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DO
UNIVERSO
O COLAPSO
DO
UNIVERSO
Tradução de
Donaldson M. Garschagen
5ª edição
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Ficha Catalográfica
CIP-BRASIL. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
Asimov, Isaac.
A857c O Colapso do universo / Isaac Asimov ; tradução de Do-
naldson M. Garschagen. — Rio de Janeiro : F. Alves, 1982 . 5ª ed.
1. Cosmogonia I. Titulo
CDD — 523.1
79-0638 CDU — 523.1
Partículas e Forças...................................................1
AS QUATRO FORÇAS.....................................................................................2
ÁTOMOS............................................................................................................6
DENSIDADE....................................................................................................10
GRAVITAÇÃO................................................................................................13
Os Planetas............................................................20
A TERRA..........................................................................................................20
OS OUTROS PLANETAS...............................................................................24
VELOCIDADE DE ESCAPE...........................................................................27
DENSIDADE E FORMAÇÃO PLANETÁRIA..............................................32
Matéria Comprimida...............................................38
INTERIORES PLANETÁRIOS.......................................................................38
Anãs Brancas.........................................................55
GIGANTES VERMELHAS E COMPANHEIRAS ESCURAS......................55
SUPERDENSIDADE.......................................................................................59
O DESVIO PARA O VERMELHO DE EINSTEIN........................................63
FORMAÇÃO DE ANÃS BRANCAS..............................................................66
Matéria em Explosão..............................................71
A GRANDE EXPLOSÃO................................................................................71
A SEQÜÊNCIA PRINCIPAL..........................................................................75
NEBULOSAS PLANETÁRIAS.......................................................................80
NOVAS.............................................................................................................84
SUPERNOVAS................................................................................................89
Estrelas de Nêutrons..............................................95
ALÉM DA ANÃ BRANCA.............................................................................95
ALÉM DA LUZ................................................................................................98
PULSARES.....................................................................................................101
PROPRIEDADES DAS ESTRELAS DE NÊUTRONS................................106
EFEITOS DE MARÉ......................................................................................111
Buracos negros....................................................118
VITÓRIA FINAL...........................................................................................118
A DETECÇÃO DO BURACO NEGRO........................................................123
MINIBURACOS NEGROS............................................................................129
O USO DOS BURACOS NEGROS...............................................................133
Fins e Começo.....................................................136
O FIM ?...........................................................................................................136
vi O Colapso do Universo – Isaac Azimov
BURACOS DE MINHOCA E BURACOS BRANCOS................................140
QUASARES...................................................................................................144
O OVO CÓSMICO.........................................................................................149
Apêndice.............................................................................................................155
AS QUATRO FORÇAS
* Quando dizemos que um objeto possui massa, queremos dizer que é necessária
uma força para fazê-lo mover-se, se está parado, ou para alterar a velocidade ou o
sentido do movimento, se já está se movendo. Quanto mais massa ele possui, mais
força é necessária. Em circunstâncias normais, aqui na superfície da Terra, os objetos
possuidores de grande massa impressionam nossos sentidos como sendo "pesados".
Quanto mais massa têm, mais pesados são. Entretanto, massa e peso não são coisas
idênticas, e embora o significado fique claro se dissermos que o próton é muito mais
pesado do que o elétron, é mais seguro dizer que "possui mais massa".
DENSIDADE
Ao se separarem os átomos ou moléculas de um dado fragmento de
matéria, devido ao aumento da temperatura ou por qualquer outro motivo,
passa a haver menos massa num determinado volume fixo daquela matéria.
Acontece o oposto se os átomos ou moléculas se juntarem mais.
A quantidade de massa por volume dado é dita densidade; em outras
palavras, quando a matéria se expande sua densidade diminui; quando a
matéria se contrai, sua densidade aumenta.
Usando o sistema métrico, os cientistas medem a massa em gramas e o
volume em centímetros cúbicos. Para darmos um exemplo típico de
densidade, um centímetro cúbico de água tem massa de um grama. (Não é
por coincidência; as duas unidades de medida foram definidas na década de
1790 para se ajustarem dessa maneira.) Isso significa que podemos dizer que
a água tem uma densidade de 1 grama por centímetro cúbico ou,
abreviadamente, 1 g/cm3.
As mudanças de densidade não são apenas questão de dilatação ou
contração. Substâncias diferentes têm densidades diferentes devido à própria
natureza de suas estruturas.
