FUNCIONALIDADE DO DIABO NO CONTO POPULAR* (Pedro Lopes de Almeida) Uma leitura atenta do conto no pode ficar indiferente abundante simbologia da possesso que o mesmo encerra. Se a cabra conota imediatamente a figura do Diabo, a invaso que perpetra no produz sentido se no for vista como correlato mediato de algo mais estvel. significativo que a ocupao tenha lugar num momento em que o coelhinho branco se ausenta, e no menos significativa esta designao, eivada de candura: coelhinho branco. Parecemnos, portanto, reunidas as condies para afirmar que estamos em presena de um texto criptografado, no qual os elementos se projectam numa dimenso mais vasta e profunda do que a da superfcie. , pois, sob a aparncia de uma cabra (o adjectivo cabrs uma paragoge com vista a produzir efeito meldico, rimando com trs) que o Diabo se apodera da morada (leia-se: do corpo) desse algum que se esconde sob a pele de coelhinho branco. Desesperado, o possudo procura auxlio, mas no parece que o procure no melhor stio: nem a fora e imponncia do boi nem a ferocidade do co so suficientes para enfrentar o novo habitante da morada do nosso coelhinho. Fora que o faa algum cuja fora no seja braal, mas... espiritual. Esse algum ser o mais pequeno dos animais, uma formiga: e no foi necessrio o uso de fora (que, de resto, a formiga rabiga no teria), mas to somente... abrir a porta (e matar o Diabo, claro, j que de outra forma o conto no estaria completo). interessante constatar como a afronta da cabra cabrs chegada da formiga corresponde aos ultrajes proferidos pelos demnios do interior dos possudos aos exorcistas, segundo os relatos que nos chegam. Este
exorcista-rabiga, fazendo uso da ladanha, expulsa o Diabo,