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Eleserambárbarossanguinários.

Matavamvelhose criançase escravizavam


por dinheiro.Massemosbandeirantes
o paísterminariaemSãoPaulo.
POR ANDRÉ T ORAL, COM GIUUANA BASTOS

lha do Bananal, atual Estado

Ide Tocantins, ano de 1750. Um


grupo de homens descalços,
sujos e famintos se aproxima de
uma aldeia carajá. Cautelosamen-
te, convencem os índios a permitir
que acampem na vizinhança. Aos
poucos, ganham a amizade dos
anfitriões. Um belo dia, entre-
tanto, mostram a que vieram. De
surpresa, durante a madrugada,
invadem a aldeia. Os índios são
acordados pelo barulho de tiros
de mosquetão e correntes
arrastando. Muitos tom-
bam antes de perceber anai- \o}
ção. Mulheres e crianças &ri" '" .~
tam e são silenciadasa golpes _~
de machete. Os sobreviven~ ~:
tes do massacre, feridose ~
acorrentados, iniciam,
sob chicote, uma mar-
cha de 1 500 quilôme-
tros até a vila de São Paulo-
como escravos.
Foi assim, à força, .,
que os bandeirantes con- .;
quistaram o Brasil. Caça-
dores profissionais de
gente, chegaram alu-
gares com os quais
Pedro Álvares Ca-
bÍ'al nem sonharia.
Nas andanças em
busca de ouro e ín- Ias nos atuais Peru, Argentina, Bolívia, ção que intrigava até os inimigos. O
dios para apresat; Uruguai e Paraguai. Espalharam o ter- padre jesuíta espanhol Antonio Ruiz
~." - 'l descobriram o Ma- ror entre os povos do interior do conti- de Montoya (1585-1652), por exem-
~IJ s..' to Grosso,Goiás, nente e expandiram as fronteiras da plo, escreveu que os paulistas, a pé e
}., " '. Minas Gerais e América portuguesa. Uma história descalços,andavam mais de 2 000 qui-
Et~. .~ ' ,Tocantins. Per- brutal. Mas, se não fossem eles, você lômetros por vales e montes "como se
~.it~j .
... - correrame ata- talvez falasse espanhol hoje. Os maio- passeassem nas ruas de Madri". A co-
~' ~. ~. I"" caram povoa- res trunfos desse avanço eram o co- ragem deles também era extraordiná-
~ \ {. ções espanho- nhecimento do sertão e uma disposi: ria. Além de terras desconhecidas,
, ~.,""
Tocaiana madrugada
P~raatacaraldeiasindígenas,osbandeirantesorganizavambandosarmados.
,;~:~~,::'_'m~~. ~.

O o chefe da expedição era um sertanistabrancoexperiente.em geralaparentadocomos


demais expedicionários. Muitas vezes era o próprio empresário. Cabia a ele conseguir
financiamento e reunir seus escravos, agregados e parentes para a incursão.

o Oscasar,
filhos costumavam se engajar nas expedições desde os 13 ou 14 anos. Ao se
recebiam armas, correntes e índios emprestados de pais e parentes, para
montar sua própria expedição e. assim, arrebanhar seu primeiro patrimônio
-
escravos índios.As bandeiras eram um negócio familiar. Uma
expedição pequena, uma . armação. , reunia uns vinte homens.

o (ndios, geralmente escravos guaranis, eram a infantaria.


Andavam nus ou vestidos com trapos. Serviam como guias,
batedores, caçadores e cozinheiros.

':~~<rl. . ';~ Semelesnãohaviabandeira.


=1i~<J... / ~~;:_ O Oarcoe flechaeraumadasarmasmais

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usadas, tanto por brancoscomopor
índios. Suas vantagens
.
erama leveza,o
silêncio7a velocidade.
Umíndio
. disparavaaté seteflechasno mesmo
Intervalode tempo emquesecarregava
de muniçãoumarcabuz.

o Oalfanje.umaespécie
desabrecurto,eraa
armabrancamaiscomum.Serviapara
combates
corpoacorpo.

oerafeitodecouro
Ogibão,tambémchamadodecoura,
deanta,maisgrosso,
para resistir a flechadas.