Os gases apresentam densidades muito inferiores às dos líquidos
porque são constituídos de átomos ou moléculas separadas, com pequena
atração uns pelos outros. Enquanto as moléculas dos líquidos estão
praticamente em contato, os átomos ou as moléculas dos gases movem-se
rapidamente, ricocheteando uns nos outros e assim permanecendo bastante
separados. A maior parte do volume de um gás é constituída do espaço vazio
entre os átomos e moléculas.
GRAVITAÇÃO
Até aqui estendemo-nos longamente sobre as forças nuclear e
eletromagnética e deixamos de lado a força fraca, considerando-a
relativamente sem importância para nossos objetivos. Contudo, praticamente
não fizemos menção à força gravitacional — e ela é a mais importante de
todas, no que se refere ao tema deste livro. Na verdade, falaremos tanto dela
que seria conveniente pouparmos algum esforço e nos referirmos à força
gravitacional simplesmente como gravitação, quando isso parecer natural.
A gravitação afeta qualquer partícula com massa, hádrions, léptons e
qualquer combinação deles — o que significa todos os objetos que vemos na
Terra e no céu. * Podemos agora expandir o Quadro 2, transformando-o no
Quadro 4 pelo acréscimo da força fraca e da gravitação.
* Há certas partículas sem massa, que não são afetadas, no sentido comum do
termo, pela gravitação. Por exemplo, as partículas de luz e de radiações semelhantes,
chamadas fótons (de uma palavra grega que significa "luz"), não têm massa. Outro
exemplo são certas partículas sem carga elétrica, denominadas neutrinos. Ambas
aparecerão mais tarde, neste livro.
* Há uma certa discussão a respeito disso, assunto que será abordado mais
adiante.
F = Gmm' (Equação 8)
2
d
OS OUTROS PLANETAS
A importância da determinação da massa da Terra está não apenas
nesse cálculo em si, mas também no fato de que ela permitiu aos astrônomos
determinar a massa de grande número de outros objetos no universo.
Temos, por exemplo, a Lua, o único satélite da Terra, que se encontra a
384.000 quilômetros de nós e que gira em torno da Terra uma vez a cada
período de 27 1/3 dias.
Mais precisamente, tanto a Terra como a Lua giram em torno de um
centro de gravidade comum. Exigem as leis da mecânica que a distância
entre cada corpo e seu centro de gravidade esteja relacionada com sua
massa; em outras palavras, se a Lua tivesse a metade da massa da Terra
estaria duas vezes mais distante do centro de gravidade do que a Terra; se
tivesse uma massa três vezes menor, estaria três vezes mais longe, e assim
por diante.
A posição do centro de gravidade do sistema Terra-lua pode ser
determinada pelos astrônomos, que o situam a cerca de 1.650 km sob a
superfície da Terra e a cerca de 4.720 km do centro de nosso planeta (Não
nos esqueçamos de que é o centro que importa no que tange a questões
gravitacionais). A Lua gira em torno daquele ponto, e o mesmo faz a Terra,
cujo centro bamboleia em torno desse ponto a cada 27 1/3 dias.
O centro de gravidade está 81,3 vezes mais distante do centro
da Lua que do centro da Terra, de modo que a massa da Lua é igual a
Mercúrio 0,37
Vênus 0,88
Terra 1,00
Lua 0,165
Marte 0,38
Júpiter 2,64
Saturno 1,15
Urano 1,17
Netuno 1,18
Plutão 0,4
VELOCIDADE DE ESCAPE
É o campo gravitacional da Terra que faz com que tudo que suba acabe
caindo. Qualquer objeto atirado ao ar com uma dada velocidade está
Mercúrio 4,2
Vênus 10,3
Terra 11,23
Lua 2,40
Marte 5,0
Júpiter 60,5
Saturno 35,2
Urano 21,7
Netuno 24,0
Plutão 5,0
Não!
RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO
Por que existirão tantas anãs brancas? Por que elas serão em número
de 4 bilhões somente em nossa galáxia?
Afinal de contas, uma estrela não se transforma em anã branca antes de
haver consumido todo seu combustível nuclear, e nosso Sol, por exemplo,
dispõe ainda de combustível nuclear suficiente para bilhões de anos. Talvez
se possa dizer o mesmo de um número infindável dos 135 bilhões de estrelas
que compõem nossa galáxia. Nesse caso, por que razão 4 bilhões dessas
estrelas viram esgotar seu combustível, expandiram-se e depois encolheram?
