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\o\\2[o¥ DIFAMACAO ABUSO DE LIBERDADE DE IMPRENSA. OMISSAO COMPARTICIPACAO CO-AUTORIA DIRECTOR DESISTENCIA DA QUEIXA RECURSO PENAL, NAO PROVIDO 1-O n.°3 do artigo 65° da Lei n.° 32/2003, de 22 de Agosto (Lei da Televisio), nifo se refere & comparticipagdo criminosa mais A punibilidade da omissio, fazendo recair sobre o director um dover de garante, em consonfineia com o previsto no n.”2 do artigo 10° do Codigo Penal, ¢ estabelecendo para 0 omitente uma moldura penal atenuada, Il -O director, como qualquer responsavel por uma omissiio imprépria, s6 pode ser punido quando, recaindo sobre ele 0 dever de agir, nfo fenha actuado (dolosamente ~ artigo 13° do Cédigo Penal) podendo té-lo feito. I~ A autoria fundada numa omissio dolosa em nada interfere com a co- autoria daqueles que tenham eventualmente assumido um comportamento activo. E uma responsabilidade por facto préprio e nao por facto de outrem, IV ~ Todos sio responsaveis pelo evento, se bem que a sua contribuigio para ele seja diferente. ‘V~ Por isso, «a apresentagao de queixa contra um dos comparticipantes no crime torna o proeedimento criminal extensivo aos restantes», VI~ A desisténcia de queixa nfo pode deduzir-se do facto de o assistente se ter conformado com a decisio do Ministério Pablico de arquivar os autos quanto 20 director, nem muito menos de nfo ter incluido todos os eventuais responsiveis na queixa oportunamente apresentada, Acordam, em conferéncia, no Tribunal da Relagio de Lisboa: 1-RELATORIO 1~ O Ministério Puiblico, no inicio do despacho que encerrou a fase de inquérito do proceso n,’ 1369/03,0TASTB, antes de deduzir acusagdio, nomeadamente contra os arguidos LF e MJ pela priitica, no dia 7 de Maio de 2003, de um crime de difamagio agravada cometido através da comunicagfo social, conduta p. e p. pelos artigos 26°, 180°, n.° 1, 183°, n,” 2, 184°, 132°, n.° 2, alinea j), ¢ 386° do Cédigo Penal e artigo 65°, n2 1, da Lei n." 32/2003, de 22 de Agosto, disse, nomeadamente, 0 seguinte (fls. 322 2 325): «ld, id. a fis. 2, apresentou queixa, designadamente, contra JM, LF, MJ, RC e VC, & data jornalistas da estagao de televisdo «Sociedade ..., S.A.» imputando-thes a pritica i de factos sugceptiveis de integrar 0 crime de difamacdo, na forma agravada, p. e p. pelos arts, 26% 180%, n.° I, 183° n.°2, 132°, n° 2, alinea j) € 386° do Cédigo Penal artigo 65°, n,°1 da Lei 32/2003, de 22 de Agosto. Apresentou, também, queixa contra JC, jornalista, BR, jornalista, & data, ambos a exercer funcées no jornal «Didrio ...» imputando-lhes igualmente a prética de factos susceptiveis de integrat o erime de difamagdo, na forma agravada, p, ep. pelos artigos 26%, 180°, n.° I, 183%, n.° 2, 184° ¢ 132%, n.*2, alinea j) e 386° todos do Cédigo Penal, conjugaio com o disposto nos artigos 30°¢ 31°, n.°I da Lei 2/99, de 13 de Janeiro. Em sintese, alegou que no dia 7 de Maio de 2003 a estagto de televiséo S... transmitin no seu noticiério, emitido és 20h00, uma pega jornalistica, na qual se disse que haviam sido detidas funcionérios dos Servicas de Financas de ..., um dos quais o respective director, «por suspeita de corrupedo na administrasto fiscal» cujos autores foram LF, JM, MJ, VC ¢ RC. E que, no 8 de Maio de 2003 foi publicada no jornal "Didrio .." uma nottcta cujos autores foram os arguidos BR e IC, na qual se referin também que haviam sido detidos Sunciondrios das Finaneas, um dos quais o Director Distrital de ... (JJ) os quats seriam suspeitos da prétia de factos susceptivels de integrar crimes de corrupetio activa e passiva A data o participante JJ exercia fungbes de Director da Direcgo Distrital de Finangas de su Nilo apresentou quelxa contra os respectivos Director (artigo 19° da Lei de Imprensa) e Director de Informagdo (artigo 31° da Lei de Televisio). Nenhum dos denunciados exercia & data fungBes de director de tal jornal ou de director de informagiio da estagao de teleyistio em causa. Atendendo a qualidade do ofendido tal licito assume natureza semi:ptiblica - eft. artigo 188°, 184°, 132°, n.*2, allnea j) ¢ 386%, todos do Cédigo Penal, Questo que tem vindo a ser debatida pela doutrina e jurlsprudéncia é a de saber qual 4@ responsabilidade de tuis individuos, atendendo ao estatuldo no artigo 31° n.°3 (1) ¢ 65% n.