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PENITENCIÁRIA
LEKKERDING
SÃO PAULO
MAIO 2010
RESUMO
aplicadas em Tribunais do Júri, e a extensão dos danos às famílias envolvidas nos casos de
julgamento. Através de estudo de casos semelhantes com abordagens diversas da mídia, visa
manipulação de opinião pública pela imprensa, e seu impacto nas famílias submetidas a este
juízo de valor. Visa, também, propor soluções ao cerceamento do direito de ampla defesa
causado pelo viés de mídia e o grave risco de dano ao princípio do devido processo legal.
ABSTRACT
This article aims to examine the extent of consequences coming from the press interference
applied in jury courtrooms, as well as the extent of damages caused to the families involved in
such cases. Throughout the study of two similar cases with different approaches taken by the
press, this article intents to measure the proportions of sentences and penalties beset with too
much influence and manipulation of the press on public opinion, and its impact on families
subjected to this value judgments. The present piece also offers measures to prevent such
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 1
5 CONCLUSÃO .................................................................................................................................... 24
6 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................. 30
INTRODUÇÃO
observadas por todos os indivíduos. Estas normas protegem os bens considerados mais
Direito Penal, no exercício de suas funções, forma o juízo ético dos cidadãos, delineando-lhes
os valores essenciais para a convivência social. É possível inferir que a atividade processual
envolvam o egrégio Tribunal do Júri, por serem estas lides de interesse público; o Júri só é
convocado em caso de violação ao maior bem social conhecido – a vida. Neste sentido, o
Poder Judiciário e a população, definição material do corpo social disciplinado, encontram seu
Desta forma, é possível aferir que a sanção penal não tem apenas caráter punitivo,
mas também apaziguador: uma vez aplicada, define ao infrator o que não é tolerado por seus
pares, e dá aos mesmos a sensação de segurança, ao saber que a violação de seus bens
mais preciosos restará impune. Assim, tem a sanção penal a atribuição de “Justiça social”,
Capez, pois a sanção não se restringe, de fato, às partes envolvidas no processo penal:
1 Na parte geral de seu curso de Direito Penal, Fernando Capez examina este ramo jurídico em aspecto formal e
normativo, dando enfoque sociológco a algumas acepções das definições penais. Este artigo tem foco sociológico,
portanto fulcra-se nas funções sociais descritas por Capez.
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notícia e fomentando o caráter decisório da população acerca do destino dos envolvidos em
assim como os efeitos da sanção penal: antes mesmo da sentença, sofrem os envolvidos e
seus familiares com os excessos cometidos pela cobertura massiva da imprensa, que antes
mesmo de findo o processo penal, já tem seu veredito e repassa seu julgamento à população,
uma vez que, leigos, não podem ater-se aos fatos elencados no processo e nem formular um
parecer adequado, eis que seu juízo acerca do feito encontra-se eivado pelo senso comum da
Este artigo visa analisar, através do contraponto entre casos similares, a extensão do
dano causado pelo viés de imprensa no Tribunal do Júri aos infratores e suas famílias, bem
como a falta de proporcionalidade nas sanções penais deles derivadas, constituindo, de per si,
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1 ORIGEM DAS SANÇÕES PENAIS
convivência pacífica, dotado de algumas condições para sua manutenção. O indivíduo é livre,
nos termos desta convenção. Aquele que viola os termos de acordo estabelece uma dívida
para com seus pares, que deve ser quitada de imediato, para assim restaurar a ordem. Desta
Neste ramo jurídico, elencou o legislador as condições mais básicas do acordo social,
como o respeito à vida, à propriedade, à honra e tantos outros bens preciosos à Humanidade.
Estabeleceu, também, sanções à violação da integridade dos mesmos, como forma de punir
àqueles que causam distúrbios ao núcleo da sociedade e trazer alguma reparação aos que
foram direta ou indiretamente lesados pelos atos de dado indivíduos. A força motora da lei
As sanções penais, no entanto, não são estáticas: devem ser proporcionais ao ilícito
pode, por exemplo, levar o pleno rigor das punições de homicídio qualificado a pessoa incapaz,
cujo estado mental é debilitado; tal indivíduo pode não entender o ato que praticou, ou as
conseqüências do mesmo. Também não cabem multas leves a um serial killer, aquele que
convivência e as penas à violação destas, mas quesitos quantitativos e qualitativos para suas
Ainda que tenha o legislador pensado na justeza de cumprimento das sanções pelo
indivíduo, não há previsão de compensação à família pelo tempo de execução penal. Para a
Rego, a sanção penal traz sérios problemas ao sistema familiar, e não encontra amparo
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encarcerados no preconceito da criminalidade, como se tivessem contribuído ou auxiliado de
marginalidade, passando por processo e execução penal, assim como o ascendente. Tendem
a passar o mesmo espectro aos próprios filhos, perpetuando um círculo vicioso no sistema
penal brasileiro. Estes são riscos oriundos da sanção penal à família, principalmente se o
Ainda, segundo Sábata Moraes Rego, não há proporcionalidade das penas aplicadas para a
sem um tratamento adequado aos aspectos sociais deste instrumento jurídico, a sociedade
2 TRIBUNAL DO JÚRI
judicial uno. A idéia é a de que seja o cidadão julgado por seus iguais, que expressam o
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pensamento da comunidade e, assim, possam apreciar melhor os fatos do crime e proferir um
veredito.
