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(8 S1— As Cidades da Idade Média —Mensi Picenne © livro onde se assste a0 viver_quotidiano dos homens medievais, na sua projecsio sobre 0 evo~ Tue da sosiedade’europeis. NS 16—Que B 0 Feudalismo? —F. L. Ganshot ‘Um estudo praticamente exanstivo das institu (es Teudovassélicas, indispensével para quem de F Soje,colocar na perspectiva do seu enquadramento ; histérico a evohicHo da sociedad europeia. “Ne 99—A Revolusio Industriel da Tdade Média—Yean Gimpet ‘Um livro de extraordinério interesse © profunds ferudicéo, onde se demonstra ser na Idade Média ‘gue deve situarse, cm rigor, a primeira revolucto industrial, © 125—0 Mito da Idade Média—Regine Pernoud ‘A jdeia segundo @ qual a dade Média teria sido a ‘de trovas, iajusta 6 birbars, € desmisti- ficada ‘nesta obra, assinada, por um ‘grande espe- alista, uma finguagem série desenvolta, onde ‘9 ironia vai de par com a erudigho, No M50 Trebalko na Tdade Média— Jacques Heers Um aspect novo da historia medieval analisado fem, profundidads numa obra que vem esc! ‘Cxtragrdinariamente 2 tio falada como desconhe- fda Tdade MEd, aN PUBLICAQOES EUROPA-AMERICA on a ia ou tronemitide por qualquer forma ou por Cialtuer presse, electronica, mectnco ou fotogrt= fico, inotutndo fotoeopia, zerocopla ou gravarso, fon auroranoto greta © exile do elitr. Rosey. - tuseo noturalmente a transerioso de pequenos tex tos on passogens para apresentiodo ou critica do livro, Esta exoepedo nido deve de modo nenhum ser Werpretada como sendo extensive & transeriedo dz srtos em reoothas anzoloplees ou similares donde Introdustia Pa Capitulo I—De um império a outro T—Ulkimos vestigios do Império™ Remand’ no ‘Ocidente (461-876) Os movimentes de Giese romana (533-698) IV—A'Espanhs visigitica e em’ seguida mogul ‘mana (8842) i VA itlla ent 0. cident’ fataa 3" Stents seo (76819) vi—a Gila meroving ga 38619) Capitulo A economia ea TA feranca do. Baixo mmpiio = Ae" aclates edt, IL—As exploracoes ¢ os cxplaradores IV— Artesanato, comers, “mocds Cepltulo TAs insides T“Permanncan « clipacs da nail I= Nacoes om tuscan sua ental Til— As forgas centripetas na Igreja Capitale TV— A socedade a 1 "Siamagées peoerticas 1 —Repaieno “soe Ml —Bvolegser mentais Capitulo V— Cultura e arte 1 Bdncseio. © Satara 110s problemas dn cominicaci il Pitoftara da Alta Tisde' Média Conelis80 rns : Uibliogrefie™ rumria | Rattor: Francisco Lyon de Castro Billed n° 1156/2020 " Ezemupto téonica: | Tipoprafia Cames, _Povoa de Versi Tornou-se jé um lugar-comum nos nossos dias afi mar que a civilizagdo ocidental esta em mudanga e os Europeus no sabem discernir 0 futuro rosto do sou proprio universo, esta incerteza esti ligada as grandes correntes da Histria Universal, cujo percurso, como. todos sentem, se modificou; porante esta metamorfose, vos homens interrogam-se acerea de si mesmos, pe _crutam 0 futuro © inyestigam o passado. Contrariae ‘mente a um célebre dito de espitito, hé muito tempo sabem os homens que as civilizagdes sto mortals. (Que outra coisa podem significar a histéria fabulosa da Ailfntida ov a preseaca de ruinas misteriosas no lugar magico da furura Roma, que Evandro apresenta a Eneias?) Podem desaparecer quase completamente ou transformar-se, tornar-se outras. O Ocidente europe conheceu ja uma tal transformaco. Os estudantes epren- dem nas aulas que & Antiguidade se sucedeu a dade Média. Através desta formulagao suméria escamo. teia-se’ a propria mudanga. Mas esta mudinga impoe © seu peso A consciéncia moderna: a Histéria é, por. vonseguinte, interrogada. Quando se passou da Anti- guidade para a dade M&dia? Como? Porqué? Que _ visio tiveram desses tempos aqueles que neles viveram? ‘A solucio comeca por se basear, antes de mais, na elaboragao de definicdes: O que é a Antiguidade: © que é a Idade Média? Em que critérios se pode basear uma tipologia de contrastes destas duas civi- lizagies? Critérios econémicos, sociais, politicos, lin “guisticos? (Poder-se-ia admitir que 0 Mundo Antigo ‘termina no Ocidente a partir do momento em que a ‘lingua falada pelo povo deixa de ser o latim.) Ter em " consideracdo estes dados obriga a reconhecer que & “iffcil cortar brutalmente entre a Antiguidade e a dade Média, e sobretudo que, se hi caracteres essen- ciais pelos quais se reconhece a Idade Média que _estayam presentes nas estruturas histdricas do. mundo _ romano a partir do século v, numerosos tracos pelos quais ‘se define 0 Mundo Antigo continuam aié aos séculos {ou Vil. Aparece, assim, um perfodo transitério entre um tipo de civilizagio ainda essencialmente antigo e um outro jé fundamentalmente medieval. Ea Alta Tdade Média. Relativamente breve (nd pode comecar muito io ¢ evolui em ritmos variados, segundo as re- ides, 05 momentos, os caracteres ‘considerados, de ento para outro da Historia, Estd em curso rdadeira madanga de civilizapio, longo de. se encontrar j4 realizada, isto em todos os dontinios: “economias, instituigdes, sociedades, Iinguas... & na realidade um abuso (como 0 mostraram os ‘trabalhos de A. Chastagnol) apresentar o Baixo Império Ro- _ mano’ como uma pré-Idade Média. Bem entendido | que alguns sintomas anunciam nesse periodo a Tdade | Média, mas s6 privilegiando-os de uma maneira_arti- "ficial em detrimento de caracteres permanentes igual- ‘mente nitidos se pode pintar um quadro pré-medieval “dos séculos m-IV romanos. Historiadores e simples - curiosos tém, por conseguinte, aqui & sua, disposicio um campo ‘de predileccio, por pouco vidos que _ sejam de melhor compreender os processos através dos quais uma civilizacio cede o lugar a outra. _Esta passagem de um mundo para outro aparece com mais nitidez precisamente onde a Antiguidade tinha | deixado uma matca mais profunda, A sua profundi- dade € mensuravel: em todos os lugares do Ocidente ‘onde nos nossos dias é falada uma lingua roménica (nfo se deverd esquecer a Roménia, mas ela esté, or definigio, exclaida dos nossos propésitos), a ci. vilizagéo romana tinha Tancado s6lidas raizes, Porque © latim foi nesses lugares falado por todas as cama das da populacdo. Sera portanto da Itélia, como 6 evidente, mas também da Gélia e da Espanba, que aqui se’ tratard; delxaremos pelo caminho a Africa romana, que se no pode tornar romfnica. Os patses do Ocidente n&o latino (Scotia, Britannia, Germania...) lo serio, por conseguinte, tidos em consideracio seniio na medida em que 0 seu contributo externo foi p vveres essencial 3(6) mudanga(s) no interior da Romania, N.B.—Os ntimeros entre wotZi paréoteses [] remetem para a fracos cdnticos, tal como hoje, dirdo ...> (Trad, A, Loyen [1].) fionés, Sidénio.Apolinério, acolhe o imperador Mi jorianus em Lido, que acaba de ser reconquistada po Aegidius, comandante do exército da Gélia, no termo CAPITULO I de uma dura campanha militar na Burgindia (em 458), © discurso de Sidénio resume bem a sitaacio real da DE UM IMPERIO A OUTRO Gélia e do Império nesta data. Hé meio século qu os Birbaros forgaram a fronteira no Ocidente. Insta- Jaram-se em todos os lugares em que o poder civil 6 —Ultimos vest Império Romano militar do Império foi impotente para os expulsar. St Nid oWiL ttns casenia) Set deram-se confrontos armados ¢ acordos mais ou menos pacificos. Os Barbaros so pouco numerosos: raramente, E uma vez que viestes, tinica esperanga de © seu nimero global ultrapassa 16% da_populaca ‘um mundo esgotado, nés vos pedimos, restav- autéctone. Constituem mais nticleos de individuos re- Tai as nossas rufnas ©, a0 passar, Iangai o partidos iregularmente pelo Tmpério do que verda- yosso olhar, 6 yencedor, sobre Lito que é difos enclaves humanos, Sem dificuldade sio apre- vyossa: de vés implora o repouso, destruida por sentados sob a forma de grupos tribais, ji muito dificuldades sem conta; dai-lhe’ a paz, resti- influenciados pela. civilizagao. romana, mas ‘impondo twiclhe a coragem: 0 pescogo fatigado do jo- 08 terrilorios por eles ocupados ‘uma indiscreta ‘yem touro, se deixar um instante a charrua, Presenga. A sua violéncia tocon sobretudo as classes fara com que trabalhe em seguida melhor a abastadas da sociedade antiga: cada bérbaro impos terra compacta do campo. Gado, colhcitas, ‘uma partlha das terras a este ou aquele proprictitio, colones, cidadios, tudo a nossa cidade per~ ou eliminou-o ‘mesmo fisicamente, Para a grande deu .., Sucumbimos sob as devastagées, sob maioria a mdanga € muito pequena. A confusio © incéndio, mas vinde ¢ dai vida a todas as ctiada pelas incurstes e pelas ocupagdes barbara coisas ... Quando subirdes ao vosso carro de terd talver permitido, algumas vezes, @ essa grande vit6ria’ e, segundo o uso dos antepassados, a8 aioria que escapasse a alguns dos’ encargos fiscais coroas mural, valar, cfvica juntarem os louros que a esmagavam. Puderam desta’ forma criar-se con- sobre a vossa cabeleira sagrada, quando 0 uios entre as populagdes romanas pobres ¢ os invasores, Capitélio dourado vir os reis "agrilhoados, E a tese defendida por volia de 450 por um padre de jaando Roma de despojos guerrei- Marselha, Salviano. E certo que néo houve qualquer meradas & yossa passagem e no meio das Tudo se passa como se 03 humildes se desintcressasse suas aclamagées, irei & vossa frente e os meus da sorte do Império, Quanto aos poderosos, jé no | “ih aber-180—2 F BME age ete SMe EW Renee Mane NST EN Pte TCE : 8 MICHEL BANNIARD contam daqui em diante senfo com exércitos de mer- cenarios para defenderem o Estado €, pouco a pouco, no pensam seno em salvar a sua propria provincia, até mesmo o seu dominio privado. Perante etnias acostumadas a combater elas mesmas, a degradagaio da situagao militar é assim continua. Hé unicamente algu- mas pausas nesta evolucao, quando chefes militares (Actius) ou imperadores’ (Majorianus) enérgicos ten- tam travar a desagregacdo do teitit6rio romano. Seri esta irreversivel? Nio se poor encontrar resposta para este problema eno’ tornando em claras a6. cuss {ue provoctram 0 dessiembramento do Império Romano m0 Geidente Ce parselamente, at bates que. peaitem a sobre- Viens. deste Império. no’ Oriente). Para os. coutemporaneos teidetaih qe, yee 0 Timpeto. pasar pooso a pouco pars SS pos con Blrbroe ro fase aseran agp 8 emo heafium evident, pelo. menos alé_ aos anos enue fan vers men ide) que. nl0.houvewe islauet remo prea situapao. que esse pestoas conservam, ea) gerd, PMecordagio. do séeulo I. Com efeito, a parr dessa Epoee impeng. ctere em rato do demparccer: cinguenta anos {Se angrgula militar e-de cites sociais.¢ econémicas tinham-n0 formato’ vulneravel nas suas" fronteitas, tanto no Oriente ono. no Osidente, hpretsfo. dos. poves estrngeios. As grandes Invasoes do séctlo” V comecam com a passgein do Kec ea entadvilents Gili de es povon germ eos: Suevon, Alamos, Vandalos. Mas outtos povos eumi- Hicos, os TyanGos os” Alaminos, nha, de" 244 a. 277, forgado ay. frontelmas “dx” Galla,"que' haviam. devastado. AS Guapanhas de" Probus 77) inham posto termo 20 Sferfor barbaro>. poder dayperial Una reencontado a gua oidade; as fronieirs, a sua solder; a cconomia, a sua act ade; a eligifo, um novo impulse, No, final do. século TV find romano perdi; cago do sompre contr sgou.¢ as, porurbagées. desta epoca, 9 enfraquecimen Rlafivo' do. Gcidente em Telagio. so” Crient, nfo podan Tmpeli um oplimismo comedo acerca do futuro” da. eck ines romana, Anda. ern 417, um esertor ersizo da Es frank, “Paulo” Orosio,-afiha. sta conflangar 0. Impétio fnconirria GG ovo "8 sla forea © sabetia oparse uma foralera da ristandade, Contudo, ‘do. outro lado do mat, ‘Spotinho tina onvidado, da. tlea, Affica, os. seus. con dladgos 2. deaviarem as experancas da cidade terrestro. para Fe OE oe PRU ROM ES MRE ee Se) Ret 4 ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL 18 1s colocarem na_cidade de Deus. A Histéria dar-theé ra zig. Mas € 86 depois di morio trigica de Majorianus (461) que os mais optimistas dos romanos sentem yerdadelzamente que a sorte do Império esté terminada no Ocidente, Sidéaio Apolinério deixa Tigo © retira-se duraute sete anos para o ‘coragio da Alvémnia. Em 468, toré ainda a honra de set prefeito da cidade; ‘mas em 471 entra na. vida religiosa: 6 eleito”bispo de Clermont, sinal seguro, para n6s, de que pressentiu o fim préximo do Império, porque se dedica desta forma a um servico que jé nfo esta de modo algum ligedo com a sorte desta instituieko humana, Nesta época, que parte do Ocidente continua ‘mais ou menos romana, ou seja, reconhece de maneira mais ou menos directa a autoridade do imperador? Depressa se d4 a volta: continuam no Império a Ttélia @, na Galia, a Alvémia ea Provenga. Acrescentam-se a estes ihtimos bastides exércitos romanos, que con- tinuam uma existéncia aut6noma nos territérios que tém de defender. Contudo, isto nfo signifiea que se devem considerar as outras partes do Império como submersas sob a torrente dos invasores. Na realidade, durante toda a primeira metade deste século vos. Barbaros comegaram a impor o seu poder paralela- mente com a administracio imperial, em virtude do sistema dito dos foedis, sistema pelo qual o imperador concedia aos recém-chegados um estatuto legal dentro do Império. Mais tarde impuseram a sua autoridade a esta administracdo: mas esta nfo desapareceu de uma forma brutal. Deste modo, o Estado desmem- browse © depois, pouco a poco, dissolveu-se como, um banco de gelo. As dltimas placas de gelo desa- ppareceram pouco antes de o iiltimo imperador romano. do Ocidente ter sido expulso por uma revolta militar @ substituido por um rei barbaro (476). Apés trés anos de resisténcia encathicada, a Alvémia passou para as mfos dos Visigodos dé Eurico, e Sidénio, alma desta resisténcia, partiu durante algum tempo) Para o exilio junto de Carcassone (475). ‘ IOs movimentos de povos (176-568) Olhar © mapa do Ocidente romano em 476 & ‘ao mesmo tempo, instrutivo © enganador. Aparente- “mente, j& se voltou a pagina. Quantos povos vindos do exterior se_instalaram, destrufram a antiga uni- dade mediterrinea; quantos outros virio no perfodo de um século, em vagas sucessivas, trazet novas carac- terfsticas a um rosto ja mudado! Partimos do extremo limite do mundo conhecido no Ocidente: em Espanha “encontra-se um povo notavelmente estivel, os Visi- - godos. Instalados na Aquitinia desde 418, onde fun- dam o reino de Tolosa, ocupam pouco a pouco igual- ‘mente a Espanha e substituem-se progressivamente & autoridade imperial. Em virtude de um foedus con- “eluido com Roma, comesam por expulsar os Vanda- “Jos da regido (429); depois, em nome do imperador “Ayitus, emipurram os Suevos e relegam-nos para 0 " extremo ocidental (456). A partir de meados do sé- culo ¥ so senhores da Espanha, & qual tentam impor (© seu arianismo. Ser-lhes-& necessirio fazer frente aos | petigos franco e bizantino: terdo de coder a Aquitinia a Clovis (507, Vouillé), mais tarde o Sul mediterta- nico da Espanfia aos exércitos de reconquista Iancados por Justiniano (551). Empurrados © agrupados | centro da Peninsula, os Visigodos nfo se tomato 2 mexer. ‘A Africa no conheceu qualquer invasor bérbaro antes de 429, Nesta data, chegam de Espanha’ os Vandalos, conduzidos por Genserico, desembarcam - jinto da ‘actual Tanger e pouco a pouco conquistam toda a regio costeira. Algumas paragens na sua pro- ‘ressio nao os impedem de tomar Cartago em 439; | detém entio a Aftiea progoasular, a Byzacene, uma parte da Tripolitania © da Numidia, ou seja, as mais “ticas provincias do Império do Ocidente. Instalados, 05 Vandalos quase se ndo tornardo a deslocar. Alguns Lh i ataques de surpresa_permitem-Ihes pilhar Roma (455), destruir uma frota de reconquista constitufda em Car. tagena por Majorianus (460) e apoderar-se da Sicilia, Saidos da parte oriental do Reno em 406, a sua corrida parou em 439: a partir desta data a Africa est completamente perdida para o Império. Além, disto, os Vindalos s40 de religiéo ariana. A occupa material juntou-se também um duro conilito religioso.. A Gilia escapa rapidamente a este problema. No io do século vi ela € a mais repartida das antigas regides do Império. Entre o momento em que os povos do exterior a percorrem em todos os sentidas ¢ 0 ‘momento em que os Francos conseguem alatgar a toda cla a sua dominacio, hé perfodos em que se assemelha a um mosaico. Quando a Alvérnia cai as mios dos Visigodos, quatro povos a partilham: 03 Francos ocupam os\ territétios entre 0 Loire e 0 08 Burgindios uma vasta regio, a Sapaudia (em dévida a Suica romanche ¢ 0 sul do Jura fran es, A volta de Genebra), a que juntaram pela forca Lifio ¢ uma parte importante do. vale do Rédan 8 Visigodos toda a Aquiténia, S6 a Provenca con- tinua ainda romana, Os movimeitos dé povos vio continuar-se sob a forma de conilites armados entre 0s Francos © os seus vizinhos. Os Francos cat6licos de Clévis entram pela forea na Aquitfnia e batem ‘5 Visigodos arianos em Vouillé (507); 0 seu impeto, € tal que se torna necessfria uma intervencio diplo- ‘mitica de Teodorico para que parem o seu esforgo as portas da Espanha, Em 534 0 reino burgindio é absorvido no dominio merovingio. Nessa data esta- biliza-se a expansio franca; 0 mundo galo-romano jé no se encontra partilkado sendo enite os diversos amos de um mesmo pow bégbero. A Italia, mais ainda do que a'Espanha on a Africa, aprésenta um rosto homogéneo. Quando em 476. Odoacro, chefe militar dos hérulog, 20 servigo, do * Império, destrona Rémulo Augéstulo, a Itélia nao ‘sofren qualquer movimentagdo de povos: sio exér- -citos de barbaros mercenérios acantonados no seu solo que tomam oficialmente nas suas mos um poder “que de facto jé detinham, Em 493 os Ostrogodos de “Teodorico, em nome do imperador Zeno, do Oriente, " entram na’ Itélia, perseguem os exércitos de Odoacro e, depois da execucao deste em Ravena, constituem um Es- ‘tado romano-gético. Este compreende a Ttilia € a Pro- “venga e no mudard de aspecto até ao regtesso em forca jo Império (536). Também nessa altura se verifica “im recuo do ‘catolicismo. Na realidade, tal como os seus irmios Visigodos e como os Véndalos, os Ostro- godos, hé muito tempo de religigo crista, pertencem a um ramo herético da cristandade, 0 arianismo. S6_a Glia oferece nesta época um refigio para a tradiczo -catdlica romana. Os movimentos de povos perturbaram desta forma o mapa no s6 politico mas também reli- gioso do Ocidente. Entrotanto, estes recém-chegados © estas novas fronteicas —enganar-se-ia quem se petsuadisse do contrdrio— ndo designam uma reali- dade macicamente modificada, pelo menos num pri- - meiro tempo. I—Vida e morte da Africa romana (533-698) Em Africa os Vandalos nfo tém tempo para encon- “trar uma solugio satisfat6ria para o problema crucial que Ihes imp3e a resisténcia activa da Tgreja catotica, apoiada pela populacdo romana. O seu continuo " esforgo para impor o cristianismo ariano, que.