Você está na página 1de 47
WALDOMIRO VERGUEIRO DESENVOLVIMENTO DE_ COLECOES e associagao paulista de bibliotecdrios 1989 VERGUEIRO, Waldomiro de Casto Santos. Desenvolhi ues de Color. Si0 Palo Pais + APB. 1969, (Co oviente de Coles I. Talo cD (195) — 025.2 cou — 075.2 1 Destesulsmenta de Colgbes (Bites) LIVRARIA © EDITORA POLIS LTDA. Pv Cossmmurs, 1194 — Sale — O38 — Sio Paulo — SP SUMARIO Introducto, 7 Por que desenvolvimento de colegbes?, 10 0 processo de desenvolvimento de colegdes, 15 Politicas para desenvolvimento de colegGes, 24 Estudo de comunidade, 29 AA selecdo como atividade técnica e intelectual, 38 Instrumentos auxiliares & selec40, 45 Selegio e censura de materiais, 53 ‘A aquisi¢do como processo administrativo, 63 Desbastamento: a hora da decisdo, 74 Avaliago de colegdes: a busca do método, 81 Conclusto, 92.” “Bibliografia complementar, 94 INTRODUGAO Em minha atividade académica, tive a oportunidade de entrar em contato com muitas bibliotecas e, aos poucos, ppassei aconhecer algumas das caracteristicas comuns a todas. ‘Notei que existia uma inedgnitaem relagao as colegdes, como se algo nioestivesse suficientemente definido. Tinha-se aim- Dress2o de que alguma coisa nfo estava bem, embora ndo se Conseguisse atinar exatamente com 0 qué. As colegBes Id cstavam ¢os profissionais precupavam-se, 4s duraspenas,em ‘manté-las vivas e atuantes. Louvavel, extremamente louva- vel, embora, em muitos casos, nfo o suficiente. Comecei a perguntar-me as razdes disto e desta forma, {quase sem me dar conta, fui ditecionando minhas pesquisas ¢ trabalhos tedricos para a questio do desenvolvimento de colegdes. Assim, surpreendi-me, no sem uma certa dose de satisfagdo, a0 ver que minhas preocupacdes eram partilhadas anfvel mundial. Um bom sinal, pelo menos um indfcio de que minhas dividas ndo estavam totalmente equivocadas, pos- sufam alguma razo de ser. Foi o que pude depreender do evantamento da literatura intemacional sobre desenvolvi- mento de colegdes. Noentanto, ao verificar que a questo estava jé relativa- 7 madurecida intemacionalmente, possuindo mesmo Meratura até que bastante ampla, registrada em peri6- ivrosespeciatizados, notei que no Brasilo mesmo nao Serepetia, Senti, entdo, falta de um texto que tratasse a questo or iniciro, de uma forma que fosse acesstvel a bibliotecérios pretenses a pesquisas aprofundadas, mas sim dispostos Pelas quais, era siltima andlise, so os responsdveis diretos Seoti tanm, apse muita leitura da literatura nacional e iniemacional sobre 0 assunto, tentando adapté-la & nossa ‘e com vistas & orientagdo de futuros bibliotecérios, ‘inh alguna contribuigdo a oferecer. Talvez tenha sido so da minha parte. No entanto, decidimos Tcor ama tentativa, procarando atender a uma populagto parece necessitar— ou preferir— textos mais leves e de ‘sto, embora nfo necessariamente to superfi- » de no apresentarem novidade alguma. A meu ver,este 60 campo dos manuais especializados que podem ser \o para profissionais com prética no assuntoem busca cefoque te6rico —~ sem, no entanto, deixarem de ser Os =, como para estudantes ou bibliotecsrios formados er busea de maiores conhecimentos que os ‘tion con sua vida profissional presente e futura, O texto =auie 6, além» de, como disse, uma ousadia, também iva de propiciar aos bibliotecérios esta visto geral 9 desenvolvimento de colegbes. Serd, por isso mesmo, ecessarlamente breve € procurard ser também, a0 mesmo ® muito superficial, Tentaremos evitaro excesso de 8 niver seus problemas no trato dirio com as colegdes, . citagSes ¢ referéncias a outros autores, pois este nio seré.um trabalho com vistas a ser apresentado perante uma banca examinadora. Entenda-se, portanto, que muitas das idéias ventiladasa seguir no sioexclusivamentedeste autor, masse constituem em um apanhado das preocupagSes de diversos autores sobre 0 assunto; devido aos objetivos do livro, farei eferéncia a todos eles ao final, no capitulo dedicado as leituras complementares (desta forma, aqueles que no se Sentirem suficientemente interessados poderdio simplesmente prescindir da leitura do mesmo), POR QUE DESENVOLVIMENTO DE COLECOES? 