No Brasil, o júri foi instituído em 1822, ironicamente, para julgar os crimes de imprensa.
Na constituição imperial de 1824, o júri ganha atribuições para julgar todas as causas,
passando mais tarde a apreciar somente causas de âmbito criminal, quadro que prevalece até
hoje.
Ao júri, compete o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, conforme disposto em
artigo 74 do Código de Processo Penal. Assim, fica o Tribunal do Júri competente para julgar
instigação ou auxílio a suicídio, infanticídio e aborto. Caso haja conexão entre crime doloso
contra a vida e outra espécie de crime, prevalece a competência do júri para julgamento.
Os jurados são alistados anualmente por Juiz Presidente do Júri, entre cidadãos de
notória idoneidade. Deve o juiz agir com critério na seleção das pessoas, buscando em vários
Após o veredito do júri, e sua valoração para os quesitos elencados na norma, profere
o juiz a sanção cabível; esta não pode ser maior ou menor que o juízo de valor dado pelo júri.
Não pode o juiz proferir sentença de multa quando o júri define a condenação máxima através
Tal constatação infere grave falha estrutural no sistema penal, a ser abordada a seguir.
3 LIBERDADE DE IMPRENSA
para se difundir, com responsabilidade, tudo aquilo que se apurou sobre um assunto”. A
imprensa, então, o papel de informar à população os fatos, em inteiro teor. Entende-se ainda
que a imprensa tem direito de decisão sobre os caminhos que a levarão às informações
pretendidas.
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Não pode o Poder Judiciário negar acesso da mídia aos ritos do Tribunal, salvo nos casos
No entanto, a imprensa afasta cada vez mais seu caráter informativo, assumindo postura mais
palavras utilizadas, por edição de vídeos, imagens ou textos concernentes e pela não-
opiniões e julgamentos acerca dos fatos noticiados; costumam, também, utilizar essa influência
na população para incitar o clamor por medidas do Poder Público. Em crimes chamados
folhetins ficcionais.
capacidade da população de analisar os fatos e formar um parecer justo e imparcial acerca dos
mesmos.
A problemática desta conduta é que, desta forma, não age a imprensa com a devida
responsabilidade acerca da missão que lhe é atribuída: o dever de informar jaz nas mãos da
mídia, e se ela não desempenha suas funções corretamente, distribui apenas meias-verdades
entre a população, o que pode trazer sérias conseqüências aos envolvidos. O blogueiro Daniel
de Carvalho, colaborador e um dos principais tradutores da rede Global Voices, afirma que
Ao não agir com a devida responsabilidade sobre a divulgação dos fatos em inteiro
teor e com o máximo de imparcialidade possível, a imprensa distribui uma sentença paralela
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antes mesmo que se iniciem os trâmites judiciais que dão acesso ao devido processo legal.
Esta sentença traz atrelada uma sanção, que apesar de não ter validade no meio jurídico, é
Não é raro que suspeitos de crimes bárbaros sejam mortos em delegacias, ou em suas
casas, antes mesmo do início do inquérito policial; a população age mais rápido, para fazer
cumprir a decisão do apresentador, que muitas vezes insinua a morte de dado suspeito. Esta
classificados pelo jornalismo e chancelados pela população como “farinha do mesmo saco”.
acompanhando notícias tendenciosas, podem não manter a parcialidade para a análise dos
fatos num Tribunal do Júri. Igor Quintanilha, bancário e portador dos quesitos necessários para
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O jurado, como leigo, não pode filtrar informações como os juristas, pois não está
preparado para tal feito. Desta forma, toda a exposição às notícias entre o período de inquérito
até o julgamento propriamente dito pode cercear o direito de defesa do réu; por mais que se
apresentem provas irrefutáveis de sua inocência, está o júri certo de sua culpa e convicto em
acesso às provas produzidas e proceder ao exame atento dos autos, está o júri certo da
condenação ou da absolvição daquele que jaz sob seu escrutínio, tornando os ritos do
Desta forma, toda e qualquer sanção penal aplicada pelo juiz seria injusta, podendo
inclusive incorrer em erro de direito, derivado de júri eivado de vícios; restaria, então, o réu
Uma questão mais preocupante: por não trabalhar com os fatos apurados, pode a
imprensa formular opinião pública errônea acerca do verdadeiro réu. É possível que, diante de
culpa. Caso seja este réu levado a julgamento, o que seria improvável de ocorrer devido à forte
pressão popular nos investigadores e peritos, clamando uma investigação sobre “os
ainda que esteja o júri diante de provas irrefutáveis; o veredito foi dado muito tempo antes, no
discurso do apresentador.