é 0 seu, “fracassa. Contra estes senhores, apesar de tudo muito minoritérios © muito isolados, a grande massa dos Alricanos encontra durante longo tempo um apoio nos -pafses da os oriental do Mediterraneo, que perma- “neceram sob a gutoridade de BizAncio. E € por de- ‘mais evidente que todos os imperadores do Oriente. se esforgam por favorecer a aversio popular (pelo ‘menos nos meios urbanos) por uma religito importada. ¢ imposta com brutalidade, Além disto, os Vandal ‘munca se encontram cm condigdes de controlar espago vital to extenso: numerosos reinos berb: se encontram encravados no interior da antiga Africa romana. Os Romanos, impotentes para controlarem 95 planaltos e os montes, s6 tinham implantado a sua civilizago nas planicies. Isto impede a constituigo de um Estado romano-berbere, O irredentismo berbere acresce a0 desaparecimento da autoridade imperial. Finalmente, a sucessio dos soberanos nio se realiza sem dificuldade entre os Vandalos. Estas caracteristica explicam a dissolucdo extremamente répida deste Estado quando o Império Romano do Oriente de novo & conguista do Ocidente. i De facto, tudo se passa muito rapidamente, entre’ Setembro ¢ Dezembro de 533. Na realidade, a’ partir da reconquista de Cartago a sorte do Estado ( da etnia) vindalo esté jogada. O empreendimento cultu- ral deste € to fraco que a Africa se torna romana sem perturbagdes. A partir do momento em que Be- lisrio concluiu a vit6ria militar, 0 imperador Tustic niano dé, pelo decreto de 534 (a Pragmética Sanco), preleitura do. pretorio & Africa, que de ‘em provincias. Como € evidente, toda a méquina administrativa herdada do Baixo Império retoma uma actividade normal: a Africa 6 0 primeiro pais do Ocidente a reencontrar uma fiscalidade buro- eratica. O exéreito reorganizado: um comandante _ das milfcias chefia com quatro duques (chefes) res- ponséveis pelas quatro provincias. O cristianismo orto- doxo torna a encontrar todas as suas prerrogativas, ou seja, retoma o seu lugar uma hicrarquia regular. Fi nalmente, como aliés em todos os lugares do Império, Justiniano organiza uma nova linha de defesa (limes), ELON ADEM TAPE PIE Teme Tt fat nT Mgt oe ‘MICHEL BANNIARD destinada a impedir todas as incursGes estrangeiras, As cidades slo rodeadas de forifiengies. Team sido ‘otegidas deste modo cento ¢ cinquenta. A finalidade € crlar wna. linha continua de fortalezas desde. a ‘ripolitania até & Mauritfnia tingitana, As arcias do deserto revelaram nos nossos dias muitos destes edi- ficios: todo o problema do Império é entéo a fraqueza dos electivos que os podem ocupar. Mas o seu papel 6 certamente considerivel na manutengio e na s0- brevivéncia de uma Africa romana durante cento © cinquenta anos. sem divide nesta parte do Ocidente que o Mundo An- tgp contin mais fongarent uma vid, sem solu de tontiauiade real_com 0 Baixo Império. A. osupagao_vin- Gala tha, modificsdo. muito pouco as caractristeas funda. fentais da “cvilzagio romsno-strieana do seculo IV. ( Cartago era entio ina “dat cidadss “mils prosperas ede fnulot protigio do. Impérigs a recongusia far. pasar este prs a gutoridade de Constaninopl, que substi Roma (ou nies, Ravena¢ Milf May nfo" dovemes esquecer_ que ‘MsGtino, antes dems, pene ser tno. € ue eT. aque ala com maior predlecesoé © lati A. palavta Fnpetal, a eseriia adminitstvay 0 comando. milan, brugneigeelestisicn pevtencom ios 40 mundo doit fatdios, Pode sequirse’ Tento proceso que teria fnaftent “aR im ab omation Numero eters Fingsstios. (actos privacos, placa papies =.) mosiam, Ti Tealidade, que a Tinga fatal peo ‘povo nos sécules Vie VIE fom em todos cs sitsis quo indicam a” gestagio de uma fora Hngvs orginal 0s confrontos religiosos, 0 irredentismo berbere, 8 contlitos sociais devidos pressio fiscal, 0 relativo ‘empobrecimento da economia e do poder bizantinos no. século vil, enfraquecem esta provincia. Muito espe- cialmente a questo monofisita suscitada por Justiniano ria uma nova linha de clivagem no scio da sociedade romano-africana: a Africa, tradicionalista, apoia-se no papado contra a vontade do imperador, descjoso de init o Império @ volta de uma crenca heterodoxa. OPE NTT) Tet eee eT 4 ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL a Dito isto, a Africa romana resiste melhor e durante, mais tempo a pressio érabe do que tinha feito perante, a invasio vandala. As primeiras incursoes dio-se_a partir de 647 no Sul da Mauritania tingitana. Mas os, novos invasores nao podem conquistar as fortalezas, que protegem o limes. A Aftica conhece, deste modo, luma trégua até 670 (fundacao de Kairouan). A ofen- siva maciga inicia-se em 688, Aos Arabes, que con- quistam e perdem Cartago em 698, antes de a tomarem, definitivamente em 702, sio necessérios cinco anos de combate para que a Africa deixe de ser romana. ‘Algm da frota e das fortalezas bizantinas, um elemento principal da resisténcia € formado pelas tribos ber beres, tio rebeldes & unificacdo pelo Islfo como 0, tinham sido 2 organizaco romana. Também . neste ponto, de uma maneira diferente das outras regides, do Ovidente latino, a passagem de uma civilizagio @ outra foi brusca na Africa. A lingua e a cultura Grabes suplantam sem demora a lingua e a cultura latinas. IV—A Espanha visigética © em seguida muculmana (484-842) Estas tomaram na Espanha do séeulo vin uma forma brilhante ¢ original, no momento em que a expansfo muculmana tenta ‘apagé-la do mapa no Oci- dente. De facto, a Espanha esti provavelmente em condigdes de se’ tornar, no momento em ue passa para a érbita do Istio, a primeira das nagSes. eeuro- peias». Nada & mais revelador a este propésito do que © Elogio da Espanka, escrito no principio do século Vi por Isidoro, bispo de Sevilha: Tu é de todas as terras, quaisquer que clas sejam, que vao desde o Poente até as Indias, a mais bela, 6 mie, sagrada © sem- PES. ee ee pre feliz dos principes e dos povos, Espa- nha! Com boas razées tu é nos” nossos dias a rainha de todas as provincias [...] Es t a honra e o ornamento do mundo, a parte mais ilustre da terra; terra onde é grande a alegria e vasta a floraglo que conhece a fecundidade gloriosa do povo godo. Mere- ceste que a natureza te enriquecesse com mais indulgencia com uma abundancia feita de tudo aquilo que vive. Es prédiga em frutos, inun- dada de vinhas, coberta de seatas; vestes-ie de cereais, cobre-te a sombra dos olivais, bordam-te as vinhas ... Foi pois com razio que, h& muito tempo jf, @ Roma dos raios de ouro, a cabeca dos povos, te desejou; ¢ embora a valentia vitoriosa dos Romanos te tenha primeito to- mado como noiva para si, da segunda vez 0 povo florescente dos Godos, depois de muitas vitériasalcangadas em todo 0 mundo, com grande luta te arrebatou © amou, e desde entio aproveita dos teus frutos, frutos reais entre os mais insignes, no meio’ de amplos recursos, confortada pela felicidade do Império. Como Virgilio cantando a Itélia e opondo as suas riquezas As riquezas do Oriente, Isidoro volta-se para novos homens e novos tempos politicos. O pen- samento do sevilhano embeleza a realidade do seu tempo, mas reflecte-a também em larga medida. ‘A velha civilizagio hispano-romana, apesar das per- turbagdes do século V, continua na mesma nos pontos essenciais © esta pronta, presentemente, a fundir-se com a cultura © 0 contributo visig6ticos. De facto, estes iltimos reduzem.se sobretudo a uma estrutura politica. Apesar das Violéncias internas que caracte- rizam muitas vezes a transmissfio do poder real (Gre- gorio de Tours fala do assassfnio dos soberanos como MICHEL BANNIARD TR. ee baie 4 ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL de uma doenca endémica entre os Visigodos!), apesar das tendéncias centrifugas na periferia da Espanha (revoltas locais e tentativas de constituico de reinos ‘aut6nomos), apesar da pressio bizantina no Sul do, pais, os Visigodos oferecem a Espanha uma hipotese Teal de se tornar um conjunto geogrético, éinico e. religioso_unificado. Porque 0 obstaculo essencial para a fusio éinica entie Godos e «Romanos é levan- tado apés um século de incertezas © de_confrontos, Na tealidade, torna-se patente a partir de 583 (o filho do tei, Hermenegildo, converte-se ao catolicismo sob a influéncia de Leandro, arcebispo de Sevilha—e irmio de Isidoro) que a minoria ariana que 05 Visi- godos constitiem foi progressivamente _impregnada pela religifo tradicional que € a da maioria. Ainda que nio tivesse havido uma reflexao politica por parte dos reis visigodos, parece normal que a sua conversiio, do atianismo & ortodoxia se inscrevia na légica das, coisas. Todo o peso mental da Espanha era um chamamento para essa mudanca. F. certo que a partir, do momento em que, em 587, a religizo oficial da Espanha € 0 catolicismo «romano», estio reunidos, fodos os elementos para que floresca completamente a, civilizacdo visigética, Na realidade, durante mais de um século a Espa- nha tornou-se um Estado coerente. Poder-se-4 falar de nagio? De sentimento nacional no seio das aristo- cracias visigéticas e romanas? um ponto para dis- cusséio. E certo (¢ a laus isidoriana mostra-o com, clareza) que o seu horizonte mental compreende toda « Espanha e, enquanto permanece sob 0 poder godo, a Aquitéaia, sem omitir a Narbonense (denominada Gothia no século vu). O recuo por etapas e a des- locagdo para ocidente da veapital [Nathona, depois Barcelona (531) e finalmente Toledo], no fundo con- tuibuiram para dar & Espanha unia maior coeréncia, Neste espaco, que, desta forma, a partir desta alta DO Ree CT RMD TEER ON Tee ea ae 8 "MICHEL BANNIARD SCY Fetter: ERO PRET AIO A ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL, 2 Tdade Média toma um aspecto muito moderno, erista- Jiza-se pouco a pouco um espirito nacional & volta de dois poderes essenciais: a Igreja e a realeza. Estas duas forcas prestam-se rapidamente matuo apoio. © cristianismo ortodoxo triunfa completamente. Os vestigios do arianismo so rapidamente —e por vezes energicamente — apagados (reaccdes entre 603 ¢ 610). A hicrarquia catélica reconstitui-se solidamente © pende do arcebispo de Toledo, cuja autoridade é Pouco contestada no scu pais ¢ bastante © papa. De facto, produziu-se uma modificacto de atitude dentro da Igreja de Espanha. Enquanto domi- nava o arianismo, sentia a necessidade de apoiar a sua resistencia. no prestfgio do pontifice; quando a ortodoxia ficon vencedora, retoma uma relativa inde- pendéncia, Quanto mais avanca o século vit, tanto mais. @ Igteja participa na vida Iaica: a sua influéncia e & sia autoridade si0 evidentes, como se pode ver considerando a regularidade, a frequéncia e a impor- tancia dos concilios de Toledo, cujos cinones regem quase todos os aspectos da organizacio do reino. Isto 6 normal, na medida em que, depois de os reis godos ferem teforgado a Tgreja, esta se preocupa em comnso- lidar um poder tinico, central ¢ indiscutido. Para isto as dificuldades provém da repugnancia manifestada pela aristocracia laica (sobretudo visigética) em re- nunciar & antiga regra tribal segundo a qual o rei devia ser eleito. Um soberano resoluto ¢ excelente general como Sufntila (expulsa os Bizantinos das suas iiltimas possesses espanholas © vence os Bascos, que tinham vindo pilhar a Tarraconense) ndo pode trans- ‘mitir 0 seu poder ao seu filho Ricimer, embora 0 ti- vesse associado desde a idade de sete anos ao seu. trono, ¢ vé-ge obrigado,alabdicar em proveito de um rival escolhido pela aristocracia, Sisenando. Togo de- pois, um concilio realizado em Toledo (5-12-633) fenta estabelecer uma regra que preserva melhor a estabilidade politica do reino: confirmando a tomada do poder por Sisenando, os bispos publicam um cfinone anatematizando qualquer futura revolta contra © rei, Assim, a personalidade do rei recebe da prépria Tercja um carfcter sagrado. Este cardcter toma um brilho especial gracas & introducfio de um novo rit a coroagéo real € acompanhada de uma sagracdo religiosa. A” primeira ceriménia deste género € tes- temunhada em 672 (Wamba). Mas € certo que re- monta a tempos mais antigos no século vil, sem que seja possfvel precisar a data, De qualquer modo este duplo movimento, pelo qual o poder real e 0 poder eclesiéstico se aproximam ¢ se apoiam, permite a Espanka continuar um Estado muito homogéneo em face das foreas explosivas que a aristocracia romano- -visigética trazia em si, Esta unificacio relativa da sociedade e do espaco hispano-gético é acentuada, ‘em_ 654 pela promulgacio e aplicacio de um cédigo legislative escrito (0 Forum iudicum de Recesvindo), destinado a reget indstintamente os Romanos 0s, Godos. Mas, através deste movimento, a Espanha nfo tioha sinda aadguirido “uma suficiente coesio’nacionel_ no. momento em que a expansto frabe a velo meager, O foredentismo de etnias petféricas (Bascos, Vascbes), a insubordinagio dos sgrandes (revolta do conde Paulo em Septimania em 673), a fags perante os servigos. impostos pelo Estado (recusa ‘de respeitar as obrigagdes. militares) e Sobretudo a. intoletdncia, religiosa nascida nsturalmente da unio efectiva da Igteja © do Estado (0s judeus, numerosos em Fspanha, so cada vez mais perseyuldos) explicam a répida queda da Espanha Visig6tiea na altura da incursio. érabe de 711? A. propria errota do exército @ 9 assassinio do rei. Roderico (batalha de Guadalete em 19-7-711) nfo slo. suficientes para. expli- ‘car a rapidez com que os Arabos, do ‘Térique conquistam toda parte meridional da Espanka’ Cérdova, Toledo, Sevil, Saragosa caem rapidamente nas suss mos, Pelo sul, a pactic ‘do ‘Mediterraneo, a Espanha softs assim, 6s séeulos depois ‘do anterior, vindo do norte, 0 chogue dé uma invaséo, Hla Juma profunda diferenga com a entrada ea instalacio dos eee he “MICHEL BaANNTARD Visigodos. esta vez, os novos invasores formam um con- fame, flatmate hetrogéno” com a clus cline splices. Truzem eles proprios uma erenca teligiosa ‘di ‘simica, um tipo de sociedade. solidamente articulado, sivilizagso ja brifhante, uma Iagua’ que tem ma tredigdo lice atts doa. Aldm cng os rater pat ae Politea loca fondaca na icetanca: en yratdes neo tnt Girigados a enesnrem a0 fuss crnpas adores a os fmonumentes so, poupadon ‘an contaprid wie Osiesiot fo agnmento de nspotte ‘erospcemta uation tendoge 20 lala, fms em’ igaldade dornivenee can fosuimancs, Exe tictea permite 41 invastes gue ne ‘as unm gnde pars das diesen ke geal Ge kl Vt un popu. span. Os ues aoe im bem of nvr senor 6s Espasa, Casto fon ei sects penance tes As (fama pow Ae dns reigses © de duay ivlieiebes tem cena nat fades de Se nteguren n0°kise Sek pects Coen Tento dos catsicon do Cordova, comon por nies Alvaro Pulo, pare" qe em meidon do cue Te oe Squenpesegotoes Caja manne £ verdade que, nesta data, o reino das Astérias se tornou uma’ entidade politica militar e-reliiosa bastante extensa para que o temor de um conluio entre cristios mogérabes e cristios eespanhdis» tenha levedo.o emirato de ‘Cérdova a soveridade, Porque a fraqueza da conquista arabe em Espanha vem do facto de nao ter sido geograticamente completa. Uma Parte da aristocracia hispano-gotica recuou no mo- mento da invasao, para o Norte da Espanha, para a tego de Oviedo. Protegidos pela cadeia de defesa natural dos montes Cantébricos, certos de poderem abrir um caminho, em caso de necessidade, pelo mar, estes refugiados proclamaram um rei, Peligio, ¢ desta forma fundaram o reino das Astdrias. O impeto mu- guimano enfraqueceu em razio dos conflitos internos que opdem nele duas etnias, berbere ¢ Arabe, e nao consegue abrir este Gltimo ferrolho (a lenda —ou a Hist6ria? — conta que Pelégio venceu Alkama, com- Pi eee ee nen ae 4 ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL a1 panheiro de armas de Térique, em Covadonga), Em 850, no momento em que Afonso TI sobe ao trono, esta fortaleza cristi das Astéirias, herdeira directa da, civilizagio _hispano-gética, tornou-se conquistadora., Beneficia, por sua vez, dos diferentes factores que. tinham causado a queda da Espanha visigética: con- flitos no seio da_aristocracia muculmana (revolta do, governador de Saragoca, 777; de Toledo, 797); agressividade das etnias pirenaicas; conflitos religio- 508; problemas sociais (sublevacio de Cérdova, em, 818, contra uma excessiva pressio fiscal). A ‘estes factores juntam-se a instabilidade do poder mucul- ‘mano. no conjunto do Império (conflitos dindsticos) € a pressio dos Francos (instalam-se em Gerona em 785 e constituem o reino da Aquitinia e a Marca da Espanha). O poder muculmano em Espanha recua pouco a pouco de nordeste para sudoeste. Mosteitos, igrejas, fortalezas, quintas, centros