Pluralismo Religioso e Solidariedade de Cidadãos Do Estado

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Ele rem consciéncia do ponto de partida autocrfticada modermidade e também de limitago falibilista que marca 0 pensamento pés- metafisico. Mesmo assim, ele se inclina para uma compreensio fundamentalista da Filosofia, a partir do momento em que ele caracteriza a auto-reflexdo filos6fica como um discurso primordial sobrecarregado de metas efusivas. No final das ccntas, Apel confia, apesar de tudo, nas evidéncias infalfveis de um acesso direto, pré- analitico, asintuigGes de um patticipante da argumentacZo, jd treinado nareflexo. 2orquanto oargumento pragmtico-transcendental ao qual ui o papel de uma “fundementagao dltima’ na verdade, o valor posicional de uma certiticagdo que se presume “infalivel” ou gue, em todo caso, nao pode ser revista discursivamente. Se ele fosse realmente um argumento, encontrar-se-ia em um contexto linglifstico, co qual possui tantos flancos abertos quantas so suas facetas. O termo “reflexio estrita”, introduzido por Wolfgang Kuimann, abre um novo tema, que no pode ser abordacto aqui. Limitei minha exposicio a diferencas que Apel elaborou ef sua controvérsia com minha filosofia do direito. E preciso notar que tais difevengas persistem apenas em principio. Uma vez que elas nfo conseguem encobrir 03 elementos comuns nos resultados, nem as compreensdes perspicazes que adquiri gragas aos ensinamentos inigualéveis deum amigo sempre presente no espfrito, desde a épaca de meus estuclos em Bonn. 4d IL. PLURALISMO RELIGIOSC E SOLIDARIEDADE, DE CIDADAOS DO ESTADO. 4, Bases Pre-Pc.tricas po Estapo pe Diretro Democedrico. tema proposto para nossa discussfio tem algo a ver com uma pergunta formulada por Wolfgang Béckenféirde em meados dos anos 60, nos seguintes termos: Seré que 0 Bstado secularizado continua alimentando-se de pressuposig®es normativas que ele no consegue garantir por si meso?! Tal indagacdo é provocada, de um Jado, pela davida sobre a possibilidade de o Estaco constitucional democratico conse suas pressuposiches normativas a partir de recursos proprios; de outro lado, pela suposicio de que ele mesmo depende de tradicdes metafisicas ou religiosas autéctones, em todo caso, de tradicdes éticas, as quais fornecem elementos normativos capazes de obrigar zoletivamente. Ora, tal fato colocaria o Estado — obrigado a manter neutralidade ante o “fato do pluralismo” (Rawls) — em dificuldades. Em que pese isso, tal deduglo nfo calocaem xeque 4 prépria suposigao enquanto tal. Em primeiro lugar, gostaria de especificar 0 probleme, em duas diregGes distintas: (1) Em uma linha cognitiva, ele pode ser formulado como segue: serd que, apds uma positivacio do direito, a dominacdo politica pode continuarlangando milo apenas de uma justificagaio secu- wi Lyornele cuptren 'BOCKENFORDE, E. W., “Dic Entstchung des States als Vorgang der Sakularisation” (1957), in id. Reel. Star Freiheit, Prunkfurt(M., (991,92 ss, aqui 112. MS mesmo que legitimagdi, ainda restam di motivacional: seré que uma comunidade piu; no que tange as visdes de mundo pode estabilizar-se normati; gragas A suposicio de um aco:do de fundo, exelesivamenie Forma limitado a procedimentas & prineipios, ogual €,noentanto, algo mais do que um simples modus vivendi? (3) # bem ve-dade que, mesmo que conseguissemos sobrep: divida, iade pé o fato de Que as ordes liberais dependem da s seus cidadaos ~ as fontes podem secar no caso de uma secularizacao dora” da sociedede como um todo. Néo podemos, descartar tal diagnéstico. Mesmo assim, nfio podemos