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O LOBO

Du Oliveira/Itamar Pires

O último lobo a cruzar essa chapada,


vermelho, furtivo, brasa da queimada,
talvez saia de banda no velho disco voador:
um quanta, uma possibilidade de vida, mínima,
uma possibilidade de samba.

Dança o lobo guará com o índio Goyá, índio ficção,


índio que não houve, nem há
Perdeu-se o índio e a terra do índio,
não sobrou nem mesmo o nome, nem o da Rosa
- que foi embora - nem o do índio: Pedro, João, talvez Raôni.
Talvez seja o último lobo Krahô, nesta estrada
apague a negra luz: os faróis da madrugada.

Olhos de lobo mordendo a noite, onde brilha o fogo:


bruto brilho - lobo, correndo, queimando,
correndo pelo fogo cerrado, fogo cruzado, fogo.

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