urbanos. construf- dos, reconstruidos ou reanimados pelos «Ocideniais> maream © lento avango do reino cristio. V—A Itdlia entre o Ocidente latino eo Oriente grego (476-812) A histéria da Ttélia € muito cheia de contrastes durante a Alta Idade Média. De 476 a 536 no muda de rostoe conserva a sua integridade geogrética. A partir de 568 perde toda a unidade. Entre estas duas dataS fora a encontrar, & custa de consideraveis, sacrificios, © seu estatuto de Itélia romana, sob a égide de Constantinopla. Mais tarde, com a conquista, (parcial) carolingia, parece passar definitivamente para a rbita ocidental. Quando 0 chefe barbaro Odoacro depos 0 imperador R6mulo » Augtistulo, nenhuma surpresa de maior afectara os contempord- nneos. A Ttélia, regressada praticamente as suas pré- ptias fronteiras enaturaise, reencontrava uma con- - figuracdio com sete séculos de antiguidade” que jé tinha esquecido. O exército romano, instalado no vale do P6, recebe entéo terras que Ihe permitem ~ _ instalar-se de uma forma definitiva. Os cargos ¢ as ignidades do Estado séo_ atribufdos a membros da aristocracia senatorial, O abastecimento de Roma fica - assegurado (trigo da Sicilia). A Igreja catélica quase nao sente a autoridade do «usurpador», embora este soja ariano, Além disto, este assume activamente a “fungio essencial que ontrora dele esperava o Impé- | tio: defende energicamente a Ttilia (reconquista da Sicilia com Genserico; reconquista da Dalmicia, 481; ~campanhas na Norica, 488). A fraqueza_relativa do seu poder provém sobretudo da exiguidade dos seus. clecivateab seu isolamento no seio da grande "massa de uma populagio indigena para quem a luta “pelo poder nfo diz respeito mais do que antes acon- - tecia. Por conseguinte, a Itélia assiste como espectadora if = & passagem dos Ostrogodos pelo seu territ6rio. Os Godos recebem terras nas regides vitais para a defesa da Itélia, por conseguinte, como sempre, a norte do P6; fica reservado a cles 0 uso e porte de armas ¢” incumbe-thes, portanto, exclusivamente a seguranca do Estado. A’ aristocracia romana nfo perde senfo uma pequena parte das suas terras ¢ recebe em compensacao um papel importante na administra~_ gio civil. A burocracia do Baixo Império continua a funcionar; administraco, justica, finaneas. Final mente, uma politica religiosa muito tolerante liga a Teodorico 0 clero catélico ey bispo de Pavia, compée um panegirico do rei, na tradigao de Sidénio Apolindrio). Esta calma interior € propfcia a uma politica eestrangeira> activa. Em_primeiro lugar, Teodorico consolida as defesas da Itilia: fortalece a sua autoridade na Norica e na Dalmécia e, sobretudo, toma sob o seu poder a Pandnia (reconquista de Sire mium); desta forma a Tiélia encontra de novo uma fronteira no Dantibio! Além disso, a Provenca fica sob a sua autoridade. Perante os outros reinos baros, Teodorico assume um papel de regulador na bacia’ mediterranica ocidental. Impede a progressi0 dos Burgiindios ao longo do vale do Rédano e, facto importante, trava momentaneamente o avanco dos Francos para o sul, salvando o reino visig6tico do esmagamento ap6s a derrota de Alarico I. Finalmente, luma politica sistemtica de casamentos consolida os lagos e as posigdes da Ttélia ostrogoda. ‘Nada impede de pensar que uma duracio suple- mentar de alguns decénios teria permitido 4 Ttilia romano-ostrogeda tomnar-so um pais suficientemente forte para durar através dos tempos. " ‘Chega de Misia, conduzidos pelo seu rei Teodorico. Este ‘io. € de forma aiguma um chefe bérbare. Adoptado como ‘afitado de armass (470) por. Zeno, estacionando. multas ‘Yezes ett Constantinopla, ste durante imuito tempo separido {in parte do seu povo, acantonado em erras que rapidamente Se tornaram incapazes' de responder 25 sues necessdaces. Em 488 of Ostrogodon marcham sobre a capital do. Tmpério do ‘Oriente, depois de terom chamado.o seu Tei para os coman- tar, Teodorico aproveila a ocasior soba. ameaca do. su “exército, obtém de Zanto o titulo de magisterrilitum (comane dante do exérit) da sia © parte para cetente, Em quatro fnos de combate 0 Amal conseguc pér fim a ressténcia Gteamigada das force de dower, apa ¢_ ala exe Shimo, tomna-se o senfior omnipotent dev uma Teal. imacia. Rapidamente” conseque a, unigo. da arstocracia remena. Ovimpertdor do. Oriente confirma-o mas suas funcoes de chet far, Teoorico.€ portant siullaneamento, rei Para 0S ibdites godos ‘e -chefe dos dois oxercites para. os Romanos. Assim se iastfuctonaiza um sisiema original que “funclonaré-quase ‘sem complicacdes durante mat do wit 10_vai_pér em causa, pouco depois. da morte de Teddorico, todo 9 esforpo desenvolvida por este, Os iiltimos anos do teinado foram embaciados por ferros (assassinio. de Boécio ede fo do. papa Jote)_e a transmissio do poder real ‘sauer-160—3 RESET Lage Ann TV nanan ‘ig! MICHEL BANNIARD digdes muito desfavoriveis. B da Africa que se continua a recon- ‘quista, Belistrio, generslissimo bizantino, continua-a quando desembaeca Regio em Julho de $36 poe carco a Né- oles. A partir desta data comeca o periodo negro na his- (ria da Tlilia. Porque © poder impecial leva dezanove anos 44 reouperar a sua autoridade sobre 0 conjunto da. peninsula. Para iso $90 necessarios dois generals bizantinos (Belisario mals tarde Narses), 0 envio de um exéreito de apoio (25 000 ho- mens em 552), virias batelhas mayais (Ancona), nesta. lute esaparecem 8s reis ostrogodos. (Vitiges, Tota © Teja — io contando sengo aqueles que tém um papel reel; nume- fosus cidades tém de slstentar cercos interminavels (Florenes, Népoles, Ravena, Rimini), e duas de entre elas, ainda bem florescentes antes desta guerra (Mildo © Roma), tornam-se fantasmas de peéprigs. Contada, 63. efectivos.empenhados raramente So consideriveis. & precisamente a fraqueza nu érica do exército do Oriente que impede Belisizio de onguistar sapidamente todo 0 pais. ‘Mas, tal como no século 1v © no século y, a vida econémica sofre um lento declinio: os recursos do pais sio demasiado vulnerdveis para que possa supor~ tar sem grande desgaste esta tormenta. E uma vez ela passada, a Itilia j& no tera, como aconteceu no século mt a. C., 0 recurso de it buscar ao Oriente ri- quezas que a'reparem. De facto, Bizincio nao Ihe pode dar qualquer ajuda material efectiva. Limita-se a dotéla com uma constituicdo (a Pragmética de 13-8-554) que restaura uma estrutura administra- tiva completa (especialmente reabertura de citedras de retérica, de gramética, etc., ¢ restabelecimento do sistema fiscal). A aristocracia romana recupera uma parte das terras que os Godos Ihe tinham confiscado. O exército é organizado segundo o sistema do Baixo Império (tropas de fronteira e tropas de choque). Desta forma, parece perdurar a Antiguidade tardia. Corresponderao de facto a um efectivo rettocesso da Histéria as palavras um pouco solenes com as quais Procépio descreve a entrada de Belisirio em Roma? Sone? See aI 4 ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL 38 Aconteceu que naquele dia Belisério ¢ 0 exército do imperador entraram em Roma pela porta chamada Asinéria, no momento preciso em que 0s Godos deixavyam a cidade por uma outra porta chamada Flaminia, Apés sessenta anos, Roma estava de novo sob a autoridade romana, no nono dia do tiltimo més do ano, que 03 Romanos. chamam Dezembro, quando © imperador Justiniano ditigia 0 Império ha dez anos. Husio, sem dévida. Nao chega a durar quinze anos. A partit de 568 cai sobre a Itilia do Norte um povo bérbaro, Os Lombardos de Alboino quase. no viveram em contacto com a civilizacio romano- -bizantina. A sua passagem € to brutal como foi na, Gilia a dos Francos, Antes de mais, a invasio 6 fule minante: a partir de 572, todo o Norte do pais esta nag mios dos recém-chegados (tomada de Pavia); em seguida, é também ocupado o Sul, mas de uma maneira mais ealma (Spoleto, Benevento). O. poder imperial consegue salvar varios enclaves na Ligiria (Génova), na Campania (Népoles), todo 0 extremo sul da Italia e sobretudo um territ6rio que se situa obliquamente na peninsula © a corta em duas (Mén- tua, Ravena, Roma). Estes sectores, reorganizados militarizados, sio__postos sob a antoridade de um exarea, que guerreara incessantéménte contra os Lome bardos. Estes mesmos representam uma forca pouco, eoerente © os seus chefes tentam frequentemente con- quistar ducados independentes para si. Na realidade, durante muito tempo a Itilia esta desconjuntada, mer- gulhada numa eterrivel_anarquia (L. Musset’ [2]), Na obra do papa Gregorio I aparece claramente 0, sentimento de viver um desastte bistorico: L...] 0 cativeiro do meu pais cresce de dia para dia [...] A Itilia € conduzida todos os dias cativa sob o jugo dos Lombardos [...] as forcas do inimigo aumentam de uma forma ‘monstruosa [...] tiraram-se da cidade romana ‘68 seus soldados [...] Roma foi abandonada, Depois disto, a chegada de Agilulfo foi uma infelicidade pior. Por causa dele via, com os ‘meus olhos, romanos presos como cies, com uma corda’ao pescoco, e que eram levados para Franca para serem vendidos [...] Gunho de 595). Da alegria profunda ao desespero de Gregério: coloca-se aqui uma hiato fundamental entre duas pocas. A hist6ria da Itélia continuara sem grande iudanca durante um século e meio. Lombardos ¢ FRoriinos (Go. Oriente) disputemrna em tertvels, ber “talhas ou em combates esporédicos (passagem do imperador romano do Oriente para Roma no dia 5-7-663). No conjunto, o poder bizantino declina pouco pouco ea autoridade imperial encontra-se muito enfraquecida em meados do século viit, tanto no plano militar (perda de Ravena em 751 e desaparecimento do exarcado) como no plano religioso (os papas lutam com energia contra a pressio exercida por Constan- tinopla para impor em primeiro lugar 0 monoteismo : depois a iconoclastia). Pelo contrario, os reis Jom- ardos conseguem formar um verdadeiro reino no forte da Itélia, e Pavia, por volta do ano 700, € uma activa capital, "A partir de entio os seus reis tentam “tomar-se senhores de toda a Itilia (Liutprand, 712-744). Perante o seu tradicional protector (0 im- | perador romano) e 0 seu inimigo enatural> (mas 0s Lombardos converteram-se ao catolicismo em 671), ‘© papado adopta uma politica determinada de alter- - ndneia: em_ busca de um poder auténomo incontestado, (05 papas jogam um dificil jogo de aliangas opostas que fazem hesitar 0 coracio espiritual e geogrifico a Tiélia entre 0 Oriente e 0 Ocidente. © 0 Ocident que por fim consegue vencer. Os reis carolingio: herdeiros do movimento continuo que viu os Francos alargar 0 seu poderio para o sul, intervém em Iti por volta de meados do século vit e tornam possi a ctiagio de um verdadeiro Estado pontificio. A partir desta data a hist6ria da Ttélia confunde-se durante mais de um século com a histéria da Galia, Mas 0, Oriente bizantino continua com teriérios no Ocidente: a Itilia do Sul € grega e, em 812, Veneza voltou para Miguel I. Ao contrario da Itilia e da Espanha, a Gélia nunca se fragmentou ou unificou senfo sob a influéncia de foreas politicas, sociais e étnicas que se exerciam sobre a superficie do’ seu proprio territério. Do exterior che gam sem diivida agressores: do_sul, antes de mais, — com os Arabes; em seguida, do norte, com 0s povos escandinavos; finalmente, do_oriente, com os povos eslavos. "Mas estes invasores fizeram sobretudo sentir ‘ondas de choque sobre a Gilia: ndo investiram real mente o seu -tertitério para 0 transformarem num manto de arlequim, como aconteceu com a Tilia, o1 ‘tum duplo bloco orientado norte-sul, como na Espa. nha, A falta de continuidade politica, ha uma certa, estabilidade global do espaco geogréfico franco. No interior desie espaco assiste-se a um movimento pelo qual a Galia merovingia oscila entre uma extrema divisto, que vai até A atomizagao, e uma relativa unic ficagio, que permite assistir a0 efémero aparecimento de um Estado franco. Toda a historia da Galia ¢ da Ginastia merovingia se inscreve na légica destas tensGes, Todas as vezes que as circunstincias e a personali- PANN Te eR he ere Antes MICHEL BANNIAI ICC Pe ER RECS To ROT ae ee a 4 ALr6 1oADe MEDLA octoENTAL dade do soberano o permitem, a Gélia encontra uma | cetta unidade (vislumbra-se enti, por vezes, a imagem da Franca futura) © a dinastia uma estabilidade rela- | tiva, E inversamente. Desde 0 século vr ao século Viti afrontam-se entre si forcas opostas ¢ 0 triunfo mo: mentineo dos elementos centrifugos coincide com 0 apagamento da dinastia merovingia, substituida pela dinastia carolingia gragas ao papel mediador que ofe- rece a esta a fungio de Maior palatii. De facto, o poder carolingio representa um esforco tenovado da parte das forcas ceniripetas dentro do reino. As gran- des linhas de evolucao diferem muito pouco da fase precedente, Seguem simplesmente um curso menos - eaético, com tuma evolugio continua (século vin) para um poder central autoritério, seguida de uma acele- ragdo para um aparecimento deste (século 1x). Neste sentido, a Galia merovingia e mais tarde carolingia 4 a imagem espantosa de um mundo hesitante entre a unidade © a diversidade, entre estruturas classicas, no fundo, e estruturas novas, as da idade feudal. s soberanos merovingios, na mais pura tradicao familiar das tribos germinicas, partilnam entre si a Gilia_ como. uma Iheranga privada. A morte de cada scberano & desta forma ‘ceisifo de graves conflitos quando se poe a questo. das Sucessdes, Os acasos da vida eda historia limitam, em gecal, 4 purtilha da antiza Galla em quatro grandes divisies. Estas Teproduzem nia imagem deformada das divis6es_adminis- frativas da Antignidade, tais como as deixaram as reforms de Diosleciano e de Constantino. A antiga Lugdunease (dividida ‘em quatro ao Baixo Impérie, consorva contudo © se espago ‘global tradicional) correspondem, muitas vezes, mais ou me- os a Néwiria Cusdunense 1, TIL ¢ IV) © a Borgonha (Lagdunense Ty A antiga Belgica (Bélgica 1, 1, TI) e i antiga Germania (Germinia Te Il) corresponde’ frequente- mente 2 Austisia (0 nome aparece em Gregorio de Tours). ‘A Aquitinia (Aquitinia 1 ¢ Tl) conserva muito rogularments f sua fisionomia tradicional (constitul 0 reina de. Cariberto fo inicio do. séealo VII). Finsimente, a Narbonense (Nar- bbonense Ie II, Vienense),perdura como uma entidade iso- Tada, 2 petiferia dos conflitos © das partithas que agitam a Gilia_merovingia, evidente que © espago esti longe de conservar um tragado tio regular: sobroposigdes, interferén- vias locos errdticos desfiguram mais de uma vez" comple: mente esta, organizagio. Mas é unicamente sob o poder os carolingios que este. tragado antigo se. perde comple. mente, apagado em primeiro lugar pela expansio e pela. ntralizagdo “continuas’ do. reino, mais tatds do. Impérioy ‘quebrado depois segundo as linkas de forea diferentes «par lir da pastilta de Verdun (cories verticals) Para além da remanescéncia desta divisio geogré- fica, © estreitamento dos centros politicos donde se exeree © poder facilita momentaneamente a manuten- cio de uma certa coeréncia. Com feito, os rcis, 'omam como capitais cidades pouco distantes umas das outras: Remos, Orleies, Paris, Suessido inicial- mente (511); Métis, Chalon-sur-Saéne, Paris, Tournai m seguida (561). Quer isto significar que s¢ cons: ‘iwi um poligono politico que se torna o centro de gravidade da Galia do Norte, na charneira da Gélia, romana» do Sul e da Gélia de Carlos Martel para antes de qualquer outta coisa, ainda que da forma mais brutal, o des- membramento dos reinos. Carlos, austrasiano, dé uma duradoura vantagem ao seu pafs sobre a Néustria, que vence t1és vezes (716, 717, 719, e reéne desta forma toda a Gilia do Norte sob a sua autoridade. Dirige entio os seus esforgos sobre a Germania, que tora a passar para a soberania franca: campanhas contra ‘og SaxGes em 720, 722, 724, 738; conguista da Frit sia em 733-734; reducdo do ducado independente da Baviera_em 725, Estas conquistas militares so sc~ guidas por tima enérgica evangelizacio sob a orienta~ 40. de Bonifacio. Por outro lado, os Arabés pene- fram pouco @ pouco na Gélia romana. A Septimania © depois a Aquitinia (defendida vigorosamente pelo duque Eudes—os Arabes sto vencidos em batalha ‘travada sob of muros de Tolosa em 721 pelo exército MICHEL BANNIARD da Aquitinia) correm 0 risco de ser absorvidas por estes recém-chegados. A Borgonha e a Provenca ‘olham cada vez menos para a Gélia setentrional: toda Gélia meridional tende, desta forma, a escorregar Para a drbita de uma outra civilizacio, Aps a ba- talha de 732 (Poitiers), que provoca. um refluxo —mas nfo a tetirada completa— dos Arabes, os Francos durante anos descem em direogio ao sudoeste ou ao sudeste da Gélia para af estabelecer a sua autoridade sem 0 conseguir realmente, apesar das campanhas militares muito violentas. $5 em 741 a Borgonha conheceri as suas tiltimas perturbacses, Simultaneamente, Carlos fica com os meios de cimen- tar a sua obra, tornando a tomar posse de uma parte dos imensos (erritérios que a Igreja tinka tomado: ispoe, assim, de um espago. geogréfico © de um poder econmico sobre os quais a dinastia se poderd apoiar. A geragio que sc segue confirma a sua obra © leva-a & sua conclusto lgica: depois de ter par Thado o poder alguns anos com o seu irmio Carlo- mano, Pepino torna-se Ginico senhor da Gélia seten- trional em 747, faz-se eleger rei pela Assembleia dos Grandes de acordo, no fundo, com a velha tradigao ttibal —, em Suessifio, e sagrar em seguida por Bonifacio segundo um ritual que fora buscar & Espanha.visi- Qotica. A partir deste momento desencadeia-se 0 Processo que levaré na Galia carolingia os soberanos @ retomarem a antiga tradig2o