Entendé-lo no sentido de que os eruclitos entre os defensores da rel obtéin com isso uma espécie de “mais valor”. (4) Contra tal mode de ver, eu sugiry que interpretemosa secularizacio ct um duplo processo de aprendizegem que do Bsela it oH a am \ igh ie ftico na forma de um zepublicanismo QE (kantiano, (que eu defendo, se auto-interpreta come uma \justificagiio ee [pds-metafisica e nfio-religiosa des funcamentos normativos doEstado *Y ico. Tal teoria coloca-se na tra da razo que renuncia as assungées cosmolégicas ¢ dos jusnaturalistas classicos ou medieval, especi da genealogiados direitos hum: Ga legitimagto do poder do Estado, neutros em terrios de visdes de mundo, nasceram de fontes profanas da filosofia nos séculos XVile VIM. Somente mais tarde, a Igrejae a teologia conseguiram entencler i ie Kain mes oF Ter elsycoyen | Shands He eeuhares Fin afios culturais langados pelo Estado constitucional ‘2voluciondio. No entanto, se nfio me engano, parece que, do lado lo que impeca uma fundamentazio auténoma do direito € da dJependentemente de.verdades reveladas), No século XX, a fundamentagiio pés-kantiana de princy, i ‘ito de rig um conceito de raz contexdidlse, sea um concsito ntordecisionisa da validade do Cireito contra 0 positivismo juridico. A principal tarefa,a serenfientada agora, consiste em esclarecer: —Por que 0 processo democr: i it ireito? Ce criagho legitima do direito’ ; — Por que a democracia ¢ os diseitos humanos, ticos como 2 elementos co-origin nte? :0 vale como n procedimento A explicagio consiste na prova: 7 : = de que 0 processo democriticc, & proporcio que preenche * condiges de uma formagao discursive e inclusiva da opiniao e da vontace, fundamenta a suposigao de que os resultados dle tal processo ionalmenie aceitaveis; elt ee ie a institucionalizagao juridica de tal procedimento de ctiagdo democréticado dircito exige, ao mesmo tempo, a gacantia dos _Gireitos fundamentais, tanto liberais como politicos,* © ponto de referéncia desta estrtégia de fundamentagao é a constituigdo que as pessoas.associadas se doam a si mesmas e nfio,a comesticagio de um poder do Estado jé constituida, porquanto esse *HABERMAS, J. Pak ind Ge Pryor Prseccerolas 1g: Frenkfurt/M., 1992, Cap. 111. Be he idiqueres (plenain) 2 of -nullseeies - Revcicspayes es cckecteieg Mittra inda precisa ser ctiado mediante a daefio democratica de-uma ‘Go. Um poder do Estado “constitufdo” j4 jutidificado 3té suas entranhas, de tal sorte que od ‘Ndeixar resto, todo 0 poder pol vontade do Estado, defendid por j até Carl Schmitt) € cujas icia ética “do Estado” ov para o (aaa eae ne a4. soberania pré-co > delxa aenhurn jugar vago, a ser preenchido por uma pstancial do povo ~na figura do etos deum pove mais ou nogéneo, juz dé tal heranga problema ipo_de_“poder idade. Segundo 10 positivo depende 1a fundaco nas conviceses éticas pré-politicas de comunidades rentos jurfdicos terpretarmos 0 provediments democrético, nic de modo positivista, & maneira de Lubmann ou Kelsen, mas eomo um método para a produgiio de dade por legalidade, nio haverd déficit dz validade a ser 1a compreenséo clo Estado constituci . einsiste na fundamentagio a que pretendem aceitay todas as pessoas. (2) Nas >dginas seguintes, tomo como ponto de pat la ahipdtese de que a constituigao do Estado liberal pode obter sua legitimagéo de des Staniswileapor Ge unvdh Cy, Ridirporced (vercledonal yo? ane ede oe modo auto-suficiente, ou seja, a partir das reservas cognitivas de um estoque de sspumenis, 0 gral no depende de t ito-entendem como as pressuposigdes normativas de integridade do Bstado