°3, respectivamente da Lei de Imprensa e da Lei de Televisa. Ou sefa, se relativamente as noticias que emitam as estagdes de televisto ou que sejam publicadas em jornais a responsabilidade penal dos respectivos director e director de informacdo assume a natureza de co-autoria relativamente @ dos autores das noticias em causa ou se pelo outro lado a respectiva responsabilidade é autnoma da dos autores de tais noticias, Parece-me que se trata de responsabitidaies autonomas (2). Ou seja, julgo que para se thes imputar a pritiea de factos qualificades como crime é necessério que para além da divulgagdo das noticias susceptiveis de integrar 0 mencionado crime de difamacdo, na forma agravada, se verifiquem os requisitos, legalmente definidos, ou soja, que tais individuos tenam a possibilidade de se opor @ divulgacho das noticias endo o facam, podendo fazt-lo, tendo obviamente conhecimento do teor das noticias em causc. A responsabilidade criminal nos crimes cometidos através de imprensa cabe aos autores dos textos e imagens, sendo os respectives directores penalmente responséveis quando nizo se oponteam & divulgagito das noticias podendo fazé-to, ou seja quando omitam 0 procedimento adequado & comissio do crime, obviamente quando nenhuma responsabilidade Ihes deva ser imputada na elaboragio das noticias em causa. Em meu entender, a responsabilidade penal dos directores néo se assume como co- autoria, por nito se verificar em tais situagdes uma actuacdo conjunta, querida por todos em igualdade de circunstiincias, néo podendo afirmar-se que actuem de forma concertada na execucito de um plano por todos querido (3). Assim sendo, parece-me que os directores ile informagito nfo deve ser acusados apenas em razéo das fungées que exercem, impondo-se que thes possam ser imputados factos dos quais resuite a sua responsabilidade ao ndo se oporem é divulgagdo de tais noticias podendo fazé-l0, isto é, impoe-se que contra estes Sejam apresentados factos dos quais resulte que tiveram oportunidade de se opor di divulgaedo das noticias e nao 0 figeram. Pelo que, entendo que sendo autonomiadveis a responsabilidade dos autores das noticias e a dos respectivos directores, sendo objecto de imputacées penais distintas, 0 Ministério Piiblico sé possui legitimidade para a promocéo do procedimento se 0 ofendido, nomeadamente, manifestar vontade de que se proceda criminalmente contra os directores de informagéo, imputando-thes a prética de factos dos quais resulte a respectiva responsabilidade criminal — artigo 49° do Cédigo de Processo Penal. Nito foi apresentada queixa quanto ao director do «Didrio ...» nem contra o director de Informagiio da 8... Pelo que determino, nesta parte, 0 arquivamento do inquérito, nos termos do disposto no artigo 277°, n.° I do Cédigo de Processo Penal. Notifique o ofendido — artigo 277%, n.° 3 do Cédigo de Proceso Penal, Dé conhecimento aos arguidos, com edpia do despacho que antecedey. Os arguidos L¥ e MJ requereram a abertura de instrugio (fis. 395 a 400) suscitando, logo no inicio do requerimento apresentado, a seguinte questo prév «d~ 0 Assistente néto apresentou queixa contra o Director da S.... apesar de conhecer 4 sua identidade, como em regra a maioria da populagito portuguesa. 2—Com tal conduta, 0 Assistente desistin da queixa contra o mencionado director. 3 ~Mais, foram diversas as reportagens sobre a matéria em causa, com a "vor off” de vérias jornalistas, cuja identidade o Assistente nao quis apurar, sendo estas também comparticipantes do alegado itfeito em causa, 4— Ao contrério do defendido pelo despacho que encerrou o inquérito, a conduta do director ou quem o substitua néo sto auténomas, da do autor da peca, 5~Isto porque, o crime de difamacao sé se considera praticado, com a emissio da reportagem em causa, uma ver que 56 assim é que esta se torna piiblica, 6~ Ou seja, apesar de um jornalista elaborar uma reportagem, sé por si ndo é garante de que a mesma é emitida, 7-5, por isso, necessdrio e fundamental a intervencéo de um terceiro, que ordene a emissiio da reportagem em causa ~o director ou quem o substitua, 8—Nos presentes autos, o Assistente niio quis perseguir criminalmente, os respousdveis pela ordem de emissito das reportagens em causa, 9— Estamos pois, perante desisténcia de queixa, o que aproveita os restantes nos termos do disposto no artigo 116° do CP. 10~ 0 mesmo se diga quanto @ nito deducto de queixa contra as diversas jornalistas

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