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Universidade católica do porto

Faculdade de educação e psicologia

Professor/Família/Aluno:
uma relação (des)necessária no
ensino do instrumento

Daniel Dias, Emília Alves, Jonas Pinho

PRojecto de intervenção

Unidade curricular: ensino, avaliação e aprendizagem


Professora Luísa orvalho

Porto 2010
ÍNDICE

1. A ESCOLA
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ESCOLA PROFISSIONAL DE MÚSICA DE ESPINHO 3
1.2 CARACTERIZAÇÃO DO PROJECTO EDUCATIVO DA EPME 5

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 INTRODUÇÃO 6
2.2 REVISÃO DE LITERATURA 7

3. MÉTODO
3.1 PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO 9
3.2. O OBJECTO DE INTERVENÇÃO 10

4. CONCLUSÃO 12

BIBLIOGRAFIA 13


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1. A ESCOLA
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ESCOLA PROFISSIONAL DE MÚSICA DE ESPINHO

Fundada pelo Professor Mário Neves em 1960 com o apoio do então Presidente da Câmara Eng. Manuel
Baptista e numa época de pioneirismo musical a nível de província, a Academia de Música de Espinho,
inicialmente apenas com algumas dezenas de alunos e alguns professores, foi-se desenvolvendo no ensino
das disciplinas musicais dentro do quadro dos programas oficiais dos Conservatórios de Música.
Neste contexto, leva a efeito desde 1964 os Festivais de Música de Verão que trouxeram até Espinho, pela
primeira vez, conceituados artistas e agrupamentos nacionais e estrangeiros, iniciativa que entretanto evoluiu
e que constitui hoje o Festival Internacional de Música de Espinho, um dos mais conceituados Festivais
de música erudita em Portugal, actualmente na sua 36ª edição.
Em 1989, como entidade promotora e tendo como base o Decreto-Lei 26/1989 de 21 de Janeiro (revogado
pelo Decreto-Lei nº 70/1993 de 10 de Março), criou a Escola Profissional de Música de Espinho que
passou a ministrar dois cursos praticamente inexistentes até então - Prática Orquestral e Percussão –
assegurando um papel de grande destaque na formação de instrumentistas em Portugal. A Portaria nº
681/1990 de 18 de Agosto, cria os Cursos de Prática Orquestral e de Percussão a funcionar na EPME e
aprova os respectivos Planos de Estudo, posteriormente alterados pela Portaria nº 280/1992 de 2 de Abril.
O Decreto-Lei nº 74/2004 de 26 de Março, rectificado pela Declaração de Rectificação nº 44/2004 de 25 de
Maio, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei nº 24/2006 de 6 de Fevereiro, rectificado pela
Declaração de Rectificação nº 23/2006 de 7 de Abril, estabeleceu os princípios orientadores da organização e
gestão do currículo, bem como da avaliação e certificação das aprendizagens do nível secundário de
educação, definindo a diversidade da oferta formativa do referido nível de educação na qual se incluem os
cursos profissionais vocacionados.
A Portaria nº 550C/2004 de 21 de Maio, com as alterações introduzidas pela Portaria nº 797/2006 de 10 de
Agosto, rectificada pela Declaração de Rectificação nº 66/2006 de 3 de Outubro, veio regular a criação,
organização e gestão do currículo, bem como a avaliação e certificação das aprendizagens dos cursos
profissionais de nível secundário. A criação dos Cursos de Instrumentista de Cordas e de Tecla e de
Instrumentista de Sopro e Percussão foi efectuada, respectivamente, ao abrigo das Portarias nº 220 e
221/2007 de 1 de Março, que definiu também os Planos de Estudo destes mesmos cursos. O Decreto-Lei nº
74/2004 de 26 de Março retira o estatuto de ensino especial a estes cursos, passando a oferta a poder ser
efectuada por qualquer Escola Secundária.
Em 2006 a EPME oferece, pela primeira vez, o Curso Básico de Instrumento criado ao abrigo da Portaria nº
531/1995 de 2 de Junho. O Decreto-Lei nº 4/1998 de 10 de Março, estabelece o regime de criação,
organização e funcionamento de escolas e cursos profissionais no âmbito do ensino não superior.
O estatuto do aluno rege-se pela legislação em vigor para o ensino regular, sendo a publicação mais recente a
Declaração de Rectificação nº 12/2008 de 18 de Março, que rectifica a Lei nº 3/2008 de 18 de Janeiro. O
Despacho nº 30265/2008 de 24 de Novembro, visa esclarecer os termos de aplicação do disposto no estatuto
do aluno.


