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ESFERA PÚBLICA E POLÍTICA DELIBERATIVA: A RADICALIDADE


DEMOCRÁTICA EM HABERMAS
Prof. Dr. Bianco Zalmora Garcia*

Resumo:

No pensamento habermasiano, a possibilidade de reconstrução democrática da esfera pública


contempla o implemento de procedimentos discursivos que permitam aos cidadãos, nas demandas
sociais e no enfrentamento das conflitualidades emergentes, desenvolver mecanismos de
coordenação da ação social com base no substrato ético-normativo da racionalidade comunicativa.
Tais procedimentos possibilitam o resgate e a ampliação dos espaços interativos de comunicação
pública, potencialmente democráticos, que resistem aos imperativos sistêmicos decorrentes das
diferentes formas de controle do Estado e das imposições econômicas do mercado. Neste sentido, o
conceito de esfera pública, que abarca a multiplicidade de espaços de argumentação pública, ocupa
uma posição central na elaboração teórica do modelo de democracia deliberativa proposto por
Habermas. Ora, o modelo normativo de democracia deliberativa – tendo como eixo central a
concepção discursiva de esfera pública – implica considerar o caráter permanente do processo de
democratização radical da sociedade a partir da pluralidade de domínios de formação democrática da
opinião e da vontade política. A radicalidade do modelo democrático-deliberativo habermasiano
assenta-se na possibilidade de revitalização contínua das interações comunicativas nos diferentes
espaços públicos e, por sua vez, implica no aprofundamento da participação política de cidadãs e
cidadãos, livres e iguais, em todos os processos de deliberação pública. Nestes contextos discursivos
da ação política, o poder derivado da soberania popular é produzido comunicativamente e nele
repousa a legitimidade democrática. É justamente nesta perspectiva que se pode compreender a
emergência de novas formas comunicativas de solidariedade e de organização da luta social que
engendram e permitem forjar e reinventar permanentemente o exercício de diferentes formas de
cidadania e de ocupação democrática dos variados espaços públicos, possibilitando aos influxos
comunicativos - gerados no âmbito do mundo vivido - pressionarem a democratização das estruturas
decisórias do sistema político.

No pensamento habermasiano, a possibilidade de reconstrução democrática


da esfera pública, numa perspectiva emancipatória, contempla o implemento de
procedimentos racionais, discursivos, participativos e pluralistas. Tais procedimentos
permitem aos sujeitos, no enfrentamento das conflitualidades sociais emergentes,
desenvolver mecanismos de coordenação da ação social com base nos princípios
ético-normativos da racionalidade comunicativa. E, por sua vez, permitem resgatar e
ampliar os espaços interativos de comunicação pública, potencialmente
democráticos, livres dos com imperativos ou constrangimentos sistêmicos, isto é,
dos controles burocráticos do Estado e das imposições econômicas do mercado.

Neste sentido, o conceito de esfera pública, que abarca a multiplicidade de


espaços de argumentação pública envolvendo o embate dos diversos atores da
sociedade, ocupa uma posição central na elaboração teórica do modelo de
democracia deliberativa proposto por Habermas. Esta nova configuração discursiva
da democracia, pensada a partir da intensificação possível dos processos
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comunicativos nas deliberações públicas, não permite que se conceba a


democratização como um mero momento de transição, mas como processo
permanente e ininterrupto do exercício da soberania popular na sociedade em sua
relação com o Estado.

Constitui-se como espaço da formação democrática da vontade política em


que são tematizados os fundamentos da vida pública no interior da sociedade.
Apresenta-se como um espaço de mediação fundamental entre a esfera sistêmica -
subsistemas político e administrativo – e o mundo da vida, de modo particular, em
sua expressão visível, pelos movimentos sociais e pelas instituições que configuram
a instância denominada de sociedade civil. Na arquitetônica societária
habermasiana, a esfera pública não se confunde com a esfera do poder público
tampouco os setores privados que constituem o mercado. Tal distinção se apresenta
fundamental para que se possa compreender o locus e a função mediadora da
esfera pública, cujo substrato social configura-se pelas formas diversas de
comunicação e argumentação públicas que, condensadas e materializadas nas
instituições da sociedade civil. Entretanto, convém ressalvar que, a esfera pública
não se reduz às instituições do que se chama de sociedade civil. A sociedade civil –
espaços públicos institucionalizados - dela emerge e lhe possibilita a visibilidade
necessária para que as reivindicações e expectativas da opinião pública sejam
tematizadas na esfera pública política e conduzidas às instâncias de legitimação
(desde que arraigadas na esfera pública) e de normatização.