.'
.
o Omosquetão eraumtrambolho
queprecisava
sercarregado .
'. pordois.Detãopesado.
precisavaserapoiadonum
tripé.Media1.75metro
decomprimento.

odepeledeanta.
A gualteiraeraumaespécie
Protegia
dechapéu
a cabeça
como

CI
\ umcapacete.
~ ...~. >

\'~ i-~~
\ ~~ ,.~...

sempre enfrentaram tenúveis grupos desertos humanos, owpados, depois, A origemdo termo "bandeira"
lem váriaseJCPIicações.
A mais
indígenas dispostos à briga. E nem por súditos portUgueses.Por isso, hoje aceitaafirmaqueasgrandes
sempre se davam bem. Muitos morre- quase não se vêem índios em São Pau- eJCPE!dições
queassaltaramas
ram de fome, em terras estéreis, ou lo, Minas Gerais, na Bahia e no Nor- missõesjesuíticasno suldo país.
noséculo
XVII, eramformadas
crivados de flechas. deste em geral. No aniversário de 500 pordiversas~hias,
Os grandes perdedores, nQ entan- anos do Descobrimento, a SUPERtraz identificadas.cadalI11a,por
um retrato desses homens e da aventu- bandeiras.Como ~ esse
to, foram os índios. Nas mbos visitadas passoua sero nomegenérico
pelos bandeirantes não ficava palha ra que desenhou, com violência, um dasma.sões de apresamentD
sobre palha. Muitos territórios viraram novo mapa do Brasil. de fndiosdospaulistas.

C I Ilustração
Jean& Cris 2 Fotomontagem
NewtonVerlangieri

/1
HISTÓRIA

De costas A aldeia urbana


para o mm; de ConheçaSãoPauloem 1601.
olho no sertão
'&1
~{i
~q'
Detodos os núcleosde coloniza-
çãoponuguesano Brasildo século
-.. XVI, São Paulo era o único que não fi-

':; "
-~À cava no litoral e não dependia do
comércio com a Europa. A sobrevi-
vência da vila, nos seus primór-
Córrego
Anhangabaú I~
.....
...
r.~9r.!~,~~..~~~.t-
~
~"" Rio.fa'manduatel

dios, era garantida pela esper- CâmaRide


ta política de alianças do caci- .~~.~~~.....
que tupiniquim Tibiriçá, que ,. ......
havia casado sua filha com o Colégio : ..:<'~
"" ... dosJesuítas
.................................... i
ponuguês João Ramalho. Seus
guerreiros conseguiam cativos de o
outras tribos para as lavouras dos .. I
primeiros colonos.
Ao perceber que não conse-
J:Francisco
Igtija de S.
guiria chegar pelo sul do Brasil
às cobiçadas minas de ouro e
prata do Peru, a Coroa por-
tuguesa abandonou os pau-
listas à própria sone. Aos
bandeirantes restou a explo-
ração do ouro vermelho, os ín-
dios. Assim começou o "negó-
cio do senão", como era cha-
mado o ofício da caça de gen-
te, base da economia paulista
até o século xvm. Umarraial entre rios
A mão-de-obra escrava foi
a base do desenvolvimento de Um dos limites urbanos era o CÓITego As ruas não tinham placas.
Anhangabaú, hoje centro elacidade. Um Os endereços eram indicados com
prósperas plantações de trigo
muro de taipa O protegia a delade de .
referências do tipo ao lado da
no século XVIao XVII,vizi-
nhas à cidade. ÁIeas ru- ataques de tribos inimigas. Do outro lado
do rio era tudo mata.
cadeia. eou .vizinho ao padre.,
Havia cerca de 150 casas.
rais, como Cotia e Santa-
na de ParnaJ.oa, abaste- A riqueza estava no campo. Perto da vila As ruas eram desertas . O
ciaID São Vicente e Rio de estendiam-se fazendas de trigo O ' que A população passava a maior parte do
Janeiro, os centros produ- era exportado para o litoral,e plantações tempo em fazendas- ou no sertão, atrás-
tores de açúcat; a maior de marmelo. O doce. muitas vezes vendido de índios. Fundado em 1554 pelos
mercadoria da colônia. com o peso adulterado, deu origem ao jesuítas, o Colégio de São Paulo foi
'~té há pouco pensa- termo . marmelada. . o primeiro ediflcio da cidade.
va-se que os bandeirantes
capturavam índios para ex-
ponar para as plantações quantO houve índios, o interior de São um endereço. Primeiro porque as
Paulo foi o celeiro do Brasil colonial. ruas não tinhaID nome. Depois, não
.~J." de cana ~o litoral", disse à
;,J'Fr SUPERo historiador John Se o campo era rico, o mesmo conseguiria, mesmo, entender os
~ r "'.. Monteiro, da Universi- não se pode dizer da precária vila, paulistas: quase todos eles eraJ.Dín-
dios ou mestiços e falavam a "língua
. 't+ ,: dade Estadual de CaID- que em 1601 tinha apenas 1 500 ha-
\ '..:,.9''f' pinas. ''Mas hoje sabe- bitantes. Em nada se comparava à geral", um dialeto tupi. Aliás, o nome
-,l
:'; ; ~.~:t. mos que a maioria solidez dos núcleos canavieiros do completo da vila era São Paulo de Pi-
'. 'I'.
,,;1 ~~:
"1' ~ .~.
.'