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Em cada ciclo de formação, entre 95% a 100% dos alunos graduados da EPME prosseguem os seus estudos
no ensino superior, sendo admitidos nas mais prestigiados instituições artísticas tanto nacionais como
internacionais.
O Projecto Educativo da Escola Profissional de Música de Espinho privilegia a procura permanente de
experiências profissionais relevantes, nomeadamente através da realização de estágios de formação e
apresentações em contexto real de trabalho, mantendo simultaneamente uma forte preocupação em fornecer
uma sólida formação científica e uma formação integrada que responda a diferentes necessidades dos alunos.
Por outro lado, atenta na valorização da atitude do indivíduo enquanto cidadão e enquanto Homem,
atribuindo um particular enfoque na sua capacidade de rever e definir regras de uma forma responsável e
democrática, formulando juízos de valor próprios sobre a sociedade em que está inserido, respeitando os
outros em princípios de justiça e solidariedade e reconhecendo os valores éticos da humanidade. Das
estruturas de produção artística da EPME destacam-se a Orquestra Clássica de Espinho, o Grupo de
Percussão, e a Orquestra de Jazz.
Instituído com a abertura do referido curso de Percussão em 1989, o Grupo de Percussão da EPME tem-se
apresentado frequentemente em público em moldes solísticos, em conjuntos de câmara ou fazendo parte
integrante da Orquestra Clássica de Espinho. Apresentou diversas estreias nacionais no âmbito do repertório
contemporâneo para percussão e participou nas 1ªs e nas 2ªs "Jornadas de Arte Contemporânea do Porto".
Apresentou ao público, em estreia mundial, a obra "Kyti" do compositor João Pedro Oliveira, uma
encomenda da EPME. Coube-lhe até ao momento a divulgação de obras referenciais de Percussão, muitas
delas em primeira audição em Portugal. Presença frequente em várias salas de espectáculo do país, o Grupo
de Percussão apresentou-se também em Espanha, nas cidades de Oviedo, Bilbao, Zaragoza, Lliria, Toreent,
Valência, Murcia, La Corunã, La Bañesa e Léon.
A Orquestra de Jazz é uma estrutura de produção artística da EPME dedicada ao trabalho de repertório
constituído essencialmente por temas do Jazz mais tradicional que se tornaram referências nas interpretações
das orquestras de Thad Jones & Mel Lewis, Count Basie, Duke Ellington e Bill Holman. Este projecto vem
recordar o advento das Big Bands nos grande salões da East C, assim como o papel do Jazz enquanto música
de dança.
Ancorados nos resultados do trabalho de produção concertística da Orquestra Clássica da EPME – formação
que materializou o resultado directo e visível de um projecto educativo inovador, tendo apresentado desde
1989 centenas de concertos um pouco por todo o país e também no estrangeiro (Escócia, Alemanha,
Espanha, Brasil) - entenderam a Câmara Municipal de Espinho e a EPME avançar na consolidação e
afirmação daquela formação, através da criação da Orquestra Clássica de Espinho (OCE), o que sucedeu
em Julho de 2005.
A OCE constituiu-se assim como uma formação de carácter semi-profissional, embora de génese académica,
sendo preferencialmente integrada por alunos e ex-alunos da EPME, sem dispensar, no entanto, o concurso
de jovens músicos empenhados em solidificarem a sua formação. A OCE, através deste modelo de
funcionamento, configura um projecto inovador no nosso país destacando-se pela qualidade do trabalho
apresentado e pela possibilidade que confere a jovens instrumentistas pré-profissionais de acederem a uma


