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COORDENAÇÃO DE PROJETOS DE EDIFICIOS: UM SISTEMA PARA

PROGRAMAÇÃO E CONTROLE DO FLUXO DE ATIVIDADES DO


PROCESSO DE PROJETOS

José Francisco Pontes ASSUMPÇÃO


Professor da UFSCar, Rod. Washington Luís, km 230 - São Carlos - SP. Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo – PCC-GER São Paulo – SP. e-mail: assumpcao@linkway.com.br

Antônio Emílio Clemente FUGAZZA


Eng. Civil – Analisy’s Consultoria e Planejamento S/C Ltda. e-mail: emilio@analisys.eng.br

RESUMO
Este trabalho apresenta um sistema para o planejamento do processo de projetos de edifícios de
múltiplos pavimentos, baseado no uso de rede de precedências como técnica de organização e
planejamento deste processo.
O estudo do processo de projeto vem de encontro à necessidade de compatibilização das
informações geradas pelos diversos parceiros durante a etapa de desenvolvimento e coordenação
dos projetos, bem como o inter-relacionamento dos produtos e prazos necessários para o
desenvolvimento do empreendimento.
Outro aspecto relevante para o qual este trabalho procura contribuir é quanto a sistematização do
processo de coordenação de projetos, no que tange a disponibilizar ferramentas de auxílio para
programação e controle, considerando a grande quantidade de produtos gerados ao longo do
processo de projetos e a dificuldade de visualização de seus inter-relacionamentos.

1. INTRODUÇÃO
Este trabalho é resultado de estudo, desenvolvimento e aplicação de um modelo e sistema para
planejamento do processo de projeto de edifícios de múltiplos pavimentos, baseado na utilização
da técnica de rede de precedência, com a utilização de aplicativos de uso corrente no mercado.
Observando o processo de desenvolvimento de um empreendimento imobiliário, destacam-se,
basicamente, 5 etapas: [1] Estudo de viabilidade; [2] Desenvolvimento do produto; [3]
Desenvolvimento dos projetos executivos; [4] Desenvolvimento da obra e [5] Desligamento com
liberação para Habite-se, conforme é mostrado na figura 1.
O processo de projeto permeia entre estas etapas, iniciando-se por estudos de massa
desenvolvidos para a etapa de estudos de viabilidade / definição do produto e, a rigor, estende-se
até a conclusão da obra, através da elaboração dos desenhos “as built”, registrando as
modificações que ocorrem durante a obra.
Trata-se de processo bastante complexo, caracterizado pela participação de um grande número
de intervenientes (parceiros projetistas – entendidos aqui como os profissionais que elaboram os
projetos e os usuários ou clientes dos projetos), necessitando portanto de ferramentas adequadas
para sua coordenação.
Neste sentido, este trabalho é direcionado para dar suporte à coordenação de projetos, no que se
refere à programação e controle das atividades dos diversos parceiros envolvidos durante o
processo, apresentando-se como uma ferramenta que auxilia na programação dos produtos a
serem fornecidos (estudos preliminares, plantas referenciais, projetos pré-executivos e
executivos) e no inter-relacionamento entre projetistas, bem como no controle das datas de
entrega, verificando ocorrências em relação ao prazo de início da obra e/ou necessidades da
mesma.

Compra do terreno
Início da obra

Desenvolvimentos de Lançamento
projetos Entrega do obra

Estudo de
Viabilidade Desligamento
Desenvolvimento
do produto
Desenvolvimento
Desenvolvimento de projetos da obra
executivos

Figura 1 – Evolução do empreendimento e interfaces com as atividades de projetos.

2. AGENTES INTERVENIENTES NA EXECUÇÃO DE PROJETOS DE EDIFÍCIOS


Cada vez mais, edifícios para empreendimentos residenciais, comerciais e flat’s, demandam por
projetos compatíveis com a expectativa de mercado, no que tange ao atendimento das
expectativas do cliente na relação “PREÇO x QUALIDADE” do produto a ser construído.
Para atingir este objetivo é necessário o desenvolvimento adequado dos projetos tradicionais –
como arquitetura, estrutura e instalações – e também dos projetos complementares, de
adequação aos novos sistemas tecnológicos, tais como os de vedações, automação predial,
detecção, etc.
Uma proposta de classificação das diferentes especialidades e grupos de projetos é apresentada
na tabela 1.

GRUPO TIPOLOGIA / ESPECIALIDADE


Definição do produto (Definem a forma as Projeto de Arquitetura
características da edificação)

Complementares I (Necessários ao funcionamento Estrutura, Fundações e Contenções, Instalações hidráulicas / elétricas,


adequado da edificação) Drenagem, Exaustão, Pressurização, Ar Condicionado e Vedações

Complementar II (Complementos de instalações) Automação Predial, Áudio/ Vídeo/ Sonorização, Detecção, Acústica,
Luminotécnica

Especiais (Valorização do empreendimento) Paisagismo, Decoração, Comunicação Visual, Cozinha Industrial, Cyber room,
Fitness, etc.