108, Umberto Eco escreveu O nome da rosa, Hd alguns. mniance que ficou durante muito tempo na lista dos mais, vendidos, transformando-se, posteriormente, em um filme is badalados. Por um certo perfodo, a leitura do livro nou-se obrigatdria entre as “pessoas de cultura”, que pas- a scus barzinhos favoritos. Para os biblio- 0s, ent, foi um prato cheio, pois 14 estava, inteitinho, > «s vidas: uma biblioteca enorme, colossal . conicndo milhares de livroscuidadosamente arruma- utes, Perfeito. Que tristeza provavelmente (05 bibliotecérios, quando ao final a biblio- é incendiada, destruindo tudo aquilo que o bibliotecério Fieg%o, contrariamente ao bibliotecério real, havia podido 'ar (que pena, jf conte’ o final do livro...). 0 que muitos im, No entanto— ou ndo quiseram reparar—, era {que o gigantismo da biblioteca nao existia apenas na obra de fo, mas era um fantasma a rondé-los diariamente, Em ‘muitos casos, um fantasma até mesmo abengoado, pois, para rouitos, o tamanho da colegio ainda parece significarum sinal de que se pode jactar perante os colegas, como 10 ‘meninos de creche discutindo qual tem algo a mais ou maior que 0 outro... Felizmente, brincadciras a parte, esta nao é mais uma situagio a ser encarada como regra de conduta entre os bibliotecérios. 14 de alguns anos para c4 a questo do tamanho da coleg2o deixou de ser 0 ponto mais importante para os rofissionais da biblioteconomia. Descobriram outras coisas. Primeiro, descobriram o usudrio; depois, a colegio; agora, esto descobrindo o computador esto extasiados com ele. ‘Masoque interessa aqui, entretanto, ¢ apenas a coleg0.O que J4€ muito, diga-se de passagem. Desde alguns anos, mais precisamente a partir de finais, da década de 60 ¢ infcios da de 70, desencadeou-se na Biblioteconomia intemacional um movimento a0 qual se resolveu denominar de Movimento para o Desenvolvimento de Colegdes. De repente, no mundo inteiro (0 Brasil demo- rou um pouco para aderir) boa parte dos bibliotecérios comegaram a preocupar-se com suas colegbes, buscando desenyolvé-las, selecion4-las, expurgé-las, enfim, trans- formé-las em alguma coisa mais coerente, E houve, ento, 0 que alguns autores chegaram a denominarde boom do desen- volvimento de colegées (um modismo?): artigos sobre 0 assunto comegaram a sair, com frequéncia cada vez maior, nos periédicos de Biblioteconomia; manuais foram escritos, buscando conscientizar os profissionais sobre a importancia dotema (alids, esteémais um deles...); teses e pesquisas foram realizadas nas universidades; peri6dicos especializados em Desenvolvimento de Colegdes foram criados. Pode-se imagi- u ha até, como foi dito anterionnente, que, talvez.com alguns 408 de atraso, os bibliotecfrios haviam finalmente desco- berto sues colegses.. tio pero e, a0 mesmo tempo, to longe. Ouvindo isto, fica-se tentado a imaginar 0 que fizeram os bibtiotecérins antes disso. Nao realizaram eles por tanto tempo a atividade de seleg2o, escarafunchando indices ¢ fins, pesquisando em reviews e tudo quanto é mate- ‘Hal Ce divulgspa0? Nao receberam sempre um nimero maior os de compra que a verba dispontvel para aquisigio, > esiabelecor prioridades na efetivagto das compras? » fizeram contatos com livreinos, com agentes, buscando {uirir 