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prática regular como músicos de orquestra, assim estimulando a sua actividade musical em fase de transição
para a inserção no mercado de trabalho.
A Academia de Música de Espinho, em novas instalações desde 2006, possui um Auditório – Auditório de
Espinho que materializa um conceito diferenciado relativamente à generalidade das salas de espectáculos
convencionais por associar de forma integrada, no mesmo espaço físico, a valência dedicada à produção e
acolhimento regular de espectáculos de géneros diversos; a componente educativa de ensino/aprendizagem
decorrente do funcionamento dos cursos de música ministrados pela Academia de Música de Espinho e pela
Escola Profissional de Música de Espinho; bem como por albergar em residência artística uma orquestra de
formação, de carácter semi-profissional, a Orquestra Clássica de Espinho. Tal característica confere ao
equipamento, no seu conjunto, uma dinâmica constante proporcionada pela frequência do espaço por
públicos diferenciados, etariamente distribuídos de forma homogénea e, diga-se, com algum privilégio na
abordagem dos públicos mais jovens. O AdE assegura anualmente uma produção cultural regular que assenta
em produções próprias, co-produções e acolhimentos nos domínios musical, teatral, da dança e novo circo.
Para além das actividades referidas, a programação do Auditório inclui também algumas iniciativas que
sejam viáveis no âmbito das artes plásticas, bem como a realização de conferências, colóquios e
cursos/seminários dedicados às mais diversas temáticas, designadamente àquelas que são transversais à
própria programação nos domínios referidos e ainda outras que, pela sua pertinência, actualidade e
contribuição para a formação de públicos, correspondam à ideia de identificação do Auditório como um
espaço cultural de fruição artística e cultural multidisciplinar.
Em 2009, a Academia de Música de Espinho foi distinguida como Membro Honorário da Ordem de
Instrução Pública pela Presidência da República.

1.2 CARACTERIZAÇÃO DO PROJECTO EDUCATIVO DA EPME

Em termos de organização da formação em contexto de trabalho, ela materializa-se através da criação de


oportunidades de apresentação pública dos alunos em concertos, recitais, audições e outros. A escola
promove e proporciona tais oportunidades através do relacionamento que estabelece com estruturas de
produção artística, com quem partilha projectos que incluem a participação dos alunos; através da iniciativa
da própria escola e, ainda, correspondendo às solicitações de entidades externas que proporcionam
oportunidades de acolhimento e apresentação pública do trabalho realizado. Tal postura é ainda
complementada com o incentivo à criação de projectos pessoais de emprego pela constituição de núcleos de
produção artística que colocam ao dispor dos agentes culturais o resultado dos trabalhos desenvolvidos.
Nos casos que necessitam de recuperação em situações de insucesso escolar e considerando a dimensão da
Escola e as especificidades dos cursos ministrados, a cada aluno é dispensado um acompanhamento
individualizado que permite à Direcção Pedagógica e à Orientação Educativa um conhecimento bastante
preciso dos progressos e das dificuldades manifestadas pelos alunos. Identificadas situações de insucesso e
diagnosticadas as respectivas causas, são imediatamente introduzidos factores de correcção no sentido de