Tabela 1 – Grupos de projetos e suas tipologias

Face às diferentes especialidades e complexidade do processo de projeto, recomenda-se que


cada projetista ou parceiro, tenha como “briefing” de projeto executivo, não somente informações
básicas do empreendimento, ou normas e procedimentos de execução, mas também um
cronograma de projetos executivos que mostre como seus produtos se inter-relacionam com o dos
demais parceiros.

3. O PLANO DE COORDENAÇÃO DE PROJETOS


Ao estruturar um modelo para planejamento do processo de projetos, é necessário o
entendimento do fluxo de desenvolvimento das ações e produtos decorrentes, para estabelecer as
relações, critérios e parâmetros que delimitem os prazos mínimos necessários na execução dos
produtos de cada parceiro, considerando-os parte de uma seqüência.
Neste plano de gerenciamento, devemos formular e responder perguntas como:
ƒ Quais as principais etapas do processo de projeto ?
ƒ Quais os produtos parciais e finais dentro de cada etapa ;?
ƒ Quais os requisitos necessários para se iniciar cada etapa ?
ƒ Os projetos de instalações devem ser desenvolvidos em conjunto com projetos de arquitetura e
estrutura, ou com vedações ?
ƒ Em que momento deve-se começar projetos de decoração e paisagismo ?
ƒ Quando se inicia a consultoria para elevadores (cálculo de trafego, dimensionamento de areas etc)?
ƒ Em que momentos devem ser realizadas reuniões de compatibilização entre os parceiros envolvidos no
processo ?
A resposta a estas questões leva à caracterização do fluxo do processo de projeto, que poderá
ser modelado através de rede de precedências, permitindo que se desenvolva sistema de
planejamento deste fluxo e se analisem estratégias mais adequadas para o seu desenvolvimento.
Os reflexos da estratégia adotada podem ser observados em uma análise de cronograma obtendo
informações sobre [1] o tempo necessário para o desenvolvimento de todos os projetos
executivos do empreendimento; [2] os prazos disponíveis para cada projetista de acordo com a
data de início da obra e; [3] a quantidade de reuniões de compatibilização necessárias, bem como
os produtos resultantes.

4. CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO SISTEMA


O sistema é estruturado através da técnica de rede de precedências, operada através de
aplicativos para ambiente Windows, tais como Microsoft Excel, Microsoft Project e Visual Basic,
de ampla utilização no mercado.
As atividades identificadas no fluxo de projetos são inter-relacionadas através da rede, permitindo
que se gere o cronograma global do processo, com informações referentes a prazos e datas para
conclusão dos produtos, permitindo também, a organização de cronogramas específicos por
parceiro projetista.
A estruturação do modelo em rede procura tirar proveito das características de padronização e
repetitividade do processo de projetos de edifícios, cujos pontos principais são destacados a
seguir:
1. Tipologia padrão de ambientes do edifício, onde todos edifícios possuem pavimentos de
embasamento, pavimentos tipos e de cobertura, para as quais se realizam projetos específicos;
2. Mesma característica de projetos para os ambientes e edifícios onde, independentemente do tipo de
empreendimento, todos possuem a necessidade de projetos básicos (Arquitetura, Estruturas,
Instalações), bem como de alguns projetos complementares (Instalações Especiais, Vedações, etc);
3. Mesma seqüência de desenvolvimento de projetos decorrente dos requisitos de se desenvolver um
produto a partir de uma etapa ou produto anterior;
4. Reuniões de compatibilização, onde em determinados momentos do processo são necessárias
reuniões para compatibilização entre projetos e negociações entre os parceiros projetistas;
Estas características possibilitam que se estabeleça para cada tipologia de empreendimento
(residencial, comercial, hotel ou flat), uma REDE PADRÃO, que modele o processo de projeto.
A partir desta REDE PADRÃO desenvolve-se a rede de um empreendimento específico,
acrescentando ou suprimindo atividades da REDE PADRÃO, conforme sejam as necessidades de
projeto que este empreendimento específico requeira.
Nesta linha o planejamento é gerado a partir de informações básicas que caracterizam os tipos de
projetos do empreendimento (quais projetos são necessários e em que módulos eles se
apresentam), e de características para sua realização (como duração dos projetos e inter-
relacionamentos especiais).
5. DESCRIÇÃO DA ESTRUTURA DO SISTEMA
Conforme já descrito o sistema está estruturado para trabalhar integrando 2 aplicativos de uso
corrente, disponíveis para compra em mercado aberto. Estes aplicativos são responsáveis por
operar os dois módulos em que o sistema é estruturado:
a) Módulo de entrada de dados e geração das informações para a rede de projetos: Desenvolvido através
do MS Excel com utilização da linguagem Visual Basic e aproveitando as rotinas e funções disponíveis na
planilha eletrônica;
b) Módulo de processamento da rede e geração das informações: Desenvolvido através do MS Project.
Estes módulos são integrados através da linguagem de programação Visual Basic contida nestes
aplicativos. Através desta linguagem, é possível criar uma interface para entrada de dados,
caracterizada por quadros de diálogos de fácil compreensão para o usuário.
Algumas premissas importantes foram adotadas quando da concepção do sistema:
[i] Facilidade operacional caracterizada por uma pequena quantidade de dados de entrada;
[ii] Relação amigável com o operador, no sentido de direcionar os passos, fornecer valores aproximados
como parâmetros para serem analisados, refletindo-se em linguagem próxima ao dia-a-dia do usuário;
[iii] Agilidade no processamento das informações;
[iv] Possibilidade de ajustar o sistema às necessidades do usuário e a sua cultura no trato das informações.
A seguir são descritos os dois módulos com que o sistema opera:

