Expresses Portugus 12.

ano

Textos Informativos Complementares

SEQUNCIA 2

EXP12 Porto Editora

A galeria dos heris em Mensagem

A Mensagem reafirma a cada passo a mesma repugnncia pelo carnal [].
So as potncias do invisvel, o mito (nada que tudo), a lenda, a chama que
desce a iluminar o heri, so essas potncias que, fecundando a realidade, tornam a
vida digna de ser vivida, ou melhor, transformam a existncia, mero vegetar, em vida,
quer dizer, promessa do que no h, perseguio do Impossvel, grandeza de alma
insatisfeita. []
Deus, ou os deuses, talharam o destino dos povos. As naes so todas mistrios. /
/ Cada uma todo o mundo a ss. Sem existir (as foras ocultas que valem), Ulisses
criou Portugal. Segundo o mesmo plano divino, por instinto, D. Tareja amamentou
o Fundador. Depois, a ideia foi encarnando sucessivamente nos homens que fizeram
Portugal. Nos momentos-cumes, o brao do heri movido pela vontade divina: O
homem e a hora so um s / Quando Deus faz e a histria feita. []
A Mensagem tambm um elogio do Portugus, desvendador e dominador de
mundos. O que o define no a nsia do poderio terreno mas a fome de Absoluto, um
ideal cujo escopo pertence alma interna. [] Os heris da Mensagem olham e agem
obsidiados por um misticismo de objeto longnquo, indeterminado. []
A galeria dos heris, que Deus sagrou em honra e em desgraa para a nostalgia e
demanda do Infinito (O mar sem fim portugus), est na Mensagem em funo do
futuro que nebulosamente prenunciam. Depois dos medalhes do Mar Portugus
vm os smbolos e avisos do Encoberto. O passado, na lgica misteriosa das naes,
inclui o porvir. Os pinhais de D. Dinis, ao serem agitados pelo vento, sussurram como
um trigo de Imprio, prefiguram o marulho das ondas que as naus profundas ho
de sulcar. O plano transcendente vai-se realizando, tem de ser. A predestinao nacional l-se nas trovas do Bandarra. Por isso o poeta sabe com ntima certeza que Portugal vai cumprir-se.
COELHO, Jacinto do Prado, 1990
Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa. Lisboa: Verbo (10. ed.)