SJ,
V.
. .
..,

~
' r"',"io

.
dos cativos ia para

_
as lavouras
dos pr~prios
Nordeste, como Olinda ou Salvador.
São Paulo era umas poucas casas de
pau-a-pique espalhadas no meio do
mato, entre ruas sujas e barrentas
ratinininga, que quer dizer "peixe se-
co" no idioma indígena. O ponuguês
era de uso quase exclusivo da mino-
ria branca. Segundo o historiador
~~~.~.
~ __o ban~emm-
tes, res- (veja infográfico). Sérgio Buarque de Holanda, 83% da
":' salta. En- Um visitante sofreria para achar - população paulista no século XVIIera
t. ,. ...J
~ .\
. ~ .

. ~. @ 1 Ilustração
Jean&(ris 2fotomontagem
NewtonVerlangieri
'".?-QO. a~
i , ~ ,
'.'~iI.
o
Galpão, doce galpão
" dasparedesde taipa A dava
A grossura
às casas o aspecto de fortaleza. Pordentro.
eramgalpõescomdepósito. ofiànae cozinha.
.;:. J
... Nãohaviabanheiro. Asnecessidadeseram
feitasnoquintal.A mobíliaseresumia
a tamboretese baús..
. Nãoexistiam~artos nemcamas, mas
haviaredesU emtodososcantosdacasa.
Comonasaldeiasindígenas,cadamorador
.I tinhaumafogueiraO aoladodasuarede.
SãoPaulotinhamuitaflorestaemvolta
eo dimaeramaisfrio.
....
Armas. haviaemabundânàa:
escopetas.
espingardas,bacamartes.arcos,
flechas,
espadase alfanjes.Ecorrentes
paraamarrarescravos.

.";.
Gente estranha
O
Asmulherespaulistas eramconhecidas
como . tapadas..porandarem
semprecobertas
-, porpanosescuros, dacabeçaaospés.A maioria
.. falavamaioportuguês.

Escravasíndias.. a maiorparteguaranis,
auxiliavam
nastarefasdomésticas
enaroça.
Eraperigosoumamulherandarsozinha. Bandos
\ \
deíndiosarmados,
atracavam-se
a mandodefamOias
emplenocentrodavila.
rivais,
\
OspoI,ICosbrancos. tinhamaspecto

. ameaçador.Andavam
e arcoeflecha.
armadosdepunhais

tp~O
~---=
~
~1<~ '
~cas
~Quem
.,~
.

e branco
vêumbandeirante
~-y~~"""~
;,..:.~ ',~
<. '~
~ ;:';.'[)J4.-
~,,~:,_
à louçaportuguesa. ~~
misturados
numapinturaoficialimaginaque Achoutambémum j:. --:.:;'
elesmoravamem vastascasas polvarinho,um recipientede ~.i.t.i .; -"

senhoriais.Nadadisso.As
residênciaspaulistaseram
madeirausadoparaguardar
pólvora. Como as malocas
R ~ ."
~ .

indígena. O bilingilismo só acabaria verdadeirasocascom paredesde familiarestupis, ascasas


de vez em 1759, quanto a língua ge- taipa. "Havia uma mistura das tinham redesespalhadas
ral foi proibida> pelas autoridades influênciaseuropéiae indígena", por todos os cantos.
porruguesas, por decreto. disseà SUPER a arqueóloga Também foi encontrado
Em São Paulo, rico era quem ti- MargaridaAndreatta, da carvãode váriosrestos
Universidadede Mogi dasCruzes. de fogueira, o que sugere
nha talheres - só dez famílias pos-
suíam - e camas. Isso mesmo; ca- Escavandouma casade 1650 no que cadahabitante tinha
mas. Em 1620, um representante do hoje movimentadobairro do um fogcxle-chão
Tatuapé("caminho do tatu". em ao lado da rede.
rei de Porrugal em visita à cidade sim-
tupO,na zona lesteda capital paracozinhare
plesmente não tinha onde dormir. A
paulista,Andreatta descobriu seaquecernos
solução foi confiscar a única cama de-
fragmentos de cerâmicaindígena diasfrios.