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permitir ao aluno a recuperação do insucesso manifestado.
A Escola Profissional de Música de Espinho coloca permanentemente ao dispor de diversas instituições e
corresponde a convites regulares para a produção de concertos de Música de Câmara, Grupo de Percussão e
Orquestra (clássica e de jazz). Neste sentido, tais colaborações/projectos, que surgem regularmente,
extinguem-se com a realização do(s) concerto(s) não sendo objecto de protocolos formais. Nesse contexto,
podemos destacar o tipo de colaborações solicitadas regularmente:
- Colaboração com autarquias locais na dinamização de espaços culturais;
- Colaboração com Escolas do Ensino Básico e Secundário;
- Colaboração com institutos públicos e organismos da Administração Central;
- Colaboração com diversas fundações e associações.
Ao longo dos três ou seis anos que os alunos frequentam os cursos, a Escola procura fornecer-lhes os
indicadores fundamentais sobre o mercado de trabalho, de forma a que se vão apercebendo gradualmente das
possibilidades e das dificuldades que encontrarão quando decidirem ingressar na "vida activa". Considerando
as especificidades dos cursos da Escola Profissional de Música de Espinho e as possíveis saídas
profissionais, é ainda, enquanto estudantes, que os alunos são aconselhados e ajudados a definirem o seu
projecto profissional e/ou académico. Para além do percurso profissional e/ou académico que cada aluno vai
traçando ao longo do curso, recorrendo normalmente ao aconselhamento da Direcção Pedagógica, a
experiência ensina-nos que os alunos, terminado o respectivo curso, procuram com regularidade a Escola
onde beneficiam da possibilidade de consulta de materiais didácticos (sobretudo partituras) nem sempre
acessíveis no mercado e da disponibilidade da Direcção e também dos professores, designadamente de
Instrumento, para aconselhamento em áreas tão diversificadas como, por exemplo, viabilidade de
implementação de projectos pessoais, frequência de cursos de aperfeiçoamento artístico, e resolução de
questões técnicas.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 INTRODUÇÃO

A capacidade de ser bem sucedido a tocar um instrumento musical, está fortemente ligada ao investimento
pessoal que o aluno dispensa para o mesmo. E apesar de haver outras variáveis que, mais tarde no processo,
poderão determinar a excelência performativa/interpretativa, a variável do “treino individual” possibilita,
numa fase inicial do estudo, uma progressão positiva na criação de um instrumentista. Assumindo esse
mesmo princípio é importante identificar os factores que definem a motivação ou desmotivação do aluno
face à prática regular instrumental. Um dos factores que se localiza no cerne deste trabalho é a compreensão
das relações existente entre as três partes mais próximas do círculo de aprendizagem no ensino instrumental,
nomeadamente o aluno, o professor e a família (subentendendo-se o último como Encarregado de Educação)
e o modo como é possível potenciar uma melhor eficácia das aprendizagens do aluno através de uma
interacção construtiva entre todos.


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2.2 REVISÃO DE LITERATURA

No universo do ensino instrumental, a relação tripartida aluno-professor-família gera um grupo instrutivo