da tltima parte do Império Romano. Soberano ilegitimo, Pepino tem necessidade da investidura pontilicia. Depois de Za- carias, © papa EstévZo II concede-tha uma segunda ver (sagragao de 28-7-753 em Saint-Denis). Mas em. roca obtém que os Francos entrem em Ttélia ¢ etes- tituam> a0 papa os territérios de Ravena e de Roma que os Lombardos ocupam ou cobigam (fabrico de falso documento pelo qual Constantino teria dado A ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL estas terras ao papa, enquanto clas pertencem legiti-, mamente a0 imperador do Oriente), com duas cam- panhas, em 754 ¢ 756, Esta expansio para sul teforgada pela tomada da Septimania (Narbona, 759) c da Aquitinia, Este ducado, habituado & indepen: déncia, nio sofre menos de sels invasGes. militares © s6 nfo 6 completamente reduzido devido ao assas- sinio de Gaifier (768). A fronteira norte do reino exige menos esforeos: a Baviera esta ja profundamente cris- tianizada. Finalmente, Pepino estabelece relacdes dic plomaticas regulares com Constantinopla: tudo agora, esta preparado para o restabelecimento de um império, decaleado sobre o velho modelo romano. Com efeito, durante o longo reinado (768-814) de Carlos Magno a histéria parece seguir na Galia uma evolugdo totalmente oposta ao periodo merovingio., Parecem suprimidas todas as bases de conflitos. J nia ha blocos geogréficos divididos a0 acaso; ja ndo ha poderes misturados © incoerentes. Verifica-se, pelo contrario, uma unificagio continua dos homens, das terras, das instituicées © das mentalidades; uma expan- so ininterrupta do espaco carolingio, que acaba por cobrir um territ6rio imenso, penetrindo para oriente mais do que alguma vez 0 tinha feito o Império, Romano: Frisia (Lex Fristonum, 802-803); SaxGnia (Capitulare Saxonicum, 797); Baviera (exilio de Tas- silon, 794); Carintia, Pandnia Gerrota dos. Avaros, 796). Seguidamente, a Itélia passa, em consequéncia de algumas campanhas, para a autotidade dos Francos, (Carolus, gratia Dei,’ rex Francorum et Longobar- dorum atque patricius Romanorum, Silho de 774) ‘Autoridade limitada: 0 papado vai-se dotando pouco a pouco de um Estado privado compreendendo Roma, a Campania, uma parte do antigo exarcado de Ra- vena; a Itilia meridional nunca estaré verdadeiramente, submetida (ducado de Benevento); a Itdlia bizantina © a Sicilia continuam na Srbita’ de Constantinopla wagens da Cérsega e da Sardenha). No sudoeste “da Galia, a Aquitania ests disciplinda (Lats, rei da) | Aquiténia em 781); a, Gasconha escapa pouco on | muito 2 autoridade (revoltas de 790, 800, 812, 813, _ golpe de 778). A partir da servil?) e que esta caréncia afecta em pri- ‘meiro Inger a agricultura, Esta a razio pela qual ‘0 Estado contribui para constituir pouco a pouco uma classe de camponeses meio livres, os colonos (coloni adscripticii) fixos hereditariamente & terra que culti- vam. Esta terra (sors, colonica) faz, em getal, parte de um grande dominio, privado ow imperial. "Todas! estas parcelas cultivadas se integram, durante 0 sé culo 1v, num conjunto mais vasto, ainda que de tamanho varidvel, a villa ou praedium. O apoio do Estado (leis, policia, funciondrios) contribui para dac Oe DT REE yee Pe 4 ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL TON apn, oa “ 4 estes conjuntos uma fisionomia particular 0 dente: a villa toma-se «uma ilha de estabilidades (Dobehaert [1]). Os proprictérios dos maiores destes, conjuntos sio muitas yezes altos funcionsrios (laicas, ow religiosos) do Império e residem voluntariamente na cidade, ‘AS cidades do Baixo Império, spesar do brilho do srenascimento constantinb-teodosiano> (. Bayet), soffem a Inara tendncia "para a redusto. A sua suprise dines nitidamente (necessidade dese. fortificarem apds as invastes do século Ill) em relagio Aquela que tinham sob o Alto Impétio © a sua populacso jf nao é nem tio densa nem tio sctiva como no século Ti. B nelas que residem e 6 delas que paartem os funcionétios encarregados de cobrar os impostos (iugotio, capitatio). Tarefa dificl: estes funcionétios, (08 curiales} formam em cada cidade um grupo que € solider: mente responsdvel perante 0 tesouro ‘imperial das entradas fiseais, em natureza e/ou em numerério); a cles incumbe sarantir @ sua regulatidade, Bem depressa 0 Estado tem de homeat oficialmente estes dos bens de consumo> impunka & exisiéncia quotidiana um caricter marcado de inseguranga. A maior parte dos homens no possui, qualquer reserva que Ihes permita fazer face a mo- mentos criticos. Acontece-Ihes entio, frequentemente, serem obrigados a vender-se como escravos. Uma das, virtudes essenciais dos santos, que os Vitae merovis gios e mais tarde carolingios nos apresentam, & alic, mentar: os relatos dos milagres sio muitas vezes trans- posigdes da «multiplicagio dos pies». E certo que & preciso modular 0 suposto impacte desta pobreza. ‘Toca sobretudo com toda a forga as massas campo- nesas. Mas no poupa completamente os individuos mais abastados (proprietarios fundidrios, monges, bis- pos...). Seré igualmente oportuno julgar que houve importantes variagSes consoante a8 tegiGes? Nada permite supor que a Itélia, devastada pela reconquista bizantina e depois pela invasio lombarda, tenha usu- fruido de uma sittagio melhor. Antes’ da invaséo, muculmana, talvez a Espanha sofresse menos com esta pentiria endémica. (A Laus Spaniae de Tsidoro, nos principios do século i, sugere uma relativa prosperidade agricola, pelo menos na Bétical) ‘As causas_disto slo. mal_conbesidas. Ao existis um secuo) significativo no campo das técnicas @ pattit do, sé- culo V. Rotagdo das terras e das culfuras, emprego da char- via (charrua de roda, aratrum, plown, carruca), técnica de estrumagio, da ceifa ‘(oi empregada na Gélia ‘um tipo de ‘miéquina de ceifar, mas nfo se conhece em que proporsdes), eriaggo degado (especialmente poreino e ovine), escolhs fdas espécies em fungio do clima: nenhum hiato’ entre 0 Baixo Império eo inicio da alta Idade Média. Entretanto, algumas mudancas: a ctiacdo de gado toma uma importéncia ada vez maior de um porto de vista proporcional. (cavalos ara a cavalaria pesida'a partir do. século VIII, as terra mentas, “sempre mais raras, custam cada vez mais; do culg Vi ao século IX, 2 cultura da vinha estendese na Senep-150—4 Pe eS ORS ae ea 30 MICHEL BANNIARD seeqdo do norte e atinge o extreme norte da Romania. Isto ‘aio é suticiente para modificar o curso da. evolucio, Seria {alvez necessirio admitir como causa essencial a fraqueza de- rifica, J& sensivel nos dltimos séculos do Imperio, mas foriemente sgravada nos séculos VI_© VIL B corto que a ‘grande, vaga de invasdes do século V- no pode ter um im- paste importante sobre o conjunto dos habitantes da Roma- hia: 08 efectivos dos invasores foram sempre. multo pequenos, Pelo contririo, a Itili, @ partir da segunda metade do século VI, ¢ a Gilia, a pertir da primeira metade ‘do século Vil, estdo, submetidas a tais perturbagdes pela. historia pols fica © militar que as repercussGes so, sem qualquer divide, duramente sentidas pelas camadas mais umildes da sua Populacdo, A morte ‘violencia, fomes, doenca) eo decrét- cimo de natalidade (sabe-ss actualmente quo @ watalidade Giminai espontaneamente em perfodos de inseguranca © de crise, como 9 mostrounomeadamente “um estudo de E, Leroy-Ladurie [3] acerca da eamenorreta das foress) fazem fs seus. efeitos & os edesertos humanoss vio aumentando, Na realldade, hd falta de bracos para cultivar a terra: pot ‘sia nazi, 0 monge torna-se cle proprio trabalhador agricola Gegrabeneditina, rexra de Columbano); fazem-se. esforgos Pera manter no’ mesmo campo os camponeses semilivres (coloni, let); « mio-de-obra-sorvil ¢ de novo muito procurada © 0§ miltipos conflitos oferecem a postibilidads ‘de cons fituir uma massa importante dessa mao-de-obra (masa am plicio deste fendmeno & muito discatida, porque o seatido as, palavtes empregues pelas fontes —maneipia, sera —& ‘muito diffeil de estabelecer com toda a” clateza}, Na realie dade, todas estas explicagées deixam 0 historiador muito insatisfelio: parece mais desereverem 0 aspecto mais visivel dss causis do que o seu encadeamento. profundo, Porque ao lado destes factores negatives operam seguramente, a partir da época merovingia, factores positivos que por si sos dio conta da lenta mas inegivel inversio deste movimento depressive a partir do. século vu. Encontra-se um testemunho seguro, isto mesmo cm duas novidades concomitantes € Ti gadas: 0 arroteamento das florestas e 0 aumento des mografico. Com efeito, a «Europa> antemedieval esta coberta de imensas florestas. O avango on o recuo estas extensdes depende essencialmente da ac¢ao Tage ONT ates te A ALTA IDALE MEDIA OCIDENTAL humana (podin ter-se como despreziveis os factores devidos 88 vaiagdes climaticas, mas seri conveniente dar um lugai a mortalidade provocada pela peste, como sugere |. Le Goff?). A repartico entre espacos cultivados © pagos cobertos de floresta no mudou no século V: 9s invasores, em geral, instalaram-se em terras ja ocuyadas pelo homem. As florestas privadas (reais, Iaicas, eclesiais) sfo objecto de uma regula- mentago que se elabora pouco a pouco desde 0 sé- culo Vi a0 siculo 1x (Lex Wisigothorum, capitulares carolingias), m medida em que os camponeses (sobre- tudo pequencs proprictérios) as. aproveitam para af engordarem of seus porcos ou utilizando alguma parte para cultivo depois de os terem arroteado. Além disto, desde a époce merovingia que se criam mosteiros em plena floresta € preciso arcotear (abadias de Fon- tenelles, SaintRiquier, Saint-Denis) © alargar_as_cul- turas. Mas, apesar destes. testemunhos, completados por indicagées esporidicas (Touraine, Reno), este destinar a tea para cultura ndo corresponde a um aumento demografico que necessite de um ganho de terras fértcis, mas corresponde simplesmente a des- locagées de gmpos humanos. Pelo contrétio, na época carolingia a floresta diminui cada vez mais de super- fice. As fontes escritas ¢ toponimicas dio testemunho da efectivacao sistemitica e prolongada de uma poli tica de arroteamentos (exsartum, stipatwn, aprisio,, captura ...). Fora do Ocidente latino (Flandres, Ba- Viera), a8 tertas cultivadas estendem-se rapidamente, O._mesmo desenvolvimento. se_verifica na Romania. Na futura terra occitana (?) sio numerosos os indi cios de uma tal recuperacao: a partir do século vm, Para a baixa Alvérnia (G. Fournier); no final desse, mesmo século na Narbonense e na Septimania, No principio do séoulo vit ha indicios reveladores de ter mudado a rotacio das culturas: comeca-se_a semear, sistematicamente na Primavera. Esta tendéncia tor ASE EERE TS AASB TARA Fe Paget Te eae | ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL ase manifesta e geral_no fim do século (evolugao, pata o afolhamento trienal). No principio do sé- culo 1x a agricultura cerealfera tende a desenvolver-se A custa da criacio de gado: 0 mimero de bocas a alimentat aumenta. “As terras ocupadas pelos campo- neses (mansi), superpovoadas, fraccionam-se. Estabe- lece-se, por conseguinte, um corte muito nitido entre 9 final do perfodo merovingio e o principio da época carolingia: a partir do ano 750 verifica-se um aumento demogrifico ligado a uma certa tecuperagio econd- mica. Esta mudanea traca uma primeira linha de clivagem nftida desde a depressio sofrida pelo Baixo Império no Ocidente. II—As exploracdes e os exploradores Em que medida as uillae (ou praedia), que se estendiam no Império no Ocidente (como no Oriente), _ Se perpetuam durante os séculos vie vit e prefiguram | as grandes uillae clissicas dos séculos vir e 1X? As Jacunas da documentagdo entre 0 século ve o século vat deixaram 0 campo livre a teorias contraditérias, Patece, contudo, dificil negar que 0 regime dominal conhecido pela’ Antiguidade tardia nao. continue a esenvolver-se segundo um processo sensivelmente idéntico apds_as invasdes. As diferencas entre a pro- | priedade rural que’ nos descreven Sidénio Apolinario, na Alvérnia, por volta do ano de 450, ¢ o que nos, deixam entrever os textos de Gregério de Tours, um, século mais tarde, nao sio essenciais. A arqueologia confirma esta impressio. No tempo do Império, a grande propriedade tendia 2 aumentar sem cessat racas A pratica do patronato (patrocinium, protecgio concedida por grandes proprietrios, patroni, a pe- quenos ou médios proprietérios, contra 0 fisco impe- ial). Até a0 seu desaparecimento o Estado esforga-se, vi por entravar esta evolugo (criagéo do defensor clti- {utis, 364). © desaparecimento destes travees nfo pode feniio favorecer uma tal evolucao, Esta nfo deve cr uniforme nem no tempo nem no espago. A pe- quena exploragfio mantém-se melhor na Espanha mediterranica e na Gélia do Sul: a Aquitinia con ierva uma fisionomia original, onde domina o frac- cionamento da propriedade. Acontece talvez a mesma coisa numa parte da Itélia E provayelmente entre o Loire ¢ o Reno que 0 regime dominial carolingio, dito , se ccns- litui. A’ esta diferenca geogrifica acrescenta-se uma Aistingdo cronolégica: no século vin torna-se claro, se- undo fontes de todas as espécies, que se manifestam mudangas tio importantes no espago em que vivem fs_uillae merovingias ¢ nas suas estruturas, que s° assiste ao nascimento de um sistema agricola des- conhecido até entio, A stia novidade caracteriza-se, antes de mais, por um quédruplo ponto de vista, Em primeiro Inger, as villae aumentam em n(imeros absolutos. Quer isto dizer que elas representam uma parte proporcionalmente maior dos diferentes tipos de exploragio (numerosas transformacées de uici, aldeias, em uillae). Mas este aumento proporcional nfo acompanhado por uma reducio em superficie. Pelo contririo, © € a segunda caracteristica, esta tltima tende geralmente a crescer sem cessar. Apesar das incertezas que impedem que se proponham némeros, médios, € certo que o dominio carolingio aumenta também no espaco desocupado (arrotcamentos, cortes, de Arvores). Em terceiro lugar, a natureza dos traba- thos pedidos mao-de-obra muda em parte, assim como a composicao desta. A partir do século vm —os testemunhos so, contudo, mais probatérios no rincfpio do século seguinte— parece que a mio-de- obra servil se tornow insuficiente para fazer face as tarefas pedidas pelos proprietérios. Daqui resultou um. Pe escente bs cocreian imnpontan a forte obra © (coloni casati). Por fim, intervém wma mudanga yportante na percepeo das rendas: estas tornam-se fixas ¢ independentes, por conseguinte, da colheita. © desenvolvimento de uma administracéo escrita a "partir da segunda metade do século vit cristaliza estas -mudancas. Quer ela seja a Unica possessto do proprietirio, ou ‘quer cla forme ‘um simples fragmento da fortuna fun- Gidria, a_uilla constitut a unidade de exploragao, a félula’ econémica de base, praticamente aulénoma. istinguem-se ai nitidamente duas_partes. Em_primsiro “ugar, 0. dominio. senborial (terra indominct tera slica, “explorado Girectaments. pelo. proprietirio(aico’ ow religioso), “nov qual” se sncontra, construida. a sta abiagio (curtis), “fodeada por construgses ce explorasio agricola, por alo ‘mentes. para 8 escraves e incluindo jardim, pomar vinha. _ Asia eel ‘tendon ses fare clare, | que ocupam uma proporeao muito variavel do solo Sm Coyece gn SBE ch Lescan, 20 Drabeate), f terms para pastagem (pratu, pascua), caja importincia varia | igualmente muito. Nestas. exiensGes, situadas em _fungao as comodidades, encontram-se_os ancxos da exploracio agri cola: moinho, lanar, jsreja, capela ... Bem entendido, havi também terras desocapadas, floresias submetidas . regul ‘mento. (sluae), Tatas de conte (minulae siluze) ou terras Incultas (deseria). Em seyuida, cleramente distintas da terra Indominicue(seeras) nas vvundo em eta flag com ela, encontramse as terras ocupadas pelos camponeses (mans “gus dm como fungdo fomnecer a steservae em mao-de-obra, | Na sealidade, quer os séculos VII e VIIL vejam ou nao. um | deciinio relative da. escravatura (pro, E.Perroy; cone, R. Dohchaer’), © propretirio (dominus) deixa poucd « poveo | de manter dirtctamente uma familia de escraves encarregados fda exploragdo. da. terra. indominicaia © entregacthes. terras fan em aus les "pssarao wt asim’ como 8 familigs, com 0 encargo de pagarem do senbor em corve clectuadas na reserva eVou levantamentoe sobre as suas colbe tas, Estes manser™ sio de estatuto ingenve ou servi Orin ia tl ane ater ee PLA a saat ces omic eamarronty ee laments, esta denominagfo correspondia a0 estatuto jusid dos ocupantes) escravos (mancipia) on nao escraves, mas fc xados 20 solo’ (colont casail, sera), mas esta correspondencia encontrava-se em parte confundida io século IX. forma, 0 importante era a natureza das corveins odidis a5 das eategoras de mans, As mais pesadas per fenciam aos mars serules Um manse servil serve geralmente trés dias pot semana; ‘um manse ingénuo executa trabalhos €or veins delimitadas e de forma descontinua, (Dohehaert) Dizem respeito a todo o trabalho do dominio (lavoura, transporte, ‘jardinagem ..). Acrescentamse a” isto levantay mentos sobre a producio destss manses. (ceteais, legumes, aves do eapoeiea Apesar da abundincia dos documentos a partir do fim do século vit, 0 problema da origem dos man- ses, a hist6ria do seu deseivolvimento, a geografia da sua’ implantagio continuam mal conhecidos. Com. efeito, 0 tamanho dos manses 6 muito desigual, ¢ soante a§ regides, consoante o seu estatuto juridico, fe consoante as épocas; e estas varidveis podem com- binar-se entre si. Numa mesma regio e numa mesma, &poca (uillae dEpinay, Thiais, Verrigres ¢ Palaiseau), ‘© maior manse ingénuo cobre 1Sha, 0 menor o dé cimo dessa extensio; 0 maior manse servil 