cente da cidade, que pertencia a um
cidadão chamado Gonçalo Pires.
HISTÓRIA

Por cima do A Batalhade M'bororé


Tratadode Derrotafreouexpansãoescravagista.
A maiorderrotabandeirante em1641noRioM'bororé.afluente
aconteceu
Tordesilhas doRioUruguai.Umbatalhãodeguaranis
Francisco
Xavier,
e guaranis-itatim
hojenaprovindadeMisiones,
Argentina.
daMissãodeSão
enfrentoue venceu
umafrotade130canoas, com350bandeirantese 1200índios.Ospaulistas
A cidade de Guaíra é hoje um foramsurpreendidos por70canoasarmadas comarcabuzes earcos.
Aluta
discreto centto produtor de soja durouseisdias.Foio fimdasexpedições
paulistas
àsmissões espanholas.
com 30 000 habitantes, 680 quilô-
mettos a oeste de CuriuÕél,no Para-
ná. Em 1600, no entanto, tinha im-
portância estratégica. Chamava-se
Ciudad Real de! Guayra e era capi-
tal da província de Guayrá, subor-
dinada a Assunção, capital do
Vice-Reinado do Prata espa-
nhol. O Guayrá abrangia
80% do atUalterritório paranaense.
.7. Localizadadenttodasterrasatri-
buídas à Espanha pelo Tratado de
\ -
Tordesilhas que em 1492 dividi-

~.~
L.: ~ ra os territórios espanhóis e por-
tUgueses na América - a pro-
VÚlciaabrigava vilas espanho-
las e doze missõesjesuíticas, que
congregavam grande parte dos
índios guaranis da região. Era
uma verdadeira mina de escra-
vos para os paulistas, já que os
guaranis eram um povo agríco-
la que falava um idioma seme-
lhante à língua geral de São
Paulo. Só que os padres e fa-
zendeiros espanhóis impe-
diam o acesso dos índios aos
colonos portugueses. Por isso,
os moradores de São Paulo de-
fendiam abertamente uma in-
vasão militar da região. Mas
Portugal insistia em
manter uma política de
boa vizinhança com os
espanhóis e respeitar a
fronteira.
Foram os próprios
caste1hanos que cutUca-
ram a onça primeiro e vie- Paulo. Era o começo do fim do Tratado torze missões jesuíticas espanholas.
ram apresar índios perto de Tordesi1has. Cada uma tinha entte 3 000 e 5 000
de São.Paulo. Era a des- Nos anos seguintes o território das índios, o que daria entte 33 000 e
culpà que os bandeiran- missõessofreu na mão dos bandeiran- 55 000 índios escravizados.
tes esperavam. Em tes. Logo as expedições militares que Nesse apresamento, os bandeiran-
1619, um exército de partiam de São Paulo passaram a ata- tes tiveram um auxiliar poderoso: as
2 000 índios e 900 car também as missões de Tape, con- epidemias contraídas pelos índios dos
mestiços invadiu al- quistando a maior parte das terras que espanhóis, uma vez aldeados nas mis-
deias e missões no séculos depois formaria o atUalEstado sões."Muitasvitórias dosbandeirantes
Guairá, captUrando do Rio Grande do Sul, além das mis- no Guayrá podem ter ocorrido porque
guaranis. Hordas sões do Itatim, hoje no sul do Mato os guaranis já estavam enfraquecidos
~\ foram enviadas Grosso do Sul. Segundo o histori- pelas doenças", ressalta o arqueólogo
jI-~~ aco rrentadas ador John Momeiro, até 1641 os Francisco Noe11i,da Universidade fe-

~
~
."',.''.
'. .~ para São paulistas destruíram entre onze e ca: deral de Maringá, no Paraná.