cuja eficácia de aprendizagem por parte do aluno encontra a sua concretização na capacidade de
comunicação entre os referidos membros. Na verdade, estudos comprovam que a proporção de partilha das
expectativas e preferências sobre o ensino do instrumento entre todas as partes deste grupo está
intrinsecamente relacionada com o grau de cooperação ou conflito entre as mesmas no alcance do sucesso
musical.
De acordo com Creech e Hallam (2003), estudos revelam que existe uma inevitabilidade na influência
exercida pelos encarregados de educação no processo de ensino-aprendizagem dos alunos. No caso do
ensino de um instrumento musical, um aluno nos primeiros estágios de desenvolvimento beneficiará de
maior sucesso quando acompanhado por um dos encarregados de educação no que respeita ao cumprimento
dos objectivos semanais, supervisão do estudo diário, etc. Este factor reveste-se ainda de uma importância
acrescida considerando que também é capaz de potenciar a motivação musical tanto ou mais do que o factor
“estudo individual”. Assim sendo, este projecto procurará intervir na eficácia da aprendizagem instrumental
ao incorporar a figura parental num universo que, por força de uma tradição centenária, sempre convergiu
numa relação muito restrita entre professor e aluno. Como Davidson et all (1995) disse:
“An important education implication of these findings is that the development of musical excellence cannot
be seen as something relating solely to teacher and student behaviors and interactions. Without the positive
involvement of the parents, in the process, the highest levels of achievement are likely to remain
unattainable.”
Revela-se, assim, essencial que o diálogo entre esta tríade seja uma constante no presente projecto de
intervenção durante a duração da sua implementação. Com isso em mente, o grupo de trabalho procurou
utilizar as ferramentas disponibilizadas pelas Tecnologias de Informação e Comunicação, criando três
blogues para cada um dos alunos que irão ser objecto deste estudo. Nesse ciberespaço são inseridas
informações sobre a planificação das aulas, as metas a atingir, as metas atingidas, questões a corrigir, bem
como um feedback actualizado do percurso do aluno por parte do professor. Esta prática poderá possibilitar
também uma interlocução entre os intervenientes no processo e cada um poderá comunicar através da
internet com todo o grupo desenvolvendo-se no aluno, desta forma, o verdadeiro conceito da avaliação
formativa. O curriculum deverá metamorfosear-se num processo interactivo entre o professor, o aluno, a
família e a matéria em questão. O resultado pretendido é um envolvimento mais produtivo no processo
ensino-aprendizagem por parte do aluno e um controlo mais eficaz por parte do professor de instrumento das
várias dimensões desse mesmo processo.
Neste momento poderíamos argumentar plausivelmente que a eficácia do referido apoio estaria dependente
do nível de conhecimento musical por parte da “familiar”. Ou seja, um encarregado de educação com
antecedentes musicais seria um melhor preditor de sucesso musical no aluno quando comparado com outro
encarregado de educação sem quaisquer antecedentes artísticos. Contudo, Sloboda e Howe (1991)
demonstraram que o crescimento do aluno enquanto instrumentista musical está mais relacionado com a


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capacidade dos pais em encorajarem os respectivos educandos a criarem e a manterem bons hábito de
estudo, princípios de disciplina de trabalho e responsabilidade, mais do que qualquer outro tipo de
especificidade técnica ou instrumental. De facto, é possível desenvolver-se um acompanhamento familiar
motivador e supervisor que, consequentemente, proporcionará ao aluno a motivação e cadência de estudo
necessária para atingir os objectivos contínuos requeridos pelo professor de instrumento.
No decurso da implementação deste projecto será importante desenvolver o conceito de “eficácia colectiva”,
expressão usada sobre esta temática por Creech and Hallam (2003) e que engloba a eficácia do professor em
orientar a motivação e ritmo de desenvolvimento do aluno, de coordenar juntamente com a família a
concretização dos objectivos da disciplina, a eficácia da família em assimilar as metas do projecto de
trabalho e envolver-se com interesse e apoio no percurso do seu educando, e, por fim, a eficácia do aluno em
acompanhar com sucesso o trajecto aplicado pelo professor, atingindo as suas próprias expectativas no
estudo do instrumento.
Curiosamente, apercebemo-nos de que esta tríade não é, de forma alguma, uma relação estática mas cuja
natureza evidencia alterações à medida que o aluno vai desenvolvendo a sua actividade instrumental. Foi já
demonstrado que a participação do encarregado de educação enquanto membro supervisor e orientador,
diminui naturalmente quando o educando já consegue criar mecanismos próprios de progressão autónoma,
altura que normalmente coincide com o período da adolescência. Isto poderá de alguma forma estar
relacionado com a necessidade da afirmação do aluno como indivíduo, provocando que, de alguma forma,
deseje condicionar a participação dos pais num trajecto que agora é mais pessoalmente seu (Crozier, 1999).
Isto não significa que o aluno prescinda totalmente do apoio da família. Na verdade, é importante que
mantenha a interacção entre as duas partes, se bem que a um nível diferente, em que o aluno sente o apoio e
interesse do encarregado de educação no seu trajecto profissional, mas consegue ele próprio traçá-lo com
alguma grau de autonomia. Nessa perspectiva, foi claro que este projecto seria mais proveitoso se aplicado a
alunos do ensino profissional – nível II, com idades compreendidas entre os 13-14 anos.
Por último, será importante termos em consideração o potencial para a existência de conflito e as razões do
mesmo, uma vez que iremos trabalhar num plano de intervenção que afecta três entidades, para que o mesmo
possa ser evitado. Normalmente o foco deste tipo de trabalho incide na relação aluno-professor ou na relação
aluno-família, contudo é importante distinguir a particular importância da última associação: professor-
família.
Um professor que interaja com o encarregado de educação, compreendendo e valorizando a sua contribuição
para o sucesso do processo ensino-aprendizagem, diminui o possibilidade de conflito e ajuda a criar as
condições para um grupo tripartido dinâmico que se esforça numa única direcção. Por outro lado, existe o
perigo da interacção tornar-se meramente formal e, consequentemente, ineficaz, com a descredibilização
como uma parte activa no processo do membro “família”. Como Crozier (1999) já dizia, “Parents who feel
unable….are perceived as indifferent or passive and thus marginalized”
Nesta situação, será importante que a tónica seja colocada uma vez mais na comunicação que tem de existir e
tornar-se uma constante entre as partes referidas. O professor, por sua vez, deverá compreender as diferenças