Desenvolvido por Habermas, o modelo normativo de democracia


deliberativa, tendo como eixo central a concepção discursiva (e normativa) de esfera
pública, permite considerar o caráter permanente do processo de construção
democrática a partir de diferentes espaços públicos que, ao se constituírem, de
forma autônoma, nas relações entre o Estado, suas instituições político-
administrativas e a sociedade civil, engendram e geram novos movimentos sociais e
formas associadas de luta e resistência no sentido emancipatório da radicalidade
democrática. A análise das condições comunicativas, sob as quais se forma
democraticamente a opinião e a vontade pública, abre espaço para pensar a
fundamentação de uma práxis radicalmente democrática de cidadãs e cidadãos que,
em interação intersubjetiva, na conflitualidade e multiplicidade de suas
manifestações fortuitas ou organizadas, se mobilizam e se engajam em diferentes
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formas de solidariedade, disputando com o Estado e com o mercado a ampliação e


preservação de espaços democráticos de organização social, reprodução da cultura
e formação da identidade.

No marco deste modelo teórico, considerando os influxos radicalmente


democratizantes de uma esfera pública autêntica, na qual mulheres e homens se
reconhecem cidadãs e cidadãos, e como tais se engajam como sujeitos de ação, em
concurso igualitário, imparcial e procedimentalmente regulado, para a formação
democrática de uma opinião pública e, a partir dela, a vontade coletiva constringente
do Estado, torna-se possível conceber as possibilidades emancipatórias das formas
autônomas de mobilização e organização popular, desde a articulação de ações
populares movidas por reivindicações localizadas e episódicas até aquelas movidas
pela revolta, pela desobediência civil e ainda aquelas constituídas, de forma mais
permanente, como contra-poder face ao poder estabelecido.

Portanto, a partir da fundamentação ético-normativa de política deliberativa


proposta por Habermas demarca-se a possibilidade de conceber uma esfera pública
autônoma que, formada argumentativamente em um processo racional de consenso,
livre de coação, no interior da sociedade, outorga legitimidade aos processos de
construção permanente da democracia. Constitui-se em uma dupla dimensão: de um
lado, desenvolve processos de formação democrática de opinião pública e da
vontade política coletiva; de outro, vincula-se a um projeto de construção de uma
hegemonia democrática radical, onde a sociedade civil - esfera pública
institucionalizada - se torna uma instância de deliberação e de legitimidade da práxis
democrática.

A reelaboração habermasiana do conceito de esfera pública, considerando a


concepção discursiva de legitimidade como procedimento, implica a reconstrução
dos ideais ético-normativos da democracia e da soberania popular como condições
atuais de organização e de funcionamento político da sociedade. É justamente nesta
perspectiva analítica, ao incorporar elementos significativos da teoria da ação
comunicativa, que se pode pensar a possibilidade de uma efetiva democratização da
sociedade e o exercício de uma cidadania democrática, pautada numa concepção
discursiva de soberania popular.

Esta possibilidade vincula-se à reconstrução da autocompreensão de


Modernidade empreendida por Habermas no bojo da teoria da ação comunicativa na
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qual propõe um conceito dual de racionalidade. Ora, segundo Habermas, a


Modernidade envolve o surgimento de duas dimensões diferentes da racionalidade:
a racionalidade comunicativa associada à coordenação interativa da ação social
constituída normativamente pelo entendimento intersubjetivo e a racionalidade
instrumental associada à coordenação sistêmica de ações estratégicas por fluxos
autoregulados constituídos pelos meios (media) dinheiro e poder destituídos de
linguagem. O conceito de racionalidade comunicativa e sua ação correlata, a ação
comunicativa, permite a Habermas superar o paradoxo pessimista que caracterizava
a interpretação frankfurtiana em relação à instrumentalização hegemônica de que se
revestiu a racionalidade no desenvolvimento da Modernidade. Habermas reconstrói
os fundamentos da teoria social pelo revigoramento da razão, ou melhor, resgata as
possibilidades emancipatórias das interações comunicativas, distanciando-se dos
ditames da razão instrumental: da razão centrada no sujeito monológico para a
razão comunicativa intersubjetiva, descentrada e processual.

O conceito habermasiano de ação comunicativa remete a um tipo de ação


social mediada pela comunicação, em cuja dimensão intersubjetiva, uma vez
resgatada, encontra-se a possibilidade de reconhecer uma noção ampliada de
racionalidade, capaz de resgatar e incorporar o interesse crítico e emancipatório das
teorias. Nesta perspectiva, tal possibilidade pressupõe a compreensão da linguagem
como um meio de comunicação orientada para o entendimento intersubjetivo, que
consiste no telos da ação comunicativa (cf. Habermas, 1987, 1: 369). Ao resgatar
esta dimensão comunicativa da racionalidade mediante a substituição do paradigma
epistêmico que se baseia na relação sujeito-objeto pelo paradigma da
intersubjetividade mediada lingüisticamente, Habermas se propõe superar o déficit a
respeito da definição do critério normativo da teoria crítica. O componente
discursivo, primordial tanto para a racionalidade comunicativa quanto para o tipo de
ação que lhe é própria, estará na base do modelo habermasiano de democracia
deliberativa.