Ou vejamos o problema pelo ângulo oposto. Por que há tão poucas anãs
brancas? Se bilhões de estrelas utilizaram todo seu combustível nuclear e
chegaram ao fim, por que o mesmo não aconteceu a todas as demais
estrelas?
Para dar uma resposta a essas perguntas, precisamos saber
primeiramente qual é a idade do universo e, portanto, há quanto tempo as
estrelas se formaram. Poderemos então ter uma idéia do tempo em que elas
vêm usando combustível nuclear e da quantidade desse combustível que
ainda resta a ser fundido.
Mas como podemos afirmar a idade do universo?
A resposta a essa pergunta nasceu, inesperadamente, de um exame
dos espectros das estrelas.
Estudando-se esses espectros podemos dizer se uma estrela está se
movendo em nossa direção ou para mais longe de nós e, em ambos os
casos, com que velocidade. Se as linhas espectrais se desviam para a
extremidade vermelha do espectro, a estrela está se afastando de nós. Se
elas se desviam para a extremidade violeta, a estrela está se aproximando de
nós.
Evidentemente, cabe a pergunta: como podemos saber se o desvio para
o vermelho das linhas espectrais é causado por um afastamento ou por um
A SEQÜÊNCIA PRINCIPAL
Para começar, uma estrela nasce de uma massa de poeira e gás que
gira lentamente e que, por força de sua própria atração gravitacional,
lentamente se torna coesa. À medida que essa massa de poeira e gás
(espalhados pelo espaço como resultado da grande explosão) se une, a
O 0,00002 20.000
B 0,1 100.000.000
A 1 1.200.000.000
F 3 3.700.000.000
G 9 11.000.000.000
K 14 17.000.000.000
M 73 89.000.000.000
(Podemos pressupor, naturalmente, que tudo que for válido para nossa
galáxia será também para a grande maioria de outras galáxias. Não temos
nenhum motivo para acreditar que nossa própria galáxia seja particularmente
diferente.)
A pergunta seguinte é se as estrelas das várias classes espectrais levam
tempo diferente para consumir seu combustível nuclear e se, portanto,
algumas permanecem na seqüência principal mais tempo que outras e
retardam a expansão e a contração inevitáveis.
Se supusermos, por exemplo, que todas as estrelas começam suas
carreiras com uma constituição composta basicamente de hidrogênio, o
principal combustível nuclear, constatamos então que quanto mais massa
tiver uma estrela, maior será seu suprimento de combustível. Uma estrela O5,
com 32 vezes a massa (e portanto o suprimento de energia nuclear) do Sol
poderia (supomos apenas) levar 32 vezes mais tempo para consumir seu
combustível e assim permanecer tranqüilamente na seqüência principal um
período 32 vezes mais longo que o de nosso Sol — e um período 160 vezes
mais longo que o de uma estrela M5.
Contudo, as estrelas não consomem o combustível nuclear com a
mesma rapidez, independentemente de suas massas. Quanto mais massa
tiver uma estrela, com mais força seu próprio campo gravitacional consome
sua matéria e mais quente tem de ser seu núcleo a fim de compensar a
compressão gravitacional. Quanto mais quente for o núcleo, mais combustível
tem de ser consumido por segundo a fim de manter a temperatura. Em suma,
quanto maior for a massa de uma estrela, mais depressa ela tem que
consumir seu combustível nuclear.
Eddington pôde demonstrar, na verdade, que à medida que passamos
das estrelas de menor para as de maior massa o ritmo em que elas têm que
consumir seu combustível nuclear aumenta muito mais depressa que o
suprimento de combustível nuclear. Em resumo, ainda que uma estrela O5
NEBULOSAS PLANETÁRIAS
Quando uma estrela se contrai e se transforma numa anã branca, sua
massa, sob a influência de sua própria gravidade, se contrai e se torna cada
vez menor, até que o fluido eletrônico comprimido no núcleo torna-se
bastante resistente a uma contração adicional para suportar o peso das
camadas de matéria sobre ele.
Quanto maior for a massa de uma estrela em contração, com mais força
ela se encolherá e mais intensamente comprimirá o fluido eletrônico.
Para fazermos mais uma analogia, a situação é semelhante à dos pneus
que sustentam um automóvel. O peso do carro comprime o ar dentro das
Estrelas de Nêutrons
ALÉM DA ANÃ BRANCA
ALÉM DA LUZ
Em 1911 o físico austríaco-americano Victor Francis Hess (1883-1964)
demonstrou que algumas formas de radiação muito fortes atingem a Terra,
vindas do espaço; por isso, foram chamadas de raios cósmicos.