9 ha, ‘© menor menos de um trigésimo (E. Porroy)! © tempo ‘passa, a populagdo cresce: estes manses fraccionam-se. Variagées quase to grandes no espaco © no tempo afectam a superficie da terra indominicata (1000 ha em Annapes, contra 14ha cm Saint-Amand) e, por isso mesmo, a superficie total das uillae (18 000 ha em Leeuw-Saint Pierre contra 200ha em Leernes). # portanto, antes de mais, de um ponto de vista ipolégico que se pode falar de uma vila carolfngia. ‘Mas, 0 que quer que scja, pelo seu papel econémico ¢ pelo seu impacte politico, si0 os dominios verda- deiramente extensos que importam, Constituem a MICHEL BANNIARD — vy RT RR ar eer TaN mS A ABTA IDADE MEDIA OCIDENTAL 7 base sobre que se operam as mudancas hist6ricas essenciais. que, muitas vezes, estas uillae, mesmo repartidas em regides diferentes, integram-se em conjuntos muito mais vastos. Estes representam por vezes patrim6 ‘imensos nas mos de particulares laicos, de instituigdes religiosas (bispados, abadias, mostciros) ou de sobe- ranos (dominios reais). Proteget, manter, aumentar o seu patriménio, tal € a preocupacdo principal destas trés categorias. Os particulares ricos, em primeiro lugar, (Dohehaert). Ora, as grandes propriedades Iaicas esto incessantemente submetidas a consideraveis forcas de erostio (partilha para as herancas, conflitos familiares, Intas locais ...). Em segundo lugar, 0 dominio real no constitui excepcdo A regra entre os merovingios.. Para além das causas gerais, acrescem ainda as razies particulares devidas a0 préprio modo de governo € de vida adoptado pelos reis: dotagao dos condes em terras fiscais; doagées de terras aos fitis; partilhas familiares; ofertas a Tereja. Delapidado, o patriménio real dissolve-se no século vit ¢ reduz-se, sem diivida, a algumas uille em 751, quando Pepino depde Quil- périco TIL Ora, enquanto a dinastia merovingia se enfraquece deste modo, a familia donde saem os caro- lingios constitui um enorme patriménio na Austrasia durante 0s séculos vit e vill. O centro de gravidade do poder oscila, portanto, depois de ter mudado de mao a base deste poder. Unicamente a Igreja no tem problemas. A partir do século 1v seu patrimé- rio aumentou regularmente. Porque ndo esti. em causa rnenhum dos factores de erosiio antes citados. A partir do século vi a propriedade eclesiastica d4 a Igreja um imenso poder material. Os dados numéricos so Prova desta amplidio no século ix (@ abadia de Saint-Germain-des-Prés possui 25 uillae repartidas por 30 000ha!), Quando chegam ao poder, os carolingios, retomam em parte, a0 pattiménio eclesiéstico, os do- minios sem os quais o poder real permaneceria fraco, ‘A este propésito também, 0 século vitt representa na Gélia um momento de descontinuidade: as terras mudaram de mios ¢ a dinastia mudou, por conse- guinte, da mesma forma; a estabilidade da Tgreja permitin-Ihe alargar os scus dominios em proporcoes, tais que ¢ inevitavel um conflito aberto, IV—Artesanato, comércio, moeda Se a producto agréria nfo muda bruscamente de caracteristicas no momento da ruptura do século Y, ja as coisas se passam de um modo um pouco dife- ente com os outros dominios da actividade econé- mica: artesanato, comércio, moeda, Estes sto. mais, imediatamente sensiveis as deformacdes que afectam fas estruturas do Estado antigo. Ora, se estas nfo desapareceram nem totalmente nem em toda a parte, esto contudo desconjuntadas. Num pr periodo, a Antiguidade deixa-se reconhecer em cada um destes sectores (no agricolas) da economia, mas sob uma forma degradada. Isto € muito verdadeiro acerca do artesanato, sobretudo ‘elementar. A sociedade con- tinua normalmente a ter necessidade de instrumentos, de base: utensilios de casa, panos, vestuério, mate- riais de construcio, ‘Todos os. grandes domfnios ten- dem a abastecer-se em oficinas que asseguraro_ os fornecimentos essenciais. Além disso, as comunida- des rurais tém os seus ferreiros, os seus oleiros, 05, sous teceldes, Na realidade, cada familia néo. produz todos os objectos de que tem necessidade. Olhando melhor para este problema, assiste-se durante 08, séeulos vile 1X a algumas especializacSes na pro- ducio artesanal: cerdmica. de Badorl (Col6nia); armas francas (fabricas de Eifel, do Reno, das Arde- nas); téxteis da Provenca; vestuério da Frisia. Isto implica um comércio feito’ de transpories e de trocas através de todo 0 Ocidente. Além disto, as corpora- es do Baixo Império perduram sob formas diversas (mestres pedreiros na Itilia; oficinas de ourivesaria, em Limoges no século vil). A sua ac no sfculo vit ¢ so mencionados frequentemente no século 1x. No parece ter havido descontinuidade pro- funda a todos estes niveis, mas. simplesmente uma sensivel redugio das diferentes producdes, talvez aqui e ali e de tempos a tempos, «manchas brancas> no | Mapa, mas nunca, sem diivida, desaparecimentos ge- ais. Por vezes este tipo de producto muda simples. mente: novos produtos (espadas e armas francas espe- Gialmente) ou novas regides de fabrico (vestuétios do Norte). A produeio artesanal da Alta Idade Médi continua a ser a do Baixo Império sem linhas de cli- vagem. & talvez ultrapassado um limiar quantitativo em favor do incremento econdmico e demogrifico do século vin, mas nesse ponto ainda nfo foi reali zado um tratamento apropriado das fontes, 0 que permitiria julgar a realidade © a amplitude desta even- tual mudanca, Pelo contrério, estamos melhor informados acerca das condigdes e das possibilidades de transporte por estrada, E actualmente admitido que a rede de estra- das, construfda e mantida com cuidado pelo Estado antigo, continua utilizavel e, por conseguinte, & per- corrida nos séculos vt, vil e vin, talvez mesmo ainda durante mais tempo (Fourquin [5]). Bem entendido que @ qualidade das construgdes romanas explica em arte esta duracdo. Mas, além disto, os novos ocupati- tes do espago ocidental compreendem rapidamente a importincia desta infra-estrutura: na Itilia ostrogé- tica, na Galia franca, na Espanha visigética, os so- idade aumenta 4 ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL beranos tentam assegurar a sua conservagdo € preo- cupam-se em protegé-la contra as. tentativas. de apropriamento por parte dos particulares. Os caro- lingios acentuam este esforco. Todas as vezes que se fala de uma viegem, verifica-se que a deslocagao terrestre & sempre materialmente possfvel. Sao na realidade 0s perigos provenientes da inseguranca (al- teadores) que levam a preferir frequentemente os tra- jectos fluviais, Além disto, a mediocridade das técni- cas de transporte terrestre torna mais custosa_a deslocago em grandes distncias de mercadorias pesadas. Também neste ponto no hé qualquer mu- danga notivel em relacio & Antiguidade (mas actual- mente as teses de Lefevre des Noeties acerca desta fraqueza so muito discutidas, G.-Charles Picard (61). Por estas razées, rios e ribeiras sio utilizados de pre- feréncia para o encaminhamento das cargas impor- tantes ¢ 0 tipo de embarcagses wilizadas € 0 mesmo utilizado_no Baixo Império. No mar ow no oceano Gabe-se jé que as costas atlanticas tém uma actividade ‘maritima importante a partir da Alta Idade Média), «so geralmente os barcos de tipo romano que se continuaram a utilizar» (G. Fourquin). ‘Também aqui, as possibilidades reals do transporte mari- timo ma Alta Idade Média continuaram as do Baixo. Império, mas fica aberta a. dicustéo, Com efsito, a marinha. antiga feria softido earéncias, denunciadas por Lefevre des Noettes (savegacio unicamente diurna, mau manejamento, pequena tonslagem): ‘mas estas afirmagGes fo inteiramente contro- Yertidas G. Rougé (7)). Ora, se a5. teses contririas estio Actualmente em vantagem, isle obriga a pér em questio a ‘continuidade ‘entre 0 século Veo sécula VI: dificimente se véem os esaleiros navais da Alta Idade Média produzir com fegularidade to grandes unidades como os do Baixo Império. O material, Sofreria, por conseguinte, com falta de’ renovacao. nos séculos Vi € VIL. Desta forma, expli- carseria melhor a adopsio. de novos. tipos de barces a partir dos sbeuloe VIM © IX na Romania ocidental: os drat Fe ES eR ee ne ye ee co ‘MICHEL BANNIA Te MET oe Re ae 4 ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL a ars (langskips ou kaupskips) vikings vem dar ao Ocidente ‘uma indispensivel reserva, ‘6eniea, 0s forasteiros por um lado, os domini por outro, nfio consomem toda a sua producto agraria, Alguns dos tragos essenciais do Baixo Império encontram-se, Por conseguinte, na Alta Idade Média; os produtos agricolas em excesso citculam sempre, quer localmente, quer a nivel inter-regional, mesmo se os volumes ¢ as velocidades das trocas diminufram ¢ estio subme- tidos a flutuacdes ja muito grandes. ‘Todas as cidades cujo espaco comercial foi du- ramente atacado pela invasio muculmana ttm uma regressio do ponto de vista econdmico a partir do século vin: caso especialmente das cidades do sudeste da Galia e da Espanha. Ao norte da Romania a evo- lugio & muito diferente, pelo menos num primeira ppetiodo: especialmente entre 0 Liger ¢ o Reno —na antiga Galia vista estritamente econémico. Mas nem por isso deixa de ser certo que 0 Ocidente latino ficou di nufdo rapidamente no século vin: também neste do- _ minio esta época representa um momento critico. CAPITULO. AS INSTITUICOES I—Permanéncias ¢ eclipses da instituicéo eserita ‘Admiteae, om geal, que uma das caractrstcay cate ciait da Idade ‘Média foi". predominincla do iret or Ure" consuetusnaio fore a deo eee, ees anos) nas insiaigées, Ora, vimos. que” as. insttugées do Baixo’ tmpério. bateamse infeiramente sobre um’ di ‘aeritoonmipresente e (em principio, e isto € largamente Garante, molto tempo Yerdadeifo) omnipoteate, TE portanto urante 4" Alia Msee Média que se tenn rouida 0 sen csaparecimento, Ora, 0 esctto € ao mesmo. tempo. testemt- foe fonte. “A permanéncin © ce eclipres da ist fscrita apos 476. slo a realidade testemuno de. mucangas, ‘na medida ‘em que a rarsiacedo. da seta eaguanto ‘tal OU, pelo. contro, asus multipicagdo ‘slo. um inal. de. civ ‘Algm’ sto, os textos juridices quando. estto Pre chogaram até ‘agi — tzazam o sinal da evolu fem curso, mesmo so a sua intenpretagso 6 sempre diel, Permitem’ descabrir” em cada "pais do Ocidente latino apaecimento. de. estturaspre-feudais, Num _primeiro periodo (séculos ve vi), o acto escrito conserva uma grande importéncia no Conjunto do Ocidente «birbaros. Em consequéncia, conhece ‘uma sorte diversa consoante os paises. Em 440, em 546, os soberanos fazem afixar decretos em Roma; em 595, um libelo hostil a Gregério Magno ¢ afixado em Ravena, Vendas, doagdes, testamentos, HR: TAL A ALTA IDADE MEDIA OCIDEN! nfo se coneebem sem a redaceo de um acto, [Desta forma se cxplica que], instalados em pafses onde, h muito tempo, ‘a vida politica, social € econémica nfo pode passar sem 0 direito escrito, os soberanos germAnicos com- preenderam a necessidade de fazer redigir os costumes dos seus povos, costtimes até entao transmitidos oralmente [...] (P. Riché [1].) Estes costumes, mesmo uma vez codificados, nao $e substituem as instituicdes romans, Na realidade, fistapdem-se a estas. Com efeito, as. instituigdes da Romania sobrevivem em grande parte & queda do Tmpério:_Vandalos, Visigodos e Burgindios inicial- mente nfo mudam nada & Provincia (mesmo se acumula agora as fungdes civis © militares). A organizacio financeira nao muda a Sula organizagio (mas os Barbaros escapam aos impos- tos directos). Apesar das perturbacdes profundas pro- yocadas pela queda do poder imperial, o direito fo- mano nao desapareceu porque ele proprio admite desde sempre a legitimidade do direito peregrine este principio coincidiu com 0 costume bérbaro que determina © direito individual em funcfo da pertenga itribal. Quando os Bérbaros se instalaram no Império, foram aceites com as suas préprias eis pelos impe~ adores. Uma vez desaparecidos estes tltimos, tinha ficado 0 habito de deixar coexistir dois sistemas: € 0 regime dito da epersonalidade das leis» (a lei apli- cada é-0 em funcio do individuo implicado). Assim, fa Galia o§ Galo-Romanos sao julgados em funcio, do direito romano; os Francos de acordo com os seus proprios costumes. Levantam-se, evidentemente, pro- Dlemas espinhosos quando, em ‘caso de processo, as duas partes em presenca nio dependem do mesmo, regime juridico. E por esta razio que no século V € 2 visio em provincias © em ciuitates. Um comes continua a comandar cada no século VI sio editados nos reinos bérbaros textos, destinados a permitir uma rigorosa jutisdicéo em que se possa ler claramente a lei barbara e a lei romana. ‘© reino burgéndio, 0 mais romanizado no que s¢ refere ao direito piiblico, publica em primeiro lugar a sua lei barbara em 502 (lei Gombeta, 88 tftulos), depois a sua lei romana (0 Papiano, 47 titulos), em {que se encontram textos tomados do Cédigo teodosiano, © passagens de Gaio e de Paulo. A influéncia romana & sem diivida, ainda mais forte na legislacao visigotica. Desde o reinado de Eurico (466-485) 6 promulgada uma, legislagdo barbara. E completada em 506 por uma, legislagdo romana (brevidrio de Alarico) que comporta novas interpretagdes de certas leis: isto prova que, ainda existem juristas. Estes textos no serdo substic tufdos sendo dois séculos mais tarde pelo cédigo de Recesvindo (654, 12 livros), que representa uma ver~ dadeira suma e cuja existéncia mostra que «<0 acto, escrito continua, como no direito romano, o interme Gistio das relagdes sociais» (P. Riché). Esta impressao € confirmada pela abundancia dos actos notariados e das inscrigdes. O emprego do acto escrito toca mesmo nas camadas sociais menos cultas entre os lel provam-no os documentos redigidos em ard6sia numa ingua muito vulgar (século vil); as formulas encan- tatérias © sem davida mégicas que eles contém indi- cam que mesmo entio uma contracultura nio_ se, concebe sem o prestigio do suporte escrito. Este be- neficia da muito longa trégua que a Ttélia trax 0, reinado de Teodorico, Até as guerras de reconquista, a Itélia permanece quase inteiramente antiga: a. administracao funciona no principio do século VI exac- ‘tamente como em meados do século v. Os desgastes provocados pelo conflito com o Império Romano do, Oriente so em parte reparados pela obra legislativa de Justiniano (manutengao do estudo tebrico do direito, pelo menos nas reparticdes imperiais). Assim, mesmo Seber -186—5 ’ Co ee ey Merten eam A ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL 7 em pleno século vil, ap6s a agitacio lombarda, & Promulgado um importante corpus de leis (Edito de Rothari, 634) que «nos revela um povo ainda muito Tigado aos costumes bérbaros; mas, aqui além, — vemos que o acto excrito comeca a’ ser utilizado, 0 que marca a passagem para uma outra forma de Civilizagdo> (P. Riché). Esta observacéo ¢ confir~ mada pela lingua do texto: na realidade, longe de copiar as férmulas cléssicas, reveste uma forma muitas yeres bem vulgar, ow seja, viva: esti adaptada a uma ‘pritica de que cla propria se alimenta. Finalmente, & partir do século vit aparece em Pavia uma ver~ dadeira escola de Direito. O contraste com a Gallia merovingia no € tio forte como por vezes se disse. E certo que a lei silica (lei dos Francos_salianos) € , como escreveu M. Bloch [13]. O des parecimento, alargado no espaco e no tempo, da civ ago da escrita (do ponto de vista institucional) no Ocidente latino esti ligado a uma mudanca total de organizagio das relacoes socials. Nao € portanto razao para uma grande surpresa ver que é na Géliay carolingia, apesar do intenso esforco. de legislacdo, reatizado em meio século (Sobretudo sob o reinado de Carlos Magno), que 0 desaparecimento dos textos Iegislativos 6 mais completo (0 ailtimo capitular editado, por um carolingio € de 884). Porque foi neste pais que mais cedo apareceram as estrutures pré-feudais ¢ sera também af que essas estruturas irdo tomar a sua. forma mais acabada. T—Nacies em busea da sua identidade 1) © retraimento carolingio @ 0 seu fracasso na Gills Dum et omnibus habetur percognitum, qua- liter. ego minime habeo, unde me pascere uel uestire debean ..: Considerando que € per- feitamente conhecido de todos que nao tenho de que me alimentar ou vestit, pedi A vossa piedade —e a yossa vontade concedeu-mo— poder entregar-me ou recomendar-me & vossa proteccdo (en votre mainbourg); 0 que fiz: ou seja por forma que deveis ajudar-me ¢ man- ter-me tanto quanto ao alimento como quanto a0 vestuério, na medida que vos possa servit © merecer de vés. E durante todo 0 tempo em en Oty eee ne que eu viva deverei servir-vos © respeitar-vos_ como 0 pode fazer um homem livre e durante todo 0 tempo em que eu viva, nio terei 0 poder de me subtrair ao vosso poder ou main: bourg, mas deverei, pelo contririo, continuar todos os dias da minha vida sob 0 vosso poder. ou proteeeio. Como consequéncia de tudo isto ficou convencionado que, se um de nés qui- sesse subtrair-se a estas convencdes, ficaria obrigado a pagar 20 seu concontratante deter- ' minada_quantia em dinheiro ¢ a convengao continuaria da mesma forma em vigor. Por este motivo, pareceu conveniente que as par tes em presenga facam redigir ¢ confirmar duas cartas do mesmo teor; 0 que fizeram. i xto data do primeiro quartel do século vm} jo em Tirones, num latim que € um decale igua falada corrente; faz parte de iima colec- tanca de formulas © reproduz aqui o modelo de uma | commendatio pela qual dois individuos contraem uma alianga de tipo vassilico. E, pot conseguinte, o tes- femunho escrito de mudancas que afectam tio pro- fundamente as estruturas da sociedade merovingia que a Alta Idade Média vai ai buscar caracteristicas, atta- vyés das quais se