Ao fundamentar a ação no conteúdo normativo da racionalidade


comunicativa presente nas interações intersubjetivas mediadas lingüisticamente, a
teoria habermasiana da ação comunicativa realiza seu propósito de estabelecer uma
relação interna entre práxis e racionalidade. Apoiando-se na dimensão pragmático-
formal da ação comunicativa e no resgate das condições universais do entendimento
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mútuo, Habermas leva a efeito a reconceituação da mediação normativa entre teoria


e prática a partir do paradigma da linguagem e da comunicação intersubjetiva,
abrindo um caminho significativo para pensar as interações sociais na vida cotidiana
e sua orientação emancipatória. Com efeito, a virada lingüística permite-lhe
reconstruir uma teoria crítica da sociedade com base na razão comunicativa que se
constitui nos processos interativo-discursivos da coordenação da ação.

A Modernidade se estruturou com base no princípio de que o poder social


poderia ser reduzido a esta esfera compreendida como espaço de comunicação das
pessoas privadas, reunidas livremente como público para a discussão e deliberação
consensual de seus assuntos comuns. Esta esfera pública entrou num processo de
profunda decadência e ruptura, motivada, dentre outros fatores, pela colonização de
seu espaço próprio pela cooptação manipulatória do capital e do Estado, cuja
dinâmica, de resto, se coloca no centro da chamada crise da Modernidade.

Ao superar definitivamente esta dimensão negativa e mesmo pessimista de


sua abordagem diagnóstica, Habermas concebe que a Modernidade, enquanto
projeto de emancipação da vida humana com relação às várias formas de alienação,
ainda não esgotou suas potencialidades, apesar das trágicas experiências históricas
vividas pela humanidade, sobretudo ocorridas no século XX e recorrentes até os
dias de hoje, que colocam em suspeita a capacidade emancipatória da razão
moderna. Ela contém um potencial prático e cognitivo que não foi de todo
explorado, mas que, ao contrário, foi pervertido pelo esvaziamento da própria razão
sob a ordem capitalista hegemônica. De fato, a razão comunicativa, liberada nos
processos de diferenciação e complexificação social que se constituíram nas
circunstâncias históricas de formação do capitalismo, foi subordinada à razão
instrumental e sufocada. A sua reabilitação prática no resgate e ampliação dos
espaços comunicativos pode contribuir para libertar o ser humano das relações de
poder criadas sob a égide de uma racionalidade instrumental e constituir uma
sociedade emancipada.

Neste contexto teórico, a partir da análise sobre o duplo dimensionamento


da sociedade, Habermas introduz sua concepção de esfera pública, núcleo central
do modelo normativo de democracia deliberativa que propõe: de um lado, o mundo
sistêmico, conformado por uma esfera privada representada pelo mercado, o
subsistema econômico, e uma esfera pública representada pelo Estado, o
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subsistema político-administrativo; e de outro, o mundo vivido enquanto o âmbito da


interação comunicativa voltada para o entendimento, constituído por uma esfera
privada representada pela formas diversas de família e por outros grupos sociais
alternativos estabelecidos por vínculos conjugais, de amizade, etc., e por uma esfera
pública, representada pelos movimentos e associações eventuais ou
institucionalizadas que garantem a reprodução cultural de uma sociedade. No
âmbito das interações sociais realizadas no mundo vivido, a formação de uma esfera
pública participativa pressupõe a ampliação dos espaços autônomos de
comunicação intersubjetiva.

Ao alinhavar estas considerações, na perspectiva do pensamento


habermasiano, convém ressaltar a diferenciação da esfera pública em relação às
dinâmicas impostas pela lógica burocrática do Estado e pelos imperativos
estratégicos do mercado no campo da economia capitalista. Ora, os processos de
diferenciação e de complexificação social em virtude do desenvolvimento econômico
e as conseqüências políticas do processo de acumulação capitalista liberaram este
espaço vital, possibilitador de um âmbito de discussão e crítica determinante para
destino político das sociedades modernas. Sendo assim, a formação da vontade
coletiva nos diversos espaços públicos – local, regional, estadual, nacional e
internacional – deve se mobilizar permanentemente no sentido de refrear os
impulsos de controle e colonização advindos dos subsistemas econômico e político-
administrativo. A concepção de uma esfera pública, no marco da política deliberativa
habermasiana, remete à possibilidade de se implementar ações democráticas
capazes de promover a integração social com base na ação comunicativa. Enquanto
espaço de comunicação pública torna-se possível mobilizar a coordenação das
ações nos âmbitos de reprodução material e simbólica da vida humana, dentre os
quais os subsistemas do economia e do Estado, para os quais indicam e
estabelecem premissas ético-normativas.

De fato, estes subsistemas econômico e político-administrativo são


regulados pelos meios dinheiro e poder que constituem modos não discursivos de
coordenação da ação. Estes vetores da dinâmica sistêmica, objetos de longa
discussão em Teoria da ação comunicativa, distinguem-se dos atos lingüísticos
constituídos na forma da ação comunicativa. Orientadas ao entendimento
intersubjetivo, estas ações desenvolvidas em contextos comunicativos das
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estruturas racionalizadas do mundo vivido desempenham duas funções cruciais: a


obtenção da solidariedade e a do sentido. Deste modo, entende-se que é justamente
nos fluxos comunicativos constituintes dos espaços públicos em que se manifesta a
força social e integradora da solidariedade e a recuperação do sentido
emancipatório das práticas sociais de modo que se pode erguer barreiras às
tendências de colonização derivadas do mercado e da burocracia que levam ao
empobrecimento cultural, às formas de dominação e exploração, à alienação e ao
esgotamento e depredação dos recursos naturais.