constitucional, democratico, sio mais pretensiosas do que quando se trara do papel Porquanto os co-le; comunicagao e de participagdo de modo a 2a. Em comunilades bers, disposi de ajar co-cidadéos estranhos e anénimos, ben como de se sacrificar. ‘pelos nteresses comuns, pode apenas ser recome) sio (Zo importantes para a sobrevivércia de uma democracia, Elas fazem parte da socializacio ¢ da introduco em priticas e modos de pensar de uma cultura politica acostumada liberdacle. O status de civil que vive de fortes espontiineas 0 Disso no segue que o Estadk seus pressupostos -notivacionais a p a vas, para uma-participagzo dos Estado de dizeito sem democracia, ao qual estivemos acostumados Gurante muito tempo, na Alemanha, poderia sugerir uma resposta negativa & questio levantada por Béckenforde: “Ser que povos se pelo Bstaclo poclem viver apenas com a garanta da liberdade do] Wapeeao7t individuo, sem um lago unificador prévio, que antetede tal liberdade? ™ em er Entretanto, 0 Estado de direl:o constituico democraticamente nao 2° gu” garante apenas liberdades negativas para os cidadtios da sociedade : interessados em seu prprio bem: ao liberarliberdades comunicativas, ele também mobiliza a participagio dos cidadios do Estado ne isp oo ag pablica sobre temas que sao dointeresse de todos. O “laco unificador -D¥ SC tito nada mais € do que um processo demociético, no qual est em emo Aiscussao, em Gltima instancia, acompreensto correta da constituigao, E por isso que, nas controvérsias atuais sobre areforma do Estado sobre a politica de Lago, sobre a guerra no Traque, sobre a aboli¢do do servigo militar obrigst6rio, no se tratn apenas de “olfticas” particulares, mas também da de prineipios constitucionais ~eimplicitamente ge tra _-btetendemos.nos.entender—Wuz da pluralidace de nosso: modos de iver culturais, ¢ do pluralismo de nossas cosmovisées e de nossas conviegSes teligiosas —como cidaddos da Repabli europeus. No passado, certamente, um pano de fund religioso comum, uma lingusgem comum e, especialmente, a recéin-reativada consciéncia nacional foram de grande valia para a configuragao de uma solidariedade de cidadios do Estado, eminentemente abstrata. Noentanto, cs mocios de pensarrzpublicanos se. deslizaram, em grande escala, de tsis ancoragens pré-politicas — 0 fato de nao estarmos cispostos a rorer “por Nizza” nio constitui apenas mais uma objegao Contra uma sonstituigao curoptia. Pensemos nos discursos ético, Politicos sob:e o Holocausto e sabre a criminalidads em massa: eles contribuiram pata que os cidadaos da Repiiblica Federal tomassem consciéncia de que a constituigio exa uma conquista. O exemplo de : uma “politica da meméria”, autocritica, (que nfo é mais excepcional, estendendo-se a outras nagées) revela 0 mode como podem Farmar *BOCKENFORDE, (1991), 11 120 } -Constituiga Contrariando um mal-entendico constitucion: ‘patviotismo int dos principios da isando seu contetido abstrato, thas em Seu respectivo contexto nacional. O procedimento cognitivo nao consegue, apoiado apenas em si mesmo, aglutinar ~ nos modos de sentir ¢ de pensar —os contetides morais de diteitos fundaraentais, As intuigdes morais ea indignago provozad, em escala mundial, pelo Gesrespeito macigc aos direitos hurmanos, seriam suficientes apenas para uma integragao por demais ténue dos cidados de umasaciecade undial politicamente constitufda (isso se alguin dia ela realmente oxistisse). Entre cidadaos do Estado surge uma solidariedads ~ mesmo que abstrata e mediada pelo direito — apenas quando os prinefpios da

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