MÓDULO DE ENTRADA DE DADOS


As informações são introduzidas em planilha Excel, através de quadros de diálogos
orientados e formatados através de Visual Basic, para facilitar a interação com o usuário.
As informações são processadas, gerando a relação das atividades de projeto, suas
durações, projetistas associados e as vinculações lógicas entre as atividades.
Os quadros de diálogo estão assim estruturados:
1. Caracterização da tipologia do empreendimento e seus projetistas (Figura 02): o operador
preenche planilha disponível em Excel, informando as características do empreendimento e os
projetistas contratados.

Figura 2 – Caracterização do empreendimento e seus projetistas.


Figura 3 – Caracterização dos projetos existentes

2. Identificação da presença de projetos e módulos (ambientes) em que os mesmos serão


desenvolvidos (Figura 03): o usuário identifica que projetos serão necessários para o empreendimento,
e suas peculiaridades referentes aos mesmos.
3. Identificar os produtos de cada projetista, bem como o prazo de execução (Figura 04): etapa em
que se identifica e nomeia os produtos pertinentes a cada projetista, bem como o prazo de execução
com suas respectivas defasagens.

Figura 4 – Caracterização dos produtos de cada projetista bem com o prazo de execução

MODULO DE PROCESSAMENTO DA REDE E GERAÇÃO DE INFORMAÇÕES

Através de rotinas automatizadas, a planilha exporta os dados para o aplicativo MS-Project, onde
a rede é consolidada e processada, abrindo-se possibilidades de geração de informações que
caracterizam a programação de projetos. Estas informações mostram a seqüência de execução
das atividades de projeto, e também os projetistas envolvidos, ou seja:
ƒ Cronograma de projetos (figuras 05 e 06), caracterizando sua estratégia de
desenvolvimento, e a programação das atividades no nível tático:

Figura 5 – Cronograma de projetos executivos, exemplo para inter-relacionamento


entre atividades de instalações

Figura 6 – Cronograma de projetos executivos .

ƒ Cronograma específico de parceiro (figura 07), caracterizando as atividades específicas


de um determinado projetista permitindo a organização dos produtos a serem fornecidos
por este parceiro:
.
Figura 7 – Cronograma de projetos executivos específico para o projetista de estrutura

6. EVOLUÇÕES ESPERADAS
O sistema encontra-se desenvolvido e em operação, entretanto para que o mesmo possa
acompanhar o desenvolvimento do setor da construção civil e o avanço da micro-informática, é
necessário uma evolução constante na sua estrutura e concepção.
Neste sentido acredita-se que evoluções irão ocorrer pelo menos nas seguintes direções:
1. Flexibilização das rotinas de formação da seqüência lógica da rede, possibilitando maior
interação do usuário durante o fornecimento de dados, para que ele possa adequar o sistema ao
tipo de empreendimento e capacidade de coordenação da empresa.
2. Maior integração dos projetistas na formação das seqüências lógicas, procurando estabelecer
melhor o seu inter-relacionamento com os demais parceiros e, fornecendo subsídios para o
aprimoramento da concepção do sistema.

7. CONCLUSÕES
A programação do processo de projetos através de modelos informatizados, (porém fáceis de
operar), é inovador e pretende colaborar para a melhoria da atividade de coordenação de projetos
das empresas incorporadoras / construtoras.
O sistema apresentado, caracteriza-se como uma ferramenta de trabalho que dispõe de recursos
para auxiliar no processo de coordenação de projetos, apresentado-se como ferramenta
importante para gerenciar prazos e produtos.
Desta maneira, o objetivo deste texto foi o de discorrer sobre um sistema de planejamento voltado
para coordenação de projetos, que possa contribuir para a melhoria do quadro atual das
empresas do setor.
BIBLIOGRAFIA
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