiu a afrontar as conseqiiéncias. Tomou 0 fruto, & © comeu rapidamente. Depois da sua transgressio, Adao a principio imaginou-se a entrar para uma condigao mais clevada de existéncia. Mas logo o pensamento de seu pecado o encheu de terror, O ar, que até ali havia sido de uma temperatura amena e uniforme, parecia resfriar 0 culpado casal. Desapareceram o amor e paz que haviam desfrutado, ¢ em seu lugar experimentavam uma intuigao de pecado, um terror pelo futuro, uma nudez de alma. A veste de luz que os rodeara, agora desapareceu; e para suprir sua falta procuraram fazer para si uma cobertura, pois enquanto estivessem nus, nao podiam enfrentar 0 olhar de Deus e dos santos anjos. Comegaram entio a ver o verdadeiro caréter de seu pecado. Adio censurou a companheira pela sua insensatez em sair de seu lado, e deixar-se enganar pela serpente; mas ambos acalentaram a esperanga de que Aquele que lhes tinha dado tantas provas de Seu amor, perdoaria esta tinica transgresséo, ou de que nao seriam submetidos a um tao horrendo castigo como haviam receado. Satands exultou com seu éxito. Tinha tentado a mulher a descon- fiar do amor de Deus, a duvidar de Sua sabedoria, e a transgredir a Sua lei e, por meio dela, ocasionara a derrota de Ado. Entretanto, o grande Legislador estava para tomar conhecidas a Adio e Eva as conseqiiéncias de sua transgressao. Manifestou-se 32 Patriarcas e Profetas no jardim a presenga divina. Em sua inocéncia ¢ santidade tinham eles alegremente recebido a aproximagao de seu Criador; mas agora fugiram aterrorizados, e procuraram esconder-se nos mais profundos recessos do jardim. Mas “chamou o Senhor Deus a Adao, ¢ disse- lhe: Onde ests? E ele disse: Ouvi a Tua voz soar no jardim, ¢ temi, porque estava nu, e escondi-me. E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da drvore de que te ordenei que nao comesses?” Génesis 3:11. Adao nao podia negar nem desculpar seu pecado; mas, em vez, de manifestar arrependimento, esforgou-se por langar a culpa sobre a esposa, ¢ assim sobre o proprio Deus: “A mulher que me deste por companheira, ela me deu da arvore, e eu comi”. Génesis 3:12. Aquele que, por amor a Eva, havia deliberadamente preferido perder a aprovagaio de Deus, o seu lar no Paraiso, ¢ uma vida eterna de alegria, podia, agora, depois de sua queda, procurar tornar sua com- panheira, e mesmo o préprio Criador, responsdvel pela transgressao. Tao terrivel é 0 poder do pecado. Quando foi interrogado & mulher: “Por que fizeste isto?” ela respondeu: “A serpente me enganou, ¢ eu comi”. Genesis 3:13. “Por que criaste a serpente? Por que lhe permitiste entrar no Eden?” — Tais eram as perguntas envolvidas em sua desculpa apresentada pelo pecado. Assim, como fizera Adao, langou sobre Deus a responsabi- lidade de sua queda. O espirito de justificagao propria originou-se com 0 pai da mentira; foi alimentado por nossos primeiros pais logo que se renderam a influéncia de Satanés, e tem sido apresentado por todos os filhos e filhas de Adao. Em vez de humildemente con- fessarem os pecados, procuram escudar-se langando a culpa sobre outros, sobre as circunstancias, ou sobre Deus, fazendo mesmo de Suas béngaos um motivo para murmuragao contra Ele. O Senhor entéo pronunciou sentenga sobre a serpente: “Por- quanto fizeste isto, maldita serés mais que toda a besta, ¢ mais que todos os animais do campos; sobre o teu ventre andarés, e p6 co- merds todos os dias da tua vida”. Génesis 3:14. Visto que havia sido empregada como o intermediério de Satanés, a serpente devia participar da visitagao do juizo divino. Da mais linda e admirada das criaturas do campo, devia tornar-se na mais rasteira e detestada de todas elas, temida e odiada tanto pelo homem como pelos animais. As palavras dirigidas em seguida A serpente aplicam-se diretamente A tentasdo ¢ a queda ao préprio Satanés, indicando de antemao sua final derrota ¢ des- truigdo: “Porei inimizade entre ti ¢ a mulher, ¢ entre a tua semente e a sua semente; esta te feriré a cabega, e tu lhe feriras o calcanhar” Génesis 3:15. Referiram-se a Eva a tristeza ¢ a dor que deveriam dali em diante ser o seu quinhao. E disse o Senhor: “O teu desejo sera para o teu marido, e ele te dominara”. Génesis 3:16. Na criagao Deus a fizera igual a Addo. Se houvessem eles permanecido obedientes a Deus — em harmonia com Sua grande lei de amor — sempre estariam em harmonia um com 0 outro; mas o pecado trouxera a discérdia, © agora poderia manter-se a sua uniao ¢ conservar-se a harmonia unicamente pela submissao por parte de um ou de outro. Eva fora a primeira a transgredir; e caira em tentagdo afastando-se de seu companheiro, contrariamente a instrugao divina. Foi