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estava pensando já há algum tempo na etimologia de verdade

no grego.
alethéia é, salvo engano, não-esquecimento.

mnemosine é então a padroeira de todos os que procuram a verdade.


é preciso não esquecer.
nunca.
daí a história: fatos como são,
a coisa em si, realidade.

mas ninguém sabe o que cabe naquilo que não foi esquecido.
a angústia do funes, personagem de borges,
reconstituindo com perfeição cada segundo que vivera,
detalhes vivos durando horas tornam uma lembrança insuportável,
saco sem fundo:
a memória, hipertexto num hiperespaço.

esquecer não é a mesma coisa que não lembrar.


esquecer parece ativo.
precisa da vontade para escolher o que esquecer.
esquecer é se deixar absorver numa atividade que não coloca em jogo
nenhum interesse material ou metafísico.
sem causa-efeito nem deus ex machina.
esse esquecimento
que faz entrar num presente contínuo ou gerúndio espiralando.

pequenas poças de paz o tempo coagulado, eternidades efêmeras


onde molho os pés descalços no devir, e o arrepio chama
felicidade.

felicidade e verdade não vivem junto


(?)

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