0 material da forma menos dispendiosa? Nao rece- Beram doagoes? Nao deseartaram material? Nao fizeram inventvios ou avaliagdes do acervo? Afinal, porque toda esta ‘eva em toro de algo que os bibliotecrios j4 vem . Jesde sempre, no dia-a-dia de suas bibliotecas? Pois Pperguntas. E talver a respostaesteja exatamente af, na rotina do dia-a-dia, Pode ser qué — isto € apenas uma supose lo rotineiramente algumas. das f0, nfo tenham jamais se preocu- sn enxergar © objeto das mesmas além do cotidiano, sngo tacitamente que aquele era um terreno sobre 0 qual nunca se podesia mesmo ter uma grande possibilidade de controle, Com tudo isto, gragas ao trabalho abnegado dos ‘otecsiris, ns eolegdes foram crescendo, crescendo, cres- no até que... n20, ndo chegaram a estourar. A.cxplosio,na realidade, ocorreuem um outrontvel: no PosicTonemento dos profissionais perante a questio do desen- 2 volvimento de suas colegdes. E muito provavel, alids, que ‘uma outra explosio, a to falada “explosio bibliografica”, tenha, esta sim, exercido muita influencia nesta mudanga de tude, colocando definitivamenteno passado aera do desen- volvimento de grandes colegtes compreensivas. Ficou mais claro para os bibliotecérios que, se pretendiam manter as bibliotecas pelas quais eram responsdveis como organismos vose atuantes, deveriam necessariamentemudar aénfase de seu trabalho da acumulagao purac simples do material para o ‘acesso a0 mesmo. Sinal dos tempos, que, através dos moder- hos sistemas de comunicagao, tomou as colegbes, mesmo as mais retrospectivas delas, acessfveis a nfvel mundial, Hoje, através do compartilhamento de recursos informacionais que —. praticamente, ndo conhece fronteiras —, 0 limite para 0 uso das colegdes passou a ser o proprio limite do conheci- ‘mento recuperével. Como pensar, diante disto, em armazenar apenas para si? Esta bem claro que nenhuma biblioteca pode Ser auto-suficiente, dando-se ao luxo de suprir todas as neces- sidades de scus usudrios com recursos proprios, Esta é uma ilusdo da qual, por mais tentadora que seja, os bibliotecérios devem procurar fugir. Na realidade, é uma aspiracao huma- ‘namente impossfvel de concretizar. Passou o tempo do biblio- tecério armazenador de livros — os formatos j s0 em ni- mero bastante clevado ¢ esto presentes em praticamente todas as bibliotecas —, a tentar conseguir manter sob sua guarda a totalidade do conhecimento humano... Chegou 0 tempo da biblioteca abrir-se a todas as fontes de informagio, eobibliotecério tomar-se a ponte entre o acervo sobre o qual 3B ‘ein 2 yesponsabilidadee um usudrio cuja exigéncia cresce ex- Povencialmente, Mais ainda, ponte entre este usudrio e 0 luniverso de fontes de informagao, estejam elas onde estive- Fem, entre as quais a colegdo da biblioteca seré apenas uma arcela, E € por isso mesmo que este se caracteriza como 0 tempo do planejamento de acervos seletivos, dinamicos, nio ‘eros sgniprimentos de livros e alguns outros poucos mate ais. Acervas integrados & comunidade, Sem diivida, uma mudanga muito radical esta, ocorrida com uma rapide surpreendente, chegando mesmo a pegar alguns profissionais de surpresa, Nao é, também, uma tarefa wina transformago de mentalidade. Mas ido, exatamente por isso, uma mudanga bastante vista a escassez de recursos econémicos, sem- sisite-nas bibliotecas, Talvez, quando ususrios ¢ ores culturals descobrirem que as verbas aplica- ‘llotecas e centros de documentagonio esto sendo sporstidas sleatoriamente na aquisig#o de materiais inade- ‘1 chegar maiores volumes de recursos ‘08 isimdos dos biblioteedrios. Ingenuidade isto? Até ‘ree Ser, De qualquer forma, 0 desenvolvimento de colegdes, ‘Hado a ovtros fatores —. formagdo dos profissionais, recon. hecimento soctal da profissdo, etc, —, poderé contribuir em srande medida para que as instituig6es responsdveis pela suarda © disseminagéo da informagio — entre as quais as bibllotceas so, pelo menos em um pats subdesenvolvido » © nosso, ainda a maior parte — tenham reconhecido 0 valor. Sonhar é possivel? 