a sua solicitagao que Adio pecou, ¢ agora foi posta sob a sujeigo de seu marido. Se os principios ordenados na lei de Deus tivessem sido acariciados pela raga decafda, esta sentenga, se bem que proveniente dos resultados do pecado, ter-se-ia mostrado ser uma béngao para o género humano; mas 0 abuso da supremacia assim dada ao homem tem tornado a sorte da mulher mui freqiientemente bastante amargurada, fazendo de sua vida um fardo. Eva tinha sido perfeitamente feliz ao lado do esposo, em seu lar edénico; mas, semelhante as inquietas Evas modernas, lisonjeou-se com a esperanga de entrar para uma esfera mais elevada do que aquela que Deus Ihe designara. Tentando erguer-se acima de sua posigao original, caiu muito abaixo da mesma. Idéntico resultado sera alcancado por todas as que estao indispostas a assumir com bom 4nimo os deveres da vida, de acordo com o plano de Deus. Em seus esforgos para atingirem posigdes para as quais Ele nao a adaptou, muitas esto deixando vago o lugar em que poderiam ser uma béncao. Em seu desejo de uma esfera mais elevada, muitas tém sacrificado a verdadeira dignidade feminil, e a nobreza de carater, e deixaram por fazer precisamente o trabalho que o Céu lhes designou. A Adio disse o Senhor: “Porquanto deste ouvidos & voz de tua mulher, e comeste da arvore de que te ordenei, dizendo: Nao comeras dela: maldita é a terra por causa de ti; com dor comerds dela todos os dias da tua vida. Espinhos, e cardos também, te produzir4; ¢ comerds aerva do campo. No suor do teu rosto comerds 0 teu pao, até que te [30] 34 Patriarcas e Profetas tones & terra; porque dela foste tomado; porquanto és p6, ¢ em po te tornards”. Génesis 3:17-19. Nao era a vontade de Deus que o casal sem pecados conhecesse algo do mal. Livremente lhes dera o bem, ¢ lhes recusara o mal. Mas, contrariamente & Sua ordem, haviam comido da érvore proibida, ¢ agora continuariam a comer dela, isto é, teriam a ciéncia do mal, por todos os dias de sua vida. Desde aquele tempo 0 género humano seria afligido pelas tentagdes de Satands. Em vez do trabalho feli até entao a eles designado, a ansiedade e a labuta seriam seu quinhao. Estariam sujeitos ao desapontamento, pesares, dor, e finalmente & morte. Sob a maldigao do pecado, a natureza toda devia testemunhar ao homem o carater e resultado da rebeliao contra Deus. Quando Deus fez o homem, Ele o fez governador sobre a Terra e todas as criaturas viventes. Enquanto Adao permanecesse fiel a0 Céu, toda a natureza estaria sob a sua sujei¢o. Quando, porém, se rebelou contra a lei divina, as criaturas inferiores ficaram em rebelido contra o seu dominio. Assim o Senhor, em Sua grande misericérdia, mostraria aos homens a santidade de Sua lei, e os levaria por sua propria experiéncia a ver o perigo de a pér de lado, mesmo no minimo grau. Ea vida de labutas e cuidados que dali em diante deveria ser 0 quinhao do homem, foi ordenada com amor. Uma disciplina que se tornara necesséria pelo seu pecado, foi o obstéculo posto a satisfagdo do apetite e paixdo, e o desenvolvimento de habitos de dominio préprio. Fazia parte do grande plano de Deus para a restauragao do homem, da ruina e degradagao do pecado. A adverténcia feita a nossos primeiros pais — “No dia em que dela comeres, certamente morterés” (Génesis 2:17), no implicava que devessem eles morrer no préprio dia em que participassem do fruto proibido. Mas naquele dia a irrevogavel sentenga seria pronunciada. A imortalidade Ihes era prometida sob condi¢ao de obediéncia; pela transgressao despojar- se-iam da vida eterna. Naquele mesmo dia estariam condenados a morte. A fim de possuir uma existéncia eterna, o homem devia continuar a participar da arvore da vida. Privado disto, sua vitalidade dimi- nuiria gradualmente até que a vida se extinguisse. Era o plano de Satands que Adao e Eva pela desobediéncia incorressem no despra- zer de Deus; e entdo, se deixassem de obter o perdao, esperava que A tentasdo ¢ a queda comessem da rvore da vida, ¢ assim perpetuassem uma existéncia de pecado e miséria. Depois da queda do homem, porém, santos anjos foram imediatamente comissionados para guardarem a arvore da vida. Em redor desses anjos chamejavam raios de luz, tendo a aparéncia de uma espada inflamada. A nenhum da familia de Adao foi permitido passar aquela barreira para participar do fruto doador de vida; logo, nao ha nenhum pecador imortal. ‘A onda de desgragas que emanou da transgressao de noss primeiros pais, é considerada por muitos como uma conseqiiéncia demasiado terrivel para um pecado téo pequeno; e acusam a sabe- doria e justiga de Deus em Seu trato com o homem. Mas, se eles olhassem mais profundamente para esta