Não possui o Estado, além das normas processuais penais, qualquer aparato de
treinamento para prevenir ou evitar este comportamento dos jurados, apesar de estabelecida a
responsabilidade criminal dos jurados em casos de prevaricação. Mesmo que inconteste o tipo
pela pena injusta, sofrem com os elementos elencados por Sábata R. Moraes Rego, e sem a
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punição do réu, necessária para a restauração da ordem no seio da sociedade, restam todos à
sua harmonia como bem lhe aprouver, em detrimento da integridade do réu e de sua família.
nos termos da lei, sofrem com as sanções paralelas proferidas solenemente na mídia.
tendenciosa da imprensa, além de perderem seus direitos à privacidade, seguidos por todo
lugar pelos mesmos que lhe impuseram pena tão pesada. Sem praticar crime algum, estas
pessoas são condenadas ao desprezo. E não estabelece o Poder Público nenhum tipo de
qualquer mal que possa suceder, tanto ao indivíduo infrator quanto a seus entes queridos: não
fosse pelo discurso inflamando atribuindo certeza de culpa e intento maligno ao crime
Não obstante, está a família carregando a sanção consigo; reitera a autora que a
sociedade atribui toda a carga do fato lesivo à entidade familiar do réu. Em termos simplórios, o
angelicais, e os réus, seres demonizados. Culpa-se a dinâmica familiar por ser permissiva às
características vilanescas do réu, o que, para a população, caracteriza, de per si, sua
participação no ato ilícito e justifica a aplicação da sanção penal aos familiares; em não-
ocorrência disso, sente a sociedade a liberdade de aplicar o castigo que acredita mais
perda sempre que lembrada do feito. O apoio popular, no auge da comoção, garante um
mas à medida em que a necessidade de procurar a família da vítima para analisar todo e
intensificada pela mídia, impõe-se a esta entidade familiar a reconstituição não só de eventos
trágicos, mas suas impressões diante deles, trazendo à tona traumas imensuráveis, com os
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quais a família terá de lidar sozinha e cujas conseqüências para sua unidade e funcionamento
são terríveis.
Não possui o Estado um aparato terapêutico que possa trabalhar estes aspectos do
processo e da sanção penal; não pode, ainda, designar força policial para prevenir o assédio
4 CASO PRÁTICO
Procede o artigo ao estudo da opinião pública emitida em dois casos similares, que
midiática, exposição contínua das famílias à imprensa e assédio popular. Além disso,
enquadram situações semelhantes, bem como evidências e partes envolvidas; nestes casos,
também é forte o indício de viés de imprensa. O estudo destes casos tem por objetivo
atual quadro midiático, e a ausência de proporcionalidade das penas tanto aos réus quanto às
suas famílias, mostrando também o ônus carregado pela família das vítimas neste contexto.
gramado em frente ao seu prédio, em São Paulo. Ela chega a ser socorrida, mas morre a
caminho do hospital.
começa a tratar o pai, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá, como
apartamento.
O delegado Calixto Calil Filho afirma trabalhar com a hipótese de homicídio, praticado
por alguém próximo ou de fora. Mas vê com reservas a versão apresentada por Nardoni, pois
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O presente artigo reserva o direito de não analisar os referidos casos sob escopos formais da lei, atendo-se à
matéria, ao âmbito sociológico e tendo como referência a população brasileira e sua postura diante destes casos.
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Em abril, a Justiça pede prisão temporária do casal Nardoni, após ouvir mais de 10
depoimentos, porém não divulga motivo; o juiz Maurício Fossen decreta sigilo ao caso. As
especulações midiáticas tem início. A mãe de Isabella, Ana Carolina Cunha de Oliveira, é
diz que o que pode provar é tudo que importa. A imprensa começa a dar mais importância para
a figura do promotor, ligando sua imagem à de Ana Carolina Cunha de Oliveira e clamando por
Justiça. São feitas as primeiras especulações vinculando Anna Carolina Jatobá a crueldades.
Dias depois, o promotor quebra o sigilo decretado pelo juiz Maurício Fossen e dá
detalhes, em programa de TV, das investigações. Ele descarta o depoimento do filho mais
velho do casal Nardoni e única testemunha ocular dos eventos acerca da morte da menina,
Alexandre e Anna Carolina Jatobá de “réus”, e responsabiliza ambos pela morte de Isabella.
No dia 7 de abril, o juiz Maurício Fossen suspende o sigilo do inquérito, declarando que
tendo o Ministério Público divulgado abertamente informações à imprensa que estavam sob
sigilo, além de ter emitido opiniões valorativas de cunho exclusivamente pessoal sobre as
provas do processo teria deixado de existir fundamento jurídico para a ordem de sigilo. Nas
palavras de Maurício Fossen, “o comportamento adotado pelo Ministério Público no último dia
4 de abril, demonstrou que o sigilo das informações referentes a este inquérito policial não
desenvolvimento das investigações, daí porque nada mais justifica a manutenção desta
informações relativas ao caso são de domínio público e que "praticamente todos os fatos que
constam e são investigados no inquérito foram divulgados pela imprensa nacional, seja antes
O casal Nardoni pede habeas corpus no mesmo dia em que a perícia revela a
extensão dos ferimentos de Isabella, afirmando que a menina foi espancada e asfixiada antes
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de ser atirada pela janela. Os peritos confirmam, no entanto, não haver sangue da menina no
prestados por Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá na delegacia foram exibidos e
comentados por jornalistas em rede nacional, pela Rede Globo e pela TV Bandeirantes.
