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Sobre o “Mênon” de Platão.

Por: Juliano Gustavo Ozga.

Avaliação sobre a virtude na obra “Mênon” de Platão.

1- O que, em termos de ciência, buscava Sócrates, no Mênon, a respeito da


virtude?

Primeiramente proponho expor a distinção entre opiniões (dóxai) e opiniões


verdadeiras (Áletheis dóxai), que a meu ver será contrastada, posteriormente,
com o termo ciência (epistéme), que pode ser entendido como momentos de
uma relação do nosso entendimento perante o mundo físico, e que é a partir
da aporia que as opiniões passam por uma mudança, e que essas mudanças
geram questionamentos sobre opiniões verdadeiras, e que “essas opiniões
acabam de erguer-s nele. E se alguém lhe puser essas mesmas questões
frequentemente e de diversas maneiras, bem sabes que ele acabará por ter
ciência sobre essas coisas não menos exatamente que ninguém.” (Mênon. 85-
C[pg. 63]).

A questão problemática é como aplicar essa distinção, e pretender indagar a


respeito da virtude, no caso se ela for considerada ciência, haverá a
possibilidade de ser ensinada, pressupondo que há um método a seguir, ou no
caso de considerar a virtude como não-ciência, como será ela possível de ser
ensinada ao ser humano, que não através da experiência do cidadão através
de alguma dádiva recebida (o que poderá gerar exclusão daqueles que não
são aptos e isso gera um problema para a pólis no tocante ao caso de formar
um ser cidadão).

Outra questão importante é o fato de haver uma natureza congênese (gênero


comum) e a alma ter aprendido todas as coisas, é possível através da
rememoração/reminiscência ter acesso ao conhecimento de coisas inatas no
ser humano.

A questão da “definição” de virtude com analogia à “definição” que a ciência


pretende sobre o mundo físico expõe a necessidade de definir (limitar a
extensão) do que é virtude, para não deixar esse termo dividir-se em partes a
virtude, buscando assim uma unidade do que é virtude.

2- Reconstrua a argumentação filosófica de Mênon-Sócrates da página 71


d (p.21) à página 73 c (p. 27).

Essa argumentação está relacionada com parte de um esquema/método que


se segue assim:
a) Primeiro Sócrates necessita “definir” (limitar) o conceito que ele vai
trabalhar, no caso a virtude;

b) Posteriormente Mênon enumera várias formas/expressões de uma mesma


coisa que se expressa em varias ações, e que ele considera ser a virtude;

c) A seguir Sócrates necessita definir (limitar) as formas da unidade da


virtude, que seria o dar conta da unidade de uma multiplicidade;

d) Nessa tentativa se mostra necessário definir virtude através da unidade,


enquanto uma multiplicidade do mesmo, ou seja, o que Mênon
apresentou como as várias formas de virtude, o que possui em comum e
que não muda em todas as ações exemplificadas? ;

e) Logo, a segunda resposta de Mênon é tentar definir a virtude em geral,


sobre suas várias formas de expressão.

Nesse processo o que eu considero importante é a questão de haver a


necessidade antes de tudo, da definição do termo usado, o que nesse trecho
da argumentação pode ser entendido como um esquema/método, que ao ser
aplicado na natureza, expõe critérios de definição de um método que busca
um conhecimento por definição da unidade que é semelhante, apesar das
diferentes formas de expressão do mesmo.

3- Comente:

a) “... não é verdade que o querer pertence a todos, e de modo algum é


por ele que alguém é melhor que um outro?” (78 b, p.41).

A questão do “querer”, sendo constituinte de todos, pode expressar o relato


anterior (77 e), no caso que é exposta a questão de “acreditar” em um
proveitor (ter fé [?]) e “saber” de um dano possível, no caso se é possível a
interpretação de que no estado de “acreditar”, esse é um estado pertencente a
todos, e se esse estado pode ser na maioria das vezes inconsciente, e que no
estado de “saber”, é um estado consciente de algo que lhe torna diferente dos
demais seres, tanto que não é o “acreditar”, que é unânime em todos, que
alguém é melhor que um outro, e talvez, o fato de “saber” de algo, que lhe
norteará na sua vida diária, fazendo e agindo conforme o mesmo, além de ser
“inato” o querer das coisas boas, seja capaz e eficiente para alcançar e
realizar as coisas boas que ele deseja.

b) “... a virtude seria toda a ação acompanhada de uma parte da


virtude? (...) crês que alguém sabe o que é uma parte da virtude mesmo
não sabendo o que ela é?” (79 c, p. 45).
Novamente o problema da “definição” (limitação) de algo que possui várias
formas de expressão através ou acompanhado de ações, e que ao mesmo
tempo é semelhante em todas as ações, ou seja, a pretensa “definição” de
virtude, que Sócrates tenta adquiri-la de Menon, mas que o mesmo lhe
responde com um exemplo (a justiça) de uma forma de expressão do que ele
acredita ser virtude, tanto que posteriormente Sócrates vai afirmar que
Mênon tenta explicar algo, sendo que ele crê/acredita que sabe em partes, e
que expõe a questão de acreditar que é possível explicar algo, mesmo sem
conhecer esse algo, necessitando posteriormente retornar para a parte do
esquema que tenta definir a unidade/totalidade da virtude, sem definir a
mesma em partes constituintes.

4- O que significa “cair em aporia”? Como definir essa atitude e o que ela
acarreta em termos de método?

Definição de “cair em Aporia” como: “Mas o fato é que então acreditava,


pelo menos, que sabia, e respondia de maneira confiante, como quem sabe, e
não julgava estar em aporia. Agora porém já julga (conscientemente)¹estar
em aporia, e, assim como não sabe, tampouco acredita que sabe” (84-b [pg.
59]).

Ou em outras palavras, cair em aporia, como se encontrar em um estado de


dúvida/indecisão e posteriormente deter-se em procurar/buscar saber, sendo
que, sua conclusão é saber que não sabia o que acreditava saber, o que lhe
permite postar-se em um contínuo estado crítico e de dúvida, sobre o que ele
sabia e sabe, e este estado lhe permite estar em contínua crítica sobre o que
ele mesmo julga saber, tentando através de um julgamento, ou anseio por
saber, descobrir, procurar, perguntar.

Através desse esquema/método, pode ser possível transformar nossas antigas


opiniões, em opiniões verdadeiras, e assim progredir para um estado crítico
no qual a ciência busca permanentemente sobre o mundo, porém, essas
questões devem mostar-se frequentemente e de diversas maneiras.

¹- Minha observação.

Referência Bibliográfica: Mênon; Autor: Platão. Texto em grego:


estabelecido por John Burnet. Tradução para o português: Maura Iglésias.
Editora: PUC-Rio/ Edições Loyola. Coleção: Bibliotheca Antiqua nº 01.

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