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entre cada encarregado de educação de forma a conseguir transmitir de uma forma eficaz a visão dos
resultados a atingir pelos respectivos educandos e a importância da ajuda de todos.

3. MÉTODO
3.1 PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO

No nosso Projecto de Intervenção, e com a finalidade de auxiliar e potenciar a aprendizagem dos alunos das
nossas classes, procuramos desenvolver algumas medidas que servissem de apoio à nosso prática
pedagógica.
Tendo em conta que o objectivo é também envolver a família no processo de ensino-aprendizagem,
decidimos criar blogues individuais com acesso restrito que contêm toda a informação necessária à
estruturação e organização do trabalho. Assim, semanalmente serão publicadas as planificações para as aulas
desse período com material de apoio, sugestões e conselhos sobre a melhor forma de estudo. O feedback será
dado sob a forma de comentários (tanto do aluno, como da família e também do professor).
Durante as primeiras dezoito semanas do ano lectivo, coincidentes com a duração do primeiro semestre,
calendarizamos várias medidas/actividades que estão disponíveis no blogue de cada um dos alunos, de uma
forma que nos parece equilibrada e organizada:
• nas semanas 3 e 9 os pais/encarregados de educação destes alunos deverão assistir às aulas de
instrumento. Nestas aulas o professor deverá explicar aos encarregados de educação algumas das
suas metodologias de trabalho, identificando os aspectos positivos e menos positivos do aluno, por
forma a que, no estudo realizado em casa, os pais/encarregados de educação possam auxiliar o
educando. Como o encarregado de educação e o aluno têm acesso à planificação da respectiva aula
através do blogue, nesta aula, para além de serem esclarecidas algumas questões técnicas, o
encarregado de educação poderá também apreciar o desempenho do aluno em contexto de aula;
• nas semanas 2,4,6,8,10,12,14,16,18, os alunos terão o apoio de um(a) colega de nível mais avançado
(preferencialmente do mesmo instrumento) que, em cooperação e parceria com o professor, irá
monitorizar o estudo do aluno no espaço escola. Assim sendo, o professor deverá reunir com esse
aluno de nível mais avançado, explicando-lhe a sua função no apoio ao colega, fornecendo-lhe a
planificação e os objectivos do estudo semanal do aluno, definindo estratégias, etc. Esta medida tem
como objectivo que o aluno (monitor) desenvolva um sentido de maior responsabilidade na
colaboração da aprendizagem do colega, permitindo desta forma que proceda a uma reflexão e
organização das suas aprendizagem e conceitos. No fundo, com esta actividade, para além de
tentarmos melhorar a aprendizagem dos alunos em questão, procuramos incutir responsabilidades
nos colegas no sentido de haver uma ajuda mútua para o sucesso de todos;
• nas semanas 6 e 16 a aula terá um formato aberto, permitindo que os colegas de classe ou outros
interessados possam assistir e interagir. Nestas aulas abertas, o aluno deve tocar o programa definido
para a aula sem interrupções e apenas no final da sua performance será interrompido para identificar