A esfera pública consiste, portanto, em uma categoria analítica que remete à


possibilidade de ampla participação política das cidadãs e cidadãos na sociedade
com base na ampliação e no desenvolvimento de espaços públicos comunicativos
orientados para a formação democrática da opinião e da vontade comum. Neste
sentido, torna-se necessário o implemento de processos de entendimento
intersubjetivo mediados lingüisticamente pelos quais se produzem deliberações nas
diversas e múltiplas redes de comunicação da esfera pública de interação discursiva
em que todas e todos se engajam.

Ao reconstruir a concepção de esfera pública, no marco da política


deliberativa, Habermas reconceitua a relação entre sociedade e Estado. Estes
espaços públicos configuram uma arena conceitualmente distinta do Estado
enquanto lugar para a produção e circulação dos discursos, os quais podem se
tornar, em princípio, críticos do próprio Estado. A esfera pública, no sentido
habermasiano, é também conceitualmente distinta das estruturas do sistema
econômico; ele não é uma arena de relações determinadas pelos interesses e
regras de mercado. A esfera pública é o espaço em que se implementam relações
discursivas orientadas para o entendimento no enfrentamento das conflitualidades
diversas que emergem das contradições sociais. Assim este conceito de esfera
pública permite reconhecer as distinções entre as estruturas societárias relativas ao
aparato estatal e ao mercado econômico e as associações democráticas, distinções
estas que são essenciais à teoria democrática.

A concepção de política democrática deliberativa constitui-se como um


modelo procedimental-comunicativo de deliberação política cujas implicações
permitem delimitar um conjunto de pressupostos teórico-normativos que incorporam
a participação da sociedade civil na regulação da vida coletiva. Trata-se de um
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conceito ancorado na idéia de que a legitimidade das decisões e ações políticas na


sociedade deriva da deliberação pública de coletividades de cidadãos livres e iguais,
uma vez que se apóia nas condições comunicativas sob as quais se realizam os
procedimentos democráticos.

Em Facticidade e validade, a partir do princípio discursivo da democracia,


Habermas formula o modelo democrático procedimental, que ele próprio denomina
como política deliberativa, apresentado como modelo alternativo no seio do debate
entre os modelos liberais e republicanos de democracia. Nesta obra, suas análises
iniciais recaem sobre o desenvolvimento intrínseco do direito, sua gênese e sua
legitimação, tomando como tema a relação entre facticidade e validade no âmago do
próprio direito. A partir de então, em seguida, retomando externamente a relação
entre facticidade e validade, explicita a tensão entre a autocomprensão normativa do
Estado de Direito, na perspectiva da teoria do discurso, e a facticidade social dos
processos políticos que se desenrolam nas formas constitucionais. (cf. Habermas,
1997, 2: 10). Neste contexto, a estratégia de Habermas consiste em polarizar estes
dois modelos de democracia para, logo após, elaborar reconstrutivamente um
modelo alternativo a partir da apropriação reconstrutiva de alguns elementos de
cada posição e a recusa de outros.

Os modelos liberal e republicano representam possibilidades conceituais


distintas sobre a configuração da esfera pública e sua relação com o Estado e com a
sociedade. Estes remetem, em última análise, a interpretações distintas de
democracia e suas respectivas concepções sobre o processo de democratização. O
modelo discursivo de esfera pública, nos termos da formulação habermasiana,
dialoga criticamente com estes dois modelos, descartando alguns de seus
pressupostos, mas retendo reconstrutivamente deles outros elementos. À medida
que se delineia estas aproximações e distanciamentos conceituais dos modelos
liberal e republicano de democracia com relação ao modelo proposto por Habermas
torna-se possível delimitar com maior clareza as bases sobre as quais ele irá
desenvolver sua concepção de democracia deliberativa e de esfera pública.

O modelo de democracia deliberativa proposto por Habermas, ao


estabelecer uma diferenciação normativa e analítica entre os planos da vida social e
da vida político-administrativa, reconstruindo a relação Estado e sociedade, associa
a soberania popular institucionalizada a um sistema político ligado em redes
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periféricas autônomas (esfera pública política). Em Facticidade e validade,


Habermas afirma:

Na teoria do discurso, o desabrochar da política deliberativa não depende


de uma cidadania capaz de agir coletivamente e sim, da institucionalização
dos correspondentes processos e pressupostos comunicacionais, como
também do jogo entre deliberações institucionalizadas e opiniões públicas
que se formaram de modo informal. A procedimentalização da soberania
popular e a ligação do sistema político às redes periféricas da esfera
pública política implicam a imagem de uma sociedade descentrada. Em
todo o caso, este modelo de democracia não precisa mais operar com o
conceito de uma totalidade social centrada no Estado, representado como
um sujeito superdimensionado e agindo em função de um objetivo. Ele
também não representa a totalidade num sistema de normas
constitucionais que regulam de modo neutro o equilíbrio do poder e dos
interesses segundo o modelo do mercado. Pois a teoria do discurso
dispensa os clichês da filosofia da consciência que recomendam que
atribuamos, de um lado, a prática da autodeterminação dos sujeitos
privados a um sujeito da sociedade tomada como um todo, e, de outro
lado, que imputemos a dominação anônima das leis a sujeitos particulares
que concorrem entre si. No primeiro caso, a cidadania é vista como um
ator coletivo que reflete a totalidade e age em função dela; no segundo, os
atores singulares funcionam como variável dependente em processos de
poder (HABERMAS, 1997, 2: 21).
Deste modo, Habermas rompe simultaneamente com o modelo liberal, na
medida que não mais opera com a noção de uma totalidade social centrada no
Estado, e com o modelo republicano, pois não concebe a totalidade social num
sistema de normas constitucionais que devem regular mecanicamente o equilíbrio
do poder e dos interesses. No modelo habermasiano, a idéia de soberania popular
não se concentra exclusivamente no povo considerado de forma abstrata como
macro-sujeito, como ocorre no modelo republicano, e tampouco a torna difusa “no
anonimato do poder constitucional” como pressupõe o modelo liberal.

Somente através da mediação dos processos institucionais de formação


democrática da opinião e da vontade é que o poder de influência da sociedade civil
deve chegar ao Estado, não mais reduzida a uma contrapartida institucional de uma
esfera privada, como se apresenta na concepção republicana, mas enquanto esfera
pública com competências funcionais e políticas delimitadas pelo direito e pelas
instituições políticas formais, as quais desempenham um papel fundamental tanto
para proteger a privacidade das interações individuais e a independência dos
mecanismos para a formação da vontade e da opinião, quanto para proporcionar
uma forma legal, necessária, a fim de institucionalizar as contribuições politicamente
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relevantes, advindas dos fluxos comunicativos de suas organizações, suas


mobilizações e seus debates públicos.

O problema comum nos modelos republicano e liberal reside precisamente


na dificuldade de entrever as diferenciações que ocorrem entre os processos sócio-
culturais e político-institucionais, cuja reciprocidade dialética se estabelece, em
parte, pelos atores públicos que emergem das teias microssociais de resistência
social. Os movimentos sociais e demais atores da sociedade civil apresentam perfis
organizativos próprios, uma inserção específica na tessitura social e articulações
particulares com o arcabouço político-institucional. Há que se reconhecer, por isso,
que as contribuições autenticamente democratizantes dos movimentos e
associações da sociedade civil não podem ser enxergadas unicamente a partir das
instâncias institucionais. Suas possibilidades residem precisamente em seu
enraizamento em esferas sociais que são, do ponto de vista institucional, pré-
políticas e é no âmbito de tais esferas e da articulação que os movimentos
estabelecem entre estas e as arenas institucionais que podem emergir os impulsos
mais promissores para a construção da democracia. Neste sentido, na perspectiva
do modelo habermasiano, podemos afirmar o papel significativo dos movimentos
sociais na democratização da sociedade na sua relação com o Estado, por meio da
esfera pública.

Por sua vez, o modelo discursivo, ao introduzir a noção de esfera pública,


amplia o espaço da emancipação como arena de debate público, de embate da
pluralidade de atores, incluindo-se os novos movimentos sociais e outras formas de
articulação para a formação de vontades coletivas. Assim, torna-se pensar a
possibilidade de uma nova concepção democrática de cidadania concebida como
veículo para a construção de uma hegemonia democrática radical capaz de envolver
os múltiplos atores e organizações da sociedade civil, navegando contra a corrente
hegemônica de uma globalização atrelada a interesses sistêmicos e reinventando
novas formas emancipatórias de democratização e de construção da cidadania dos
níveis local e nacional ao global.

Habermas, amparado em seu modelo de sociedade em dois níveis - a esfera


do mundo vivido e a esfera sistêmica -, procura distinguir as origens diversas dos
diferentes inputs que chegam à esfera pública. A configuração de esfera pública que
nasce dessa abordagem é por isso ambivalente: para a esfera pública, dirigem-se
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tanto as visões de mundo, as interpretações e as reivindicações gestadas no mundo


vivido, a partir de relações comunicativas voltadas para o entendimento, quanto às
tentativas dos atores sistêmicos de concretizar seus interesses egocêntricos.
Decorrem daí formas distintas de inserção e ação na esfera pública. Os atores da
sociedade civil tematizam situações-problema percebidas no mundo vivido e que
dizem respeito, portanto, ao conjunto da sociedade, contribuindo, através de seu
esforço de inclusão de grupos e temas minoritários para a ampliação e revitalização
da esfera pública. Os atores ligados à esfera da economia e da política buscam, ao
contrário, a utilização publicitária do espaço público para a conquista de novos
consumidores ou da lealdade das massas que pouco participam do processo de
reprodução e expansão de tal esfera.