4 O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE COLECOES ‘Tendo convencido o bibliotecério desavisado dos moti- vos favoréveis a0 desenvolvimento de colegSes © porqués desta mudanga de atitude dos profissionaisem nfvel mundial, agora o tenho entusiasmado com isto— pelo menos, éestaa minha esperanga —, ¢ disposto a sair pelo mundo desen- volvendo todas as colegdes que Ihe aparecam pela frente ou ‘venham a cair-Ihe &s maos, Necessério €, portanto, refreé-lo. Calma! Calma! Calmal Desenvolvimento de colegdes é, acimade tudo, um trabalho de planejamento —algumas vezes sou tentado a denomind-lode planejamento de acervos, 0 que, provavelmente, € muito mais sonoro... — e, sendo um tra- balho de planejamento, exige comprometimento com meto- dologias, Nao , efetivamente, algo assim to simples como ode parecer & primeira vista. Na realidade, trata-se de um pprocesso que, ao mesmo tempo, afeta ¢ ¢ afetado por muitos fatores extemos a ele. E, como processo, é, também, ininter- ‘upto, sem que se possa indicar um comego ou um fim. Nao é algo que comeca hoje e tem um prazo estipulado para seu témmino, Nem é, tampouco, um processo homogéneo, idén- 1s {ico em toda e qualquer biblioteca, O tipo de biblioteca, os objetivos espeetficas que cada uma delas busca atingit, a comuniciade espectfica a ser atendida, influem grandemente nas atividaes do desenvolvimento de eolegBes, como vere- mos a seguir. sta visio do Desenvolvimento de Coleg8es como um ondao de uma perspectiva sistémica, & muito Ate para transmitir a nogéo de que as atividades 2 coleio nto podem ser encaradas isoladamente, © > do processo, elaborado pelo bibliotecério norte- americano G. Edward Evans, 6, alids, muito elucidadoraeste a 1), pois mostra o cardter cfctico do desen- » de-coleges, sem que uma etapa chegue a distin- suir-se das outras. Estaotodasem pé deigualdade, girandoem mao de um pequen efrculo onde se situam os bibliotecdtios cnvolvimento da colegdo. Ao redor dos so, servindo como subs{dio a todos 2 excegio tinica a da etapa de aquisigao —, encontra- s© « Comunidade a ser servida, Desta forma, 0 modelo cobre © processo inteizamente, no se imitando a tratar © desen- es comose fosse apenas asatividades de ponsdveis pelo des blioiecdrios dosprevenidos. A figura € bastante esclare- cedurs por mostrar que este 6 um processo ininterrupto, sem i ecessariamente que se tomar uma ira das bibliotecas, garantia nica para sua Procura 0 bibliotecério norte-americano © todas as etapas devem necessariamente estar 16 Figura 1 — Processo de desenvolvimento de colegées, 7 es, em toda © qualquer biblioteca, como atividades ais ¢ rotineiras — como o sio a catalogago, a classifi- cago, 0 empréstimo ea elaboragio de relat6rios —, ndo pro- cedendo, absolutamente, aquela velha desculpa, tfo utilizada pelos bibliotecérios, de que nao realizam uma ou outra etapa, ‘ou fase do processo de desenvolvimento de colegdes — us mente a avaliagdo ou o estudo de comunidade — por de tempo. A partirdo momentoem que se passa sro desenvolvimento de colegdes como atividade motincirs das bibliatecas — afinal, as colegBes ndo se desen- volvem no vaio, fruto de geragdo espontanea... —, qualquer scullp para a ndo realizagfo de todas as fases do processo ere sua razto de ser. Mas esta, a colocagao do desen- volvimento de colegdes no mesmo nivel das demais nividades das