. ..." {I. . e 1 Ilustração Jean & Cris 2 Fotomontagem Newton Verlangieri
;A.B.:R,il'~z'o
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Ospaulistasque ?'-
~U!\~ACIO~::;.
escaparam
' damorte..- -.~ ~ ~
:
nono
foram~. dos /-~- 1 I E!..C I~YRA

pelos.9!@!,~J~:!!atil1!._,;; , j
na margem. Antigo mapada província do Guayrá,
parte do více-reinadoespanholdo Prata.
O território hispânico corresponde
" Rn~ tb ~r.." do atual Paraná

o avanço dos paulistas sobre o ter-


ritório espanhol só diminuiu depois da
derrota para os guarnrus na Batalha de
M'bororé, em 1641 (veja acima). De-
pois daquela data, a caça ao índio pas-
sou a ser praticada por expedições me-
nores. Uma vez encerrado o apresa-
mento fácil dos bons escravos guara-
nis nas missões, os bandeirantes mu-
daram de rumo: passaram a buscar,
no noroeste de São Paulo, índios mais
selvagens, que não plantavam e não
falavam tupi, os bravos jês. VlI'araIl1-
se para o Centro-0este.

ARfi.
Caçadahumana ~ .,

Sem os escravos guaranis, as plan-


tações de São Paulo entraram em
declínio. Os recursos passaram a
ser canalizados para á busca de
ouro e pedras preciosas, como es-
Astáticas

~v
O
deguerra
dospaulistas'II\~,.

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1'~tes dapartidadasban~ras,esaavos
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iam na frentee plantavam roças de milho


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e mandioca em pontos estratégicos
meraldas, mais ao none. As ban- muitas viraram ddades, como a atual
deiras se esticaram. Em 1648, An-
tonio Raposo Tavares (1598- 1!'.. . (SP).Aviagemera marcadaem
Batatais
funçãoda colheita.
1659) viajou 10 000 quilôme-
tros a pé e de canoa, de São \ 'I
Paulo ao Paraguai, e de lá até
Mato Grosso, Amazonas e Pa-
rá. Andou quatro anos.
lâ!- ..
Ao mesmo tempo, as expe-
dições de apresamento de índios
tomaram-se menores, multipli-
~;it ~
cando-se as armações, as entra-
das familiaresque reuniam uns
vinte homens. Eram modestas,
mas eficientes. Uma das tribos 2 As expediçõesmenores,asarmações,
saiamemfilademadrugada. Oshomens
sistematicamente caçadas e escra- andavam até10quilômetrospordia.Não
vizadas a partir de 1670, a dos go- tinhamvoltamarcada:o importante
era
yás, acabou dando o nome ao Es-
tado onde vivia: Goiás.
. aprisionar
quantosindiospudessem.

Em 1692 a persistência ex-


pansionista foi recompensada
com a descoberta de jazidas em
Ouro Preto, no atUalEstado de
MínasGerais. Tão logo a notí-
cia do ouro chegou a Ponu-
gal, a Coroa distn'buiu os di-
reitos de exploração a lusos
e comerciantes do Rio de
Janeiro, passando a
perna nos bandeiran-
tes. Para pionu; con-
3 Achada aaldeiaaseratacada,
paulistas
amolavam
os
facas,machetes
e
trabandistas da Bahia . alfanjes.
Bagagem,
doentes
e feridoseram
também se meteram deixadosnoacampamento.
por ali. Os paulistas
reagiram. Em 1709,
armaram-se em ban- capitania de Minas Gerais.Wa Ricade 1719, quando a notícia da descoberta
dos de índios e mame-Ouro Preto virou capital. das minas de Cuiabá chegou a São