Em Facticidade e validade, na análise desenvolvida sobre a relação entre


fatos sociais, normatividade e política democrática, Habermas retoma a investigação
sobre esfera pública e opinião pública que esteve presente desde os inícios de sua
obra. A questão fundamental no tratamento analítico sobre a esfera pública inclina-
se sobre a configuração do lugar de surgimento da opinião pública e da vontade
que, apesar da possibilidade de sua manipulação ou deformação, constitui o eixo da
coesão social, da construção e legitimação (ou mesmo da deslegitimação) política.
As liberdades individuais e políticas dependem da dinâmica que se promove neste
espaço público. Habermas delimita o conceito de opinião pública com relação à
esfera pública concebendo-a como o âmbito da vida social cujo ingresso está aberto
a todos cidadãos e cidadãs. Deste modo, em cada conversação na qual os
indivíduos privados se reúnem como público se constitui uma porção da esfera
pública. De acordo com Habermas, o ato de reunir-se como público dá-se quando os
indivíduos, ao se reconhecerem reciprocamente em sua liberdade comunicativa no
exercício de sua soberania, como condição da assunção de sua cidadania, se
encontram em solidariedade, discutem e articulam acordos livremente, sem
pressões ou coações, internas ou externas e, inclusive, com a garantia de poder
manifestar e publicar livremente sua opinião sobre as oportunidades de atuar
segundo interesses gerais. Nos casos de um público mais amplo, esta comunicação
requerer a criatividade de meios precisos de transferência e influência.

À esfera pública - considerando principalmente sua base social organizada,


a sociedade civil - é reservado o papel de influência e canalização dos temas e
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problemas a serem democraticamente encaminhados, regulados e gerenciados


pelas estruturas jurídico-políticas do Estado, cujas fronteiras devem ser delimitadas
com relação à sociedade. De fato, para Habermas, “o fluxo comunicacional que
serpeia entre a formação pública da vontade, decisões institucionalizadas e
deliberações legislativas, garante a transformação do poder produzido
comunicativamente, e da influência adquirida através da publicidade, em poder
aplicável administrativamente pelo caminho da legislação” (Habermas, 1997, 2: 22).
Ainda neste sentido, ele afirma em outro momento:

“A teoria do discurso coloca em jogo uma outra idéia, para ela processos e
pressupostos comunicativos da formação democrática da opinião e da
vontade funcionam como a comporta mais importante para a
racionalização discursiva das decisões de um governo e de uma
administração vinculados ao direito e à lei. Racionalização significa mais
do que simples legitimação, porém menos do que a constituição do poder.
O poder disponível administrativamente modifica sua composição durante
o tempo em que, fica ligado a uma formação democrática da opinião e da
vontade, a qual programa, de certa forma, o exercício do poder político.
Independente disso, somente o sistema político pode „agir‟. Ele constitui
um sistema parcial, especializado em decisões que obrigam coletivamente,
ao passo que as estruturas comunicativas da esfera pública formam uma
rede ampla de sensores que reagem à pressão de situações problemáticas
da sociedade como um todo e estimulam opiniões influentes. A opinião
pública, transformada em poder comunicativo segundo processos
democráticos, não pode „dominar‟ por si mesma o uso do poder
administrativo; mas pode, de certa forma, direcioná-lo” (HABERMAS, 1997,
2: 23)
Do ponto de vista da legitimidade democrática, Habermas afirma que, na
esfera pública, os procedimentos e pressupostos comunicativos de formação
democrática da opinião e da vontade funcionam como canais mais importantes para
a racionalização discursiva das decisões de um governo e de uma administração
limitados pelo direito e pela lei. Não obstante a racionalização discursiva, apenas às
estruturas político-administrativas, jurídicas e legislativas do Estado compete tomar
decisões coletivamente vinculantes. Por sua vez, as estruturas comunicativas da
esfera pública compreendem redes móveis de sensores que reagem às pressões
que perpassam toda a sociedade e estimulam as opiniões influentes. De acordo com
o modelo procedimental de socialização comunicativa, a partir de seus parâmetros
normativos indicativos da possibilidade de uma democracia deliberativa, a
intervenção e participação da esfera pública, por suas estruturas de comunicação
vinculadas às esferas da vida privada, possibilitam a influência pública que, após
passar através dos filtros dos procedimentos institucionalizados de formação de
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vontade e opinião democráticas, seja transformada em autêntico poder comunicativo


e adentrar no processo legislativo legítimo através dos debates parlamentares. Na
esfera pública luta-se por influência a ser exercida por opiniões públicas sobre o
sistema político-administrativo. Enfim, a proposta habermasiana de uma democracia
deliberativa apresenta-se como uma nova articulação entre o Estado e a sociedade
rompendo com a prerrogativa unilateral da ação política em um dos pólos deste
binômio.

