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Um exemplo de aula experimental

O presente texto tem como intuito comparar a aula experimental de hebraico


disponibilizada em formato vídeo no endereço http://hebrewonline.com/Utils/Play-
Movie-EN.asp?Source=9 com o projecto de aula experimental que apresentei no
âmbito da disciplina de “Psicologia da Aprendizagem On-line”, integrada no Mestrado
em “Gestão de sistemas de e-Learning”. Focar-me-ei, portanto, nos aspectos relativos
aos processos psicológicos de ensino-aprendizagem presentes no referido vídeo,
enunciando aqueles que iria manter bem como os que acrescentaria no meu próprio
projecto.

No que respeita à aula de hebraico, há alguns aspectos que adoptaria enquanto


promotora de um curso on-line. O primeiro deles prende-se com a motivação revelada
pelos alunos que ingressam o curso em questão pois é sabido que um aluno motivado
mais facilmente se empenhará e obterá um melhor rendimento escolar. Para o efeito,
recorreria quer ao reforço positivo efectuado pela professora relativamente à
performance bem sucedida dos alunos (tecendo comentários como “muito bem” ou
“são todos excelentes alunos”), elevando a sua auto-confiança, quer a um ambiente de
aprendizagem colaborativo. No vídeo em questão os alunos descrevem o seu período
de férias aos colegas, sendo que a partilha permite aos mesmos não só referir
momentos por ele vivenciados mas também ouvir as experiências dos demais colegas,
alargando o seu leque vocabular (pela descrição de sítios visitados, actividades
realizadas, por exemplo) e aplicando as estruturas da língua-alvo (como os advérbios
de lugar – “aqui”, “ali” e “acolá”…). Estudos demonstram que a sensação de “partilha”
origina um ambiente propício à aprendizagem pois no seio do mesmo não se sente a
pressão da competição e os alunos sentem-se mais à-vontade para arriscar e colocar
dúvidas.

No que respeita ao feedback, além do reforço positivo, outro vector importante a


considerar é a possibilidade oferecida por um sistema de e-Learning de conferir um
feedback síncrono ou assíncrono. Um aspecto pertinente apontado por uma aluna
entrevistada foi a “flexibilidade” (espacial e temporal) do curso e que, na sua opinião,
o tornavam atractivo e estimulante. À semelhança da sua professora, também
utilizaria ora mecanismos como a vídeo-conferência para o treino da competência oral,
ora o e-mail ou forums para um acompanhamento dos alunos aquando das sessões de
estudo, oferecendo-lhes um retorno preciso e em tempo útil, de modo a motivá-los e a
contribuir para a melhoria das suas aprendizagens. Não esqueçamos, igualmente, que
uma das vantagens oferecidas pelo e-Learning é facilitar um ensino “inclusivo” que
permita aos aprendentes conciliar encargos familiares e profissionais ou problemas de
saúde com a vida escolar. Acrescente-se que, no vídeo visionado, pessoas de
diferentes países (com fusos horários distintos) tinham igual oportunidade de
participar nas aulas, facto possível devido a um agendamento das sessões síncronas
que respondesse às necessidades dos agentes envolvidos no processo de ensino-
aprendizagem.

Se por um lado a criação de um ambiente favorável à aprendizagem (ou de uma “base


estável” a partir da qual os alunos possam arriscar e dar largas à criatividade) é de
extrema importância, não menos importante é o modo como os conteúdos são
explorados. Assim sendo, estes devem ser abordados de acordo com o
desenvolvimento educacional dos aprendentes, ou seja, centrando-se nas suas
características individuais. Para que os mecanismos de “assimilação” e “acomodação”,
primeiro referidos por Piaget, tenham lugar, é necessário que o aprendente parta do
seu conhecimento base, o confronte com novos conhecimentos, reajuste o seu
universo cognitivo com base nas novas descobertas e as incorpore na sua prática
quotidiana. A meu ver, partir de eventos experienciados pelos alunos (como as férias)
é uma forma de brainstorming ou de evocar conhecimentos anteriores que serão
comparados/ contrastados com o dos colegas, adicionando-se, assim, novos
conhecimentos (vocabulares e linguísticos) aos seus reportórios. O trabalho de casa
proposto pela professora (descrever a ida a um novo local comentado/ descrito por
todos aquando da sessão síncrona), é uma actividade (ou problem solving) adequada
quer para sintetizar aspectos pertinentes, quer para aplicar e incorporar o vocabulário
e as estruturas gramaticais aprendidos num discurso próprio. Além disso, o role-play
ou a simulação de diálogos (como cumprimentar alguém ou responder a um
cumprimento) são uma boa forma de preparar os alunos para enfrentar situações
reais. Em última análise, o facto de o aluno se envolver socialmente e participar na
construção do seu próprio conhecimento constituem os moldes da chamada teoria
sócio-construtivista. Esta teoria atribui um papel activo ao aluno no processo de
ensino-aprendizagem, reponsabilizando-o pela construção do seu próprio
conhecimento e atribuindo-lhe uma autonomia crescente.

No vídeo referente à aula de hebraico não é, contudo, referido se a professora recorre


a instruções ou formula questões que levem os alunos a reflectir acerca da resolução
de problemas ou, em termos gerais, acerca de processos metacognitivos. De modo a
auferir a maturidade e experiência dos alunos relativamente à auto-regulação da sua
aprendizagem, talvez fosse útil começar por fazer uma diagnose das dificuldades dos
alunos relativamente ao domínio cognitivo e metacognitivo. Caso a diagnose ou as
actividades realizadas pelos alunos revelassem deficiências no referido domínio,
caberia ao professor auxiliar os mesmos a pensar sobre as estratégias mais adequadas
para realizar as diferentes tarefas propostas, bem como a planear, corrigir e executar
as tarefas, monotorizando/ avaliando a sua realização em função dos objectivos
estabelecidos e das observações do professor e dos colegas. A nível motivacional, seria
importante, caso o gosto por aprender não fosse motivação intrínseca suficiente,
tornar mais claros os benefícios de aprender uma língua estrangeira, como a
capacidade de aceder a uma mundividência e a uma cultura diferentes ou de nos
conseguirmos expressar melhor num mundo cada vez mais poliglota.

Por fim, uma vez que não temos acesso à totalidade dos recursos didácticos utilizados
pela supracitada professora, convém ter presente que estes devem contemplar
diversos formatos. A natureza do ensino de uma língua estrangeira tem inscrito um
carácter plural pois uma língua para ser vivida tem de ser ouvida, falada, escrita e o
sistema linguístico que lhe subjaz tem de ser conhecido. Tendo presente o enunciado
por Gardner de que “no processo de ensino, deve procurar-se identificar as
inteligências mais marcantes em cada sujeito e tentar explorá-las para atingir o
objectivo final, que é a aprendizagem de determinado conteúdo”, na aula
experimental a elaborar procurarei privilegiar a inteligência Verbal / Linguística
(mediante exercícios de compreensão escrita, por exemplo); a Lógico / Matemática
(mediante o estudo das regras gramaticais e da sua aplicação); a Visual / Espacial
(mediante a análise de imagens ou filmes); a Somato / Quinestésica (, por exemplo); a
Musical / Rítmica (audição de músicas/ diálogos); a Interpessoal (através do debate ou
do role-play) e a Intrapessoal (promovendo momentos de auto-reflexão e auto-
avaliação).

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