lucos e partiram para Aos bandeirantes restou continuar Paulo, seus habitantes migraram em
cima dos forasteiros, procurando ouro. Alguns, como Bano- massa em direção às lavras do distante
chamados de emboa- lomeu Bueno da Silva (1672-1740), o arraial. Surgiram, assim, as monções
bas ("galinhas de b0-
Anhangüera, paniram atrás da mítica - as expediçõesfluviais.
ta", em tUpi).A Guer-
Serra dos Martírios,cujosmontes -di- Mas chegar até o eldorado não era
ra dos Emboabas zia-se - eram feitos de ouro puro. De- fácil. O extermínio dos guaranis-itatim
acabou em 1711 pois de três anos vagando pelo cerrado, do Mato Grosso, décadas antes, havia
com a expulsão Anhangüera achou metal precioso nas provocado um efeito colatera1: a mi-

,
.
.~~
_ r dos paulistas.
Com eles to-
ra,cnou-se
~m 1720,
a
terras dos goyás e fundou, em 1725, a
cidade de Goiás.
As descobertas atraíam bandeiran-
tes como ímã, mas não só eles. Em-
gração dos paiaguás para o Rio Para-
guai, bem na rota das monções. Os
paiaguás formavam frotas para assal-
tar os barcos dos paulistas. Para com-
Q 1Ilustração
Jean&Cris 2Fotomonragem
NewtonVerlangieri3 FotoPauloZanettini
.

Cidades fantasmas
4 Osataques exploravam
ribir resistências
a surpresa.
Para
valiaaterrorizar,
o arqueólogo
Paulo - já que essatécnicade
Zanettinificouespantado construçãoera marcaregistrada
"1atando crianças
e queimandogente quando tromboucom um muro dos paulistas.Ascidades
M. Depoiserafeitaacarga,como de pedra de 300 metrosde fantasmasforamprovavelmente
"'1aiornúmeropossível
deíndios
amarrados eacorrentados. extensãono meiodo mato, na construldaspor exploradores
Serrada Borda,atual municlpio que, para fugirdo
de Pontese lacerda, no oeste recolhimentode impostos
de MatoGrosso."Acheique nas minasde Cuiabá,
estivesseem uma rulnainca", migrarampara o oeste a partir
lembra-se.Maso que Zanettini de 1720.Arraiaissemelhantes
encontroufoi um capitulo foram identificadostambémno
esquecidoda históriadas alto RioTocantins,em Goiás."O
bandeiras.Aqueleenorme tamanho delesdá uma idéiado
muropertenciaa um que esseshomensfizeramna
_!!m!I~L~.mJ",~~gde ouro buscado ouro", disseo
1doséculoXVIII.Em1988, arqueólogoà SUPERo Sua
~ Zanettiniidentificouvestlgiosde ganânciaera tanta que ~
1
1
trêscidadesde pedrana
SãoVicente,VilaBela região:
e São oessesarraiaisacabou
mineralem todos r ~· 11.
1 FranciscoXavierda Chapada. em menosde vinte
i Naúltima,há restosde taipa, anos. Ascidadesforam
plicat; eles se aliaram a outra poderosa
tribo, a dos guaicurus, que usavam ca-
I indk:ioda presença bandeirante engolidas pelo ma"'.
valos roubados dos espaIlhóis. O pode-
rio dessa aliança indígena foi suficiente
para levar os castelhanos, em 1740, a
fazer um tratado de paz com eles, algo
inédito na América até então. Em
1727, depois do massacre de uma
monção, os portugueses declararam
guerra aos índios. Os conflitos termina-
riam em 1782, com um annistício. Os
guaicurus, que atualmente se chamam
kadiwéus e moram no Mato Grosso do
Sul, até hoje se orgulham disso.
.-

~