outras pessoas com quem o casal Nardoni tinha contato, para traçar perfis psicológicos.
silêncio.
espectadores, e oferecem detalhes das perícias, detalhando a morte da menina “com requintes
de crueldade”. O depoimento de Ana Carolina Cunha de Oliveira sobre sua vida com Alexandre
desagradáveis dos últimos instantes de Isabella. Divulgam também que Alexandre e Jatobá
foram indiciados por homicídio doloso com três agravantes: motivo fútil, meio cruel e
Fantástico. As imagens são dissecadas por experts em expressão corporal, que afirmam que o
é marcada para 27 de abril. Com duração de sete horas e 30 minutos, contou com a corbertura
Em maio, o casal é denunciado pelo crime e detido. Ana Carolina Cunha de Oliveira dá
da imprensa.
assustado” para socorrer a menina, seguido de Jatobá, que estava “desfigurada”. Disse ainda
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que um dos vizinhos conversou com o filho mais velho do casal na noite do crime, e que o
menino não acusou ninguém. Porém, a única parte do depoimento do síndico à qual foi dado
destaque midiático é a em que ele revela ter ouvido uma criança dizer “papai, papai, pára,
Anna, Isabella e os meio-irmãos, horas antes de sua morte. O jornalista relatou ainda que o
logotipo da Band, colocado no canto da tela, foi retirado por computação. Alegou não serem
No dia 10 de abril, o mesmo jornalista afirmou, em seu programa diário de rádio, que
fora a madrasta, Anna Jatobá. A descoberta teria vindo de um telefonema ouvido pela polícia,
comum utilizar o nome dos Nardoni para designar crueldades, em outros crimes.
fórum, com ânimos exasperados. O advogado de defesa Roberto Podval foi agredido, e o
promotor exaltado; houve quem o chamasse de santo. A imprensa foi vetada em plenário, mas
ainda assim, sua permanência junto aos populares na porta do fórum causou tumultos.
Após cinco dias de julgamento, o juiz Maurício Fossen pronunciou sentença. Pelo júri,
Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni foram condenados. A pena fixada pelo juiz foi de 31
anos, 1 mês e 10 dias em regime fechado para Alexandre, e 26 anos e 8 meses em regime
fechado para Anna Carolina. Por fraude processual, ambos foram sentenciados a cumprir 8
causou tumulto na saída de jurados, advogados, promotor e o próprio juiz. A imprensa divulgou
a notícia como “final feliz para Isabella”. Os Nardoni já apresentaram recursos, negados.
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4.2 Caso Madeleine McCann
McCann, em Algarve. O caso foi preliminarmente classificado assim; segundo os pais, seus
filhos estavam dormindo no hotel enquanto jantavam, retornando para um quarto com janelas
integridade da família e das investigações, suspeitava que o raptor era um homem, inglês.
2007, as buscas por Madeleine mudam de status junto aos órgãos policiais; passam de
local onde Madeleine pode estar enterrada. A notícia é divulgada com alarde pela imprensa, e
o endereço do local, "a norte do caminho, debaixo de arbustos e pedras numa zona a 15
quilómetros do lugar onde a menina foi vista pela última vez” visitado pela polícia e paparazzi.
Os McCann emitem nota censurando o jornal inglês pela falta de sensibilidade e por não
depois, voltando esforços para o que seria o primeiro avistamento de Madeleine, no Marrocos;
No fim de junho, o jornalista espanhol Antônio Toscano afirma que Madeleine foi
raptada por um homem de cerca de 50 anos, atuante numa grande rede de pedofilia na
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polícia portuguesa. A imprensa continua dando ênfase ao sofrimento do casal McCann. À
Em julho, Robert Murat é interrogado novamente pela polícia portuguesa, desta vez
agosto, após buscas em sua casa. A polícia também ouve amigos do casal McCann.
Em agosto, a polícia belga lança alerta nacional e emite retrato falado de um homem
Apesar do relato belga, a polícia inglesa aponta fortes indícios de que a menina tenha
esforços em amigos dos McCann, sob fortes protestos. Kate McCann rompe o silêncio, falando
diretamente à imprensa, pela primeira vez, fazendo apelos pela volta da filha. No entanto, não
ingleses como The Sun noticiam mais avistamentos e divulgam que a polícia portuguesa tem
Robert Murat como principal suspeito. Nada é dito sobre as suspeitas dos McCann. O jornalista
espanhol Antonio Toscano volta a contatar a polícia portuguesa, que descarta seus préstimos
McCann, a família inicia uma fuga desenfreada da imprensa, postura contrária ao que vinham
Expresso. O casal ressalta sua inocência e anuncia uma série de medidas, apelando ao
respeito das amostras de sangue colhidas no quarto da menina McCann e o andamento das
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investigações portuguesas. Estas informações são rapidamente refutadas. Enquanto isso, mais
vestígios de sangue e fluidos são encontrados, desta vez no carro de amigos da família
McCann. O casal anuncia sua volta à Inglaterra em breve, por meio do blog de Gerry, e
novas evidências – além dos vestígios de sangue, a polícia encontrou uma seringa no quarto
da menina – o casal McCann é tido pela polícia como argüido, termo português para suspeito
formal. Esta reviravolta do caso faz a imprensa crer que os resultados das análises de fluidos
sempre reiterando que Madeleine está desaparecida, apesar das investigações portuguesas.