Como uma estrutura intermediária entre o sistema político, de um lado, e os


setores privados do mundo vivido e os sistemas funcionais, de outro, a esfera
pública não pode ser considerada institucionalmente um espaço político, estatal ou
para-estatal, mas um espaço cidadão constituído no mundo vivido sem que se
identifique com suas estruturas privadas, autônomo e civil, sem qualquer vínculo
com o sistema econômico ou com a administração pública. Tampouco pode ser
entendida como uma entidade organizada com estruturas pré-estabelecidas e
contornos rígidos delimitados, regulada por uma trama de normas instituídas com a
diferenciação de competências e de papeis funcionais. Certamente permite traçados
internos de limites, porém estes não se tornam obstáculos para que se constituam
por seus horizontes abertos, porosos e deslocáveis para o exterior.

Constituídos por diferentes espaços públicos independentes das instituições


de poder político-administrativo (governo, partidos políticos, parlamento e demais
estruturas que compõem o Estado), de poder econômico (mercado, inclusive
empresas e corporações para-estatais que, embora formalmente “públicas”, regem-
se pela lógica, comportamento e interesses particulares do mercado) e de poder
mediático, bem como resistentes às suas investidas sistêmicas da cooptação e
manipulação, a esfera pública, enquanto locus da produção comunicativa da opinião
pública e da vontade democrática, representa uma rede altamente complexa que
abarca uma pluralidade indeterminada de arenas desde as locais até internacionais.
Como tal orienta-se para a comunicação de conteúdos e tomadas de posição, isto é,
de opiniões, e nele estes fluxos de comunicação são filtrados e sintetizados de tal
sorte que se condensam em opiniões públicas articuladas em torno de temas
específicos.

“Ela [a esfera pública] representa uma rede super complexa que se


ramifica espacialmente num sem número de arenas internacionais,
nacionais, regionais, comunais e subculturais, que se sobrepõem uma às
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outras; essa rede se articula objetivamente de acordo com pontos de vista


funcionais, temas, círculos políticos, etc., assumindo a forma de esferas
públicas mais ou menos especializadas (...); além disso, ela se diferencia
por nível, de acordo com a densidade da comunicação, da complexidade
organizacional e do alcance, formando três tipos de esfera pública: esfera
pública episódica (bares, cafés, encontros na rua), esfera pública da
presença organizada (encontros de pais, público que freqüenta o teatro,
concertos de Rock, reuniões de partidos ou congressos de igrejas) e
esfera pública abstrata, produzida pela mídia (leitores, ouvintes e
espectadores singulares e espalhados globalmente)” (HABERMAS, 1997,
2: 107).
Em outras palavras, o conceito de esfera pública alude a um espaço social,
inclusivo e interativo, constituído e mediado lingüisticamente, que se materializa em
ambientes públicos mais ou menos informais, nos quais cidadãs e cidadãos solidária
e voluntariamente reunidos, no exercício de sua liberdade comunicativa, manifestam
e compartilham suas percepções e interpretações críticas, processam informações,
apresentam proposições, seus apoios e suas diferenças para discussão e escrutínio
público, permutam opiniões, emitem juízos, produzem demandas a partir de
particularidade concretas e estabelecem acordos para que possam coordenar suas
ações definidas e assumidas consensualmente.

Ora, a concepção habermasiana de democracia deliberativa implica a


possibilidade de analisar reconstrutivamente os processos democráticos no âmbito
do agir comunicativo. Estes processos, nesta concepção, uma vez perpassados pela
força social e integradora da solidariedade, no sentido de produzir uma opinião e
uma vontade comum, mobilizam mulheres e homens concretos com suas histórias,
seus conflitos, suas vivências morais e dilemas éticos, com suas raízes culturais,
sua afetividade e sua sensibilidade para que, com os recursos que lhes é dado pelo
mundo vivido que vivenciam, enfrentar e tematizar discursivamente os conteúdos
problemáticos que se apresentam e identificar soluções consensuais que
possibilitem coordenar ações conjuntas, isto é, decisões fundadas
argumentativamente quanto à demanda de fins coletivos e à regulamentação
normativa da vida comunitária.

Habermas procura oferecer uma formulação conceitual de esfera pública


capaz de ajustar-se às exigências de uma sociedade altamente complexa, marcada
pela crescente racionalização das estruturas do mundo vivido. Deste modo, a esfera
pública remete a contextos discursivos diversos que envolvem interações
comunicativas de sujeitos, enquanto cidadãs e cidadãos engajadas e engajados, e
15

não de indivíduos em colóquios singulares ou de intercâmbios meramente


estratégicos, pontuais e privados, típicos de espaços configurados por modelos de
ação coordenada teleologicamente. Esfera pública não se trata simplesmente de
um locus de onde se expressa a opinião e a vontade geral, mas onde elas são
geradas comunicativamente. Deste modo, o potencial democrático da esfera pública
depende de sua maior ou menor correspondência prática com os pressupostos
normativos do agir comunicativo pelo qual ela se reproduz. Aliás, não se pode
considerar democrático qualquer espaço público.