~ ~& HISTÓRIA

1ropa de Quempe'rdeu o Brasil ~

choque no Naçõesindígenasforamdesalojadastôu extintaspelasbandeiras.


Vejaasterrasinvadidase asrpigtaçõesfotçádasdealgunsgrupos
Nordeste
o bispo de Olinda, dom Fran-
cisco de lima, ficou honorizado
quando recebeu, em 1694, a visita
do paulista Domingos Jorge ~o.
Diria depois que "era o maior selva-
gem com quem já havia topado" e
que foi preciso um intérprete, pois o

t
.

brutamontes só falava tupi. O ban-


deirante havia sido contratado pelo
governador de Pernambuco para aca- '> ci:';;~,. . ~ fi,..
bar com o pesadelo dos senhores de
~~Yii'\ . ."1!t
engenho nordestinos: o Quilombo
dos Palmares, na Serra da Barriga,
.,
~- :.~"~.~ ';A"~- :
"'

~;t
"
~. :'. 1'
oeste de Alagoas.Palmaresera um ~~"

~
"

conjunto de aldeias fonificadas


'".
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~~~, ;" " .
' ~c F::,;#'
."""'
.
.
.~
.". ~. -.~~~;
."~"- ,
que abrigava escravos fugidos
. ~

~
0 ~_
~

- mas também índios, muçul-

~
.' 1 ~

~
.

'<. ';'.~ :'." ,,'


L
~
manos, brancos marginaliza- ..

.
. .
;p .
dos e judeus (veja SUPER.nO
11, ano 9). Desde 1654, seus . . ....
~
-",<,.
~ -
-",'.
~ .
",

guerreiros resistiam aos ho-


landeses e às expediçõesmilita-
res mandadas contra eles. Mas ,.li;" ""i-:~~:' " .
não resistiriamaos fudios e :~~~"
mestiços guerreiros do "selva-
gem"Jorge~o -que, aliás,
falava e escreviaem português.
O bispo exagerou no desdém.
Como Domingos Jorge \e-
lho, outros bandeirantes embar-
caram para o Nordeste entre 1
1657 e 1720 atendendo a cha-
mados de administradores re-
gionais. O objetivo era comba- .'. .
ter grupos indígenas que não

-
aceitavam a ocupação de ~-
suas terras pelos criadores ,
GUAlCURU
de gado. As guerras con-
tra os índios eram consi-
deradas 'Justas" e os cati- ção de vários grupos nordestinos, c0- africanos, que custavam o dobro, as la-
vos eram declarados es- mo os anayos, os maracás e os jan- vouras do interior paulista se estagna-
's.Criou-seassim duins. Muitospaulistas receberam ter- ram. Com isso, o "negócio do sertão"
o "sertanismo de ras e viraram criadores de gado na re- perdeu o motol: Os bandeirantes, que
éontrato", com gião do Rio São Francisco. se lançaram como gafanhotos sobre o
bandeirantes Com o fim da expansão minerado- sertão por 200 anos, haviam descober-
convertidos em ra e das guerras contra os índios no to um novo país. Mas acabaram tão p0-
mercenários, Nordeste, o ímpeto bandeirante arre- bres quanto antes. 0
recebendo os feceu. Em São Paulo, o declínio demo-
fudios que PARA SABER MAIS
gráfico dos escravos e a dificuldade
capturassem crescente de repor a mão-de-obra das Negros da TelTa - Indlos e Bandeirantes
como paga- fazendas do interior acabou pondo a nas Origens de São Paulo, John Manuel Moo-
mento. O re- economia paulista em xeque. Na pri- teiro, (ia. das Letras, 1994.
sultado foi a meira metade do século XVllI,sem ín- O Extremo Oeste, Sérgio Buarque de HoIanda,
-Brasiliense, 1986.
elimina- dios e sem poder comprar escravos
C 1 IlustraçãoJean & Cris 2 Fotomontagem Newton VerlangierilMaurício lara