demitido. Amaral escreveria, tempos depois, o livro polêmico que acusa abertamente os
casal, então, dispara pedidos judiciais de indenizações e retratações, iniciando uma campanha
McCann no quarto e no carro, que estava em nome do casal. Em março, Kate e Gerry McCann
ganham 700 mil euros em indenizações de jornais ingleses, além de retratações públicas. O
casal volta a ser dito inocente pela imprensa, que afirma “não haver prova alguma” de sua
avistamentos de Madeleine surgem. Não se fala mais nas hipóteses da polícia portuguesa.
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II. Cessa assim a condição de argüido de Robert James Queriol
Evelegh Murat, Gerald Patrick McCann e Kate Marie Healy,
declarando-se extintas as medidas de coacção impostas aos
mesmos.
III. Poderão ter lugar a reclamação hierárquica, o pedido de
abertura de instrução ou a reabertura do inquérito, requeridos por
quem tiver legitimidade para tal.
IV. O inquérito poderá vir a ser reaberto por iniciativa do Ministério
Público ou a requerimento de algum interessado se surgirem
novos elementos de prova que originem diligências sérias,
pertinentes e conseqüentes.
V. Decorridos que sejam os prazos legais, o processo poderá ser
consultado por qualquer pessoa que nisso revele interesse
legítimo, respeitados que sejam o formalismo e limites impostos
por lei.
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Com a nota, o Ministério Público divulgou o relatório final da polícia portuguesa, muito
pouco comentado.
circulação. A lide entre os McCann e o inspetor arrasta-se até fevereiro de 2010, quando, em
audiência, Gonçalo Amaral anuncia ter elementos antes não investigados pela polícia.
No caso McCann, milhares de famílias alheias à situação são expostas à mídia todos
mundo. A menina McCann possuía características comuns; exceto pela marca distinta no olho
3
O relatório, contendo os depoimentos dos arguidos e evidências apuradas, é inconclusivo. Consta, no entanto,
relutância dos McCann a responder às questões da polícia.
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direito, nada pode destacá-la na multidão. Era uma criança loira, de olhos claros – e o mundo
possível avistamento. Pais precisam esclarecer a procedência de seus filhos para que o mal-
Gery e Kate McCann como pais amorosos, ignorando evidências apuradas pela polícia
portuguesa. As expectativas de reabertura do caso tornam ainda mais forte o apoio público aos
Madeleine.
atinge com a ausência de Madeleine, o casal aparenta tranqüilidade e até alegria nas imagens
do julgamento de Gonçalo Amaral, o inspetor da polícia portuguesa aponta Gerry e Kate como
Para lidar com o assédio da imprensa, o casal tem uma equipe de segurança e de
diretamente à imprensa, e têm na rotina a fuga constante dos paparazzi ingleses. Não
limitam-se a apelar para que a devolvam e dissertar sobre sua fundação para encontrá-la.
desaparecimento de Madeleine McCann deram a Kate e Gerry ótimas condições de vida, que
se estendem aos irmãos de Madeleine. A fundação criada pelos McCann para encontrar a
menina continua a todo vapor, apesar de não obter resultados, mesmo contando com equipes
da Scotland Yard, CIA e Interpol, além da colaboração de outras agências de inteligência, entre
perante o público; desta forma, com a iminente reabertura do caso, a descoberta de elementos
novos pode ser gravemente comprometida. Mesmo que este fator fosse removido, é
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consolidado o senso de que os McCann jamais fariam algo de mal à filha; seria, portanto, um
A sentença derivada de veredito de júri, neste caso, seria injusta à vítima, Madeleine,
que não obteve todos os esforços investigativos concernentes, à sua família – seus irmãos
seriam condenados a viver sob a égide dos possíveis algozes da menina – e à sociedade, que,
No caso Nardoni, os réus Alexandre e Anna Carolina Jatobá já foram condenados pelo
Os pais de Alexandre Nardoni são chamados de assassinos por onde passam. Sua
casa tornou-se ponto turístico, de forma mórbida; pessoas passam por sua fachada para atirar
ovos. Seu escritório de advocacia tributária, antes movimentado, sofre com a perda de clientes.
Pelo stress profissional e pessoal, Antônio Nardoni, pai de Alexandre, passou por
Alexandre, terminou a faculdade de Direito com muito custo, sentido o peso do julgamento de
Os pais de Anna Carolina Jatobá vivem reclusos. A mãe de Anna Carolina, Ana Lúcia
Jatobá, não deixa a residência de família sem estar coberta da cabeça aos pés, para preservar
a si e aos netos. Ela teme agressões públicas caso lhe descubram a identidade. A família
que ocorreu com os pais. Questionam, ainda, tanto a volta dos pais quanto da irmã, Isabella.