bibliotecas — e no como um Iuxo a0 qual se alguns bibliotecsrios mais privilegiadosem s de fempo e pessoal auxiliar —, 6 uma luta érdua, Fx mos bem, diversos empecilhos para a sua con- cilhos estes que vao desde barreiras psico- io a algunas fases do processo — como jo ~~, até a quase total incapacidade de ‘muitos profissionais para pensaracolegdo como um vir-a-ser, 4 seja, como objeto de reflexdo e planejamento, passando pela dificuldade que muitos encontram para colocar, em terms elaros, 0 que desejam alcangar e sob que critérios hortear seu procedimento, Em suma, falta, muitas vezes, a is ‘0 como um todo, ficando-se preso a pontos fais ou a detalhes que ndo sfo 0 essencial do trabalho de 1B absoluta desenvolvimento de colegdes. Como aquele episédio com nativos africanos, quando pela primeira ver. the fol exibido tum filme cinematogratico: ficaram extasiados com a cena da galinha, que muito impressionou os exibidores, pois no filme, segundo se sabia até entfo, nto exista galina alguma Repetida a exibigto, notaram surpreendidos que realmente, «em determinado momento do filme, uma daquelas aves pas. sava correndo por um canto da tela. Na realidade 0s nativos, desacostumados aquela linguagem de comunicagiodemassa, ‘nfo consezuiam enxergar a tela como um todo, fixando sua tengo em partes da mesma, Quest20 de falta de contato com © meio de comunicagao ou de dominio daquela linguagem especffica, conclufram 0s estudiosos do assunto. Os biblio- érios, em seu relacionamento com as colegGes, correm 0 risco de também — figurativamente falando— estarem aver salinhas atravessando 0s cantos da tela, Falta de dominio sobre 0 processo de desenvolvimento de colegdes, pode-se imaginar. Felizmente, algo sandvel Para infcio de conversa, deixemos bem claro que, em- bora 0 processo esteja presente por inteiro em todas as bibliotecas,¢ldgico que ele nio ocorrerd da mesma formaem cada uma delas. Parece bastante evidente que a colegio de uma biblioteca piblica nio se desenvolverd da mesma forma que a de uma biblioteca universitéria, escolar ou especiali- zada. Asnfases,em cada uma delas, serdo diferentes. Sendo, vejamos: 4) Bibliotecas piblicas: possuem uma clientela mais dinamica, diversificada, que deve ser acompanhada com 19 bastante atengito devido A mudanga de gostos ¢ interesses. AS nocessidades informacionais da comunidade servida pela viblioteca piblica variam quase que na mesma proporgo em jue varium os grupos, organizados ou no, presentes na mesma, O trabalho de andlise da comunidade parece ser, assim, aquele que maior énfase deve receber por parte do Nbliolecério, nfo se descartando, porém, exatamente em das flutuagdes detectadas pelos estudos de comu- ic, um cuidado especial com a selegao de materiais, dovidamente alicergada em uma politica de selegdo. Boa u »fusenos atividades de avaliagdo.e desbastamente pareceser, uma caracterfstica do desenvolvimento de colegoes Diioteeas publica, principalmente para atender a de- Jos usuétios, bliowecas escolares: existem —ou, pelomenos, de- 1 cxistir — para dar suporte As atividades pedagégicas ‘tunidades escotares, Mais que isto: devem estar integradas no processo educacional. A colegdo das bibliotecas escolares ue, nit realidade, 0 direcionamento do sistema educacional ente. A Enfise esté, portanto, muito mais na selegdo de didaticos — nommalmente alicergada em wlftica de selegZo que tem sua base no currfeulo ou >eograma escolar. O desbastamento da colegio ird acompa- ga nos programss e/ou currfculos; materiais para fi ©) Bibliotecas universitérias: devem atender aos objet vos da universidade, a saber, oensino, a pesquisa ea extensio 20 & comunidade. Isto vai exigir, quase que