3 Dilennando Cabral 4 Antonio Gaudério 5 Joana Zatz
Holocausto brasileiro
o Brasilé uma invenção recente. grupos, como os goyás, os janduins, os Goiás hoje estão em Tocantins. São
Quando Cabral chegou, havia inúmeras guarulhos, os araés, os guaranis-itatim e os xerentes.
nações indrgenas, divididasentre si em outros cujo nome nem se sabe. Mas sua Os bandeirantes souberam
pequenas tribos, que viviamem guerra intervenção nem sempre era direta. manipular os ódios intertribais.
umas com as outras. A conquista se fez Como num jogo de bilhar,os grupos que Poupavam tribos com as quais
aos pedacinhos. Para transformar tanta fugiam dos ataques paulistas invadiam as mantinham comércio, como os
terra em um pais só, foi feita uma vasta terras dos outros, iniciando novos ataques guaianás, e compravam escravos de
limpeza étnica. Estima-se que em 1500 e revides sangrentos. Ao migrar,forçavam outras, como os caiapós do sul.
havia 5 milhões de indioSno Brasil.Hoje outros grupos a se deslocar. até novo Estes últimos passaram de
eles são 300 000 (0,2% da população) e território. Foio caso dos akwes, de Goiás, fornecedores a mercadoria, e
ocupam 12% do território brasileiro.O que a partir de 1720 se dividiramem fugiram ele seu antigo território,
lingüistaAryon Dall'lgna Rodrigues, da dois. Parte deles fugiu para a região do a região do Triângulo Mineiro.
Universidadede Brasflia,calcula que Araguaia, território tradicional dos Foram parar no norte de Mato
existiam 1 200 Irnguas. Hoje há 180. carajás. O conflito empurrou os migrantes Grosso, onde só seriam
No Centro-Sul e Nordeste do pars, o mais para o oeste, até o atual cerrado encontrados de novo em 1967.
genocidio foi executado, na maior parte, mato-grossense, onde estão até hoje. São Descobriu-se, só então, que a tribo
pelos bandeirantes. Elesextingiram vários os atuais xavantes. Os que ficaram em se autodenominava panará.

Panará Goyá
~~
Caiapó
Anteschamados caiapós do Atriboquebatizao EstadodeGoiásfoi Antigoshabitantes
doTocantins.
sul, sairam de Minas e foram completamente extinta (não restou sequer emigraram parao Paráe MatoGro
parar no norte de Mato umaimagem). Ninguémsabecomoeram, Sófariamcontatopacíficocomos
Grosso. São 161 indivíduos. quelínguafalavamnemcomoviviam. a partirde1950.São4 000incfrví

Xerente Guarani Xavante


São parte do grupo akwe que se Foramasprimeiras vítimasdasbandeiras. Originalmente
partedogrupo
dividiu durante os ataques dos Segundoo historiadorparaguaio akwe,fugiramdeGoiásparao
bandeirantes a Goiás. Moram em BartolomeuMeliá,erammaisde800000 Araguaiae depoisparao Mato
Tocantins e sã9 1 500 indivíduos. em1600.Hojesão30000emtodoo país. Grosso,
ondeestãoatéhoje.
São7100.

Carajá Guaicuru
Quase TerrordaregiãodoPantanal
dizimados e Chacoparaguaiode1720
duranteo a 1780,fizeramacordosde
séculoXVIII, pazcomosportugueses
sãohojeum eosespanhóis. Hojehá
grupode 1200deles,quesechamam
1000 kadiwéuse moram
indivíduos. nóMatoGrossodo Sul.

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