Você está na página 1de 1

O Brilho do Mundo

Em cada indivíduo que nasce reside uma inocência que a vida cuida de desfazer
à medida que o peso do mundo se mostra. A pureza da infância rima com alegria,
autenticidade e tendência à benevolência e ao amor. Quando descremos na
humanidade por suas incessantes demonstração de ódio, intolerância e destrutividade,
recorremos à doce imagem das crianças que dá sentido e brilho a um mundo
selvagemente adulto e sem ternura.

Porém a inocência por sua própria característica é incapaz de proteger-se sendo


facilmente abalável pela malícia e agruras de um mundo onde impera o individualismo
extremado e a falta de freios éticos e espirituais.

Famílias que não poupam seus filhos da exposição de suas neuroses e


egocentrismo. Crianças ao redor do mundo transformadas em soldados por bandidos e
guerrilheiros. Outras vilmente sugadas em sua vitalidade por abusadores sexuais.
Programas de televisão, sites, revistas que pouco ou nenhum cuidado tem em exibir
conteúdo impróprio de sexualidade, manobras ardis e perversidade, mostrando como
regra aquilo que deveria ser exceção.

Por acreditarem que não há justiça ou beleza neste mundo se julgam no direito
de atacar o encantamento dos púberes que preservam tais idéias e comportam-se
como tal. Por invejar a alegria simples da infância que já não conseguem atingir, fazem
por destruí-la a fim de se assegurar que ninguém puro permanecerá.

Corromper é o termo que define esta destruição intencional da pureza e do


idealismo. O corrupto visa assegurar que todos à sua volta também o sejam para que
não aja quem questione seus atos e vantagens. Quantos carregaram para a juventude
e mesmo para a fase adulta um idealismo que trombou e tombou frente às artimanhas
de venais indivíduos.

A inocência traz consigo suave alegria que assegura a saúde em um corpo que
pulsa em uníssona harmonia. Sua perda abre uma fenda na alma que conduzirá ao
fatal adoecer. Quando inocentes, caminhamos com tranqüilidade. Porém perdida esta
condição, o andar torna-se cauteloso e calculado. O olhar que brilha torna-se
desiludido, triste e distanciado. A terna receptividade dá lugar ao cinismo e já não há
mais expectativas em receber nada dos outros que não sejam mentiras, manipulações
e abusos.

A infância é uma condição transitória para um indivíduo, porém um patrimônio


para uma sociedade. Deixá-la ser vilipendiada é deixar que o brilho do mundo
desvaneça e que todos mergulhemos sem volta em uma cegueira da qual a
humanidade não será capaz de retornar.

Dr. Hélio Borges – Médico Psiquiatra e Psicoterapeuta – CRM/PR 16.914


www.drhelioborges.med.br
http://twitter.com/drhelioborges

Você também pode gostar