necessariamente, ‘uma colegio com forte tendéncia ao crescimento, pois ativi dades de pesquisacxigem uma grande gama de materiais para que 0 pesquisador possa ter acesso a todos os pontos de vista importantes ou necessérios. A selegio, no caso, nio€éo que hd demaisimportante, pois biblioteca precisa ter um volume de recursos informacionais suficiente para dar suporte a pesquisa realizada tanto por docentes como por alunos de pés-gra- duagio. Da mesma forma, a comunidade € relativamente homogénea, ndo exigindo estudos ou avaliagdes de grande monta. A énfase maior, no caso, parece estar muito mais no desbastamento ¢ avatiagtio da colegio, medidas necessérias ara otimizagdo do acervo, As bibliotecas das chamadas “instituigdes isoladas de ensino superior", no entanto, con- trariamente as de bibliotecas ligadas as universidades, exa- tamente por nfo terem que prestar suporte a pesquisa, norteam © desenvolvimento de suas colegSes apenas pelas exigéncias dos programas ou currfculos dos cursos por elas oferecidos; 4) Bibliotecas especializadas ou de empresas: existem Dara atender as necessidades das organizagBes a que est0 subordinadas e, por isso — mais do que qualquer uma das ‘outras—, 18m seus objetivos muito melhor definidos. Prova- vvelmente, adiferenga maior no desenvolvimento de colegGes de bibliotecas especiatizadas € a presenga, com muito maior frequéncia, de materiais no convencionais — relatsrios, Patentes, pré-prints, tc, —, que exigem dos bibliotecériosum 2 enorme esfon para localizagao e obtengdo do itens dese- Existem, no geral, muitos outros fatores que afetam 0 ocesso de desenvolvimento de colegdes, além do tipo de biblioteca em que o mesmo se d4. Nao devem ser esquecidas ou subestimadas, por exemplo, as influéncias das inddstrias produtoras de materiais para bibliotecas — indistrialivreira, fonogréfica, etc. — sobre 0 trabalho dos bibliotecérios para jesenvolvimento de suas coleg6es, pois so essas indistrias, ‘tise, que iro controlar © que estaré ou nfo a aquisigo por parte das bibliotecas, Por outro temas empresarivis para divulgagdo e marketing dos yam na comunidade uma série de interesses cujo »dimento implica na realidade, resposta no aos interesses osusuitrios ou da comunidade, mas ao esquema promocional O que vai exigir dos bibliotecdrios, ‘da, um cuidado extra para no cairno erro «as a necessidades fabricadas pelos media, ode esquecer, também, a influéncia que exer- ‘Jc outras bibliotecas no desenvolvimento da ‘io de una biblioteca espectfica, Como disse anterior. iwina biblioteca pode dar-se ao luxo de bastar-se a tendo necessariamente que Ievar em consideracao s recursos disponfveis em instituig6es congéneres de facil acesso, buscando, na medida do possfvel, compartilhar suas pposses'com as ovtras, aomesmo tempo que faz uso das alheias, F, além de uma medida de economia dos parcos recursos ‘inanceiros dispontveis para aquisi¢0, uma forma de prestar 22 melhores servigos aos usuérios, que terdo ampliado 0 luniverso de materiais & sua disposigd0. Apesar de programas efetivos de colaboragdo entre bibliotecas apresentarem Problemas devidos a falta de infra-estrutura, nunca é demais frisar que a persisténcia deve ser mantida, buscando o aper- feigoamento do servigo. Se, em pafses mais privilegiades em temmos de recursos econdmicos, esta é umamedida de racio- nalizacdo, em pafses subdesenvolvidos, entdo, é, pratica- mente, uma medida de sobrevivéncia.. Alm do mais, 0 desenvolvimento de colegdes, como ‘tividade de planejamento, deve ter um plano detalhado pre- ¢stabelecido,a fim de garantir um minimo de continuidade 20 processo ¢ corregdes de rota, quando necessaiias, E 0 que se costuma chamar, genericamente, deestabelecimento de uma Politica para o desenvolvimento da colega0, um documento ‘onde se detalhard quem seré atendido pela colecto, quais 0s Pardmetros gerais da mesma e com que critérios esta se desenvolverd. Algo que, por sua importincia, merece um capftulo a parte. 