questdo, poderiam discernir seu erro. Deus criou o homem a Sua semelhanga, livre do pecado. A Terra devia ser povoada com seres algo inferiores aos anjos; mas a sua obediéncia seria provada, pois que Deus nao permitiria que o mundo se enchesse daqueles que desrespeitassem a Sua lei. Contudo, em Sua grande misericérdia, nao designou a Adao uma prova severa E a propria leveza da proibigdo tornou o pecado excessivamente grande. Se Adao nao péde suportar a menor das provas, nao poderia ter resistido a uma prova maior, caso houvessem sido confiadas a ele maiores responsabilidades. Se tivesse sido designada a Adao alguma prova grande, aqueles cujo coragao, se inclina para o mal desculpar-se-iam entdo, dizendo: “Isto é uma coisa trivial, e Deus nao é to exigente a respeito de coisas pequenas”. E haveria continua transgresso em coisas consi- deradas pequenas, as quais ficam sem reprovagao humana. O Senhor, porém, tornou patente que o pecado, em qualquer grau, é ofensivo para Ele. A Eva pareceu coisa pequena desobedecer a Deus provando 0 fruto da drvore proibida, e tentar o esposo a transgredir também; entretanto, 0 pecado deles abriu as portas ao diltivio das desgracas sobre o mundo. Quem pode saber, no momento da tentagdo, as terriveis conseqiiéncias que advirdo de um passo errado? Muitos que ensinam que a lei de Deus nao est4 em vigor para o homem, insistem que ¢ impossivel a este obedecer aos seus pre- ceitos. Mas, se isto fosse verdade, por que sofreu Addo a pena da transgressao? O pecado de nossos primeiros pais acarretou a culpa e a tristeza sobre o mundo, e se nao fora a bondade e misericérdia de 36 Patriarcas Profetas Deus, teria mergulhado a raga humana em irremediavel desespero. Que ninguém se engane. “O salétio do pecado € a morte”. Romanos 6:23. A lei de Deus nao pode ser transgredida hoje com menos im- punidade do que quando fora pronunciada a sentenga sobre o pai da humanidade Depois de seu pecado Adao e Eva nao mais deviam habitar no Eden, Encarecidamente rogaram para que pudessem permanecer no lar de sua inocéncia e alegria. Confessaram que haviam perdido todo 0 direito aquela feliz morada, mas comprometeram-se para no futuro prestar estrita obediéncia a Deus. Declarou-se-lhes, porém, que sua natureza ficara depravada pelo pecado; haviam diminuido sua forga para resistir ao mal, ¢ aberto o caminho para Satands ganhar mais facil acesso a cles. Em sua inocéncia tinham cedido A tentagao; ¢ agora, em estado de culpa consciente, teriam menos poder para manter sua integridade. Com humildade e indizivel tristeza despediram-se de seu belo lar, e sairam para habitar na Terra, onde repousava a maldigao do pecado. A atmosfera, que fora tao amena e constante em sua tem- peratura, estava agora sujeita a assinaladas mudangas, ¢ o Senhor misericordiosamente lhes proveu uma veste de peles, como protegio contra os extremos de calor e frio. Testemunhando eles, no murchar da flor e no cair da folha, os primeiros sinais da decadéncia, Addo ¢ sua companheira choraram mais profundamente do que os homens hoje fazem pelos seus mortos. A morte das débeis e delicadas flores era na verdade um motivo para tristeza; mas, quando as formosas drvores derrubaram as folhas, esta cena levou-lhe vividamente ao espirito o fato cruel de que a morte © quinhao de todo o ser vivente. O jardim do Eden permaneceu na Terra muito tempo depois que o homem fora expulso de seus agradaveis caminhos. Génesis 4:16. Foi permitido a raga decaida por muito tempo contemplar 0 lar da inocéncia, estando a sua entrada vedada apenas pelos anjos vigilantes. A porta do Paraiso, guardada pelos querubins, revelava-s a gloria divina, Para ali iam Addo e seus filhos a fim de adorarem a Deus. Ali renovaram seus votos de obediéncia aquela lei cuja transgressio os havia banido do Eden. Quando a onda de inigiiidade se propagou pelo mundo, ¢ a impiedade dos homens determinou sua destruigao por meio de um dihivio de 4gua, a mao que plantara A tentasdo ¢ a queda 37 o Eden o retirou da Terra. Mas, na restauragao final de todas as coisas, quando houver “um novo céu ¢ uma nova Terra” (Apocalipse 21:1), serd restabelecido, mais gloriosamente adornado do que no principio. Entio os que guardaram os mandamentos de Deus respirarao um vigor imortal, por sob a arvore da vida (Apocalipse 2:7; 22:14); e, através de infindaveis séculos, os habitantes dos mundos que no pecaram contemplarao no jardim de delicias um modelo da obra perfeita da criagio de Deus, sem qualquer sinal da maldigao do pecado — modelo do que teria sido a Terra inteira se tio-somente houvesse o homem cumprido o plano glorioso do Criador.

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