Os raios cósmicos compõem-se de núcleos atômicos muito velozes,
carregados eletricamente, que com toda certeza se originaram nos milhões
de supernovas que já explodiram em nossa galáxia. Entretanto, como os
raios cósmicos são carregados eletricamente, seus caminhos descrevem
curvas, em respostas aos vários campos magnéticos associados às estrelas
e à Galáxia como um todo. Terminam chegando até nós de todas as
direções, e não há nenhum meio de sabermos de qual direção específica
PULSARES
EFEITOS DE MARÉ
Existe um outro efeito gravitacional que podemos desprezar na
superfície da Terra, mas que adquire importância primordial nas vizinhanças
de uma estrela de nêutrons. É o efeito de maré.
A intensidade da atração gravitacional entre dois objetos de massa dada
depende da distância entre seus centros. Por exemplo, quando estamos em
pé na superfície da Terra, a intensidade da atração gravitacional da Terra
sobre nós depende de nossa distância até o centro da Terra.
Contudo, nem todo o corpo da pessoa se acha a mesma distância do
centro da Terra; os pés estão quase dois metros mais perto do cento da Terra
do que a cabeça. Isso significa que os pés são mais atraídos para a Terra do
que a cabeça, pois a atração gravitacional aumenta com a distância. Essa
diferença na atração gravitacional entre duas extremidades de um objeto é o
efeito de maré.
Em circunstâncias normais, os efeitos de maré não são prenunciados.
Imaginemos uma pessoa corpulenta, com 2 metros de altura e 90 kg de peso.
Se ela estiver de pé ao nível do mar, nos Estados Unidos, as solas de seus
pés estarão a aproximadamente 6.370.000 m do centro da Terra. Digamos
que estejam exatamente a essa distância. Nesse caso, o alto de sua cabeça
estará a cerca de 6.370.002 m do centro da Terra.
A atração gravitacional no alto de sua cabeça é igual a (6.370.000 /
6.370.002)2 vezes a atração gravitacional nas solas de seus pés. Isso
significa que a atração sobre seus pés é aproximadamente 1,0000008 vezes
maior que a atração sobre sua cabeça, o que equivale a dizer que ela está
numa roda de tortura, com o alto da cabeça e as solas dos pés sendo
distendidas pelo peso de 0,000071 kg — mais ou menos o equivalente a
* Entre essa categoria de pessoas incluo a mim mesmo, uma vez que (come
leitor talvez saiba) sou um escritor de ficção científica de alguma reputação.
pequena fração de 1% da massa do combustível. Mesmo as reações
nucleares liberam apenas cerca de 2% da massa. Um objeto que rodopie em
direção a um buraco negro ou, em certas condições, que passe perto dele
sem verdadeiramente colidir pode converter até 30% de sua massa em
energia.
Além disso, somente certas substâncias podem ser queimadas para
proporcionar energia; apenas certos núcleos atômicos podem ser fissionados
ou fundidos para gerar energia. Entretanto, qualquer coisa criará energia ao
cair num buraco negro. O buraco negro é uma fornalha universal, e tudo
quanto exista e tenha massa é seu combustível.
QUASARES
Na década de 1950 detectaram-se fontes de ondas de rádio que, a um
exame mais detido, pareciam ser muito compactas, surgindo de áreas
puntiformes no céu. Normalmente, as fontes de ondas de rádio encontradas
naquele tempo vinham de nuvens de poeira ou de galáxias e, por isso,
apresentavam-se mais ou menos espalhadas por uma área maior do céu.
Entre essas fontes compactas de ondas de rádio estavam as conhecidas
como 3C48, 3C147, 3C196, 3C273 e 3C286. (Muitas outras foram
descobertas desde então.) O 3C é abreviatura de Third Cambridge Catalog of
Radio Stars (Terceiro Catálogo de Radioestrelas de Cambridge), lista
compilada pelo radio astrônomo inglês Martin Ryle (1918-).
Em 1960 as áreas contendo essas fontes compactas foram investigadas
pelo astrônomo norte-americano Allen Rex Sandage (1926-) e, em cada caso,
as ondas pareciam provir de uma estrela pálida. Contudo, havia indícios de
que talvez não fossem estrelas normais. Várias delas pareciam estar envoltas
em tênues nuvens de poeira ou gás e uma delas, 3C273, mostrava sinais de
NÚMEROS EXPONENCIAIS