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e corrigir eventuais problemas. É importante que nestas aulas os ouvintes manifestem opiniões
construtivas em relação ao colega, procurando ajudá-lo a melhorar e desenvolvendo eles próprios
desta forma uma opinião critica válida e coerente;
• o aluno deverá apresentar-se publicamente pelo menos uma vez, sendo ideal que apresente
preparação suficiente para o fazer mais;
• semanalmente, e tendo como base a autoavaliação de cada um dos alunos e a sua prestação nas
aulas, o professor editará a entrada correspondente e atribuirá uma classificação. Pareceu-nos
interessante utilizar uma classificação simbólica em vez de uma quantitativa. Assim, a escala a ser
usada, será:
o * (nível de desempenho medíocre)
o ** (nível de desempenho insuficiente)
o *** (nível de desempenho mediano)
o **** (nível de desempenho bom)
o ***** (nível de desempenho excelente)
• no final do trabalho semestral, o aluno será submetido a uma prova de avaliação, sendo avaliado
quantitativamente nas suas competências.
A aferição dos resultados deste Projecto de Intervenção, será realizada de uma forma continua ao longo do
semestre pelo professor através da observação directa e, no final deste período temporal, com uma entrevista
aos alunos e respectiva família.

3.2. O OBJECTO DE INTERVENÇÃO

O presente Plano de Intervenção tem como objecto três alunos finalistas do ciclo de estudos referente ao
Curso Profissional Básico de Instrumento. Nesse âmbito, será importante realizar uma análise descritiva dos
mesmos para que se possa desencadear uma estratégia focada nas necessidades inerentes a cada aluno.
Assim, apresentamos uma caracterização individual dos alunos em causa:

Aluna X
Aluna natural de Paramos, ingressou na EPME no ano lectivo 2008/2009 e não teve nenhum contacto prévio
com o ensino especializado da música. Após ter tido aulas de divulgação de alguns instrumentos, optou por
estudar Viola de Arco.
O percurso que efectuou durante o primeiro ano foi extremamente positivo e consolidou as competências que
adquiriu. Beneficiou de um grande acompanhamento da encarregada de educação, tanto em casa como em
actividades pedagógicas promovidas ao longo do ano.
No 2º ano que frequentou a escola, o seu comportamento para com a disciplina sofreu alterações: ausência de
estudo regular e sistemático, pouca assiduidade nas actividades pedagógicas da disciplina que não a
envolviam, prestações irregulares, etc. No entanto, a aptidão continuou presente e patente, permitindo que o
estudo que efectuava poucos dias antes das avaliações ou audições conseguisse colmatar a falta de trabalho


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regular. A encarregada de educação esteve também bastante ausente da Escola, não tendo assistido a
nenhuma apresentação pública da educanda nem correspondido a sugestões para estar presente em concertos.
O meu objectivo para o 3º ano, passa por voltar a envolver a encarregada de educação no processo de ensino-
aprendizagem, orientar a motivação que a aluna demonstra pela disciplina de forma a que consiga ser
autónoma no trabalho individual a realizar, promover mais actividades no âmbito da disciplina que a
integrem mais na classe, em conjunto com a aluna estruturar e organizar melhor o seu trabalho, tentar
atribuir um significado pessoal ao que quero transmitir por forma a que seja relevante para a aluna e manter
as expectativas elevadas em relação às suas capacidades.