opée de maneira radical A Antigui- dade, mesmo agonizante. Na realidade, ainda que da- tado do principio do século vit, este monumento permite seguir ainda mais para tris, no decurso do, tempo, o aparecimento de caracteristicas essenciais pe- Jas quais se vai forjando um sistema social pré-feudal Outros formulérios, talvez da geragdo anterior, como 0 de Marculf (mas 0 seu dltimo editor, A. Uddholm [4], situa-o entre 688 e 732), deixam entrever 0 apare- cimento bastante generalizado de relagdes do mesmo tipo. Além disto, estes vestigios escritos, por muito significativos que’ sejam na sua existéncia, permitem ERE 4A ALTA IDADE MEDIA Dn ORC ee a muitas vezes compreender —tracam frequentemente sinais explicitos— que tais relacSes vassélicas se cstrutararam com muita frequéncia sem que tenha havido redacgGo de documentos a isso referentes — sem contar igualmente com a imensidao das perdas, que sofreram os arquivos privados, Iaicos ou ecle- sidsticos. Tudo isto permite recuar até aos séculos vi © vit, para seguir neles 0 lento desenvolvimento de um novo modo de relagdes sociais. Seer a eit ein SO ee ated pany (eotedeiny) gee sears Sead act Gee ting (eg a ile a 2 on pte fees) er ae ‘eas a cet, Oat aie ici eae tr ee ee pire oleae ee Se eee Eee Coca eed ae ee tone Ce ae ae See ge Ue aN aa Si eel eran) so TA ae oc eg eats Sls Seay ace at So ae art scaeree en cet eats a in ren DS 2 a meen nL eae Seeman ae pe aimee vate ae atl cl na mo penne ree aN eae ier prion, tate ee as re Eg ote a eae Cet ace ih Se geo oe, Has, epee eee 5 eis Serie ae ee ee dey Sls ope 8 ate, ea Oe renee eae oe eee Sea abe es on nc sear cae Sey fom oa ate che on dere eee gnen cee eaE Se ee Oe eas ae DENTAL 0 TENCE ea eae Pie 4A ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL n Este sistema de relagbes humanes constitui 0 mo- delo © 0 embrifo de uma sociedade vassélica. Na realidade, coloca em presenga um poderoso e um me: nos poderoso, entre os quais se estabelece uma con- vengio de servicos reciprocos —em principio iguali- aria, mas de facto hierarquizada —, fora das estruturas estatais oficiais e, na maioria das vezes, contra estas; mesmas estruturas. Entretanto a situagio nfo é ainda. medieval, porque nio corresponde nesta data a uma organizagio pré-feudal. Com feito, até meados do século V, ou seja, enguanto houve uma administragdo imperial’ em condigSes de funcionar, estas préticas continuaram ilegais e foram combatidas pelo Estado, Por este motivo, correspondem a uma marginalizacdo erescente de grupos sociais importantes, acompanhada de uma alienagio de imensos territ6rios incessante- mente aumentada. A instalacio dos reinos barbaros foi facilitada por este processo. Seguidamente, na Glia merovingia os poderes reais tentam retomar a. sua conta — adoptando cada um por seu lado, mas de uma forma , excepto nos poucos mo- mentos em que a Galia encontra uma certa unidade, a legislagio romana— a Tuta contra esta evolugio. Mas, em primeiro lugar, os seus meios sio muito mais fracos ¢ a cvolucao parece continuar com bastante liberdade. Em segundo lugar, com a chegada 20 poder dos carolingios, dé-se uma dupla mudanga, quantita- tiva © qualitativa: a vassalagem torna-se uma insttuic do estatal organizada e desenvolvida pelos sobera- os; constitui, por esta razio, a armadura de todo o sistema social Imaginemos a sociedade_merovingia, Nem © Estado nem a linhagem ofereciam ja abrigo, suficiente. A comunidade camponesa nio tinha forga senfio para a sua organizagio interna. A comunidade urbana mal existia. Contudo, 0 fraco experimentava a necessidade de se entre- gar a um mais forte do que ele. O poderoso, Por sua vez, no podia manter o seu prestigio ou a sua fortuna, mem sequer assegurar a sua seguranca, send procurando por persuiasio ou pela forca o apoio de inferiores obrigados a ajudé-lo. Havia, por um lado, fuga para 0 chefe; por outro lado, atitudes de comando ‘muitas vezes brutais. E como as nogées de fraqueza de forca sto sempre relativas, via-se ‘muitas vezes 0 mesmo homem fazer-se. simul- taneamente dependente de um mais forte ¢ protector de outros mais humildes. Deste modo se comegou a construir um vasto sistema de relagées pessoais [...] (M. Bloch.) Este sistema, andlogo ao patronato (patrocinium) praticado no Baixo Império, desenvolve-se_portanto, durante os séculos vie vil, independentemente da origem étnica (galo-romana ou germanica) dos indi- vidos, como o demonstta a equivaléncia dos termos, que 0 designam, quer eles sejam latinos ou germanicos. Nos cédigos (Cédigo de Eurico), nas colectineas de leis (Lei dos Alamanos), nos textos literdrios (Gregério de ‘Tours, Fredegitio), nas cartas, as palavras commendatio, (latim) © mundeburdis ou mundium (germanico latin zado) tém um sentido e um emprego equivalentes: designam o acto pelo qual se entra na proteccao de ‘um superior. Com excepcdo dos mais desfavorecidos, que se tornam escravos, a maior parte dos individuos, conserva a sua condigaio de homens livres. Continuam, a fazer parte do povo franco (populus Francorum — esta denominagio engloba as duas etnias), donde o sentido que toma pouco a pouco a palavra franco, slivrer (Gabe-se que, por definigao, 0 escravo est cexclufdo de todo o corpo social). Por volta do ano 700 05 textos comecam assim a falar de homens livres a0 ' Cg a te ee n rn 4 ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL servigo de outrem (ingenui in obsequio). Reconhe- cemse diferentes classes de ingenul. Os grandes que rodeiam e servem directamente o rei constituem 0 corpo dos antrustides (de trustis, efidelidade> em ger~ ménico). As personagens de menor nivel, que esto, elas prdprias a0 servigo de um grande, sto denomi- nadas 0s pueri (latim), ou os gasindi (germénico), ‘A partir do século viit esta dlientela & désignada pelo termo uassi (talvez pot intermédio do céltico gwas, que tetia sido sinénimo do latim puer); ele préprio sera suplantado pelo duplo uassallus. Do século Vi a0 sé- culo Vit distingue-se uma classe de subordinados de entre todas as outras: a classe dos guerreiros privados, que se constitui quer em volta dos grandes, quer em volta do préprio rei. A sua constituicao tem como finalidade preencher as lacunas que deixa 0 antigo sistema do levantamento em massa feito pelo Estado, e sobretudo fazer face as dificuldades cada vez maiores impostas por uma arte da guerra em plena evolugao {apelo continuamente aumentado, sobretudo a pattit do século vit, & cavalaria). Paradoxalmente, é apds a explosaio completa do reino merovingio no final do século vit, o esforco, da dinastia carolingia para se guindar 20 poder ¢, seguidamente, para estender a sua autoridade no Oci- dente que favorece 2 implantacio geral e irteversivel de uma sociedade vassélica que se torna muito rapida~ ‘mente pré-feudal. Com efeito, a familia dos Pepinos pode desde a Austrésia aproveitar, no éltimo quartel do século vit, do enfraquecimento do poder real, por- que ola prépria so constituin j4 uma solida clientela privada € pouco a pouco adquiriu imensos dominios, a lado dos quais © patriménio real parcce muito, modesto (ef. supra, p. 53). A conjuncio destes dois dados dé a sua configuragao definitiva & sociedade, vassélica, As condigdes econdmicas so na realidade, tais que a posse da terra € a condicao indispensavel, © exclusiva que permite exercer um poder, qualquer, que ele seja (cf. supra, p. 47). Como niio existem outros bens para além da fortuna fundiéria, todos os servigos © todas as fidelidades devem necessariamente ser pagos em terras ou em produtos da terra, ¢ isto. em todos os escaldes da hierarquia social (E. Per- roy). © pagamento em géneros pode fazer-se de duas ras. Direetamente: 0 senhor mantém no local 05. seus fikis, os calimentados> (nutri); mas. esta solugo € pouco pritica; no se podem concentrar perpetuamente muitos fidis e, de qualquer modo, estes tém um patriménio a getir, por vezes longe da corte, Indircctamente: 0 senhor paga aos seus soldados, aos, funciondtios, aos servidores importantes colocando-os uma terra que separa dos seus dominios. Neste caso, so possiveis dois métodos: dar a terra ou empresté-la. E recorrendo a primeira forma que os soberanos me- rovingios delapidam o seu patriménio. Os Pepinos, em. plena ascensio, comecam por fazer 0 mesmo. £ por este motivo que, logo que alcangam 0 poder, com Carlos Martel, tém de reconstituir o seu capital: isto explica a brusquidio e a amplidio das espoliacdes, com que o cintendente> atinge as propriedades ecle- sidsticas. O segundo método administra melhor os interesses a longo prazo da dinastia: conceder a terra titulo temporirio; & 0 mecanismo do ebeneficior {benefactum, beneficium). Nio & por um simples acaso que, testado esporadicamente no tempo dos merovin- ios, se deseavolve consideravelmente a partir de Pe- pino, 0 Breve. Deste modo se constitui, de qualquer forma, uma associacdo_automftica entre a situacao de fiel (servigo prestado ao soberano) € a ocupacao de uma terra (ervigo prestado pelo soberano), Dagui ; 74 hasce, no século vil, a sociedade vassilica. Porque, além disto, os carolingios fazem neste momento passat. do nivel privado para o nivel estatal o sistema ‘social fandado na instituictio de relagdes pessoais: aplicam naturalmente as solucdes que os levaram ao poder a0 exercicio deste mesmo poder. As dificuldades culturaig juntam-se as dificuldades econémicas para provocat rapidamente a implantago. No século vi, ¢ sobretudo ‘no século vil, o que restava das estruturas administra. | tivas imperiais na Galia acaba de se desagregar. ‘Que resta da antiga redo que permitia & prefeiura das Galas comandar’ varios: milhares Ge Funclontioe? Arnie atc tos wien ete rence i rae pec Bae ete in eer ag ince bat Gertie oe ee ee Se cs seu homem>, ‘seria encarregado de ‘0 manter no) ever (M. Bloch), Pesta forma, cristliza-se no século VIII um novo sis: fema de relagses_soviais. Os soberanos carolinglos ‘no so atlas rtialzato, may ‘mprendem meio "a Sun codificasio: através de uma legislagao. apropriads, ‘Carlos Magno sobretudo ‘enta construir um verdadeiro Estado’ fun dado mume pirimide ‘hierarquizada de relagSes privadss, Guna sociedade vassélica. Mas ao irredentismo natural dos tndividuos (a aristocracia do ‘século VIII tinhacce habituade jd he doit Séoulos a uma crescente independéncia) acrescestamae os Dloqueamentos devidos 20 emprogo da terra. Todas, a0 fun, 063 aciministrativas —condado (comitatus) ministéo. (iu ister), ona (honor) — so pagas em beneticios, ou se}, ferras. Para que este modo de pagamento dite, ee, iso engrandecer 0 patriménio real: donde a impetioea eves: Sidade de conquistas tcrritoriais. Mat a extensie dos teriioe Tos arfasia por sua vez tm erescente © como estes servigos so’ exercides pelo a0 servico pestoal, ss cada vez. mais longe Cen ie A ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL Pee ee 8 2 eal ce ae eee ores cat a eine res fh ‘Sineamo"as caus do. seu ‘r€pio. desmembrameato esc cer spat te ee aa ee eet en ed a mene el Pak eee races Sea ioe ey tee ee a re oe Ge ra 2 oe eee ogc eran a a Se ce era ipo iar ete ae ana ee He pens oe es ee ee Shen ee Se oe eee peat tie aera Ban's ant ae elas ou ee pie sce ate Gate ee por coasguintoy ba takuigdo Tegal fenconando como ta Saree nacre creo ee eee mene ate a ei coat ‘ado Combater via fndenci eget poderons ator heer amare Secs ney eee Se ee oe eae ie arc er eels a ee es ee eee Slucag ob lley@ lea nat eget (re como eee are oe ae ee 2a ceet eet ee Boh Era err AS estruturas sociais evoluem, por conseguinte, de oe or conseguinte, de Na altura em que desaparece 0 ultimo imperador carolingio em 888, a sociedade vas- silica est em condigies de se tornar a socie. dade feudal . Perroy), # nesta época que para a legislagdo: a siltima a tular carolingia é' de. 884, Pode, pot conseguint, tragar-se um quadro cronolégico relativamente preciso _ desta mudanca: século vit, esbogo do sistema vassélico; sfoulo vit, sistematizacio; século 1K, desenvolviment © passagem para uma sociedade pré-feudal. 2) Formagio de Catalunhs Esta apresentacdo sera aplicével_universalmente | todo 0 Ocidente latino? Pode dizer-se que se ins: _ taba af uma sociedade de tipo feudal? Em que pe- lode (0 aparecimento deste sistema social dé-se a0 Meso tempo em todas as regidcs ou sera conye- niente tomar em consideracio diferencas cronolégicas “importantes?)? ‘Quais sio as causas de uma tal (ou “tais) evolugio? Em suma, pode falar-se de uma tipo. ~ fogia, de uma cronologia ¢ de uma l6gica do fendmeno? | $6 muito recentemente a historiografia esclarecew per- _ feifamente esta problematica, Como consequéncia, de> _ BOE de tm periodo bastante Tongo que tina tendén- a ivilegiar os aspectos gerais da passagem para “8 sociedade. feudal (mas tomava-se. endo sobterade como base estudos da Galia e da «Europa do Norte do Leste»), a tendéncia actual é insistir mais nas ‘Sulas_caracteristicas particulares .em funcao das. te- _ gies consideradas. 1 talvez a propésito da Catalunha que foram postas em destaque as caracterfsticas dife- renciadoras. mais originais. P. Bonnassié [5] acaba de demonstrar a falsidade de muitos lugares-comuns. © primeiro consistia em apresentar Catalunha, ainda anteriormente ao Ano Mil, como um pais de regime carolingia_¢ aligs, perfeitamente adaptado & economia «do: minial> da época... [Mas] a_Catalunha do ‘Ano Mil nfo é uma terra feudal. As grandes pulsbes geradoras do sistema feudal (lecom- pposi¢ao do conceito de propriedade, desagre- gage da autoridade pGblica, desenvolvimento da arbitrariedade dos grandes, procura de pro tectores por parte dos humildes, multiplicacio dos Jagos de homem para homem) nem sequer_ se encontram af. Pelo menos nessa altura. E as instituigdes efeudais> mais elementares so pra- ticamente ignoradas. A nocio carolingia de beneficio desapareceu. Quanto ao feudium, iden- tifica-se com o fiscus ¢ mantém-se exclusiva- mente nas mios das teria conhecido estruturas pré-feudais, mas nada teria acontecido, ainda — que de longe, com esta provincia Narbonense? S Preciso renuniar a encontrar aio. menor soa aador comum? A resposta sairé, sem divida, do bate iniciado, Enquanto se espera, notemos em pri meiro lugar que & conveniente talvez descontiar mais do que 0 faz o autor das palavras: . Em_seguida sublinhemos que a originalidade das estruturas sociais na Narbonense na Alta Tdade Média {em relacdo pelo menos aos esquemas. tradicionais, dos historiadores das instituigdes) coin das caracterfsticas particulares: no hé, pelo menos até ao século vin, verdadeito poder centripeto; a super- ficie geogrifica desta espécie de «principado> € pe- quena, Mas nfo passam. de esbogos. Os arcanos da Histéria esto, sem dGvida, muito mais escondidos. é B) Aqurranta AS investigagdes de Michel Rouche sobre a Aqui« tania ilumiaaram a Alta Tdade Média desta parte do Ocidente latino. © autor centra a sua atengéo sobre a regio tal como Roma a recebeu e tal como se cons- tituin e manteve durante toda a Antiguidade: um, espaco original que vai dos Pirenéus ao Liger e do ‘oceano aos Cevenas. Sublinhando a sua forte origina- idade_em todos 03 dominios (politico, religioso, econémico, linguistico, psicolégico), M. Rouche con: sidera que a causa geral © profunda desta originali- dade € a ligacdo dos habitantes da Aquiténia A sua romanidade (por oposicio A barbirie e especialmente barbairie dos Francos): Com feito, a romanidade da Aquitinia continua forte,’ ligada como ela citi a dis- tingio entre direito péblico e direito privado, Esta capacidade de reflexio abstracta dé-lhe ‘uma superioridade tanto mais indubitivel so- bre os merovingios para a afectividade e para 6s instintos mal dominados, quanto é refor- gada pela cultura religiosa do corpo episcopal, Nao somente conserva intactos os seus conira: tos escritos, as contabilidades agricolas, 0s registos de ‘cadastro, os funcionérios remune- rados e 08 birbaros federados, mas pede prestado a verdadeira pitria romana, a Ilia ornada bizantina, as suas. ltimas’ reformas administrativas, como o duque ou 0 patricio, ‘© susteato dos soldados pelo rédito de uma terra (através da Espanha visigética) © a cone versio dos soldados de intantaria de Belisério em cavaleiros ligeiros [...] s habitantes da Aquiténia chamam-se a si pré- prios «Romanos» até a0 século vin, Faltavam por- Nate e A ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL tanto na Aquitinia os factores constitutivos de uma, sociedade vassilica ¢ pré-feudal. Isto explica, sempre. de acordo com M, Rouche, que os lagos de homem para homem no se tenham formado segundo os modelos pré-feudais. A homenagem néo suplanta 0 juramento de fidelidade; 0 beneficium no toma 0 lugar dos precérios. Na realidade, a homenagem repousa sobre uma mentalidade primitiva. Entre os, Germanos, 0s poderosos rodeiam-se de uma coorte, de jovens (uassi, pueri regis) que dependem de esto. sob a forca do seu poder magico (mundium, mundeburdium). Mas a Aquitinia continua ligada a0 antigo conceito do jura- mento, simples fidelidade prometida a um po- deroso. Eloi recusou-se a entrar na fidelidade qualificada de Dagoberto. Como os seus com: Patriotas, nfo podia aceitar 0 conceito germa- nico, mesmo suavizado, do juramento em pre- senga do rei, lago religioso e afectivo reforcado, © ainda menos 0 colocar-se sob 0 mundium real, pela imposicio das mos. Entre 0 poderoso e o set fiel nio existe mais que uma relagio de igualdade em nome da qual o fiel no permanece ligado sendo juridicamente ao seu, «protectors. M, Rouche opde, por conseguinte, fi- delidade e vassalidade. A Aquiténia da Alta Idade Média nfo conhece a vassalidade. Esta pSe em jogo sistemas de relagdes interpessoais, um tipo de mental dade, concepedes juridicas estranhas aos membros da aristocracia da Aquitania. O que € mais, quando as limi- tagées econémicas levam os principes da Aquitinia a romumerarem os seus figis em terras, 0 processo de acambarcamento nao se verifica. ‘A Aquitinia nfo concebe a existéncia de tum encarregar de fungées sob a forma de uma © possessio (= goz0 sem propriedade), utiiz © contrato de precarium para pagar a clérigos, soldados e funciondrios. Mesmo quando a recaria tem origem num confisco de terras, da Tgreja, 0 principe da Aquitinia nai disso sendo a titulo de salério dos seus ‘mates ou dos seus gasindi tls De acordo com esta tese, a Aquitinia dos anos 500-700, ‘na cronologia da historia institucional, si “tua-se nitidamente mais do lado da Antiguidade tardia, do que a Idade Média (e mesmo da Alta Idade Média), Notar-se-4 ento a ligaco estreita que liga esta ite da historia na Aquitinia aos outros pedacos do edificio. Para Michel Rouche, existe interaccio ‘constante entre a permanéncia de estruturas antigas | tardias co atraso (felativamente a Galia de entre Loire ¢ Reno) no aparecimento das estruturas -me- dievais. Ea oposigio: estruturas sociais e institcio- sais vassilicas /// esiruturas sociais e institucionais vvassilicas corresponde de muito perto A antinomia; Antiguidade (tardia) /// Alta Tdade Média. ‘ Nio é de surpreender que tes investigadores, eonduzindo cada um por seu lado trabalhos recentes, tenham mostrado a originalidade profunda das re- sides estudadas. A Catalunha, a Aquitinia, a diocese de Narbona apresentam instituigées e uma hist6ria | isGiucional_ muito dilerentes das da Espanha © da Gilia do Norte (¢ também —mas nao temos lugar para o mostrar — da Ttélia do Norte). Além disto, os -trabalhos de J.