Por ora, não se tem notícia de hostilidades envolvendo estas crianças na escola ou outros
A família de Ana Carolina Cunha de Oliveira, mãe de Isabella, sofre com o assédio da
imprensa. A busca por imagens ou declarações dela ou da avó da menina, Rosa Maria, é tão
intensa que forçou a mudança de endereço da família. À época do processo, Ana Carolina
Cunha de Oliveira não saía de casa. O apoio à mãe de Isabella foi grande, chegando a garantir
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sua participação em missas ao lado do Padre Marcelo Rossi. Foram várias as declarações de
O caso McCann foi coberto com grande estardalhaço, tendo em seu bojo a bandeira
da pedofilia; a hipótese da morte de Madeleine não foi explorada pela imprensa, e pareceres
figura masculina de 40 anos, e até mesmo um retrato falado foi produzido. Cabe ressaltar que
o rosto no retrato possui traços bem comuns, assim como são os da menina McCann.
Ao falar de Kate e Gerry McCann, a mídia utiliza o mesmo foco utilizado em Ana
Carolina de Oliveira: busca mostrar o sofrimento, a dor da perda, a valentia materna. Adjetivos
como “heroína” são comumente aplicados. Não se encontra registro de cobertura de aspectos
Já os Nardoni foram apontados como culpados desde o começo; houve quem dissesse
que Alexandre Nardoni tinha traços físicos relacionados a psicopatas em rede nacional. O perfil
do casal Nardoni foi traçado de forma vil, mostrando os réus ao público como pessoas
desajustadas e problemáticas. Toda e qualquer ocorrência negativa na vida do casal foi trazida
à toda pela imprensa, para reforçar a tese de assassinato cruel, a sangue frio. Este era o
preliminares.
Este quadro foi visto por todos os candidatos a jurados. Sem ter acesso ao processo,
sem conhecer os detalhes, sem entender os fatos, já havia uma opinião formulada e repassada
ao público; e para piorar, esta opinião era transmitida como fática e certa, usando discursos
culpa do casal Nardoni em afirmações feitas pela polícia e pelo promotor Francisco
Cembranelli, a saber:
4 As declarações que Ricardo Noblat afirma serem de Cembranelli foram refutadas pelo promotor. Noblat segue, até
hoje, dizendo que o promotor mente ao negar a autoria destas palavras.
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“Foi o pai, Alexandre Nardoni, que jogou pela janela a filha Isabella
Nardoni, de 5 anos. A informação foi dada esta tarde pelo
promotor Francisco José Cembranelli em conversa reservada com
um grupo de jornalistas. No passado o promotor foi professor de
Alexandre. Refere-se a ele como “um vagabundo, que sempre
viveu às custas do pai, um playboy”.”“Foi o pai, Alexandre Nardoni,
que jogou pela janela a filha Isabella Nardoni, de 5 anos. A
informação foi dada esta tarde pelo promotor Francisco José
Cembranelli em conversa reservada com um grupo de jornalistas.
No passado o promotor foi professor de Alexandre. Refere-se a
ele como ‘um vagabundo, que sempre viveu às custas do pai, um
playboy’.”
5
O jornalista e escritor Guilherme Fiuza , em seu blog mantido pelo portal da revista
Época, contou sua própria história, semelhante à dos Nardoni, e censurou os colegas pela
entre blogs e redes sociais. A discordância atacava a postura de veículos midiáticos para
5 Guilerme Fiuza foi acusado de matar o próprio filho, atirando-o pela janela, em 1990.
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ocorrido, porque nessa hipótese o julgamento será espetacular,
com mais holofotes e exposição pública. Se tudo isso decorre de
mera vaidade ou se há no ar o cheiro de alguma vantagem
decorrente do episódio, é uma incógnita. Em todo caso, parece
desagradável que face a um crime tão bárbaro um ou outro sejam
satisfeitos.”
caso, muitos inferem que as investigações não foram propriamente conduzidas. Apesar destes
foram condenados.
Renata Pontes deu ao público a certeza de ter todas as provas possíveis e imagináveis da
autoria do crime; ouvindo isso, o jurado não dará atenção a qualquer contradição apontada
pela defesa, tampouco se interessará nos quesitos faltantes para o término desta investigação,
mesmo que eles sejam essenciais para os trabalhos. Pode ainda desconsiderar qualquer
investigação, por deflagrar violação grave ao princípio do devido processo legal, assim definido
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“... A garantia do devido processo legal atribui ao processo um
perfil justo e équo, um processo regido por garantias mínimas de
meios e de resultado, com emprego de instrumental técnico-
processual adequado e conducente a uma tutela adequada e
efetiva.”