Aluno Y
O aluno é natural da freguesia de Mosteirô, concelho de Santa Maria da Feira tem 13 anos e frequenta a
Escola Profissional de Música de Espinho desde o 7º ano de escolaridade. Este aluno vive em sua casa com
os pais, fazendo as suas viagens diárias de autocarro, numa viagem com a duração aproximada de 40m para
cada lado. Este aluno é bastante trabalhador e muito disciplinado, normalmente cumpre semanalmente com o
que lhe é pedido. É também bastante educado e responsável, demonstra uma consciência muito sólida dos
conceitos até agora apreendidos. Contudo revela alguns nervos e inseguranças em situações de audição ou
prova. Por vezes sinto mesmo uma excessiva frustração perante alguma dificuldade que possa surgir.

Aluno Z
O aluno é natural da freguesia de Junqueira, concelho de Vale de Cambra tem 13 anos e frequenta a Escola
Profissional de Música de Espinho desde o 7º ano de escolaridade. Este aluno está deslocado da sua
residência familiar tendo necessidade de ficar alojado em Espinho numa casa de uma senhora, juntamente
com mais dois colegas da escola, sendo um o seu irmão. As suas idas a casa são semanais, saindo de Espinho
às sextas-feiras ao fim do dia e regressando no Domingo pela noite. Estas viagens normalmente são feitas
com os pais, demorando em média 1:30h para cada lado. Quando o aluno ingressou na escola os seus hábitos
de estudo eram praticamente inexistentes, no entanto tem demonstrado uma evolução muito positiva
revelando uma enorme margem para progressão. É um aluno que aos poucos tem adquirido métodos de
estudo mais regulares cumprindo plenamente com os objectivos. Por vezes precisa de estímulos para
trabalhar mais e melhor.

Os alunos Y e Z têm beneficiado de diversas maneiras tanto musicais como pessoais, da relação de amizade
que demonstram um com o outro.


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4. CONCLUSÃO

Esperamos que através da implementação deste projecto de intervenção os nossos alunos possam melhorar o
seu desempenho na disciplina de instrumento, indo de encontro ao nosso principal objectivo centrado em
melhorar a nossa acção pedagógica proporcionando aos alunos, desta forma, uma melhor aprendizagem.
Como inicialmente procuramos intervir indo de encontro às necessidades específicas do nosso contexto
escolar, pensamos que, por mínimos que se revelem os resultados, alguns aspectos positivos estão desde já
alcançados pois a nossa reflexão suscitou em nós uma maior vontade de intervir, procurando sempre
melhorar a qualidade do ensino da nossa escola.

BIBLIOGRAFIA

Creech, A., & Hallam, S. (2003) Parent-teacher-pupil interactions in instrumental music tuition: a literature
review. British Journal of Music Education, 20(1), 29-44

Crozier, G. (1999). Parental involvement: Who wants it? International Studies in Sociology of Education, 9,
111–130.

Davidson, J. W., Howe, M. J. A., Moore, D. G. & Sloboda, J. A. (1995) ‘The role of parental influences in
the development of musical ability’. British Journal of Developmental Psychology, 14: 399-412.

Duke, R. A., & Simmons, A. L. (2006). The nature of expertise: Narrative descriptions of 19 common
elements observed in the lessons of three renowned artist-teachers. Bulletin of the Council for Research in
Music Education, 170, 7-19.

Driscoll, J. (2009). 'If I play my sax my parents are nice to me': opportunity and motivation in musical
instrument and singing tuition. Music Education Research, 11(1), 37 - 55.

Heikinheimo, T. (2009): Intensity of Interaction in Instrumental Music Lessons. Sibelius Academy. Music
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Sloboda, J. A. & Howe, M. J. A. (1991) ‘Biographical precursors of musical excellence: An interview


study’. Psychology of Music, 19: 3-21.


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