A interpretação habermasiana da função da esfera pública no contexto da


colonização do mundo vivido, na perspectiva da teoria do discurso, decorre da
constatação de que a condição para que o esvaziamento das interações
comunicativas ocasionado pelas pressões sistêmicas de reprodução material possa
ser bloqueado reside na expectativa de tornar possível que as esferas de ação
especializada dos subsistemas societários voltem a estar ligadas à esfera pública. O
esvaziamento, a desintegração e a desinstitucionalização da esfera pública,
reforçados atualmente sob o impacto e a absorção do discurso neoliberal,
correspondem a um processo de privatização da política, através do cooptação e da
domesticação de organizações populares e da assimilação da lealdade das massas
e conseqüente recomposição estratégica das condições de governabilidade dos
centros (partidos políticos estatizados, organizações para-estatais de participação
popular e instituições da burocracia estatal sob influência de setores empresariais,
oligopólios mediáticos, interesses corporativistas, etc) onde se definem – em geral
por uma manipulação pseudolegitimada da participação popular tornando-a
meramente adjetiva - as diretrizes e ocorrem as decisões político-administrativas e
econômicas da sociedade. Ao romper com as ordens institucionais do mundo vivido,
invadindo-o, esvaziam e desintegram as estruturas comunicativas da sociedade
coagindo-as a submergir em um espaço de racionalidade determinante das formas
de regulação sistêmica.

Sob a perspectiva emancipatória, tendo em vista que a efetivação e


ampliação de espaços públicos argumentativos promovam o resgate da
coordenação comunicativa da ação em contextos societários até então colonizados,
concebe-se a possibilidade de que os impulsos comunicacionais do mundo vivido
influam cada vez mais os mecanismos de auto-regulação dos sistemas funcionais.
16

Neste aspecto, Habermas interpreta o papel da esfera pública na sociedade como


sendo crucial para a “descolonização” do mundo vivido. Assim, torna-se possível
compreender as diferentes formas de ação que envolvem o enfrentamento dos
déficits de um modelo de desenvolvimento sócio-econômico excludente marcado por
uma lógica da economia de mercado como também dos déficits de legitimação da
ordem política, os quais apresentam-se, na vida social e cultural, atrelados ao
esvaziamento do sentido e da solidariedade nas diversas formas de vida social.

A esfera pública vai atuando como uma instância mediadora entre os


impulsos comunicativos gerados no âmbito do mundo vivido e condensados na
sociedade civil, e as instâncias que articulam, institucionalmente, as decisões
políticas (parlamento, conselhos, etc.). Neste sentido, compreende-se os novos
movimentos sociais e organizações da sociedade civil (estudantes, feministas,
homossexuais, negros, deficientes, desempregados, sem-terra, sem-teto, etc.), os
quais, ainda que policêntricos, localizados e fragmentados, em conseqüência de
conflitos sociais e políticos, por sua mobilização e auto-organização, incorporam
novos temas vinculados à reprodução sociocultural (além da reprodução material) na
agenda política e absorvem iniciativas sociais difusas, encaminhando-as para o
embate político. Deste modo, forjam espaços públicos autônomos orientados para a
formação da vontade e da opinião na forma de estruturas do mundo vivido, cujos
influxos democratizantes gerados possam pressionar a democratização das
estruturas decisórias do sistema político.

O modelo discursivo de política deliberativa esboça, portanto, uma


concepção de democracia radical que não está centrada unicamente no sistema
político-administrativo, encarregado de tomar as decisões vinculantes, nem
exclusivamente na sociedade. Ora, a reconstrução do conceito de esfera pública
como o locus que garante que os influxos democratizantes gerados na sociedade
civil se tornem fontes de legitimação e democratização do poder político implica uma
alteração significativa na compreensão de uma práxis radicalmente democrática.

(*) Prof. Dr. Bianco Zalmora Garcia, docente do Departamento de Filosofia da Universidade Estadual
de Londrina onde desenvolve pesquisa sobre as interfaces da relação entre Teoria da Ação
Comunicativa de Jürgen Habermas e da Teoria da Ação Dialógica de Paulo Freire no âmbito da Ética
e Política, Filosofia da Educação, Gestão e Política Educacional. Docente efetivo do Programa de
Mestrado em Direito Negocial, na área de Ética e Direito e Metodologia da Pesquisa Jurídica, e
docente convidado do Programa de Mestrado em Serviço Social na área de Democracia, Esfera
Pública e Cidadania. Bacharel e Licenciado em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Doutor em
Filosofia da Educação e Mestre em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São
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Paulo. Coordenador do Curso de Especialização em Filosofia Política e Jurídica da Universidade


Estadual de Londrina. E-mail: bianco@sercomtel.com.br

Referencias Bibliográficas

HABERMAS, Jürgen. (1997, 1) Direito e democracia: entre facticidade e validade.


Vol I. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro.

______. (1997, 2). Direito e democracia: entre facticidade e validade. Vol II. Rio de
Janeiro, Tempo Brasileiro.

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