-P. Poly [9] mosiram que, sempre do mesmo ponto de-vista, © caso da Provenga & and- Togo 20 das trés regides anleriormente citadas, Ora, € notével que nesta Grea geogréfica se tenha desen- volvido um conjunto de dialecios que constituem um vast conjunto lingu{stico, 0 disto, para nos limitarmos & Sul, bast acrescentar os trés dominios considerados por M. Rouche (mas ¢ preciso tirar a parte norte da Aqui- tinia), E, Magnou-Nortier e J-P. Poly para ver apa recer a quase totalidade do que actualmente se chama_ a Occitinia [10]. 5) Na Mtélia contrat Esti a comevar um estudo regional sisteméticn 4a historia da Alta Tdade Média na Talia, Os trabalhos de P. Toubert [11] mostram que, nesta época, as condigdes econémicas e sociais so, segundo as re- gides consideradas, mais ou menos avancadas numa evolugo que leva, a prazo, a constituicio de uma s sociedade feudo-vassilica. Esta_evolueto caracteriza sobretudo a Itilia do Norte, lombarda e mais tarde carolingia. A instituicto vassilica é af em parte im-— portada, Mas a sua aceitagio répida explica-se por- que corresponde a transormagSes indigenas das ins- tituicdes © das relagdes sociais. Eo seu desenvolvi- menio na Itélia (onde apesar de tudo a tradigfo do uso da esctita © do dircito escrito continua em i geral vivaz) corresponde também a necessidade de aliviar as caréncias de uma administragdo central que se esforea para seguir a expansio do espaco social franco. © Lécio meridional e a Sabina ficam & margem desias correnies. Em primeiro Tugar, «os elementos constitutives do grande dominio cléssico: a curtis, a casa dominicata e os mansis existem, mas a sua arti- ‘culagio ¢ a sua reparticio reciprocas sé0 mais fluidas do que no dominio carolingio clissico. Nao existe ago robusto, a0_nfvel_mesmo da propriedade, entre as reservas dominiais cultivadas — quando existem— e as tenéncias, entre a pars do- miniea e a pars colonica. "Por este motivo, os colonos foram submetidos: a exeougdes menores dé corveias (operae). No final do século vit ¢ no primeiro quariel do século 1x a grande propriedade parece fragmentarse. As_curtes decompoem-sc. No século x os préprios senhores. tomam a iniciativa de reagrupar_os_trabalhadores agricolas em novos lugares, os castra (ecenttos pers manentes do habitat agrupado ¢ fortificados). £0 proceso do incastellamento. Mas este movimento realiza-se fora de qualquer recurso as instituicdes fendo. -vassilicas ... No timo quartel do século x, | no interior mesmo do mundo senhorial, os estos simbélicos da comendatio slo ainda desconhecidos. Os juramentos de fidelidade também ainda nao entraram no uso. A pro ria nogdo de feudo nao conseguiu ainda im. por-se a uma sociedade sempre dominada polo conceito romano da propriedade. De facto, no iltimo quartel do século vin, 86 «a franja setentrional da Sabina [...] conheceu [..,] um timido esboco dos lagos de dependéncia>. Mas, mesmo no Reatino a atribuicio pelos reis lombardos © pelos duques de Spoleto de concessies que retribuem serauitia pelos quais particulares tomam. & seu cargo funedes normalmente entregues ao Estado (terras fiscais) nao permite fazer directamente referén- cia a relagées vassilicas. Depois da conquista caro- lingia, ca feudalidade nao conseguiu implantar-se no, Lacio senio numa data tardia (iltimo terco do sé- culo x)». E fé-lo no momento em que esta institui. io chegou & maturidade no Ocidente. O Lécio € a Sabina economizatam portanto fracassos ¢ criaram uma forma original desta instituigao, que se introduzin em primeiro lugar através da abadia de Farfa, cuja_ RO Me ROE Ter ee 4 ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL 89 estrutura_geogréfica explica 0 contacto permanente com regiées feudalizadas hé mais tempo. 4Nio existe um modelo feudals, escreve P. Tou- bert. Nio é aqui lugar de experimentar sinteses que espessas obras realizadam. Falou-se de uma tipologia, de uma légica ¢ de uma cronologia no aparecimento das instituigdes feudais no Ocidente latino. A maneira de conclustio, eis um quadro em que se procarou um reagrupamento sistemético em fungio das 1) regides;, 2) perlodos; 3) caracterfsticas considerad: 4) PAIS OU REGIAO (do Oxidente para 0 Oriente: Espana (vsgsca}, TD Astras, IID Catalonha; 1V) Aquittoa ¥) Natbomense) VD) Gala ftene; VI) Tala car fis Vi) aso, abi, B) EPOCAS. A) Século VI; B) Séeulos VIELIX; C) Séeulos XX ©) CRITERIOS. 1 f ¢—Conservagio da esis, { $ethperctinento ea ete, 4—Conservacto do direito escrito. 2 Gre oe Be Se acon 4 { ¢—Conservacto do conceito de proprietas/rassesi. (pestea Geese @—Conservasdo de ma autridade pblica CEs af * Tato. b—Desmgregagfo desta autoridade a—Conservasdo da lsciplina doe grandes, 5 ( $Beretrttineats do Srblvaeste dos grandes 4 —Espaco social extenso, 6 ( $—Etpage toil cedure a—Proponderincia do sistema dominial clissico, 7 $—Proponderinca do pequena propedae alodia 4—Ecoaomia em circuite fechado, 9 $< Economia de: coses ee eee eee es) — ye eee ay{? 2 |—4|+ —|+ -|+-|+ — f= el |e atl + el ore : aa ua ~Pa- x eS se ee epee aloe] ele tee -] ofan we —le—|r fear] afte [ieee la mio 4|+—|—4|e e+ |= far pees | See |= | + —[+—|—+] 2 a] [+ — =|= 4} = ape [4 |—e foe =|= + |e wi— +|+—|>4|F 3 -|-* += [x a elertecterferfae alee [in |e | oe | | or | zor Tavieao o¥av00 (et ‘ 4 ae ee ie | side S223 yo bale | gay HS eg | sig? yea geogiia . be £83 | Scbass g gf #883 Stes bed ageg agHiaid a 22 4H) : Heide Eel AG ie II—As forcas centripetas na Igreja_ giosa em todo o Impétio. Ora, a partir do final do século V deixou de haver no Ocidente unidade admi nistrativa. E a festauracdo justiniana € ao mesmo tempo efémera ¢ limitada (entretanto contribui para © renascimento do catolicismo em Africa). Uma vez caida a armadura administrativa romana, podia espe- rar-se uma fragmentacio religiosa. Tanto mais que, fem segundo lugar, as primeiras vagas de invasdes barbaras fazem cair sobre 0 Ocidente populac convertidas ao cristianismo, € certo, mas a um. cris tianismo muito particular; © arianismo. Cerca do de 500, a Espanha, a Africa, a Itélia e 3/4 da Gi tiveram de aceitar_ a autoridade’ de povos arianos. Ora, o arianismo nao tinha sido expulso um século meio antes do Império seniio pela forca. Nada impede presentemente os bispos arianos de se apoia- rem mo novo poder para mudarem 0 curso da His- t6ria, Se se manifesta que, com excepedo da. Africa, ‘es conflitos internos so de facto pouco violentos, a8 invasdes dos séculos seguintes sio muito. mais, agressivas. A expansio muculmana varre a Ai a Espanha. Uma esté irremediavelmente perdida. A outra no pode continuar a ser por muito tempo uma cidadela catélica, Os invasores do século 1x, (Normandos, Vikings, Hiingaros) poem a saque o, Ocidente latino ¢ reintroduzem nele, de uma forma — brutal, © seu paganismo. Além disto, 0 espaco cris- ‘to (Cat6lico) € por momentos muito restrito: olhando superficialmente, parece em certos periodos em vias de apagamento completo (séculos vi e vi). Final- mente, a interpenetragio entre 0 poder Iaico ¢ 0, poder eclesidstico torna-se tio profunda a partir dos séculos VI e Vil, nos pafses catélicos, que a Igreja corre 0 isco de perder af a sua propria identidade. 1) finhas do oxplosto E somente no caso da Tgteja catélica que uma hhist6ria das instituigdes pode encontrar —pelo me- Ros em patte— 0 quadro do Império Romano do | Ocidente. Com efeito, do século v ao século 1K as -forcas centripetas tém maior importincia do que os -factores centrifugos: a continuidade é mais evidente do que as rupturas. Isto nio significa que a Igreja _néo tenha de ultrapassar enormes dificuldades. primeiro lugar, desde o seu reconhecimento oficial, ‘tinka desenvolvido estruturas absolutamente paralelas ag instituiges administrativas do Império. Entao, com em cada ciuitas tem sede um bispo; em cada provincia um metropolita. Os bispos tornam-se muitas vezes os verdadcifos representantes po- liticos das ciuitates. Os sinodos provinciais S40 adoptados pelos imperadores para substituir as assembleias provinciais do suprimido culto im- peril. Eo imperador convoca os concilios ecuménicos para terem um meio de impor a sua autoridade sobre todas as provincias f...] G. Ellul) As instituicdes estatais e as instituigdes eclesiés- _ticas eram portanto, no século v, dois conjuntos _ multaneamente distintos © complementares que con- -tribufam mutuamente para quadricular 0 Ocidente Jetino de uma rede tutelar e limitativa. A’ Igreja, através das suas instituicdes, procurava para o impe- ‘tador os fundamentos dé uma nova legislacao. O imperador, gracas a administracao estatal, ajudava “a Tgreja a manter (ainda que & forca) a unidade reli gs” VER gay By Tee eM a a ee A ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL 2) Forgas de cossio ‘Mas quando o Império se desagrega, a Igreja tomnou-se uma verdadeira entidade para-estatal auto= noma, cuja coesio ¢ dinamismo asseguram a sobre= vivéncia sem preocupacéo irreversivel. Em primeito ugar, as instituigdes de que se tinha dotado no tempo do Império sobrevivem & sua ruina. Ora, 0 Ocidente barbaro tem precisamente necessidade de um quadro administrative, qualquer que seja. Mas como falta 0 Estado romano, volta-se para o seu substituto natus ak: a Igreja. A sua influéncia é tanto maior e mais estével quanto se revela, pouco a pouco, que € 0 depositério exclusive da tradicao escrita. Além disto, na Alta Idade Média @ propriedade eclesiéstica, gra- gas a uma gestio regular, representa uma base econémica imensa, estavel e poderosa. Finalmente, © atractivo de um quadro administrativo Gnico ¢ efi- | caz, de uma tradigfo cultural em toda a parte, aliés, fem’ declinio, quando nfo desaparecida, mesmo nos seus aspectos mais préticos, de um patriménio sélido, suficiente, para Ihe garantir o recrutamento das me= Thores individualidades neste perfodo dificil. No mais dificil da crise © da davida (nao pode ver sem desespero a queda no século v, no Ocidente, de um Império tornado inteiramente ctistio), a Igreja soube © conseguin encontrar uma reserva preciosa no desenvolvimento. do monaquismo. Destle 0 sé culo Iv, Martinho tinha trazido do Oriente para Pole tou esta forma original de vida religiosa. A «cti de civilizago> do século V favorece a sua extensio: (05 mosteiros do Ocidente oferecem rapidamente um, refigio, mas também um reservat6rio de cultura e de homené (bispos, missionfrios). Voltando-se para si ‘préprias (tanto econémica como espiritualmente), estas comunidades religiosas escapam muitas vezes a5 correntes destruidoras © conseryam reservas vitais para a Tgreja em_periodos diffceis, Paradoxalmente, podem por esta razo tornar-se bases de expansiio sob forma de conquistas missionérias, como o mostra bem o caso da Irlanda, Ao abrigo dos conflitos e das inva- s6es, prosperam na ilha, desde 0 século v, mosteiros sujeitos & regra original (a disciplina ¢ muito rude ¢ 0 nivel cultural elevado), que fazem da Trlanda no século vi euma espécie de oasis catélico original fervoroso (J. Chélini)> [12]. Esta atitude regenera- dora dé a Tgreja irlandesa as forcas necessérias. para a expansiio que comega realmente com. as. fundacdes, monésticas que Columbano € os seus discipulos vém estabelecer na Gélia merovingia (Luixueil, Coutances, Faremoutiers ...). Q seu entusiasmo continua _no, século_vit (Dadon funda o mosteiro de Rebais, Eloi © de Soulignac). Em sentido inverso, 6 na Itilia, no Monte-Cassino, que, cerca dos anos’ 520-530, Bento de Nirsia redige a regra beneditina, O papa Gregério I, cinguenta ‘nos mals tarde, torna, popular o. homem, a regra e 0 exemplo nos seus famosos Didlogos, Quando envia Agostinho evangelizar a Inglaterra agi (597), este leva até af a regra beneditina, cuja difusio dé ‘origem a mosteiros importantes (Westmins- ter, Peterborough). Estes tornam-se, por sua vez, acti- yos lares culturais ¢ religiosos, precisamente na altura em que a Igreja do continente entra no seu periodo, mais negro (perda da Espanha, interrupeiio. das reu- nides conciliares ¢ sinodais na’Galia de 680 a 744, desorganizagiio completa da Telia ...). 3) Fases de desenvolvimento Os éxitos da Igreja no século v1 sio a consequén- cia natural das relapses de forga herdadas do seculo precedente: conversio dos Francos, retomada da Gélia,, conversio dos Visigodos. © mesmo nio acontece sc- eS To Ree eee etre ane wn ‘e aR. NORE TS aa MICHEL BANNIA\ 4 ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL 7 guidamente ¢, durante pelo menos um século, no mento dos Avaros (campanha de 791, missio do Pode contar sendo com as suas préprias foreas para defender a sua influéncia nos lugares onde se encon= tra implantada © para tentar aumenti-la noutros Iga= 16s. Os éxitos deste perfodo sido extraordinarios, s0- ‘bretudo sob 0 pontificado de Gregério (590-604), que consegue, numa Itilia a ferro © fogo, cristalizar as possibilidades missionérias da Igreja e' orienté-las onde podem produzir, Finalmente, a partir do sé: culo vnt a Tgreja catélica encontra 0 apoio © 0 enqua: dramento materiais poderosos que the faltam desde 0 desaparecimento do Império no Ocidente: O Império. carolingio. Na tealidade, € wma verdadeira mudanca das aliancas politicas que se produz na primeira met do século Vii. Até entio, o papa apoiou-se sobretudo, no poder do Império Romano do Oriente. Mas est 6 praticamente inoperante em face dos empreendimen: tos dos Lombardos de Liutprand: Constantinopla tor. narse cada vez mais longinqua. Além disto, a capital oriental encontra-se dilaccrada pela questo icono: clasta: o imperador Ledo TIT & de facto excomungado_ por Greg6rio TIT. Pelo contrétio, a Gélia carolingia, forte com o prestigio que The valeu a vitoria de Poi- tiets, esti simultaneamente proxima, poderosa € ortodoxa (apesar das espoliacdes cometidas por Carlos Martel a custa do patriménio eclesidstico). A partir de 739, na altora em que Liutprand esti as portas de Roma, Gregorio IM implora a ajuda de Carlos Martel. Chega 0 momento em que a nova dinastia: tem necessidade de uma sancio religiosa que a legic time (Novembro de 751). Desde entio, os destinos, da Tgreja no Ocidente latino encontram-se ligados, aos destinos da dinastia carolingia, mais tarde do) Anmpério. A dilatatio Christianitatis nao se faz. sem uma expansio militar do Império e inversamente: as suas; fases mais brutais e mais importantes sio o esmagae bispo Arn de Salzburgo sobre o Dantbio) e dos Saxdes (cf. supra, p. 41). Assim, depois da Inglaterra no século vu, a cristandade instala-se na Germinia na ¢Boémias: € um pouco o sonho de Germanicus, que se encontra assim realizado. ito séculos mais tarde. “Esta dupla abertura modifica 0 centro de gravidade natural da cristandade ocidental. Perdeu a Africa e durante muito tempo a Espanha, Em con- trapartida, aumentou largamente no norte e no oriente do antigo Ocidente latino. Numa certa medida, este Ocidente s6 parciatmente é latino, Uma parte das forgas vivas da cristandade vem actualmente de terri- trios até entio pagios e que nunca patticipario da hheranga latina (0s dialectos germfnicos ou eslavos, impem-se como Iinguas . O horizonte mu- dou. Dagui para o futuro as cidades tm medo ¢ construfram muralhas que as colocassem a0 abrigo de agressGes sempre imprevisiveis, mas que so, como se sabe presentemente, possiveis. Seguiu-se dai uma. retraceaio das extensdes urbanas: nem tudo ‘pode ser encerrado no sistema de defesa. Estas proteccdes de época romana (muralhas de 2m a 4 m de espessura, de 8 m a9 m de altura) constituem o enquadramento tradicional e vivo da Alta Idade Média, Encontram-s numerosas mengdes, até descrigSes pormenorizadas: em Gregorio de Tours (caso de Dijon). Além disto, este autor indica que, no seu tempo, muros e torres sio mantidos e reparados. O quadro urbano continua Portanto muito antigo. Mas a demografia? Neahum, documento da época recenseia directamente a popu- ago citadina. Como avali-le? E verdade que este problema jé tinka dividido os historiadores da Anti- guidade (vejam-se