No caso Nardoni, a única testemunha ocular dos eventos que cercaram a morte de
Isabella não foi ouvida: Pietro, o filho mais velho do casal. A criança não foi entrevistada
durante o inquérito; seu testemunho foi vetado pelo promotor Francisco Cembranelli,
declarando que chamá-lo seria condenar a criança a um trauma irreparável na vida adulta. A
Promotoria esqueceu-se que o dano irreparável já estava consumado. Os dois filhos do casal
Caso fossem atendidos todos os quesitos necessários ao devido processo legal, teria a
delegada Renata Pontes procedido à oitiva dos filhos pequenos, ou teria a defesa assegurado
Fora isso, declarações como as feitas pela Promotoria – admissão de relação anterior
com o réu e opinião pessoal e negativa sobre a pessoa a que se lança denúncia com
investidura de poderes do Estado – constituem falha na tutela; se, entre promotor e réu há
querela anterior, não se pode garantir, de forma alguma, a objetividade necessária aos deveres
Pode-se afirmar que, com a cobertura massiva e tendenciosa da mídia, assistida pelas
processo justo e équo perante seus pares, por não terem suas garantias de meio e resultado
atendidas em sentido amplíssimo; o que traz ao veredito encargos de vício e transforma sua
sanção em injusta, trazendo ônus aos réus e graves transtornos e fardos às suas famílias.
disso, a boataria divulgada pelos tablóides ingleses e atribuída aos portugueses denegriu as
A imprensa também noticiou as duras críticas feitas aos esforços portugueses em prol
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intensidade é maior sempre que se levanta algum elemento indicativo da participação do casal
McCann no feito.
Não cabe a interferência britânica, pois além de serem países com sistemas jurídicos e
injusta à sociedade; uma sentença proferida em território inglês pode ferir os princípios legais
Como não houve uma conclusão própria ao caso e tendo iminente sua reabertura,
cabe acompanhar os futuros desdobramentos para saber se os conflitos que violam o chamado
5 CONCLUSÃO
Diante dos argumentos expostos pelo presente artigo, conclui a autora que a atual
ameaça ao devido processo legal, bem como à sociedade: detectado o viés de imprensa em
determinado caso, pode a defesa pedir a nulidade de julgamento pelo motivo elencado supra.
Por mais que todo o aparato judicial esteja disponível ao réu, faltam-lhe quesitos vitais
prevista no inciso XXXVIII do Quinto, que dispõe sobre o próprio Tribunal do Júri, e a
julgamento a favorecer uma das partes sem dar à outra chances iguais de argüir e expor –
do devido processo legal, que se comprometido, constitui ofensa grave à Carta Magna.
Insta ressaltar que as famílias dos réus, ou daqueles envolvidos em inquérito policial
social em que se inserem. Tais sanções são legitimadas pelo Estado, que não toma
providências para garantir a proteção daqueles que se encontram lesados por sua atividade
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jurisdicional – o que também caracteriza desobediência ao Quinto Constitucional, que em seu
Apelando para seus instintos mais básicos, crenças fortes e fatores sentimentais, os veículos
midiáticos repetem, à exaustão, as versões dos fatos que lhe são convenientes.
Sem um modelo contrário de informação, fica a opinião popular sujeita, e por vezes
submissa, aos ditames da imprensa. Os Nardoni foram anunciados como réus antes mesmo de
findo o inquérito, sendo esta alcunha particular ao processo, após feita a denúncia. A inocência
dos McCann foi professada globalmente, antes mesmo que a polícia portuguesa pudesse
explorados, pois não foi permitido acesso ao inteiro teor, tanto pela mídia quanto pela polícia –
sistemas de vigilância que não captaram o exato momento do crime, mas dão ensejo a
cronologias.
A versão dos fatos apresentada pelos casais é similar: tanto os Nardoni quanto os
McCann afirmam que um terceiro trouxe mal a seus filhos. No entanto, um dos casais foi
escolhido pela imprensa como herói, inocente, e apresentado como tal; o outro, tio como vilão,
no caso Nardoni, e por 3 anos completos, no caso McCann. Com uma visão consolidada e
pessoal sobre os personagens componentes destes eventos, não pode o leigo tomar decisão
determinada por juiz que seja derivada de júri. Não há que mensurar a proporcionalidade de
decisão embasada em veredito tendencioso, pois ela inexiste: onerosa para o réu, sofrida para
a família, turbulenta para a vítima – e sua família – e prejudicial à sociedade, sua aplicação
constitui afronta às bases do Direito Penal e pode levar ao colapso do ordenamento jurídico
vigente. Qualquer punição derivada de Tribunal do Júri que esteja eivado de vícios advindos do
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Pela natureza do júri, o viés de imprensa é um quesito que merece muita atenção;
constroem suas argumentações. Se um terceiro faz este trabalho com o público antes,
formando uma opinião preliminar dos jurados, todo o trabalho em plenário resta comprometido;
idéias podem mudar, mas crenças, sentimentos e instintos são praticamente pétreos.