23 POL{TICAS A DESENVOLVIMENTO DE COLECOES ‘As raztes para a elaborago de politicas para 0 desen- Ivimtento de colegbes parecem mais que evidentes, acome- Gar por mutes econtmnicas, ouseja,anecessidade de sedispor umn guia racional para alocagdo de recursos, muito embora info se possa~-ou nfo se deva— pensar em claborar politicas tendo como alvo a provavel economia de recursos que bter porseu intermeédio. Mas, de qualquer forma, vomicas exigem a determinagdo de prioridades, ene no se tem — e, provavelmente, jamais se verbas suficientes para aquisigdo de todos 0s ma- rsse; OU, Se verbas existissem, provavelmente leriais de in ' se text oespago ou pessoal necessdrio para acomodagZo "v dos materiais adquiridos. Assim, oestabelecimento © una polftica para 0 desenvolvimento de colegtes surge, para dizer 0 m{nimo, como medida de bom senso, apesar de que nfo se deve generatizar e daf concluir que a fungd0 principal do desenvolvimento de colegdes € a de economizar vs verbas da biblioteca, 24 Os propositos de uma politica, na realidade, so muito ‘mais amplos do que se sugeriu no pardgrafo anterior. Trata-se dedetxarclara filosofia anomear trabalho bibliotecario no QL Wediz.respeito’ colegio. Mais exatamente, trata-se de tomar )pabice, expessamente,o escionameno creo desenvol Yimento da colegfo ¢ os objetivos de instituic4o a que esta ‘colesdo deve servr,tanto por causa danecessidade deum guia Dritico na select didria de itens, como devido ao fato de ser {al documento uma pega-chave para o planejamento em larga escala, Algm do mais, poderfamos dizct que 0 processo ‘mesmo de elaboragao desta politica tem uma fungdo peda- ‘26gica,digamos assim, Amedida que propicia ao bibliotecdrio. ‘oportunidade de auto-avaliagdo- reflexao sobre suapritica de desenvolvimento da colecdo. Acrescente-se, também, que apenas a existéncia de tal documento pode garantir, pelo menos no limite do possfvel, uma colego consistente e um ff crescimento balanceado dos recursos informacionais da { biblioteca, Ou seja apolticairéfuncionar como diretriz para | __asdecisdes dos bibliotecérios em relagdo a selegdio do material a ser incorporado a0 acervo ¢ & propria administragdo dos recursos informacionais. & ela que ird prover uma descrigdo doestado geral dacolec%o, apontar o método de trabalho para consecugio dos objetivos ¢ funcionar como clemento de argumentagio do bibliotecério, dando-Ihe_ subsidios para na Mteratura especializada de cada 4rea do conheci- znte, camo em perisdicas de biblioteconomia tipo Library Journal ou Wilson Library Bulletin ‘Tal qual os peri6dicos, outros tipos de materiais, como crofonias, multimeios, materiaisndo-convencionais, etc. ppossuem instrumentos auxiliaresa selegto. A utilidade detais asirumentos, no entanto, iré variar de acordo com cada tipo 52 de material, sendo que caberé ao profissional definir as vantagens ¢ desvantagens de cada um em relago a0 seu caso especffico, conseguindo tirar 0 melhor proveito deles. Foge 0s objetivos deste trabalho a discuss4o detalhada dos instru- ‘mentos auxiliares & seledo destes outros tipos de materiai Ieitor interessado em obter mais mais informagdes sobre 0 assunto poderd recorrer & bibliografia complementar, citada no final do texto. Esta répida pincelada sobre alguns dos muitos instru- ‘mentos auxiliares &selego de materiais procurou demonstrar que essa atividade nao pode ter sua importancia minimizada dentrodo processo de