as diferencas na estimativa da popu- lagdo da Roma do Alto Império: de 200.000 segundo F. Lot a mais de 1 milhdo segundo J. Carcopinol), Durante muito tempo os investigadores (especialmente F, Lot) fundaram os seus célculos na ideia que have- ria relagdo cstreita entre a superficie muralhada ¢ populacio total das cidades da Alta Idade Média, Ora esta superficie é no conjunto, muito pequena Mi 100 MICHEL BANNIAI (A Grenier, F. Lot): Auxerre no tem mais de 1082 m de perimetro, Paris 1300 m, Remos 1400 m. Desta forma, na Gilia do Norte, «estamos em presenga de cidades muito pequenas,'em comparagio com as, cidades antigas © as cidades modemas (F. Vercante- en)». Isto € verdade também a propésito da Gélia do Sul: Rodez ¢ Angolema nao cobrem cada uma mais de 14ha, Auch 3,60 ha, Bordéus 32.ha, Limoges 11 ha a 12ha.., Tréveros (275 ha) e Tolosa (90 ha), entre ‘onitas, sio excepgio. Mas, precisamente, ‘Tréveros perde toda a importincia no século v (pilhagens) e Tolosa vegeta entre os séculos me vit (M. Rouche)., grande o contraste com 0 Império Romano do, Oriente, onde prosperam importantes metr6poles urba= ‘nas (J. Hubert) [2]. Entretanto tiraram-se demasiadas conclusies destas medidas. Na realidade, a demo- grafia urbana nfo é estritamente proporcional a estas, como esti agora provado. Porque se no interior: mesmo das muralhas se podem desenvolver espacos yazios mais ou menos vastos que deixam lugar a actividades agrfcolas (caso de Narbona no século V— Sid6nio Apolinério), por um lado, pode ai verificar-se, pelo contrario, uma notivel contracco do habitat e da populacdo (F. Vercauteren, A. Gieyzstor) [3], por outro lado, junto da «cidadela do Baixo Império, (ML. Roblin) (4]» assim continuada, surgem arrabaldes onde se elevam, em primeiro Iugat, construgdes reli ‘giosas (mosteiros, igrejas, cemitérios), onde se instala muitas vezes em seguida uma populagio laica. Dito por outras palavras, a cidade da Alta Idade Média, compée-se nio somente de um burgo fortificado feastrum, castellum), mas também de um arrabalde (suburbiven) no fortiticado. Em Dijon, no. século v1, eneontram-se no exterior da mnralha. bairros cons trwidos sobre cemitérios antigos © providos de licas funerérias. Arqueologia e testemunhos histéricos ‘mostram 0 mesmo fenémeno de extravasar para fora Nea A ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL 101 dos muros do Baixo Império em muitas outras cida- des: Reimos, Le Mans, Lio, Tairones, Limoges, ete. (J. Hubert), Estes arrabaldes ‘so, sem diivida, povoa- ‘dos menos densamente do que a’ propria cidade. Mas, a sua existéncia prova que a retraceao demogréfica no & completa, pelo contrério, no meio urbano © que a cidade da Alta Tdade Média continua a ser ‘um Ingar de povoamento privilegiado (num contexto geral de depressio). Sendo assim, as cidades nao, contam sendo alguns milhares de habitantes. Paris, com 20000 habitantes (M. Roblin), é uma excepcZo. Qual é a forca unificadora da comunidade urbana? J4 nio um representante normal’ do «Estado» (no, século v1, contudo, o conde ainda at aparece algumas; yezes como um administrador activo), mas sem qual- quer margem para dividas o bispo. Isto € tio verdade, que as cidades que durante a Alta Idade Média perderam o seu bispo, estiolaram © desapa- Teceram; todas as localidades que, embora no sendo antigas cidades, beneficiaram da sua presenca [...] impuseram a sua superioridade 4s outras aglomeragdes populacionais do pats (R. Dohehasrt) Deste modo, a cidade da Alta Idade Média € uma cidade santuério, até mesmo uma cidade santa, na la em que é um centro de peregrinacao (Tarones, Poitiers). Estas caracteristicas opdem-na muito cla- ramente a cidade da Antiguidade, mesmo da Antic guidade tardia. B certo que 0 episcopado mantém vivos, nas cidades os conceitos antigos, como 0 conceito de ebem piiblicos, e instrumentos igualmente tradicionais, ‘como 0 us0 dos actos esctitos. Verdadeiramente nao, ‘se sabe, nos nossos dias, em que medida sobrevive- ram nos séculos ¥, Vi ¢ Vil as instituigtes municipais a i lick a all celal A ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL 108 romanas, sobretudo na Gélia entre 0 Mosa e o Liger. Parece que alguns dos seus aspectos mais priticos Se mantiveram nessa regio bastante bem. O registo, dos actos da cidade (gesta municipalia) esti a cargo de um funcionirio, o defensor ciuitatis, eujos vestigios ainda encontramos no sécnlo vit em Patis c em Orleies. Este defensor (ou curator) assumia 0 policiamento dos mercados ¢ dos géneros. Porque nas cidades hé mercadotes de profissio e [elas] stio lugares permanentes de comércio. Serd quando 0 comércio desaparecer que sero orga: nizados todos esses pequenos centros econémicos de reabastecimento, com 0 seu ar restrito © 56 frequentados por mercadores ocasionais, Pelo, contrario, tem-se a impressio, Iendo Gregéria, de Tours, que nos encontramos numa época de comércio urbano (H. Pirenne). Algumas cidades. so especializadas neste ou_na- 4quele comércio. Verdun deve a sua fortuna ao trifego de escravos. Marselha Os mercadores so orientais muitas vezes (Sirios, jus deus, grcgos); encontram-se as suas (H. Pirenne). No século 1% desapareceram igualmente as colénias de mercadores orientais: ja nao. hha vestigios deles nas cidades em que se encontravam em grande numero nos séculos vi ¢ vil. Na realidade, as cidades propriamente galo-romanas (no sul da re- gifio que vai do Mosa ao Lfger) da Gilia do Norte © entram em doclinio. As inter-relagdes entre regides situadas de um lado ¢ do outro do Lfger tornam-se cada_yez mais raras: declinio comercial © dimim } do ritmo das trocas. Este esquema evolutivo encomtrase ne Aauitinia, apesar das Importntes difeengar cronolssicar © qonatitatves, como (0 mostrouM, Rouche. A vida’ urbana conserva “al util Wa ai "vou adte a Fomine 2 ue 36 ne yer, nos séculos V, e VIL 6 capital o papel eg sburbin expat cidade como Cron woe s.. OU entio € ocupado pouco a pouco o es inter riot das muralhas (Tolosa, Poitiers). a mew [A tepattigfo.cronolésica das constugSes.revela 9 Yerdadeiro ritmo ds. expansio. economia da Aqui {ina Bo keto ag elo Ve apt da Gepost Visigods, esa expanio.maltipicoa-se- por quatro; do éctlo V 30 séeulo ‘VI, por onze, em seguida tora a fait, no. séeulo VI, quate ao nivel do tltimo século ‘So império [..) 2” Gpoca dos filhos e dos netos de , Clovis "coms! 9 etinimo da" cava; lntecompida : tum" poueo.pelas guetras civ as contirupdes,recome: fram no séeulo Vit [..J tM. Rouche). i eo on tse a Raspes eee datas oincidom com 4s da Gills fones. Alem dite, chtre ot ee ret ae ae Pies woes onesies: Boe fs. hae aaa Siac a Ee ee ee Sie Se iN nuance Ea cell hein See _ See Pea rssar soe dence a WR eT 4A ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL ER Te ee mais duras (as invasSes normandas nfo tosem na Galia do Norte. senio uum século “depois des expedicoes francas ma ‘Aquitfnia. Mas, de qualquer maneira, na Gilia do Norte como na Gélia do Sul —estes diferentes critérios distinguem-se simplesmente com mais ou menos dic ficuldade — 0 declinio do quadro antigo € acompax nhado com trés mudancas essenciais. Em primeiro, Tugar, sob © choque das invasées do século 1%, «as, cidades tornam-se em auténticas fortalezasy. Isto & ver dade no Norte em face dos Normandos (F. Vercaute~ ren), mas também no Sul, ¢ a partir do século vin, perante os Arabes (mais tarde em face dos sarracenos, fe dos Normandos): os suburbia da Narbonense sto incendiados em 793; a cidade de Fréjus_¢ destrufda;, Nice jé nfo tem relagio episcopal em 788. A con- sequéncia destes perigos 6 (G. Duby) [5]. As cidades fecham-se sobre si proptias. A sua fungio comercial, sem contudo, desaparecer, diminui (uma oposiga0 Norte/Sul, subli- nhada por G. Duby, baseia-se no niimero das cidades- sfortalezas na Gélia do Sudeste: elas formam uma rede to densa que tornam ingteis, como noutras re- gides, a construgio de castelos rurais), Seguidamente, acontece muitas vezes que 03 suburbia no século 1 recebem cles proprios murathas fortificadas: Saint- Denis ¢ Saint-Bertin so desta forma dotados no séeulo Ix com um castellum ... Porque a muratha ‘meroyingia, mesmo restaurada, j4 néo esté adaptada & guerra de cerco, A consequéncia destes trabalhos, suplementares de fortificacdo € modificar completa mente o rosto das cidades: a arqueologia antiga ja se no deixa contemplar directamente. Finalmente, ¢ € ‘uma caracteristica dominante, se as antigas cidades propriamente galo-romanas ficam periclitantes, © mesmo, ao acontece nos confins do Nordeste do Ocidente latino. Nessa regiio aparecem nicleos urbanos com pletamente Noves, os portus, como Saint-Omer, Quen-— tovic (Mancha), Valenciennes ¢ Gante (Escalda), Na- mur e Huy (Mosa). Ora estas cidades novas ja nada devem a tradicio antiga, mesmo no dominio econé= = OE oR hai oF gules fe, Ott, ine de uma clivagem entre a Antiguidade ¢ a Idade Média nos deme Giessen Ne OD ee sempre estio na origem de sinteses tio claras como no caso Be Sa ane me see ere ees eae ca ee eee Ben fe ieee genta ch curs ic que @ evolucio do quadro urbano é tipologicamente andloga Sas cote gate wry crs iam ale seat a Anta oa Hee te cots Sn tsb ‘observam ma Galia do Norte (J.-M. Lacarta). Contudo, a — gies Gala hare Oe, Ura rn oct rs, ie mm 9, mn do coma Be Saker one on antes da invasio arabe. A contcaprova é muito simples de q ah Ses cna mite i pou oars care 2 Le Send ch oe ea ote nae ae ircuitos comerciais do mundo arabe tra as eidades Ua epee ieee eds ok tae Bee be pe ch i do eve aca ee onan ae ae em, tee, sae nue 4 Céndova do tempo doe calias © as cide des da cristandade ocidental, existe no século a a ee igs enge ‘Nowe foe €agminuer pemee, cee UHbaos ds conlauer uso Ga"Bulops Sebel (Sie chez-Albornoz) [8]. no gure eet eT 4A ALTA IDADE MEDIA OCIDENTAL “107 ‘Na Espanta ctisti nada de somelhante: a recessio urbana nfo essa send0 m0 século X, m0 preciso momento em que ‘ vida econémica renasce nas cidades entre o Liget © 0° Reno (Sinchez-Albornoz), Na Itélia observa-se um fendmeno, fandiogo, $0 as cidades que permanecem em contacto estreito com o| Império Romano do Oriente que dio a imagem ‘menos inflel de uma vida urbana A mansira antiga. Noutras regides, pelo contrétio, 2 ruralizaclo da cidade © a uri rizagie do campo (P.’ Toubert) realizamse no século VIII, 2) © campo Contentar-nos-emos com algumas observagSes a propésito do quadro rural: falta lugar para isso © ainda nio apareceram sinteses a este proposito, A Ita ia ea Espanha ndo nos deram o equivalente da Histoire de la France rurale, Comecemos pot um vivo contraste: no Verfio de 465, Sidénio Apolinirio des- creve a0 seu amigo a sua villa situada nas margens do Jago Aydat (20 km a sul de Clermont). Toda a carta indica que a aristocracia galo-romana vive num quadro natural completamente organizado em fungio das suas necessidades © dos seus gostos: Na direcgio de sudoeste encontram-se os banhos que se situam junto de uma falésia coberta de vegetacio, de forma que, se acontece proceder-se no alto dela a um corte de frva- res, 08 pedagos de madeira vém cair, numa queda por assim dizer espontinea, dentro do proprio forno. Neste lugar situa-se a sala dos Danhos quentes, a que esti contigua a sala dos perfumes, de dimensSes idénticas, com excepcio da grande banheira semicircular, em que a gua quente sai em jactos depois de ter circulado num labirinto de pequenos ttibos de chumbo que atravessam 0 muro [...] (Trad. ‘A. Loyen). Muito rapidamente os espagos naturais perdem o “seu cardeter ageadavel que conservavam no’ séeulo “mas cartas de Sid6nio Apolindrio. A natureza é, cada “vez mais, vista como um meio hostil. O tecido social encontra-se ai demasiado disperso. Primeiro sintoma_ esta mudanca, a presenga da floresta Pela sua espessura, pela sua massa, pela sua propria existéncia, a floresta onan no primeiro milénio’ como nos tempos. maik antigos, um papel estitico de fronteira © de refdgio (Ch, Higounet) [9]. A Floresta (silua) e 0s espacos que Ihe so apa: rentados (Galtus, extonsdes incultas de. pintanes, do moitas ...) invadem, pois, a geografia humana da 4 _ Alta Idade Média. A floresta ocupa as terras, isola a 5 fa_ocupa ras, isola Fesiics, insite (@aapoca vo porch aca ‘0-05 (direito de lignage). B um lugar de refdgio para a tea oh he Se _-monges —tomava-se, na realidade, necessério um, - substituto, para 0 auténtico deserto, facil de encontrar ‘no’ Oriente! —; escravos e colonos que rompiam com © patro; cultos pagios perseguidos pelas misses ctistds (em 641, em Noyon, Eloi manda incendiar, | pelos recém-convertidos, arvores sagradas) 5 da guera © da politica (Waltre, dugue da Aquitinia, vencido por Pepino, refugia-se na floresta de Vergt). ‘A Europa ocidental da Alta Made Média era ainda um mundo da floresta. O peso desta enorme sombra espalhava-se por todo o lado. Tina de se pensar de apir © de viver como ontem, mutatis: mutandis, nos pafses pionelt do hiemisterio americano’ [J resta no cede terreno sendo quando um certo impulso! demogrifico provoca arroteamentos (cf. su- A ALTA pra, p. 48). Localizacio, datago, amplidao destes. So’ ainda matéria para investigacdo. Modificarto sen- sivelmente 0 quadro rural nos séculos vit e. VIII no Ocidente? Em qualquer caso, de uma maneira sufi ciente para que esta mudanca seja percebida pel Colectividade? Perguntas ainda sem respostas certas Ha o direito de admitir, pelo menos em certas zonas privilegiadas, que os individuos tiveram consciéncia Eestas modificacées, uma ver que a toponimia mostra vestfgios (exemplo, essarts: exarta'). Segundo sintoma: a frequéncia das. catéstrof naturais, quer afectem o clima ou a saide. Nem a peste nem a fome poupam os potentes. Mas sem di- Vida que nfo se trata, evidentemente, de um acaso Se a doenca se difunde com tanta facilidade entre os desprotegides: 0 terreno & propicio a isso porque os corpos, mal alimentados, resistem poco. Deste lado € radical a oposigio entre as. gentes comuns (leigos fou io) ¢ 08 aristoeratas (religiosos ou nfo). Os cam= poneses nao tém direito ao pao branco e frequente- mente «papas de cevada ou de aveia substituiam 0 pao» (P. Riché) [10], Os ascetas mio fazem muitas vezes mais do que imitar pelos seus regimes ali- mentares os dos pobres: a admiragio que suscitam entre ‘0s pobres provém menos desta forma de viver — eles proprios estiio habituados a isso— do que do mérito Ge terem sabido renunciar 3s vantagens das mesas reservadas aos potentes. A clivagem entre pauperes © potentes da Alta Idade Média seri mais marcada neste dominio do que entre honestiores © humiliores no Baixo Império? Ter-se-& atenuado um pouco por oeasido do ressurgimento dos séculos vin ¢ 1x? Medir estes dados do quadro da vida rural exige uma his- {oria quantitativa que, por falta de dados, talver nunca chegue a ser feita. Nao somente 0 pobre € vulnerdv. 1 ‘Tretase de terrenos recentemente arroteados. (V, ‘mesmo em meio —, mas trata-se mal ou, pelo menos, de modo diferente do rico. Os grandes " guardaram, ‘na realidade, junto deles —ow fizeram Vir do Oriente— médicos que mantém tratamentos -¢ remédios da tradicio antiga (€ um médico grego, Anthimus, que escreve em meados do século vr um | De correctione ciborum para o rei Thierry). Nos cam- "pos nada de semelhante: curandciros ¢ feiticeiros usam receitas mifgicas ¢ encantos de que alguns santos se “vem pouco a pouco provides. O velo fundo da - cultura popular primitiva ressurge muitas veres, mesmo “Yagamente misturado com cristianismo (vejam-se os santos ¢ as fontes taumaturgas ainda hoje no Limou- ssin) © opde-se de uma forma radical & cultura aristo- critica sempre mais ou menos influenciada pela tradi- Bec clctn-y casei 8 amphat’ dan Toren € dos saltus, 0 3010 € pouco ocupado pelo homem, A depresstio demogréfica do Baixo Impétio (penuria | - Thominun) agravou-se. Isto € verdade aczrea, do. Oci- dente latino de uma forma geral. Ph. Jones [11] fala na Italia alto-medieval do aumento dos agri. deserti | devido muitas vezes a uma superesploracio das terras - agricolas. Relativamente & Galia, G. Fourquin dos- cfeve na época merovingia «sementeiras de povoa- _ mento». R, Dohehaert insiste na vio menos abastecer-se 3s feiras e mercados urbanos, por sua vex bastante fracos ¢ em que a sua propria area de trocas ¢ muito apertada, Desta forma, a tendéncia pata a constituicto de uma economia dominial autér- quica, mesmo se nao suprime completamente as corren- tes de trocas, causa uma modificagio profunda do quadro rural. Em que medida o curso desta evolugiio foi modi- ficado nos séculos vat ¢ 1x? Ilustrar-se-4 pelo caso, concreto do Lécio, que oferece um quadro rural pro- fundamente moditicado no século 1x, como 0 mostra~ ram os trabalhos de P. Toubert. O autor sublinhow. certamente que o sistema dominial nao se apresentou af de uma maneira rigorosamente «clissica» (Cf. su pra, p. 92). Mas aceitando uma definicdo mais larga, pode admitirse que 0 Lécio conheceu também, por seu lado, um movimento caracteristico de toda a Italia. P, Jones defendeu, na realidade, que , a exemplo da abadia de Farfa. Em seguida, favorecem a mobilidade da mao-de-obra. Os escravos manuais (serui manuales) sao libertos ¢ rece- ‘bem lotes; os outros escravos so libertados: a Igreja cconstitui deste modo uma classe tinica de camponeses livres quanto A sua pessoa e igualmente submetidos a um usum, a uma consuetudo loci, Esta massa indis- tinta [...] est madura, no inicio do século x, para um reagrapamento, © incastellamento pode comesat. Pode, por conse- guinte, afirmar-se que entre 750 e $50 0 quadro rural ‘mudou mais profundamente e mais largamente do que entre, 450 © 650. saber -156¢—2

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