enquanto o faz, ergue barreiras quase intransponíveis para qualquer uma das partes no
processo penal. Conduzindo o público, a imprensa anula a função do Direito Penal descrita por
Capez: não é mais a norma a formadora de juízo ético dos cidadãos, mas sim a valoração ética
individual, repassada para o público. Também deixa de ser a lei a justa medida de punição,
cabendo ao indivíduo com discurso inflamado julgar, condenar e sentenciar em horário nobre,
dentro do ordenamento jurídico do Estado, e que faz valer suas normas e punições pelas
como os grandes traficantes, colocando sua norma e sua sanção acima das normas e sanções
A sanção penal aplicada pelo Estado é, desta forma, injusta. Reitera a autora o que já
foi dito no presente artigo diversas vezes: as sanções penais derivadas de veredito do Tribunal
do Júri tornam-se injustas, por serem altamente influenciadas por terceiros e trazerem ao
sistema penal falhas estruturais graves, que não se restringem ao âmbito processual. Estas
falhas saem às ruas, sancionando todos os que cercam o ato ilícito julgado. São duplamente
graves as conseqüências às famílias, tanto dos réus quanto das vítimas, pois além de arcar
com os efeitos produzidos pela atividade jurisdicional, precisam conviver com as penas que
lhes são impostas moralmente, fisicamente e financeiramente, entre outros quesitos, advindas
Este quadro, infelizmente, já está estabelecido; outro remédio aos que sofrem sob a
égide desta situação, não há. Não pode o Estado reformar todas as suas decisões que tiveram
destaque na imprensa. Também não pode submeter todos a novo julgamento, pois a história
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remediar a dor daqueles que já padecem delas. Segue o artigo ao exame de três medidas
preventivas.
Talvez fosse possível, quando do alistamento dos jurados, emitir notificações via
possuam Juizados Especiais. Algo parecido com a notificação e preparação de mesários para
as eleições.
Cabe frisar e inferir, nas notificações, que juízos de valor anteriores ao júri devem ser
Penal:
A notificação também deve restringir o jurado listado ao sigilo, para não ferir os
princípios que regem o alistamento de júri, conforme artigo 325 do referido Codex:
O seqüestro físico dos jurados não seria viável, posto que resta inconstitucional a
restrição da liberdade de locomoção do indivíduo; mas talvez seja possível, embora custoso,
Desta forma, estariam os jurados mais preparados para lidar com as informações
recebidas da imprensa, discernindo melhor os fatos das impressões pessoais e mais aptos,
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portanto, a proferir veredito justo, que permitisse ao magistrado o registro e aplicação de pena
livre de vícios.
Este sistema, porém, custaria bastante ao Poder Público, e não surtiria efeito em
tempo hábil; até reunir todos os elementos necessários, conseguir um acordo, colocar o
mínimo, três anos. As atividades do Tribunal, porém, não podem ser suspensas até que tudo
esteja preparado.
deste programa, nada garante seu sucesso. As notificações e cursos preparatórios teriam a
função de educar a população listada para o exercício de suas funções enquanto parte do júri,
mas nada garante que estes ensinamentos sejam devidamente aproveitados e consigam
necessário que haja complexo normativo para regulamentar as ações da mesma, como há em
midiática aos danos causados a vítimas, réus e suas respectivas famílias, aplicar multas de
caráter indenizatório sempre que restar comprovada a indução e/ou influência direta e
tendenciosa de dado veículo jornalístico e a pessoa que o representa junto a opinião pública,
seria a medida ilícita, de forma alguma; o viés de imprensa, como caracterizado neste artigo,
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Em que pese a falta de regulamentação concernente, faça-se provimento que dê à
Tal medida não só garantiria o devido processo legal, por refrear impulsos valorativos
sejam aplicadas as multas indenizatórias, o montante deve ser remetido à família mais
Acredita a autora que seja a medida mais eficaz estudada, pois daria à imprensa mais
emissoras quitarem as multas para manter o estilo no ar. Resta então aplicar multas e fixar
indenizações de valor alto, onde caiba ônus verdadeiro e risco de falência na continuidade da
infração.
no direito processual. Em que pese seu propósito, dadas as razões expostas pelo presente
corpo de magistrados jurados para discernir e proferir veredito em casos de extrema comoção
bem representar a comunidade, sendo, então, candidato plausível a servir como jurado. Não
Esta é a solução mais drástica possível, e também a que mais tem chances de
assegurar o devido processo legal e garantir a justeza de sanção penal aplicada. Implica,
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5.4 Considerações finais
excessos midiáticos não garantem a proporcionalidade da sanção penal às famílias dos réus.
Deve ter o juiz em mente que sua função não é somente repressiva; não basta punir
reparação do dano causado a determinada entidade familiar, que pela justa atividade
jurisdicional, sofreu uma injustiça. Deve o Direito aparar as arestas oriundas de sua
provocação.
preparando o detento para o retorno à sociedade. Que se encontre, nesse princípio, fulcro
Este cuidado deve ser observado principalmente em casos que envolvam o júri, pela
gravidade da situação. Perdeu-se uma vida, fato por si só lamentável. Não é necessário perder
outras vidas pelos excessos cometidos pela imprensa, fardo carregado pelo infrator e pela
6 BIBLIOGRAFIA
ACQUAVIVA, Marcos Cláudio. Vademecum Universitário de Direito. 8 ed. São Paulo: Editora
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: volume 1: parte geral. 8 ed. São Paulo: Saraiva,
2005.
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<http://pt.globalvoicesonline.org/2008/04/25/brasil-transformando-um-infanticidio-em-um-
mai. 2010.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. 17 ed. São Paulo: Atlas, 2005.
<http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?t=promotor_diz_que_pai_matou_filha&cod_Post
Revista IstoÉ.// Caso Nardoni: vidas marcadas.//27 mar.2010.//Portal Tudo Global. Disponível
19 mai. 2010.
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