desenvolvimento decolecdes, devendo © profissional langar mo de tudo que Ihe for possfvel para tomd-la melhor alicergada. Mas sabemos muito bem que, por ‘mais instrumentos de que se utilize o bibliotecario, a sclegio terd sempre a influencié-la um fatorextremamente subjetivo, ‘qual seré impossfvel dominar completamente, O estabeleci- mento de critérios ¢ a utilizagdo de instrumentos auxiliares visam, na realidade, manter este fator subjetivo dentro dos limites do aceitavel, sem 0 que 0 trabalho do bibliotecdrio fatalmente se transformaria em um simples caso de definiga0, de preferéncias pessoais dele, profissional, sem qualquer ‘consideragdo com o usuério ou acomunidade a ser servida. E © bibliotecério, principalmente quando realizando a selec0 cde materiais para sua colego, tem em suas mios, entre outras, coisas, 0 poder de decidir a quais informagGes a comunidade ird ter acesso, 0 que pode ser, em muitos casos, fonte de desvirtuamento de todo o processo de desenvolvimento da 53 jf dizia que “o poder corrompe”, & ios dotermos um pouco ndo apenas neste desvir- _processo de selegdo por parte dos bibliotecdrios, rm, nas press6es que estes sofrem, por parte de ‘sc ususrios, para que efetuem este desvirtuamento. A isto, pocie-se chamar censura, 54 SELECAO E CENSURA DE MATERIAIS A questo poderia ser colocada de varias formas. De um lado, temos os usuérios que possuem direito de acesso a todas as informages, sem restrigdes de espécie alguma; de outro lado, temos os bibliotecérios lutando no seu dia-a-dia contra press6es, que Ihes vém de todos os lados — até deles mesmos —, para colocar limites & liberdade intelectual do usuétio, Parece ser relativamente fécil, aos bibliotecérios, posicio- nnarem-se de forma favordvel a liberdade intelectual e con- trérios a censuraem bibliotecas, quando os interlocutores so outros colegas com os quais se reuniram para tomar um aperitivo ou para debates em reunides ou semindrios profis- sionais. Outra coisa, no entanto, jd ndo Lio fécil assim, é agir contra as pressdes que vém da parte de autoridades gover- rnamentais, de associagdes civis ou de individuos que se sentem no direito de exigiraretirada, dacolegdo dabiblioteca, do mateial. Agumentam alguns bibliotecdrios que a 66 aquisigto diretamente com o editor — principalmente no caso de assinaturas de periddicos estrangeiros —sai muitomaisem conta para a biblioteca quea aquisigdo via agentes, quando se compara o prego do produto em cada um dos casos. Embora © raciocfnio, em um primeiro momento, parega bastante correto, € preciso atentar, muitas vezes, para a sua faldcia: apenas o prego do produto ndo é, em um grande niimero de casos, indicador suficiente do custo do material para a biblio- teca, sendo necessério, para obter valores realmente com- pardveis, introduzir na opera¢do custos outros que, primeira vista, seriam deixados de lado; € 0 caso, por exemplo, de ‘eustos com horas de trabalho do pessoal bibliotecério para a realizacao. registro e acompanhamento da operagao de com- pra, incluindo, além disso, todos os custos para manutengao decorrespondéncia e contato direto com os diversos editores.. E claro que tanto o mimero de editores a serem contatados ¢ istribuigdo geografica dos mesmos, como a qualidade © rapidez dos servigos prestados por cada agente em particular, silo fatores que nio podem deixar de ser considerados para a decisdo final. Existem, a propdsito, muitos agentes em atividade no pafs, que devem ter suas vantagens (preco, rapidez. de fomecimento, capacidade de aquisi¢do retrospet tiva, etc.) comparadas com muito cuidado. Apenas a tulo de cexemplo, sugere-se aos profissionais que, antes de tomar a

Você também pode gostar